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Araguaína – Tocantins
2016
EMANUELA DE MORAES SILVA
Araguaína – Tocantins
2016
ANEXAR FICHA CATALOGRÁFRICA
EMANUELA DE MORAES SILVA
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
Prof. Dr. Dagmar Manieri (UFT - Orientador)
________________________________
Prof. Dr. Fernando Luiz Vale Castro (UFRJ)
_______________________________
Prof. Dr. Vasni de Almeida (UFT)
Aprovada em ___/___/___.
Às companheiras e companheiros que
acreditam que ao ensinar, aprendemos,
libertamos e somos libertados.
AGRADECIMENTOS
Grata à minha família de sangue, mãe, pai e irmã, pelo apoio ao longo de
todas às empreitadas que ousei fazer.
À minha família de amigas e amigos, figuras maternas que me adotaram
nessa caminhada, e mesmo nas ausências, estavam e estão comigo.
Às pessoas que não estão mais ao meu lado, mas jamais serão
esquecidas.
À Judson Jorge, Simone Cristina e Rafael pela colaboração nos trabalhos
de campo, inclusive quando o nosso transporte atolou e tivemos que dar aquele
empurrãozinho.
À professora de História, à direção da escola e aos alunos e alunas da
Unidade Escolar José Caetano dos Santos.
À toda comunidade São Vitor por nos receber tão bem.
Ao meu orientador Dagmar Manieri, pelas indicações, conversas, e
principalmente paciência, apontando caminhos para que este trabalho fosse
concluído.
Aos professores e professoras do Programa de Pós-graduação de Ensino
de História da Universidade Federal do Tocantins.
CNPq pela concessão da bolsa de estudos, sem a qual não teria
condições de permanecer no programa de pós-graduação.
À coordenadora nacional do Mestrado Profissional em Rede, ProfHistória,
Marieta Moraes, pela dedicação e atenção aos professores e professoras do ensino
básico.
Aos colegas do curso que ao logo do caminho se tornaram amigos e
amigas, principalmente a Mik-Elson Desidério (in memoriam), amigo querido à quem
dedico este trabalho.
A todos e todas que de uma forma ou de outra me auxiliou e me auxilia
nesta penosa, porém prazerosa vida acadêmica.
RESUMO
Studies on teaching of African and Afro-Brazilian culture are gaining more space in
academic debates. One of its reasons is the obligation of his teaching in schools,
from the Law 10.639 / 2003. The purpose of this study is to analyze the guidelines
that govern and guide this teaching, trying to understand how these documents
include concepts such as alterity, difference and identity and social demands which
inserted this topic as mandatory in educational legislation. From a perspective of
education for diversity, will try to make an analysis of textual and iconographic
discourse of a didactic collection "History in the days of Today," Leya publisher,
elementary school (6th to 9th grade) used in school José Caetano dos Santos,
located in the Quilomola comunity St. Victor, in São Raimundo Nonato, Piauí, but
also understand the process of choosing and appropriations that students and
teachers do with this learning material. Finally, this paper, we describe the history of
teaching experience at school and its relationship to the past of this community,
developing a collection of narratives, from interviews with older residents of the
community.
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13
2.1 Seleção e Processo de escolha dos manuais didáticos para a escola José
Caetano dos Santos................................................................................................. 36
2.2 A História e Cultura africana e afro-brasileira na Coleção Didática “História nos
dias de Hoje” ............................................................................................................ 43
5 BIBLIOGRAFIA........................................................................................................79
6 APÊNDICE............................................................................................................ 84
7 ANEXOS................................................................................................................97
13
INTRODUÇÃO
Enquanto os leões não tiverem
seus historiadores, a história das
caçadas glorificarão os feitos
dos caçadores
Provérbio Yorùbá
1
A lei 10.639/ 2003 foi alterada em 2008 pela Lei 11.645, ampliando a obrigatoriedade dos estudos
de História e Culturas indígenas, juntamente com os estudos de História e Cultura Africana e afro-
brasileira. Pelo direcionamento especifico, optamos por utilizar os termos da lei 10.639/ 03, por se
tratar do objeto de análise deste trabalho, não por suposta importância entre os temas, mas por
funções metodológicas de pesquisa, optamos pelo recorte.
2
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB 9394/96, foi alterada pelas leis 10.639/03
e 11.645/ 08 com a inclusão dos artigos 26-A e 79-B (que terão seu espaço para discussão ao longo
do trabalho). No entanto, por motivos de destaque que essas leis tomaram, ainda nos referimos a
elas para tratar da obrigatoriedade do ensino da História e culturas Indígenas Africanas e afro-
brasileiras. Por tanto, é a LDB que salvaguarda essas leis e que, por conseguinte, é quem deve ser
cumprida pelos sistemas de ensino de todos os níveis e modalidades.
14
3
Esta resolução do Conselho Nacional de Educação institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de História da África e Cultura Afro-brasileira
e Africana que no primeiro capitulo deste trabalho, será desenvolvido uma análise da criação destas
Diretrizes e sua intrínseca relação com a alteração da LDB com a lei 10.639/03.
17
e fazem parte os municípios de São Raimundo Nonato (que concentra a maior área
do território e onde a comunidade Lagoa do São Vitor está localizada), Várzea
Branca, Fartura do Piauí, São Lourenço, Bonfim do Piauí e Dirceu Arcoverde”
(MATOS e MORAIS, 2013, p. 08). O capítulo intitulado a unidade escolar José
Caetano dos Santos: Uma experiência para o ensino de História a partir da Lei nº
10.639/03 tem como objetivo caracterizar a escolar e propor experiências para o
ensino de História. Neste contexto específico de uma comunidade quilombola,
podemos observar as dificuldades e perspectivas para este ensino. A proposta será
a partir de um grupo de trabalho e oficinas introdutórias sobre História e Memória
com alunos, orientada pelo professor, e culminará em uma coletânea de narrativas
que os moradores mais antigos da comunidade contam. Acreditamos que esta
proposta contribuirá para o ensino de História, já que corresponde às experiências,
às memórias e à História local da comunidade.
Antes de darmos início à pesquisa de fato, tomemos de empréstimo as
palavras do filósofo, filho de dois mundos (nascido na Inglaterra e criado em Gana),
Kwame Anthony Appiah. Em seu livro Na Casa de meu Pai: África na Filosofia da
Cultura, diz que, um ensaio que tenta abranger temas interdisciplinares, está fadado
a usar parte de seu tempo dizendo ao leitor algo o que ele já sabe, porém, devemos
imaginar os companheiros de leitura que estão entrando em contato com este tema
pela primeira vez, “antes de se perguntar por que expliquei o que não requer
explicação pra você”. E continua “E, quando constatar ignorando o que você julga
importante, lembre-se que ninguém é capaz de abranger todas as áreas com igual
competência e que isso não torna menos válida a tentativa” (APPIAH, 1997, p. 15).
Dito isto, deixo o registro do esforço e o rigor que um trabalho acadêmico
exige, e que em todo seu trajeto de escrita, tentará ser um pouco mais que um
ensaio.
19
CAPÍTULO I
Iniciar uma escrita diante de um tema tão amplo nos vem à memoria os
escritos de Galeano, onde o garoto que nunca tinha visto o mar chama seu pai para
ajudá-lo a olhar. Aqui, nos deparamos com um oceano, denominado Atlântico, que
nos faz perder a vista diante de tantas vidas e histórias que cruzaram este oceano,
bem como de tantas outras que ficaram pelo caminho.
O Brasil, desde as suas primeiras narrativas históricas enquanto nação
tentou construir a ideia de que estamos num país de democracia racial. 4 Em meados
do século XIX, os desdobramentos deste “mito da democracia racial”, na afirmação
de Cabral e Coelho, “podem ser percebido sem dificuldades; um dos mais evidentes
ficou conhecido como ideologia do “branqueamento” (COELHO E CABRAL, 2008, p.
27). O pensamento que propunha o embranquecimento da população brasileira,
surgido em fins do século XIX, a partir dos estudos de Nina Rodrigues (médico
baiano), do sociólogo Oliveira Viana e de João Batista de Lacerda, também médico,
no início do século XX. Todos eles acreditavam que o Brasil deveria, através da
mestiçagem, adquirir um padrão europeu, como raça branca - tinha “jeito” se,
através da mestiçagem, se “lavasse com a gene branca, superior, o sangue
brasileiro” - Daí o incentivo imigratório europeu, patrocinado pelo governo até os
anos 1930 e encerrada por Getúlio Vargas. Toda essa mentalidade de
“embranquecimento” ainda permanece, em alguns aspectos, arraigada na
mentalidade do povo brasileiro (PEREIRA, 2012, p. 22). De fato, esse ideal de
“branqueamento” permanece em nossa história. Se na fase da escravidão o negro
era associado ao trabalho escravo, como concebê-lo no período após a Abolição?
No entender de Thomas Skidmore (que se contrapõe a de Florestan Fernandes),
mesmo antes da Abolição presenciava-se no Brasil “oportunidades econômicas e
sociais” para homens livres de cor; isto é uma prova do “padrão multirracial da
categorização racial” no Brasil. (SKIDMORE, 1976, p. 60). O ideal de
“branqueamento”, por exemplo, apresenta-se como ideia básica em muitos
4
Embora, na prática real, não era isto que se presenciava. O decreto nº 1.331, de 17 de fevereiro de
1854, estabelecia que nas escolas públicas do país, não seriam permitidos escravos, e a previsão de
instrução para adultos negros dependia da disponibilidade do professor; o decreto nº 7.031 – A de 6
de setembro de 1878, estabelecia que os negros só podiam estudar no período noturno.
27
intelectuais. Oliveira Viana foi um deles. Em sua visão, “as duas raças primitivas
(negros e índios) só se tornariam agentes civilizadores (...) [se perdessem] sua
pureza e [cruzassem] com a branca” (p. 222). Após Oliveira Viana, também Gilberto
Freire, Paulo Prado e Alberto Torres compartilharam desse ideal de
“branqueamento”. Segundo Gomes:
A Lei nº 10.639/ 2003 foi alterada, em 2008, pela Lei nº 11.645, ampliando
a obrigatoriedade dos estudos de História e Culturas indígenas, juntamente com os
estudos de História e Cultura Africana e afro-brasileira. Pelo direcionamento
especifico, optamos por utilizar os termos da Lei nº 10.639/03, por se tratar do objeto
de análise deste trabalho, não pela suposta importância entre os temas, mas por
funções metodológicas de pesquisa, optamos pelo recorte. As Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, a LDB 9394/96, foi alterada pelas leis 10.639/03 e 11.645/08
com a inclusão dos artigos 26-A e 79-B. No entanto, pela importância que essas leis
tomaram, ainda nos referimos a elas para tratar da obrigatoriedade do ensino da
História e Culturas Indígenas, Africanas e afro-brasileiras. Portanto é a LDB que
salvaguarda essas leis e que, por conseguinte, devem ser cumpridas pelos sistemas
de ensino de todos os níveis e modalidades do país.
Com a alteração da LDB, a partir da inclusão da Lei nº 10.639/03, é criado
pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), tendo como relatora a professora
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, que produziu as Diretrizes Curriculares
Nacionais de Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana. A finalidade deste documento é regulamentar e
orientar a alteração das Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
5
Zumbi dos Palmares (1655? -1695). Líder mais conhecido da confederação de quilombo de
Palmares, que se estava localizado nos territórios da atual Alagoas e Pernambuco. O dia 20 de
novembro data de sua morte, é lembrado como dia da Consciência Negra.
31
CAPÍTULO II
6
FNDE, Fundo Nacional de desenvolvimento da Educação. Programa do Livro Didático. Disponível
em: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-dados-estatisticos.
35
Tinha, tinha muito. Sempre tem bastante livro. Olha, só pra esse ano, as
editoras chega aqui e já tem livro de umas três a quatro editoras. Eles têm
uma vontade de vender aí eles já trazem. Em 2014 eu acho que aqui só
veio, pra trazer livro aqui na escola, só uma editora. Eles deixam pra gente
analisar, eles mostram uns folhetos, por que já tem mais ou menos o que é
que tem no livro. Mas aí eles voltam, por que a escolha é feita depois, aí
nessa hora eles não interferem não.
Não, na hora a gente sente que lá eles escolhem a critério deles. Mas não
que eles cheguem assim pra gente e diga: - escolha esse! Os professores
escolhem, e também a gente não sabe o que o outro escolheu e também
nem sabe qual foi que ganhou a concorrência, só que a gente comenta
entre si que não tem muita vantagem os professores escolher que na
verdade, num prevalece as escolha deles não (dos professores). Tem uma
maneira também que as editoras fazem, vendem seu peixe, o mais barato,
tudo isso aí existe. Eles levam a gente pra escolher, pra dizer que teve a
escolha, mas na verdade não é não. Eles escolhem o que é melhor pro
bolso deles lá.
Não. Não porque já que a escolha da gente num é valida, eles não vão
pensar. É o mesmo livro, pro município todo. Já no fundamental menor,
esse ano, já tá sendo. Tem o livro da cidade e o livro do campo. É diferente,
mas no... a não ser agora, no próximo, ano que vem, pode vir com essa
mudança. Como do fundamental menor já veio com essa mudança, aí não
sei, no próximo ano.
Praticamente não. Porque até mesmo a gente não tem material. Quase, pra
trabalhar assim mais a cultura deles, a afro-brasileira por que já é mais
assim, a parte quilombola mesmo. Alguns livros hoje apresentam assim, uns
pequenos textozinhos sobre isso, mas é pouco. Não tem diferença
praticamente não. Por que é uma coisa que eles sempre falam que tem que
ter né. Hoje já é determinada por lei que o ensino afro-brasileiro já que tem
que ter em toda escola de ensino médio, de fundamental maior... Mas fica
só na teoria.
Sobre a formação profissional da professora, ela nos conta que fez sua
graduação em História na Universidade Estadual do Piauí, pelo Programa Nacional
de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR):
Não, não, não. Não tive curso nenhum pra isso não separado não.
Na graduação [...] Teve uma disciplina que falava de afro-brasileiro...
História da África! Que já envolvia um pouco assim. Mas assim, voltado pra
região aqui, o quilombo lagoas que é esse aqui, que nós estamos inseridos,
nunca teve não. Até eu que morava aqui dentro do quilombo, eu não sabia
era nada! Esse negócio de quilombo. Eu vim ficar mais por dentro, sabendo
o que é que era isso, por que meu trabalho de conclusão de curso eu fiz
História e Memória do Quilombo Lagoas, aí eu tive que fazer umas
pesquisas.
39
Porque o livro é um suporte pra você pelo menos se basear e dali você
planejar suas atividades em cima daquilo. Sem o livro fica assim, mais difícil
pra gente. Mas esse ano mesmo, metade dos alunos, não tem o livro. Ai
isso ai complica, você diz que tá trabalhando com o livro, mas ao mesmo
tempo muitas atividades não são feitas com o livro. Mas o livro ajuda, tem
livro que não ajuda muito não, mas tem outros livros que são ótimos, tem
atividades boas que você pode trabalhar mesmo. Mas esse ano está essa
dificuldade, assim, por que metade dos alunos não tem livro. E ainda tem
outros que não trazem o livro. Tem e não trazem. Tem hora que eu digo: _
traga o livro pra eu dar pra outro que quer, por que tem aluno sem livro! Mas
são meio enrolados... Tem uma turminha ai...
Sobre a causa de não ter livros para todos os alunos, a professora tem
sua teoria:
Eu acho, é por que, já serem três anos que a gente está com esse livro aí
os alunos levam no primeiro ano pra casa aí, no ano seguinte tinha que
devolver pra escola, pras turmas seguintes e eles, metade não devolve. Por
que de inicio tinha, e o número de alunos não aumentou e os livros
sumiram. É pra ser isso.
Mesmo com as reposições feitas pelo MEC, ainda assim a falta de livros é
grande:
Ás vezes vem um pouco, uns livrinhos a mais, mas não dá pra repor não.
Acontece que, tem ano que vem assim, teve esse livro que trabalhamos ano
passado, aí deixa que esse ano, a secretaria mandou uns restinho que tinha
lá, mas não dá pra cobrir não.
40
Foto1: Documentos anexados nos materiais didáticos enviados pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação para a U.E. José Caetano dos Santos. Referente reposição
dos materiais. Ano 2015.
41
Foto2: Documentos anexados nos materiais didáticos enviados pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação para a U.E. José Caetano dos Santos. Ano 2015.
Foto 3: Almoxarifado dos livros didáticos da U. E. José Caetano dos Santos, 2016.
42
Sendo assim, foi escolhida a Coleção História nos Dias de Hoje, cujos
autores são Flávio de Campo, doutor e mestre em História Social pela Universidade
de São Paulo, professor do Departamento de História também da Universidade de
São Paulo, ex-professor de História do ensino fundamental e do ensino médio em
escolas públicas e particulares, autor de livros didáticos e paradidáticos,
Coordenador Científico do LUDENS-USP (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas
sobre Futebol e Modalidades Lúdicas); Regina Claro, mestre em História Social pela
universidade de São Paulo, africanista e pesquisadora da cultura afro-americana.
Autora de livros didáticos e paradidáticos com temática africana; Miriam Dolhnikoff,
doutora e mestre em História Econômica pela Universidade de São Paulo,
professora do departamento de História da Universidade de São Paulo, ex-
professora de História do ensino fundamental médio, e pesquisadora do CEBRAP
(Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). Publicado pela editora Leya, ano
2012. E seu triênio de utilização nas escolas, segundo o PNLD é de 2014, 2015 e
2016.
No tópico seguinte, analisaremos esta coleção que conta com quatro
volumes, distribuído nas respectivas séries do ensino fundamental, 6º, 7º, 8º e 9º
anos, atentos aos conteúdos e/ou temas que abordam a África, os africanos e os
afro-brasileiros, textos e, sobretudo, as imagens que referenciam esses temas, pois
acreditamos que as imagens, corroborando com Bittencourt (2013), concretizam a
noção abstrata do tempo histórico. “A importância das imagens como recurso
pedagógico tem sido destacada há mais de um século por editores e autores de
livros escolares” (BITTENCOURT, 2013, p.75).
43
África na Pré-História:
7
Ver em SILVERIO, Valter Roberto. Síntese da Coleção História Geral da África: Pré-história ao
século XVI. Brasília: UNESCO, MEC, UFSCar, 2013.
46
como citado no capítulo anterior, que existe toda uma equipe de editores, autores,
ilustradores, empresas, por trás da criação de materiais didáticos.
tempo acreditou-se que a região tivesse sido povoada por povos vindos da
Ásia” (CAMPOS, et al.,2012,p.94).
Este aspecto é importante, pois se deve mostrar aos alunos que os reinos
europeus não eram iguais aos reinos africanos, apesar de se utilizarem os mesmos
termos. Também é abordado o Egito sob o domínio de gregos e romanos. Sobre
Alexandria e a sua grandiosa biblioteca (ver imagem 10, Anexo II).
Ao final do livro, os autores nos trazem informações sobre a importância
da oralidade para os diversos povos africanos, sobre a função dos griots (ver
imagem 11, Anexo II). Também apresentam a diversidade de povos do deserto
(Mauro, Númida, Getulo e Garamante), povos das savanas, da floresta, e povos das
etnias Sonikê, Bantos, Pigmeus (Twa, Mbuti, Baka, Aka), San, Khoi-Khoi (ver
imagens 12, 13, 14, 15,16, Anexo II).
Podemos perceber nos temas e abordagem sobre o tema África neste
livro dedicado ao 6º ano do ensino fundamental, uma preocupação dos autores em
mostrar uma África histórica, mesmo inserida num recorte-temporal europeu.
Tratando temas como pré-história, o Egito antigo, Os reinos Africanos e sua
48
O encontro do Islã com a África foi uma das mais fecundas aventuras
humanas da história universal. O Islã propôs aquilo que se poderia “chamar
de uma escolha de sociedade”. Os ecos se fizeram ouvir diferentemente no
tempo e no espaço sobre o continente negro. O desafio era imponente.
Tratava-se de uma mudança de mentalidade, de concepção, de
representação do mundo, de comportamento. Tratava-se de trocar a sua
cultura pela a de outrem, em suma, ser outro. Em que pesem as
resistências entre o século I/VII e o início do século XI/XVII, a África
mediterrânea aceitou a alternativa mulçumana. Ela islamizou-se e pôs se a
arabizar. (SILVERIO, 2013, p. 308).
Diz ainda que nem toda a África aderiu ao islamismo, “no restante da
África, o Islã não encontrou as circunstâncias históricas favoráveis que explicaram
os seus sucessos no Oriente, no norte do continente e na Espanha.” (SILVERIO,
2013, p. 308).
cotidiano doméstico de uma casa grande, nos comércios aos castigos, torturas e o
próprio movimento de tráfico, tanto em África quanto no Brasil, que estas pessoas
sofreram. (Ver imagens 23 a 40. Anexo II).
Os autores introduzem o tema a partir dos engenhos de açúcar e sua
logística de funcionamento,
XVI. Tinha início o uso do trabalho escravo em larga escala nas colônias
portuguesas do Atlântico. (CAMPOS, et al., 2012, p.234).
Fugiam para uma fazendo vizinha, na qual pediam que o seu proprietário
interviesse junto ao seu senhor com relação à causa que os havia feito fugir,
geralmente excesso de trabalho e castigos. [...] Esses e outros tipos de
negociação iam pouco a pouco tornando parte do sistema escravista, que
ao longo dos séculos assumiu formas diferentes, mudando junto com a
sociedade brasileira.
57
ser encenado a partir do século XV, teve seu apogeu no século XIX.
(CAMPOS, et al., 2012, p. 247)
Por fim, os autores abordam o processo histórico que deu fim ao trabalho
escravo no Brasil, como as leis Eusébio de Queiroz, 1850, Lei do Ventre Livre, 1871,
Lei dos sexagenários, 1885, e por fim a Lei Áurea. Movimentos e os líderes
abolicionistas como, Luís Gama, José do Patrocínio, André Rebouças, Antônio
Bento, Francisco do Nascimento. (Ver imagens 58, 59, 60, 61, 62. Anexo II) e
também faz referência a importantes figuras negras contemporâneas como Abdias
Nascimento, Milton Santos, Ismael Ivo, Heitor dos Prazeres. (Ver imagens 63, 64,
65, 66. Anexo II).
No quarto e último livro, destinado ao 9º ano do ensino fundamental, o
sumário divide-se em:
A História mais que ensina. Através de novos conteúdos, ela nos faz
experienciar coisas estranhas ao nosso cotidiano. Isto quando não sentimos uma
identidade com o conteúdo. Philippe Ariès comenta sermos “sensíveis aos
contrastes da História”8. Tudo isto são sementes de uma futura “consciência
histórica”, na medida em que nos representamos na duração (histórica).
E, para aqueles que se identificam com o conteúdo (no caso dos
afrodescendentes), a história é um aprofundamento de suas raízes. Ela auxilia na
práxis geral, pois estão conscientes (ou se conscientizando) do sofrimento e dos
enriquecimentos que povos (antepassados) trouxeram.
Acreditamos também que ao conhecer a História e culturas de outros
povos, Adquirimos ferramentas para o embate cotidiano de preconceitos que é um
dos legados mais importantes do ensino da História: cotidianamente, desnaturalizar
temas que por muito tempo eram dados como naturais.
8
Ver em: ARIÈS, Philippe. O tempo da história. Tradução de Roberto L. Ferreira. São Paulo: Editora
da UNESP, 2013. (p. 311).
64
CAPÍTULO III
GRUPO OCORRÊNCIA
Natureza/Geografia 101
Cultura/Educação 32
Escravidão 13
Negros/Questão racial 27
Religião 5
Guerra/Fome/Miséria/Doenças 93
História/Colonização 13
Tabela 1. Fonte: atividade realizada com alunos do ensino médio de escolas públicas de zona urbana
de São Raimundo Nonato, Piauí, em abril e maio de 2016.
GRUPO OCORRÊNCIA
Natureza/Geografia 97
Cultura/Educação 136
Escravidão 59
Negros/Questão racial 70
Religião 3
Guerra/Fome/Miséria/Doenças 62
História/Colonização 12
Tabela 2. Fonte: atividade realizada com alunos do ensino fundamental II da escola pública municipal
de zona rural de São Raimundo Nonato, Piauí, em julho de 2016.
Foto 4:Unidade Escolar José Caetano dos Santos – São Vítor –São Raimundo Nonato –
Piauí. Março, 2016. Fonte: Autor.
9
Ver em OLIVEIRA, S.M. SOUSA, M. S. R. Relatório Antropológico do Território Lagoas – RTID.
Teresina, 2010. Texto apresentado ao Incra, Piauí.
10
Ver em MATOS, Simone de Oliveira. MORAES, Maria Dione Carvalho de. Territorialidade
Quilombola em Lagoas (PI): “memória dos tempos de cativeiro” e questões de titulação. In: LIMA,
Solimar Oliveira. FIABANI, Aldemir (Org.). Sertão Quilombola: Comunidade negra no Piauí. Teresina:
EDUFPI, 2015.
69
11
Ver em: MATOS, Simone de Oliveira. MORAES, Maria Dione Carvalho de. Territorialidade
Quilombola em Lagoas (PI): “memória dos tempos de cativeiro” e questões de titulação. In: LIMA,
Solimar Oliveira. FIABANI, Aldemir (Org.). Sertão Quilombola: Comunidade negra no Piauí. Teresina:
EDUFPI, 2015.
73
Este é um exemplo de narrativa que pode ser coletada por alunos a partir
do conteúdo em sala de aula: abolição da escravatura no Brasil. O aluno através da
história local tem outra visão de como ocorreu a libertação do trabalho escravo em
sua própria comunidade. Infelizmente a Dona Julieta faleceu no decorrer deste
trabalho, mas algumas de suas memórias continuam vivas em alguns trabalhos e
teses acadêmicas.
Abaixo, visualizamos a pedra do São Vítor, onde em seu sopé, em
tempos chuvosos, acumula água e serve de bebedouro para os animais. Conta-se
que na pedra há rastros de escravos, marcas na rocha parecidas com pegadas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bibliografia
APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu pai. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
__________________. O Livro didático não é mais aquele que ensina. In: Nossa
História. Ano 1, nº 2, dezembro de 2003.
BHABHA, Homi. K. O Local da Cultura. Trad. Mirian Ávila, Eliane Lourenço, Glaucia
Renate. 2ª Ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. 4º Ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2010.
CAMPOS, Flávio de. CLARO, Regina. DOLHNIKOFF. Mirian. História nos Dias de
Hoje, 6º ano. 1º ed. São Paulo: Leya Brasil, 2012.
__________. História nos Dias de Hoje, 7º ano. 1º ed. São Paulo: Leya Brasil,
2012.
__________. História nos Dias de Hoje, 8º ano. 1º ed. São Paulo: Leya Brasil,
2012.
__________. História nos Dias de Hoje, 9º ano. 1º ed. São Paulo: Leya Brasil,
2012.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. 3º Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013.
HALL, Stuart. Quem precisa de identidade?. In: SILVA, Thomas Tadeu da. (Org.).
Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos socioculturais. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2007.
LAVISSE, Ernest. Histoire de France: cours éleméntaire. Paris. A. Coli, 1887. In:
BITTENCOURT, Circe. O saber Histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto,
2013.
MARTIUS, Karl Friedrich Philipp von. Como se deve escrever a História do Brasil.
Revista do IHGB. Rio de Janeiro 6 (24): 389 - 411. Janeiro de 1845. (Revista
Trimensal de História e Geografia ou Jornal do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro. N. 24, janeiro de 1845).
Disponível em:
(http://www.pucrs.br/letras/pos/historiadaliteratura/textosraros/martius.htm) Acesso
em 13 de novembro, 2015.
titulação. In: LIMA, Solimar Oliveira. FIABANI, Aldemir (Org.). Sertão Quilombola:
Comunidade negra no Piauí. Teresina: EDUFPI, 2015.
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a Historia do Levante dos Malês
em 1835. São Paulo: companhia da Letras, 2003.
SANTOS, Sales Augusto dos. A Lei 10.639/2003 como fruto da luta antirracista
do Movimento Negro. In: BRASIL. MEC. SECAD. Educação antirracista: caminhos
abertos pela Lei Federal 10.639/2003. Brasília: Secad, 2005.
SILVÉRIO, Valter Roberto: Síntese da Coleção da HGA: Pré História ao Séc. XVI.
Brasília: Unesco, Mec, Ufscar, 2013.
APÊNDICES
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Tempo: 00h28min:09
- A senhora é formada em História?
Profa. Rosa*: Sou formada em História. Me formei aqui na UESPI em São Raimundo,
no Campus de São Raimundo Nonato.
Profa. Rosa*: 2014. Que terminou o curso. E, foi pelo PARFOR. O programa de
formação de professores
Profa. Rosa*: Já, mesmo sem ter formação na área, mas eu já tinha talvez uns três
anos que eu já trabalhava com História. Sem ser formada na área, mas por
necessidade.
Profa. Rosa* Já. Já tinha trabalhado com ciências, geografia. Um multiseriado aí.
Profa. Rosa*: Sempre eu trabalhei com ensino fundamental menor seja no segundo
ano, terceiro ano. E no ginásio, no fundamental maior com geografia e ciências e aí
estava trabalhando com História quando comecei a estudar.
- A família também?
Profa. Rosa*: Na verdade, a gente nem pode dizer que participou. Por que a gente
participa, tem vez, na escolha mesmo desse 2014, nós os professores da escola,
participamos. Só que livro que nós escolhemos, não foi esse. Sempre acontece isso. A
gente escolhe, analisa os livros e na hora, vem outro, não é o que a gente escolheu.
Profa. Rosa*: Não lembro não. Já do fundamental menor, já agora dessa última vez, no
ano passado, já nem chamaram a gente. Só fez jogarem os livros.
Profa. Rosa*: às vezes é lá. Aí Já teve vez de ser aqui na escola, também, só com os
professores daqui que escolhem e mandam pra lá, a escolha, mas eu acho que tem
uma... [silêncio]
Profa. Rosa*: Não, esse aqui, já foi desde 2014, 2015 e 2016. Ano que vem é que
muda. Esse ano é o ano da escolha de livro. Pro próximo ano já vai ser outro.
Profa. Rosa*: Tinha, tinha muito. Sempre tem bastante livro. Olha só pra esse ano, as
editoras chegam aqui e já tem livro de uma três a quatro editoras. Eles têm uma
vontade de vender aí eles já trazem.
- A senhora já sentiu alguma influencia das editoras pra escolha desse livro na época?
(2014) dessa coleção?
Profa. Rosa* 2014 eu acho que aqui só veio, pra trazer livro aqui na escola só uma
editora.
Profa. Rosa* - Eles deixam pra gente analisar, eles mostram uns folhetos, por que já
tem mais ou menos o que é que tem no livro. Mas aí eles voltam, por que a escolha é
feita depois, aí nessa hora eles não interferem não.
Profa. Rosa*: Não, na hora a gente sente que lá eles escolhem a critério deles. Mas
não que eles cheguem assim pra gente e diga: _ escolha esse! Os professores
escolhem, e também a gente não sabe o que o outro escolheu e também nem sabe
qual foi que ganhou a concorrência, só que a gente comenta entre si que não tem
muita vantagem os professores escolherem que na verdade num prevalece as escolha
deles não (dos professores). Tem uma maneira também que as editoras fazem, vende
seu peixe, o mais barato, tudo isso aí existe. Eles levam a gente pra escolher, pra dizer
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que teve a escolha, mas na verdade não é não. Eles escolhem o que é melhor pro
bolso deles lá.
Profa. Rosa* Eu sei que é utilizado no município. Em todas as escolas é esse livro. Nas
escolas públicas do município é esse.
- Houve alguma preocupação na escolha desse material por conta da escola estar
num território quilombola?
Profa. Rosa* não. Não por que já que a escolha da gente num é valida, eles não vão
pensar. É o mesmo livro pro município todo. É... Já no fundamental menor, esse ano, já
tá sendo. Tem o livro da cidade e o livro do campo. É diferente, mas no... a não ser
agora, no próximo, ano que vem, pode vir com essa mudança. Como do fundamental
menor já veio com essa mudança, aí não sei, no próximo ano...
- A senhora pode dizer, se pela escola estar num território quilombola, há alguma
diferença no ensino.
Profa. Rosa* Praticamente não. Por que até mesmo a gente não tem material. Quase,
pra trabalhar assim mais a cultura deles... A afro-brasileira por que já é mais assim, a
parte quilombola mesmo. Alguns livros hoje apresentam assim uns pequenos
textozinhos sobre isso, mas é pouco. Não tem diferença praticamente não. Por que é
uma coisa que eles sempre falam que tem que ter né. Hoje já é determinada por lei
que o ensino afro-brasileiro já que tem que ter em toda escola de ensino médio, de
fundamental maior... Mas fica só na teoria.
- A senhora teve alguma formação para passar esse tipo de conteúdo? Sobre
quilombos, sobre História da África, cultura afro-brasileira?
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Profa. Rosa* não, não, não. Não tive curso nenhum pra isso não separado não.
Profa. Rosa* não, até eu que morava aqui dentro do quilombo, eu não sabia era nada!
Esse negócio de quilombo. Eu vim ficar mais por dentro, sabendo o que é que era isso,
por que meu trabalho de conclusão de curso eu fiz História e Memória do Quilombo
Lagoas, aí eu tive que fazer umas pesquisas e...
Profa. Rosa* Só que, eu, ele tá lá na UESPI, ficou lá, eu nunca nem imprimi pra mim,
eu não tenho nenhuma cópia, uma Xerox assim, ficou num pen drive lá, eu fico dizendo
que vou imprimi um pra mim, mas até hoje...
- a senhora sabe me dizer se tem algum trabalho sobre a escola, um histórico, que
conte a história da escola
Profa. Rosa* tem o projeto politico, só tem esses documentos assim. A diretora sabe
informar mais do que eu. Eu acho que tem um levantamento sobre isso ai, a história,
que fizeram antes deu trabalhar aqui. Por que de inicio eu trabalha ali no Calango,
comunidade Calango, ai fechou lá. Ai eu , me trouxeram pra aqui. Mas isso aí a diretora
sabe mais do que eu. Eu num sei informar bem.
Profa. Rosa* Eu acho que ajuda. Por que o livro é um suporte pra você, pelo menos se
basear e dali você planejar suas atividades em cima daquilo. Sem o livro fica assim,
mais difícil pra gente. Mas esse ano mesmo, metade dos alunos, não tem o livro. Ai
isso ai complica, você diz que tá trabalhando com o livro, mas ao mesmo tempo muitas
atividades não são feitas com o livro. Mas o livro ajuda, tem livro que não ajuda muito
não, mas tem outros livros que só ótimos tem atividades boas que você pode trabalhar
mesmo. Mas esse ano está essa dificuldade, assim, por que metade dos alunos não
tem livro.
E os alunos também viraram muito sem interesse e tem deles que tem e não traz para
a sala de aula. Acho que os alunos dão muita pouca importância ao livro, mas eu não
acho que seja por que o livro não tenha importância, é falta de interesse dos alunos
que tá.... Por que hoje em dia é grande a falta de interesse dos alunos. A grande
maioria deles. Seja em qualquer lugar. Cada dia você percebe isso, que os alunos
estão perdendo o interesse pela aprendizagem.
- A senhora gostou desse livro? Já faz uns três anos que a senhora usa né?
Profa. Rosa* faz uns três anos. Na verdade num foi dos livros que eu gostei mais não.
Eu já estou com vontade que chegue o próximo ano pra mudar de livro. Até mesmo por
que a gente fica com vontade de ver outras... Deixe que eu tenho outros livros, eu
pesquiso em vários outros livros, mas como aqui a gente não tem acesso a internet ,
pra você pesquisar, nada, então no momento o livro é o maior meio de fonte de
pesquisa, por que se a gente não tem acesso a esse outros meios tecnológicos, o livro
ainda é a base principal pra gente.
- Pelo que a senhora já percebeu do livro, trabalha com a lei ( 10.639) que pede que a
gente trabalhe com historia da África?
Profa. Rosa* tá, se é lei a gente trabalhar com isso aí, eles tão atrasados. (risos) Se já
tá lá na constituição que e lei.
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- a senhora tem acesso a outros materiais pra planeja aula, vai além desse livro não é?
- Então um problema dos alunos é que nem todo mundo tem livro?
Profa. Rosa* é, e ainda tem outros que não trazem o livro. Tem e não trazem. Tem
hora que eu digo: _ traga o livro pra eu dar pra outro que quer, por que tem aluno sem
livro! Mas são meio enrolados... Tem uma turminha ai...
- A senhora saberia dizer por que não tem livro pra todo mundo?
Profa. Rosa* Eu acho eu é por que já ser três anos que a gente está com esse livro ai
os alunos levam no primeiro ano pra casa aí , no ano seguinte tinha que devolver pra
escola, pras turmas seguintes e eles, metade não devolvem . por que de inicio tinha, e
o numero de alunos não aumentou e os livros sumiram. É pra ser isso.
Profa. Rosa* as vezes vem um pouco, uns livrinhos a mais, mas não dá pra repôs não.
Acontece que, tem ano que vem assim, teve esse livro que trabalhamos ano passado,
ai deixa que esse ano a secretaria mandasse uns restinho que tem lá, mas não dá pra
cobrir não.
- Me deixa fazer uma atividade que vou fazer com os meninos, com a senhora
também? A senhora poderia pensar em umas dez palavras que venham a cabeça
quando a gente fala, África?
Profa. Rosa* Escravos, indígenas, cultura, é que assim, de repente dá um branco, [...]
Profa. Rosa* África... Tem uma teoria, que nossa origem veio de lá, não sei se...
Origem. Tem outros que dizem que não é mais, mas ainda tá por aí... E... [silêncio]
bora, me ajude ai! [risos].
- Na televisão, nos livro... [risos]
Profa. Rosa* geralmente aparece mais... Deserto, animais, girafa, nos filmes... eu num
assisto muita televisão não, mas é isso ai...é que na hora a gente...dá um branco...
- está ótimo!
Profa. Rosa* não tem muito interesse não, por que tem muita preguiça de ler. Agente
coloca um estudo dirigido, questionário umas coisa pra eles responder pelo livro e tem
deles que fica perguntando: _ professora diz a pagina aí! Que pagina é? E na verdade
também a gente num tem muito habito de pesquisa, é tentado mudar por que ainda
aquele método um pouco tradicional, a gente tenta, mas... Os alunos são preguiçosos,
já estão viciados, são preguiçosos, marcam estudo dirigido e ainda pedem a página.
Eles querem encontrar uma reposta pronta, eles não querem ler, pra eles mesmos
formular a reposta deles. Tem uns que quer, a gente diz, eles, mas tem uns ...Mas é a
maioria que não quer. Bote aí uns vinte por cento que querem.
Profa. Rosa* é. Pra planejamento, mesmo, mensal, eu faço baseado nesse livro, até
mesmo a secretaria , lá ela, tem vez que a gente vai fazer planejamento lá em são
Raimundo , eles dizem bem assim:_ listem ai os conteúdos ! Já aconteceu deles os
coordenadores dizer bem assim _ só precisa dividir aí o livro nas unidades , e organiza
e lista os conteúdos , ai a gente faz assim, mas na verdade, o planejamento diário,
que nos trabalha por semanário , a gente faz o planejamento mensal, e trabalha com
semanário . Cada dia você vai registrando, vai registrar o que você tá fazendo.
Planejando diariamente. Ai esse ai não, você coloca coisas que nem tem lá no mensal.
Vai pesquisar em outros livros, pensar no que vai fazer.
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- da lei 10.639, a escola tem algum projeto, ou pediu que os professores fizessem
projetos por conta dessa lei?
Profa. Rosa* não, às vezes a gente entre si conversa, tem que trabalhar, tem que
trabalhar mais a região, mas fica... Tem... E não tem... Fica no planejamento. A
diretora gosta de falar: te, que trabalhar mais! Mas aí ela não tem nada pra dizer: olha
trabalha com isso aqui, por se for mesmo, as fontes com essa lei é pouca. Eu se eu
fosse trabalhar mais isso aí eu ia usar meu projeto, meu trabalho de conclusão de
curso, por que outra coisa não tem, a gente acha assim, uns paragrafozinhos em algum
livro, e pra, que eu vejo assim, acho que mais até no livro do fundamental menor, no
quarto ao, no quinto ano, é que eu tenho mais lembrança que eu tenho encontrado
mais completo no livro sobre isso.
Profa. Rosa* eu acho que eles num, num, algum deve saber pela família, mas num é
muito falado assim. Agora mesmo nos estávamos trabalhando ouro no Brasil, dos
bandeirantes, captura que eles faziam dos indígenas, na sétima serie, eles começaram
a falar, eu coloquei um vídeo lá que mostrava tudo sobre aquilo e eles começaram a
discutir, falar coisas que eles, já sabiam de antes, mas eu não sei dizer se era da
família, ou da escola mesmo, que eles já tinham aprendido mais lá atrás.
Profa. Rosa* eles sabem que aqui tinha escravo. A maioria deles sabem que aqui tinha,
que aqui já foi uma fazenda, onde teve escravo aqui também, eles sabem. Por causa
deles viverem no quilombo Lagoas, eles sabem e tem uns que moram ate aqui, pelo
lado das Emas, Moisés, que eles ainda sabem mais que os que moram no São Vitor.
Que os alunos aqui do Moisés eles estudam aqui à tarde. Ai lá é mais forte esse
negocio do quilombo, que é mais de lá é que saiu , parece que teve mais origem foi lá
mesmo. Foi o lugar que começou mesmo a se destacar a se apresentar como
quilombola foi onde surgiram os primeiros benefícios, em relação eles serem
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quilombolas, foi lá, ai eles já sabiam, mais por dentro. Mas aqui mesmo no povoado
eles num sabe muito não. Eu nem tiro eles da razão, que num sabia quase nada de
quilombola, foi ai que disse_ não! Vou fazer meu trabalho sobre isso por que eu moro
dentro de um quilombo, e eu num sei nada dessa região.
Profa. Rosa* eu acho que sim, mas, eu acho que sim. Pode aparecer um ou dois
dizendo que não, mas... Consideram.
-E a senhora? Considera-se?
Profa. Rosa* Eu me considero assim, nem tanto cem por cento, por que eu penso
assim, eu nem morava aqui, eu hoje to aqui é questão por eu ser quilombola é por eu
está aqui, mas assim, minhas raízes não são, mas eu me considero.
Mas tem assim, cor, que eu acho engraçado, nas matriculas, a gente sabe que tem a
cor, que pedem a cor, os pais, é poucos que dizem ai lá sempre vem a cor, negro,
pardo, branca, amarela, essas quatro cores, mas é muito difícil, o pai que diz a cor pra
dizer , preto. Ai tem desse que tão lá moreninho que é uma beleza, sem querer dizer o
porquê, num sei por que. Tem vez que eles falam assim, preconceito de cor, mas eu
acho que assim, o, o, o, negro, ele é quem se discrimina, por que muito deles são
negros, e eles não dizem negro! Por que se fosse eu dizia. Por que cor não quer dizer
nada. Mas quando o dos dizem assim: pardo! É poucos que se assumem por negro, e
muitos, muitos, são bem escurinhos, eu não sei por que. É engraçado. Tem vezes que
a gente comenta. Tem a questão do racismo, que hoje é muito comentado, por que
acontece demais, mas tem muitos, negros que eles é quem comentem o racismo por
parte deles, por que eles mesmo não tem coragem de dizer que é negro!
Profa. Rosa* É! A gente faz matricula aqui, pra gente ver assim, esse é negro, negro, e
quando a gente vai ver a cor, (na matricula) são bem poucos que são negros. E se a
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gente colocar, a cor sem perguntar pros pais, que a obrigação é perguntar, mas se a
gente não perguntasse, a gente iria colocar negro. Cor negra. Mas eles dizem que são
pardos. Então temos que colocar pardo. Ai eles dizem: sou quilombola! Mas a gente
sente que eles não assumem cem por cento, não tá no sangue, que quando tá no
sangue você defende, por mais que pode aquilo.
Agradecimentos e encerramento.
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ANEXOS
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Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
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Griots, Nigéria.
(CAMPOS et al, 2012)
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Casa Grande
Engenho. F. Post, 1661.
(CAMPOS et al, 2012)
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Banzo.
(CAMPOS et al, 2012)
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Mestre Bimba.
(CAMPOS et al, 2012)
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Mestre Pastinh
CAMPOS et al, 2012)
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Rocinha, 2011.
(CAMPOS et al, 2012)
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Rocinha, 2011.
(CAMPOS et al, 2012)
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Rocinha, 2011.
(CAMPOS et al, 2012)
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