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Santa Maria/RS
2019
CINARA DAL SANTO PES
Santa Maria/RS
2019
CINARA DAL SANTO PES
BANCA EXAMINADORA
Os nossos dias são feitos de pequenos passos e é com o sucesso dos pequenos passos que
vamos chegar onde queremos, assim, agradeço a Deus por ter me dado condições de lutar e
alcançar os objetivos pretendidos. Querido Deus, te agradeço pelas bênçãos sem fim e pela
alegria de viver em tua presença (Salmo 21:6).
Mãe Irma, pai Valtair, minhas irmãs, Luciane e Tanise, meus amados sobrinhos, Lorenzo,
Benício e Luíse, meus cunhados Cláudio, Lucas e Kathiemmi e aos meus queridos sogros,
Elsi e Emir, minha eterna gratidão, pois, através da presença de todos, dos sorrisos, dos
abraços, das palavras, do apoio, da compreensão, do amor e da amizade, dão sentido à minha
vida e a tornam mais fácil e prazerosa de viver.
Ao meu amor Wynni, por ser uma pessoa especial. Agradeço por estar sempre levantando o
meu astral. Agradeço pelo seu sorriso, por ser uma pessoa linda. Agradeço você, pelo apoio
nas horas difíceis, por me ouvir quando eu mais precisava desabafar. Agradeço você, que me
fez acreditar que posso ser capaz, quando eu já estava desistindo, agradeço o seu olhar que
para mim é luz, simplesmente...Muito obrigada, meu amor!
Professora Thais, minha orientadora, quero dizer que há pessoas que marcam a nossa vida,
que despertam algo especial em nós, que abrem nossos olhos de modo irreversível e
transformam a nossa maneira de ver o mundo (aprendi a ver a Botânica com outros olhos).
Você foi uma dessas pessoas! Os seus ensinamentos foram muito além dos conteúdos do
currículo. Você soube despertar a minha admiração de um modo único, e se tornou uma
inspiração para as minhas aulas. Muito obrigada pela sua dedicação, paciência e carinho!
Aos meus amigos, Dinara, Lizandra, Leonardo, Cristiane, Juliana Antes, Jerusa, Ana
Luci, agradeço pelo privilégio de ter ao meu lado pessoas tão maravilhosas e especiais como
vocês. Nunca terei como agradecer pelo apoio que vocês me ofereceram nos momentos que
tanto precisei. Os verdadeiros amigos são aqueles que aparecem nas horas mais difíceis de
nossas vidas. Obrigada! São vocês que enchem minha vida de momentos especiais e felizes.
Aos meus amigos pets Tobias e Dado, pelo companheirismo das madrugadas de estudo,
leituras, choradeira, alegrias, enfim são treze anos de uma bonita e especial parceria,
passamos pelo mestrado e agora o doutorado, sempre juntos! Quero deixar registrado
meu carinho e agradecer pela linda e sincera amizade!
“a única maneira de fazer um excelente trabalho é amando o que você faz.”
Steve Jobs.
RESUMO
This study is part of the research line Teacher Training of the Graduate Program in Teaching
Science and Mathematics, at the Franciscan University and aims to analyze how teachers of
Basic Education manifest the Pedagogical Knowledge of Content in Botany. This curricular
component was chosen, as well as the specific content for study - Angiosperms (Kingdom
Plantae), based on researches already carried out in elementary and high school, as they are
subjects of biology that present difficulties in the teaching and learning process. To characterize
the teacher's knowledge base, especially the pedagogical content knowledge (PCK), the model
proposed by Lee Shulman (1986, 1987) was employed. The methodological approach of this
study was qualitative, conducted with teachers who teach the sixth grade of elementary school
and the third year of high school, in state public schools located in the city of São Luiz Gonzaga,
Rio Grande do Sul, duly authorized by the 32nd. Education Coordination. The data were
obtained through questionnaires, analysis of official documents, pedagogical training, logbook,
filming and an instrument to characterize pedagogical content knowledge, a tool called content
representation - CoRe (adapted from LOUGHRAN; BERRY; MULHALL, 2004). The CoRe
consists of a set of eight questions directed to the teacher about teaching a specific content, in
the case of this study, related to the teaching of the theme Angiosperms (Kingdom Plantae).
From the interpretation of the data was possible to know the profile of the teachers involved in
the teaching of botany in basic education; verify how teachers direct their teaching performance,
in view of the PCK; find out how botany is prescribed in official documents; identify teacher
concerns related to PCK; diagnose the professional difficulties of science / biology teachers
related to botany; contribute to the process of continuing education of Science / Biology
teachers, through pedagogical training, emphasizing the Pedagogical Knowledge of Content in
Botany. It was found that the teachers participating in the research, in general, have the domain
of Pedagogical Knowledge, but not of Content Knowledge in Botany, a fact that offers
limitations for the structuring of Pedagogical Content Knowledge and good conduct of the
teaching and learning process.
Keywords: Biology Teaching. Botany teaching. Science teaching. Angiosperms.
LISTA DE QUADROS
DO – Doutorado
EF – Ensino Fundamental
EM – Ensino Médio
ES – Ensino Superior
ME – Mestrado Acadêmico
MP – Mestrado Profissional
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 18
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA .......... 22
1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 25
1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 25
1.2.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 25
1 INTRODUÇÃO
A vontade de ser professora e o gosto pela ciência sempre fizeram parte da minha vida.
Muito pequena, já reunia as crianças da redondeza e representava o papel de professora para
elas. Para as aulas, improvisava um pedaço de tábua, na qual escrevia, ensinando as letras. Mais
tarde, já na escola, na sala de aula, na primeira série do primeiro grau que frequentei em uma
Escola Salesiana, essa vontade de ser professora se intensificou. Mas esse desejo, apenas
intuído, se materializava na sala. Procurava sentar-me nas classes da frente para prestar muita
atenção ao que a professora dizia e participar sempre que isso fosse possível. Depois de me
qualificar com as lições diárias, fazia meus ensaios docentes com as crianças da minha rua.
Era ali, à sombra das nespereiras e do salso chorão, do passeio ou no pátio da nossa
casa que eu exercitava minhas “habilidades”. Nesses momentos, inesquecíveis para mim, a
criançada deixava de ser a Aninha, o Joãozinho, a Maria e o Guto, estes passavam a ser “os
meus alunos” e como tal, com pompa e circunstância, eram chamados por nome e sobrenome:
Ana Maria de Matos Correa, João do Amaral, Maria Ferreira e Luís Augusto da Silva, e outros
que apareciam esporadicamente. Os nomes não eram colocados em ordem alfabética nessa lista
de chamada diária, pois a performance da professora ainda não permitia tal avanço. Feita a
chamada diária dos “alunos”, passava-se à lição – belas lições! – extraídas da cartilha Pipoca,
que, em sala de aula, a professora Claurenice utilizava como recurso pedagógico.
Após os “estudos”, vinha a hora da merenda e das brincadeiras, num recreio que se
estendia até à noitinha e somente se encerrava quando as mães dos “alunos” e a minha própria
chamavam pela terceira ou quarta vez para um banho adiado à exaustão. Ficava a promessa de
continuidade desses momentos lúdicos de “aulas de brinquedo”, mas que muito marcaram
minha trajetória.
Revendo agora aquelas distantes manhãs de domingos de longas brincadeiras e as tardes
preguiçosas que se estendiam até o anoitecer, percebo como elas foram fundantes nessa minha
teimosa inclinação para o magistério. Penso que ali foram desenhadas as principais linhas de
minha profissão e de meu caráter. Hoje, trabalho com Ciências, sou apaixonada pela Biologia
e procuro aperfeiçoar minha formação nessa área.
Terminei o Ensino Médio numa escola pública, a então Escola Estadual de 1º e 2º Graus
Professor Leovegildo Paiva, hoje Instituto Estadual Osmar Poppe, aliás, a definição por
ingressar nessa escola, na 2ª série do ensino de 1º grau determinou uma de minhas primeiras
frustrações. Fizera a primeira série na Escola Salesiana Madre Maria Mazzarello, administrada
19
pelas irmãs salesianas, e por motivos de ajustes familiares, talvez por dificuldades no orçamento
familiar, foi necessário transferir-me para a escola pública já na segunda série.
Aqueles foram dias de amargura e de choros, pois, em minha ingênua forma de
compreensão da realidade, não conseguia entender o motivo de abandonar minha escola, meus
colegas e meu pequeno mundo que se desenhava tão bonito. Como ficariam minhas “aulas”?
Para onde iriam meus “alunos”? E meus colegas e a professora? Essas eram as interrogações
que me atormentavam na chorosa resistência à mudança e que, por algum tempo, me impediram
de aproveitar os novos ares da nova escola e a parceria da barulhenta turma de segunda série.
Aos poucos, porém, fui me adaptando e cheguei ao término do ensino do 1º grau e, depois, do
2º grau com sucesso.
Concluído o Ensino de 2º Grau – hoje Ensino Médio – ingressei no Curso Superior, na
Licenciatura em Ciências Biológicas, pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e
das Missões – URI, Campus de Santo Ângelo. Como o destino sempre nos reserva algo especial,
desde que tenhamos objetivos e metas claras, quando cursava o 7º semestre desse curso, tive o
privilégio de encontrar professores que me permitiram definir os novos passos de uma trajetória
que recém se firmava.
Esse era o meu “chão”: as antigas lições de Botânica (para os meus pequenos alunos)
com as folhas das árvores de nosso quintal e a procissão das formigas atravessando nosso jardim
me vinham à mente enquanto ouvia o discurso do paraninfo e do reitor. Meu espírito exultou
ao concluir essa graduação. Eram tantas lições, tantas disciplinas... e meu orgulho de concluir
um curso ligado às ciências era muito grande.
Dessa forma, queria logo iniciar - ou (re)iniciar, considerando aquela precoce e distante
experiência infantil - minha trajetória nesse mundo mágico de lecionar. Aí teve início, então, a
minha experiência profissional com regência de classe para lecionar Biologia no Ensino Médio
da Escola Nossa Senhora Auxiliadora. Nesse período, foram desenvolvidos vários projetos de
trabalho que enfocaram a Biologia durante as aulas, as mostras científicas e a orientação para
provas e cursos em que os alunos se preparavam para ingresso no curso superior.
Lecionar na Educação Básica me encorajou a retornar aos estudos, sempre gostei de
questões voltadas ao ambiente, a Educação Ambiental era uma paixão, pois na escola sempre
estava envolvida com projetos e propostas relacionadas a esse assunto. Assim, fui em busca do
tão sonhado mestrado, fui aprovada para cursar o mestrado em Tecnologia Ambiental, temática
que despertou grande interesse, justamente por estar relacionada a questões ambientais. Foram
dois anos de intensas pesquisas, descobertas, frustrações, mas enfim, o tão sonhado título,
tornou-se realidade.
20
1
PCK- Conhecimento Pedagógico do Conteúdo, sigla do inglês Pedagogical Content Knowledge, foi citada pela
primeira vez por Lee Shulman em 1983, como uma categoria específica do conhecimento dos professores. O uso
da sigla em inglês se justifica pelo fato dessa já ser conhecida na literatura, sendo tratada como sinônimo do próprio
conceito.
21
produtos finais deste fenômeno representavam para ele, ser vivo, o ar que respirava e
a energia que adquiria ao se alimentar todos os dias.
Para Amaral, Teixeira e Senra (2006), a Botânica é uma das áreas que apresenta maior
dificuldade de assimilação de conteúdo. Os autores apontam ainda que tais dificuldades estão
vinculadas diretamente aos professores, que muitas vezes, por não terem tido qualificação
suficiente e adequada, acabam tratando os assuntos de forma muito superficial ou até
ignorando-os sob a alegação da falta de afinidade, não só deles como dos alunos.
Consequentemente, os alunos acabam por simplesmente memorizar esquemas complexos em
função das muitas aulas teóricas que têm, ocasionando em poucos dias o esquecimento dos
assuntos.
Wandersee e Schussler (2001) cunharam o termo “cegueira botânica” para se referir
precisamente à falta de habilidade das pessoas para perceber as plantas no seu próprio ambiente,
o que conduz à incapacidade de reconhecer a importância das plantas para a biosfera e para os
humanos; incapacidade de apreciar a beleza e as características peculiares das plantas; e visão
equivocada das plantas como inferiores aos animais, podendo, por isso, serem desprezadas.
A abordagem da Botânica na Educação Básica, em muitos casos, ainda está distante de
alcançar os objetivos esperados em um processo de ensino-aprendizagem realmente
significativo e transformador (URSI et al., 2018). Assim, espero contribuir para o
aprimoramento constante das propostas pedagógicas implementadas nessa área, uma vez que
para transformar é preciso, em primeira instância, conhecer, refletir e dialogar sobre as práticas
vigentes.
Para tanto, o presente estudo foi desenvolvido com professores de Ciências e Biologia,
atuantes na rede estadual de ensino, representada pela 32ª Coordenadoria de Educação,
localizada no município de São Luiz Gonzaga (RS). Para isso foi realizada uma formação
pedagógica que possibilitou a coleta de dados por meio de um questionário diagnóstico, visando
traçar o perfil de cada educador e além disso um instrumento de Representação do Conteúdo
(CoRe) 2 , para compreender o planejamento e o entendimento dos professores sobre um
conteúdo específico da Botânica, neste caso, as angiospermas, visando analisar o Conhecimento
Pedagógico do Conteúdo (PCK) dos mesmos.
2
CoRe - Ferramenta desenvolvida por Loughran; Mulhall; Berry (2004) que propõe questões de investigação sobre
como um professor seleciona os conteúdos refletindo sobre estratégias e metodologias.
22
3
Disponível em: http://portal.inep.gov.br/pisa
23
Frente aos dados, no campo educacional vive-se o momento das reformas, com ênfase
nas competências e nos resultados do ensino, pois, “o debate em torno do professorado é um
dos polos de referência do pensamento sobre a educação, objeto obrigatório da investigação
educativa e pedra angular dos processos de reforma dos sistemas educativos” (SACRISTÁN,
1999, p.64).
O professor é o elemento principal para dar forma às reformas na escola, as quais tem
como meta a formação de professores aptos para trabalhar e conviver com a complexidade do
cotidiano. Conhecer o professor, sua formação básica e como ele se constrói ao longo da sua
carreira profissional, são fundamentais para compreender a prática pedagógica dentro da escola.
Entende-se que se tornar professor é um processo de longa duração, de novas aprendizagens e
sem um fim determinado (NÓVOA, 1992).
A formação continuada é requisito importante para uma integração ao cotidiano dos
professores e das escolas, considerando a escola como um local de ação, o currículo como
espaço de intervenção e o ensino como tarefa essencial. Todavia, além da aprendizagem do
componente curricular, a formação de professores traz consigo aspectos relevantes que
constituem o ser professor. Trazer novas questões da prática e buscar compreendê-las sob o
enfoque da teoria e na própria prática permite articular novos saberes na construção da
docência, dialogando com os envolvidos no processo que envolve a formação (IMBERNÓN,
2010).
Segundo Zabalza (2004, p.41) “é necessário insistir exaustivamente que a formação
deve servir para qualificar as pessoas, não sendo suficiente equipá-las com um perfil
profissional padrão ou com uma determinada bagagem de conhecimento”. Essa afirmação está
sob a luz da ideia de que a formação acadêmica não pode estar restrita apenas à transmissão do
conhecimento pronto e acabado, mas deve despertar para a construção de novos conhecimentos.
Freire (1996, p.52), em seus estudos, ressalta:
[...] saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a
sua própria produção ou a sua construção. Este saber necessário ao professor, não
apenas precisa de ser apreendido por ele e pelos educandos, mas suas razões de ser-
ontológico, político, ético, epistemológico, pedagógico, mas também precisa de ser
constantemente testemunhado, vivido.
1.2 OBJETIVOS
2 REVISÃO DA LITERATURA
Definido o tema e o recorte deste estudo, foi realizado buscas por pesquisas sobre o
assunto em teses, dissertações e artigos. Ressalta-se que, aqui neste item, apresenta-se o
movimento preliminar para verificação da abrangência dos estudos já realizados, o qual se trata
de um levantamento bibliográfico a partir das dissertações e teses disponíveis na Plataforma
Sucupira4 (CAPES), e dos artigos disponíveis no Portal de Periódicos CAPES.
As teses e dissertações produzidas em Programas de Pós-Graduação na área do Ensino
em Ciências e Matemática foram o objeto inicial. O quadro 1 apresenta o número de cursos
recomendados e reconhecidos pela CAPES distribuídos nos níveis de Mestrado Acadêmico
(ME), Mestrado Profissional (MP) e Doutorado (DO).
4
Disponível em:
https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/programa/quantitativos/quantitativoAreaAvaliacao
.jsf;jsessionid=cV5vUtZbfRxzBatCDJ+I44I7.sucupira-218
27
INSTITUIÇÃO UF ME MP DO
A pesquisa preliminar, delimitou-se no período entre 2000 e 2017, com foco nas
seguintes palavras-chave (Figura 1).
28
Ensino de
Ensino Fundamental Ciências
Ciências
Ensino de
Ensino Médio Biologia
Biologia
Ensino de
Botânica
Fonte: da autora
5
Aprendizagem significativa é aquela em que ideias expressas simbolicamente interagem de maneira substantiva
e não-arbitrária com aquilo que o aprendiz já sabe (MOREIRA, 2012).
6
David Ausubel (1918-2008), graduou-se em Psicologia e Medicina, doutorou-se em Psicologia do
Desenvolvimento na Universidade de Columbia, onde foi professor no Teacher’s College por muitos anos; dedicou
sua vida acadêmica ao desenvolvimento de uma visão cognitiva à Psicologia Educacional.
32
Quadro 4 - Teses, relacionadas ao ensino de Botânica, nos Programas de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática na área de
Ensino - CAPES
2.1.2 Artigos
A busca por artigos relacionados ao tema desta pesquisa, se deu através do Portal de
Periódicos CAPES, no período compreendido entre os anos 2000 a 2017, delimitada pela
utilização das palavras-chave apresentadas no quadro 5.
TRABALHOS RELACIONADOS/
TRABALHOS
PALAVRAS- CHAVE SELECIONADOS AO TEMA
ENCONTRADOS
EM ESTUDO
1 - Conhecimento Pedagógico
843 4
do Conteúdo
2 - Conhecimento pedagógico 1252 1
3 - Ensino de Biologia 1555 17
4 - Ensino de Ciências 2426 5
5 - Ensino de Botânica 287 6
6 - Formação de professores 437 20
Fonte: da autora
34
A seguir, um olhar acerca dos artigos encontrados neste levantamento, com uma breve
descrição.
Os artigos aqui citados permitiram a reflexão sobre como os conteúdos de Biologia são
transmitidos no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, como esses conteúdos são explorados
e aproximados à realidade dos alunos.
3.1- Título: O ensino da digestão-nutrição na era das refeições rápidas e do culto ao corpo
Gonzalez e Paleari (2006) apontam mudanças notáveis nos hábitos alimentares acompanhadas
de práticas fisiculturistas intensas, com registros de carências nutricionais e de obesidade
bastante preocupantes, do ponto de vista da saúde pública, entre crianças, jovens e adultos. As
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compreender o conteúdo, fato que pode estar associado à carência de metodologias que tornem
o assunto mais dinâmico e acessível à turma. Nessa perspectiva, discutiu-se na pesquisa a
utilização de uma dinâmica de fácil acesso, criada para ser desenvolvida com alunos do Ensino
Médio, na qual se aborda o conteúdo referente à membrana plasmática e seus mecanismos de
transporte.
3.7- Título: Análise do ensino de Ciências Biológicas para alunos com deficiência visual
em escolas do Distrito Federal.
Souza e Prado (2014) analisam qualitativamente o ensino de Ciências Biológicas para
deficientes visuais em escolas do Distrito Federal observando a instituição, os professores e os
alunos deficientes visuais. Além das observações, o trabalho foi desenvolvido através de
entrevistas semiestruturadas, analisadas epistemologicamente. Os autores apontam a
necessidade de adaptar o modo de ensino e os materiais didáticos para que haja um melhor
ensino para os alunos deficientes visuais garantindo aprendizagem adequada para todos os
alunos dentro de uma mesma instituição educacional.
3.8- Título: Os conceitos científicos dos estudantes do ensino médio no estudo do tema
"origem da vida".
Grimes e Schroeder (2015) desenvolvem uma pesquisa com o objetivo de compreender, a partir
de conceitos espontâneos, os processos de construção de conceitos científicos pelos estudantes
em aulas de Biologia, no estudo do tema "origem da vida". Através desse estudo, perceberam
que o ensino e a aprendizagem da temática em sala de aula se caracterizam como de extrema
complexidade, visto que aspectos culturais e afetivos estão envolvidos na construção dos
conceitos científicos. Observaram ainda que, alguns estudantes apresentaram conceitos,
especialmente após o processo de ensino, ancorados no conhecimento científico estudado no
decorrer das aulas, superando seus conceitos mais primitivos. Além disso, professores
necessitam ser cautelosos frente às complexidades intrínsecas aos conhecimentos da ciência e
sua aprendizagem, lembrando que são construídos de forma gradativa pelos estudantes, na
medida em que vão desenvolvendo seu processo cognitivo.
3.9- Título: Jogos como recurso didático - pedagógico para o ensino de Biologia.
Souza e Resende (2016) afirmam que o ensino de Biologia, assim como de outras Ciências, é
um desafio, pois terminologias e conceitos complexos, muitas vezes não condizem com a
realidade do aluno na sala de aula. Diante desse contexto, os autores elaboraram um jogo como
recurso didático para estimular o educando a buscar o entendimento e a compreensão sobre o
conteúdo abordado em aula. Constataram que o jogo didático é uma prática pedagógica eficaz
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para que os alunos possam verificar e assimilar de maneira dinâmica e satisfatória os conteúdos
específicos aplicados em sala, já que, por meio desta prática, ocorre dentre vários processos, a
interação entre os pares.
3.10- Título: O uso de modelo didático como facilitador da aprendizagem significativa no
ensino de Biologia celular.
Guimarães et al. (2016) relatam a utilização de um modelo tridimensional de uma célula
eucariota como ferramenta de apoio ao ensino de temas em Citologia, assim como a aplicação
de uma dinâmica em que foi estabelecida uma analogia entre a célula e uma cidade. Perceberam
ao fim do processo, um melhor rendimento e aumento no interesse pelo tema por parte dos
discentes participantes.
3.11- Título: Evolução biológica e os estudantes: um estudo comparativo Brasil e Itália.
Oliveira, Bizzo e Pelegrine (2016) apresentam as relações que fazem os jovens, sobre a teoria
da Evolução Biológica, encontrados no Brasil e na Itália, caracterizando as principais
similaridades e divergências identificadas nas respostas dos estudantes. Os dados foram
coletados por meio de um questionário e apontam que os italianos reconhecem com maior
frequência a validade de tópicos relacionados à teoria evolutiva. Além disso, há diferentes
fatores socioculturais associados às respostas dos jovens dos dois países, que aumentam ou
reduzem a proximidade dos estudantes com explicações científicas para os fenômenos naturais.
Observa-se que os italianos estão mais bem informados do que os brasileiros, possivelmente
por escolhas e decisões pedagógicas que, no caso italiano, buscam incluir discussões a
respeito da teoria evolutiva desde as séries iniciais; por outro lado, há os jovens brasileiros que
possivelmente tiveram pouco contato com a teoria ao longo do Ensino Fundamental. Além dos
aspectos pedagógicos, há os socioculturais, que interferem nas opiniões dos jovens, como a
religião, que aparece como componente importante para os estudantes italianos e brasileiros.
3.12- Título: Escola do campo: uma visão dos jovens sobre as aulas de Biologia de uma
comunidade rural no município de Cunha - SP.
Oliveira, Camargo e Santos (2016) buscam compreender através do olhar dos jovens, filhos de
agricultores familiares agroecológicos, as relações (in)existentes entre as aulas de Biologia de
escolas localizadas na zona rural do município de Cunha - SP e os assuntos cotidianos dos
alunos e de suas famílias. Os autores realizam entrevistas orais semiestruturadas, onde os
entrevistados, alunos do Ensino Fundamental e Médio, respondem perguntas guias e relatam
seu dia-a-dia na escola, principalmente nas aulas de Biologia. A fim de entender o contexto em
que esses alunos estão inseridos, dois familiares também são entrevistados e motivados a falar
a respeito de seu trabalho e o cotidiano junto a seus filhos. Observam através da análise dos
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dados que, apesar do estudante do campo vivenciar muito de perto a produção orgânica de
alimentos através do dia-a-dia com os seus pais, eles ainda têm dificuldades de enxergar
oportunidades de crescimento profissional no campo e estas questões aparentam ter pouco
espaço de debate em sala de aula.
3.13- Título: O processo de apropriação dos conceitos de fotossíntese e respiração celular
por alunos em aulas de Biologia.
Trazzi e Oliveira (2016) analisam aspectos do processo de apropriação dos conceitos de
"fotossíntese" e "respiração celular" em aulas de Biologia por alunos da 1ª série do Ensino
Médio. Esses conceitos têm alto grau de generalidade e, para se formarem, precisam de uma
série de outros que compõem um sistema de conceitos numa relação determinada. Devido à sua
complexidade, são encontradas grandes lacunas entre as formas cotidianas de pensar dos alunos
e por isso a aprendizagem se configura como processo desafiador para o aluno. Os autores
apontam a importância do professor em organizar a ação mediada de forma a auxiliar o
estudante a entender como os conceitos se relacionam dentro de um sistema, ou seja, como eles
se inter-relacionam com outros conceitos.
3.14- Título: Utilização do jogo lúdico no ensino de Biologia.
Ferreira et al. (2017) defendem que os materiais didáticos são muito utilizados para o ensino de
Ciências e Biologia, sendo assim, consideram uma importante ferramenta para o subsídio dessas
aulas. Deste modo, o objetivo desse trabalho foi de criar um jogo lúdico para apresentar o
conteúdo de Ecologia de forma mais dinâmica, como uma proposta divertida de se aprender. A
confecção do jogo partiu dos conceitos abordados em sala de aula e do currículo básico comum
e apontam a utilização do jogo lúdico como uma ferramenta útil no ensino em sala de aula,
auxiliando no processo de aprendizagem.
3.15- Título: Aulas práticas: sua importância e eficácia no ensino de Biologia.
Silva et al. (2017) verificam a importância e a eficácia das aulas práticas na aprendizagem
significativa dos alunos do Ensino Médio. Para isto, foram aplicadas aulas sobre o conteúdo
carboidratos para quatro turmas de 1ª série do Ensino Médio de uma escola pública estadual,
localizada no município de Alegre (ES). As aulas aplicadas foram diferenciadas
metodologicamente em quatro turmas, na turma I foi aplicado somente aula prática, na II aula
teórica, na III prática e teórica, necessariamente nesta ordem, e, por último, na turma IV
aplicado teórica e prática, respectivamente, sendo que ao final das aulas aplicou-se uma
avaliação com o objetivo de verificar a aprendizagem dos alunos. Os autores apontam que a
turma em que foi ministrado a aula prática apresentou um maior rendimento na avaliação,
quando comparada aos outros métodos utilizados. A aula teórica foi a que apresentou os
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menores valores para a avaliação aplicada. As associações destas aulas não tiveram diferença
significativa na ordem de aplicação. Portanto, as aulas práticas apresentam maior eficácia no
ensino deste conteúdo.
3.16- Título: O ambiente informal como facilitador no processo de assimilação dos
conteúdos de Biologia.
Alves et al. (2017) relatam que o conteúdo de Ciências Biológicas é visto por muitos alunos
como algo complexo, que necessita apenas ser decorado para garantir o avanço nas séries do
Ensino Básico. No entanto, nos últimos anos diversas metodologias vêm sendo utilizadas,
visando tornar o conteúdo teórico palpável, com o objetivo de revisar conceitos ecológicos e
sensibilizar a comunidade escolar quanto à percepção ambiental. O trabalho realizado com
alunos da 3ª série do Ensino Médio objetivou revisar conceitos ecológicos e sensibilizar a
comunidade escolar, utilizando aulas de campo após aulas expositivas sobre Ecologia. Fizeram
uso de um questionário e observaram resultados positivos, destacando que o uso de aulas de
campo conduzida por pessoas capacitadas e a aplicação de teoria durante a atividade, é uma
ferramenta eficaz no ensino de Biologia.
3.17- Título: Atividade de campo e jogo didático no ensino de Ecologia para turmas do
Ensino Médio.
Oliveira et al. (2017) apontam que ao estudar a Ecologia deve-se investigar e compreender as
relações que os seres vivos mantêm entre si e com o ambiente. No ensino sobre o meio ambiente
utiliza-se a aula teórica, onde os conceitos sobre o tema são apresentados e nas aulas práticas
há a apresentação dos fenômenos por meio de experimentação, visitas e aulas de campo. Diante
disso, atividade de campo foram realizadas para apresentar os fenômenos da Ecologia e um
jogo didático para a avaliação do tema. A atividade de campo mostrou-se adequada para os
alunos distinguirem as relações ecológicas no ambiente natural e a partir do jogo da memória
foi possível observar as dificuldades dos alunos ao diferenciar as relações.
A pesquisa relacionada ao ensino de Ciências resultou em 2.426 artigos, dos quais foram
selecionados aqueles voltados ao ensino de Ciências nos anos finais do Ensino Fundamental.
4.1- Título: Significados de fotossíntese produzidos por alunos do Ensino Fundamental a
partir de conexões estabelecidas entre atividade investigativa e multimodos de
representação.
41
A pesquisa voltada ao ensino de Botânica resultou em 287 artigos, dentre os quais foram
selecionados sete, que nos trazem diferentes propostas de trabalho na área.
5.1- Título: Propostas pedagógicas para o ensino de Botânica nas aulas de Ciências:
diminuindo entraves.
Nascimento (2017) produz e aplica materiais didáticos alternativos visando incentivar o estudo
de Botânica com alunos e professores de uma escola pública do Rio de Janeiro. A abordagem
da proposta apresentada ocorreu sob o formato de oficinas para os alunos do 7º ano do Ensino
Fundamental e para os professores de Ciências. Os professores participaram nas oficinas de
produção de material didático, uso de vídeos e aulas digitais. Os alunos participaram de oficinas
motivadoras no laboratório de ciências e na sala de leitura da escola, onde obtiveram uma
resposta positiva às atividades propostas, pois foi nítido o interesse dos alunos pelos materiais
e pelas atividades práticas com os vegetais. A produção e a aplicação dos materiais didáticos
elaborados foram pensadas para o ambiente escolar do Ensino Fundamental, buscando não só
o melhor entendimento dos alunos sobre os conteúdos de Botânica, como também algo que
facilitasse a abordagem dos assuntos pelo professor regente.
5.2- Título: Criação de chave de interativa: uma alternativa para identificação e ensino
de Botânica criptogâmica.
Silva, Feletti e Oliveira (2017) elaboram uma ferramenta didática interativa para contribuir com
o ensino de Botânica criptogâmica tanto no Ensino Médio quanto no Superior. A botânica, seja
pelo número elevado de organismos estudados, complexidade de conceitos e termos específicos
ou ainda, pela falta de contextualização em que é comumente ensinada, é apontada como uma
das disciplinas mais “difíceis”, tanto na educação básica como no ensino superior. Para a
atividade foram coletadas espécies de musgos no Parque Nacional do Caparaó 7 e estas foram
identificadas e descritas, totalizando 31 espécies de musgos que foram inseridas na plataforma
Xper38. Também na plataforma foram inseridos 32 caracteres morfológicos de identificação. A
partir disto, foi construída a chave de identificação interativa online para que todos possam ter
7
PARQUE NACIONAL DO CAPARAÓ - localizado na Serra do Caparaó, na divisa dos estados de Minas Gerais
e Espírito Santo, o Parque Nacional do Caparaó é um dos ícones do montanhismo no Brasil e abriga o terceiro
ponto mais alto do País, o Pico da Bandeira, que tem 2.892 metros de altitude. Além dele, estão na Unidade de
Conservação (UC) cinco dos dez picos mais altos de todo o território nacional.
8
O programa Xper é uma plataforma dedicada à elaboração de bases de conhecimentos, que auxilia a descrição
da biodiversidade, sistematização dos dados e identificação taxonômica.
44
acesso. Dessa forma, os autores acreditam que a ferramenta didática poderá ser utilizada para
melhorar de forma significativa o ensino de Botânica, ensino de Taxonomia e identificação,
visto às grandes dificuldades relatadas por alunos e professores, particularmente na
identificação de material botânico.
5.3- Título: Possibilidades de ensino de Botânica em um espaço não formal de educação
na percepção de professoras de Ciências.
Faria, Jacobucci e Oliveira (2011) trazem as concepções de um grupo de professores de
Ciências sobre espaços não formais. Além disso, relatam uma atividade chamada “Chá de
Sentidos” com o tema Botânica, no Museu DICA, em Uberlândia – MG. As professoras
apresentam dificuldades em conceituar e distinguir o espaço formal do não formal e vinculam
o Museu DICA como um local complementar à escola. A atividade “Chá dos Sentidos” é
apresentada em dois momentos. No primeiro, os visitantes – as professoras – são submetidos à
exploração dos sentidos por meio de chás e aromas e, em seguida, são convidados a visitar o
canteiro de ervas aromáticas para reconhecerem as plantas utilizadas. A atividade foi avaliada
positivamente pelas professoras, mas, como uma forma de trabalhar o conteúdo curricular e não
para simplesmente deflagrar o interesse pelos vegetais e ampliar as possibilidades de
aprendizado de seus alunos, relacionando as experiências vivenciadas fora da escola com as da
sala de aula.
5.4- Título: Botânica no Ensino Fundamental: diagnósticos de dificuldades no ensino e da
percepção e representação da biodiversidade vegetal por estudantes de escolas da região
metropolitana de São Paulo.
Silva e Lopes (2014) verificam a alteração da percepção de estudantes do 7° ano do Ensino
Fundamental em relação às plantas como componentes vivos do nosso planeta e como seres
diversificados, componentes de diferentes grupos taxonômicos. Além disso, diagnosticam entre
professores de Ensino Fundamental as dificuldades em se ministrar aulas de Botânica. A
proposta de estudo permitiu aos alunos perceberem mais as plantas, citando-as em maior
quantidade entre seus exemplos de seres vivos e uma melhora na noção de diversidade de
grupos vegetais. Em relação ao questionário dos professores, ficou evidente o quanto eles se
sentem desconfortáveis em trabalhar temas de Botânica, porque não possuem segurança no
assunto. Torna-se clara a necessidade de investimento na criação de material didático de apoio
para o desenvolvimento de atividades com Botânica em sala de aula e ainda um aumento na
oferta de cursos de formação continuada com este tema.
45
5.5- Título: Jardim didático como ferramenta educacional para aulas de Botânica no
IFRN.
Oliveira, Albuquerque e Silva (2012) objetivam atrelar aulas teóricas de Botânica a aulas
práticas através da criação de um jardim didático no IFRN Campus Zona Norte, onde foi
possível a observação de várias características de espécies vegetais de diferentes grupos
botânicos, promovendo um incremento no aprendizado de Botânica dentro do conteúdo de
Biologia do Ensino Médio nas turmas do PROEJA e Ensino Médio Técnico Regular. O projeto
foi desenvolvido seguindo cinco etapas fundamentais: - Levantamento bibliográfico relativo
aos grandes grupos vegetais, vislumbrando observar características morfofisiológicas de
espécies vegetais da região; - Determinação das principais espécies vegetais que se adéquam
melhor as condições de solo no Campus IFRN – Zona Norte; - Preparação do solo para o plantio
e busca das referidas espécies já escolhidas na etapa anterior; - Plantio das espécies em uma
área; - Confecção de placas para catalogação taxonômica das espécies. A utilização do jardim
didático apresenta-se como uma ótima ferramenta didática para os alunos, pois ela vislumbra o
melhor aproveitamento do conteúdo da Botânica, fator de extrema importância pela
necessidade da utilização de formas didáticas e metodológicas que tornem esses alunos
interessados e capazes de raciocinar e refletir sobre o conteúdo.
5.6- Título:"Mas de que te serve saber Botânica?"
Salatino e Buckeridge (2016) examinam a origem, as características e as possíveis razões para
a “cegueira botânica”9 e sugerem algumas soluções para romper a espiral do silêncio e assim
superar essa limitação dentro e fora do ensino. O rendimento próximo de zero que não raro se
contabiliza no aprendizado de Botânica não justifica propostas para exclusão da matéria nos
currículos de Ensino Fundamental e Médio. Os autores apontam que isso só agravaria o
desinteresse por Biologia Vegetal e prejudicaria ainda mais o ensino de Ciências Naturais. A
Biologia teria muito a se beneficiar, tanto no ensino quanto na pesquisa, se fôssemos capazes
de superar a limitação imposta pela cegueira botânica e as escolas pudessem prover uma
formação biológica plena, contemplando adequadamente temas sobre diversidade, fisiologia,
reprodução, interações e importância dos organismos fotossintetizantes na história e na
economia. Os tópicos não precisariam necessariamente integrar os currículos escolares,
podendo ser tratados como atividades paradidáticas.
9
Wandersee e Schussler (2001) cunharam o termo “cegueira botânica” para se referir precisamente à falta de
habilidade das pessoas para perceber as plantas no seu próprio ambiente, o que conduz a incapacidade de
reconhecer a importância das plantas para a biosfera e para os humanos; incapacidade de apreciar a beleza e as
características peculiares das plantas; e visão equivocada das plantas como inferiores aos animais, podendo, por
isso, serem desprezadas.
46
os autores, essa proposta viabilizou aos cursistas uma nova postura pedagógica, integrada aos
novos conteúdos, aprofundando e atualizando aqueles que já conheciam, pois, a visão do mundo
científico contemporâneo permitirá a eles fazer uma reflexão dos conteúdos ensinados,
proporcionando uma postura crítica diante dos livros didáticos, sempre relatados como
estáticos, inadequados e desatualizados. Destacam ainda, que professores ao se formarem
deixam para trás o espaço da construção do conhecimento e o convívio com aqueles que o estão
produzindo. O que levam para a sala de aula precisa ser constantemente atualizado e discutido
pedagogicamente.
6.4- Título: A investigação-ação na formação continuada de professores de Ciências.
Rosa et al. (2003) analisam um processo de investigação-ação ocorrido no contexto de um
programa de formação continuada de professores de Ciências, no qual foi constituído um grupo
de professoras/pesquisadoras que assumiram a própria prática como referência para o
desenvolvimento de diferentes níveis de investigação educativa. Acreditam que a parceria
estabelecida com professores universitários é interessante para professores do Ensino
Fundamental, até que as relações no grupo se consolidem, sendo que o papel do assessor pode
ser de fomentar a autonomia do profissional da escola, não torná-lo dependente das teorias da
academia. Fomentar a validação de teorias educativas que viabilizem a transformação da
prática, valorizando o compromisso social dos professores com seus alunos, é uma tarefa que
assessores podem tomar para si, sem desqualificar e desvalorizar o trabalho daqueles que lutam
cotidianamente em prol da educação básica da maior parte da população deste país.
6.5- Título: Construção de práticas didático-pedagógicas com orientação CTS: impacto
de um programa de formação continuada de professores de Ciências do ensino básico.
Tenreiro-Vieira e Marques-Vieira (2005) relatam o quadro da atual reorganização curricular do
Ensino Básico português, salientando a ideia de que o ensino das Ciências deve ser visto, acima
de tudo, como promotor da literacia científica. Nesse sentido, a perspectiva Ciência-
Tecnologia-Sociedade (CTS) deverá constituir o eixo integrador e globalizante da organização
e da aquisição de conhecimentos e do desenvolvimento de capacidades de pensamento.
Pretendem os autores, neste estudo, desenvolver e analisar os contributos de um programa de
formação continuada de professores na construção de práticas CTS. Configurou-se como um
processo formativo conjunto e partilhado entre e com as professoras, que vivem o seu cotidiano
profissional na escola, de modo a interligar inovação/investigação/formação. Trataram de usar
a formação como um processo de pesquisa por meio do qual a produção de conhecimentos fosse
reinvestida na ação educativa. Professoras colaboradoras e investigadores edificaram um
48
escolares para sanar suas dúvidas. Os professores também apontaram que os cursos de
atualização promovidos pela Diretoria de Ensino são considerados muito teóricos e pouco
práticos, e não apresentam nenhuma ligação com o contexto em que os professores estão
inseridos.
6.9- Título: Uma hipótese curricular para a formação continuada de professores de
Ciências e de Matemática.
Rodrigues, Krüger e Soares (2010) relatam o desenvolvimento e a análise de uma proposta
curricular para a evolução das concepções didático-metodológicas de professores de Ciências
e de Matemática do Ensino Básico. A proposta desenvolveu-se no contexto do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas,
objetivando a estrutura curricular e as metodologias de ensino utilizadas referenciados pela
proposta de formação continuada de professores do Grupo investigación en la escuela, do
Proyecto Curricular Investigación y Renovación Escolar (IRES), da Universidade de Sevilla,
Espanha, que tem como meta desejável, a formação de um professor autônomo e investigador
de sua ação docente, em um processo no qual os saberes didático-metodológicos e disciplinares
são conteúdos relevantes para a complexificação de seu conhecimento profissional e de sua
prática pedagógica.
6.10- Título: Formação de professores em Ciências: um diálogo acerca das altas
habilidades e superdotação em rede colaborativa.
Procópio et al. (2010) relatam sobre o paradigma da inclusão que implica a reestruturação dos
sistemas de ensino a partir da formação dos professores. Neste trabalho, analisam as interações
discursivas entre um grupo de professores em Ciências como estratégia de formação inicial e
continuada numa rede colaborativa, tendo como foco as altas habilidades e superdotação.
Intencionaram conhecer as relações dos indivíduos numa estrutura de rede, ou seja, seus sujeitos
sociais e as conexões que os envolve nesta relação. Os resultados sugerem que esta estratégia
de formação de professores valorizou o saber possuído do sujeito e a importância de trocas entre
tais, corroborando para formar uma identidade docente investigadora capaz de, na dinâmica da
relação teoria-prática, se constituir como comunidade autocrítica de investigação
comprometida com o repensar de sua atuação profissional.
6.11- Título: Estudos coletivos de Educação Ambiental como instrumento reflexivo na
formação continuada de professores de Ciências em espaços educativos formais e não
formais.
Lopes et al. (2011) afirmam que a Educação Ambiental constitui tema de importância mundial
a ser trabalhado em todos os níveis da escolarização. Nesse aspecto os docentes se veem diante
de uma grande responsabilidade: repensar suas práticas, teorias e metodologias e atualizá-las,
50
adequando-as à realidade atual vivida pelo aluno. O objetivo de pesquisa foi investigar as
atividades de um grupo de estudos coletivos de professores de Ciências em parceria com
pesquisadores universitários no sentido de avaliar se essas práticas contribuem para
redimensionar suas práticas docentes em espaços educativos formais e não-formais.
6.12- Título: Interação museu-escola: a importância dos programas de formação
continuada de professores em municípios afastados dos centros urbanos.
Pereira et al. (2011) relatam que em virtude de uma série de concepções equivocadas a respeito
da Ciência, os centros e museus de Ciências surgem com propostas de romper com o paradigma
da ciência voltada para uma pequena parcela da população. Esses espaços desenvolvem
atividades com vistas à inclusão social em função do seu caráter educacional, e com isso
investem, entre outras ações, em estratégias de atualização do profissional da educação. Dessa
forma, o trabalho apresenta o relato de um programa piloto de formação continuada de
professores, desenvolvido pelo Espaço Ciência Interativa do IFRJ, um museu de ciências
localizado em uma região periférica do Rio de Janeiro, demonstrando assim que uma exposição
científica pode contribuir para a inserção dos docentes nesses espaços de educação não formal,
bem como para a sua formação continuada.
6.13- Título: Análise do ensino de Ciências nas escolas da rede pública de Santa Cruz/RN.
Silva et al. (2010) relata que o quadro atual do ensino de Ciências no Brasil, principalmente nas
escolas públicas, é extremamente preocupante, seja pela falta de recursos nas escolas,
inexistência de laboratórios e/ou equipamentos adequados e ainda pela existência de docentes
sem formação específica e com métodos de ensino ultrapassados. Baseado nesses dados, o
objetivo da pesquisa foi realizar um diagnóstico do ensino de Ciências nas escolas públicas do
município de Santa Cruz - RN.
6.14- Título: Diferentes abordagens sobre o tema saúde e ambiente: desafios para o ensino
de Ciências.
Pinhão e Martins (2012) traçam um breve histórico sobre a relação entre os temas saúde e
ambiente, e apresentam uma revisão de literatura nacional que mapeia os principais campos em
que a temática vem sendo pesquisada, sinalizando para a necessidade de investimentos na
formação inicial e continuada de profissionais na área de Ciências, professores e bacharéis, a
fim de impulsionar práticas interdisciplinares.
6.15- Título: Biologia no Ensino Médio: os saberes e o fazer pedagógico com uso de
recursos tecnológicos.
Fonseca et al. (2014) argumentam que o ensino de Biologia está passando por transformações
motivadas pelo uso de tecnologias e com temas polêmicos que incentivam os docentes a
51
procurar uma formação continuada para aprender a utilizar os recursos atuais, melhorar sua
qualidade didática e formar alunos cidadãos conforme a política educacional atual. O objetivo
do trabalho foi abordar os fundamentos do uso do saber e fazer pedagógico com uso de recursos
tecnológicos e sua importância e a metodologia usada no ensino de Biologia. Foi realizada uma
pesquisa de fonte indireta, por meio de revisão bibliográfica, em que foi verificada a
importância de uso de tecnologias no aprendizado de Biologia e como a mesma ajuda o
professor e o aluno a interagir com os acontecimentos atuais tornando-os cidadãos críticos e
participativos da ação social.
6.16- Título: Os movimentos epistêmicos e as práticas epistêmicas: um estudo de caso em
uma situação de formação de professores de Ciências.
Ratz, Freire e Motokane (2014) objetivam com esse estudo relacionar os movimentos
epistêmicos e as práticas epistêmicas na aplicação de sequência didática na temática de
Ecologia com professores. A situação investigada refere-se a uma oficina de formação
continuada oferecida a professores de Ciências e Biologia da rede pública do Estado de São
Paulo, Brasil. Durante o encontro, os professores atuaram como alunos, resolvendo uma
sequência didática produzida e aplicada pelo Grupo de Pesquisa em Linguagem e Ensino de
Ciências (LINCE) da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade
de São Paulo. Essa sequência didática discute a influência dos fatores abióticos sobre a
vegetação da Restinga.
6.17- Título: A Formação de professores e os desafios de ensinar Ciências.
Seixas, Calabró e Sousa (2017) objetivam refletir a respeito da formação inicial e/ou continuada
dos professores, de seus desafios no ensino de Ciências e da forma como orientam seus alunos
na construção do conhecimento científico. Abordam, sob a ótica de diferentes autores, o “saber”
e o “saber fazer” dos professores de Ciências, na ideia de aprendizagem como construção de
conhecimentos. Consideram que não existam regras para conduzir o aluno à aprendizagem, mas
pode-se apontar que o papel do professor como mediador /orientador conduz os alunos para que
cheguem ao conhecimento científico a partir da sua própria percepção e entendimento. Os
autores afirmam, quando o professor avalia as instruções passadas aos alunos e os
entendimentos desses, pode conduzir suas próximas ações. Por fim, mesmo reconhecendo que
para o professor de Ciências da Natureza existem desafios diários, consideram a necessidade
de qualificação para que esse não fique à margem das necessidades escolares sem identificar
suas insuficiências, uma vez que, em tempos de mudanças rápidas e contínuas, nenhum
profissional pode ficar desatualizado em sua trajetória.
52
currículo escolar como: Nutrição, Genética, Zoologia, Citologia, Evolução Biológica, Botânica,
Ecologia.
Esses trabalhos trazem informações sobre metodologias e práticas aplicadas pelos
professores com o objetivo de dinamizar as aulas e torná-las mais atrativas aos estudantes.
Dentre essas, as mais utilizadas são os jogos didáticos, as atividades realizadas em laboratórios
de Ciências e ações em espaços não formais, dinâmicas que possibilitam a integração de
conceitos e prática com vistas à efetiva aprendizagem. Poucos são os estudos diretamente
relacionados ao conhecimento pedagógico do conteúdo (PCK) nas disciplinas de Ciências e
Biologia, mas os dados obtidos revelam a preocupação dos professores na busca de alternativas
para melhor ensinar.
O mapeamento, aqui apresentado, busca atender um dos objetivos deste trabalho que é
o de identificar pesquisas relacionadas ao Conhecimento Pedagógico do Conteúdo no
ensino de Botânica, Ciências e Biologia na Educação Básica.
A partir do tema de estudo proposto, o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo (PCK),
procuramos identificar em artigos, dissertações e teses, pesquisas relacionadas ao ensino de
Botânica, Ciências e/ou Biologia, no que tange ao Ensino Fundamental e Médio. Para isso, foi
realizada uma busca no Portal de Periódicos Capes e no Portal de Catálogo Capes, de
dissertações e teses, no período de 1999 a 2019, por meio da combinação das seguintes
palavras-chave: Conhecimento Pedagógico do Conteúdo, Botânica, Biologia, Ciências, Ensino,
Ensino de Botânica, Ensino de Biologia e Ensino de Ciências. A figura 2 apresenta a estratégia
de busca para o mapeamento e uma síntese do processo de obtenção dos artigos.
54
http://www.periodicos.capes.gov.br
Estratégias de busca por assunto: Conhecimento Pedagógico do Conteúdo AND Botânica; Conhecimento
Pedagógico do Conteúdo AND Biologia; Conhecimento Pedagógico do Conteúdo AND Ciências; Conhecimento
Pedagógico do Conteúdo AND Ensino; Conhecimento Pedagógico do Conteúdo AND Ensino de Botânica;
Conhecimento Pedagógico do Conteúdo AND Ensino de Biologia; Conhecimento Pedagógico do Conteúdo AND
Ensino de Ciências; Ensino de Botânica.
1999-2019
Fonte: da autora
Fonte: da autora
55
10
A pesquisa como estratégia de formação no estágio supervisionado em Ciências e Biologia. MORAES, Viviane
R. A. Revista Tecné, Episteme y Didaxis, Bogotá, Número extraoridinário, 2014.
11
JUNIOR, Lailton Passos Cortes; SÁ, Luciana Passos. Revista Ensaio, Belo Horizonte, v.19. p. 1-22, maio,
2017.
12
Content Representations – Representação do Conteúdo, desenvolvido por Loughran et. al (2004).
56
de Ciências. O subtema Água foi escolhido em consenso e por fim foi realizado uma entrevista
semiestruturada com as duplas das diferentes áreas do conhecimento.
Ainda, nesse artigo selecionado, o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo foi
investigado através da questão disponibilizada no CoRe, “Que procedimentos/ estratégias
você emprega para que os alunos se comprometam com este tema?” tivemos como
respostas, textos, vídeos, simulação, trabalho coletivo, problematização e experimentação,
interação do conhecimento científico com o cotidiano na área da Química; abordagem temática
e ensino por investigação na área da Física; contextualização e aproximação com a realidade,
pesquisas, artigos, discussões em grupo, perspectiva Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e
situações problema na área Ciências Biológicas além de problematização, roda de conversas,
vídeos, aula expositiva e dialogada, gibi e visita à estação, além de perguntas e reflexões.
As respostas dos mestrandos ao CoRe, no que diz respeito ao PCK, mostram uma
diversidade de estratégias para o ensino-aprendizagem, que busca romper com o modelo
tradicional de transmissão-recepção. Esses métodos, ou estratégias de ensino, demonstram que
a articulação entre os conhecimentos de base para profissão docente do modelo consensual do
PCK e o instrumento CoRe apresentou coerência e contribuiu de forma significativa para o
desenvolvimento do PCK dos mestrandos, relacionado à temática proposta - Educação
Ambiental.
No trabalho analisado através do tema gerador e o do instrumento CoRe, percebe-se que
existem outros tipos de conhecimentos que também são importantes e estão na base de
conhecimento proposta por Shulman (1986), o conhecimento dos contextos educativos, isto é,
onde se ensina e a quem se ensina, e também de como se ensina. Em relação à entrevista
semiestruturada, os autores citam colocam que as estratégias usadas pelo professor devem estar
de acordo com a natureza das concepções prévias apresentadas pelos estudantes, essa ideia se
encaixa na categoria - conhecimento dos alunos e suas características.
Na pesquisa sobre o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo AND Ciências, obtivemos
como resultado quarenta artigos, dos quais três foram selecionados (figura 4). Trinta e sete
artigos estão associados ao Conhecimento Pedagógico do Conteúdo, mas em outras áreas do
conhecimento como Química, Física, Matemática, Geografia, Filosofia e Português, além de
alguns se repetirem na pesquisa anterior, Conhecimento Pedagógico do Conteúdo AND
Biologia.
57
2.
O desenvolvimento do conhecimento pedagógico do conteúdo de sexualidade
na vivência das professoras
• SILVA, Mirian Pacheco; CARVALHO, Washington Luiz Pacheco de. Ciências e Educação,
v. 11, n.1, p. 73-82, 2005.
3.
El conocimiento didáctico del contenido em ciências: estado de la cuestión
Fonte: da autora
O primeiro artigo apresenta um panorama da corrente teórica de Shulman, mencionando
que há um conhecimento produzido em sala de aula quando o professor transforma os
conhecimentos da base em diálogo com sua prática, produzindo assim, um novo conhecimento,
o PCK. A partir dessa proposta inicial de Shulman (1986), outros autores ampliaram suas ideias,
com novas proposições ou modelos, na tentativa de explicar a base de conhecimento dos
professores em relação ao PCK.
Entre os modelos estão:
- Modelo de conhecimento de professores, proposto por Grossman (1990);
- Modelo da base de conhecimentos de professores de Carlsen (1999);
- Modelo de Morine-Dershimer e Kent (1999);
- Modelo de Rollnick et al., 2008;
- Modelo de PCK de Magnusson, Krajcik e Borko (1999);
- Modelo de PCK Park e Oliver (2008);
- Modelo de Abell (2007);
- Modelo da Cúpula do PCK (HELMES; STOKES, 2013; GESS-NEWSOME;
CARLSON, 2013).
Com algumas concordâncias e divergências, referentes aos modelos ligados à base de
conhecimentos, em todos os modelos apresentados, o conhecimento do conteúdo é considerado
um dos conhecimentos da base para o ensino. Em relação aos modelos sobre o PCK, na proposta
inicial de Shulman (1986), o conhecimento do conteúdo não estava incluído no PCK, mas era
um dos sete conhecimentos base dos professores. Os modelos de Grossman (1990), de
Magnusson, Krajcik e Borko (1999), de Carlsen (1999), de Abell (2008) e da cúpula do PCK
58
seguem nessa linha, deixando o conhecimento do conteúdo externo ao PCK, sendo um dos
conhecimentos da base (FERNANDEZ, 2015).
Uma segunda distinção entre os modelos, para Fernandez (2015) é a inclusão do
conhecimento da avaliação e se este é parte da base ou do PCK. Os modelos iniciais de Shulman
e Grossman não consideram o conhecimento da avaliação como um componente separado,
muito embora possa estar inferido no conhecimento pedagógico. Assim, nesse caso,
Magnusson, Krajcik e Borko (1999) fizeram uma boa contribuição ao ensino de Ciências,
incluindo esse componente.
Dentre os modelos listados, o da cúpula do PCK revisita de alguma forma o modelo
inicial de Shulman, tanto em termos de PCK, como em termos de conhecimentos da base,
focando no ensino de Ciências, e incorpora novos elementos que foram contribuições de outros
modelos apresentados (FERNANDEZ, 2015).
Outro aspecto importante observado na análise foi o uso do instrumento Representação
do Conteúdo - CoRe, que busca conectar o conhecimento do professor sobre o ensino de
determinado conteúdo específico, permitindo ainda, analisar o desenvolvimento do PCK.
O artigo apontou que para ampliar os conhecimentos de professores de Ciências nos
diferentes momentos profissionais há necessidade de fornecer subsídios para reformular os
currículos de formação de professores de Ciências, como cursos de formação de professores,
que necessitam abrir espaço para que os licenciados, segundo FERNANDEZ (2015), possam
refletir sobre os conteúdos específicos, de modo que as peças-chave do conteúdo a ser ensinado
sejam sujeitas à análise e à discussão didática e pedagógica.
Esse estudo demonstrou uma sinergia entre os modelos da base de conhecimento dos
professores no que se refere ao PCK, apontou também, caminhos para a necessidade de
mudanças nos currículos de formação inicial e a importância da formação continuada de
professores de Ciências, para que estes estejam aptos na flexibilização dos conteúdos
específicos para ajustes necessários para nível de conhecimento dos alunos, bem como na
seleção do estilo mais adequado às contingências do ambiente que indicamos critérios de
PCK de um professor “expert” (SHULMAN, 1987).
O segundo artigo, intitulado “O desenvolvimento do conhecimento pedagógico do
conteúdo de sexualidade na vivência das professoras” relatou uma investigação sobre o
desenvolvimento do conhecimento pedagógico do conteúdo, com o tema Sexualidade, entre
três professoras que trabalham com essa temática. Segundo os autores, nem todos os professores
estão preparados para trabalhar com a Educação Sexual na escola e esse despreparo pode ter
origem numa educação opressora e anti-sexual que receberam e, também, na sua formação
59
acadêmica inicial em que há pouca discussão sobre essa temática. Portanto, professores, em sua
maioria, continuam tratando essa temática apenas nos aspectos biológicos (anatomia e
fisiologia dos órgãos sexuais masculino e feminino) ou no máximo, convidam um palestrante
da área da saúde, médicos ou enfermeiros para abordar o tema.
Os discursos analisados são de professoras de diferentes áreas do conhecimento, Letras,
Biologia e História, que atuam no Ensino Fundamental da rede municipal de ensino,
responsáveis por ministrar as disciplinas de Português, Ciências e Orientação para a Vida. A
pesquisa analisou o desenvolvimento do Conhecimento Pedagógico do Conteúdo de
sexualidade, através de uma entrevista, que diagnosticou que as professoras estão no caminho
para o desenvolvimento do PCK, pois as mesmas buscaram possibilidades de fazer a
transformação do conteúdo de Sexualidade, em conteúdo a ser ensinado, através de jogos de
quebra-cabeças, pinturas com uso de tinta escolar, dramatizações, caixinhas de pergunta, uso
de gravuras, projeções de filmes, jogos variados, concurso de melhor frase ou desenho.
Silva e Carvalho (2005) valorizam o uso desse material pois sabem que, trabalhando
com o conteúdo sexualidade de uma forma lúdica, fica mais fácil para o aluno participar sem
sentir-se constrangido, além de apontarem que vão aprendendo enquanto ensinam, uma
pergunta para a qual não possuem respostas as leva, consequentemente, a estudar mais.
Creio poder afirmar, na altura destas considerações, que toda prática educativa
demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando, aprende, outro que, aprendendo,
ensina, daí o seu cunho gnosiológico; a existência de objetos, conteúdos a serem
ensinados e aprendidos; envolve o uso de métodos, de técnicas, de materiais; implica,
em boniteza da prática educativa, instigado por seus desafios que não lhe permitem
burocratizar-se, assumindo minhas limitações, acompanhadas sempre do esforço por
superá-las, limitações, acompanhadas sempre do esforço por superá-las limitações que
não procuro esconder em nome mesmo do respeito que me tenho aos educandos
(FREIRE, 1996, p.79,80).
Destacamos, também, na análise, que apesar das professoras não possuírem formação
específica na área de Sexualidade, as mesmas buscaram atualizações, estudos relacionados ao
tema, a própria experiência em sala de aula fez com que acreditassem que essa transformação
seria possível, isto é, através de estratégias adequadas, o assunto de Sexualidade pode ser
trabalhado como conteúdo a ser ensinado.
Shulman, (1992) afirma que
Tema Autores
PARK, S.; CHEN, Y-C. Mapping out the integration of the components of
pedagogical content knowledge (PCK): Examples from high school biology
*Fotossíntese e herança; classrooms. Journal of Research in Science Teaching, v. 49, n. 7, p. 922-
941, 2012.
13
Marcon, Daniel; Amândio, Graça; Vieira, Juarez. Reflexões teóricas sobre a construção do conhecimento
pedagógico do conteúdo dos futuros professores. Educação: Teoria e Prática, v. 22, abril de 2012.
62
TÍTULO REFERENCIAS
Biologia da rede estadual no município Sorriso Mato Grosso, Campus Confresa, v. 3, n. 1, p. 196-
– MT. 207, jan./jun. 2018.
Ensino de Botânica no Ensino Fundamental: STANSKI, Carin; LUZ, Cynthia Fernandes Pinto;
estudando o pólen por meio de multimodos. RODRIGUES, Adriana Ribeiro Ferreira;
NOGUEIRA, Melissa Koch Fernandes de Souza.
Hoehnea, São Paulo, v. 43, n. 1, p. 19-25, jan./mar.
2016.
Aulas práticas como estratégia para o SILVA, Ana Paula Miranda da; SILVA, Maria
conhecimento em botânica no Ensino Francilene Souza; ROCHA, Francinalda Maria
fundamental. Rodrigues da; ANDRADE, Ivanilza Moreira de.
Holos, Rio Grande do Norte, v. 8, n. 31, p. 68-79,
2015.
A Juçara vai à escola: aprendizagem entre BORGES, Marcelo Gules; CARVALHO, Isabel
pessoas, coisas e instituições. Cristina de Moura; STEIL, Carlos Alberto.
Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 21, n.
44, p. 309-329, jul./dez. 2015.
Nos artigos selecionados, foi unânime entre os autores em seus referenciais que o ensino
de Botânica é trabalhado por métodos tradicionais, com ênfase na memorização e resolução de
exercícios. Para Kinoshita et al. (2006) o ensino de Botânica, na Educação Básica caracteriza-
se como teórico e desestimulante para os alunos. Sendo assim, por diversas situações,
professores acabam priorizando a reprodução e memorização de nomes científicos, pois os
conteúdos de Botânica trazem uma nomenclatura complexa, em muitas circunstâncias
empreende-se de forma descontextualizada, sendo esses os fatores que causam desinteresse e
dificuldade na aprendizagem. Para Pérez Gómez (2015) os conhecimentos, os exercícios e os
64
Atividades práticas
Desenvolvimento do PCK
Tecnologia digital
Material didático
Fonte: da autora
65
De acordo com Tardif (2002), “as atividades práticas permitem aprendizagens que a
aula teórica, apenas, não permite, sendo compromisso do professor, e também da escola, dar
essa oportunidade para a formação do aluno”. Quanto aos desafios assinalados na figura 5, as
pesquisas destacam que muitos docentes reconhecem a importância das aulas práticas, porém,
elas não acontecem por diversos motivos como: a falta de equipamentos e de estrutura física ou
grande número de alunos nas turmas, fato que dificulta o trabalho na prática, pois as escolas
não possuem auxiliar de laboratório, e o número reduzido de aulas de Ciências e Biologia na
Educação Básica.
Ciente dessas “limitações”, impostas pelos professores, não se pode deixar de
reconhecer as competências deste tipo de atividade, pois são as aulas práticas que de forma
ampla, promovem uma aprendizagem dinâmica e contínua que se ajusta ao conceito de
Conhecimento Pedagógico do Conteúdo.
Desse modo, Oliveira Jr. (2011) destaca que:
Esses anseios se concretizam hoje, para a sociedade, basicamente por meio dos canais
das novas tecnologias de informação e comunicação. Assim, dentre as metas e
objetivos apresentados, o Plano Nacional de Educação para Todos (PNE), documento
que estabelece metas a serem alcançadas até́ 2020, traz a proposição de um amplo
sistema de educação a distância, visando à ampliação das possibilidades de
atendimento nos cursos iniciais regulares ou de educação continuada. Também
incentiva por meio de recursos públicos e privados, a produção de programas a
distância com a pretensão de ampliar as possibilidades de educação profissional,
dentre elas a formação dos professores (PARENTE et al., 2015, p.250).
Outro desafio assinalado é o uso das tecnologias digitais, mudanças estão ocorrendo
na sociedade devido as inovações tecnológicas, e esse contexto exige uma reorganização nas
atividades escolares, visando uma educação de qualidade e um professor preparado. As novas
exigências educacionais solicitam um novo professor, que segundo LIBÂNEO (1998) deve
No entanto, sabemos que a função da escola demandada pela atualidade vai muito
além do que ser mera treinadora de habilidades. Definido a partir da Constituição
Federal de 1988 e ratificado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN 9394/96), o papel da educação escolar, no Brasil, refere-se à formação da
cidadania para um mundo de complexidades e desafios, que clama por cidadãos
conscientes capazes de analisar criticamente o excesso de informação e mudanças e
lidar com as inovações e transformações permanentes de conhecimentos em todas as
áreas (PARENTE et al. 2015, p.252).
67
Fonte: da autora
68
14
NASCIMENTO et al. Propostas Pedagógicas para o ensino de Botânica nas aulas de Ciências: diminuindo
entraves. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, vol. 16, n. 2, p. 298-315, 2017.
15
FARIA et al. Possibilidades de ensino de Botânica em um espaço não formal de educação na percepção de
professoras de Ciências. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências. Belo Horizonte, vol.13, n.1, pp.87-104,
2011.
16
O Museu DICA – Diversão com Ciência e Arte é um espaço onde ciência, tecnologia e conhecimento são
exibidos e discutidos através de conteúdos que abordam questões do cotidiano de forma contextualizada e
divertida. http://www.dica.ufu.br/index.php/o-museu-dica.
69
17
LAZZARI, Gabriele; GONZATTI Felipe; SCOPEL, Janete Maria, SCUR, Luciana. Scientia Cum Industria,
vol. 15, n. 3, 2017.
70
289 resultados
*Ensino de Ciências para 39 resultados para
e Matemática 2 resultados para o
Conhecimento o ensino de
ensino de Botânica
*Ensino de Ciências Pedagógico do Biologia e Ciências
Conteúdo
248 resultados
excluídos
Fonte: da autora
71
Saberes pedagógicos
Educação Ambiental
3%
3% 15%
Perspectiva CTS/TICs
18%
Modelos didáticos/Atividades
investigativas
8% 20% Corpo Humano
Ecologia
15%
18%
Zoologia
Currículo Escolar
Fonte: da autora
Após análise das trinta e nove dissertações, observamos que os assuntos com maior
frequência nos Programas de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, estão relacionados
à Educação Ambiental, seguidos da Ecologia e da perspectiva metodológica CTS. Algo que nos
chama atenção é que grande parte dos trabalhos está relacionada com a prática docente e como
está sendo desenvolvida nos cursos de graduação, isto é, na formação inicial dos futuros
professores e na prática diária de professores que já estão inseridos nas escolas.
Ressaltamos que apesar desses estudos estarem focados em outros embasamentos
teóricos e conhecimentos apontamos que, de forma implícita, em alguns casos, o Conhecimento
Pedagógico do Conteúdo está inserido, pois, no momento em que há uma preocupação em
planejar estratégias de ensino para que ocorra o processo de ensino/aprendizagem, fica nítido o
desenvolvimento do PCK.
72
representa a mistura entre o conteúdo e a pedagogia por meio da qual se chega a uma
compreensão de como determinados temas e problemas são organizados,
representados e adaptados aos diversos interesses e capacidades dos alunos, e como
se apresentam para o ensino (SHULMAN, 1987, p.8).
Fonte: da autora
Pela análise feita, é de senso comum entre os professores dessa pesquisa que uma das
maiores dificuldades no ensino da Botânica está na formação docente e/ou nas condições de
74
exercício da profissão. Outra necessidade apontada pelos professores está relacionada à falta de
recursos didáticos (materiais pedagógicos e audiovisual) que facilite o ensino de Botânica, falta
de infraestrutura escolar (laboratório), pois, muitas vezes as escolas não apresentam espaço
físico para realização de uma aula prática. Além disso, os professores comentam que faltam
cursos de formação voltados ao ensino de Botânica.
Essa análise vem ao encontro do que já observamos nos artigos relacionados ao ensino
de Botânica e a prática vivenciada pelo nosso estudo com professores de Ciências e Biologia
que ensinam Botânica no Ensino Fundamental e Médio. Existe uma “gap” entre a formação
inicial e a prática docente, isto é, a Universidade está distante das escolas, pois apenas com
estágios curriculares obrigatórios não faz com que os professores em formação inicial aprendam
os conteúdos e a forma de conduzi-los. Muitas vezes os estágios são realizados com conteúdo
e série em que os futuros professores têm mais afinidade, como a Botânica vem sendo
negligenciada, raramente um estágio será feito com os conteúdos dessa área. O que nos deixa
claro que está faltando o conhecimento pedagógico do conteúdo no ensino de Botânica para os
professores de Ciências e Biologia.
Shulman (1987) afirma que o futuro da pedagogia universitária passa pela capacidade
de integrar, no processo educativo, atitudes de experimentação, reflexão e de criação. A
docência de uma disciplina é tanto um ato de questionamento e de invenção como qualquer
outra atividade profissional designada com processos investigativos que contribuem para o
avanço do conhecimento.
Na segunda dissertação, conforme a figura 8, o objeto de estudo está voltado para o
desenvolvimento humano em sua integralidade, incluindo a relação com a natureza e o entorno
em que ele vive, além de estar ligado a Agroecologia, um dos objetivos está voltado ao ensino
de Botânica, como analisar as percepções, conhecimentos e olhares dos alunos acerca do ensino
de Botânica. Para Loureiro (2017), o cotidiano de nossas escolas tem se caracterizado pela
escassez de atividades práticas com os estudantes, que estão cada vez mais distantes do
ambiente natural e utilizando apenas material didático impresso ou digital.
Neste trabalho, Loureiro (2017) optou por realizar uma investigação acerca do ensino
de Botânica na disciplina especializada de Agroecologia, visto que as plantas são elementos
75
estruturais na temática. Para tal investigação foi realizado um herbário didático, com a
elaboração de um total de 40 exsicatas de plantas ocorrentes dentro e no entorno da escola,
sendo 10 espécies distintas com quatro amostras para cada. A partir deste herbário foram
desenvolvidos desenhos através dos quais os alunos puderam refletir sobre os aprendizados
obtidos nas aulas.
Segundo o autor, o conjunto de atividades realizadas foi elaborado mediante a
integração entre pressupostos teóricos e atividades práticas, envolvendo, não somente saberes
tradicionalmente ensinados na Botânica, tais como morfologia, fisiologia e taxonomia vegetal,
mas também as relações das plantas com outros fatores bióticos e com os fatores abióticos. Por
tais razões, as atividades teóricas foram realizadas junto às vivências nas dependências da
escola, com o contato pleno e ativo com os fenômenos naturais.
Conhecimento
Grande Área do *Ciências Área de
Pedagógico do
Conhecimento Biológicas Conhecimento
Conteúdo
*Botânica
*Botânica Área de *Ciências Nome do
*Biologia Geral Concentração Biológicas Programa
*Biologia vegetal
280 resultados
excluídos
Fonte: da autora
Em relação aos resultados, uma refere-se ao Conhecimento Pedagógico do Conteúdo de
Botânica de professores de Biologia após formação continuada em Educação a Distância, e a
outra, está relacionada ao Conhecimento Pedagógico do Conteúdo sobre ecossistemas em São
Paulo, um estudo de caso com professores de Biologia em formação inicial, inseridos no PIBID
(figura 10).
Figura 10 - Dissertações nas Áreas do Conhecimento: Ciências Biológicas,
Botânica e Biologia Geral
Investigando aspectos do Conhecimento Pedagógico do Conteúdo (PCK) de Botânica de
1. professores de Biologia após formação continuada em Educação a Distância
• FRANCO, Carolina de Oliveira. Mestrado em Ciências Biológicas (Botânica). Universidade de São Paulo
- USP. 2017
Fonte: da autora
77
Conhecimento
Grande Área do Área do
Pedagógico do *Ciências Biológicas
Conhecimento Conhecimento
Conteúdo
Fonte: da autora
Fonte: da autora
os fatores que constroem a identidade profissional. Para isso, foram realizadas observações da
atividade docente durante as aulas de Botânica e entrevistas com professores universitários de
diferentes instituições de Ensino Superior. Diante disso, a figura 13 mostra os principais
aspectos apontados pelos professores para o ensino de Botânica.
Planejamento
feedback Contexto
Saídas a
Teórica/prática
campo
Lousa/quadro/
Powerpoint
giz
Fonte: da autora
Percebeu-se na análise da pesquisa que os docentes aplicam suas aulas teóricas seguidas
de prática, pois acreditam que é a melhor estratégia para a compreensão do assunto, observou-
se que alguns aplicam essa técnica de várias formas, mas existe essa relação teoria e prática.
Alguns professores utilizam outros métodos como leituras, a prática antes da teórica, debates
sobre o tema estudado, interações com os estudantes para tornar a aula mais dialogada.
Além das práticas realizadas, o planejamento dos professores também foi algo
importante a ser destacado, a maioria entende que um dos principais pontos a ser pensado
quando estão planejando suas aulas é o conhecimento científico, o que será transmitido sobre
esse conhecimento, o grau de aprofundamento e o que já se sabe sobre o tema vindo de
disciplinas anteriores (SILVA, 2013).
Segundo Shulman (1986) o professor tem de conhecer bem os conteúdos que ensina.
Para ele, os professores não podem atuar com competência e qualidade sem uma formação
adequada para leccionar as disciplinas ou conhecimentos de que estão incumbidos. Observamos
diante do exposto que os professores se preocupam com o conhecimento pedagógico do
conteúdo, pelo fato da maioria dos tópicos ensinados na disciplina de Botânica, conforme
82
relatos observados na pesquisa são importantes para a aprendizagem dos alunos as formas mais
úteis de representação dos conteúdos, como as analogias, ilustrações, exemplos, explicações e
demonstrações. Sendo assim, esses procedimentos envolvem conhecimentos pedagógicos,
conhecimento dos alunos ao se preocuparem com o que já sabem das disciplinas anteriores,
assim como a história pessoal e a experiência profissional do professor.
Percebemos que nesse cenário de formação inicial dos alunos nos cursos de Ciências
Biológicas, os professores universitários possuem o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo,
mas não direciona esse conhecimento ao ensino da Botânica na Educação Básica, no entanto os
alunos saem da universidade com o “conhecimento do conteúdo”, pelo menos com uma visão
geral do todo, a forma como ele é compreendida e transformada na prática, depende de cada
aluno, isto é, do futuro professor.
Analisamos também os recursos utilizados pelos professores para as aulas e percebemos
que os mesmos utilizam a lousa e o quadro negro com frequência, pois gostam de desenhar e
esquematizar os conteúdos trabalhados, principalmente no que se refere as angiospermas, na
morfologia vegetal. Além disso percebemos o uso do powerpoint com figuras representativas e
saídas a campo para investigação de espécies trabalhadas em aula, para relacionar a teoria com
a prática e também trazer para aula algo a ser investigado, incitando a curiosidade dos alunos
sobre o vasto e complexo mundo das plantas.
Sobre as concepções dos professores em relação a formação de profissionais voltados
para o ensino, SILVA (2013, p. 86) assinala:
[...] alguns docentes não planejam atividades pensando que naquela sala de aula
podem sair professores. Dentre os argumentos mais citados está a preocupação com a
formação profissional independentemente se será licenciado ou bacharel; a
preocupação com a sua atividade de transmitir o conhecimento; a preocupação com a
formação do cidadão biólogo, que, independentemente de ser professor ou não, tem
que conhecer um pouco da diversidade vegetal (SILVA, 2013, p.86).
18
“teaching is a beautifully ambiguous term”- Ensinar é um termo lindamente ambíguo (Tradução nossa).
83
avaliados por produção, muitos docentes optam somente pela pesquisa. Diante deste contexto,
percebemos o motivo pelo qual nas buscas realizadas para o trabalho encontramos muitas
pesquisas de cunho científico, voltado ao estudo de espécies vegetais.
A figura 14 representa nossa segunda busca por teses relacionadas ao Conhecimento
Pedagógico do Conteúdo.
Conhecimento *Educação
Área do
Pedagógico do *Ensino de Ciências Área de Avaliação
Conhecimento
Conteúdo e Matemática
Fonte: da autora
Fonte: da autora
Portanto, segundo Zabala (1998, p. 90) podemos falar da diversidade de estratégias que
os professores podem utilizar na estruturação das interações educacionais com seus alunos.
Desde uma posição de intermediário entre o aluno e a cultura, a atenção à diversidade dos alunos
e das situações necessitará, às vezes, desafiar; às vezes, dirigir; outras vezes, propor e comparar.
Ainda, se, para uns, o homem é um ser da adaptação ao mundo (tomando-se o mundo
não apenas em sentido natural, mas estrutural, histórico-cultural), sua ação educativa,
seus métodos, seus objetivos, adequar-se-ão a essa concepção. Se, para outros, o
homem é um ser de transformação do mundo, seu que fazer educativo segue um outro
caminho. Se o encararmos como uma “coisa”, nossa ação educativa se processa em
termos mecanicistas, do que resulta uma cada vez maior domesticação do homem. Se
o encararmos como pessoa, nosso que fazer será cada vez mais libertador (FREIRE,
1967, p. 124).
87
Pensar e mexer com a formação humana é um pensar nossa própria formação, nosso
próprio percurso. Nos enfrenta com um dever-ser. (...) ser mestre, educador, é um
modo de ser e um dever-ser. Ser pedagogo de si próprio. Ter cuidados com o próprio
percurso humano, para poder acompanhar a criança, adolescente e jovem. É uma
permanente conversa com sua própria formação (ARROYO, 2000, p. 87-8).
Diante dessas situações e a partir do contexto descrito, o professor deve julgar e fazer
escolhas difíceis, que são auxiliadas pelos saberes que ele possui (GAUTHIER et al., 1998) e
que são construídos ao longo do exercício da sua profissão.
Outro fator imprescindível é a interação, a qual precisa ser fomentada ao longo do
processo de formação, de modo a possibilitar o diálogo entre os múltiplos sujeitos e as distintas
áreas do saber, o que possibilita a interdisciplinaridade e o rompimento com a fragmentação.
Assim sendo, pode-se conceber a possibilidade de um ensino contextualizado e abrangente, do
qual resulte a formação de visões amplas sobre a realidade e a aplicação dos conhecimentos
construídos para o estabelecimento de presença crítica no mundo. Nesse sentido, os cursos de
formação precisam privilegiar a prática como primordial, propiciando a vivencia de situações
que requeiram a reflexão crítica embasada na teoria e no cotidiano escolar.
A postura reflexiva não requer apenas do professor o saber fazer, mas que ele possa
saber explicar de forma consciente a sua prática e as decisões tomadas sobre ela e perceber se
essas decisões são as melhores para favorecer a aprendizagem do seu aluno, pois segundo
Perrenoud (2002), ensinar é, antes de tudo, agir na urgência, decidir na incerteza. O
conhecimento dos professores é constituído por saberes, saber-fazer, competências e
habilidades que servem de base para o trabalho desses na escola. Essa questão está ligada à
profissionalização do ensino e aos esforços dos pesquisadores para definir a natureza dos
conhecimentos profissionais que servem de base ao magistério.
De acordo com Tardif (2002), no que diz respeito à subjetividade, há um postulado
segundo o qual os professores possuem saberes específicos que são mobilizados, utilizados e
produzidos por eles no âmbito de suas tarefas cotidianas. Esses, em seu trabalho com os alunos,
são os principais atores e mediadores da cultura e dos saberes escolares, sendo a sua missão
educativa da escola. No cerne do processo estão os saberes e a subjetividade. Os conhecimentos
e "que-fazeres" do professor provêm da sua própria atividade e orientam a sua estruturação,
envolvendo a subjetividade do educador. A prática dos professores não é somente um espaço
89
políticas públicas que orientaram, na década subsequente, as reformas nos programas e nos
currículos de formação de professores em diversos países.
Shulman (1986) veio assinalar que a investigação produzida até à época sobre o ensino
incidia nos conteúdos a ensinar, omitindo a questão de como se ensina um determinado
conteúdo, de como os professores transformam o conteúdo disciplinar em conteúdo a ser
ensinado ao estudante. O autor estava preocupado com as concepções prevalecentes de
competência do professor, que se concentravam em comportamentos genéricos de ensino, bem
como o porquê da ruptura entre a teoria e a prática.
Nessa perspectiva, o referido autor argumentou que "as atuais definições incompletas e
triviais de ensino mantidas pela comunidade política constituem um perigo muito maior para
uma boa educação do que uma tentativa mais séria de formular a base de conhecimento"
(SHULMAN, 1987). Implícito em tais comentários está o argumento de que a instrução de alta
qualidade requer um conhecimento sofisticado e profissional que vá além de regras simples,
como quanto tempo esperar a resposta dos alunos.
Segundo Shulman (1986), o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo é um
conhecimento específico da docência e esse emerge e cresce quando professores transformam
o conhecimento do conteúdo específico em conhecimento a ser ensinado. O autor incluiu PCK
no que ele chamou de "a base de conhecimento para ensinar". Uma das formulações de Shulman
(2005, p. 8) resume a base da seguinte forma: “[...] o processo de ensino começa
necessariamente em uma circunstância em que o professor entende o que deve ser aprendido e
como deve ser ensinado”.
Shulman (2004, p.11) organizou a base de conhecimento em sete categorias:
I. O conhecimento do conteúdo;
II. O conhecimento pedagógico (conhecimento didático geral), tendo em conta,
especialmente, aqueles princípios e estratégias gerais de condução e organização da
aula, que transcendem o âmbito da disciplina;
III. O conhecimento do currículo, considerado como um especial domínio dos
materiais e os programas que servem como “ferramentas para o ofício” do docente;
IV.O conhecimento dos alunos e da aprendizagem;
V. O conhecimento dos contextos educativos, que abarcam desde o funcionamento do
grupo ou da aula, a gestão e financiamento dos distritos escolares, até o caráter das
comunidades e culturas;
VI. O Conhecimento Pedagógico do Conteúdo, destinado a esse especial amálgama
entre matéria e pedagogia, que constitui uma esfera exclusiva dos professores, sua
própria forma particular de compreensão profissional;
VII. O conhecimento dos objetivos, as finalidades e os valores educativos, e de seus
fundamentos filosóficos e históricos (SHULMAN, 2004, p.11).
cruciais e que a ênfase colocada nas dimensões de conteúdo do conhecimento do professor não
pretendia minimizar a importância da compreensão e habilidade pedagógicas. Shulman (1986,
p.86) argumentou que "o mero conhecimento de conteúdo é provável que seja tão inútil
pedagogicamente quanto habilidade sem conteúdo".
As categorias: conhecimento do conteúdo, conhecimento curricular e conhecimento
didático do conteúdo, definem as dimensões específicas do conteúdo e, em conjunto,
compreendem o que Shulman chamou de paradigma perdido19 na pesquisa sobre o ensino que
busca resgatar o conteúdo e a pedagogia na formação de professores (SHULMAN, 1986).
O conhecimento curricular é a categoria
Além disso, o autor aponta duas outras dimensões do conhecimento curricular que são
importantes para o ensino, aspectos que ele rotulou conhecimento lateral de currículo e
conhecimento vertical de currículo. O conhecimento lateral relaciona o conhecimento do
currículo que está sendo ensinado ao currículo que os alunos estão aprendendo em outras classes
(em outras áreas de estudo). O conhecimento vertical inclui "a familiaridade com os tópicos e
as questões que foram e serão ensinados na mesma área de assunto durante os anos anteriores
e posteriores na escola e os materiais que foram inclusos nesse processo (SHULMAN, 1986).
Entre as categorias propostas por Shulman, a mais influente, relacionada ao conteúdo,
correspondeu ao conceito de Conhecimento Pedagógico do Conteúdo. O autor introduziu como
uma categoria específica de conhecimento "que vai além do conhecimento do assunto em si
para a dimensão do conhecimento do assunto para o ensino" (SHULMAN, 1986). O
conhecimento pedagógico do conteúdo representa a combinação de conteúdo e pedagogia no
entendimento de como tópicos específicos, problemas ou questões são organizados,
representados e adaptados para os diversos interesses e aptidões dos alunos e apresentados no
processo educacional em sala de aula. Dessa forma, o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo
é, muito provavelmente, a categoria que melhor distingue a compreensão de um especialista em
conteúdo daquela de um pedagogo.
19
Paradigma perdido – Shulman (1986) declarou que o paradigma perdido era o conteúdo e suas interações com
a pedagogia.
93
Fonte: Modelo de Raciocínio Pedagógico e Ação (MRPA) proposto por Shulman (1987) e adaptado por Salazar
(2005).
acredita que os seis elementos propostos no MRPA são independentes e acontecem de forma
simultânea, de acordo com os propósitos do professor em sua prática docente.
A figura 17, no contexto educacional, professor/aluno, representa um quebra-cabeça,
que nos instiga a encontrar a peça chave, para desenvolver o processo de ensino e
aprendizagem, assim, interpretamos os modelos propostos por Shulman, tanto o PCK, quanto
o MRPA, ambos se complementam e estimulam a aprendizagem; incentivam a atenção e o
pensamento lógico; incitam a curiosidade e a descoberta; favorecem o desenvolvimento da
atuação da memória; instigam diferentes habilidades do pensamento, tais como: observar,
comparar, analisar e sintetizar além de integrar a memória visual-espacial. Para Shulman (1987)
o MRPA e o PCK mantêm uma relação mútua, na qual se complementam com um único
objetivo, auxiliar o professor na transformação do conhecimento do conteúdo em
conhecimentos ensináveis e compreensíveis para os alunos.
Fonte: da autora
Fonte: da autora
PCK diz respeito à maneira como os professores relacionam seu conhecimento sobre
o assunto (o que eles sabem sobre o que eles ensinam) ao seu conhecimento
pedagógico (o que eles sabem sobre o ensino) e como assunto o conhecimento é parte
do processo de raciocínio pedagógico (COCHRAN 1993, p. 263).
a formação continuada, haja visto que tal enfoque alega que a aprendizagem de conceitos, as
políticas educacionais e a formação de alunos passam, necessariamente, pela formação de
profissionais habilitados e capacitados para o ensino.
Segundo Shulman (1986) a base para o ensino e a prática docente compõe-se de um
conjunto de diferentes tipos de conhecimentos, que intitulou como base do conhecimento, onde
estão inseridos o conhecimento do conteúdo específico; o pedagógico geral; o contextual; o
curricular; dos alunos; pedagógico do conteúdo e o conhecimento dos objetivos, as finalidades
e os valores educativos, e de seus fundamentos filosóficos e históricos. De acordo com Shulman
(1986) o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo se destaca entre os principais tipos de
conhecimento pela sua importância, não apenas na atuação do professor, mas pela significativa
contribuição nos processos de formação inicial e continuada.
A formação continuada de professores é um processo contínuo de aperfeiçoamento dos
saberes necessários à atividade profissional, realizado após a formação inicial, com o objetivo
de buscar um ensino de melhor qualidade aos educandos. As formações de professores se
nutrem da hipótese que uma maior mestria dos saberes acadêmicos e profissionais dos
educadores influi positivamente no sucesso escolar dos alunos (CHERKAOUI, 1979).
Santos (1998) menciona que a formação continuada consiste em propostas voltadas para
a qualificação do profissional, tendo em vista à possibilidade de melhoria de sua prática pelo
domínio de conhecimentos e de métodos de seu campo de trabalho. O professor que está em
busca de uma formação contínua, bem como da evolução de suas competências tende a ampliar
o seu campo de trabalho.
Segundo Candau (1997) esse tipo de formação não pode ser concebido como um meio
de acumulação (de cursos, palestras, seminários, etc., de conhecimentos e técnicas) mas sim,
através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente
de uma identidade pessoal e profissional, em interação mútua. Essa interação deverá acontecer
dentro do espaço escolar, onde questões da sala de aula serão levadas para problematização
com os colegas ou pares.
Diante disso, questionar a amplitude de formação continuada pode reanimar o debate e
difundir a perspectiva crítica, como esclarece Gatti (2008) quando reflete a respeito da
concepção dessa formação:
[...] sinalizamos que ora se restringe aos limites de cursos estruturados e formalizados
oferecidos após a graduação, ou após ingresso no exercício do magistério, ora é
tomado de modo amplo e genérico, como compreendendo qualquer tipo de atividade
que venha a contribuir para o desempenho profissional – horas de trabalho coletivo
na escola, reuniões pedagógicas, trocas cotidianas com os pares, participação na
100
O ensino de Botânica nas aulas de Ciências e Biologia tem seus conteúdos orientados a
partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais20 (PCN), que sugerem reformas educacionais de
acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional21 (LDB), na busca de inserir
visões atualizadas dos conceitos, de forma contextualizada, que se aproximem da realidade dos
alunos e professores.
Diante do novo contexto educacional e com as novas propostas de ensino em
documentos como a Base Nacional Comum Curricular22 (BNCC), principalmente no que tange
ao currículo escolar, a área de Ciências da Natureza está direcionada ao letramento científico
(também conhecido como alfabetização científica), definindo assim, que a ciência deve ser
usada como ferramenta de atuação no e sobre o mundo. A BNCC e os currículos têm papéis
complementares para assegurar as aprendizagens essenciais definidas para cada etapa da
Educação Básica, uma vez que tais aprendizagens só se materializam mediante o conjunto de
decisões que caracterizam o currículo em ação.
O ensino de Ciências da Natureza no Ensino Fundamental, segundo a BNCC (BRASIL,
2017) está organizado em quatro categorias, representadas na figura 19.
Unidades Temáticas
Objetos de Conhecimento
Habilidades
Fonte: da autora
20
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/
21
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
22
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/
103
Fonte: da autora
criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes
áreas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às
mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-
cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e
escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das
linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar
informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir
sentidos que levem ao entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de
forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo
as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir
conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal
e coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de
conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do
mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu
projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular,
negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e
promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo
responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em
relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-
se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com
autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se
respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento
e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes,
identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade,
resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos,
democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
105
Segundo a BNCC (BRASIL, 2017) a das Ciências da Natureza deve garantir oito
competências específicas, entre elas:
1. Compreender as Ciências da Natureza como empreendimento humano, e o
conhecimento científico como provisório, cultural e histórico.
2. Compreender conceitos fundamentais e estruturas explicativas das Ciências da
Natureza, bem como dominar processos, práticas e procedimentos da investigação
científica, de modo a sentir segurança no debate de questões científicas,
tecnológicas, socioambientais e do mundo do trabalho, continuar aprendendo e
colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
3. Analisar, compreender e explicar características, fenômenos e processos relativos
ao mundo natural, social e tecnológico (incluindo o digital), como também as
relações que se estabelecem entre eles, exercitando a curiosidade para fazer
perguntas, buscar respostas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos
conhecimentos das Ciências da Natureza.
4. Avaliar aplicações e implicações políticas, socioambientais e culturais da ciência e
de suas tecnologias para propor alternativas aos desafios do mundo contemporâneo,
incluindo aqueles relativos ao mundo do trabalho.
5. Construir argumentos com base em dados, evidências e informações confiáveis e
negociar e defender ideias e pontos de vista que promovam a consciência
socioambiental e o respeito a si próprio e ao outro, acolhendo e valorizando a
diversidade de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de qualquer
natureza.
6. Utilizar diferentes linguagens e tecnologias digitais de informação e comunicação
para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e
resolver problemas das Ciências da Natureza de forma crítica, significativa,
reflexiva e ética.
7. Conhecer, apreciar e cuidar de si, do seu corpo e bem-estar, compreendendo-se na
diversidade humana, fazendo-se respeitar e respeitando o outro, recorrendo aos
conhecimentos das Ciências da Natureza e às suas tecnologias.
8. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade,
flexibilidade, resiliência e determinação, recorrendo aos conhecimentos das
Ciências da Natureza para tomar decisões frente a questões científico-tecnológicas
e socioambientais e a respeito da saúde individual e coletiva, com base em princípios
éticos, democráticos, sustentáveis e solidários.
106
No Ensino Médio, a BNCC (BRASIL, 2017) propõe para a área de Ciências da Natureza
e suas Tecnologias que os estudantes possam construir e utilizar conhecimentos específicos da
área para argumentar, propor soluções e enfrentar desafios locais e/ou globais, relativos às
condições de vida e ao ambiente.
Em relação ao ensino de Botânica nos principais documentos que norteiam a educação
no Brasil, entre eles a BNCC, o tema está ausente, devido à perspectiva dada a outros temas
relacionado ao ensino de Ciências. Portanto, um novo olhar sobre o ensino das plantas se faz
necessário, principalmente no Ensino Fundamental onde a BNCC já está estabelecida. A
abordagem clássica das plantas deixa de existir e dá espaço a uma abordagem mais aplicada,
exigindo uma adaptação curricular, de acordo com a realidade local, no caso do Rio Grande do
Sul, essa temática pode ser inserida no Referencial Curricular Gaúcho, documento que nortearia
junto à BNCC, às escolas públicas e privadas do estado, onde temas como linguística, fauna e
flora, história e arte regionais podem ser definidos por esse documento.
Ursi et al. (2018) apontam como preocupante o fato de poucos exemplos botânicos
serem encontrados na BNCC, e acreditam na importância de promovermos um movimento de
resistência e valorização das plantas e de seu ensino.
Os PCN (BRASIL, 1998) assinalam que as aulas de Ciências, por sua riqueza e
diversidade em conteúdos e abordagens, podem se realizar de forma interessante e significativa
para os alunos, sendo necessário ao professor possuir condições objetivas de trabalho e
disposição para sua formação continuada.
Segundo os PCN (BRASIL, 1998) os temas de estudo e as atividades de Ciências
Naturais devem ser organizados para que os alunos adquiram progressivamente capacidades,
107
[...]o estudo das plantas fez parte dos primeiros conhecimentos do homem, pois este
necessitava selecionar raízes, caules, folhas, frutos e sementes destinados à
alimentação, ao vestuário, e à construção. Imaginemos os problemas de seleção de
raízes não-tóxicas para a alimentação tanto animal como humana (CHASSOT, 2000,
p.15).
Todavia, apesar de fundamental para a vida humana e para a vida do planeta, a relação
que o homem exerce com as plantas ainda se configura essencialmente numa relação de via
única, pois retira das plantas parte do seu sustento e não contribui de maneira significativa
para a manutenção desses seres no planeta.
Embora pouco notória na Educação Básica, a Botânica é uma disciplina
constitucionalizada dentro da Biologia, sendo considerada uma área interdisciplinar, cujos
objetos de estudos também contribuem a outras áreas biológicas (SANTOS, 2006). No
entanto ensinar Botânica, aprender Botânica e formar qualificadamente os profissionais que
dela se ocuparão na educação têm sido objeto de preocupações de professores e pesquisadores
durante décadas (DIAS; SCHWARZ; VIEIRA, 2009). Corroborando com essa ideia, Ursi et
al. (2018) defendem que aprender Biologia, incluindo Botânica, pode ampliar o repertório
conceitual e cultural dos estudantes, auxiliando na análise crítica de situações reais e na
tomada de decisões mais consciente, formando cidadãos mais reflexivos e capazes de
modificar sua realidade.
108
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente estudo é de cunho qualitativo, que segundo Flick (2009), consiste na escolha
adequada de métodos e teorias convenientes; no reconhecimento e na análise de diferentes
perspectivas; nas reflexões dos pesquisadores a respeito de suas pesquisas como parte do
processo de produção de conhecimento; e na variedade de abordagens e métodos.
COM
ETAPA OBJETIVO ESPECÍFICO COMO? QUANDO?
QUEM?
Identificar em artigos, Portal CAPES Mapeamento
dissertações e teses, pesquisas preliminar
relacionadas ao conhecimento Agosto/2017.
pedagógico do conteúdo no -
1
ensino de Biologia, Botânica Mapeamento
e/ou Ciências. ampliado após
qualificação do
projeto em
Novembro/2018.
Conhecer o perfil dos Professores Questionário Junho/2018
professores envolvidos com o de Ciências/
2 ensino de Botânica na Biologia
Educação Básica.
COM
ETAPA OBJETIVO ESPECÍFICO COMO? QUANDO?
QUEM?
Verificar como os professores Professores Socialização do Janeiro/Fevereiro
direcionam a sua atuação de Ciências/ Instrumento de 2019
docente, tendo em vista o Biologia Representação de
5 conhecimento pedagógico do conteúdo – CoRe,
conteúdo. proposto por
Loughran, Mulhall e
Berry (2004).
Diagnosticar as dificuldades Professores Análise do Fevereiro/2019
profissionais dos professoresde Ciências/ instrumento de
de Ciências e Biologia, Biologia Representação de
6
relacionadas ao ensino de Conteúdo – CoRe.
Botânica no Ensino
Fundamental e Médio.
Contribuir com o processo de Professores Formação Junho/2018
formação continuada de de Ciências/ continuada para
professores de Biologia professores por meio
Ciências/Biologia, por meio de oficinas
7 de uma formação pedagógica, pedagógicas
enfatizando o conhecimento
pedagógico do conteúdo
(PCK) relacionado à
Botânica.
Fonte: da autora
Esta pesquisa foi desenvolvida junto a um grupo constituído por quinze professores, que
ensinam Ciências e Biologia em diferentes escolas da rede pública estadual de ensino, situadas
no município de São Luiz Gonzaga, Rio Grande do Sul, com área de abrangência e devidamente
autorizadas pela 32ª Coordenadoria de Educação (Anexo 1). Participaram da pesquisa,
professores de Ciências do Ensino Fundamental e professores da disciplina de Biologia do
Ensino Médio.
Os dados foram coletados durante um dia de formação pedagógica, ocorrido no dia doze
de junho de dois mil e dezoito, com apoio da 32ª Coordenadoria de Educação. Participaram
desse momento, professores da rede pública estadual, atuantes nas disciplinas de Ciências e
Biologia, no Ensino Fundamental e Médio.
A formação ocorreu durante os turnos da manhã e tarde, com duração de oito horas,
foram momentos de muitas reflexões e aprendizagens, onde professores vivenciaram
(re)construção de conhecimentos relacionados ao ensino de Botânica, em especial ao tema
Angiospermas. Para esse momento, foram utilizados instrumentos para registro como: diário
de bordo, fotografias, vídeos, gravações, disponibilizados aos interessados, além dos
instrumentos de pesquisa como: o questionário diagnóstico (Apêndice 1), a ferramenta de
representação de conteúdo (CoRe) (Quadro 7), os documentos escolares como o Projeto
Político Pedagógico e os Planos de ação dos professores e os documentos oficiais que regem a
educação no Brasil como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Base Nacional
Comum Curricular (BNCC).
O diário de bordo foi um recurso metodológico muito utilizado nesta pesquisa, pois
permitiu registrar as falas dos sujeitos, formais e informais, além das atividades desenvolvidas
durante a formação. O diário de bordo tem como objetivo facilitar o registro das atividades,
permitindo ao articulador refletir sobre a sua prática e o procedimento de sua tarefa
(OLIVEIRA; GEREVINI; STROHSCHOEN, 2017). Dessa forma, o diário de bordo pode ser
compreendido como “um guia de reflexão sobre a prática, favorecendo a tomada de consciência
do professor sobre seu processo de evolução e sobre seus modelos de referência” (PORLÁN;
MARTÍN,1997).
114
Fonte: da autora
Além do questionário para análise do perfil dos professores, num segundo momento,
durante a formação pedagógica foi aplicada uma ferramenta investigativa (quadro 9), o CoRe,
proposta por Loughran, Berry e Mulhall (2004), que consiste em um conjunto de oito perguntas
direcionadas ao professor sobre o ensino de um conteúdo específico. O CoRe promoveu entre
os professores envolvidos na formação o planejamento de um conteúdo específico, as
angiospermas, a ser trabalhado em sala de aula, possibilitando a eles uma reflexão sobre as
estratégias de ensino para desenvolver o conhecimento pedagógico do conteúdo. O modelo do
CoRe entregue aos professores está apresentado no quadro 9.
Segundo Kind (2009), o CoRe é uma técnica útil para acessar e documentar o PCK dos
professores, por meio de questões desafiadoras. As questões 1, 3 e 4 abordam os conhecimentos
a respeito do conteúdo específico; as questões 2, 5 e 6 questionam sobre o conhecimento a
respeito dos estudantes e o conhecimento do currículo; a questão 7 investiga o conhecimento
de estratégias de ensino e a questão 8 questiona sobre os diferentes métodos de avaliação do
desempenho dos estudantes.
O CoRe, segundo Cury, Costa e Canto-Dorow (2017), proporciona uma visão geral de
como os professores (em uma determinada área) conceituam um determinado conteúdo ou
tópico de uma disciplina e a forma como o ensinam para seus alunos. O CoRe permite avaliar
o conhecimento pedagógico do conteúdo em questão porque é ligado ao como, ao porquê e o
116
quê os professores ensinam e consideram importante que seus alunos aprendam (LOUGHRAN;
BERRY; MULHALL, 2012).
Os documentos oficiais escolares como o Projeto Político Pedagógico e os Planos de
ação foram analisados de acordo com o objetivo proposto na pesquisa, se existe ou não a
preocupação relacionada ao Conhecimento Pedagógico do Conteúdo. Em relação ao Projeto
Político Pedagógico, foi realizada uma leitura do material entregue pelos professores e na qual
foram pontuados os objetivos e as finalidades do documento, a partir disso, relacionamos com
a base do conhecimento, proposto por Shulman (1986), dentre os conhecimentos, o PCK. Nos
Planos de ação dos professores, fizemos uma análise dos mesmos para verificar se estavam
relacionados a base de conhecimento, especificamente no conhecimento pedagógico do
conteúdo.
Em relação aos documentos oficiais, Parâmetros Curriculares Nacionais e Base
Nacional Comum Curricular, averiguamos como a Botânica está prescrita nos mesmos. Para
isso, fizemos uma leitura e uma análise do material disponível e destacamos os principais
aspectos.
A análise dos dados foi realizada através da Análise Textual Discursiva (ATD), proposta
por Moraes e Galiazzi (2016), quando também foi utilizado o programa IRAMUTEQ23, versão
0.7 alpha 2, para a construção de nuvens de palavras. Para Camargo e Justo (2013) o
IRAMUTEQ viabiliza diferentes tipos de análise de dados textuais, desde aquelas bem simples,
como a lexicografia básica (cálculo de frequência de palavras), até análises multivariadas
(classificação hierárquica descendente, análises de similitude). Os autores apontam que o
programa organiza a distribuição do vocabulário de forma facilmente compreensível e
visualmente clara (análise de similitude e nuvem de palavras).
Segundo Moraes e Galiazzi (2016, p.33) a análise textual discursiva inserida no
movimento da pesquisa qualitativa não pretende testar hipóteses para comprová-las ou refutá-
las ao final da pesquisa; a intenção é a compreensão, a reconstrução de conhecimentos
existentes sobre os temas investigados.
23
O IRaMuTeQ é um software licenciado por GNU GPL (v2) que permite fazer análises estatísticas sobre corpus
textuais e sobre questionários. O programa ancora-se no software R (www.r-project.org) e na linguagem python
(www.pyton.org). Disponível em: www.iramuteq.org
117
Sendo assim, utilizamos para ATD, um ciclo em torno de quatro focos, proposto por
Moraes e Galliazzi (2016, p.33):
1. Desmontagem dos textos: denominado de processo de unitarização, implica
examinar os textos em seus detalhes, fragmentando-os no sentido de produzir
unidades constituintes, enunciados referentes aos fenômenos estudados.
2. Estabelecimento de relações: este processo denominado de categorização envolve
construir relações entre as unidades de base, combinando-as e classificando-as,
reunindo esses elementos unitários na formação de conjuntos que congregam
elementos próximos, resultando daí sistemas de categorias.
3. Captação do novo emergente: a intensa impregnação nos materiais de análise
desencadeada nos dois focos anteriores possibilita a emergência de uma compreensão
renovada do todo.
4. Um processo auto-organizado: o ciclo de análise, ainda que composto de
elementos racionalizados e em certa medida planejados, em seu todo pode ser
compreendido como um processo auto-organizado do qual emergem as
compreensões. Os resultados finais, criativos e originais, não podem ser previstos
(MORAES; GALLIAZZI, 2016, p.33).
A figura 22, apresenta um fluxograma simplificado sobre a forma como foi conduzida
a análise dos dados para se chegar aos resultados finais da pesquisa.
Leitura e
significação
Desmontagem
dos textos
Corpus
A priori
Unidades de
análise
Emergente
Desconstrução e
Categorização
Unitarização
Coleta dos dados ATD
Fragmentação Dedutiva
dos textos/
reescrita/título
unidades
Indutiva
Captação do
Metatexto
novo emergente
Auto-organização Compreensões
Fonte: da autora
Segundo Moraes e Galiazzi (2016) a análise textual discursiva pode então ser
compreendida como um processo auto-organizado de construção e compreensão em que os
entendimentos emergem a partir de uma sequência recursiva de três componentes: a
118
Desse modo, a análise textual discursiva pode ser compreendida como um processo auto
organizado de construção de novos significados em relação a determinados objetos de estudo,
a partir de materiais textuais referentes a esses fenômenos (MORAES, 2003).
Portanto, para os autores envolver-se na ATD exige apropriar-se dos fundamentos de
modo renovados de conceber a ciências e seus modos de produzir conhecimentos e
transformações que se inserem de forma absoluta em abordagens qualitativas de pesquisa.
Este trabalho tem como aspectos éticos, a vinculação da pesquisa com seres humanos,
pois foram realizadas atividades diretamente relacionadas com professores da rede pública
estadual. Com fins a desenvolver a pesquisa, os participantes foram informados acerca dos seus
objetivos e resultados. Ressalta-se que a participação foi livre e desimpedida, configurando
autonomia dos sujeitos participantes.
Acerca dos riscos, esta pesquisa ofereceu riscos mínimos em relação a possibilidade de
causar algum dano à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual
do ser humano, em qualquer fase da pesquisa e dela decorrente.
Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade
Franciscana (UFN) e aprovado pelo CAAE: 80622817.3.0000.5306, com o parecer de nº
2.449.061, pela Resolução 510/2016, na data de 19 de dezembro de 2017.
121
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O trabalho docente é definido de forma ampla, abrangendo não apenas a sala de aula ou
o processo de ensino formal, mas todas as outras atividades inerentes à educação (OLIVEIRA,
2010).
PIMENTA (2002, p. 07) define que
De acordo com leituras realizadas a partir de dados nacionais, Souza (2013, p. 70) afirma
que
os docentes são uma população envelhecida, com uma entrada de jovens na profissão
docente em menor proporção ao crescimento da oferta de postos de trabalho,
sugerindo que os professores estão levando mais tempo para se aposentar e/ou estão
retornando, após o jubilamento, ao trabalho.
Souza e Gouveia (2011) consideram que os professores que permanecem mais tempo
na carreira, têm maior amadurecimento em suas ações pedagógicas e no enfrentamento de
desafios.
Gráfico 2 – Faixa etária dos professores participantes da pesquisa
60
50
40
Idade
30
20
10
0
0 2 4 6 8 10 12
Professores
Fonte: da autora
Dados do Inep revelam que a faixa etária do professor pode ser relacionada, também,
com a postura que o professor assume em relação ao uso de novas tecnologias. Professores mais
jovens, a princípio, por terem maior familiaridade na utilização desses recursos, teriam maior
facilidade em assimilá-las em sua prática docente (BRASIL, 2018). Dessa forma, redimensiona
o seu papel, deixando de ser o transmissor de conhecimento para ser o instigador.
Cantini et al. (2006) mencionam que professores mais antigos estão acostumados às
práticas tradicionais de ensino, demonstrando uma postura mais passiva diante do uso de
ferramentas tecnológicas, envolvendo maior esforço de capacitação na assimilação do uso de
tais tecnologias no processo de mediação de ensino aprendizagem.
Em relação à formação acadêmica dos professores participantes da pesquisa, todos são
licenciados (Gráfico 3), porém, com graduação em diferentes áreas do conhecimento.
123
Licenciatura
100%
Bacharelado
Fonte: da autora
O Plano Nacional de Educação (PNE) que determina diretrizes, metas e estratégias para
a política educacional no período de 2014 a 2024, entre outras metas estabelecidas, estão a 15
e a 16. A Meta 15 está direcionada aos profissionais de educação e de acordo com o PNE e a
política nacional de formação dos profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III
do caput do art. 61 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB), assegura que todos os
professores e as professoras da Educação Básica possuam formação específica de nível
superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam. Baseado nesse
contexto, o cenário atual para essa meta, de acordo com o Censo Escolar está representado na
figura 23.
8%
Ciências Biológicas
34% 50%
Ciências - Licenciatura
Plena
8% Química
Licenciatura em
Matemática e Física
Fonte: da autora
24
Disponível em: https://todospelaeducacao.org.br/_uploads/20180824-
Anuario_Educacao_2018_atualizado_WEB.pdf?utm_source=conteudoSite
125
25
Disponível em: http://portal.inep.gov.br/censo-escolar
126
Pós-Graduação
Não
25%
Doutorado
0%
Especialização
Mestrado
67%
8%
Fonte: da autora
Um pouco por todas as escolas estão a surgir grupos de professores que se constituem
para estudar um assunto ou encontrar solução para um problema do cotidiano. Isto
revela um comprometimento com a profissão, um desejo de aperfeiçoamento
profissional e uma manifestação de interesse pela melhoria da qualidade da educação.
23%
8%
69%
Fonte: da autora
Meses Anos
29
24
18
13 14
10 11
7 6
4
Fonte: da autora
Fonte: da autora
130
Compreendemos, a partir das falas dos professores, que a escolha docente está baseada
nos perfis traçados desde a infância, partindo do “sonho de ser professora”, a ânsia por aprender
e ensinar, “acreditando na transformação social através da educação”. Segundo Charlot
(2007), a vontade de ensinar perpassa as dificuldades encontradas na atualidade no que tange a
educação, o professor, enfim, ensina em uma instituição estando sob o controle e o olhar de
autoridades hierárquicas e de colegas, com restrições de espaço, de tempo e de recursos.
Portanto o ensino de Ciências e Biologia na escola deve, no mínimo, transmitir aos
educandos uma compreensão mais ampla do mundo, incrementando sua percepção
singularidade da vida e propiciando a assimilação da importância da ciência na vida moderna.
131
II. Para você, o que é mais gratificante no dia a dia de um docente? Qual é a principal
dificuldade?
Gratificante
"Perceber que os estudantes entenderam
(aprenderam) o que foi transmitido através
das aulas, e principalmente a mudança de
atitudes”. Dificuldades
“A vivência e troca com os alunos".
“Os recursos para garantir
materiais, que forneça uma
“É ver que o aluno aprendeu e se interessa
educação de qualidade.”
pelo que você está transmitindo".
“Trazer a motivação dos alunos
“Ver o crescimento, desenvolvimento e o
para a sala de aula.”
brilho do discente, a alegria da
aprendizagem e da descoberta”. “A distração dos alunos pelo
celular.”
“Carinho, reconhecimento, acompanhar o
crescimento dos alunos”. “A falta de limites de alguns alunos
ou desinteresse e dificuldade
“O carinho que os alunos passam e a maior financeira para a formação
dificuldade é ensinar o aluno que não quer continuada.”
aprender”.
“Manter a concentração dos
“Chegar em sala de aula e observar que alunos em sala de aula.”
existem alunos interessados, com muitos
questionamentos, preocupados com a “Trabalhar em conjunto com a
busca pelo conhecimento”. família dos alunos.”
Fonte: da autora
132
Sabemos que o planejamento das aulas é muito importante, já que o professor precisa
diversificar suas estratégias a partir de critérios já conhecidos e possibilitar a interação do aluno
com os conteúdos a serem aprendidos. Não basta ter excelência acadêmica e dominar os
conceitos, o professor precisa criar mobilidade mental em seus alunos, fazendo com que
reflitam, participem dos conteúdos e tenham vontade de aprender a partir de desafios e
propostas que apresenta a eles.
Ao fazer a leitura dos questionários, percebemos no grupo de professores a satisfação
pela compreensão e o interesse quanto aos conceitos trabalhados, pela vivência, pelo carinho e
pela troca de experiência entre professores e alunos, pelas descobertas, na verdade, perceber
que isso faz a diferença no dia a dia em sala de aula se torna gratificante. Em relação às
dificuldades, os principais problemas em sala de aula são a não participação dos pais no
cotidiano escolar, a desmotivação dos alunos, a indisciplina dentro da classe, a falta de recursos
pedagógicos e de infraestrutura, a dificuldade financeira para a formação continuada.
Nesse cenário, a motivação para ensinar Ciências e Biologia é fazer com que o aluno
contribua para o seu próprio desenvolvimento, e que seja capaz de questionar, refletir e
raciocinar, tendo competência e responsabilidade em suas ações. Segundo Zabala (1998, p.29)
é preciso insistir que tudo quanto fazemos em aula, por menor que seja, incide em maior e
menor grau na formação de nossos alunos. Nesse sentido, percebe-se a importância do papel do
educador, o mérito da paz com que viva com a certeza de que faz parte de sua tarefa docente
não apenas ensinar conteúdos, mas também ensinar a pensar certo (FREIRE, 2015).
IV. Em relação ao currículo da sua escola, quais são os conceitos estudados em Botânica?
Sobre os conceitos estudados, identificamos que os professores em geral trabalham a
Botânica de forma sintetizada, observa-se como prioridade do ensino a classificação das
plantas, o estudo dos órgãos vegetais, a fisiologia vegetal, seguidos de outros temas conforme
o gráfico 8.
8
7
6
5
4
3
2
1
Conceitos
0
Fonte: a autora
3
Nº DE PROFESSORES
Conceitos
0
CONCEITOS EM BOTÂNICA/LIMITAÇÕES
Fonte: da autora
VI. Quanto aos conceitos trabalhados em Botânica, qual (is) você não apresenta
dificuldades ou limitações?
“Classificação e órgãos”.
“As briófitas, pteridófitas, angiospermas e gimnospermas, suas partes”.
“Características gerais e classificação”.
“Acho que o básico”.
“Como comecei recentemente na docência, ainda não trabalhei o conteúdo de Botânica
em sala de aula”.
“Em muitos, mas sempre busco o conhecimento necessário para transmitir aos meus
alunos”.
“Flor e célula vegetal”.
137
“Acessa e sempre procuramos relembrá-los de forma bem sucinta, o que nem sempre é
fácil, pois alguns alunos vêm com uma base muito precária. Geralmente relembramos
conceitos da citologia, como mitose, meiose, organelas celulares (cloroplastos, vacúolos),
fotossíntese”.
“Tento fazer essa conexão relacionando os conceitos trabalhados anteriormente. A
contextualização é muito importante na área das Ciências da Natureza. Relacionar os
conceitos de diferentes áreas da relevância ao conceito trabalhado”.
Através dos relatos constatamos que os professores revisitam conceitos já estudados,
outros confirmam que trabalham de forma interdisciplinar, mas não indicam a área e nem como
fazem. As informações disponibilizadas pelos professores, relacionadas aos conceitos de outras
áreas do conhecimento e da própria Ciência e Biologia, demonstram que os mesmos não
trabalham de forma interdisciplinar, apenas uma professora citou seu trabalho em outra área,
outros revisam seus conteúdos dos anos anteriores.
As respostas dos professores, comprovam que o trabalho interdisciplinar é uma
problemática ainda enfrentada devido à dificuldade em contextualizar os conteúdos específicos
da área da Ciências/Biologia com outras áreas do conhecimento.
Como forma de sintetizar o exposto pelos participantes da pesquisa, a figura 25
apresenta uma nuvem de palavras que foram destaque nos questionários.
componentes celulares, além dos hormônios vegetais e as fases que contemplam a fotossíntese.
Além disso, no ciclo reprodutivo, saber sobre as estruturas presentes em cada fase, como os
megásporos, entre outros.
Em relação às dificuldades e limitações ligadas ao ensino dessas ideias, os professores
revelam que não apresentam dificuldades no que tange aos conceitos, a fisiologia e ao ciclo
reprodutivo, manifestam limitações na visualização de frutos em algumas angiospermas, ideia
ligada à morfologia das angiospermas. Os professores enfatizam sobre os conhecimentos
prévios dos alunos na influência do ensino sobre essas ideias, além da motivação ou falta dela
como outros fatores relacionados às ideias apresentadas.
Os procedimentos empregados pelos professores para o ensino das ideias indicadas são
observações, passeios, seminários, experimentos, desenhos, imagens, e para avaliar a
compreensão e incompreensão dos alunos sobre os conceitos de morfologia, fisiologia e ciclo
reprodutivos das plantas, os professores acham conveniente realizarem avaliações diárias,
provas e trabalhos.
O CoRe elaborado pelas professoras atuantes no terceiro ano do Ensino Médio que em
relação ao conteúdo específico “Angiospermas”, pretende que os alunos aprendam as seguintes
ideias: definição do grupo, importância, adaptações e ciclos reprodutivos. Os alunos devem
identificar e reconhecer as principais características do grupo, quando questionados sobre a
definição do grupo (Angiospermas); descrever a importância econômica e ecológica do grupo;
relacionar as adaptações para a compreensão da grande diversidade de espécies, dos ciclos
reprodutivos, da genética das plantas e da perpetuação das espécies.
Em relação ao que consideram importante para os alunos aprenderem sobre as ideias
destacadas, direcionam para a aplicação do dia-a-dia (definição do grupo), a preservação e a
importância para os ecossistemas (importância), o processo evolutivo das plantas (adaptações)
e a perpetuação da espécie (ciclos reprodutivos). A respeito do que mais sabem sobre essas
ideias, elegem a sistemática, relações de parentesco, fósseis para a definição do grupo, a
importância medicinal e farmacêutica, além dos hormônios para a importância das
angiospermas, a utilização dos agrotóxicos e as mutações para as adaptações e os transgênicos
e fases mais aprofundadas dos ciclos reprodutivos.
No que tange às dificuldades e limitações ligadas ao ensino dessas ideias, as professoras
direcionam para a nomenclatura e ao grande número de adaptações e ciclos reprodutivos
existentes. Acerca do conhecimento sobre o pensamento dos alunos e a influência no ensino
dessas ideias, as professoras consideram a presença de flor e fruto para a ideia definições do
grupo, a alimentação, a produção de grãos e o valor ornamental para a importância das
angiospermas; os espinhos e a reserva de água (cactos) para as adaptações; a polinização para
os ciclos reprodutivos.
Os fatores que influem no ensino dessas ideias, julgam importantes os conhecimentos
prévios de outros grupos vegetais (definição do grupo), curiosidades para as adaptações e as
questões climáticas, ausência de flor em diferentes períodos no que que diz respeito aos ciclos
reprodutivos das angiospermas.
Os procedimentos empregados pelos professores para o ensino dessas ideias, são o
resgate de conhecimentos prévios no que refere a ideia de definição do grupo, reportagens,
documentários e notícias para a importância das angiospermas; aulas práticas para visualização
das adaptações, imagens, esquemas e aulas práticas para estudos dos ciclos reprodutivos. Para
avaliar a compreensão e a incompreensão dos alunos sobre essas ideias, os professores utilizam
provas, pesquisa, aulas práticas com relatórios e seminários. A figura 28 ilustra o momento de
interação e discussão entre os professores após o preenchimento dos CoRe do Ensino
Fundamental e Médio.
144
Analisando a nuvem de palavras percebe-se que um dos conceitos mais citados pelos
professores no preenchimento do CoRe, principalmente no que tange ao Ensino Fundamental é
fruto, pela razão de que o fruto é uma estrutura diagnóstica, presente em todas as angiospermas.
Segundo Raven (2018) os frutos são tão diversos quanto as flores das quais eles derivaram e
podem ser classificados morfologicamente em termos de sua estrutura e desenvolvimento ou,
funcionalmente, em termos de seus métodos de dispersão.
O fruto, depois das flores, é um dos assuntos mais falados em sala de aula no que se
refere as angiospermas pois, além das características gerais do grupo, fazem parte da
morfologia, histologia e do ciclo reprodutivo.
Outra palavra em destaque é a prova, o que demonstra que o perfil dos professores ainda
está vinculado a esse tipo de avaliação. Mesmo que didaticamente se fale em outros métodos
avaliativos nos dias atuais, as provas continuam sendo muito utilizadas.
Para Shulman (2004) após a concretização das oportunidades de aprendizagens
planejadas, é necessário avaliar o trabalho realizado e interagir de forma eficaz com os alunos
por meio de perguntas, sondagens, respostas e reações, além de elogios e críticas.
O conhecimento, também em destaque nesta investigação, está atrelado ao
conhecimento prévio dos alunos, aspecto importante segundo Shulman (1986) a ser
considerado durante o planejamento e execução de uma aula. O conhecimento sobre os alunos
e suas características está inserido em um dos conhecimentos necessários para que os
professores ensinem dentro do modelo proposto pelo autor, conhecido como a Base de
Conhecimento para o Ensino, onde estão incluídos outros seis tipos de conhecimentos, entre
eles, o PCK. Segundo Neto (2012) esse corpo de conhecimentos, a base de conhecimentos para
o ensino, como as compreensões, habilidades e disposições são necessários para que os
docentes promovam processos de ensinar e aprender.
Em momento após o preenchimento do CoRe ocorreu a socialização dos instrumentos,
com relatos dos professores sobre seus planejamentos. Esse momento foi filmado, em vídeo e
áudio e, posteriormente, os relatos dos professores transcritos e interpretados à luz da pergunta
fenomenológica: Como o conhecimento pedagógico do conteúdo se expressa nos relatos
dos professores?
A fenomenologia segundo Moraes e Galiazzi (2016, p.23) é uma forma de investigação
que propõe uma abordagem direta dos fenômenos, partindo do seu interior até a forma como
este se manifesta à consciência.
A partir das transcrições dos relatos dos professores, obtidos da gravação realizada
durante a socialização do CoRe, fizemos a desconstrução ou unitarização do texto, cujos
146
Figura 30 – Metatexto
CATEGORIAS
ELEMENTOS
AGLUTINADORES
UNIDADE DE
ANÁLISE
Fonte: da autora
Moraes e Galiazzi (2016, p.34) argumentam que a análise textual discursiva pode ser
compreendida como um processo auto organizado de construção baseado na compreensão em
que os entendimentos emergem a partir de uma sequência recursiva de três componentes: a
desconstrução dos textos do “corpus”, a unitarização; o estabelecimento de relações entre os
elementos unitários, a categorização; o captar o emergente em que a nova compreensão é
comunicada e validada.
147
Nesse sentido, com base nos estudos de Lee Shulman, sobre o conhecimento pedagógico
do conteúdo (PCK), referencial teórico desta pesquisa, estabelecemos categorias a priori.
Conforme Shulman (1987), o PCK representa uma das categorias da Base de Conhecimentos
para o Ensino, passou a traduzir um corpo teórico de conhecimentos sobre a prática pedagógica
do professor, englobando aspectos que são utilizados por ele em sala de aula com o objetivo de
tornar o assunto compreensível aos estudantes.
Shulman (1987) estabelece sete categorias de conhecimento de base para o ensino,
contemplando:
- Conhecimento do Conteúdo (Content Knowledge), referente aos conhecimentos dos
conteúdos específicos;
- Conhecimento do Currículo (Curriculum Knowledge), referente à organização
curricular;
- Conhecimento Pedagógico Geral (General Pedagogical Knowledge), referente aos
conhecimentos pedagógicos;
- Conhecimento dos Alunos e suas Características (Knowledge of Learners and Their
Characteristics), referente à contextualização social dos estudantes;
- Conhecimento dos Contextos Educacionais (Knowledge of Educational Contexts),
referente à contextualização social dos estudantes;
Conhecimento dos Objetivos, Finalidades e Valores Educacionais (Knowledge of
Educational Ends, Purposes, and Values), referente às finalidades educacionais dos
processos de ensino-aprendizagem;
- Conhecimento Pedagógico do Conteúdo (Pedagogical Content Knowledge), referente
aos modos do professor representar e formular um conteúdo que o faz compreensível,
sendo assim um conhecimento que vai além do conhecimento do conteúdo em si e chega
na dimensão do conhecimento do conteúdo para o ensino.
Diante dos conhecimentos propostos por Shulman, destacamos quatro categorias
a priori, possíveis de serem extraídas do CoRe.
- O conhecimento do conteúdo;
- O conhecimento pedagógico;
- O conhecimento dos alunos e da aprendizagem;
- O conhecimento pedagógico do conteúdo.
As categorias a priori, que de acordo com Moraes e Galiazzi (p. 122, 2016) são
categorias em que o pesquisador procura correspondência ou associações com modelos teóricos
148
que assumiu anteriormente na pesquisa, procurando integrar seus resultados com esses marcos
teóricos iniciais.
As categorias emergentes são teorias implícitas dos sujeitos a partir das informações
coletadas, que segundo Moraes e Galiazzi (2016, p.122) são interpretações baseadas em teorias
que vão emergindo das análises. Após análise dos dados coletados, emergiu uma categoria a
partir das dificuldades que os professores manifestam durante o processo de ensino-
aprendizagem da Botânica, a qual, neste trabalho, foi nomeada de - Limitações para o ensino e
aprendizagem da Botânica.
A primeira categoria, “o conhecimento do conteúdo”, está relacionada diretamente
com o conteúdo a ser ensinado, é o conteúdo específico que Shulman (1986, p. 10) pontua que
os professores, ao pensarem sobre os conteúdos específicos de uma disciplina, precisam
extrapolar os limites de fatos e conceitos de um determinado domínio e
[...] não devem ser somente capazes de definir para os alunos as verdades aceitas no
âmbito da disciplina. Eles devem também explicar porque uma particular afirmação é
dita garantida, e porque vale a pena saber e como isso se relaciona com outras
afirmações.
Para Marcon (2013, p. 46) ao mesmo tempo que o pleno domínio do conteúdo específico
amplia as possibilidades de intervenção docente, sua deficiência restringe os caminhos pelos
quais os professores podem transitar para o seu ensino aos alunos.
Trazemos algumas unidades de análise, a fim de que, possamos exemplificar como os
professores participantes da formação, manifestam suas ideias no que diz respeito ao conteúdo
das angiospermas:
PU1(...) flores e frutos.
P2U3 (...) adaptações.
P4U4 Importância econômica, ecológica, na alimentação (...).
P5U5 (...) o ponto evolutivo.
P7U18 (...) pontuamos como ideia um os conceitos gerais, a ideia dois a morfologia, a
ideia três a fisiologia e a ideia quatro o ciclo reprodutivo. (...).
As unidades de análise descritas, nos trazem ao encontro dos elementos aglutinadores,
que segundo Moraes (2003) são utilizados para costurar as diferentes categorias produzidas, na
representação da compreensão do todo. Como elementos aglutinadores dessas unidades temos
as “características específicas do grupo”, as “ideias norteadoras para o estudo das
angiospermas” e “o estudo da Botânica sob diversos pontos de vista”. São esses elementos que
149
dão sentido à categoria, pois expressam a forma de pensar o conteúdo específico a ser
trabalhado pelo professor.
Definimos o conhecimento específico de acordo com BOLZAN (2006, p. 357-358),
[...] conhecimentos sobre a matéria a ser ensinada pelo professor. Constitui-se por
elementos conceituais e organizacionais dos conteúdos próprios da disciplina,
envolvendo ideias, informações, definições, convenções e tópicos gerais, bem como
sua estrutura organizacional. Implica no conhecimento das tendências e perspectivas
de seu campo específico, incluindo as diferentes interpretações de um mesmo
fenômeno e suas relações pelo professor.
É preciso insistir que tudo quanto fazemos em aula, por menor que seja, incide em
maior ou menor grau na formação de nossos alunos. A maneira de organizar a aula, o
tipo de incentivos, as expectativas que depositamos, os materiais que utilizamos, cada
uma destas decisões veicula determinadas experiencias educativas, e é possível que
nem sempre estejam em consonância com o pensamento que temos a respeito do
sentido e do papel que hoje em dia tem, a educação. (ZABALA, p.29,1998).
por exemplo, os conhecimentos escolares podem ser reconhecidos pela forma como são
organizados, uma vez que são apresentados aos alunos de modo mais claro, direto e progressivo.
Diante desse contexto, as unidades de análise utilizadas para expressar a categoria
“conhecimento pedagógico”, foi baseada nos seguintes relatos:
P1U65 (...) tem que levar para mostrar e explicar (...).
U67 (...)as aulas práticas, daí nós achamos que os procedimentos seriam, basicamente,
aulas práticas ou sair a campo ou trazer para a escola.
P2U68 (...). Em relação ao ciclo reprodutivo, esquemas e aulas práticas. Imagens,
ilustrações porque entender aquela questão do ovário, da parte feminina, da parte masculina
só observando mesmo, pegando a flor (...);
P3U70 (...) jogos e construção de cartazes coletivos (...);
Esses relatos vêm ao encontro do que Shulman (1986) propõe, “não aprendemos a partir
da experiência; nós aprendemos pensando sobre nossa experiência”. Trata-se de compreender
os conteúdos da disciplina que ministra sob a perspectiva epistemológica (MONTEIRO, 2002).
Os professores participantes revelam em seus relatos um conjunto de expectativas e
desejos de desenvolvimento da prática docente, que decorre de diversas estratégias de ensino e
uma multiplicidade de fatores de desenvolvimento profissional, assim, destacamos na figura
31, os elementos aglutinadores dessa categoria, que cumpre de certa forma uma função
motivadora, a partir de situações próximas dos interesses dos alunos.
151
Fonte: da autora
152
Fonte: da autora
Fonte: da autora
Para Caldeira (2005), o ensino de Ciências deve propiciar ao aluno o diálogo permanente
com o ambiente, possibilitando-lhe, a partir do conhecimento espontâneo ou de senso comum,
158
básicos que a academia nos fornece e a prática fica mais a desejar porque não tiveram esse
conhecimento, tem que buscar por conta esse conhecimento e nem sempre vai ter todo aquele
detalhamento que seria necessário ter para que os alunos consigam entender e gostar dessa
forma da Botânica”.
Salatino e Buckeridge (2016), acreditam que muitos professores têm uma formação
insuficiente em Botânica, não conseguindo nutrir o entusiasmo e a motivação dos seus alunos
no processo de ensino e aprendizagem, fazendo com que fiquem entediados e desinteressados
pelo tema. Nesse ponto, fica evidente que a formação continuada é de grande importância e ela
não é compreendida como algo que ocorra esporadicamente no decorrer da carreira docente, é
vista como uma das múltiplas dimensões que constituem a formação docente desde a sua
graduação e ao longo de sua vida profissional (PLACCO; SILVA, 2001, p. 25-32).
Sobre isso, de acordo com os relatos descritos no corpo do texto, fizemos uma
investigação do que mais foi pontuado nas unidades de análise pelos professores, após as
transcrições do CoRe. A figura 34, representa a nuvem de palavras que resume essa
investigação.
Nota-se que nesta “análise”, a palavra não foi destaque e consequentemente gerou uma
certa preocupação, em busca de respostas, então fizemos uma releitura de todas as Unidades de
160
análise e constatamos que o “não” faz referência aos conceitos que não são trabalhados
diretamente em aula, como a transgenia e a sistemática. Além disso, os professores não
possuem o conhecimento suficientemente adequado para ensinar a morfologia das plantas,
principalmente no que se refere as flores e frutos em aulas práticas. Quando citam as aulas
práticas, falam da falta de materiais durante as atividades, não possuem materiais apropriados.
Outras formas em que o não está apontado, faz menção a importância das plantas para a
alimentação, não só para os seres humanos, mas como sustentação da cadeia alimentar e a
conceitos que os alunos não se recordam de anos anteriores vistos na escola.
Abaixo seguem relatos das Unidades de análise dos professores onde o não está
indicado e destacado na figura 34.
U11 (...) nós sabemos que tem as divisões taxonômicas, as relações de parentesco, a
existência de fósseis (...). Na importância do grupo, (...) a parte medicinal, farmacêutica (...).
adaptações do grupo, os agrotóxicos, as mutações, a transgenia que a gente sabe, mas que não
trabalha diretamente. (...) no ciclo reprodutivo, as características genéticas (...).
U17 Eles chegam muitas vezes ao ensino médio, dizendo isso, que as plantas não
respiram.
U18 Comentam também que as plantas não respiram à noite, que a planta não come.
U20 (...) da para enfatizar esse ciclo, não aprofundado, claro, igual ao ensino médio.
(...).
U21 (...) sistemática em geral, as nomenclaturas, famílias, que em geral a gente não
passa, que dai não assusta.(...), os hormônios vegetais e o controle do desenvolvimento das
plantas e as fases de fotossíntese. (...)
U22(...), eu não falo pra eles em criptógamas e fanerógamas, falo, mas não com os
nomes, pra não ficarem com a ideia que ciências é difícil.(...)
U26 Não
U39 Uma coisa que eles não entendem é quando tem uma vagem por exemplo, a vagem
é um fruto, e eles não entendem que é fruto e não dá para comer. (...).
U40 O fruto de verdade, a parte externa a gente não come.
U68 O sexto ano, nos fatores bióticos e abióticos, eles sempre acham que a planta não
se mexe, ela é abiótico.
U72 (...) acho que é e não é, a gente se surpreende.
U78 (...) tudo o que eles enxergaram lá na escola, que não tinha fruto, eles colocaram
na gimnosperma (...).
U83 Não
161
U85 Não
U91 (...), temos que lembrar eles o que é mitose e meiose,(...), tem que retomar tudo, às
vezes a gente fala, autótrofos, heterótrofos, eles não lembram desses termos que na verdade
são básicos na biologia (...).
U95 (...) o conceito, a morfologia externa, reprodução e a importância ecológica.(...),
as características gerais, noções de distribuição e biodiversidade.(...), colocamos identificar
as principais partes e tentar relacionar essas partes com as funções que elas têm.(...) identificar
os órgãos reprodutivos, processos de polinização e na importância ecológica, que eles
consigam relacionar aquelas plantas como fonte de alimentos, não só para o ser humano, mas
como sustentação na cadeia alimentar para todos os seres vivos e a responsabilização com
relação a preservação ambiental.(...), estabelecer uma relação cotidiana deles e com essa
sustentação das formas de vida no planeta.(...).
U99(...) , é que no ensino fundamental, como a gente não entra tanto no conceito em si,
a gente tem interagir esse conceito com o ambiente e a vida dele, a gente entra mais na parte
ambiental. No ensino médio, a gente, e eles também nos cobram, temos que entrar nos
conceitos, porque tem o ENEM, vestibular. (...)
U100 (...) a gente encontra maior dificuldade é na ideia dois, morfologia, que eles
precisam de maior visualização, de observação maior. (...), a gente esbarra com a falta de
material, a escola não tem uma lupa, um microscópio para fazer com que ele possa enxergar
o que a gente tá tentando mostrar a ele.
U101 (...) O problema maior que eu acho é nas angiospermas, eles querem saber onde
estão as características como flor e fruto.(...) Para eles identificarem e visualizarem, essa é
minha dificuldade de não saber mostrar onde fica por exemplo, (...).
Os documentos escolares, como o Projeto Político Pedagógico (PPP), apontam a
formação continuada como um objetivo da escola, onde buscam “aperfeiçoar constantemente
o quadro docente para o aprimoramento dos métodos e técnicas aplicadas no desenvolvimento
do processo ensino-aprendizagem”, e diante da base do conhecimento proposto por Shulman
(1986), que abrange além dos conhecimentos para as atividades docentes, como também
concepções e disposições construídas em diferentes contextos e momentos de que o professor
necessita para promover o ensino e aprendizagem dos alunos. Nesse caso, esse objetivo está
atrelado ao conhecimento pedagógico geral, pois, é um momento em que o professor consegue
planejar sua prática docente e ao mesmo tempo refletir de forma crítica sobre ela.
162
Fonte: da autora
Pedagógico, sendo esse de fundamental importância para que ocorra o processo de ensino-
aprendizagem, isto é, para que ocorra a base do conhecimento. Para Shulman (1987) o
conhecimento pedagógico geral, abrange quatro dimensões de conhecimento, relativas aos
alunos e à aprendizagem; a gestão da sala de aula; ao currículo e à instrução.
Além dos objetivos, analisamos também as finalidades da Escola, inseridas no Projeto
Político Pedagógico, como mostra alguns recortes feitos, no quadro 11.
Conhecimentos/Base do conhecimento
Finalidades dos PPP
Shulman (1986)
“(...) tem por finalidade oferecer aos alunos, um
- Conhecimento dos objetivos, da finalidade, dos
currículo baseado por competências básicas, onde
valores educativos e de seus fundamentos filosófico
todos saem de seus cursos, preparados para enfrentar
e histórico.
sua nova situação de vida, ou cursar uma Faculdade.”
No que diz respeito às finalidades das propostas pedagógicas das escolas, observamos
que estão estruturadas da mesma forma que os objetivos, apontam alguns conhecimentos da
base de conhecimento proposta por Shulman (1986), as finalidades estão centradas no
conhecimento dos objetivos, da finalidade, dos valores educativos e de seus fundamentos
filosófico e histórico; no conhecimento do contexto educativo e no conhecimento dos alunos e
suas características.
Corroborando com análises realizadas nesta investigação, não identificamos nos
objetivos e finalidades, desse importante documento de gestão escolar, o Projeto Político
Pedagógico, sobre o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo (PCK), um dos conhecimentos
básicos necessários para a profissão docente. Segundo Shulman (1986) o PCK se sobressai
dentro da base de conhecimentos em função da sua relevância, não apenas para a atuação do
professor, mas também por sua importância nos processos de formação inicial e continuada.
No que diz respeito aos Planos de Ação das escolas participantes da formação, fizemos
uma análise dos mesmos para verificar se estavam relacionados a base de conhecimento,
especificamente no conhecimento pedagógico do conteúdo. Em linhas gerais, nos deparamos
com listas de conteúdo específico por ano, tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio,
apenas uma escola contemplou nosso objetivo de busca, que é identificar a existência de
preocupação relacionada ao conhecimento pedagógico do conteúdo.
Em relação aos conteúdos de Botânica, os mesmos são contemplados nas “listas”, porém
nos chama atenção que em alguns “Planos”, o mesmo Eixo temático contempla plantas
167
Fonte: da autora
Dos Planos de ação analisados, constata-se que grande parte deles não contempla a base
de conhecimentos, nem o conhecimento pedagógico do conteúdo, apenas representam uma lista
de conteúdos que não se enquadra também no conhecimento do currículo, pois, segundo
Shulman (2004) o conhecimento do currículo necessita ter um domínio dos materiais e
programas que servem como ferramentas para o exercício da docência.
A escola que contemplou a existência da preocupação relacionada ao conhecimento
pedagógico do conteúdo em seu Plano de ação, descreveu nos objetivos da área da Ciência,
onde contempla “Combinar leituras, observações, experimentações, registros, etc., para
organização, comunicação e discussão de fatos e informações”. Além dos objetivos, são citadas
metodologias ligadas ao conhecimento pedagógico do conteúdo na área das Ciências, “Jogos
de Ciências; Produções textuais; Pesquisas bibliográficas; Uso das TIC; Situações-problema
relacionadas ao cotidiano do aluno; Proporcionar estudo em ambientes diferentes ao da sala de
169
aula (Laboratório de Ciências, por exemplo); Trabalhos com iniciação a projetos; Tabelas
comparativas; Estudos dirigidos; Aulas práticas ou demonstrativas; Expressão em desenhos ou
recortes; Relacionar conteúdo com o cotidiano através de publicações de jornais ou revistas;
etc.”
O conteúdo de Botânica apontado nesse Plano de ação, está voltado ao 6º ano do Ensino
Fundamental, no qual a ementa traz o “Estudo da organização dos seres vivos no meio físico,
relações entre seres vivos e entre eles e o meio que ocupam, os impactos causados pela ação e
intervenção humana no meio físico para atender as necessidades individuais e coletivas, a
classificação dos seres vivos, sua relação com o equilíbrio ecológico e com a manutenção
econômica do planeta”. Os conhecimentos do 6º ano, no que diz respeito ao Reino Plantae,
estão: Características; Classificação (Briófitas, Samambaias, Gimnospermas e Angiospermas);
Partes da planta; Fotossíntese; Plantas medicinais.
O conhecimento pedagógico do conteúdo, é descrito como uma mistura entre o conteúdo
e a pedagogia, demonstrada por uma compreensão de como transformar o conhecimento
relacionado a um determinado conteúdo em “formas que são pedagogicamente importantes e
adaptáveis ao entendimento dos estudantes” (SHULMAN, 1987, p. 15). Mais concisamente,
PCK é o conhecimento que os professores usam na transformação do assunto em formas
compreensíveis para os alunos (GROSMSMAN, 1990; SHULMAN, 1987).
No que tange ao conhecimento pedagógico do conteúdo e a forma de como a Botânica
está inserida no contexto escolar, averiguamos nos documentos que norteiam a Educação
Básica, como nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Base Nacional Curricular
Comum (BNCC).
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 58), é papel
do professor criar oportunidades de contato direto de seus alunos com fenômenos naturais e
artefatos tecnológicos, em atividades de observação e experimentação, nas quais fatos e ideias
interagem para resolver questões problematizadas, estudando suas relações e suas
transformações, impostas ou não pelo ser humano.
Também é fundamental ao professor segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
(BRASIL, 1998, p.59) ouvir de seus alunos quais os significados pessoais que dão para o que
se está estudando. Em resposta, o professor buscará problematizar para promover a evolução
conceitual do aluno, a aprendizagem dos procedimentos e a compreensão dos valores humanos.
Esses trechos demonstram que os PCN estão inseridos no contexto do conhecimento
pedagógico do conteúdo, pois demonstra todo o esforço que o professor deve fazer para tornar
a aula compreensível, para o aluno (SHULMAN, 1987). Sendo assim, o conhecimento
170
No que diz respeito ao conteúdo específico da Botânica, nos PCN (BRASIL, 1998) do
Ensino Fundamental, observamos que as plantas estão inseridas no Eixo temático Vida e
Ambiente (BRASIL, 1998, p.69) e apresentam como tema de estudo
No eixo temático ser humano e Saúde (BRASIL, 1998, p.73), associado ao eixo
temático Vida e Ambiente, o conteúdo da Botânica está direcionado para que os estudantes
investiguem:
o corpo e o comportamento dos seres vivos, compreendendo que diferentes
organismos, desde as plantas, os menores invertebrados e outros mais semelhantes ao
ser humano, realizam as funções vitais essenciais para a manutenção da vida durante
seu ciclo a obtenção do alimento, o aproveitamento de sua energia, o crescimento (ou
reposição de tecidos) e a reprodução (BRASIL, 1998, p.73).
que foram produzidos, em que época, apresentando a história da Biologia como um movimento
não linear e frequentemente contraditório.
Diante disso, cabe ao professor selecionar os conteúdos e escolher metodologias
coerentes as intensões educativas propostas neste documento, sendo essencial o
desenvolvimento de posturas e valores pertinentes às relações entre os seres humanos, entre
eles e o meio, entre o ser humano e o conhecimento, contribuindo para uma educação que
formará indivíduos sensíveis e solidários, cidadãos conscientes dos processos e regularidades
de mundo e da vida, capazes assim de realizar ações práticas, de fazer julgamentos e de tomar
decisões (BRASIL, 1998).
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM),
aprender Biologia na escola básica permite ampliar o entendimento sobre o mundo vivo e,
especialmente, contribui para que seja percebida a singularidade da vida humana relativamente
aos demais seres vivos, em função de sua incomparável capacidade de intervenção no meio
(BRASIL, 2000, p. 31).
O PCNEM, apontam que nos ciclos finais do ensino fundamental, os alunos
sistematizam concepções científicas mais estruturadas em relação aos seres vivos, ao ambiente,
ao corpo humano, à qualidade de vida das populações e aos sistemas tecnológicos (BRASIL,
2000, p. 34).
Já no Ensino Médio, essa perspectiva deve ter continuidade, pois, os PCNEM assinalam
que a apropriação dos códigos, dos conceitos e dos métodos de cada uma das ciências deve
servir para “[...] ampliar as possibilidades de compreensão e participação efetiva nesse mundo”
e, dessa forma, desenvolver o saber científico e tecnológico como “[...] condição de cidadania,
e não como prerrogativa de especialistas” (BRASIL, 2000, p.35).
O ensino da Biologia tem sido organizado em torno das várias ciências da vida –
Citologia, Genética, Evolução, Ecologia, Zoologia, Botânica, Fisiologia –, e as situações de
aprendizagem, não raramente, enfatizam apenas a compreensão dessas ciências, de sua lógica
interna, de seu instrumental analítico, de suas linguagens e conceitos, de seus métodos de
trabalho, perdendo de vista o entendimento dos fenômenos biológicos propriamente ditos e as
vivências práticas desses conhecimentos (BRASIL, 2000, p.35).
O ensino de Botânica privilegia a classificação, a anatomia e a fisiologia comparadas
(BRASIL, 2000, p.35).
As principais áreas de interesse da Biologia (BRASIL, 2000, p.41) estão sintetizadas em
seis temas estruturadores:
1. Interação entre os seres vivos
173
Jogos
Seminários
Estratégias de
ensino de Biologia
Projetos Experimentação
Fonte: da autora
Diante do exposto, constatamos que a Botânica está inserida em três dos seis temas
apontados como temas de interesse para o ensino de Biologia, entre eles a Diversidade da vida,
a Transmissão da vida, Ética e manipulação gênica, Origem e evolução da vida.
Neste ponto, gostaríamos de fortalecer a ideia de que a Botânica, ou melhor, que as
plantas são fundamentais para a existência da vida e cabe ao professor conseguir relacionar esse
aspecto aos outros temas, pois quando pensamos em interações entre os seres vivos e a
qualidade de vida das populações humanas, não podemos esquecer que as plantas são a base da
cadeia alimentar, e juntamente com as algas, responsáveis pela produção de gás oxigênio,
importante para a respiração dos seres vivos, além de contribuir para a produção de energia nas
células.
Sendo assim, o ensino da Botânica permite aos alunos, compreenderem e reconhecerem
o ambiente à sua volta, identificando as características botânicas que estão presentes em nosso
cotidiano, como por exemplo, a alimentação, as roupas, o material escolar, a produção de
medicamentos, além de mostrar a importância das plantas para a manutenção da vida nos
ecossistemas através da formação de chuvas, manutenção do clima, enfim, sua utilização como
recursos para diferentes formas de vida, inclusive os seres humanos.
Em relação as estratégias de ensino da Biologia, ressaltamos que os PCN se preocupam
com as transformações do conteúdo a serem desenvolvidos em sala de aula, facilitando a
compreensão dos alunos. Shulman (2004, p. 205) atribui as transformações desses
175
o estudo de questões relacionadas aos seres vivos (incluindo os seres humanos), suas
características e necessidades, e a vida como fenômeno natural e social, os elementos
essenciais à sua manutenção e à compreensão dos processos evolutivos que geram a
diversidade de formas de vida no planeta. Estudam-se características dos ecossistemas
destacando-se as interações dos seres vivos com outros seres vivos e com outros seres
vivos e com os fatores não vivos do ambiente, com destaque para as interações que os
seres humanos estabelecem entre si e com os demais seres vivos e elementos não vivos
do ambiente (BRASIL, 2017, p.326).
No que tange a proposta da BNCC para o Ensino Médio percebemos que apenas os
componentes curriculares de Português e Matemática são obrigatórios, ou seja, outros
itinerários formativos, como as Ciências da Natureza e suas tecnologias, são facultativos nas
escolas. Sendo assim, o ensino de Botânica nessa proposta curricular, fica prejudicado, além
das dificuldades encontradas por professores e alunos, de certa forma ela está negligenciada até
mesmo em documentos oficiais que regem a Educação Básica no Brasil, em nenhum momento
a Botânica é citada na organização dessa base comum. Nesse cenário, é importante
promovermos um movimento de resistência e valorização das plantas e de seu ensino (URSI et
al., 2018, p.12).
178
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das inquietações descritas na introdução dessa pesquisa e na busca por respostas
relativas à formação de professores de Ciências e Biologia, atuantes na Educação Básica,
direcionamos esta pesquisa ao objetivo de analisar como esses professores manifestam o
Conhecimento Pedagógico do Conteúdo em Botânica. Para Shulman (1986) o Conhecimento
Pedagógico do Conteúdo é uma das formas mais úteis de representação do conteúdo através de
analogias, ilustrações, exemplos, explicações e demonstrações. Segundo o autor, “são formas
de representar e formular o assunto que o tornam compreensível para os outros”. Sendo assim,
o professor deve ter em mãos um verdadeiro arsenal de alternativas de representação, algumas
das quais derivam da pesquisa enquanto outras se originam da sabedoria da prática.
De acordo com os resultados apresentados, destacamos alguns aspectos importantes que
observamos durante a formação de professores oferecida aos participantes dessa pesquisa.
Percebemos o quanto é necessária a formação continuada voltada aos conteúdos específicos a
serem trabalhados em sala de aula, como a Botânica. Estabelecer um momento para o diálogo
e a reflexão da prática docente permite ressignificar o ensino e a aprendizagem, são momentos
como esse que percebemos que ser professor é muito mais que dar aulas, aplicar e corrigir
provas. A docência exige esforço, preparo, conhecimento, pesquisa, dedicação e tempo, além
disso, requer comprometimento.
A formação continuada representa uma estratégia para que ocorra essa reflexão, pois
estimula os professores a se apropriarem dos conhecimentos de que são portadores e isso foi
observado e diagnosticado durante a formação pedagógica oferecida. Shulman (1987) atribuiu
a base de conhecimento de um professor sete tipos de conhecimentos necessários, sendo assim,
observamos em nossa prática o conhecimento do contexto educativo, o conhecimento dos
objetivos, da finalidade, dos valores educativos e de seus fundamentos filosófico e histórico,
conhecimento pedagógico geral, conhecimento dos alunos e suas características e o
conhecimento do currículo. Portanto, cinco deles foram identificados nos professores e
constatamos fragilidades em dois, no conhecimento do conteúdo e no Conhecimento
Pedagógico do Conteúdo.
Constatamos esses diferentes tipos de conhecimentos através da análise do questionário
diagnóstico, das observações, das anotações, das conversas informais registradas no diário de
bordo, e da construção do CoRe direcionado ao ensino de Botânica, em especial ao tema
Angiospermas. Compreendemos ao analisar o CoRe, que muitos professores possuem
dificuldades e/ou limitações nos conceitos em Botânica e atribuem essas dificuldades para a
179
formação inicial, onde alguns, segundo relatos, não foram estimulados a estudar Botânica
durante o curso de graduação, descrevem que os conteúdos eram desenvolvidos de forma
tradicional, com aulas expositivas, raramente aulas práticas aconteciam e quando aconteciam,
nomenclaturas eram abordadas junto com o uso de chaves para identificação de espécies, sem
ao menos instigar a curiosidade. Para os professores, suas aulas eram informações que não se
transformavam em conhecimento, atribuído ao fato que os professores não utilizavam recursos
necessários para fazer a representação do conteúdo.
Outros professores revelaram não possuir a formação adequada para dar aulas de
Botânica na escola, são graduados em outras licenciaturas como a Química, a Física e a
Matemática e estão atuando como professores de Ciências e Biologia para fazer o
preenchimento das vagas ofertadas nas escolas. O fato de não possuírem formação inicial
adequada ou específica da área compromete de certa forma o ensino e aprendizagem do
conteúdo em Botânica.
Além da formação inicial, outro aspecto observado no CoRe foi o planejamento dos
professores em relação ao conteúdo Angiospermas, organizado de forma coerente, destacando
o que realmente se faz necessário ensinar aos alunos do sexto ano do Ensino Fundamental e do
terceiro ano do Ensino Médio e quais as estratégias utilizadas para o ensino dessas ideias.
Percebemos que os professores possuem de “certa forma” o conhecimento do conteúdo, porém
de forma fragilizada, apenas o básico, pois quando questionados e instigados sobre um
determinado assunto, constatamos nesse momento as dificuldades conceituais, as lacunas
existentes no ensino de Botânica e a insegurança que muitos professores apresentaram nas
descrições de suas aulas, principalmente no que tange às atividades práticas, pelos “apertos”
provocados pelos alunos, quando questionados por exemplo, a respeito da existência ou não de
flores e frutos nas angiospermas, característica distinta do grupo.
Portanto, ao analisar como professores de Ciências e Biologia da Educação Básica
manifestam o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo em Botânica concluímos que os
professores o manifestam de forma fragilizada em Botânica, isso significa que eles
compreendem alguns conteúdos, mas apresentam dificuldades em outros que são importantes
para o processo de ensino e aprendizagem. Além disso, ficou evidente que são possuidores do
conhecimento pedagógico pois, planejam suas aulas, considerando sempre o conhecimento do
contexto dos alunos, visto que os professores precisam ter conhecimento das estratégias que
provavelmente serão mais proveitosas na reorganização da compreensão dos alunos, porque é
improvável que esses alunos comparecem diante deles como quadros em branco (SHULMAN,
180
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197
APÊNDICES
200
Caro(a) Professor(a),
Este questionário faz parte do Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática de Cinara Dal
Santo Pes, com orientação da Prof.ª. Drª. Thais Scotti do Canto-Dorow, e tem por objetivo
analisar como professores da Educação Básica (sexto ano do Ensino Fundamental e terceiro
ano do Ensino Médio) manifestam o Conhecimento Pedagógico do Conteúdo em Botânica.
Solicitamos a sua gentileza para responder as questões que seguem:
1. Idade:
2. Graduação:
( )Licenciatura. ( ) Bacharelado.
10. OLIVEIRA, MARIANA RESENDE DE. A educação virando o jogo: Análise do uso de
materiais didáticos lúdicos na formação de professores de Ciências Biológicas' 22/03/2013
127 f. Mestrado em ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA Instituição de Ensino:
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, São Cristóvão.
11. ALMEIDA, CAROLINE MEDEIROS MARTINS DE. Prática educativa usando o
sistema Siena para o ensino de Ecologia no 6° ano do Ensino Fundamental' 19/03/2014 109
f. Mestrado em ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA Instituição de Ensino:
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL, Canoas.
12. MELO, REGINEIDE MENESES. Meio ambiente: Um estudo das representações sociais
de professores de Biologia dos centros de excelência de Sergipe' 27/03/2014 85 f. Mestrado
em ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA Instituição de Ensino: FUNDAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, São Cristóvão.
13. SANTO, PAMALA JESSICA DE OLIVEIRA. Análise do uso de jogos didáticos de
Biologia no Ensino Médio: Desvelando sua eficácia na aprendizagem dos alunos' 25/03/2014
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SERGIPE, São Cristóvão.
15. CORREIA, ISABELA SANTOS. Abordagem CTSA no ensino de Ecologia: uma
contribuição para a formação de cidadãos críticos' 27/02/2014 142 f. Mestrado em ENSINO
DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA Instituição de Ensino: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SERGIPE, São Cristóvão.
16. LIMA, JOSAEL BRUNO DE SOUZA. Percepção ambiental de discentes e docentes da
Educação Básica: Um estudo em escolas públicas de ARACAJU/SE' 29/08/2014 93 f.
Mestrado em ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA Instituição de Ensino:
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, São Cristóvão
17. VIEIRA, MARIA JOSE GUIMARAES. Um olhar sobre o corpo em Escola Indígena:
Diálogos entre o ensino de Ciências e as concepções dos alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental' 25/05/2017 129 f. Mestrado em ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA
Instituição de Ensino: FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, São
Cristóvão.
18. DIAS, ALEXANDRE PRADO. Desenvolvimento de habilidades e competências no
ensino de Ciências por meio das tecnologias' 04/11/2016 113 f. Mestrado em ENSINO DE
CIÊNCIAS Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL, São Paulo.
19. ARRUDA, ALINE FERREIRA SANTOS. Situações didáticas visando a Educação
Ambiental para a sustentabilidade no Cerrado: Concepções de alunos e professores de uma
Escola Pública' 27/06/2018 114 f. Mestrado em ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA
Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL, Canoas.
203
ANEXO
207