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Vitória
2019
ANDRESSA ERNANA SALES DE BRITO SOUZA
Vitória
2019
(Biblioteca do Centro de Referência em Formação e em Educação a Distância - Cefor)
CDD: 507
Bibliotecária: Viviane Bessa Lopes Alvarenga CRB/06-ES nº 745
Dedico este trabalho a todos os meus alunos e professores surdos,
obrigada por todo o aprendizado, generosidade e por proporcionar as
experiências que formaram meu perfil profissional. Vocês sempre farão
parte da minha história.
AGRADECIMENTOS
A Deus pelo seu infinito e impressionante amor, que sempre me sustentou enviando
seus anjos para me iluminar e proteger nos momentos mais difíceis na trajetória da
vida e principalmente durante o mestrado, não foi fácil, mas com sua incontável
bondade cheguei até aqui. A ti toda honra, glória e louvor!!!!
Aos meus amados pais, Ernandes e Angela, pelo amor incondicional e pela forma
como me criaram dentro dos preceitos éticos e morais, sem vocês nada seria de
mim!!!!
A minha irmã, Aurélia Salles, obrigada pelo seu amor, por sempre me apoiar, ser
meu ponto de equilíbrio, pelas infinitas horas de ligações me acalmando e dando
esperança nos momentos mais sombrios que passei na vida, em especial nesses
últimos 3 anos. Obrigada por sempre acreditar na minha capacidade e por fazer isso
quando eu mesma havia perdido a fé em mim. Você é a luz da minha vida, sangue
do meu sangue, meu eterno amor. Gratidão pela sua vida!
Ao meu esposo, Eron, por todo o amor, cuidado, companheirismo e por sonhar
meus sonhos comigo e ajudar a concretizá-los. Você foi a minha melhor escolha e
sempre será. Te amo vida!!!
A minha orientadora maravilhosa, Dra. Michele Waltz, exemplo de mulher linda, forte
e independente, obrigada por escolher a mim, como sua orientanda e por toda a
paciência que demonstrou durante a pesquisa. Gratidão por sempre acreditar na
potência da minha pesquisa e na minha capacidade para desenvolvê-la. Você
marcou para sempre minha trajetória acadêmica.
Aos membros da Banca Examinadora, Dra Lucyenne Mattos por ser minha grande
inspiração neste processo, você me marca de tal forma que não sou capaz de
expressar em palavras. Ao querido Dr. Edmar Thiengo, como me disse uma vez,
agora retribuo: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, minha
admiração é sua. Agradeço aos dois pela riqueza de suas contribuições ao trabalho.
Esta pesquisa teve por objetivo principal discutir práticas bilíngües inclusivas para
alunos surdos, mediadas pelo professor, e suas contribuições para a aprendizagem
de química orgânica. A discussão das práticas inclusivas se deu à luz da teoria da
práxis libertadora de Paulo Freire, da perspectiva histórico-cultural de Vygotsky e
perspectiva da escola para todos de Maria Tereza Égler Mantoan. Em seguida
apresentamos a ideia do conceito negativo por parte dos alunos no aprender
química estar pautado na maneira como este conteúdo é apresentado de forma
descontextualizada e maçante e na falta de apropriação de significados. Também foi
realizada contextualização histórica do leitor acerca do bilinguismo e breve
discussão sobre a perspectiva bilíngüe, principal metodologia desta pesquisa.
Quanto aos procedimentos metodológicos, a pesquisa exploratória teve por objetivo
descrever o cenário das aulas bilíngües de química e, para isso, foi feita busca na
literatura e entrevista com professores de química. Nesta pesquisa, se propôs
desenvolver e aplicar uma sequência didática bilíngüe no ensino de química
orgânica. A sequência foi pensada e desenvolvida a partir dos três momentos
pedagógicos de Delizoicov, Angotti e Pernambuco. Por se tratar de uma sequência
na perspectiva bilíngüe, todas as aulas e atividades se desenvolveram a partir de
uma abordagem visual/gestual, e foram ministradas nos dois idiomas no país, a
saber, Libras e Português, considerando a turma mista (composta por surdo e
ouvintes) na qual a pesquisa foi desenvolvida. Atendendo à necessidade apontada
pelos alunos, a pesquisadora desenvolveu uma “Apostila inclusiva de Química
Orgânica”. Como consequência das análises e conclusões desta pesquisa, foi
elaborado um manual didático para professores como produto educacional,
intitulado: “Química para todos: uma abordagem democrática no ensino de funções
orgânicas a partir de uma perspectiva bilíngue”. Ao discutir práticas bilíngües no
contexto dessa pesquisa, pôde-se perceber que o aluno surdo teve oportunidade de
participar do processo de aprendizagem e se relacionar de forma colaborativa com
os demais colegas ouvintes, o que caracteriza o objetivo da inclusão.
This research aimed to discuss inclusive bilingual practices for deaf students,
mediated by the teacher, and their contributions to the learning of organic chemistry.
The discussion of inclusive practices took place in the light of Paulo Freire's theory of
liberating praxis, Vygotsky's historical-cultural perspective, and Maria Tereza Égler
Mantoan's school for all perspective. Then we present the idea of the negative
concept on the part of students in learning chemistry to be based on the way this
content is presented in a decontextualized and dull way and the lack of appropriation
of meanings. It was also performed historical contextualization of the reader about
bilingualism and brief discussion about the bilingual perspective, main methodology
of this research. As for the methodological procedures, the exploratory research
aimed to describe the scenario of bilingual chemistry classes and, for this, a literature
search and interview with chemistry teachers were made. In this research, it was
proposed to develop and apply a bilingual didactic sequence in the teaching of
organic chemistry. The sequence was designed and developed from the three
pedagogical moments of Delizoicov, Angotti and Pernambuco. Because it is a
bilingual perspective sequence, all classes and activities were developed from a
visual / gestural approach, and were taught in both languages in the country, namely
Libras and Portuguese, considering the mixed class (composed by deaf and
listeners) in which the research was developed. Given the need pointed out by the
students, the researcher developed an “Inclusive Handbook of Organic Chemistry”.
As a consequence of the analysis and conclusions of this research, a didactic
manual for teachers as an educational product was elaborated, entitled: "Chemistry
for all: a democratic approach in the teaching of organic functions from a bilingual
perspective". By discussing bilingual practices in the context of this research, it was
clear that the deaf student had the opportunity to participate in the learning process
and collaboratively relate to other fellow listeners, which characterizes the goal of
inclusion.
Figura 11 - Slide utilizado para explicar o sinal dos fenóis e sua origem........ 81
Química............................................................................................ 41
ouvintes............................................................................................ 45
......................................................................................................... 49
.......................................................................................................... 65
discussão..........................................................................................
76
didática............................................................................................. 82
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 14
1 INTRODUÇÃO
No entanto, não era habilitada, pois apesar de saber o idioma fluentemente, não
possuía nenhuma formação com diploma de comprovação, foi então que comecei a
minha trajetória com a qualificação profissional em Libras. Após um ano de cursos e
já certificada, ingressei como intérprete na escola, e desde então, sempre segui
fazendo cursos e me especializando na área. Tudo em paralelo com a graduação
em Química.
Surge então o problema central discutido nesse projeto de pesquisa, que se baseia
na realidade atual da maioria das escolas que têm alunos surdos é pautada na
presença de um professor regente e de um intérprete, na qual o professor não tem
formação específica para ensinar para surdos e por sua vez o intérprete não tem
17
Então, a hipótese elaborada para esta pesquisa é que as aulas ministradas por um
professor de Química Bílingue pode contribuir com o aluno surdo e também
ouvintes, para a aprendizagem do conteúdo de funções químicas orgânicas,
ofertando o ensino de conceitos da disciplina na perspectiva inclusiva e apropriada
às necessidades específicas do aluno proporcionando melhor oportunidade de
aprendizagem.
1.1.1 Geral
1.1.2 Específicos
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo o dicionário Michaelis, a primeira definição para o termo inclusão que vem
do latim “lat inclusĭo”, significa:
O dicionário ainda traz uma definição para a expressão inclusão social, que diz:
Ato de trazer aquele que é excluído socialmente, por qualquer motivo, para
uma sociedade que participa de todos os aspectos e dimensões da vida,
isto é, dos âmbitos, econômico, cultural, político, religioso etc. A inclusão
social não se restringe apenas a pessoas portadoras de necessidades
especiais, e sim a todos que se sentem excluídos do grupo social, como
pobres, negros, idosos, imigrantes, homossexuais etc (INCLUSÃO, 2018).
Quanto aos critérios de igualdade a LBI defende no art. 28 que o poder público deve
exigir das instituições de ensino um:
Nosso modelo educacional atual, há tempos apresenta sinais de falência e abre para
um grande vazio de idéias, essa combinação de fatores se apresenta oportuna a
uma quebra de paradigma e contestação das concepções atuais, proporcionando a
ressignificação do conhecimento e proporcionando o momento oportuno para
transformações.
A teoria da Educação para todos de Paulo Freire, embora tenha sido desenvolvida
anteriormente ao movimento mundial da inclusão, se apresenta atemporal e
corrobora com as discussões a respeito do tema.
Segundo Marques (et al., 2015), “a padronização dos (das) alunos (as) e a educação
bancária vêm sendo substituídas pela valorização da heterogeneidade humana, da
diversidade, consagrando-se o período de ruptura paradigmática”.
Para Freire, essa ruptura se baseia no sonho pela humanização dos sujeitos, que:
24
[....] é sempre processo, e sempre devir, passa pela ruptura das amarras
reais, concretas, de ordem econômica, política, social, ideológica etc., que
nos estão condenando à desumanização. O sonho é assim uma exigência
ou uma condição que se vem fazendo permanente na história que fazemos
e que nos faz e re-faz ( FREIRE, 2001, p. 99).
A pedagogia tem de ser forjada com ele (o oprimido) e não para ele,
enquanto homens ou povos, na luta incessante de recuperação de sua
humanidade. Pedagogia que faça da opressão e de suas causas objeto da
reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na
luta por sua libertação, em que esta pedagogia se fará e refará. (FREIRE,
1987, p. 17).
Freire defendia uma reflexão pessoal dos sujeitos com relação ao seu contexto
cultural, social, político e sua posição como ser histórico.
Por esta ótica, Vygotsky (1997) identifica que as funções psicológicas são
desenvolvidas por meio das interações da criança com os diferentes contextos
culturais e históricos que está inserida, considerando a gênese social do
desenvolvimento das ações humanas e questionando o ideal do funcionamento
mental como uma estrutura homogênea de funções isoladas.
No cotidiano escolar, é comum ouvir dos alunos que a disciplina de química, é algo
apavorante e se resume a fazer cálculos e compreender teorias abstratas que não
fazem sentido. Esse pensamento é compreensível na ótica que, de forma geral, esta
ciência possui códigos, símbolos e palavras próprias que as caracterizam.
27
Concordamos com Chassot (1990, p. 30) quando ele diz que: “a Química é também
uma linguagem. Assim, o ensino da Química deve ser um facilitador da leitura do
mundo. Ensina-se Química, então, para permitir que o cidadão possa interagir
melhor com o mundo”.
Nesta pesquisa, será usado o termo surdo, de acordo com o Decreto n° 5.626, de 22
de dezembro de 2005, termo que concordamos cujo texto refere o Capítulo 1, Art.
2°.
Embora não se tenha provas exatas dos acontecimentos citados por Benvenuto aos
surdos, também não há na literatura muitos registros da inclusão de surdos nos
moldes da antiguidade clássica (BREGONCI, 2012).
Ainda citando Bregonci (2012, p.64), na idade média, os surdos não eram
considerados monstros, no entanto passavam despercebidos entre a sociedade.
Muitos eram adotados por instituições religiosas, já que a maioria das ordens faziam
votos de silêncio e existia a obrigatoriedade do uso de signos para se comunicarem,
assim, nesses espaços a figura dos surdos não era vista com estranheza, acredita-
se que são desses gestos que surgiu mais tarde a Língua de Sinais.
A respeito de Pedro Poncé de Leon, Bregonci (2012) esclarece que seu método era
baseado no uso do alfabeto e tinha como objetivo o ensino e aprendizado da fala e
da escrita. Sendo considerado por muitos estudiosos, como o pioneiro na educação
31
Este período foi de grandes conquistas aos surdos, foi uma era do surgimento de
possibilidades e sua inserção na sociedade e no mundo acadêmico, assim como
afirma Sácks (1998, p. 34):
As conclusões do Congresso de Milão foram tão radicais que, Skliar (2000) aponta
como conseqüência, a existência de dois grandes períodos históricos:
[..] uma história prévia, que vai desde meados do século XVIII até a
primeira metade do século XIX, onde eram normais as experiências
educativas através do uso da linguagem dos sinais; e outra história
posterior – de 1880 em diante e, em alguns países, até nossos dias –
de predomínio absoluto de uma única equação, segundo a qual a
educação dos surdos se reduz à língua oral(SKLIAR, 2000, p, 109).
Bregonci (2012) concorda com Skliar (2000) quando diz que o Congresso de Milão
foi um divisor de águas na História Educacional dos Surdos. Quando escolheram
adotar o método do “Oralismo Puro”, estabeleceu então a equivocada visão
ouvintista sobre os surdos, não levando em conta as concepções e opiniões dos
surdos sobre o que consideravam adequada a sua educação. “Infelizmente, os
surdos que viveram naquela época, assistiram as escolas que antes lhes pertencia,
trasformarem-se em um espaço onde sua língua não tinha mais lugar” (BREGONCI,
2012, p.71).
Para ser matriculado, o aluno deveria ter entre sete e dezesseis anos
e apresentar um certificado de vacinação. O curso tinha duração de
seis anos, com foco no ensino agrícola, em função das
características socioeconômicas do Brasil. Para meninas, eram as
mesmas regras, além do compromisso de organizar uma sociedade
beneficente composta por senhoras notáveis
O professor Ernest Huet permaneceu como diretor do Instituo até 1861, quando
deixou o cargo, Em seu lugar, a responsabilidade de chefiar os trabalhos do instituo
ficou a cargo do Dr. Manoel Magalhães Couto que regularizou o quadro de
funcionários e institucionalizou o sistema de ensino, implementando diversas
disciplinas que a partir de então fariam parte da grade de estudos dos alunos.Além
do ensino, o instituto tinha como objetivo e responsabilidade a formação profissional
dos surdos, para que ao final de seus estudos tivessem uma profissão (voltada para
trabalhos manuais).
O instituto permaneceu fazendo seus trabalhos sem alterações. Porém, após uma
averiguação no instituto e a conclusão de o mesmo estava servindo de asilo e não
mais atuando na educação de surdos, o Dr. Tobias Rabello Leite assumiu a direção
do instituto até o ano de sua morte em 1896 (BREGONCI, 2012, p.74).
A história do instituto nos anos seguintes foi marcada pela passagem de diferentes
pessoas no cargo de direção e chefia a frente dos interesses e práticas de ensino do
instituto, mantendo a oferta de ensino profissional e a continuidade dos estudos nos
primeiro e segundo graus. E somente na década de 70, iniciou-se o atendimento a
crianças, marcando também o inicio da divulgação do método da Comunicação Total
que utilizava gestos no ensino da fala e também a língua de sinais (BREGONCI,
2012).
Em sua tese de doutorado, Vieira-Machado (2012, p.131 e 132) trás que no Brasil, a
Federação Nacional de Educação e Integração do Deficiente Auditivo (Feneida)
surgiu posteriormente na década de 70, mas majoritariamente constituída por
ouvintes, sendo os surdos completamente excluídos das discussões e processos
ocorridos dentro da federação. Em 1987, os surdos chegam à presidência e trocam
o nome para Federação Nacional de Educação e Integração do Surdo (Feneis), que
aliou-se a WFD e a partir de então, passam a as todas tomar decisões políticas
sobre a luta dos surdos em relação ao reconhecimento da língua gestual na
educação e em todos os espaços.
De acordo com Thoma e Klein (2010, apud DRUMOND, 2017), esses movimentos
sociais colaboraram para a oficialização da Libras no ano de 2002 em todo o
território nacional. Neste ano foi oficializada a aprovação da Lei 10.436, também
conhecida como a Lei de Libras, sendo reconhecida como sistema linguístico de
comunicação de comunidades surdas do Brasil.
Vale ressaltar que a aprovação dessa lei, foi resultado de diversas lutas das
comunidades surdas que por meio de resistências e dos movimentos surdos já
vinham acontecendo (VIEIRA-MACHADO, 2012).
Entretanto, não podemos falar de bilingüismo para surdos como um conceito pronto
e delimitado a regras e métodos padrões, antes precisamos entendê-lo como
processo político dos movimentos das comunidades surdas, compreender o que os
surdos entendem e querem como bilinguismo.
Pensar numa perspectiva bilíngüe educacional, antes de mais nada, nos conduz a
pensar na formação dos professores de surdos e como uma educação bilíngüe se
institui dentro do espaço escolar.
39
Adotamos nesta pesquisa, uma perspectiva de aula bilíngüe, que será detalhado
mais a frente que é fruto de anos de experiência da pesquisadora como intérprete de
Libras e professora de química. Entendemos como prática bilíngüe aquela pautada
em atender a necessidade individual de cada aluno, seja surdo ou ouvinte, e em
reconhecer a responsabilidade ética e profissional do professor regente em
estabelecer conexões indispensáveis à aprendizagem dos alunos e promover a
oportunidade de interação do saber entre esses sujeitos.
Então pensamos uma aula bilíngüe só para atender a necessidade do sujeito surdo
presente na sala de aula regular? Não, nossa escolha se deve ao entendimento da
sala de aula como organismo vivo, resultado de interações e troca de experiências.
Portanto, o nosso olhar de uma aula bilíngüe, se constitui de uma aula que possa
ser compartilhada e entendida por igual por todos os sujeitos presentes.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta etapa da pesquisa teve por objetivo caracterizar o cenário atual de aulas de
química para alunos surdos descritos em pesquisas acadêmicas.
Para cumprir este objetivo foi realizada uma busca na literatura científica, que se
encontra na primeira subseção dos resultados e discussões, feita na plataforma de
periódicos da CAPES, usando os seguintes termos descritores da busca: Ensino de
Química; Libras; Educação Inclusiva; Bilíngüe. Foram considerados na pesquisa
trabalhos publicados somente nos último 5 anos (2013-2018).
Para ajudar a caracterizar os cenários das aulas, foi feito entrevista com professores
de química que já passaram pela experiência de trabalhar em uma sala de aula que
tivesse a presença de aluno surdo e intérprete de LIBRAS, seguindo o roteiro do
quadro 1.
6) Qual foi a sua reação ao saber que teria um aluno surdo na sala de aula?
Inicialmente foi feita uma entrevista diagnóstica com o aluno surdo, preparada com
questionamentos sobre suas principais dificuldades nas aulas de uma maneira geral
e as dificuldades específicas no conteúdo de química, seguindo o roteiro
apresentado no Quadro 2.
4- A escola que você estuda hoje (Marinete de Souza Lira) atende suas
necessidades enquanto estudante surdo?
5- Quais são as principais dificuldades que você enfrenta nas aulas de uma
maneira geral?
Após a entrevista com o aluno surdo, teve início a aplicação da sequência didática
totalizando 10 aulas. A própria pesquisadora que ministrou as aulas na modalidade
43
O objetivo central das aulas desta sequência foi o uso de materiais e recursos
didáticos que proporcione aulas inclusivas (aos surdos e ouvintes participantes) a
respeito do conteúdo de química orgânica.
É importante ressaltar que foi realizada uma busca prévia por vocabulário em
LIBRAS para o conteúdo selecionado para as aulas, a saber: funções orgânicas
oxigenadas e nitrogenadas. Os sinais que utilizados durante a aplicação da
sequência foram desenvolvidos e validados pela pesquisadora Amanda Bobbio
Pontara durante sua pesquisa de mestrado com título: DESENVOLVIMENTO DE
SINAIS EM LIBRAS PARA O ENSINO DE QUÍMICA ORGÂNICA: UM ESTUDO DE
CASO DE UMA ESCOLA DE LINHARES/ES, disponível no portal de publicações da
UFES.
A sequência didática foi planejada com base nos três momentos pedagógicos
(DELIZOICOV, ANGOTTI e PERNAMBUCO, 2011) contendo as seguintes etapas:
1 LIBRAS 1 aula
Aos alunos que não quisessem participar da pesquisa, teriam as aulas normalmente
com o professor de química da turma, com o mesmo conteúdo previsto para a
pesquisa, uma vez que seguem o plano de ensino apoiado ao currículo proposto
para a disciplina de química do 3º ano do ensino médio. Foi informado a todos os
presentes o início previsto para o mês de junho e término em agosto de 2018. Após
a apresentação, foi concedido aos pais/responsáveis o prazo de uma semana para
refletirem sobre a proposta e decidirem a participação.
47
Nesse encontro com os alunos, foi abordado de forma clara e objetiva todos os
detalhes a respeito da pesquisa. Relatando aos alunos os objetivos, os tipos de
atividades que eles participariam, da aplicação dos questionários diagnóstico e
avaliativo, dos debates, discussões e possíveis ideias que acontecesse no decorrer
das aulas. Foi explanado os benefícios que essa estratégia promoveria tanto na
aprendizagem, quanto nas relações humanas e cotidianas da vivência da inclusão .
Além disso, esclareceu-se que os riscos seriam mínimos. Caso acontecesse uma
discussão de ideias divergentes a pesquisadora mediaria à situação para favorecer
um diálogo harmonioso. E quanto ao questionário, o aluno poderia optar em não se
identificar. Foram alertados que essa pesquisa iria acontecer no turno matutino,
durante as aulas de química e que e o conteúdo das aulas ministradas durante a
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pesquisa, está de acordo com o previsto no Plano de Ensino elaborado pela escola,
baseado no CURRÍCULO BASE DA REDE ESTADUAL – SEDU, não causando
nenhum prejuízo de aprendizagem.
Explicou-se que a pesquisa não traria nenhum custo aos alunos e nem os pais [ou
responsáveis legais], não pagariam nada para participar desta pesquisa, e não
receberiam nenhum pagamento para a sua participação, pois a mesma seria
voluntária e assumidas pela pesquisadora. Conforme consta na resolução 466/2012
manteve-se o respeito ao participante da pesquisa em sua dignidade e autonomia,
reconhecendo sua vulnerabilidade, assegurando sua vontade de contribuir e
permanecer, ou não, na pesquisa, por intermédio de manifestação expressa, livre e
esclarecida.
Portanto, caso algum aluno /responsável não aceitasse participar do estudo teria
total liberdade para não participar sem sofrer qualquer tipo de coesão ou penalidade.
Desta forma, para fins de registro, se encaminhou aos alunos o TALE (Termo de
Assentimento Livre e Esclarecido). Tal Termo consta de forma clara para os
estudantes todos objetivos, estratégias, benefícios, riscos e dentre outros fatores
que foram abordados na descrição acima.
Para caracterizar o cenário de aulas bilíngües de química, foi feita uma relatoria
minuciosa descrevendo as características da sequência didática aplicada, e os
principais resultados das aulas a partir das percepções da pesquisadora frente à
literatura conforme o mapa apresentado no Quadro 5.
Organização e
Aula de Química - Resultados
+ Estrutura da +
Bilíngue Observados
Sequência Didática
Assim, a relatoria descritiva foi feita com registros fotográficos e diário de bordo,
buscando descrição minuciosa das adaptações do cenário bilíngue.
50
Esta pesquisa tem caráter qualitativo, visando identificar problemas, pontos fortes e
fracos do sistema desenvolvido, além de sua eficácia, esta etapa da pesquisa terá
um caráter qualitativo.
Ainda sobre essa escolha, em coerência a natureza desta pesquisa, se fez uso da
abordagem qualitativa por levar em consideração a subjetividade dos sujeitos
envolvidos, como ponto focal neste trabalho ouvir e analisar as vozes dos
participantes. Os dados são analisados, levando em consideração toda a riqueza
neles contida, respeitando o modo como foram escritos (BOGDAN; BIKLEN, 1994).
Para os autores Moreira & Caleffe (2008), o questionário traz algumas vantagens,
tais como: uso eficiente do tempo; anonimato para o respondente; possibilidade de
uma alta taxa de retorno e perguntas padronizadas.
Foram feitos registros por meio de fotografias. Além disso, os dados também foram
coletados por observações registradas em um diário de bordo, em vários momentos
da pesquisa e em especial, durante a aplicação da sequência. A observação varia
de acordo com o grau de participação do pesquisador segundo Ludke e André
(2013). No caso dessa Pesquisa o método de observação adotado será o
“Observador como participante”. Conforme Ludke e André (2013, p.34) esse método
é definido como:
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Costa (2014) conforme citado por Pontara (2018, p.60) traz em seu trabalho diversos
autores que destacam a falta de sinais de termos específicos, como um dos posíveis
fatores que comprometedores do processo de ensino-aprendizagem de Química por
surdos, como pode ser visto nos seguintes trechos:
No seu trabalho, Marques (2018) teve como objetivo propor a criação de Planos de
Aula Especializados (PAE) para turmas inclusivas de alunos surdos, possibilitando o
estreitamento dos laços entre professor e intérpretes e proporcionar uma melhor
aprendizagem dos conteúdos químicos pelos estudantes. Para a criação dos PAEs
foram denotados aspectos inerentes a cultura surda, como aulas mais imagéticas,
mais fenômenos e mesmo adaptações de termos científicos que permitissem uma
melhor compreensão do que está sendo estudado. Conclui-se que a principal chave
para um melhor desenvolvimento de turmas inclusivas foi a comunicação entre
professor-intérprete, uma vez que melhorou o canal de comunicação e o professor
entende a função do intérprete e o intérprete conhece o objetivo do professor.
PERGUNTAS RESPOSTAS
“Superior.”
“Especialização.”
1) Qual o seu nível de escolaridade (superior,
“Especialização.”
especialização, mestrado, doutorado)?
“Especialização.”
“Mestrado.”
“Mestrado.”
“2016.”
“2013.”
“2008.”
2) Em que ano concluiu sua graduação?
“2001.”
“2008.”
‘2000.”
“Não.”
“Sim.”
3) Durante o período da graduação teve
“Sim, Libras.”
alguma disciplina relacionada a educação
especial? Em caso afirmativo, cite quais. “Não.”
“Não.”
“Não.”
“3 anos”
“6 anos.”
“21 anos.”
4) Há quanto tempo você atua como docente?
“15 anos.”
“9 anos.”
“25 anos.”
“Preocupação.”
“A princípio, de receio por não poder atendê-lo na
língua dele.”
“Preocupação.”
“Não.”
“Nenhum apoio.”
“Não.”
“Não.”
Embora não possamos usar esta entrevista como base para uma caracterização
única do cenário das aulas de química, já que a entrevista foi realizada apenas com
6 professores, a entrevista corrobora com alguns resultados que foram apresentados
na revisão bibliográfica, e as respostas nos trazem algumas reflexões importantes.
58
Pensar nessa dificuldade de comunicação entre professor e aluno, traz a mente uma
das concepções Freireanas de o ensino sem aprendizagem não existe, ou seja,
educar é um processo constante de integração, sem papéis fixos na relação
professor x aluno. O aluno aprende com que o professor ensina e o professor ensina
e aprende com o aluno.
Portanto, Freire (1996) quer dizer que devemos ao máximo estabelecer uma
comunicação sólida com os alunos, não desprezando o conhecimento do aluno, mas
59
É comum ouvirmos pelos corredores das escolas o desespero que se instaurou pela
cobrança de práticas inclusivas direcionadas ao público alvo da educação especial.
De acordo com Mittler (2000, apud Mantoan, p.14, 2003), os professores do ensino
regular consideram-se incompetentes para lidar com as diferenças nas salas de
aula, especialmente atender os alunos com deficiência.
Concordamos com Vygotsky (1997), quando ele nos chama a atenção na citação
acima, que o conceito de deficiência é um conceito social e que pode ser adequado
ou empobrecido dependendo das condições ofertadas pelo grupo social, e que esta
barreira que se interpõe pode ser desfeita a partir do papel determinante do
professor.
“18.”
O Plano Nacional de Educação (PNE) prevê a educação bilíngue para surdos como
parte de suas metas, sendo que uma das metas trás dois aspectos para direcionar o
ensino bilíngüe para surdos: as línguas envolvidas deverão ser Libras e Português; e
os espaços em que a educação deverá acontecer são: escolas bilíngues, classes
bilíngues e escolas inclusivas (BRASIL, 2014). O decreto nº 5.626/2005, que define
a educação bilíngue como aquela que viabilizará o ensino através da Libras e do
português escrito como línguas de instrução no desenvolvimento do processo
educacional, está incluso nessa meta.
1 LIBRAS.
Uma proposta bilíngue de ensino para surdos exige um planejamento em que cada
disciplina seja planejada e ministrada de acordo com as demandas desse grupo de
alunos. Nos processos de ensino e aprendizagem de Química, além de se
considerar a Libras como primeira língua (L1) e a Língua Portuguesa escrita como
segunda língua (L2), faz-se necessário o uso de metodologias e recursos didáticos
adequados associado as experiências visuais e vivências dos surdos.
É notório que uma aula não seria suficiente para os alunos aprenderem o básico de
Libras, e teríamos todo o período da aplicação da sequência para melhor apresentar
os aspectos básicos da Língua, portanto, enxergamos naquela situação, uma
oportunidade de problematizar e conversar com os alunos acerca da consciência
deles quanto à inclusão e de que forma ela acontece na escola e como podemos
contribuir para melhorar. Instigando-os a pensarem sobre suas ações e motivá-los
para o desejo de tornar a convivência entre os alunos mais produtiva.
Após a apresentação do alfabeto nos slides, foi distribuída a todos os alunos uma
versão do alfabeto (Quadro 11) para colarem nos cadernos, a fim de poderem
consultar quando quisessem e treinar a datilologia de seus nomes, já que ficou
combinado do aluno surdo criar o sinal dos nomes de cada aluno, assim que
individualmente aprendessem a datilologia de seus nomes.
ALFABETO EM LIBRAS
A B C D E F G
H I J K L M N
O P Q R S T U
Y Z
V W X
Fonte: Elaborado pela autora (2019)
70
Após essa apresentação expositiva dos temas já descritos acima, foi a vez dos
alunos manifestarem suas opiniões e percepções sobre o tema da aula. Foi dada a
opção de uma apresentação oral/gestual, ou então, poderiam escrever um breve
texto/relato, que foi a opção escolhida pela maioria. Segue alguns dos textos na
íntegra, para preservar o anonimato dos participantes da pesquisa, foram atribuídos
nomes fictícios para os alunos.
Relato da aluna Dyana (Figura 4): “Desde abril de 2002, foi adicionado a legislação
brasileira a lei das libras. A partir daí, a linguagem de sinais se tornou a segunda
língua oficial do Brasil, entretanto, ela ainda é pouco valorizada e é mais que
necessário incluí-la as escolas. A inclusão das libras como disciplina, seria
essencial, porque o aluno surdo, tem os mesmos direitos de aprender e se
relacionar com todas as pessoas, assim como os ouvintes, adicionar a linguagem de
sinais, seria uma forma de inclusão social, uma forma de mostrar aos alunos que
todos têm o mesmo valor. Pela primeira vez estamos tendo aula de química
juntamente com a linguagem de sinal e está sendo muito bom, pois, nossa interação
com o “T” e a interação dele com todos está melhorando e percebe-se o quanto ele
está aproveitando a aula o quanto está se sentindo incluído. Essa foi uma ótima
iniciativa e seria ótimo se incentivasse ao governo a adicionar a linguagem como
matéria.”
Relato do aluno Saulo (Figura 5): “A importância interação que podemos que
podemos ter com essa pessoa (surdo/mudo), pois, com as aulas de libras essa
pessoa terá a mesma oportunidade que a gente, de aprender química. Daí então
não acaba sendo uma exclusão de certa forma, mas sim estaremos incluindo ele (a)
para aprendermos juntos (compartilhar os nossos conhecimentos e aprender mais)
.Isso nos leva também a aprender coisas novas (nosso exemplo maior aqui é a
Libras).”
Relato da aluna Lívia (Figura 6): “As aulas de libras são extremamente importantes
como passar dos anos a inclusão de indivíduos com deficiência auditiva e afins tem
crescido consideravelmente e muitas vezes não é instruído aos demais a maneira
correta de se comunicar na língua de sinais. São necessárias determinadas aulas
71
para que todos possam aprender e assim conseguir manter uma conversa produtiva.
As aulas de Química são complexas e aprendê-las na linguagem de sinais está
sendo uma experiência marcante. Não se pode mais fechar os olhos para uma
questão tão importante.”
Figura 4 – Relato (1) dos alunos sobre a importância de Libras na escola e nas aulas
de Química.
Figura 5 - Relato (2) dos alunos sobre a importância de Libras na escola e nas aulas
de Química.
Figura 6 - Relato (3) dos alunos sobre a importância de Libras na escola e nas aulas
de Química.
Oportunizar aos alunos dissertar sobre suas opiniões e percepções, segundo Freire
(1996) é um sinal de respeito aos saberes socialmente construídos por eles na sua
prática cotidiana, e a partir disso relacionar estes saberes com o ensino dos saberes
curriculares.
Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, mais
amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com
que os educandos, sobretudo os da classes populares, chegam a ela
– saberes socialmente construídos na prática comunitária – mas
também, como há mais de trinta anos venho sugerindo, discutir com
os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com
o ensino dos conteúdos (FREIRE, 1996, p. 12).
73
Com base nisso, foi possível estabelecer junto aos alunos uma cooperação para as
próximas aulas de química e despertar neles o interesse de querer participar por
vontade própria das aulas na perspectiva bilíngüe, já que eles entenderam que essa
era uma boa alternativa para a inclusão do colega surdo da sala e para a
aprendizagem de todos os alunos de maneira geral, por se tratar de uma estratégia
baseada em recursos visuais e palpáveis.
Embora o uso das tecnologias não seja o foco principal nesta pesquisa de mestrado,
não podemos fechar nossos olhos para infinitas possibilidades de recursos e
práticas que podemos realizar com o auxílio das tecnologias, Freire sempre a frente
do seu tempo e determinado a fazer da educação uma arma emancipatória já dizia
que “o progresso científico e tecnológico que não responde fundamentalmente aos
interesses humanos, às necessidades de nossa existência, perdem sua
significação”. (FREIRE, 1996, p. 147).
Outro ramo que é beneficiado pela química orgânica é a medicina, já que a maioria
dos medicamentos são feitos a partir de princípios ativos baseados em substâncias
reagentes no organismo. À medida que os estudos de química orgânica evoluem
além dos benefícios e melhorias no desenvolvimento na vida do homem, o estudo
dessa ciência nos permite compreender nossa inserção no mundo atual (SANTOS e
MÓL, 2013).
A escolha por esta estratégia se deu para podermos verificar o que os alunos
sabiam e as necessidades de aprendizagem dos mesmos quanto ao tema e
possibilitar maior interação entre eles. Após a discussão, houve um debate coletivo
onde os alunos puderam compartilhar as conclusões estabelecidas na conversa dos
grupos.
78
Vale ressaltar que esse momento permitiu que todos os estudantes dos grupos
interagissem entre si, inclusive com o aluno surdo, sendo que na maior parte do
tempo o próprio grupo desenvolveu meios para essa comunicação, e usaram
desenhos, escrita de palavras e o aplicativo do Handtalk®, em alguns momentos
solicitaram a ajuda da pesquisadora para ajudar na comunicação do surdo com o
grupo e posteriormente, interpretando a fala do aluno surdo na apresentação dos
resultados das discussões para a turma, já que o mesmo fez questão de dar sua
contribuição, partindo dele a associação das estruturas carbônicas a objetos, formas
geométricas.
Assim, é nessa etapa que deve ocorrer à ruptura dos conhecimentos fundamentados
no senso comum, superando as visões ingênuas de mundo manifestadas pelos
alunos, construindo olhares mais críticos para enxergar e interpretar a Ciência,
envolvidos no fenômeno estudado.
Então, esta etapa da sequência teve um total de 6 aulas (3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7 e 8 aulas
da organização da sequência didática), preparadas para situar e contextualizar os
alunos acerca da organização global geral do ramo da química orgânica em funções
a presença dessas funções em nosso cotidiano (delimitamo-nos aos:
hidrocarbonetos, funções oxigenadas e nitrogenadas) e ao uso dos sinais químicos
das funções em Libras. Em todas as funções orgânicas trabalhadas, o estudo
sistemático ficou organizado em 4 etapas conforme o esquema abaixo.
A cada função trabalhada, era apresentado aos alunos o sinal em Libras daquela
função e de que forma o sinal se associava a estrutura do grupo funcional.
Facilitando o entendimento e associação do sinal a função.Continuando com o
exemplo da função fenol, podemos entender esse processo. Foi explicada aos
alunos com o auxilio do slide (Figura 11), que a origem do sinal em Libras dos
Fenóis se deve a outra característica desta função que é seu cheiro forte e
característico, sendo isso evidenciado pela imagem do homem prendendo o nariz
com o dedo em protesto a algum odor desagradável, facilitando e indicando
caminhos aos alunos para a construção e apropriação de novos conceitos
associados a referencias conhecidas e usuais.
81
Figura 11 – Slide utilizado para explicar o sinal dos fenóis e sua origem.
HIDROCARBONETOS
83
ÁLCOOIS
FENÓIS
ALDEÍDOS
ÁCIDOS CARBOXÍLICOS
CETONAS
ÉSTERES
84
ÉTERES
AMINAS
AMIDAS
de guia/legenda (Figura 13) das cores e tamanhos das esferas e das barras para
correta utilização nas montagens das estruturas.
Foi a primeiro contato dos alunos com este recurso didático, portanto, não sabiam
como utilizá-lo. Assim, professora/pesquisadora apresentou (Figura 14) aos alunos o
kit molecular e explicou sua finalidade e objetivo para as aulas, mostrou como usá-
86
Para isso o grupo precisava discutir quais átomos precisariam utilizar para cada tipo
de função orgânica a ser representada, tipos de ligações necessárias a formação
das ligações do composto, respeitando a valência de cada elemento e a composição
final da substância, sempre evidenciando o grupo funcional de origem.
87
A decisão de usar os kits moleculares nas aulas permite aos estudantes manipular
as moléculas, melhorando a percepção espacial que os alunos têm das moléculas.
Esse processo de apropriação de conceitos complexos através do uso de recursos
didáticos está de acordo com a teoria sociocultural de Vygotsky. Tendo na
88
Nesta pesquisa optou-se por atividades que sempre permita ao aluno ações que o
direcionem a autonomia e que o mesmo possa se perceber como sujeito do
conhecimento tornando-se capaz de organizar o que aprende e de como esse
conhecimento adquirido transformara seu cotidiano.
de baunilha.
Em quase todas as atividades que demandava atribuições aos alunos, durante esta
pesquisa optou-se pela dinâmica da realização das atividades sempre serem em
grupos, e em todas elas a escolha dos componentes e formação dos grupos ficou
livre a escolha dos alunos. Sobre isso Freire nos diz:
As atividades em grupos são inteiramente ricas, pois proporcionam aos alunos maior
interação e construção do conhecimento de maneira ativa e dialogada através das
discussões em grupo. Permitindo assim que a mediação não seja exclusividade do
professor, mas também passa a ser papel dos colegas, criando um ambiente social
propício a discussão e construção de novos caminhos e aprendizagem daqueles que
buscam o saber.
Entendemos o papel do professor neste caso, como sujeito que está atento aos
alunos e seus anseios, orientando-os quantos aos diversos caminhos e
possibilidades na busca pelo conhecimento. Acreditamos no professor que não quer
ser protagonista sozinho, mas que através do diálogo, discussões e reflexão em
conjunto com os alunos caminhem para uma escola democrática, que tem espaço
para as transformações, para a diversidade, para o trabalho em conjunto e para a
inovação. Neste caso a mediação do professor acontece de modo que:
[...] a maneira correta que tem o educador de, com o educando e não
sobre ele, tentar a superação de uma maneira mais ingênua por outra
mais crítica de inteligir o mundo. Respeitar a leitura de mundo do
educando significa tomá-la como ponto de partida para a
compreensão do papel da curiosidade, de modo geral, e da humana,
de modo especial, como um dos impulsos fundantes da produção do
conhecimento. (FREIRE, 2002, p.77).
93
E inclusiva porque o seu formato único atende a necessidade tanto dos ouvintes,
quanto à necessidade visual/espacial do aluno surdo, abordando os conteúdos
principalmente através de imagens, apresentando os sinais das funções orgânicas e
identificando enunciados e páginas através de datilologia, propiciando ao aluno
surdo consultar e identificar as funções em sua língua materna.
“Como diz Paulo Freire (1987, p, 63):” [...] o educador já não é o que apenas educa,
mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser
educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que
crescem juntos.”
Pergunta 01: Quanto às aulas de Química, no formato bilíngüe, o que você apontaria
como mais interessante?
Aluna A:“Os sinais de cada função. E assim, também conseguimos conhecer mais sobre,
possibilitando e facilitando a nossa convivência com os surdos.”
Aluna B:“O mais interessante é que é muito perceptível a interação do aluno surdo
durante as aulas. Faz com que ele se sinta mais incluído e as aulas bilíngues deveriam ser
aplicadas a todas as matérias.”
Aluno D:“Os novos sinais de Libras que aprendi durante as aulas Bilíngue.”
Aluna E: “O mais interessante é a interação que tivemos com o Tales, fazendo com que
ele não se sentisse excluído.”
Aluna F: “O que eu achei mais interessante foi que todos se interagiram, aprendemos a
matéria melhor, e foi bastante divertido.”
Aluno G : “Acho que é interessante para que o Tales interaja com a aula pois vejo ele
meio que isolado .”
Aluna H: “Que além de todas as pessoas da sala aprender química, podemos interagir
com o Tales durante as aulas, o fazendo se sentir mais a vontade.”
Pergunta 02: Você poderia descrever algo que não gostou durante as aulas?
Aluna B:“Não há nada que eu não tenha gostado. Foi uma experiência muito boa.”
Aluna E: “O que eu não gostei foi o desinteresse de alguns alunos, pois foi um tipo de
aula bem dinâmica e alguns não souberam aproveitar.”
Aluna H: “As aulas que a professora proporcionou foi sempre muito boas e interessantes,
não houve nada que não gostei.”
Pergunta 03: Qual a sua opinião sobre as aulas de Química/Bilíngue? Ajudaram ou não
sua compreensão da disciplina?
Aluna B:“Ajudaram sim, pois com o sinal de cada assunto tratado é mais fácil lembrar. E
melhor, nos ajuda a ter uma melhor comunicação com o aluno surdo.”
Aluno C:“Foi interessante, ajudou pois fica mais fácil memorizar lembrando dos sinais.”
Aluno D:“Ajudou muito, também aprendi muitas coisas novas que não sabia em Libras.”
Aluno G : “Muito importante tinha que ser pelo menos uma vez na semana em todas as
séries.”
Aluna A:“Que todas as turmas também pudessem ter contato com essa experiência
excelente.”
Aluna B:“Realmente foi uma pesquisa muito boa. E para as aulas não tenhonenhuma
sugestão. Porém LIBRAS deveria ser dado como uma matéria oficial na escola, já que é a
segunda língua oficial do Brasil.
Aluno D:“Não tenho sugestões para descrever porque todas as aulas foram as melhores.”
Aluna E: “Na minha concepção as aulas foram ótimas. Não tenho nada p/ maldizer, só
agradecer pela paciência que teve, e por cada aula (pois valeu a pena).”
Aluna F: “Que todas essas aulas poderiam ser obrigatória em todas as escolas, pois são
bem interessante e legais. Ajudam muito a nós interagirmos com surdos.”
Aluna H: “Poderia ter essas aulas o ano todo, não só um período como foi.”
Pergunta 01: Quanto às aulas de Química, no formato bilíngüe, o que você apontaria
como mais interessante?
“Eu gostar a professora tem libras bom, tem explicar aprendo química, também foto data
show.”
100
Pergunta 02: Você poderia descrever algo que não gostou durante as aulas?
Pergunta 03: Qual a sua opinião sobre as aulas de Química/Bilíngue? Ajudaram ou não
sua compreensão da disciplina?
De maneira geral, as repostas dos alunos ouvintes nos mostram que uma proposta
de aula bilíngüe, na opinião deles, promoveu maior interação deles com aluno surdo.
Alguns alunos apontaram que por diversas vezes observavam o aluno surdo isolado
durante as aulas, e que a estratégia bilíngüe melhorou a interação do professor com
este aluno. Portanto, já observamos pela análise inicial as perguntas que de fato,
esta estratégia de aula garantiu maior interação entre todos os participantes.
Esta interação, segundo a concepção educacional inclusiva de Paulo Freire (1996),
deve se pautar pelo principio da igualdade, nas relações dialógicas estabelecidas
101
Que inclusão é essa que garante a permanência do aluno na escola, mas não dá
suporte e subsídios para que de fato o aluno se sinta parte daquele espaço? Pensar
e fazer inclusão não está relacionado a atos grandiosos a serem vistos, mas sim em
como nossas ações, sejam grandes ou não, afetam ao outro.
Muito nos toca esta avaliação do aluno. Embora o foco das aulas fosse o ensino de
química, e o aluno responder que “Sim”, as aulas o ajudaram na aprendizagem de
química, o que ele mais gostou das aulas foi o fato de o ensino ter sido integrado,
“professora ensinar junto surdo e ouvinte”. Perguntado sobre o que ele achou mais
interessante das aulas bilíngües, ele disse ser o uso de fotos e do data-show.
Esta avaliação do aluno nos faz pensar, assim como disse Freire (1987, p. 17) que a
verdadeira inclusão tem de ser “[...] forjada com ele (o oprimido) e não para ele.” Ou
seja, o papel fundamental do professor neste processo é provocar e induzir a
reflexão do próprio ato de existir. O fim da realidade opressor x oprimido acontece
na libertação do oprimido sobre sua exclusão se faz por meio da reflexão de sua
103
Então as práticas de aulas bilíngues se constituem como o fim dos problemas com a
inclusão de alunos surdos? Sabemos que não é suficiente, mas se constitui como
um importante passo nesse processo de ressiginificação da escola, do ser professor,
do ser aluno e principalmente do “ser” humano e seu papel/posição no mundo.
Concordamos com Monteiro (1998) sobre os estudos de Vygotsky (1997) quando diz
que todos os seres são capazes, desde que sejam estimulados positivamente a
partir de sua diferença. Sendo esse estímulo de responsabilidade e dever moral da
escola enquanto instituição social.
104
6 PRODUTO EDUCACIONAL
Assim, o produto foi dividido em três partes, inicialmente abordamos sobre o ensino
de química e suas principais dificuldades e o conceito de inclusão que adotamos e
nos baseamos no desenvolvimento deste produto.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim esta pesquisa teve por objetivo principal discutir práticas bilíngües inclusivas
para alunos surdos mediadas pelo professor e suas contribuições para a
aprendizagem de química orgânica.
A pesquisa bibliográfica tinha por objetivo descrever o cenário das aulas bilíngües de
química, para isso foi feita uma busca na literatura para analisarmos outras
pesquisas com esta temática e uma entrevista com professores de química. De
maneira geral, a maioria dos trabalhos encontrados durante a busca na literatura
ressalta a questão da linguagem e da ausência de sinais de Química em Libras
como fator limitante para o ensino desta disciplina. Além disso, destacam que o
surdo por ser desprovido do sentido da audição requer que aspectos visuais sejam
utilizados para que possam compreender melhor o assunto estudado.
Em quase todas as atividades que demandava atribuições aos alunos, durante esta
pesquisa optou-se pela dinâmica da realização das atividades em grupos, e em
todas elas a escolha se fez por as consideramos inteiramente ricas, pois
proporcionam aos alunos maior interação e construção do conhecimento de maneira
ativa e dialogada através das discussões em grupo. Permitindo assim que a
mediação não seja exclusividade do professor.
Não acredito ser possível encerrar nossas discussões sobre práticas inclusivas na
área da surdez, ainda há muito que se pensar, pesquisar e fazer. Ainda há muito
que evoluir! Então, encerro temporariamente nossa discussão, com uma citação de
Paulo Freire que fala sobre o ser professor e nossa esperança de fazer a diferença.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Declaração mundial sobre educação para todos: plano de ação para
satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem. UNESCO: Jomtiem/Tailândia,
1990.
FONSECA, M. R. M. da. Química: ensino médio/ Martha Reis. – 2ª. Ed./ Vol. 1 – São
Paulo: Ática, 2016.
GIL, A. Métodos e técnicas de pesquisa social. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991.
MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer? 1. Ed. São
Paulo: Moderna, 2003.
REIS, E. dos S. O ensino de química para alunos surdos: desafios e práticas dos
professores e interpretes no processo de ensino-aprendizagem de conceitos
químicos traduzidos para libras. 2015. 121f . Dissertação (Mestrado). Programa de
Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, Universidade Federal Do
Ceará, Fortaleza.
RETONDO, C. G.; SILVA, G. M. Ressignificando a formação de professores de
Química para a educação especial e inclusiva: uma história de parcerias. Revista
Química Nova na Escola, p. 30, novembro, 2008.
SÁCKS, O. Vendo Vozes: Uma viagem ao mundo dos surdos. Tradução Laura
Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
116
SANTOS, W.L.P. e MÓL, G.S. (coord.); MATSUNAGA, R.T.; DIB, S.M.F.; CASTRO,
E.N.F.; SOUZA SILVA, G.; OLIVEIRA SANTOS, S.M.; FARIAS, S.B. e. Química e
sociedade. Volume único. São Paulo: Nova Geração, 2005.
APÊNDICES
119
Reconhecer e
associar a presença
das funções
orgânicas às
Feira Orgânica: Atividade de Reconhecimento
estruturas de (9ª e 10ª
Aonde está a das Funções, por meio de uma
alimentos e Aula)
função? atividade em grupo.
materiais
cotidianos, e seus
efeitos ao
organismo.
121
Perguntas a serem feitas aos alunos surdos em entrevista diagnóstica sobre o seu papel
como aluno, dificuldades bem como suas percepções a respeito da disciplina de
Química.
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4- A escola que você estuda hoje atende suas necessidades enquanto estudante surdo?
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5- Quais são as principais dificuldades que você enfrenta nas aulas de uma maneira
geral?
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6) Qual foi a sua reação ao saber que teria um aluno surdo na sala de aula?
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aulas? Comente.
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126
NOME: ___________________________________________________________
1- Quanto às aulas de Química, no formato bilíngue, o que você apontaria como mais
interessante?
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ANEXOS
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Dados da Pesquisa
Título: Ensino de Química para Surdos: Uma Perspectiva Bilíngue no Ensino do Conteúdo de
Funções Orgânicas para Alunos do Ensino Médio no Município de Serra-Es.
Objetivo Geral: Discutir práticas inclusivas no ensino de química para alunos surdos do
ensino médio, mediadas pelo professor na perspectiva bilíngüe, e suas contribuições para a
aprendizagem do conteúdo de funções orgânicas.
Dados da Pesquisadora
Curso a qual está vinculada a pesquisa: Instituto Federal do Espírito Santo – CEFOR –
Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências de Matemática (EDUCIMAT)
Orientadora: Drª Michele Waltz Comarú Coorientadora: Drª Danielli Veiga Carneiro
Sondermann
Diretora Escolar
140
OBS: Este Termo de Assentimento para o menor de 18 anos não eliminará a necessidade
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que deverá ser assinado pelo
responsável ou representante legal do menor.
Serra, ___/___/___
________________________________________
Assinatura do responsável ou representante legal
________________________________
Assinatura do participante
________________________________
Assinatura do Pesquisador Responsável
143
________________________________
Assinatura do participante
________________________________
Assinatura do Pesquisador Responsável