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RESENHA

PAIVA, Paulo e WAJNMAN, Simone. Das Causas às Consequências Econômicas da


Transição Demográfica no Brasil. In: Revista Brasileira de Estudos Populacionais, v. 22, n.
2, 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
30982005000200008.
Fernanda Salgueiro Passos

Tendo como fundamento a complexidade inerente da relação entre crescimento


populacional e desenvolvimento, Paiva e Wajnman buscam por meio deste artigo explorar as
principais interpretações acadêmicas sobre o tema, assim como sintetizar os avanços das
pesquisas sobre a relação entre população e economia e suas implicações para as políticas
públicas. Num primeiro momento os autores destacam o livro de Coale e Hoover (1958),
trazendo como principal conclusão que frente a redução da razão de dependência, haveria o
aumento da taxa de poupança e por conseguinte, da taxa de crescimento. Contrariamente, um
número elevado de jovens e em decorrência o aumento do consumo, acabaria com a poupança
e estagnaria a economia. Essa interpretação levou a incorporação de políticas de planejamento
familiar para promover o controle da natalidade. Por outro lado, Boserup (1981) argumentava
que mudanças tecnológicas seriam induzidas pelo crescimento populacional, aumentando a
produtividade e o crescimento econômico. Já Kuznets (1963, 1966 e 1973), apresentou uma
série de dúvidas sobre a questão. Nesse cenário, ocorreu a Primeira Conferência Internacional
de População e Desenvolvimento em 1974, na qual duas visões foram contrapostas em
relação a natalidade - controlistas versus não controlistas.

No subtítulo A repercussão do debate no Brasil, Paiva e Wajnman levantam a ideia de


que o milagre econômico brasileiro vivenciado no final dos anos 60 e início dos anos 70,
inviabilizou elaborações neomalthusianas no país. Os debates se concentravam nas relações
entre população e mercado de trabalho. No final da década de 70, a queda de fecundidade no
Brasil, suscitou pesquisas voltadas para a investigação das causas, deixando para um segundo
plano os efeitos do crescimento populacional sobre o crescimento econômico. Dando
continuidade ao texto, os autores sumarizam as intensas mudanças políticas internacionais.
Diante desses novos acontecimentos, o planejamento familiar já não é um componente de
programas de ajuda ou em agenda de reformas e políticas de combate à pobreza. Cabe
destacar, a Conferência Internacional de População e Desenvolvimento do Cairo, em 1994,
onde a universalização dos direitos da mulher emergiu como novo tema.
Após breve levantamento dos estudos recentes em população e desenvolvimento,
Paiva e Wajnman chamam a atenção para a importância da implementação de políticas que
considerem as mudanças na estrutura etária e suas implicações para a economia brasileira.
Sendo assim:

[...] o crescimento econômico é elemento necessário ao processo de


desenvolvimento. Contudo, mudanças estruturais são determinantes para que o
desenvolvimento seja amplo e inclusivo, e a transição demográfica é uma dessas
mudanças que oferece oportunidades e desafios para o desenvolvimento futuro.

Avanços na saúde, na educação e, principalmente, no mercado de trabalho


aumentariam os níveis de produtividade do país, o que possibilitaria o aproveitamento
adequado do bônus demográfico. Entretanto, a crise econômica brasileira vem produzindo
taxas elevadas de desemprego, subemprego e de informalidade no mercado de trabalho.
Soma-se a isso a crescente austeridade do Estado, a pandemia de covid-19 e a consequente
ampliação da pobreza e das desigualdades, temos a expressão de um futuro incerto. Nesse
sentido, Alves em artigo recente assevera que:

Se a conjuntura negativa que já prevalece desde 2014 não for revertida, as atuais
adversidades poderão ser o enterro da ideia fundamental da emancipação via
trabalho e do direito à autodeterminação produtiva. Perder a oportunidade histórica
de aproveitar uma estrutura etária favorável poderá ser a perda do sonho de uma
nação próspera, justa e feliz (ALVES, 2020, p. 15).

O processo de envelhecimento da população no Brasil tem sido a causa de grandes


preocupações, visto que essa fase da vida demanda cuidados especiais e estrutura
socioeconômica capaz de assistir as necessidades dos idosos. Isso posto, conclui-se que “o
ideal seria levar em conta o conhecimento sobre a distribuição demográfica futura e suas
implicações para a economia para se tomar, hoje, as decisões de políticas públicas que terão
repercussões também no futuro”. Ademais não podemos perder de perspectiva a maior das
questões contemporâneas – a mudança climática - já que a forma como lidaremos com ela
determinará o futuro da vida na Terra.

Referências:

ALVES, J.E.D. Bônus demográfico no Brasil: do nascimento tardio à morte precoce pela
Covid-19. In: Revista Brasileira de Estudos de População. Vol.37, São Paulo, 2020.
Disponível em: https://rebep.org.br/revista/article/view/1650/1049. Acesso em: 19 de fev. de
2021.

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