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Os processos demográficos são dinâmicos e têm relação direta com os fatores históricos e
econômicos. Há algumas décadas, havia grande percentual de jovens na população brasileira,
mas, em poucas décadas, essa estrutura se alterou: a expectativa de vida das pessoas aumentou
e, consequentemente, elevou-se a população idosa – realidade que implicará em mudanças nas
políticas públicas do país. Esse processo pode ser identificado e analisado com base no censo
demográfico, que é a fonte de referência para conhecer as condições de vida da população.
A transição demográfica precisa ser analisada com base nas mudanças socioeconômicas
estruturais que afetam diretamente o comportamento demográfico de uma sociedade, mas se
desenvolvem em contextos históricos específicos em cada país.
A queda da taxa de mortalidade é o primeiro indício da transição demográfica. Esse
processo ocorre quando há ampliação das políticas públicas de saneamento básico e
implementação de técnicas de controle de doenças infectocontagiosas, mediante a
disponibilização de medicamentos curativos e disseminação de estratégias de prevenção. No
Brasil, esse processo começou na década de 1930, quando passaram a ser usados no país
medicamentos para controle epidemiológico, como as vacinas, e, sobretudo, foram ampliadas as
políticas públicas de saneamento básico. Tais medidas se mostraram muito eficazes no controle
da mortalidade, sobretudo a infantil.
A taxa de natalidade no Brasil começou a cair na década de 1950 em razão de vários
fatores econômicos e sociais. Esse período foi marcado pela urbanização acelerada, associada à
industrialização intensificada durante os governos de Getúlio Vargas. A crescente oferta de
trabalho nas cidades, graças ao processo de industrialização e à expansão dos setores de
serviços e comércio, incentivou o êxodo rural. De modo geral, as condições de vida no meio
urbano induziram as famílias a realizar mudanças significativas em seu comportamento
reprodutivo. Os filhos, que na área rural eram considerados força de trabalho, passaram a ser
vistos na cidade como despesas, pois o custo de vida na cidade era maior do que no campo.
Mudou também o papel das mulheres. Se no campo elas desempenhavam um papel econômico
subalterno, na cidade passaram a participar mais da composição da renda familiar, ao ser
inseridas no mercado de trabalho formal.
Esses foram alguns dos fatores que contribuíram para a queda na taxa de fecundidade e,
consequentemente, para a redução no número de integrantes das famílias.
A transição demográfica em curso no Brasil não ocorre de forma homogênea em todo o
território. A queda nas taxas de mortalidade e de natalidade ocorreu primeiramente e com mais
intensidade nas regiões que contavam com melhor infraestrutura de serviços públicos, mais
acesso a atendimento médico e maiores níveis de escolarização e desenvolvimento
socioeconômico. Todavia, a mobilidade interna da população, com as migrações regionais,
possibilitou a ampliação desse processo, que afetou grande parte da população brasileira.
Mulheres no Brasil: comportamento reprodutivo
A taxa de fecundidade no Brasil está em queda há algumas décadas. Em 2019, a
estimativa era de 1,7 filho por mulher em idade fértil, abaixo do padrão de reposição populacional
considerado seguro para que o país mantenha taxas de crescimento populacional positivas: de
2,1 filhos por mulher. Quando a taxa de fecundidade fica abaixo desse valor, a população tende a
diminuir em algumas décadas.
A mudança na idade em que as mulheres decidem ter filhos é outro fator a ser
considerado. Diante da possibilidade de adiar a maternidade para a conclusão dos estudos e a
inserção profissional, a perspectiva é a de que as famílias tenham um número cada vez menor de
filhos.
Esse processo se insere no contexto do planejamento familiar, que possibilita escolhas
relativas à quantidade de filhos que se deseja ter, a idade mais oportuna para a gestação e o
intervalo entre uma gravidez e outra. Para que o planejamento familiar seja abrangente e abarque
a maior parte da população, é necessário que os métodos contraceptivos sejam eficientes e
acessíveis e que os programas de orientação relacionados à saúde sexual e reprodutiva
alcancem pessoas de todas as classes sociais.
O Brasil se comprometeu a seguir o plano de ações estabelecido na Conferência
Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD). Esse evento, realizado em 1994, foi
considerado um marco na mudança de paradigmas, pois nele foram reconhecidos os direitos
humanos e a ampliação do protagonismo feminino como condições para alcançar melhora na
qualidade de vida da população mundial.
Antes, as discussões recaíam quase exclusivamente no controle de natalidade como
ferramenta para o desenvolvimento social. A partir de então, admitiu-se a saúde sexual e
reprodutiva como um direito humano e também como meio para alcançar a igualdade de gênero.
O padrão reprodutivo atual do Brasil é considerado baixo por causa da redução na taxa de
fecundidade, mas existem variações desse processo quando se analisam os dados por região,
nível de instrução e estratos socioeconômicos.
Atualmente, as taxas de fecundidade são mais elevadas nas regiões Norte e Centro-Oeste,
embora com diferenças interestaduais.
As regiões Sul, Nordeste e Sudeste apresentam taxas de fecundidade mais baixas. Essa
diferença ocorre em função das desigualdades socioespaciais que ainda persistem no território
brasileiro, relacionadas ao nível de instrução, à disponibilidade de infraestrutura, às oportunidades
de emprego, à urbanização, entre outras variáveis. Contudo, é importante observar que as taxas
projetadas sinalizam uma hipótese de convergência entre as regiões – o que pode ser um
indicativo de diminuição dessas desigualdades socioeconômicas da população.
Sobre a relação entre o nível de instrução e a taxa de fecundidade, constata-se que,
independentemente da região, quanto maior é o tempo de estudo, menos filhos as mulheres têm.
Já a estratificação social é reconhecidamente um fator determinante para a desigualdade
no comportamento reprodutivo.
As mulheres dos estratos sociais mais pobres correspondem ao grupo mais vulnerável à
gravidez indesejada.
Em geral, têm menos acesso aos serviços de saúde e, portanto, a orientações sobre a
utilização de métodos contraceptivos, os quais também nem sempre são acessíveis.
A intercalação dos dados sobre renda com os de escolarização indica que as mulheres
mais pobres são as que têm menos anos de estudo, condições determinantes para a manutenção
de altas taxas de fecundidade.
A pirâmide etária do Brasil, de 1940, apresentava a base larga. Isso indicava a alta
natalidade no país naquele período. Em contrapartida, o topo da pirâmide era bastante estreito,
indicando que a expectativa de vida era baixa e a taxa de mortalidade, elevada. Esses dados
demonstram que o país ainda não havia iniciado sua transição demográfica.
As mudanças nas taxas de natalidade e mortalidade foram expressivas nas décadas
seguintes, repercutindo em uma estrutura de pirâmide diferente na década de 1980, apesar de
ainda reproduzir um padrão típico de países com baixo nível de desenvolvimento
socioeconômico.
Observa-se queda da natalidade, pelo estreitamento da base, e uma ligeira alteração no
topo.
Com a transição demográfica em curso, a pirâmide etária de 2018 exibia, de forma mais
evidente, as transformações no perfil demográfico brasileiro. A base se encontrava bem mais
estreita que a da pirâmide de 1940. Isso demonstra a grande queda na taxa de fecundidade, que
já ocorria desde a década de 1960. O topo da pirâmide era mais largo, mostrando a elevação da
expectativa de vida e o processo de envelhecimento da população brasileira.
A pirâmide estimada para 2060 apresenta a estabilização das taxas de natalidade e de
mortalidade e evidencia o envelhecimento da população brasileira.
Mortalidade no Brasil
O Brasil é o quinto país mais extenso do mundo. Com 8.515.767 quilômetros quadrados, é
menor apenas que a Rússia, o Canadá, a China e os Estados Unidos. Seu vasto território abarca
a quinta maior população do planeta, estimada em 210.147.125 pessoas, em 2019.
A população brasileira se distribui de forma irregular no território. A maior parte vive em
áreas urbanas (cerca de 85%, em 2015), próximo à faixa litorânea. Nessa porção do território
concentra-se a maior densidade demográfica do país, característica que foi imposta desde a
colonização, quando os portugueses iniciaram a exploração econômica da colônia pelo litoral,
onde fundaram as primeiras vilas e cidades. Também nessa faixa estão os principais centros
urbanos do país: São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais.
Com relação à composição populacional por cor ou raça, de acordo com o IBGE, em 2015
a parcela negra da população representava cerca de 54%, enquanto as pessoas brancas
correspondiam a 45,1%. Já pessoas que se declaravam amarelas e indígenas representavam
0,5% e 0,4%, respectivamente.
A população brasileira, que apresenta grande diversidade étnica e cultural, também
carrega em seu processo de formação um histórico de muita violência contra povos de origem
indígena e africana. No Brasil, o preconceito e a discriminação em relação à cor da pele mantêm-
se na forma de racismo estrutural.