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E SUBDESENVOLVIDOS
(1)
João YUNES
1. INTRODUÇÃO
(1) Egito, Guiana Britânica, Chile, Costa Rica, El Salvador, Jamaica, México, Porto Rico,
Ceilão.
ficiente atingiu o valor de 18/mil e em tigações em diversos países sugerem que
1970, 17,6/mil. o método mais largamente utilizado tem
A queda da natalidade na Europa va- sido a interrupção do coito, técnica co-
riou de acôrdo com a região considerada. nhecida por muitos séculos.
Para a natalidade cair de 30/mil para Na maioria dos países, a prática do
20/mil decorreram mais de 70 anos para abôrto tem sido menos importante que o
a França, 40 para a Suécia e Suíça e 30 uso de contraceptivos na redução do ta-
para a Inglaterra e Dinamarca. manho da família, embora haja algu-
O Japão é o único país que não é ha- mas evidências de que a prática do abôr-
bitado por pessoas predominantemente to está aumentando em alguns países. Em
descendentes de europeus e que experi- um número reduzido de países, a prática
mentou um declínio da natalidade similar do abôrto tem sido permitida legalmente
aos Estados Unidos e países europeus. A por motivos médicos, engênicos, crimi-
natalidade no Japão de 35/mil (1921-5) nais ou sócio-econômicos.
declinou para 27 (1938) e 19 (1970).
a) Mudança de atitude em relação ao
3.1.1 Fatôres econômicos e sociais tamanho da família
Vários estudos mostram que os ricos
são "menos férteis" que os pobres. Os autores mais recentes acreditam que
Os opositores de Malthus (na época o declínio da fertilidade é devido a um
de sua controvertida declaração, no fim complexo de causas interrelacionadas,
do séc. 18), afirmaram que um aumento atuando uma sôbre a outra, trazendo co-
da prosperidade econômica seria sempre mo conseqüência a sua queda. Alguns
seguida por um declínio da fertilidade. tentam explicar que a idéia de limitar
Na França, a explicação da redução o número de filhos e espaçar os nasci-
da fertilidade para a classe alta foi atri- mentos tem sido adotada, generalizada-
buída ao amor à luxuria, avanço na es- mente em países industrializados, em tro-
cala social e desejo de evitar a subdivi- ca da tradicional idéia de ter o número
são de propriedades para herdeiros. de filhos que a "natureza" forneceu.
Vários autores citam diversos fatôres Tem sido atribuídas diferenças de ati-
da vida moderna que podem contribuir tudes em relação ao declínio da mortali-
para a redução da capacidade reproduti- dade infantil. Se as pessoas planejam
va, tais como: aumento do alcoolismo e um número definido de filhos, a redução
das doenças venéreas, maior participação da mortalidade infantil causará, certa-
da mulher na fôrça de trabalho, decrés- mente, a redução do número de nasci-
cimo das relações sexuais devido ao maior mentos.
"stress" emocional na vida urbana mo- Entre as principais razões dadas para
derna. Alguns dêstes fatôres têm sido não ter filhos ou muitos filhos, as mães,
sugeridos como contribuintes e não como em geral, apontam o mêdo ao desemprê-
agente causal direto no declínio da ferti- go, razões econômicas e acomodações ha-
lidade. Não há prova também de que a bitacionais.
freqüência do alcoolismo e de doenças ve- A origem da atitude da limitação do
néreas tenha aumentado durante o pe- tamanho da família foi aceito, primei-
ríodo em que a natalidade decresceu. ramente, pela classe alta depois pelos
Há concordância quase universal de demais segmentos da sociedade. Por
que o declínio no tamanho da família tem exemplo, a queda da fertilidade mais rá-
sido devido a prática da limitação da pida em cidades pode ser devida ao ínti-
natalidade. A queda da natalidade ocor- mo contato das classes sociais mais baixas
reu bem antes do desenvolvimento mo- com as classes que primeiro praticaram
derno das técnicas contraceptivas. Inves- a limitação do tamanho da família.
Eventos históricos, tais como a Revo- c) Mobilidade social
lução Francesa, Crises Econômicas, De-
pressão na Inglaterra em 1875, influên- O desejo de melhorar a posição na es-
cia da opinião pública, etc., são consi- cala social tem sido apontado como um
motivo importante para a limitação do
derados como tendo sido favoráveis à ati-
tude de limitação do tamanho da famí- tamanho da família.
lia. O efeito da mobilidade social sôbre a
fertilidade parece ser atribuída, em ge-
A libertação do tradicionalismo, com
ral, ao fato de que criar uma criança
conseqüente mudança dos valores e pa-
significa gastar dinheiro, tempo e esfôr-
drões de comportamento, é também cita-
ço, os quais poderiam ser utilizados para
do como fator contribuinte para o declí-
subir na escala social. Desta maneira, a
nio da fertilidade.
mobilidade social é mais factível com um
número pequeno de crianças do que com
b) Urbanização
um grande.
O declínio da fertilidade tem sido pre- d) Status da mulher e organização fa-
cedido e acompanhado, em todos os paí- miliar
ses, pela urbanização. É comum os au-
tores afirmarem que a população urbana A mudança no status e no papel da
é "menos" fértil que a rural. mulher tem sido uma das razoes para a
A relação entre o processo de urbani- diminuição do tamanho familiar.
zação e queda da fertilidade é complexa. Fatores freqüentemente mencionados
A maioria dos autores acredita que as como contribuintes para a mudança de
grandes cidades modernas favorecem o atitude da mulher são:
desenvolvimento de atitudes motivando a — Aumento do nível educacional.
limitação do tamanho da família. Al- — Igualdade para a mulher em muitas
guns autores chegaram a afirmar que o esferas da vida pública.
meio urbano é uma condição essencial — Igualdade do papel da mulher no ca-
para o desenvolvimento desta atitude samento.
("mentalidade urbana"). — Oportunidade para um maior desen-
Entre os principais fatôres que favore- volvimento da personalidade e inde-
ceram a limitação da natalidade em ci- pendência.
dades citam-se: Vida famliar menos coe- — Maior grau de participação da mu-
sa; crianças não são consideradas uma lher na fôrça do trabalho. Tal fator
vantagem econômica; aspiração de me- tem sido freqüentemente relacionado
lhor status social e econômico; prevalece ao grau de urbanização e industriali-
maior racionalização e libertação de tra- zação. Diversos censos têm mostra-
dições. do que o número de filhos de mulhe-
res casadas que trabalham é menor
É importante chamar a atenção que,
que o das que não trabalham.
em geral, a diferença entre fertilidade
— Com a industrialização, as atividades
urbana e rural existiu em muitos países
econômicas exigem que a mulher fi-
antes do início da queda da natalidade que fora do lar, competindo com o
(séc. 17 e 18 na Europa e América do seu trabalho caseiro e com as ativi-
Norte). No séc. 19, a fertilidade urbana dades de cuidar de crianças. Hoje
e rural começou a decrescer em alguns é largamente aceito que nas socieda-
países, sendo que a queda da urbana foi des industrializadas as mulheres evi-
mais rápida. Em geral, tem sido encon- tam criar crianças ou restringe seu
trado que quanto maior é a cidade mais número a fim de manter o emprêgo
baixa é a fertilidade9. fora de casa.
— A mudança no padrão da organiza- nuição do número ideal de filhos. Como
ção familiar tem sido responsável pe- resultado, as crianças têm que ser man-
lo declínio da natalidade e do tama- tidas por seus pais por um período mais
nho familiar. Um importante fator, longo. O melhor padrão da assistência
responsável pela queda da fertilidade, médica, o maior cuidado dedicado à cri-
foi a transição de família tradicional- ança e o aumento do padrão geral de
mente estável para instável. vida, aumentaram substancialmente o
Autores mais recentes enfatizam que custo da criação da criança.
a família não é mais a unidade eco-
nômicamente produtiva e que a sua f) Ocupação
função na criação da criança tem si-
do favorecer principalmente um maior Censos em diversos países fornecem
nível educacional e vida associativa. dados do número de filhos de mulheres
Conseqüentemente, um aumento da casadas, classificadas pela atividade eco-
concentração emocional sôbre a crian- nômica de seus esposos. Geralmente,
ça tem paradoxalmente sido a razão quanto mais diferenciada é a ocupação
para a limitação do tamanho da fa- e melhor a qualificação da mão de obra,
mília. menor é a fertilidade.