Você está na página 1de 89

CESED – CENTRO DE ENSINO SUPERIOR E DESENVOLVIMENTO

UNIFACISA - CENTRO UNIVERSITÁRIO


CURSO DE BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

THAÍS RODRIGUES DA PAIXÃO

AUTOCONSTRUÇÃO E ASSISTÊNCIA TÉCNICA: O CASO DO COMPLEXO


ALUÍZIO CAMPOS

CAMPINA GRANDE – PB
2021
THAÍS RODRIGUES DA PAIXÃO

AUTOCONSTRUÇÃO E ASSISTÊNCIA TÉCNICA: O CASO DO COMPLEXO ALUÍZIO


CAMPOS

Projeto do Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como pré-requisito para a
obtenção do título de Bacharel em Arquitetura
e Urbanismo pela UniFacisa – Centro
Universitário.
Área de Concentração: Arquitetura
Orientador (a): Profª. da Unifacisa, Jakeline
Silva

Campina Grande - PB
2021
Dados Internacionais de Catalogação na publicação
(Biblioteca da UniFacisa)
Nxxxxxx
Paixão, Thaís Rodrigues de
Autoconstrução e Assistência Técnica: O caso do Complexo Aluízio Campos / Thaís
Rodrigues da Paixão - Campina Grande, 2021.

Originalmente apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso de bacharel em Arquietura


e Urbanismo do autor (bacharel - UniFacisa - Centro Universitário, 2021).
Referências.

1. Políticas habitacionais. 2. Autoconstrução. 3. Assistência Técnica em Habitação de Interesse


Social.
CDU-xxxxxx
__________________________________________________________________________________________
Elaborado por xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Projeto do Trabalho de Conclusão de Curso,
Autoconstrução e assistência técnica: o caso
do Complexo Aluízio Campos por Thaís
Rodrigues da Paixão, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Bacharel
em Arquitetura e Urbanismo pela UniFacisa -
Centro Universitário.

APROVADO EM: _______/_______/_______

BANCA EXAMINADORA:

Prof. da Unifacisa, Orientador (a): Jakeline


Silva

Prof. da Unifacisa, Examinador Interno:


Daniel Celegatti

Examinador (a) externo (a)


À minha mãe, por todo seu amor
incondicional ofertado à mim.
AGRADECIMENTOS

Nesse momento sinto um misto de felicidade, gratidão, ansiedade, tristeza e emoção,


quem me conhece sabe que o momento dos agradecimentos seria a parte mais difícil de todo o
trabalho, é o momento de muitas lágrimas - se não fosse assim, não seria eu.
Eu sou muito grata à minha família por todo apoio, especialmente à minha mãe, que
me deu essa oportunidade de conseguir me formar profissionalmente e mais importante ainda,
como pessoa. Peço desculpas pela ausência e por todo estresse que me acompanhou por cinco
anos e meio. Te amo de paixão!
À minha orientadora Jakeline Silva, por passar excelentes contribuições com seu vasto
conhecimento sobre o assunto, e me deixar sempre tranquila em todo o processo, com a
certeza de que esse será só o início de um caminho longo de desenvolvimento como agente
transformador da realidade, buscando uma sociedade mais igualitária através da arquitetura e
do urbanismo.
Às minhas companheiras de jornada, Ketlyn Dantas e Yohanna Barbosa, pelas noites
acordadas, acompanhado de muita comida, música, gargalhadas e estresses. Obrigada por toda
amizade construída nesses anos, toda confiança e apoio nos momentos mais difíceis - do bar
da curva ao meu pé quebrado. Agradeço também à Thalyta Souza e Alice Marianna, minhas
vizinhas companheiras de muitas risadas e choros.
À Tauan Paz (In memoriam), “meu querido” que me inspirou a ter fé, ter MUITA
coragem e acreditar que tudo vai passar independente de qualquer coisa. Mesmo que distante,
agradeço pelas palavras de apoio, pelos incentivos e risadas. Sei que estás bem acolhido pelos
irmãos de luz.
Por fim, agradeço a TODOS os meus amigos do LabRua, por tantas trocas esses anos
todos sendo essencial para minha formação profissional. À Aida, Bea, Robson, Allyson,
Persio, Pablo, Yona, Claudia, Ana Clara, Mika, cada um de vocês é uma inspiração para mim.
Finalmente eu posso dizer Paixão, 2021.
RESUMO

Introdução Após mais de sete décadas do início de políticas habitacionais, o Brasil ainda
enfrenta o grande desafio de garantir moradia digna, e a população recorre de seus próprios
meios para obtenção do habitar. Os programas que subsidiam casas à população de baixa
renda, comumente oferecem moradias sem infraestrutura adequada e corroboram para a
autoconstrução, dado que não consideram as reais necessidades dos moradores. Para esse
cenário, a lei de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social poderia equalizar
problemas resultantes do processo de favelização, a exemplo do Complexo Aluízio Campo,
conjunto habitacional construído via financiamento governamental com marcas de
autoconstrução sem orientação técnica. Objetivos O trabalho visa propor soluções para as
intervenções feitas nas habitações do Complexo Aluízio Campos e posteriormente elaborar
cartilha de orientação técnica para os moradores do Complexo Habitacional Aluízio Campos
bem como, profissionais da área. Metodologia. Diante do aporte bibliográfico e do
levantamento das edificações do Complexo Aluízio Campos, seguido das análises e das
propostas técnicas de intervenções. Resultados. Compreendeu-se os problemas e desafios
para implementação de Assistência Técnica e a importância da soma entre comunidade,
administração pública e poder legislativo. Diante das multiplicidade de vivências, foram
elencadas diferentes necessidades, como a expansão de cômodos para comércio, inserção de
muros e paisagismo. Conclusão Cada uma das necessidades de intervenção encontradas no
Complexo Aluízio Campos merecem atenção e é de extrema importância que os arquitetos
exerçam seu papel social como agente transformador desigual realidade social, além da
urgência da Assistência Técnica como política habitacional permanente.

PALAVRAS-CHAVE: Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social.


Autoconstrução. Políticas habitacionais. Complexo Aluízio Campos.
ABSTRACT

Introduction After more than seven decades since the beginning of housing policies, Brazil
still faces the great challenge of guaranteeing decent housing and the population uses its own
means to obtain housing. The programs that subsidize houses for the low-income population
commonly offer houses without adequate infrastructure and support self-construction, since
the real needs of the residents are not considered. For this scenario, the Law on Technical
Assistance for Social Interest Housing could equalize problems resulting from the slum
process, such as the Complex Aluízio Campos, a housing complex built through government
financing with self-construction brands without technical guidance. Obejctives The work
aims to propose solutions for the interventions carried out in the housing of the Complex
Aluízio Campos and subsequently prepare a technical guidance booklet for the residents of
the housing Complex Aluízio Campos as well as professionals in the area. Methodology In
view of the bibliographical contribution and the survey of the buildings of the Complex
Aluízio Campos, followed by the analysis and technical proposals for interventions. Results
The problems and challenges for implementing Technical Assistance and the importance of
the combination of community, public administration and legislative power were understood.
Given the multiplicity of experiences, different needs were listed, such as the expansion of
rooms for commerce, insertion of walls and landscaping. Conclusion Each of the intervention
needs found in the Complex Aluízio Campos deserves attention and it is extremely important
that architects exercise their social role as a transforming agent of unequal social reality, in
addition to the urgency of Technical Assistance as a permanent housing policy.

PALAVRAS-CHAVE: Technical Assistance for Social Interest Housing. Self-construction.


Housing policies. Complex Aluízio Campos.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Linha do tempo dos programas de habitação social (1946 - 1986) 9


Figura 2 – Linha do tempo dos programas de habitação social (2001 - 2009) 10
Figura 3 – Linha do tempo dos programas alternativos de habitação social (1975 - 1984) 15
Figura 4 – Equipe do LabHab (1983) 17
Figura 5 – Mutirão na favela Recanto da alegria, Grajaú 18
Figura 6 - Linha do tempo - ATHIS (1976 - 2008) 19
Figura 7 - Publicações lançadas para auxiliar na implantação de ATHIS (2010 e 2014) 21
Figura 8 - Mutirão Paulo Freire 22
Figura 9 – Metas do Programa Arquiteto de Família 25
Figura 10 – Esquema dos condicionantes e grau de impacto de programa 26
Figura 11– Imagens de reforma no banheiro - Casa da Dona Lourdes 27
Figura 12 – Composição formal do correlato CODHAB-DF 29
Figura 13 - Embrião da unidade habitacional e conforto térmico 30
Figura 14 – Sistema construtivo da unidade habitacional 30
Figura 15 – Solução formal - correlato CODHAB-DF 31
Figura 16 – Localização dos conjuntos habitacionais em Nova Xavantina - MT 32
Figura 17 – Etapas da pesquisa 33
Figura 18 – Panfleto entregue para a comunidade 33
Figura 19 – Quantitativo das modificações por conjunto habitacional 34
Figura 20 – Fluxograma da metodologia 36
Figura 21 – Sistema construtivo - correlato 35
Figura 22 – Mapa de localização do Complexo Aluízio Campos 39
Figura 23 – Mapa de distância do centro de Campina Grande ao Complexo Aluízio Campos 40
Figura 24 – Terras no entorno do Complexo Aluízio Campos 41
Figura 25 – Mapa com setorização do Complexo Aluízio Campos 42
Figura 26 – Vista do Complexo Habitacional 42
Figura 27 – Planta baixa das casas geminadas do Complexo Habitacional Aluízio Campos 43
Figura 28 - Planta baixa dos prédios tipo “H” do Complexo Habitacional Aluízio Campos 44
Figura 29 – Setorização do Complexo Aluízio Campos 44
Figura 30 – Dados levantados pelo LabRua 45
Figura 31 – Salão de festa inativo 46
Figura 32 - Fachadas monótonas com inserção de muro 47
Figura 33 - Fachadas com uso misto 48
Figura 34 - Alterações e interrupções em calçadas no Complexo Aluízio Campos 49
Figura 35 - Cooperativa de catadores de materiais recicláveis e ponto de coleta 49
Figura 36 - Vegetação no Complexo Aluízio Campos 50
Figura 37 - Localização de pontos de ônibus do Complexo Aluízio Campos 51
Figura 38 - Ciclofaixa 51
Figura 39 - Princípios da proposta 53
Figura 40 - Exemplo de fachadas com muros altos 54
Figura 41 - Proposta de fachadas com permeabilidade visual 54
Figura 42 - Faixas da calçada normatizada 55
Figura 43 - Calçadas com inserção de rampas e degraus 56
Figura 44 - Dimensão e exemplo de calçada normatizada 57
Figura 45 - Proposta de edificação com uso misto 58
Figura 46 - Esquema de possibilidades de financiamentos e convênios 59
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Ficha técnica correlato 02 28


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BNH - Banco Nacional de Habitação


CEF - Caixa Economica Federal
CODHAB-DF - Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal
CVA - Casa Verde e Amarela
FCP - Fundação Casa Popular
FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FJP - Fundação João Pinheiro
FNRU - Fórum Nacional de Reforma Urbana
IAP - Institutos de Aposentadoria e Pensão
MCMV - Minha Casa Minha Vida
MCMV-E - Minha Casa Minha Vida - Entidades
MNRU - Movimento Nacional pela Reforma Urbana
SFH - Sistema Financeiro de Habitação
SNHIS - Secretária Nacional de Habitação de Interesse Social
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 4
2. REFERENCIAL TEÓRICO 7
2.1. Habitação social no Brasil 7
2.1.1. Aspectos gerais 7
2.1.2. Minha Casa Minha Vida 11
2.2. O processo de autoconstrução na luta pela moradia 13
2.3. Assistência técnica 16
2.3.1. Lei 11.888/2008 16
2.3.2. Experiências de assistência técnica no Brasil 21
2.4. Estudo de correlatos 24
2.4.1. Programa Arquiteto de família 24
2.4.1.1. Metodologia de trabalho 25
2.4.1.2. Projeto - Casa da Dona Lourdes 27
2.4.1.3. Considerações parciais 28
2.4.2. Concurso CODHAB-DF - Proposta 02 do grupo 02 28
2.4.2.1. Relação com o contexto 29
2.4.2.2. Solução espacial 29
2.4.2.3. Solução construtiva 30
2.4.2.4. Solução formal 31
2.4.2.5. Considerações parciais 31
2.4.3. O caso de Nova Xavantina - MT 32
2.4.3.1. Metodologia 32
2.4.3.2. Resultados 34
2.4.3.3 Considerações parciais 34
3. METODOLOGIA 35
3.1. Classificação da pesquisa 35
3.2. Caracterização do público alvo 35
3.3. Fontes e formas de coleta de dados 35
3.4. Descrições gerais das etapas de desenvolvimento 36
3.4.1. Análise teórica 36
3.4.2. Análise sócio comportamental e físico espacial 37
3.4.3. Análise do objeto 37
3.5. Legislações 37
4. DIAGNÓSTICO E ANÁLISES DO OBJETO DE ESTUDO 38
4.1 Inserção urbana 38
4.2 Complexo Habitacional Aluízio Campos 40
4.3 Análise pós ocupação 45
4.3.1 Análise de fachadas 46
4.3.2 Infraestrutura 48
4.3.3 Atributos ambientais 49
4.3.4 Mobilidade urbana 50
4.4 Considerações parciais 52
5. DIRETRIZES E PROPOSTAS 52
5.1. Princípios norteadores da proposta 53
5.1.1. Garantia das sensações de conforto e segurança 53
5.1.2. Preservação da acessibilidade da área 55
5.1.3. Integração entre os diversos usos 57
5.1.4. Legislação específica para a aplicação de ATHIS 58
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 60
REFERÊNCIAS 62
ANEXOS 66
ANEXO A - CARTILHA 66
4

1. INTRODUÇÃO

Possuir moradia adequada e digna é um direito fundamental, todos devem ter acesso a
ela desde a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas de
1948. No Brasil é também um direito constitucional desde que foi inserido na Constituição
Federal de 1998. Contudo, historicamente há uma série de problemas que dificultam esse
acesso à habitação, mundialmente os países lidam com o desafio da demanda por moradia de
diversas formas, entretanto, nenhum conseguiu sanar esse problema. No contexto
latino-americano, a industrialização tardia dos países ocasionou em um crescimento rápido da
população urbana e consequentemente as cidades se expandiram de forma desordenada, sem
políticas públicas eficientes principalmente para os mais pobres. (MARICATO, 2003)
No Brasil, a primeira política relacionada ao planejamento habitacional deu-se com a
criação do órgão Fundação Casa Popular (FCP), que concentrava os recursos dos chamados
Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP’S) para a produção de habitação. Porém, no
período de ditadura militar esse órgão foi extinto e foi criado o Banco Nacional de Habitação
(BNH) somado ao Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que também era voltado para a
construção de moradia popular no país. (BONDUKI, 1998). Em 1986, deu-se início aos
debates sobre reforma urbana e através de articulação política de várias organizações com a
participação de profissionais e sociedade civil como por exemplo, a Federação Nacional dos
Arquitetos, a Federação Nacional dos Engenheiros, o Movimento dos Favelados, a
Associação dos Mutuários, pastorais da terra, movimentos sociais de luta pela moradia, entre
outros, criou-se então o Movimento Nacional pela Reforma Urbana (MNRU). Esse
movimento fazia críticas importantes em relação à configuração socioespacial e
mercadológica das cidades e a relação de desigualdade das classes sociais, e empenhava-se
em garantir justiça social, o direito à cidade e função da propriedade. Com a Constituinte de
1988, foi formulado o Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU), que pressionou o
Congresso Nacional a regulamentar a pauta de políticas urbanas e que anos mais tarde
promulgou-se a lei Estatuto da cidade (BRASIL, 2001), regulamentando-se então, os artigos
182 e 183, que foram inseridos no capítulo II da Constituição Federal, intitulado-se “Da
Política Urbana”, onde trata-se da função social e das limitações do direito à propriedade e
estabelece instrumentos para que esse direito seja garantido no âmbito municipal. (BRASIL,
1988), sendo a primeira vez a abordagem desse assunto em uma Constituição.
5

A partir dos anos 2000 com a criação do Estatuto da cidade e a Secretaria Nacional de
Habitação (SNHIS), houve uma retomada das políticas relacionadas a habitação, com a
criação em 2007, do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e em 2009, do programa
Minha Casa Minha Vida (MCMV), no entanto, esse relacionava-se ao mesmo formato do
BNH. Ainda no contexto de incentivo às políticas públicas habitacionais no começo do século
XXI, em 2008 foi sancionada a lei federal nº 11.888/2008 - Lei de Assistência Técnica
(BRASIL, 2008), fruto de articulação das entidades que regulamentam a profissão de
arquitetos, urbanistas e engenheiros. Como solução às necessidades de reforma e construção
da população de baixa renda, a lei garante o auxílio técnico às famílias com renda de 0 a 3
salários mínimos. No entanto, são muitas as dificuldades encontradas para aplicação dessa lei
em todo território nacional, na prática ela acontece de forma isolada e não consegue
contemplar a grande população. A viabilização desse serviço pelos órgãos públicos à
população tende a trazer consequências positivas em várias esferas: social, urbanística e
econômica, proporcionando desta forma, moradias dignas para a população como também,
equalizando problemas resultantes do processo de favelização devido a falta de assistência
pelo Estado.
Atualmente vive-se uma conjuntura histórica de desconstrução de políticas
habitacionais tendo em vista o lançamento do novo programa governamental Casa Verde e
Amarela (CVA), no entanto, não traz uma nova contribuição e possui várias problemáticas
como, investimento inferior ao do MCMV além de não ser abrangente a população visto que,
uma das exigências para inscrição é possuir Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Assim, as políticas de habitação existentes ao invés de estabelecer programas que subsidiem
moradias dignas e dotadas de infraestrutura adequada, corroboraram para a autoconstrução da
moradia e expansão da malha urbana existente. A lógica de construir habitações na periferia
para a população com menos condição de renda revela grandes problemáticas sociais para
além da habitacional, interfere também na qualidade de vida urbana da população e
econômica dos habitantes. (ROMANELLI; ABIKO, 2011). Nessa conjuntura, o processo de
favelização impulsionado pela ocupação irregular é recorrente no cenário brasileiro, sobretudo
nas periferias, onde ocorre em ritmo acelerado e pode afetar a segurança, a qualidade de vida
dos habitantes, além de impactar na paisagem e no processo de desenvolvimento urbano.
Os projetos dos conjuntos habitacionais construídos via financiamento governamental
comumente ignoram a malha urbana existente da cidade já consolidada de infraestrutura,
como também as necessidades dos futuros moradores e não os convidam para participar do
processo de planejamento e concepção, como acontece no programa MCMV.
6

Consequentemente, torna-se cada vez mais comum os usuários fazerem alterações nas
edificações adequando-as às suas necessidades de espaços e usos, entre as quais destacam-se:
inserção de muros, expansão de cômodos para uso de comércio e serviço ou expansão da
moradia em função do crescimento da família. De acordo com o DataFolha (2015), 85% da
população brasileira já construiu ou reformou sua habitação sem o serviço de um arquiteto
e/ou engenheiro.
A partir dessa abordagem o presente estudo se desenvolve na área periférica da cidade
de Campina Grande, na Paraíba, no qual o município possui uma das maiores arrecadações do
estado. Como acontece em outras cidades brasileiras, a área central que possui uma
infraestrutura já consolidada está sendo abandonada no uso habitacional, havendo um
crescimento da malha urbana existente incentivado pela Prefeitura Municipal a fim de
diminuir o déficit habitacional da cidade (AQUINO et al., 2019). Nesse aspecto, de
expressivo crescimento da malha urbana através da implantação equivocada dos conjuntos
habitacionais que acarretam em outras problemáticas urbanísticas, como espraiamento da
cidade para áreas sem infraestrutura, a exemplo do Complexo Complexo Aluízio Campos que
foi construído na zona sudeste da cidade com 4.100 unidades habitacionais e, apesar de ser
recente inaugurado, em 11 de novembro de 2019, já é possível constatar mudanças
arquitetônicas promovidas pelos próprios moradores, através da autoconstrução sem
orientação técnica.
Diante desse cenário morfológico e social à cidade, o presente estudo pretende ampliar
o debate sobre autoconstrução e a efetiva aplicação da lei de Assistência Técnica. Além disso,
pretende abordar a função social do profissional arquiteto e urbanista entendendo que é um
serviço que alcança todas as classes e, todas as reformas e construções podem ser feitas com
qualidade a partir do conhecimento e popularização da lei existente. Pretende também, trazer
melhorias para o Complexo Aluízio Campos e orientar os gestores públicos locais nas futuras
tomadas de decisões, evitando que ocorram os mesmos erros cometidos até o presente.
Assim, tem-se como objetivo geral da pesquisa propor soluções para as intervenções
feitas nas habitações do Complexo Aluízio Campos. Para tal fim, foram estabelecidos três
objetivos específicos, constituindo-se em: analisar as transformações de autoconstrução nas
unidades habitacionais; sistematizar os dados encontrados para desenvolvimento tipológico;
elaborar cartilha de orientação técnica para os moradores do Complexo Habitacional Aluízio
Campos bem como, profissionais da área.
7

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo busca através de um resgate histórico apresentar como as políticas


habitacionais no Brasil se consolidaram ao longo do tempo, compreendendo a atual situação e
as suas problemáticas envolvidas, a luta pelo direito à moradia e a implementação da lei de
Assistência técnica. Por último, para fomentar o trabalho são apresentados e analisados três
projetos de assistência técnica e habitação de interesse social.

2.1. Habitação social no Brasil

Para entendermos o cenário atual da habitação social no Brasil, é preciso analisar a


história entre as últimas décadas, desde o conceito de habitação social aos programas
implantados nesse tempo.

2.1.1. Aspectos gerais

O conceito de habitação social no Brasil iniciou-se por volta da década de 1930, onde
o país passava por uma crise de habitação, a população migrou da área rural para a urbana em
busca de melhores oportunidades, em razão das fortes políticas de industrialização do governo
Vargas. Segundo Oliveira (1971, apud BONDUKI, 1998), além de estratégias de intervenção
na economia, o governo também passava a intervir no processo de produção e locação
habitacional para fortalecer uma sociedade capitalista.
Nas décadas seguintes as políticas de crédito imobiliário para casa própria começaram
a ser destaques nos governos. Ainda na era Vargas, os IAP’S garantiam aos trabalhadores
associados a aposentadorias e pensões, a saúde e o financiamento de moradias, entretanto,
excluiam trabalhadores rurais e informais. Esses trabalhadores só vieram a ser incluídos
quando a Fundação da Casa Popular (FCP) foi estabelecida como órgão, tendo como proposta
a construção de habitação popular para esse público, além de financiar obras de infraestrutura
urbana, pesquisas e atuar no serviço social, entre outros.
O programa começou a ficar conhecido, porém o governo não tinha capacidade para
mantê-lo por sua abrangência, e utilizava-se em benefício de fortalecer o discurso da casa
8

própria. Com diversos problemas, o órgão entrou em crise e foram entregues poucas
moradias, menos de 1% do previsto, que era de 3.600.000. (AZEVEDO E ANDRADE, 2011).
Azevedo e Andrade (2011) também afirmam que, as pessoas de renda baixa não eram
excluídas pois não existia uma renda mínima, porém quem tinha mais condições também
poderia ser favorecido com uma casa popular. Infelizmente, os editais eram pouco divulgados
e existiam privilégios na seleção. Vale ressaltar que as habitações produzidas nessa época
tinham variação tipológica em função dos condicionantes locais, buscavam-se parcerias com
as universidades a fim de melhorar essas habitações.
No começo da década de 1960, o país passava por crise em políticas habitacionais, as
experiências anteriores não possuíam articulação em suas ações e disseminaram os mesmos
erros por décadas. Com isso, a população começou a se articular para cobrar o governo sobre
a questão habitacional e de reforma agrária. A primeira proposta de reforma urbana no país
foi iniciada em um Congresso de 1963, organizado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil,
porém no ano seguinte com o golpe militar a reforma foi inviabilizada devido ao teor
totalitário da época. Posteriormente, a discussão volta com maior visibilidade a partir da união
de várias entidades e movimentos sociais, o que viera a ser intitulado como MNRU -
Movimento Nacional pela Reforma Urbana (JÚNIOR E UZZO, 2009).
No período do golpe militar, em 1964, a fim de aliar um programa que respondesse os
anseios e demandas da população, e estabelecer a ordem quanto às reivindicações das bases
revolucionárias, foi criado o Banco Nacional da Habitação (BNH) e o Sistema Financeiro de
Habitação (SFH), surge-se então, o primeiro momento em que o país tem uma política
Nacional de Habitação com o teor estratégico e articulado (AZEVEDO E ANDRADE, 2011).
Nesse presente surge também, o estímulo à poupança familiar, a criação de linhas
permanentes de financiamento e de fundo de garantia, como o Fundo de Garantia de Tempo
de Serviço (FGTS). Posteriormente, a Caixa Econômica Federal (CEF) utilizou-se do FGTS
para oferecer alguns serviços de créditos e aquisições de casas por meio do MCMV.
O estado ficava responsável pela compra e pelos projetos de habitação, as terras que
eram adquiridas geralmente se encontravam às margens da cidade pelo custo barato e acabam
gerando vazios na malha urbana além da especulação imobiliária causada pelo investimento
feito em infraestrutura nesses locais de terras não urbanizadas. A produção de moradia ocorria
de forma massificada e centralizada, sem variedade tipológica e de diversidade de usos, não
levava em consideração o meio físico ocorrendo muito desmatamento e aterramento de
afluentes. Desse modo, a produção de habitação nesse momento começa a gerar
problemáticas para as cidades que se estendem até os dias atuais, o processo de espraiamento
9

da cidade e a segregação espacial dos bairros foi intensificado através das ações do poder
público (JÚNIOR E UZZO, 2009).
Nos últimos anos de ditadura política, as pautas sobre questões habitacionais voltaram
a aparecer como reivindicação de direito básico e combate às desigualdades sociais. Junior e
Uzzo (2009) ainda afirmam que, as pastorais da Igreja Católica foram atuantes na luta pela
reforma urbana, pois defendiam a função social da propriedade urbana.
No ano seguinte ao fim da ditadura militar, em 1986, o BNH foi extinto e incorporado
à CEF e em âmbito nacional isso fragilizou as políticas públicas nacionais. Nesse período de
transição para a democracia, houve uma retomada da qualidade do projeto e relação com a
cidade. As práticas populares, autoconstrução, mutirão e autogestão, entretanto, repercutem-se
em nível municipal. A linha do tempo elucida as datas de origem desses programas e suas leis
(Figura 01).
Figura 1 - Linha do tempo dos programas de habitação social (1946 - 1986)

Fonte: Elaborada pela autora, 2020


Ainda com o fim da ditadura militar, a articulação dos movimentos sociais, entidades
profissionais e sindicalistas em prol da moradia motivaram a criação do Movimento Nacional
pela Reforma Urbana, o qual além da questão habitacional também debatia-se sobre direito à
cidade, desigualdade social e a lógica capitalista (JÚNIOR E UZZO, 2009). Definindo-se
assim, uma nova fase política para o país:
[...] Com isso, inaugura no país um projeto que reivindicava uma nova cidade e
propunha a quebra dos privilégios de acesso aos espaços das cidades. Configura-se
uma politização que vai além da questão urbana porque se estende para o âmbito da
justiça social e da igualdade. Tem como centro nodal a questão da participação
democrática na gestão das cidades, tão discriminada pela lógica excludente dos
planos tecnocráticos dos anos 1960 e 1970, apoiados apenas em saberes técnicos,
dos quais a população era considerada incapaz de saber, agir e decidir. (JÚNIOR E
UZZO, 2009, p. 261)

O MNRU constituiu o Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU) junto com outros
movimentos, onde a principal reivindicação era a regulamentação do capítulo da política
10

urbana na Constituição Federal de 1988. No entanto, só aproximadamente uma década depois


conseguiram a intitulação da Lei federal apresentada como Estatuto da Cidade. Outras
conferências articuladas pelo MNRU foram decisivas para pressionar as autoridades a se
comprometerem com questões ligadas ao direito à moradia e principalmente à cidade,
resultando também como direito fundamental inserido na Constituição Brasileira. (JÚNIOR E
UZZO.)
No início do século XX, a retomada de uma política nacional de habitação com a
introdução do direito à habitação junto ao Estatuto da Cidade, a criação do Ministério das
Cidades e da SNHIS, foram decisivas para a consolidação de programas como o PAC e o
MCMV. A linha do tempo destaca os anos de implementação dessas políticas e suas leis
respectivamente (Figura 02).
Figura 2 - Linha do tempo dos programas de habitação social (2001 - 2009)

Fonte: Elaborado pela autora, 2020

Como visto antes, o Estatuto da Cidade foi um marco importante conquistado pela
participação dos movimentos sociais de luta pela reforma urbana, no qual, facilitou o acesso à
informação de políticas urbanas já existentes mas pouco conhecidas pela sociedade civil, em
que foram elaboradas oficinas nacionais com materiais didáticos ao público com muitas
lideranças e posteriormente, consolidaram a popularização desse importante marco. Desse
modo, o Estatuto definiu instrumentos que assegurem a existência dessas políticas, a exemplo
da regularização fundiária e da função social da propriedade, contidas na Constituição Federal
de 1988 em seus artigos 182 e 183, e posteriormente regulamentados pela Lei 10.257/2001.
Outra conquista significativa conquistada pelo MNRU foi a criação do Ministério das
Cidades, em 2003. Para isso, foram necessários alguns anos de articulação e construção, que
começou desde o FNRU, quando o então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva
apresentou seu plano de governo de campanha e se estendeu até a criação do Ministério. A
11

proposta de projeto tinha como base centralizar políticas urbanas como habitação, saneamento
e infraestrutura e mobilidade (SERAFIM, 2013).
No fim do primeiro mandato do presidente Lula, em 2007, devido à crise econômica
em que o país passava foi criado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em busca
de acelerar o crescimento econômico. Para isso, Serafim (2013) afirma que foram
estabelecidas medidas em relação a investimentos em infraestrutura urbana, saúde, cultura,
além de estímulo ao crédito, medidas fiscais de longo prazo, entre outros. Em 2009, foi criado
o programa Minha Casa Minha Vida e no ano seguinte, o PAC II teve ações direcionadas ao
programa, como o incentivo ao financiamento de casas populares.

2.1.2. Minha Casa Minha Vida

A Medida Provisória nº 459 de 2009, aprova o Minha Casa Minha Vida (MCMV),
apresentando-se com o principal foco a redução do déficit habitacional, que de acordo com a
pesquisa feita pela Fundação João Pinheiro (2009) era de aproximadamente 7.9 milhões de
moradias. Portanto, a proposta do programa era possibilitar às famílias com renda de até dez
salários mínimos, o acesso à casa própria. O programa divide-se então em 3 modalidades:
Programa Nacional de Habitacional Urbana (PNHU); Programa Nacional de Habitação Rural
(PNHR) e Programa Habitação Popular - Entidades.
Como apresentado anteriormente, o país passava por uma crise econômica e
consequentemente de empregos, e com o MCMV pretendia-se estimular o setor da construção
civil. Com isso, a produção de habitação em massa e a promoção de demanda por mão de
obra de baixa qualificação era o principal objetivo do governo como medida emergencial em
época de recessão (ROLNIK et al., 2015), compreende-se então, que a idealização do
programa buscou sanar questões tanto econômicas como habitacionais. Em decorrência das
empresas do setor estarem próximas da falência, os autores ainda afirmam que foi uma
oportunidade de negócio para as mesmas.
Dessa maneira, Rolnik et al. (2015) afirma que as empresas privadas na maior parte
dos casos tinham autonomia para diversas ações, e não seguiam o padrão de diretrizes
urbanísticas de políticas habitacionais. A exemplo das escolhas de terrenos, que
selecionavam-os distantes da malha urbana consolidada pelo seu baixo custo. Assim, durante
anos o programa se moldou criando habitação periférica para a população de baixa renda.
O programa continuou exitoso na presidência seguinte com Dilma Rousseff, mas
ainda com a necessidade de se renovar já que existiam muitos problemas que eram
12

prejudiciais à morfologia da cidade, além da baixa qualidade construtiva das unidades


habitacionais. Cardoso (2013) afirma que, diante desse cenário foi preciso criar novos
parâmetros no programa, como: a diversidade de usos e incentivo a soluções sustentáveis, a
exemplo da utilização de placas solares. Porém, com a tentativa de renovar o programa,
nota-se que os empreendimentos continuaram nos mesmos moldes anteriores, sendo
construídos novos bairros distantes da área central. Formando-se assim, um modelo de
implantação que fragmenta o espaço urbano e gera periferização, produzida pelo Estado.
Em 2016, o PMCMV pretendia criar mais de 2 milhões de contratos mesmo passando
por uma crise econômica, com o impeachment da presidente Dilma, o empossado presidente
Michel Temer seguiu com números baixos de contratações, havendo estagnação do programa.
No governo seguinte, com o presidente Jair Bolsonaro, esse cenário de pouca liberação de
recursos permaneceu. Após dez anos da criação do programa, no ano de 2019 se obteve o
menor orçamento destinado ao programa - 4,17 bilhões.
No mesmo ano, houve também o corte de verbas da modalidade programa Minha
Casa, Minha Vida – Entidades (MCMV-E) e paralisação dos projetos. Essa modalidade
destina-se à construção de habitação popular ou requalificação de imóveis urbanos por meio
de uma entidade organizadora, essa tinha a responsabilidade de organizar e executar as
unidades habitacionais junto com as famílias beneficiadas. Da mesma forma que ocorria no
fim do BNH, as construções ocorriam através de autogestão via mutirões e os agentes
facilitadores do processo, eram movimentos sociais em prol de moradia digna.
Em 2020 o presidente em exercício, Jair Bolsonaro, lançou um novo programa, o
programa Casa Verde e Amarela (CVA), no qual a meta é atender 1,6 milhão de habitações até
2024. No entanto, as famílias com renda de até 1,8 mil mensais passaram a não receber o
subsídio para a compra de imóveis como ocorria no MCMV, sendo assim, o público-alvo que
deveria ser beneficiado em relação ao déficit habitacional existente, será prejudicado nesse
novo formato. O programa trouxe taxas de financiamento diferenciadas para região norte e
nordeste em relação às demais regiões, também apresentou-se a destinação de recursos para
requalificação de moradias e regularização fundiária.
Por fim, é possível perceber que não houveram mudanças significativas no novo
programa, não havendo mais detalhamento na medida provisória de sua implementação. Já
existem programas federais direcionados a questões fundiária e de assistência técnica, porém
há muitas dificuldades de implementação em todo território nacional, entende-se que essas
dificuldades permanecerão, visto que não há orientação de como poderá ser implantado. Na
história da política habitacional do país, muito se discutiu sobre a questão financeira e
13

mercadológica e pouco sobre a questão da moradia, onde o MCMV ficou por muito tempo
como a única política genérica, beneficiando mais construtoras e políticos do que de fato a
população.

2.2. O processo de autoconstrução na luta pela moradia

A partir da década de sessenta, no século XX, as ciências sociais conceituaram e


passaram a refletir sobre o direito à cidade. Nesse período, as reivindicações por direitos civis
e os movimentos sociais cresciam com entusiasmo.
Segundo Lefebvre (1968), as cidades eram produzidas enquanto mercadorias,
possuindo estrutura opressora afetando diretamente a classe operária periférica, tendo seu
espaço regulado (urbanização regulatória) a grandes percursos de ida e volta para o trabalho e
sem momentos de lazer. Para o autor, era preciso ser contra esse cenário, todas as pessoas são
responsáveis e têm direito a uma cidade de encontro e troca. Assim, o conceito de direito à
cidade surgia.
Nessa época, a obra do geógrafo brasileiro Milton Santos apresenta um diálogo com a
obra de Lefebvre. As cidades são formadas pelo espaço, que consequentemente é composto
pela materialização e a influência da sociedade sobre esse espaço, ambos são dependentes de
si e marcados pela época vivida (SANTOS, 2002). Posteriormente Harvey (2008) ampliou o
conceito de direito à cidade ao afirmar que:
[...] É o direito de mudar a nós mesmos, mudando a cidade. Além disso, é um direito
coletivo e não individual, já que essa transformação depende do exercício de um
poder coletivo para remodelar os processos de urbanização. A liberdade de fazer e
refazer as nossas cidades, e a nós mesmos é, a meu ver, um dos nossos direitos
humanos mais preciosos e ao mesmo tempo mais negligenciados. (HARVEY, 2008,
p. 23)
Essas conceituações somaram-se às práticas, logo os movimentos sociais se
articularam em prol de moradia, transporte, cultura e infraestrutura. Ainda nos anos sessenta,
o principal foco era a questão fundiária porém com o golpe militar em 1964, foram frustradas.
Em todo período ditatorial, o Estado promovia a fragmentação do espaço ao produzir
habitação às margens das cidades. Nos anos setenta, as cidades brasileiras apresentavam um
acentuado processo de urbanização e como efeito, as marcas de segregação socioespacial
também ficaram evidentes. Inicia-se então, o aumento dos conjuntos habitacionais populares e
das favelas que são a base estrutural sócio-espacial das cidades brasileiras até os dias atuais,
como Gordilho (2001) afirma:
14

[...] Isso se evidencia com a ampliação do fenômeno de favelas, como forma de


eliminar os custos com aluguel, bem como com a grande quantidade de loteamentos
irregulares e clandestinos, produzidos a custos mínimos, configurando um mercado
paralelo ao segmento formal. São situações que irão demarcar uma intensa
segregação da pobreza no espaço urbano. (GORDILHO, 2001, p. 69)
Havia uma forte fragmentação do espaço entre periferia e centro, o que atualmente
ainda promove estudos sobre a temática. Freitas (2020) sintetiza que a zona central é marcada
pelas trocas e a periferia pela negação do urbano aos habitantes, a partir de uma referência em
Lefebvre:
[...] O centro, sob esse viés, não seria o marco geográfico zero de uma cidade ou
metrópole, mas se trataria sobretudo de uma situação urbana na qual se concentram
instituições, redes e trocas; a periferia, ao contrário, se constituiria como o espaço
que nega o urbano às pessoas, sem ser necessariamente a margem em dada escala
geográfica. Deste modo, centro e periferia podem ser concebidos como conceitos
dialeticamente relacionais, como o movimento dinâmico de produção e reprodução
do espaço, marcado pelo embaralhamento entre processos imediatos e globais..
(FREITAS, 2020, p. 5)
Como abordado no capítulo anterior, os anseios da população sobre temáticas
relacionadas aos direitos à cidade e a desigualdade social a partir do período de
redemocratização sociopolítica e com a formação do Fórum Nacional de Reforma Urbana
pelo MNRU, em 1988, é possível perceber avanços concretos através de programas e projetos
de leis articulados por entidades profissionais, sindicalistas, acadêmicas e políticas (JÚNIOR
E UZZO, 2009).
Essa articulação por políticas urbanas, principalmente por moradia, iniciou-se com
FNRU e mantém-se até os dias atuais, passando pela regulamentação dos artigos 182 e 183 na
Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Cidade em 2001. A pauta habitacional vem
sendo objeto de luta durante um longo período e ainda é uma questão complexa mas
extremamente prioritária a ser resolvida como política habitacional. Historicamente, a
especulação imobiliária é realizada por proprietários de imóveis ou terrenos vazios, onde
espera-se a valorização dos mesmos a fim de conseguir um maior retorno financeiro. Logo,
essa prática vem há anos acontecendo de forma ilegal visto que o artigo 182 da Constituição
Federal assegura o direito da função social da propriedade, isto é, imovéis vazios não estão
cumprindo a sua função social.
Nesse contexto, fez com que a população procurasse formas alternativas para
solucionar a falta de moradia, como ocupações e construções feitas sob improviso que
produziram transformações informais nas cidades. Aliado a isso, surge então, os coletivos
15

articulados que organizavam essas ocupações a fim da efetivação desses direitos, hoje
designados como movimentos sociais. Marinho (2007) aponta que surgiram representações
importantes sobre moradia. A Confederação Nacional de Associação de Moradores
(CONAM), formando-se associações de bairros por todo país. O Movimento Nacional de
Luta por Moradia (MNLM), focando-se na ocupação de vazios urbanos centrais. A União
Nacional por Moradia Popular (UNMP), que busca a construção de políticas urbanas e
habitacionais através dos movimentos sociais.
Bonduki (1998) considera que a soma: periferia, ideia de casa própria e
autoconstrução, foram alternativas para soluções de moradias a um baixo custo,
ocasionando-se então, o avanço da produção informal sob a formal, visto que o SFH foi
paralisado com a extinção do BNH, sendo substituído pela CEF, havendo assim baixa parceria
público-privada para oferta de novos contratos (GORDILHO, 2001).
Ao avaliar o cenário econômico do país desde a década de setenta, no século XX, até
os dias atuais, Gordillho (2001) evidencia que essa crescente produção informal está atrelada
a falta de trabalho formal, a má distribuição de renda e a depreciação do salário mínimo. As
casas feitas pelos próprios moradores é uma alternativa às ofertadas pelo Estado, essas
possuem um custo maior, principalmente pela mão de obra ser mais alta. Diante desse
processo, ainda na década de setenta, o Estado incentivou a autoconstrução com a criação de
programas alternativos, financiados pelo BNH e administrados pelas Companhias
Habitacionais (COHABs) .
“[...] ao tentar tratar a Autoconstrução e o Mutirão como uma Política Habitacional,
nas décadas de 70 e 80, pode-se dizer que a introdução das novas políticas públicas
habitacionais, baseadas na proposta de autoconstrução, os projetos de mutirão e
autogestão foram deixando o caráter de informalidade e passaram a ser enquadrados
nas políticas municipais.” (VIDAL, 2008, p. 151).
Figura 3 - Linha do tempo dos programas alternativos de habitação social (1975 - 1984)

Fonte: Elaborada pela autora, 2020


16

Esses programas não tiveram muito êxito pela falta de organização dentro do
movimento comunitário, pelas dificuldades em efetivar a regularização fundiária, além da
falta de decisão dos beneficiários nos projetos, tornando-os somente mão de obra gratuita.
Entretanto, a partir dos erros foi possível que posteriormente os coletivos tivessem a noção de
que os moradores deveriam participar de todo processo da produção habitacional. Como
também, marcou uma nova era de luta coletiva por moradia permitindo a criação, ampliação
das reivindicações e consistência de movimentos sociais existentes até os dias atuais, como o
CONAN, MNLM, UNMP e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)
(FERREIRA, 2019).
Enquanto isso, o déficit habitacional ainda era expressivo e as políticas habitacionais
não eram suficientes para sanar a demanda por moradia, as alternativas ao modelo BNH
aconteciam de forma pontual e fragmentada.
Posteriormente, depois da criação do Ministério das Cidades, do PAC e do PMCMV,
com o acréscimo da modalidade PMCMV-e foi possível perceber o rompimento com o
modelo que acontecia do BNH aos programas alternativos, que ocorriam em prol do mercado
e aos moldes do regime militar, com processos não democráticos e individualistas. No
entanto, o programa como um todo ainda manteve as práticas do BNH com a produção
periférica de moradia sem diversidade de usos e tipologias, estimulando o espraiamento e a
especulação imobiliária.

2.3. Assistência técnica

O processo árduo para implantação da Lei de Assistência Técnica foi um marco


histórico de luta pelos movimentos sociais em prol de moradia digna, através de um resgate
histórico busca entender os desafios a serem enfrentados após mais de dez anos de sua
aprovação e da pouca efetividade.

2.3.1. Lei 11.888/2008

A produção ou alteração de habitação sem acompanhamento técnico, tal como a


invasão dos recuos e ocupação de calçadas, ao longo do tempo ocasionou em uma
urbanização precária nas cidades brasileiras. Desse modo, no fim dos anos setenta, o debate
17

sobre autoconstrução e assessoria técnica como política pública passam a ser motivados e
replicados.
Apesar da atuação pontual dos programas alternativos no Brasil, foi no período de
transição para o regime democrático em que apresentaram-se com mais frequência e com a
organização ideal dos três agentes promotores: estado, comunidade articulada e apoio
profissional. Nesse momento, as escolas de arquitetura e urbanismo se aproximavam da
realidade da periferia com os chamados Laboratórios de Habitação (Figura 4 e 5), onde os
professores e alunos se envolviam no processo de construção com a comunidade, integrando o
ensino à prática (POMPÉIA, 2006).
Os chamados "técnicos da comunidade" - assim era o nome dado pelas associações
de moradores aos participantes do Laboratório de Habitação - eram instrumentos de
qualificação de resultados e, hoje, esses técnicos podem ser vistos como um produto
de uma coisa realmente positiva. Passados mais de vinte anos dessa experiência,
podemos ainda identificar boas soluções arquitetônicas e verificar que esses
profissionais, que saíram do Laboratório, são de grande qualidade. (POMPÉIA,
2006, p. 13).
Figura 4 - Equipe do LabHab (1983)

Fonte: Memorial Circunstanciado de Nabil Bonduki, 2013


Pompéia (2006) ainda apresenta o relato do professor Sant’Anna sobre essa época:
"De fato, o Laboratório de Habitação se tornou a coisa mais importante do curso e
produziu resultados também muito importantes. Das pessoas que atuaram no
laboratório, a maior parte se engajou em setores significativos da produção
habitacional no município de São Paulo, na gestão da Prefeitura Luiza Erundina - na
SEHAB, COHAB e HAB. Outro aspecto significativo foi a participação de pessoas
que trabalharam no laboratório e participaram de assessorias técnicas que tiveram,
pela primeira vez, um espaço efetivo na produção e inovação habitacional."
(POMPÉIA, 2006, p. 20).
18

Figura 5 - Mutirão na favela Recanto da alegria, Grajaú

Fonte: Memorial Circunstanciado de Nabil Bonduki, 2013


Outras experiências de colaboração entre estado, técnicos e comunidade para a
construção de habitação social foram satisfatórias nesse período. De 1983 a 1987, a Vila
Comunitária em São Bernardo do Campo tinha como promotor a prefeitura com
financiamento do Companhia de Desenvolvimento Habitacional - CDH, a Associação de
Construção Comunitária por Mutirão de São Bernardo do Campo e a assessoria técnica dos
arquitetos Leonardo Pessina e Laila Mourad (BARROS, 2011)
No começo dos anos noventa, várias assessorias técnicas foram formadas com projetos
de alta qualidade, sobretudo na cidade de São Paulo, desenvolvidas na gestão da prefeita
Luiza Erundina. Tendo como exemplo: o Mutirão 26 de julho - Usina, o Conjunto São
Francisco VIII, a Assessoria Técnica Ação Direta (AD), o Conjunto Habitacional Rio das
Pedras com a Teto Assessoria. Para Barros (2013), Luiza Erundina teve grande importância
no processo de política habitacional com a participação articulada da administração pública,
associações dos movimentos de moradia e os prestadores de assessoria técnica.
"Com a vitória da prefeita Luiza Erundina em este grupo de arquitetos que já vinham
nesta trajetória do trabalho junto aos movimentos de moradia, encontrou nesta
gestão (1989-1992) a possibilidade de, junto à administração pública, realizar os
projetos de moradia para os movimentos e formarem as entidades de assessorias
técnicas. [...] A política habitacional da gestão da prefeita Luiza Erundina levava em
conta as preocupações dos movimentos, haja vista o caráter participativo que a
importante ação pública nesta área tinha, qual seja, o mutirão autogestionário.
Priorizava-se o diálogo e incentivava a interação entre agentes políticos distintos
19

com o intuito de desenvolver não só as iniciativas do poder público, mas também o


interlocutor não-estatal, representado pelos movimentos de moradia" (BARROS,
2013, p. 17).

Figura 6 - Linha do tempo - ATHIS (1976 - 2008)

Fonte: Elaborado pela autora, 20211


A figura 6 apresenta o tempo de tramitação da idealização, projeto e aprovação da lei
11.888/2008. A mesma representa um marco histórico de luta pelos movimentos sociais em
prol de moradia digna, sendo também, a concretização do direito fundamental elencado na
Constituição Federal.
A lei de assistência técnica garante serviços de reforma, construção, legalização em
residências, de forma gratuita às famílias com renda de 0 a 3 salários mínimos, por
profissionais técnicos da arquitetura e urbanismo, engenharia, direito, serviço social,
geografia, geologia e entre outras. Logo, possibilita a qualidade construtiva, gestão de gastos
e segurança às casas das populações mais pobres, assegurando assim, a transformação das
cidades brasileiras caracterizadas por enorme desigualdade social.
A aplicabilidade dessa lei pelo território brasileiro ainda possui muitos desafios e
limitações, o maior deles é a disseminação do conhecimento, seja por quem tem direito a
ATHIS ou pelos profissionais. Considerando que 85% dos brasileiros constroem suas casas

1
Montagem a partir de imagens coletadas nos sites do CAU/MT, Camara, IAB/RS, Revista projeto,
FNA
20

sem nenhum auxílio de profissional habilitado (DATAFOLHA, 2015), percebe-se que a


sociedade ainda não compreende o que o profissional de arquitetura e urbanismo faz e a sua
importância para garantir uma edificação confortável e segura. Ademais, a lei de AT poderia
contribuir para qualidade de vida dos brasileiros e legitimação do direito à cidade, porém a
população ainda possui muitas dúvidas em como funciona e como acessá-la.
Diante desse cenário, os profissionais habilitados também possuem dúvidas sobre AT
e sua viabilização. Há uma grande deficiência no ensino, os alunos saem da universidade sem
saber sobre a importância da assistência técnica, da aliança entre arquitetura e ciências sociais
e do direito urbanístico (MACHADO, 2020). Quando formados, falta aos profissionais a
consciência sobre sua responsabilidade profissional, universalização do serviço e
consequentemente, da promoção de cidades mais justas. Cardoso e Lopes (2019) destaca a
importância das organizações da área para a mobilização de iniciar e defender as boas
práticas, nesse caso, a viabilização da ATHIS.
"O papel do CAU e demais entidades representativas da categoria tem sua
importância, visto que esses órgãos podem atuar como articuladores para as futuras
ações de ATHIS. No entanto, a prática só se consolidará com a aproximação dos
arquitetos e urbanistas com a realidade e os problemas sociais, através da observação
da população como detentora de direitos, que incluem o direito à cidade e à moradia
digna. Portanto, não será em seminários a portas fechadas, discutindo entre
arquitetos, que teremos uma concepção dessa prática." (CARDOSO E LOPES,
2019, p. 14).

Desde o ano de sua aprovação, a lei ficou inoperante por muitos anos, os profissionais
e gestores públicos não tinham muito conhecimento sobre o tema. Mais tarde, as publicações
e oficinas com orientações contribuíram para a difusão sobre a temática (Fig. 7). Depois de
dez anos após a aprovação, o CAU/BR passou a destinar 2% dos seus recursos arrecadados
para realização de ATHIS, colaborando então, a repercutir a pauta em nível nacional com o
lançamento de editais, eventos e discussões em cada Conselho Regional (MEDVEDOVSKI et
al, 2020).
21

Figura 7 - Publicações lançadas para auxiliar na implantação de ATHIS (2010 e 2014)

Fonte: IAB, 2010 e FNA, 2014. Editado pela autora, 2021


Atualmente, existem alguns projetos de pesquisa focados em ATHIS dentro das
universidades, que beneficiam as famílias de baixa renda. O fortalecimento do tema dentro da
academia, beneficia também os alunos com a capacitação adequada dos serviços, citando o
caso das residências em assistência técnica.

2.3.2. Experiências de assistência técnica no Brasil

Na década de noventa, surge a Peabiru TCA (Trabalhos Comunitários e Ambientais),


formado por profissionais de várias áreas que atuavam em movimentos populares e
assessorias. Procuram desde então, oferecer assessoria técnica por meio da efetivação de
políticas públicas, seja pela produção de moradia digna ou como mediadores entre a
população vulnerável e o campo político. Na atualidade, com quase 30 anos de existência, a
ONG de assessoria técnica ainda realiza muitas experiências que contribuem para a difusão de
moradia adequada à população e consequentemente, do direito à cidade.
Outro caso correspondente é a USINA CTAH (Centro de Trabalhos para o Ambiente
Habitado), fundada na mesma época do Peabiru TCA, busca-se assegurar de forma técnica os
movimentos sociais de luta por moradia. Atuante nos estados de São Paulo, Minas Gerais e
Paraná, com mais de cinco mil unidades habitacionais produzidas e no desenvolvimento de
pautas urbanísticas, com planos e projetos de urbanização.
Baratto (2015) descreve que no fim dos anos noventa, a experiência da USINA CTAH
com o mutirão Paulo Freire foi rica em vários âmbitos apesar das paralisações ocorridas no
processo por questões burocráticas. A USINA conseguiu lançar um novo projeto sob o
existente, através de participação popular deu-se novas soluções para o Mutirão com a
22

inserção de áreas verdes, diferentes tipologias e um centro comunitário (Fig. 8). Outra solução
positiva utilizada no projeto foi o uso de estruturas metálicas, agilizando o processo de obra e
otimizando o trabalho dos mutirantes, entretanto, com a decisão houveram resistências por
parte dos órgãos reguladores para aprovação da obra sofrendo assim, paralisações no mutirão.
Figura 8 - Mutirão Paulo Freire

Fonte: USINA CTAH, 2010. Editado pela autora, 2021


Em relação às experiências dentro das universidades, são pontuais e não fazem parte
da maioria da grade curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo, o que seria muito
proveitoso para alunos e comunidade, essa articulação entre os escritórios modelos das
universidades e os agentes produtores de ATHIS.
"[...] destacam-se, ainda, as necessárias práticas exploratórias, no exercício
continuado de aprendizagem coletiva e capacitação mútua. Tem-se como desafio,
além da interação de conhecimentos multidisciplinares e saberes vividos, despertar o
sentido de pertencer à cidade, cuidar do ambiente onde se vive e promover uma
maior urbanidade, discutindo e construído meios para a melhoria desses espaços.
Essa condição experimental enseja também o direcionamento de novos estudos,
pesquisas e inovação técnica" (GORDILHO-SOUZA E IVO, 2014, p. 14).
A Residência em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia para Assistência Técnica em
Habitação e Direito à Cidade da Universidade Federal da Bahia (UFBA) foi a primeira
residência voltada para esse segmento, tornando-se referência, inspirando outras
universidades como, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) que também iniciou o curso
nos mesmos moldes. Nessas capacitações profissionais, une-se a prática a teoria, semelhante a
Residência Médica, onde há tutoria dos professores nas atividades práticas, mais realização de
pesquisas, diagnósticos, seminários
A residência AU+E/UFBA, implantada em 2013, tem como objetivo capacitar
profissionais que atuam em comunidades carentes a fim de contribuir para melhoria
habitacional e inclusão social, buscando novas alternativas para a consolidação de moradia
digna, seja a nível da edificação, de infraestrutura ou do espaço urbano
23

(GORDILHO-SOUZA E ROCHA, 2018). Gordilho-Souza e Ivo (2014) levantam alguns


desafios para a consolidação das residências profissionais tal como, a constante articulação
entre as instituições (associações comunitárias, órgãos governamentais e não governamentais)
para consolidação da prática, como também, os custos com bolsas de estudos e suporte para
os estudantes, possibilitando a continuidade e a inclusão do atendimento em áreas mais
distantes, sendo esses os mais necessitados para serem contemplados pela assistência.
Em 2019, quando realizado o Fórum Regional de ATHIS e Extensão Universitária:
Atuação Integrada no Território, foram contabilizadas aproximadamente 73 experiências na
região sudeste, entre elas, ações de produção autogestionária, de melhorias habitacionais e de
resistência e defesa de direitos. Posteriormente a iniciativa do CAU/BR de destinar uma parte
de sua arrecadação para impulsionar a prática de ATHIS no Brasil, cresceram o número de
ações voltadas à efetivação desse direito, tal como: projetos de AT, cursos, eventos e editais.
Medwedovski et al. (2020) faz uma análise em relação aos estados brasileiros e apresenta que
63% desses publicaram algum tipo de edital, entre 2017 e 2019, onde o estado que apresentou
maior número de editais foi o Paraná, reforçando assim, que as iniciativas concentram-se no
eixo sul-sudeste.
No ano de 2020 até o momento, em contexto de pandemia pelo vírus COVID-19,
aumentou-se o debate sobre os problemas de conforto e saneamento básico das cidades
brasileiras, a muito tempo negligenciados, e por consequência o número de editais também
cresceram. Nessa conjuntura, ficou evidente a necessidade da aplicação da lei de forma
homogênea, principalmente as populações em situação de vulnerabilidade social, a exemplo
de pessoas em situação de rua, assentamentos e moradias precárias. O CAU/MG em 2020
lançou edital disponibilizando R$350 mil para quatro projetos com objetivo de “[...]
selecionar propostas que garantam melhores condições de vida para pessoas em situação de
vulnerabilidade, frente ao atual cenário de calamidade pública.” (MULATO, 2020)
No primeiro semestre de 2021, deu-se início a uma articulação em nível nacional que
possivelmente irá impactar de forma positiva a produção de ATHIS. A intenção é promover
ações em conjunto entre o conselho e os estados. O CAU/SP se articulará com a Secretária de
Habitação estadual, essa primeira experiência servirá de modelo para os demais estados
(CAU/BR, 2021). Outra campanha do conselho intitulada como “Mais Arquitetos” levará
informação sobre a profissão e a lei 11.888/2008, e ainda será iniciado um Mapa de
Arquitetura Social. Somekh (2021) ressalta a importância da população entender o que um
arquiteto faz e seu papel em melhorar a qualidade de vida das pessoas, e da iniciativa do
poder público em implementar os programas voltados para assistência técnica.
24

"As Prefeituras dos municípios brasileiros devem abraçar a ATHIS como uma das
prioridades absolutas de seus programas habitacionais nesses tempos de pandemia.
Só assim será viável enfrentar a vulnerabilidade da população que vive em moradias
precárias, que hoje já constituem 1/3 das casas do país" (SOMEKH, 2021)
Somekh (2021) também destaca, a importância da aprovação de legislações
específicas a nível municipal, que possam subsidiar a aplicação da lei federal, facilitando o
acesso aos recursos disponíveis e a efetivação de programas que funcionem continuamente,
evitando a interrupção por divergências políticas, como acontece nos municípios brasileiros.
"Já possuem legislações municipais de ATHIS as cidades de Salvador, na Bahia;
Brasília e entorno, no Distrito Federal; Sinopi, no Mato Grosso; Belo Horizonte e
Nova Lima, em Minas Gerais; Belém, no Pará; Rio de Janeiro e Rio das Ostras, no
Rio de Janeiro; Gramado, no Rio Grande do Sul; Chapecó e Florianópolis, em Santa
Catarina; e Carapicuiba, Limeira, Ribeirão Preto e Suzano no Estado de São Paulo."
(SOMEKH, 2021)
Continuar superando os desafios existentes, ampliar o debate e as iniciativas
relacionadas à assistência técnica é o caminho para conquistar cidades mais justas e
consequentemente, a efetivação do direito à cidade e moradia digna.

2.4. Estudo de correlatos

Variedade tipológica e planejamento para futuras modificações é essencial para bons


projetos de conjunto habitacionais, onde cada família possui suas necessidades e desejos.
Azevedo (2004, p.84) afirma que as “[...] necessidades habitacionais não só são diferentes
para os diversos setores sociais, como variam e se transformam com a própria dinâmica da
sociedade [...]
Foram escolhidos três projetos correlatos, o primeiro sendo um projeto que realiza
Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social no Rio de Janeiro, o segundo refere-se
a uma das propostas vencedoras do concurso nacional organizado pela Companhia de
Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (CODHAB-DF), organizado em 2017 e o
terceiro projeto é uma pesquisa intitulada como “Análise de ampliação e ambiente construído
em habitações de interesse social", publicado na Revista Interação Interdisciplinar do Centro
Universitário de Mineiros - UNIFIMES .

2.4.1. Programa Arquiteto de família


25

O projeto Arquiteto de Família é organizado pela ONG Soluções Urbanas2, e busca


levar Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social para famílias de baixa renda,
resultando então em mais de 100 famílias com casas reformadas. O arquiteto analisa a
situação da moradia e desenvolve soluções para as patologias encontradas, assim como
acontece no programa da área da saúde, o “Médico de Família”, onde um médico diagnostica
os problemas de saúde de uma determinada família.
Para realização de uma ATHIS efetiva, a ONG construiu estratégias e ferramentas
próprias, dispondo de dois pilares principais: realização de obras e viabilização econômica.
Na prática consegue-se ter reduções de custos das obras, investimento em logística mais
eficiente e acesso aos recursos com formas de pagamento rápido como a realização de feiras
de trocas e criação de fundos de crédito. Assim, Soluções Urbanas (2011) afirma que é
essencial a participação dos moradores locais para atingir as seguintes metas (Figura 09):
Figura 09 - Metas do Programa Arquiteto de família

Fonte: Soluções Urbanas (2011). Editada pela autora, 2021

2.4.1.1. Metodologia de trabalho

O fluxo de trabalho da organização tem como base a avaliação dos condicionantes


locais, definindo o grau de impacto do projeto arquiteto, sendo esse: baixo, médio ou alto
impacto (Figura 10). Correlacionando assim, o projeto em pequena e grande escala - as
2
A ONG Soluções Urbanas, com atuação no Rio de Janeiro e fundada em 2002 pela Arquiteta Mariana
Estevão possuindo um grupo multidisciplinar formado por voluntários arquitetos, engenheiros, administradores,
geógrafos, entre outros. O objetivo da organização é desenvolver projetos no âmbito da assistência técnica, para
famílias de baixa renda que vivem em habitação sem qualidade, como também, oferecer o acesso a materiais de
construção para realizarem as obras.
26

intervenções individuais associadas às intervenções urbanísticas e a regularização fundiária


(SOLUÇÕES URBANAS, 2017)
Figura 10 - Esquema dos condicionantes e grau de impacto de programa

Fonte: Soluções Urbanas (2011). Editada pela autora, 2021


A ONG entende que o impacto baixo relaciona-se com soluções limitadas na redução
dos riscos geográficos, técnicos e de salubridade existentes no local, já o médio com melhores
condições de habitabilidade e o alto com acesso às linhas oficiais de financiamento.
(SOLUÇÕES URBANAS, 2011)
Até o momento, essa metodologia de trabalho foi aplicada em algumas comunidades e
obteve êxito, indicando a possibilidade de replicação do modelo. Assim, a arquiteta Mariana
Estevão, autora do projeto afirmou em palestra para ATHIS na baixada que “ As ações,
estratégias foram pensadas para contribuir com as política públicas, disseminação da
metodologia, ganho de escala, foi pensando na replicação do modelo” (2º SEMINÁRIO,
2020)
27

2.4.1.2. Projeto - Casa da Dona Lourdes

A partir da escolha do cliente, sendo esse, família de até três salários mínimos com
habitação própria e sem situação de risco, existem algumas etapas a serem cumpridas até a
entrega final, sendo essas: o levantamento e diagnóstico inicial, a apresentação para
comunidade com orientação das atividades a serem desenvolvidas, desenvolvimento do
projeto executivo, oficinas de capacitação para a comunidade e colaboradores e execução das
obras.
Figura 11 - Imagens de reforma no banheiro - Casa da Dona Lourdes

Fonte: Facebook Soluções Urbanas (2019).

A figura 11, demonstra uma das ações feita pela organização, a reforma de um
banheiro, foram trocados e inseridos revestimentos pois as áreas possuíam infiltrações,
mudou-se também, o layout para que houvesse um melhor aproveitamento do espaço. É
notório que a mudança gerou bem-estar para os moradores, evitando problemas respiratórios e
futuras patologias resultantes da situação do antigo banheiro.
28

2.4.1.3. Considerações parciais

A escolha da proposta se destaca pelo êxito das experiências do projeto em ATHIS,


ocorrendo de forma estratégica e servindo como modelo para a replicação em outras
localidades, visto que a realidade dos territórios que necessitam de melhorias habitacionais se
assemelham do ponto de vista socioeconômico.
Com isso, a metodologia poderia ser aplicada no Complexo Aluízio Campos
inspirando-se assim, no projeto Arquiteto de família onde é aliado a execução da obra com
sua redução de custo, através de uma logística facilitada para fácil acesso a materiais
construtivos, fazendo com que haja oportunidade de desenvolvimento local.

2.4.2. Concurso CODHAB-DF - Proposta 02 do grupo 02

Esse projeto de habitação coletiva define-se como humanizado e é dividido em duas


categorias: senso de urbanidade e senso de habitualidade. O primeiro refere-se ao incentivo de
encontros dos usuários. Em relação ao processo construtivo, intitula-se normatizado e
racionalizado, onde se tem a redução de desperdício e tempo da obra. Além de
disponibilidade de insumos locais.
A utilização do software BIM para o projeto e orçamento é imprescindível para essas
decisões racionalizadas e compatibilização. Visto que, a ferramenta será obrigatória a ser
utilizada a partir de 2021.
Quadro 1 - Ficha técnica correlato CODHAB-DF

Colocação Segundo lugar do grupo 02 (unidades com dois quartos com expansão para
mais um)

Equipe José Vanildo de Oliveira Júnior, Sizinandes Barros de Lima Neto, Sarah
Lima, Rita Gurjão, Diego Montenegro de Lacerda, Liana Correa dos Santos
lacerda, Laudelino de Araújo Pedrosa Filho, Thyago Ramon Pereira da Silva,
Thálita Zavaski Abreu, Renata Caiaffo, Raphael Albuquerque dos Santos,
João Victor de Tatrai Carreiro, Jean Carlo Fechine Tavares, Giuseppe
Branquinho, Emmanuel Silva Dantas e Bruna França de Pontes

Cidade João Pessoa / PB


29

Ano 2017

Fonte: CODHAB/DF (2017)

2.4.2.1. Relação com o contexto


A implantação das edificações incentiva a permanência e contato entre a comunidade,
a possibilidade de desenvolver atividades comerciais nas expansões também favorece esse
contato de vivacidade urbana e favorece o comércio local (Figura 12).
Figura 12 - Composição formal do correlato CODHAB-DF

Fonte: CODHAB/DF (2017).

2.4.2.2. Solução espacial


A arborização nos acessos e espaços de transição dão privacidade para as edificações.
Os módulos se articulam e criam vazios, gerando flexibilidade nas edificações. Na
setorização, evitou-se desperdiçar espaço em circulação, o setor íntimo foi disposto a manter a
privacidade e o conforto térmico. A área prevista para ampliação pode ser usada para
atividades variadas. No setor íntimo, os quartos foram privilegiados de forma que a ventilação
cruzada seja predominante (Figura 13).
30

Figura 13 - Embrião da unidade habitacional e conforto térmico

.
Fonte: CODHAB/DF (2017). Editada pela autora, 2021

2.4.2.3. Solução construtiva


As edificações são feitas em alvenaria estrutural com bloco de concreto, lajes
treliçadas, e lajes impermeabilizadas a fim de captar águas pluviais que são direcionadas para
um reservatório de armazenamento. A possibilidade de expansão foi planejada para que as
suas características técnicas e identitárias permaneçam sem muita descaracterização. Sendo
assim, foi pensado em um tratamento com vermiculita expandida para manter o conforto
térmico e também foi utilizado esquadrias basculantes, onde as mesmas são capazes de
controlar a entrada de luz solar (Figura 14).
Figura 14 - Sistema construtivo da unidade habitacional

Fonte: CODHAB/DF (2017). Editada pela autora, 2021


31

2.4.2.4. Solução formal


As unidades habitacionais possuem diferentes revestimentos e diferentes relevos nas
superfícies que fornecem identidade às edificações. O térreo tem a possibilidade de expansão
com potencial para uso comercial (Figura 15).
Figura 15 - Solução formal - correlato CODHAB-DF

Fonte: CODHAB/DF (2017).

2.4.2.5. Considerações parciais

A escolha do projeto correlato ocorreu a partir da identificação das soluções de


acessibilidade para as unidades habitacionais térreas, da solução formal interessante diante da
composição das unidades e a sugestão de expansão para comércio local. Com esses
resultados, pretende-se orientar neste trabalho no Complexo Aluízio Campos.
Outra solução importante adotada no projeto é a inserção de esquadria basculante, que
além de controle de ventilação e luz, consegue melhorar a sensação de segurança no local. Em
virtude que os conjuntos habitacionais atuais são caracterizados pela falta de conforto térmico
e de segurança.
32

2.4.3. O caso de Nova Xavantina - MT

O projeto foi realizado, entre 2017 e 2018, por uma equipe de alunos e professores de
Engenharia Civil da UNEMAT, localizada em Nova Xavantina - MT, tendo como objetivo
analisar os erros das edificações das COHAB’s, os métodos empregados nas modificações
feitas pelos próprios moradores, como também auxiliá-los quanto a situação irregular perante
aos órgãos públicos.
Foi feito um diagnóstico em 75 casas de dois conjuntos habitacionais da cidade, dentre
essas, com duas tipologias diferentes, buscando registrar quais as maiores modificações feitas
pelos usuários sem o auxílio técnico (Figura 16).
Figura 16 - Localização dos conjuntos habitacionais em Nova Xavantina - MT

Fonte: PILATTI A, et al. (2019).

2.4.3.1. Metodologia

Para o desenvolvimento do projeto, as atividades foram desenvolvidas em oito etapas


(Figura 17). Entre as etapas 1 a 4, ocorreram visitas no local para levantamento de dados
sobre as habitações e posteriormente aconteceram capacitações para elaboração dos mapas e
laudos necessários.
33

Figura 17 - Etapas da pesquisa

Fonte: PILATTI A, et al (2019), editada pela autora


Na etapa 5 foi desenvolvido um panfleto com orientações para a população, contendo
informações sobre a lei de assistência técnica e gratuita (Figura 18). Em seguida, foram
impressos planta baixa, cortes, fachadas, planta de situação e de cobertura, memorial
descritivo e o panfleto e entregue aos moradores com demais informações, por fim os
moradores opinaram sobre o desenvolvimento do projeto. (PILATTI et al, 2019)
Figura 18 - Panfleto entregue para a comunidade

Fonte: PILATTI A, et al (2019).


34

2.4.3.2. Resultados
As principais modificações feitas pelos moradores do Conjunto “Meu Lar”, foram na
área de serviço, cozinha e varanda, como também a inserção de novos cômodos como quartos,
garagens, despensas, sala de jantar, banheiro, suíte e corredores. Percebeu-se também, que
existiam esquadrias e recuos que não estavam de acordo com as normas vigentes. Já no
conjunto habitacional “Morar Melhor” seguiu-se o mesmo padrão de modificações, com
exceção da área de lazer, que no conjunto anterior não foi identificado essa alteração (Figura
19).
Figura 19 - Quantitativo das modificações por conjunto habitacional

Fonte: PILATTI A, et al (2019), editada pela autora


Também foram feitas análises em relação ao desempenho das edificações como exige
a NBR nº 15.575. Percebeu-se que a materialidade utilizada, o desempenho térmico, tamanho
da edificação, dimensionamento de espaço e circulação não estão de acordo com a norma.
Esses erros são intensificados pelo uso comum de telhas de fibrocimento, que possuem alta
transmitância térmica, como também a falta de reboco nas paredes, pé direito reduzido, piso
irregular e ampliação de cômodos que prejudicam a passagem de ventilação e iluminação
natural.

2.4.3.3 Considerações parciais


O projeto destaca-se por abordar a evolução de conjuntos habitacionais em relação a
sua ocupação informal e por levar informação técnica para os moradores, primeiramente com
a orientação em panfletos sobre a lei de Assistência Técnica e posteriormente com o estímulo
do processo participativo entre comunidade e técnicos. Assim, essa integração entre
35

comunidade e acadêmicos pode ser também aplicada no Complexo Aluízio Campos,


orientando os moradores as melhores estratégias para realização das modificações
habitacionais.

3. METODOLOGIA

O trabalho apresenta uma análise socioespacial do Complexo Aluízio Campos,


associando o perfil demográfico dos moradores e expansão da unidade habitacional resultando
assim, em estudos tipológicos para ampliação das unidades habitacionais. Sendo assim, a
pesquisa é caracterizada teórica através dos questionamentos sobre as práticas de políticas
habitacionais, de autoconstrução e da falta de efetivação da lei que solucionaria esse cenário.
Desse modo, diretrizes e esquemas são propostos como uma possibilidade para os moradores
do conjunto habitacional.

3.1. Classificação da pesquisa

A pesquisa se classifica como exploratória qualitativa pois pretende-se ampliar o


debate e investigar a problemática existente, analisando a morfologia local diante do
referencial teórico construído e posteriormente propor diretrizes com base na sistematização
dos dados.

3.2. Caracterização do público alvo

O público alvo desta pesquisa são moradores do Complexo Aluízio Campos que
fizeram ou pretendem fazer ampliações em sua moradia, como também profissionais da área
de Arquitetura e Urbanismo que pretendem atender a demanda por moradia digna dessa
população.

3.3. Fontes e formas de coleta de dados

O levantamento da pesquisa deu-se através de pesquisa bibliográfica e documental,


assim pode-se construir o referencial teórico e análise de projetos similares. Como também,
consultou-se dados oficiais públicos, de associação civil educacional, e de imagens do local
do objeto de estudo, podendo assim, ser feita a sistematização dessas informações.
36

3.4. Descrições gerais das etapas de desenvolvimento

O trabalho apresenta enquanto procedimentos metodológicos três etapas que buscam


aumentar a discussão da problemática do objeto de estudo, visando soluções que possam
melhorar o Complexo Aluízio Campos futuramente (Figura 20).
Figura 20 - Fluxograma da metodologia

Fonte: Elaborado pela autora (2021).

3.4.1. Análise teórica

Apresenta a revisão bibliográfica a fim de compreender a questão problemática das


políticas habitacionais no Brasil, com foco em contextualizar entorno do debate da
autoconstrução e assistência técnica, embasando-se em autores como Bonduki (1998),
Maricato (2003) e Romanelli; Abiko (2011). Além de realizar estudos em correlatos de
propostas de projetos do Concurso Nacional de Projeto de Arquitetura para Habitação de
Interesse Social, sendo estes: segundo colocado do grupo um, segundo colocado do grupo
dois e primeiro colocado do grupo três, por apresentarem excelentes soluções e detalhadas de
habitação de interesse social.
37

3.4.2. Análise sócio comportamental e físico espacial

Compreende a caracterização social, econômica e física do objeto de estudo, além de


entender as vertentes de transformação da unidade habitacional do Complexo Aluízio
Campos. A análise foi realizada a partir de dados fornecidos pelo Laboratório de Rua -
LabRua3, a qual a autora faz parte, onde levantou-se as reformas ocorridas nas unidades
habitacionais, mapeou-se então, as transformações habitacionais sobrepondo os dados aos
mapas existentes, utilizando-se de ferramentas digitais (QGIS, Google Earth e Google
Sheets).

3.4.3. Análise do objeto

Relativo às conclusões diante da etapa anterior com o desenvolvimento de diretrizes


em seguida, esquemas e ilustrações gráficas dos estudos tipológicos de reforma e ampliação
das unidades habitacionais, como também a criação de uma cartilha com esses estudos.

3.5. Legislações

Para subsidiar de forma coesa a presente análise, serão utilizadas as seguintes leis
vigentes:
- Estatuto das Cidades – Lei Nº 10.257 de 10 de julho de 2001. Regulamenta os artigos
182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá
outras providências;
- Lei Nº 11.888, de 24 de dezembro de 2008. Assegura às famílias de baixa renda
assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de
interesse social e altera a Lei no 11.124
- Plano Diretor do município de Campina Grande, Paraíba - Lei complementar Nº 003,
de 09 de outubro de 2006. Instrumento da política de desenvolvimento da cidade, que
3
Associação civil sem fins lucrativos, com fins educacionais e de pesquisa técnico científica. Com sede
na cidade de Campina Grande, na Paraíba, busca-se desenvolver estudos voltados aos espaços públicos,
mobilidade de pessoas por qualquer meio de transporte, promoção da cultura, defesa e conservação do
patrimônio histórico, artístico e cultural, entre outras finalidades. Com foco em que essas tanto possam embasar
o desenho urbano dos espaços públicos estudados como dar subsídios para políticas públicas que contemplem os
aspectos de uma cidade mais democrática.
38

visa à ornamentação no crescimento da cidade e melhoria da qualidade de vida da


população de habitantes;
- Código de Obras de Campina Grande - Lei Nº 5410, de 23 de dezembro de 2013.
Dispões sobre o disciplinamento geral e específico dos projetos e execuções de obras e
instalações de natureza técnica, estrutural e funcional do município.
- ABNT NBR 9050. Norma brasileira de acessibilidade a edificações, mobiliário,
espaços e equipamentos urbanos.
- ABNT NBR 15.575. Norma de desempenho que assegura às residências atenderem
um critério de qualidade e segurança.

4. DIAGNÓSTICO E ANÁLISES DO OBJETO DE ESTUDO

O presente capítulo aborda o estudo sobre a área do objeto de estudo, bem como as
análises das transformações ocorridas com foco nas habitações existentes no local.

4.1 Inserção urbana

O município de Campina Grande está localizado no estado da Paraíba (fig. 21),


ficando somente atrás da capital João Pessoa em quantidade populacional, com
aproximadamente 410 mil habitantes (IBGE, 2010). A cidade é localizada próxima a três
importantes capitais do nordeste: João Pessoa, Recife e Natal. É marcada também por sua
influência cultural e econômica, por ser um polo para as demais cidades circunvizinhas
inseridas no Planalto da Borborema.
Figura 21 - Mapa de localização de Campina Grande

Fonte: Elaborado pela autora (2021).


39

O complexo Aluízio Campos, área do objeto de estudo, localiza-se na área periférica


da cidade com aproximadamente 800 hectares (figura 22). Fazendo uma comparação com a
mancha urbana da cidade, esse valor refere-se a mais de 20% de Campina Grande
(MACROPLAN, 2016). Focou-se como área objeto de estudo, o Conjunto Habitacional do
Complexo Aluízio Campos, o qual de acordo com Macroplan (2016) é dotado de moradias,
lazer, transporte, comércio e serviços.
Figura 22 - Mapa de localização do Complexo Aluízio Campos

Fonte: Elaborado pela autora (2021).


"O Complexo Aluízio Campos se beneficia da localização estratégica e do potencial
da própria cidade de Campina Grande, de modo a se estabelecer, de imediato, como
um empreendimento com grande potencial de impacto para todo o compartimento da
Borborema" (BARROS, 2013, p. 17).
Na figura 23, pode-se observar a distância entre o centro de Campina Grande e a área
objeto de estudo é de aproximadamente 11 km. A implantação do Complexo Aluízio Campos
ao sul da cidade, demonstra a grande dispersão urbana, que traz impactos diretos para a
população. Devido a grande concentração de comércios e serviços na área central da cidade
(AQUINO et al, 2018), os moradores do Complexo Habitacional possuem relação de
dependência com a área, e enfrentam problemas de mobilidade para essa locomoção.
40

Figura 23 - Mapa de distância do centro de Campina Grande ao Complexo habitacional Aluízio Campos

Fonte: Google Earth, editado pela autora (2021).

4.2 Complexo Habitacional Aluízio Campos

O Complexo Aluízio Campos foi proposto a partir do Plano Estratégico de


Desenvolvimento Campina Grande 2035 (PED-CG 2035), onde dispõe-se de metas, desafios
e programas estratégicos a serem cumpridos a curto e a longo prazo - até o ano de 2035. O
plano reconhece o potencial do Complexo, em relação à oportunidade de desenvolvimento a
nível regional, com a união entre emprego, educação e moradia, contendo: Complexo
Industrial, Complexo Logístico, Complexo Residencial, Tecnópolis e Jardim Botânico. Até o
momento somente a parte habitacional foi construída, sendo esse o foco de estudo, como já
mencionado anteriormente.
A localização do Complexo próxima às duas principais vias (BR-104 e BR-230)
facilita o transporte de carga e impulsiona a mobilidade, apresentando potencial para conexão
com outros dois modais além do rodoviário - o férreo e o aeroviário. (MACROPLAN, 2016
apud MACÊDO, 2019). Miranda et al. (2019) afirma que para viabilização da implantação
houve uma articulação público-privada, a fim de beneficiar o setor industrial, além do
imobiliário, com a valorização das terras existentes no entorno da área (fig. 24).
41

Figura 24 - Terras no entorno do Complexo Aluízio Campos

Fonte: Construtora Rocha, (2016).


Os autores ainda reiteram que foi revisado, em 2014, a área rural do município onde
foi-se retirado o perímetro do complexo para facilitar os recursos vindos do Programa
Nacional de Habitação Urbana (PNHU) e, inseridas na Zona de Ocupação Dirigida definidas
pelo Plano Diretor (Lei Complementar nº003/2006), a qual define-se que se tenha baixa
densidade devido a falta de infraestrutura urbana e condições físicas inapropriadas para
ocupação, no entanto, só a parte do conjunto habitacional já possui mais de quatro mil
unidades habitacionais (MIRANDA et al, 2019).
Para Maricato (2015), esse cenário de espraiamento urbano é causado pela visão de
cidade como mercadoria, dispondo assim, de valor de troca sobrepondo-se à função social e
ao valor de uso. Processo esse, recorrente nas médias e grandes cidades brasileiras, como
também em Campina Grande. Os agentes que articularam os trâmites do Complexo Aluízio
Campos estão há décadas decidindo a agenda política-econômica municipal, tal como, os
proprietários de grandes terras periféricas, os idealizadores do PED-CG/2035, além de grupos
do setor industrial por exemplo aqueles que compõem os da Federação das Indústrias do
Estado da Paraíba (FIEP) (MIRANDA et al, 2019). Em síntese, as negociações feitas nesse
projeto não tiveram transparência.
O Complexo Aluízio Campos foi setorizado de forma a atender os objetivos da
proposta - oferecer emprego e moradia em um só lugar (fig. 25). A premissa utilizada pelos
responsáveis do projeto de visão de futuro, torna-se então contraditória, pois só é a
reprodução do que já vem sendo feito há décadas e amplamente discutido por estudiosos da
42

área que alegam espraiamento da malha urbana existente e deslocamento a população para
áreas periféricas é prejudicial do ponto de vista morfológico e social (MACÊDO, 2019).
Figura 25 - Mapa com setorização do Complexo Aluízio Campos

Fonte: PMCG, editado pela autora (2021).


Ademais, é possível perceber a reprodução das políticas habitacionais feitas desde a
FCP, BNH e recentemente feita pelo MCMV, com a construção de conjuntos distantes da área
central e desprovidos de arquitetura de qualidade, com o desenvolvimento de tipologias
arquitetônicas inadequadas, por falta de conforto térmico ou incompatibilidade com as
necessidades dos moradores (figura 26).
Figura 26 - Vista do Complexo Habitacional

Fonte: Alexandrexxhb.
43

O Complexo Habitacional Aluízio Campos dispõe de um Centro de Referência de


Assistência Social (CRAS), três creches, dez academias da cidade, duas escolas, duas
unidades básicas de saúde e duas praças. Em relação às unidades habitacionais, há um
quantitativo de 4.100 moradias, entre casas geminadas (3012) e prédios em “H” (1088) - aqui
ressalta-se novamente a reprodução do modelo BNH, onde essa tipologia era comumente
utilizada, havendo problemáticas relacionadas à insolação além da impossibilidade de
ampliação de acordo com a necessidade (figura 27).
Figura 27 - Planta baixa das casas geminadas do Complexo Habitacional Aluízio Campos

Fonte: Construtora Rocha, editado pela autora (2021).


44

Figura 28 - Planta baixa dos prédios tipo “H” do Complexo Habitacional Aluízio Campos

Fonte: Construtora Rocha, editado pela autora (2021).


Atualmente, sabe-se que o incentivo ao uso misto é essencial para as cidades obterem
qualidade de vida e aumento da sensação de segurança, já que se provoca dinâmica ao espaço
público. No projeto do Complexo, foram definidas áreas para o uso comercial, mas estão
setorizadas de forma pontual longe das edificações, e encontram-se sem estrutura nenhuma
(Figura 29).
Figura 29 - Setorização do Complexo Aluízio Campos

Fonte: Construtora Rocha, editado pela autora (2021).


45

4.3 Análise pós ocupação

A partir das colocações abordadas anteriormente, percebe-se que desde a inauguração


do Complexo Aluízio Campos ocorreram transformações, sejam elas nas unidades
habitacionais a partir das necessidades dos moradores ou nos equipamentos públicos
instalados, que sofreram alteração de uso.
Dessa forma, para entender as mudanças ocorridas pós ocupação da área objeto de
estudo, foram feitos levantamentos in-loco para observar quais tipos de transformações estão
acontecendo. Além do aporte de levantamentos feitos pelo LabRua que desde 2020 até o
momento realiza pesquisas sobre o Complexo, levantando informações sobre as unidades
habitacionais térreas, sendo essas: alterações de uso, expansão, pintura, inserção de grades,
muros ou paisagismo. Esses dados estão sendo coletados e sistematizados com códigos
localizadores para identificação das casas.
Até o momento, foram sistematizados os dados de 916 lotes, sendo esses: 474
inseriram muros, 280 colocaram grades, 64 expandiram algum cômodo, 53 inseriram
paisagismo, 42 mudaram o uso também para fins comerciais e 17 pintaram a edificação
(Imagem 30).
Figura 30 - Dados levantados pelo LabRua

Fonte: LabRua, editado pela autora (2021).


46

Os equipamentos públicos do Complexo também sofreram alterações de uso, após o


salão de festa sofrer deterioração, está previsto virar uma base da polícia militar (Figura 31).
Também encontra-se deteriorado em alguns trechos, as academias populares e os brinquedos
infantis, por falta de manutenção.
Figura 31 - Salão de festa inativo

Fonte: Arquivo pessoal, 2021

4.3.1 Análise de fachadas

Sabe-se que fachadas ativas e ao nível da rua são importantes para as pessoas se
apropriarem do espaço, seja para permanecer ou caminhar (GEHL, 2013). As casas
geminadas do Complexo Aluízio Campos são térreas, porém, foi identificado que as mais
expressivas alterações foram elementos que estão relacionados à sensação de segurança - os
muros e as grandes (Imagem 32). Assim, a inserção de muros ocasiona-se em fachadas
monótonas sem permeabilidade visual entre moradores e a rua, desestimulando a
caminhabilidade de pessoas e aumentando a sensação de insegurança dos habitantes: “Nas
cidades, a animação e a variedade atraem mais animação; a apatia e a monotonia repelem a
vida.” (JACOBS, 2011, p. 108).
47

Figura 32 - Fachadas monótonas com inserção de muro

Fonte: Arquivo pessoal, 2021


Por um outro lado, há unidades se que se configuram com fachadas convidativas por
possuírem uma maior permeabilidade visual ou por terem uso misto dado as necessidades dos
moradores, que uniram o uso habitacional com o comercial e/ou serviço, nesses casos
geralmente expande-se um cômodo para poder se viabilizar (Figura 33). Outro fator
importante para dinâmica local, é que esses comércios também funcionam fora do horário
comercial, por serem anexados a edificação no período noturno alguns ficam abertos, gerando
vitalidade na rua.
48

Figura 33 - Fachadas com uso misto

Fonte: Arquivo pessoal, 2021

4.3.2 Infraestrutura
A infraestrutura urbana básica foi ampliada para o Complexo Aluízio Campos, apesar
de sua localização distante da área central, o empreendimento foi inaugurado com distribuição
de água potável, rede de esgoto e de energia elétrica, além da pavimentação de mais de
sessenta vias sinalizadas e com iluminação em LED.
As calçadas foram entregues de acordo com a NBR 9050, contendo rampas, faixa de
acesso e faixa livre contínua e regular, o que possibilita o trânsito de forma acessível e
democrática, porém foram encontradas muitas modificações que alteraram esse padrão.
Algumas unidades construíram rampas a fim de favorecer a entrada de veículos, ocasionando
em uma faixa livre irregular, retirando-se assim a acessibilidade, além da diminuição de solo
permeável nos casos em que a faixa de acesso e a área interna do lote foram pavimentadas.
Em outros casos, foram notados a presença de materiais da construção civil nas faixas livres,
prejudicando também a passagem dos pedestres. (Imagem 34).
49

Figura 34 - Alterações e interrupções em calçadas no Complexo Aluízio Campos

Fonte: Arquivo pessoal, 2021


Em relação à coleta de lixo, a Secretária de Serviços Urbanos e Meio Ambiente -
SESUMA recolhe o lixo convencional e com apoio de cooperativas também os produtos
recicláveis. Assim, foi implantado um galpão de apoio onde são destinados os materiais para
reciclagem, além de pontos de coleta (Imagem 35).
Figura 35 - Cooperativa de catadores de materiais recicláveis e ponto de coleta

Fonte: Arquivo pessoal, 2021


4.3.3 Atributos ambientais

As ruas do Complexo Aluízio Campos apresentam pouca vegetação arbórea, sendo


essa encontrada nas calçadas de forma pontual, onde os próprios moradores plantaram após a
50

ocupação. Notou-se também, a inserção de paisagismo dentro do lote das unidades


habitacionais. A inserção de vegetação é um fator que influencia na sensação térmica das
habitações, obtendo-se assim um microclima, impedindo uma maior absorção de calor.
A vegetação mais densa aparece no entorno da área do Complexo, nos limites entre
outros bairros e municípios, como por exemplo Queimadas - PB. Encontra-se também, uma
vegetação mista, arbóreas e arbustivas, nos canteiros centrais que viraram uma barreira física
para os moradores atravessarem de um ponto para outro. Por exemplo na Av. Ferroviário
Moacir Barbosa da Veiga, marcada pela presença de equipamentos urbanos importantes como
creche municipal e unidade básica de saúde, nota-se a presença de uma topografia acidentada,
animais de grande porte e o desague de águas pluviais, dificultando o caminho do pedestre
(Figura 36).
Figura 36 - Vegetação no Complexo Aluízio Campos

Fonte: OpenStreetMap e arquivo pessoal, editado pela autora (2021).

4.3.4 Mobilidade urbana

Em relação ao transporte público, transita no Complexo Aluízio Campos duas linhas


de transporte público (044 e 004) pelas principais ruas do conjunto, seguindo em direção ao
centro da cidade. Contudo, visto que uma grande porção da população trabalha na área central
de Campina Grande, as linhas existentes e a suas rotas são insuficientes.
51

Figura 37 - Localização de pontos de ônibus do Complexo Aluízio Campos

Fonte: OpenStreetMap e arquivo pessoal, editado pela autora (2021).

A figura 37 ilustra as vias do Complexo, sendo maioria locais com acesso às


habitações, exceto a coletora Av Ronaldo José da Cunha Lima, que liga essas vias à BR
104/Av. Assis Chateaubriand. A área também possui ciclofaixa, o que favorece a
possibilidade do uso de outro modal, porém não há ligação com demais trechos fora do
perímetro do Complexo (Figura 38).
Figura 38 - Ciclofaixa

Fonte: Arquivo pessoal, 2021


52

4.4 Considerações parciais

O Programa Minha Casa Minha Vida como sendo a única política por muito tempo
deixou marcas em várias cidades brasileiras, inclusive em Campina Grande, com o recém
empreendimento Complexo Aluízio Campos. A falta do diálogo entre os planejadores e a
comunidade, causa o distanciamento: de um bom projeto, das lutas sociais e do planejamento
urbano ideal.
Como debatido nos capítulos anteriores, os anos oitenta foram importantes para a
regulamentação de muitos direitos que hoje estão instaurados. A regulamentação de ATHIS
foi uma conquista para a categoria profissional dos arquitetos e urbanistas tanto para a
sociedade. Para hoje, é urgente que se retome esse cenário de organização e reivindicação por
direitos, com foco no contexto atual. É preciso transformar o serviço de assessoria técnica em
uma realidade contínua, tal como o Sistema Único de Saúde (SUS) e as defensorias públicas
dos estados. De fato, iniciativas como as do CAU/BR com editais são bem vindas e exitosas
mas não devem acontecer só por temporada.
Diante disso, com o intuito de viabilizar a ATHIS, pretende-se levar o debate e a
técnica para a comunidade de forma acessível e simplificada sobre as possibilidades que
possam ser feitas, tendo noção de viabilidade para fazer com pouco dinheiro e poder assim,
planejar o futuro.

5. DIRETRIZES E PROPOSTAS

A partir da abordagem dos capítulos anteriores sobre autoconstrução e a lei de


assistência técnica, foram desenvolvidas propostas que possam auxiliar de forma técnica os
moradores do Complexo Aluízio Campos a fazerem intervenções em suas unidades
habitacionais, de forma mais segura e com maior qualidade construtiva. A proposta visa levar
a informação de forma simplificada via cartilha técnica para a população residente da área,
possibilitando que diante do conhecimento adquirido, as novas apropriações do espaço
aconteçam por meio de soluções que respeitem os variados modos de vida, materializando
assim, em boas arquiteturas e bons espaços públicos.
53

5.1. Princípios norteadores da proposta

Diante das problemáticas e potencialidade da área estudada, foram estabelecidos


alguns princípios que orientaram a proposta deste trabalho (Figura 39). Assim, definiu-se
diretrizes projetuais em escalas arquitetônica e urbanística, correspondendo às constatações
morfológicas analisadas de uso do solo, infraestrutura existente e fatores climáticos, além da
apuração da inexistência de legislações específicas.
Os próximos itens tratarão das definições de cada diretriz simultaneamente com sua
proposta associada, através de justificativas e ilustrações.
Figura 39 - Princípios da proposta

Fonte: Elaborado pela autora (2021).

5.1.1. Garantia das sensações de conforto e segurança

Garantir a passagem de ventilação e iluminação natural para as residências é um fator


primordial para que os habitantes tenham sensação de conforto em sua moradia. Esses fatores
também contribuem para redução na energia elétrica, em razão da diminuição do uso de
equipamentos elétricos como por exemplo, lâmpadas, ventiladores e ar condicionado.
Entendendo que a principal modificação feita pelos moradores foi a construção de
muros, na maioria das vezes altos e fechados, que se transformaram em uma barreira física e
visual à paisagem urbana, impedindo assim, a passagem de vento e perda da permeabilidade
visual entre a edificação e a rua (Figura 40). Algumas estratégias construtivas devem ser
aplicadas nas novas intervenções do Complexo Aluízio Campos para que essa problemática
não se intensifique, visto que o tipo de clima da região é quente-úmido.
54

Figura 40 - Exemplo de fachadas com muros altos

Fonte: Elaborado pela autora (2021).


Para isso, pode-se favorecer a ventilação cruzada nas edificações quando adotamos o
uso de muros vazados com materiais como, elementos e portões vazados, telas, entre outros.
A figura 41 ilustra propostas utilizando-se desses materiais, que também trazem visibilidade
para o interior da edificação, ocasionando em uma fachada com permeabilidade visual,
responsável por motivar a sensação de segurança sentidas por moradores e pedestres, dado
que ocorre a vigilância mútua.
Figura 41 - Proposta de fachadas com permeabilidade visual

Fonte: Elaborado pela autora (2021).


55

Aliado a essas estratégias, a inserção de paisagismo também contribui para o conforto


térmico das edificações, já que as plantas são capazes de filtrar o ar e provocar o aumento da
umidade local, além de trazer embelezamento,ocasionando em identidade estética ao imóvel.

5.1.2. Preservação da acessibilidade da área

Como visto no capítulo anterior, a área é dotada de vias e passeios projetados com
dimensões adequadas e acessíveis a todos os públicos. No entanto, diante das necessidades
dos habitantes, houveram mudanças nas calçadas de algumas unidades habitacionais que
podem trazer diversos prejuízos para a área e seus moradores. As interrupções no passeio, seja
pela construção de rampas ou pela obstrução por materiais da construção civil, provocam
sensação desagradavel de insegurança e desconforto nos pedestres, e os desestimulam a
caminhar, podendo até interferir no acesso ao comércio local.
Para as alterações feitas em calçadas, a ideia é incentivar os moradores a construí-las
de forma normatizada, dado que além de garantir segurança aos pedestres com a preservação
da acessibilidade existente, também contribui para uma melhor manutenção das vias, valoriza
o imóvel e o bairro. Assim, de acordo com a Lei Nº 095/15 - Plano de Mobilidade de
Campina Grande - PLANMOB/CG, as calçadas devem ter duas faixas, sendo elas: faixa de
circulação e faixa de serviço, no caso do Complexo Aluízio Campos existe uma terceira, a
faixa de proteção a edificação (Figura 42).
Figura 42 - Faixas da calçada normatizada

Fonte: Elaborado pela autora, 2021.


56

Diante das necessidades dos moradores de adequar as calçadas para acesso dos carros
as garagens, é importante salientar que deve ser feito de acordo com as regulamentações da
Lei nº 5410/13 - Código de Obras, onde o rebaixamento do meio fio deve ser feito na faixa de
serviço com inclinação no sentido longitudinal e não deve ultrapassar a 8,33%, e em hipótese
alguma pode diminuir a faixa de circulação, prejudicar a arborização pública ou ser feita a
inserção de rampas entre a rua e o meio fio (figura 43). Nas unidades habitacionais de
esquina, os acessos a garagens devem ter 5,00m de distância da esquina. Ademais, na faixa de
circulação é proibida a parada de veículos, sendo essa uma infração ao Código de Posturas -
Lei Nº 4.129/03.
Figura 43 - Calçadas com inserção de rampas e degraus

Fonte: Elaborado pela autora (2021).

Diante das informações, não há necessidade de intervenções na faixa de circulação que


foi projetada e executada conforme as normas existentes, e diferentes soluções para o
rebaixamento da calçada que não seja o apresentado anteriormente, deve ser feito um projeto
específico para avaliação pela Superintendência de Trânsito e Transportes Públicos - STTP. O
esquema abaixo (figura 44), demonstra como a intervenção pode ser feita utilizando-se de
materiais de acabamento como, concreto ou cimento com cascalhinho.
57

Figura 44 - Dimensão e exemplo de calçada normatizada

Fonte: Elaborado pela autora (2021).

5.1.3. Integração entre os diversos usos

Como apresentado anteriormente, a diversidade de usos é importante para a vitalidade


urbana, o aumento de pessoas em horários diferentes promove uma comunidade mais ativa. A
intenção é propor soluções que integrem o uso habitacional ao comercial/serviço, visto que há
uma demanda grande pelos moradores do Complexo Aluízio Campos.
Em muitos casos, para viabilizar essas necessidades, os moradores construíram anexos
que não estão de acordo com as legislações vigentes como, a invasão de calçadas e recuos
frontais. Desse modo, entendendo a realidade existente de pouco espaço para as ampliações,
pensou-se em uma proposta simples que priorizasse a qualidade do acesso ao comércio e
também da residência, além de procurar solucionar a pouca entrada de luz (figura 45).
58

Figura 45 - Proposta de edificação com uso misto

Fonte: Elaborado pela autora (2021).

5.1.4. Legislação específica para a aplicação de ATHIS

Perante a multiplicidade de formas de vida e de necessidades dos moradores,


entende-se que deve haver múltiplos agentes técnicos que dialoguem e proponham melhorias
para essa realidade. Para além da arquitetura, a aplicação de ATHIS deve ter aporte também
do poder legislativo em nível municipal com a regulamentação de leis, da administração
pública por meio de políticas permanentes de AT e da sociedade civil com a reivindicação
pelos seus direitos.
Para que essa realidade ocorra, é importante a criação de uma lei específica para o
município de Campina Grande, sobretudo, a implementação de um programa de ATHIS no
Complexo Aluízio Campos que atendam e intervenham com melhorias a partir das
necessidades reais dos moradores. Portanto, é imprescindível que nessa lei todos os processos
59

sejam definidos de forma clara, como se dará a obtenção de recursos financeiros, a formação
de equipe técnica, os critérios de escolha dos beneficiários, e as etapas do processo junto a
família e a prefeitura.
Serão apresentadas a seguir algumas possibilidades de financiamento e convênios que
poderiam ser aplicados pelo município e sociedade civil na construção de legislações
específicas, e consequentemente promover a efetivação da Assistência Técnica como política
pública permanente (figura 46).
Figura 46 - Esquema de possibilidades de financiamentos e convênios

Fonte: Elaborado pela autora (2021).

Levando em consideração que atualmente deu-se início a início ao processo de revisão


do Plano Diretor de Campina Grande, nesse momento seria apropriado a criação de
instrumentos destinada a ATHIS, como por exemplo, a criação de um fundo orçamentário e de
um sistema de atendimento como prevê a Lei Nº 11.888/2008:
As possibilidades anteriores se referem a caminhos que poderiam ser implantados nas
legislações municipais, a seguinte foi sugerida na cartilha “Habita Chapecó: possibilidades
para implementação de ATHIS no município” (IAB-SC, 2021) e tem caráter mais amplo,
onde propõe-se que os dados sobre a população que necessita ser beneficiada estejam
vinculados ao Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) e as Unidades Básicas de
Saúde (UBS). Entende-se aqui, que essa articulação entre entidades funcionaria não só em
Chapecó-SC, como em todo território nacional, já que as estruturas citadas estão
consolidadas, inclusive, como apresentado anteriormente o Complexo Aluízio Campos possui
essas estruturas físicas.
60

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, foi possível perceber que a história das políticas habitacionais no
Brasil foi marcada por muito esforço por parte dos movimentos sociais em prol de moradia
digna, sobretudo nos anos oitenta, e a criação da Assistência Técnica em Habitação de
Interesse Social é fruto dessas lutas populares em articulação com o Estado porém, desde sua
aprovação se encontra inoperante. Também foi posto, que as práticas populares de
autoconstrução via mutirão e autogestão, foi por muito tempo o meio de se conseguir o acesso
à moradia com forte caráter de organização e que se obteve bons resultados.
O Complexo Aluízio Campos, produto do programa Minha Casa Minha Vida que após
consolidado por seu êxito, foi ao longo de muito tempo, a única iniciativa com objetivo de
resolver o problema do déficit habitacional existente, sendo utilizado mais como uma marca
pelos planos de governos dos candidatos políticos do que de fato uma construção de política
pública. Durante anos, a técnica foi distanciada da realidade dos brasileiros e a criação de um
ciclo iniciou-se, no qual a população de baixa renda precisa ocupar a cidade informal, então o
Estado intervém com o deslocamento dessa população para as áreas periféricas e novamente
institui-se a informalidade, dado que essas pessoas são excluídas do processo participativo de
construção de cidade.
Nesse contexto, esse cenário fica evidente no Complexo Aluízio Campos, os
residentes com suas variadas formas de vida precisam adaptar suas necessidades ao local que
lhes foi concedido, ficando livres para suas intervenções. Assim, diante das modificações
habitacionais apresentadas no trabalho, percebe-se que os moradores possuem
desconhecimento das regulamentações vigentes como, o Código de Obras, o Plano Diretor
Municipal e a Lei de Assistência Técnica, e tão pouco possuem acesso aos profissionais
habilitados, pelo alto custo da prestação de serviço.
Por isso, as modificações nas habitações serão feitas de qualquer forma e é de extrema
importância que se tenha o auxílio de um profissional para essa população continuar tendo
oportunidade de usufruir de uma moradia segura, com qualidade construtiva e
economicamente viável. Dessa forma, o trabalho trouxe possibilidades de implementação da
lei e principalmente, como intervir nos espaços privados e públicos, de acordo com as maiores
necessidades observadas.
As propostas aqui apresentadas, deixam claro que não é necessário grandes projetos e
orçamentos para intervenção de melhorias no espaço, e que a responsabilidade social do
profissional de arquitetura e urbanismo vai muito além dessas propostas físicas, é a
61

contribuição para formação de uma sociedade mais justa e igualitária. Posto isso, ter prática
dentro da academia, desenvolvendo projetos pequenos e de reformas para a população de
baixa renda é fundamental para formação de profissionais agentes transformadores da
realidade.
Devido a situação de isolamento social no semestre 2021.1, foram impossibilitadas as
visitas às casas e entrevistas, sendo feito os seus levantamentos de forma externa. Outros
estudos nas habitações são necessários para melhores propostas, as análises internas poderão
identificar outras necessidades, como organização do espaço devido o dimensionamento do
espaço.
Ademais, o presente estudo contribui para a propagação da pauta de ATHIS entre a
população moradora do Complexo Aluízio Campos como também, para os estudantes e
profissionais com interesse em atuar com habitação social e a formação de cidades mais
inclusivas.
62

REFERÊNCIAS

AQUINO, A. P. P. de, MENDES, B. B., AMORIM, C. P. L., SILVA, F. A. B., MACÊDO, P.


P. de e PAIXÃO, T. R. da ‘Diagnóstico dos vazios urbanos o núcleo central de Campina
Grande.’, Revista Tema, 20 (32/33) online, 2019. Disponível em:
http://revistatema.facisa.edu.br/index.php/revistatema/article/view/1408/pdf. Consultado em:
10 de setembro de 2020.

AQUINO, A. P. P. de; MENDES, B. B.; AMORIM, C. P. L.; SILVA, F. A. B.; MACÊDO, P.


P. de; PAIXÃO, T. R. da; Vazios urbanos do centro de Campina Grande: diagnóstico e
simulação. In: TICYurb: 3a Terceira Conferência Internacional de Jovens Investigadores
Urbanos, 18 a 22 de Junho de 2018, Lisboa, 2018

AZEVEDO, Sérgio de; ANDRADE, Luís Aureliano Gama de. Habitação e poder: da
Fundação da Casa Popular ao Banco Nacional Habitação. Rio de Janeiro, 2011.

AZEVEDO, Sergio de. “A Questão da Moradia no Brasil: necessidades habitacionais,


políticas e tendências”. In: FERNANDES, Ana e SOUZA, Angela Gordilho. Habitação no
Brasil: reflexões, avaliações e propostas. Salvador: FAUFBA/PPGAU, 2004. p. 84.

BARATTO, Romullo. USINA 25 anos - Mutirão Paulo Freire. ArchDaily Brasil, 2015.
Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/767957/usina-25-anos-mutirao-paulo-freire>. Acesso em:
03 de abril de 2021.

BARROS, M. C. Autogestão na Implementação de Políticas Habitacionais - O


Mutirão Autogestionado Brasilândia B23. Universidade de São Paulo. São Carlos, p.
204. 2011.

BARROS, M. C. Assessorias técnicas no processo autogestionário - possibilidades de


atuação B23. Risco Revista De Pesquisa Em Arquitetura E Urbanismo (Online), nº 17, julho
de 2013, p. 81-92. Consultado em: 02 de março de 2021.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil; Texto


consolidado até a Emenda Constitucional no 64 de 04 de fevereiro de 2010. Brasília, DF:
Senadorom Federal: Centro Gráfico, 2013. Versão digital.

______. Estatuto da Cidade. Lei n 10.257, de 10 de Julho de 2001.

______. Lei Nº 11.888, de 24 de dezembro de 2008. Assegura às famílias de baixa renda


assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse
social e altera a Lei no 11.124, de 16 de junho de 2005. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11888.htm> Acesso em:
agosto de 2020.

BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social no Brasil. Arquitetura moderna, lei do


inquilinato e difusão da casa própria. 4ª edição, São Paulo: Estação Liberdade/ FAPESP,
1998.
63

CARDOSO, Adauto Lucio. O programa Minha Casa Minha Vida e seus efeitos
territoriais. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2013

CARDOSO, Fernanda Simon; LOPES, João Marcos de Almeida. Assistência a assessoria


técnica: entre o discurso e a prática. 2019. Anais. Recife: Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional - ANPUR. Disponível em:
http://anpur.org.br/xviiienanpur/anaisadmin/capapdf.php?reqid=588. Consultado em: 15 mar.
2021

CAU/BR. CAU Brasil inicia articulação para a produção de ATHIS em escala massiva.
CAU/BR, 2021 Disponível em:
<https://www.caubr.gov.br/cau-brasil-inicia-articulacao-para-a-producao-de-athis-em-escala-
massiva/>. Acesso em: 24 de abril, 2021.

FERREIRA, M. B. Autoconstrução e Autogestão Habitacional no Brasil um estudo


comparativo em dois períodos: 1975 - 1986 e 2004 - 2018. ENANPUR, 2019. Disponível
em: http://anpur.org.br/xviiienanpur/anaisadmin/capapdf.php?reqid=518. Consultado em: 9 de
dezembro de 2020.

FREITAS, C. A. de O. Transformações na produção da periferia: o caso de Itaquera e o


Conjunto Habitacional José Bonifácio. ENA

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, Déficit habitacional no Brasil 2009. Belo Horizonte,


2012

JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

________________ O Direito à Cidade. São Paulo, Centauro, 2006.

GORDILHO, Ângela. Favelas, invasões e ocupações coletivas nas grandes cidades


brasileiras - (Re)Qualificando a questão para Salvador-BA. Cadernos Metrópole, n. 5, São
Paulo: EDUC, 2001.

GORDILHO-SOUZA, A e IVO, A. Articulação entre graduação e pós-graduação para


assistência técnica: Residência AU+E/UFBA e o PROJECTA/FAUFBA. III ENANPARQ:
arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva, 2014. Disponível em:
<http://residencia-aue.ufba.br/sites/residencia-aue.ufba.br/files/articulacao_entre_graduacao_e
_pos-graduacao_para_assistencia_tecnica_residencia_aueufba_e_o_projectafaufba.pdf>
Acesso em: 29 de abril, 2021.

GORDILHO-SOUZA, A e ROCHA, H. EXTENSÃO UNIVERSITÁRIANA


PÓS-GRADUAÇÃO: IMPLANTAÇÃO DARESIDÊNCIAPROFISSIONALEM
ARQUITETURA,URBANISMO E ENGENHARIA DA UFBA. Revistar projetar: Projeto
e Percepção do Ambiente. v.3, n.1, Abril 2018. Disponível em:
<https://periodicos.ufrn.br/revprojetar/article/view/16626/11089> Acesso em: 29 de abril,
2021.
64

IAB-SC. Habita Chapecó: possibilidades de implementação de ATHIS no município.


Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2021. Disponível em:
https://issuu.com/petarqufsc/docs/habitachapec__a4__publica__o_online_. Consultado em:
10 de maio de 2021.

JÚNIOR, Nelson Saule; UZZO, Karina. A trajetória da reforma urbana no Brasil.


Ciudades para tod@s, Experiências, Marco Legal, 2009. Disponível em:
<http://www.redbcm.com.br/arquivos/bibliografia/a%20trajectoria%20n%20saule%20k%20u
zzo.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2020.

MACÊDO, Persio Padre de. Aluízio Campos para quê? Outro caminho através de
políticas habitacionais em centros urbanos. 2008. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Arquitetura e urbanismo) – UNIFACISA - Centro universitário de Campina
Grande, Campina Grande - PB, 2019.

MACHADO, Letícia Bettio. O Ensino de Arquitetura e Urbanismo e as Ciências


Jurídicas: da necessidade de intersecção acadêmica como uma ferramenta de
instrumentalização do Direito à Cidade. X Congresso Brasileiro de Direito Urbanístico - A
política urbana em xeque, 2020. Palmas, Tocantins. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/341549323_O_Ensino_de_Arquitetura_e_Urbanism
o_e_as_Ciencias_Juridicas_da_necessidade_de_interseccao_academica_como_uma_ferramen
ta_de_instrumentalizacao_do_Direito_a_Cidade. Acesso em: 12 mar. 2021.

MARICATO, Ermínia. Metrópole, legislação e desigualdade. In: Estudos Avançados, vol.


17, n. 48, São Paulo: Editora USP, 2003.

MARICATO, Ermínia. Para Entender a Crise Urbana. 1. ed. São Paulo: Expressão
Popular, 2015.

MARINHO, G. Movimentos urbanos de luta pela moradia. In: ROMANO, J.O.; ATHIAS, R.;
ANTUNES, M. (Orgs.). 2007. Olhar crítico sobre participação e cidadania: trajetórias de
organização e luta pela redemocratização da governança no Brasil. 1a Ed. São Paulo:
Expressão Popular, pp. 161-185. Coleção Olhar crítico; v. 2.

MEDVEDOVSKI, Nirce Saffer.; SANTOS, Luisa Azevedo; SANTIAGO, Gustavo Benedetti.


Assistência técnica para habitação de interesse social (athis): o ciclo caat e suas
contribuições. 2019. Expressa extensão , v. 25, p. 85-98, 2019.

MIRANDA, L. I. B. de; MORAES, D. A. de; LIMA J. B. da S.; XAVIER, T. M. C.


‘Espraiamento e mercantilização do espaço urbano em Campina Grande: o caso do
Complexo Aluízio Campos.’, Enanpur, online, 2019. Disponível em:
http://anpur.org.br/xviiienanpur/anaisadmin/capapdf.php?reqid=1383. Consultado em: 27 de
março de 2021.

MULATO, Yuri. CAU abre edital para apoiar projetos de ATHIS no combate a
coronavírus. AECweb, 2020. Disponível em:
65

<https://www.aecweb.com.br/revista/noticias/cau-abre-edital-para-apoiar-projetos-de-athis-no
-combate-a-coronavirus/19964>. Acesso em: 20 de março de 2021.

PEARIBU, TCA. Projetos. Peabiru, 2021. Disponível em:


<http://www.peabirutca.org.br/?page_id=63>. Acesso em: 15 de abril, 2021.

POMPÉIA, R.A. Os Laboratórios de Habitação no ensino da arquitetura: uma


contribuição ao processo de formação do arquiteto. Tese de Doutorado, FAU/ USP, 2006.

ROLNIK, R. et al. O Programa Minha Casa Minha Vida nas regiões metropolitanas de
São Paulo e Campinas: aspectos socioespaciais e segregação. Cadernos metrópoles, v. 17,
n. 33, p. 127-154, 2015. Disponível em: . Acesso em: 02 nov. 2020
ROMANELLI, C.; ABIKO, A. K. Processo de Metropolização no Brasil. São Paulo:
EPUSP, 2011

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2002.

SERAFIM, Lizandra. Participação no governo Lula: as pautas da reforma urbana no


Ministério das Cidades (2003-2010). 2013. 202 p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual
de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, SP. Disponível em:
<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/280539>. Acesso em: 13 nov. 2020.

SOLUÇÕES URBANAS. Projeto Arquiteto de Família. Soluções urbanas, 2011.


Disponível em: <https://solucoesurbanas.wordpress.com/parcerias/arquiteto-de-familia/>.
Acesso em: 26 de maio de 2021.

SOMEKH, Nadia. Campanha Mais Arquitetos: CAU Brasil promove direito de todos à
moradia digna. CAU/BR, 2021 Disponível em: <URL>. Acesso em: dia, mês e ano.
Disponível em:
<https://caubr.gov.br/campanha-mais-arquitetos-cau-brasil-promove-direito-de-todos-a-morad
ia-digna/ >. Acesso em: 29 de abril, 2021.

VIDAL, F. E. C. A Autoconstrução e o Mutirão Assistidos como Alternativas para a


Produção de Habitações de Interesse Social. Dissertação de Mestrado, FAU UNB, Brasília,
2008.

2º SEMINÁRIO ATHIS e suas potencialidades como política pública. [S. l.: s. n.], 2020. 1
vídeo (3:40 hrs). Publicado pelo canal ATHIS na baixada. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=bGBsG1rIvVw&t=8744s>. Acesso em: 05 mar. 2021
66

ANEXOS

ANEXO A - CARTILHA
67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
77
78

Você também pode gostar