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CAMPINA GRANDE – PB
2021
THAÍS RODRIGUES DA PAIXÃO
Campina Grande - PB
2021
Dados Internacionais de Catalogação na publicação
(Biblioteca da UniFacisa)
Nxxxxxx
Paixão, Thaís Rodrigues de
Autoconstrução e Assistência Técnica: O caso do Complexo Aluízio Campos / Thaís
Rodrigues da Paixão - Campina Grande, 2021.
BANCA EXAMINADORA:
Introdução Após mais de sete décadas do início de políticas habitacionais, o Brasil ainda
enfrenta o grande desafio de garantir moradia digna, e a população recorre de seus próprios
meios para obtenção do habitar. Os programas que subsidiam casas à população de baixa
renda, comumente oferecem moradias sem infraestrutura adequada e corroboram para a
autoconstrução, dado que não consideram as reais necessidades dos moradores. Para esse
cenário, a lei de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social poderia equalizar
problemas resultantes do processo de favelização, a exemplo do Complexo Aluízio Campo,
conjunto habitacional construído via financiamento governamental com marcas de
autoconstrução sem orientação técnica. Objetivos O trabalho visa propor soluções para as
intervenções feitas nas habitações do Complexo Aluízio Campos e posteriormente elaborar
cartilha de orientação técnica para os moradores do Complexo Habitacional Aluízio Campos
bem como, profissionais da área. Metodologia. Diante do aporte bibliográfico e do
levantamento das edificações do Complexo Aluízio Campos, seguido das análises e das
propostas técnicas de intervenções. Resultados. Compreendeu-se os problemas e desafios
para implementação de Assistência Técnica e a importância da soma entre comunidade,
administração pública e poder legislativo. Diante das multiplicidade de vivências, foram
elencadas diferentes necessidades, como a expansão de cômodos para comércio, inserção de
muros e paisagismo. Conclusão Cada uma das necessidades de intervenção encontradas no
Complexo Aluízio Campos merecem atenção e é de extrema importância que os arquitetos
exerçam seu papel social como agente transformador desigual realidade social, além da
urgência da Assistência Técnica como política habitacional permanente.
Introduction After more than seven decades since the beginning of housing policies, Brazil
still faces the great challenge of guaranteeing decent housing and the population uses its own
means to obtain housing. The programs that subsidize houses for the low-income population
commonly offer houses without adequate infrastructure and support self-construction, since
the real needs of the residents are not considered. For this scenario, the Law on Technical
Assistance for Social Interest Housing could equalize problems resulting from the slum
process, such as the Complex Aluízio Campos, a housing complex built through government
financing with self-construction brands without technical guidance. Obejctives The work
aims to propose solutions for the interventions carried out in the housing of the Complex
Aluízio Campos and subsequently prepare a technical guidance booklet for the residents of
the housing Complex Aluízio Campos as well as professionals in the area. Methodology In
view of the bibliographical contribution and the survey of the buildings of the Complex
Aluízio Campos, followed by the analysis and technical proposals for interventions. Results
The problems and challenges for implementing Technical Assistance and the importance of
the combination of community, public administration and legislative power were understood.
Given the multiplicity of experiences, different needs were listed, such as the expansion of
rooms for commerce, insertion of walls and landscaping. Conclusion Each of the intervention
needs found in the Complex Aluízio Campos deserves attention and it is extremely important
that architects exercise their social role as a transforming agent of unequal social reality, in
addition to the urgency of Technical Assistance as a permanent housing policy.
1. INTRODUÇÃO
Possuir moradia adequada e digna é um direito fundamental, todos devem ter acesso a
ela desde a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas de
1948. No Brasil é também um direito constitucional desde que foi inserido na Constituição
Federal de 1998. Contudo, historicamente há uma série de problemas que dificultam esse
acesso à habitação, mundialmente os países lidam com o desafio da demanda por moradia de
diversas formas, entretanto, nenhum conseguiu sanar esse problema. No contexto
latino-americano, a industrialização tardia dos países ocasionou em um crescimento rápido da
população urbana e consequentemente as cidades se expandiram de forma desordenada, sem
políticas públicas eficientes principalmente para os mais pobres. (MARICATO, 2003)
No Brasil, a primeira política relacionada ao planejamento habitacional deu-se com a
criação do órgão Fundação Casa Popular (FCP), que concentrava os recursos dos chamados
Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP’S) para a produção de habitação. Porém, no
período de ditadura militar esse órgão foi extinto e foi criado o Banco Nacional de Habitação
(BNH) somado ao Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que também era voltado para a
construção de moradia popular no país. (BONDUKI, 1998). Em 1986, deu-se início aos
debates sobre reforma urbana e através de articulação política de várias organizações com a
participação de profissionais e sociedade civil como por exemplo, a Federação Nacional dos
Arquitetos, a Federação Nacional dos Engenheiros, o Movimento dos Favelados, a
Associação dos Mutuários, pastorais da terra, movimentos sociais de luta pela moradia, entre
outros, criou-se então o Movimento Nacional pela Reforma Urbana (MNRU). Esse
movimento fazia críticas importantes em relação à configuração socioespacial e
mercadológica das cidades e a relação de desigualdade das classes sociais, e empenhava-se
em garantir justiça social, o direito à cidade e função da propriedade. Com a Constituinte de
1988, foi formulado o Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU), que pressionou o
Congresso Nacional a regulamentar a pauta de políticas urbanas e que anos mais tarde
promulgou-se a lei Estatuto da cidade (BRASIL, 2001), regulamentando-se então, os artigos
182 e 183, que foram inseridos no capítulo II da Constituição Federal, intitulado-se “Da
Política Urbana”, onde trata-se da função social e das limitações do direito à propriedade e
estabelece instrumentos para que esse direito seja garantido no âmbito municipal. (BRASIL,
1988), sendo a primeira vez a abordagem desse assunto em uma Constituição.
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A partir dos anos 2000 com a criação do Estatuto da cidade e a Secretaria Nacional de
Habitação (SNHIS), houve uma retomada das políticas relacionadas a habitação, com a
criação em 2007, do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e em 2009, do programa
Minha Casa Minha Vida (MCMV), no entanto, esse relacionava-se ao mesmo formato do
BNH. Ainda no contexto de incentivo às políticas públicas habitacionais no começo do século
XXI, em 2008 foi sancionada a lei federal nº 11.888/2008 - Lei de Assistência Técnica
(BRASIL, 2008), fruto de articulação das entidades que regulamentam a profissão de
arquitetos, urbanistas e engenheiros. Como solução às necessidades de reforma e construção
da população de baixa renda, a lei garante o auxílio técnico às famílias com renda de 0 a 3
salários mínimos. No entanto, são muitas as dificuldades encontradas para aplicação dessa lei
em todo território nacional, na prática ela acontece de forma isolada e não consegue
contemplar a grande população. A viabilização desse serviço pelos órgãos públicos à
população tende a trazer consequências positivas em várias esferas: social, urbanística e
econômica, proporcionando desta forma, moradias dignas para a população como também,
equalizando problemas resultantes do processo de favelização devido a falta de assistência
pelo Estado.
Atualmente vive-se uma conjuntura histórica de desconstrução de políticas
habitacionais tendo em vista o lançamento do novo programa governamental Casa Verde e
Amarela (CVA), no entanto, não traz uma nova contribuição e possui várias problemáticas
como, investimento inferior ao do MCMV além de não ser abrangente a população visto que,
uma das exigências para inscrição é possuir Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
Assim, as políticas de habitação existentes ao invés de estabelecer programas que subsidiem
moradias dignas e dotadas de infraestrutura adequada, corroboraram para a autoconstrução da
moradia e expansão da malha urbana existente. A lógica de construir habitações na periferia
para a população com menos condição de renda revela grandes problemáticas sociais para
além da habitacional, interfere também na qualidade de vida urbana da população e
econômica dos habitantes. (ROMANELLI; ABIKO, 2011). Nessa conjuntura, o processo de
favelização impulsionado pela ocupação irregular é recorrente no cenário brasileiro, sobretudo
nas periferias, onde ocorre em ritmo acelerado e pode afetar a segurança, a qualidade de vida
dos habitantes, além de impactar na paisagem e no processo de desenvolvimento urbano.
Os projetos dos conjuntos habitacionais construídos via financiamento governamental
comumente ignoram a malha urbana existente da cidade já consolidada de infraestrutura,
como também as necessidades dos futuros moradores e não os convidam para participar do
processo de planejamento e concepção, como acontece no programa MCMV.
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Consequentemente, torna-se cada vez mais comum os usuários fazerem alterações nas
edificações adequando-as às suas necessidades de espaços e usos, entre as quais destacam-se:
inserção de muros, expansão de cômodos para uso de comércio e serviço ou expansão da
moradia em função do crescimento da família. De acordo com o DataFolha (2015), 85% da
população brasileira já construiu ou reformou sua habitação sem o serviço de um arquiteto
e/ou engenheiro.
A partir dessa abordagem o presente estudo se desenvolve na área periférica da cidade
de Campina Grande, na Paraíba, no qual o município possui uma das maiores arrecadações do
estado. Como acontece em outras cidades brasileiras, a área central que possui uma
infraestrutura já consolidada está sendo abandonada no uso habitacional, havendo um
crescimento da malha urbana existente incentivado pela Prefeitura Municipal a fim de
diminuir o déficit habitacional da cidade (AQUINO et al., 2019). Nesse aspecto, de
expressivo crescimento da malha urbana através da implantação equivocada dos conjuntos
habitacionais que acarretam em outras problemáticas urbanísticas, como espraiamento da
cidade para áreas sem infraestrutura, a exemplo do Complexo Complexo Aluízio Campos que
foi construído na zona sudeste da cidade com 4.100 unidades habitacionais e, apesar de ser
recente inaugurado, em 11 de novembro de 2019, já é possível constatar mudanças
arquitetônicas promovidas pelos próprios moradores, através da autoconstrução sem
orientação técnica.
Diante desse cenário morfológico e social à cidade, o presente estudo pretende ampliar
o debate sobre autoconstrução e a efetiva aplicação da lei de Assistência Técnica. Além disso,
pretende abordar a função social do profissional arquiteto e urbanista entendendo que é um
serviço que alcança todas as classes e, todas as reformas e construções podem ser feitas com
qualidade a partir do conhecimento e popularização da lei existente. Pretende também, trazer
melhorias para o Complexo Aluízio Campos e orientar os gestores públicos locais nas futuras
tomadas de decisões, evitando que ocorram os mesmos erros cometidos até o presente.
Assim, tem-se como objetivo geral da pesquisa propor soluções para as intervenções
feitas nas habitações do Complexo Aluízio Campos. Para tal fim, foram estabelecidos três
objetivos específicos, constituindo-se em: analisar as transformações de autoconstrução nas
unidades habitacionais; sistematizar os dados encontrados para desenvolvimento tipológico;
elaborar cartilha de orientação técnica para os moradores do Complexo Habitacional Aluízio
Campos bem como, profissionais da área.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO
O conceito de habitação social no Brasil iniciou-se por volta da década de 1930, onde
o país passava por uma crise de habitação, a população migrou da área rural para a urbana em
busca de melhores oportunidades, em razão das fortes políticas de industrialização do governo
Vargas. Segundo Oliveira (1971, apud BONDUKI, 1998), além de estratégias de intervenção
na economia, o governo também passava a intervir no processo de produção e locação
habitacional para fortalecer uma sociedade capitalista.
Nas décadas seguintes as políticas de crédito imobiliário para casa própria começaram
a ser destaques nos governos. Ainda na era Vargas, os IAP’S garantiam aos trabalhadores
associados a aposentadorias e pensões, a saúde e o financiamento de moradias, entretanto,
excluiam trabalhadores rurais e informais. Esses trabalhadores só vieram a ser incluídos
quando a Fundação da Casa Popular (FCP) foi estabelecida como órgão, tendo como proposta
a construção de habitação popular para esse público, além de financiar obras de infraestrutura
urbana, pesquisas e atuar no serviço social, entre outros.
O programa começou a ficar conhecido, porém o governo não tinha capacidade para
mantê-lo por sua abrangência, e utilizava-se em benefício de fortalecer o discurso da casa
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própria. Com diversos problemas, o órgão entrou em crise e foram entregues poucas
moradias, menos de 1% do previsto, que era de 3.600.000. (AZEVEDO E ANDRADE, 2011).
Azevedo e Andrade (2011) também afirmam que, as pessoas de renda baixa não eram
excluídas pois não existia uma renda mínima, porém quem tinha mais condições também
poderia ser favorecido com uma casa popular. Infelizmente, os editais eram pouco divulgados
e existiam privilégios na seleção. Vale ressaltar que as habitações produzidas nessa época
tinham variação tipológica em função dos condicionantes locais, buscavam-se parcerias com
as universidades a fim de melhorar essas habitações.
No começo da década de 1960, o país passava por crise em políticas habitacionais, as
experiências anteriores não possuíam articulação em suas ações e disseminaram os mesmos
erros por décadas. Com isso, a população começou a se articular para cobrar o governo sobre
a questão habitacional e de reforma agrária. A primeira proposta de reforma urbana no país
foi iniciada em um Congresso de 1963, organizado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil,
porém no ano seguinte com o golpe militar a reforma foi inviabilizada devido ao teor
totalitário da época. Posteriormente, a discussão volta com maior visibilidade a partir da união
de várias entidades e movimentos sociais, o que viera a ser intitulado como MNRU -
Movimento Nacional pela Reforma Urbana (JÚNIOR E UZZO, 2009).
No período do golpe militar, em 1964, a fim de aliar um programa que respondesse os
anseios e demandas da população, e estabelecer a ordem quanto às reivindicações das bases
revolucionárias, foi criado o Banco Nacional da Habitação (BNH) e o Sistema Financeiro de
Habitação (SFH), surge-se então, o primeiro momento em que o país tem uma política
Nacional de Habitação com o teor estratégico e articulado (AZEVEDO E ANDRADE, 2011).
Nesse presente surge também, o estímulo à poupança familiar, a criação de linhas
permanentes de financiamento e de fundo de garantia, como o Fundo de Garantia de Tempo
de Serviço (FGTS). Posteriormente, a Caixa Econômica Federal (CEF) utilizou-se do FGTS
para oferecer alguns serviços de créditos e aquisições de casas por meio do MCMV.
O estado ficava responsável pela compra e pelos projetos de habitação, as terras que
eram adquiridas geralmente se encontravam às margens da cidade pelo custo barato e acabam
gerando vazios na malha urbana além da especulação imobiliária causada pelo investimento
feito em infraestrutura nesses locais de terras não urbanizadas. A produção de moradia ocorria
de forma massificada e centralizada, sem variedade tipológica e de diversidade de usos, não
levava em consideração o meio físico ocorrendo muito desmatamento e aterramento de
afluentes. Desse modo, a produção de habitação nesse momento começa a gerar
problemáticas para as cidades que se estendem até os dias atuais, o processo de espraiamento
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da cidade e a segregação espacial dos bairros foi intensificado através das ações do poder
público (JÚNIOR E UZZO, 2009).
Nos últimos anos de ditadura política, as pautas sobre questões habitacionais voltaram
a aparecer como reivindicação de direito básico e combate às desigualdades sociais. Junior e
Uzzo (2009) ainda afirmam que, as pastorais da Igreja Católica foram atuantes na luta pela
reforma urbana, pois defendiam a função social da propriedade urbana.
No ano seguinte ao fim da ditadura militar, em 1986, o BNH foi extinto e incorporado
à CEF e em âmbito nacional isso fragilizou as políticas públicas nacionais. Nesse período de
transição para a democracia, houve uma retomada da qualidade do projeto e relação com a
cidade. As práticas populares, autoconstrução, mutirão e autogestão, entretanto, repercutem-se
em nível municipal. A linha do tempo elucida as datas de origem desses programas e suas leis
(Figura 01).
Figura 1 - Linha do tempo dos programas de habitação social (1946 - 1986)
O MNRU constituiu o Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU) junto com outros
movimentos, onde a principal reivindicação era a regulamentação do capítulo da política
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Como visto antes, o Estatuto da Cidade foi um marco importante conquistado pela
participação dos movimentos sociais de luta pela reforma urbana, no qual, facilitou o acesso à
informação de políticas urbanas já existentes mas pouco conhecidas pela sociedade civil, em
que foram elaboradas oficinas nacionais com materiais didáticos ao público com muitas
lideranças e posteriormente, consolidaram a popularização desse importante marco. Desse
modo, o Estatuto definiu instrumentos que assegurem a existência dessas políticas, a exemplo
da regularização fundiária e da função social da propriedade, contidas na Constituição Federal
de 1988 em seus artigos 182 e 183, e posteriormente regulamentados pela Lei 10.257/2001.
Outra conquista significativa conquistada pelo MNRU foi a criação do Ministério das
Cidades, em 2003. Para isso, foram necessários alguns anos de articulação e construção, que
começou desde o FNRU, quando o então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva
apresentou seu plano de governo de campanha e se estendeu até a criação do Ministério. A
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proposta de projeto tinha como base centralizar políticas urbanas como habitação, saneamento
e infraestrutura e mobilidade (SERAFIM, 2013).
No fim do primeiro mandato do presidente Lula, em 2007, devido à crise econômica
em que o país passava foi criado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em busca
de acelerar o crescimento econômico. Para isso, Serafim (2013) afirma que foram
estabelecidas medidas em relação a investimentos em infraestrutura urbana, saúde, cultura,
além de estímulo ao crédito, medidas fiscais de longo prazo, entre outros. Em 2009, foi criado
o programa Minha Casa Minha Vida e no ano seguinte, o PAC II teve ações direcionadas ao
programa, como o incentivo ao financiamento de casas populares.
A Medida Provisória nº 459 de 2009, aprova o Minha Casa Minha Vida (MCMV),
apresentando-se com o principal foco a redução do déficit habitacional, que de acordo com a
pesquisa feita pela Fundação João Pinheiro (2009) era de aproximadamente 7.9 milhões de
moradias. Portanto, a proposta do programa era possibilitar às famílias com renda de até dez
salários mínimos, o acesso à casa própria. O programa divide-se então em 3 modalidades:
Programa Nacional de Habitacional Urbana (PNHU); Programa Nacional de Habitação Rural
(PNHR) e Programa Habitação Popular - Entidades.
Como apresentado anteriormente, o país passava por uma crise econômica e
consequentemente de empregos, e com o MCMV pretendia-se estimular o setor da construção
civil. Com isso, a produção de habitação em massa e a promoção de demanda por mão de
obra de baixa qualificação era o principal objetivo do governo como medida emergencial em
época de recessão (ROLNIK et al., 2015), compreende-se então, que a idealização do
programa buscou sanar questões tanto econômicas como habitacionais. Em decorrência das
empresas do setor estarem próximas da falência, os autores ainda afirmam que foi uma
oportunidade de negócio para as mesmas.
Dessa maneira, Rolnik et al. (2015) afirma que as empresas privadas na maior parte
dos casos tinham autonomia para diversas ações, e não seguiam o padrão de diretrizes
urbanísticas de políticas habitacionais. A exemplo das escolhas de terrenos, que
selecionavam-os distantes da malha urbana consolidada pelo seu baixo custo. Assim, durante
anos o programa se moldou criando habitação periférica para a população de baixa renda.
O programa continuou exitoso na presidência seguinte com Dilma Rousseff, mas
ainda com a necessidade de se renovar já que existiam muitos problemas que eram
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mercadológica e pouco sobre a questão da moradia, onde o MCMV ficou por muito tempo
como a única política genérica, beneficiando mais construtoras e políticos do que de fato a
população.
articulados que organizavam essas ocupações a fim da efetivação desses direitos, hoje
designados como movimentos sociais. Marinho (2007) aponta que surgiram representações
importantes sobre moradia. A Confederação Nacional de Associação de Moradores
(CONAM), formando-se associações de bairros por todo país. O Movimento Nacional de
Luta por Moradia (MNLM), focando-se na ocupação de vazios urbanos centrais. A União
Nacional por Moradia Popular (UNMP), que busca a construção de políticas urbanas e
habitacionais através dos movimentos sociais.
Bonduki (1998) considera que a soma: periferia, ideia de casa própria e
autoconstrução, foram alternativas para soluções de moradias a um baixo custo,
ocasionando-se então, o avanço da produção informal sob a formal, visto que o SFH foi
paralisado com a extinção do BNH, sendo substituído pela CEF, havendo assim baixa parceria
público-privada para oferta de novos contratos (GORDILHO, 2001).
Ao avaliar o cenário econômico do país desde a década de setenta, no século XX, até
os dias atuais, Gordillho (2001) evidencia que essa crescente produção informal está atrelada
a falta de trabalho formal, a má distribuição de renda e a depreciação do salário mínimo. As
casas feitas pelos próprios moradores é uma alternativa às ofertadas pelo Estado, essas
possuem um custo maior, principalmente pela mão de obra ser mais alta. Diante desse
processo, ainda na década de setenta, o Estado incentivou a autoconstrução com a criação de
programas alternativos, financiados pelo BNH e administrados pelas Companhias
Habitacionais (COHABs) .
“[...] ao tentar tratar a Autoconstrução e o Mutirão como uma Política Habitacional,
nas décadas de 70 e 80, pode-se dizer que a introdução das novas políticas públicas
habitacionais, baseadas na proposta de autoconstrução, os projetos de mutirão e
autogestão foram deixando o caráter de informalidade e passaram a ser enquadrados
nas políticas municipais.” (VIDAL, 2008, p. 151).
Figura 3 - Linha do tempo dos programas alternativos de habitação social (1975 - 1984)
Esses programas não tiveram muito êxito pela falta de organização dentro do
movimento comunitário, pelas dificuldades em efetivar a regularização fundiária, além da
falta de decisão dos beneficiários nos projetos, tornando-os somente mão de obra gratuita.
Entretanto, a partir dos erros foi possível que posteriormente os coletivos tivessem a noção de
que os moradores deveriam participar de todo processo da produção habitacional. Como
também, marcou uma nova era de luta coletiva por moradia permitindo a criação, ampliação
das reivindicações e consistência de movimentos sociais existentes até os dias atuais, como o
CONAN, MNLM, UNMP e o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)
(FERREIRA, 2019).
Enquanto isso, o déficit habitacional ainda era expressivo e as políticas habitacionais
não eram suficientes para sanar a demanda por moradia, as alternativas ao modelo BNH
aconteciam de forma pontual e fragmentada.
Posteriormente, depois da criação do Ministério das Cidades, do PAC e do PMCMV,
com o acréscimo da modalidade PMCMV-e foi possível perceber o rompimento com o
modelo que acontecia do BNH aos programas alternativos, que ocorriam em prol do mercado
e aos moldes do regime militar, com processos não democráticos e individualistas. No
entanto, o programa como um todo ainda manteve as práticas do BNH com a produção
periférica de moradia sem diversidade de usos e tipologias, estimulando o espraiamento e a
especulação imobiliária.
sobre autoconstrução e assessoria técnica como política pública passam a ser motivados e
replicados.
Apesar da atuação pontual dos programas alternativos no Brasil, foi no período de
transição para o regime democrático em que apresentaram-se com mais frequência e com a
organização ideal dos três agentes promotores: estado, comunidade articulada e apoio
profissional. Nesse momento, as escolas de arquitetura e urbanismo se aproximavam da
realidade da periferia com os chamados Laboratórios de Habitação (Figura 4 e 5), onde os
professores e alunos se envolviam no processo de construção com a comunidade, integrando o
ensino à prática (POMPÉIA, 2006).
Os chamados "técnicos da comunidade" - assim era o nome dado pelas associações
de moradores aos participantes do Laboratório de Habitação - eram instrumentos de
qualificação de resultados e, hoje, esses técnicos podem ser vistos como um produto
de uma coisa realmente positiva. Passados mais de vinte anos dessa experiência,
podemos ainda identificar boas soluções arquitetônicas e verificar que esses
profissionais, que saíram do Laboratório, são de grande qualidade. (POMPÉIA,
2006, p. 13).
Figura 4 - Equipe do LabHab (1983)
1
Montagem a partir de imagens coletadas nos sites do CAU/MT, Camara, IAB/RS, Revista projeto,
FNA
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Desde o ano de sua aprovação, a lei ficou inoperante por muitos anos, os profissionais
e gestores públicos não tinham muito conhecimento sobre o tema. Mais tarde, as publicações
e oficinas com orientações contribuíram para a difusão sobre a temática (Fig. 7). Depois de
dez anos após a aprovação, o CAU/BR passou a destinar 2% dos seus recursos arrecadados
para realização de ATHIS, colaborando então, a repercutir a pauta em nível nacional com o
lançamento de editais, eventos e discussões em cada Conselho Regional (MEDVEDOVSKI et
al, 2020).
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inserção de áreas verdes, diferentes tipologias e um centro comunitário (Fig. 8). Outra solução
positiva utilizada no projeto foi o uso de estruturas metálicas, agilizando o processo de obra e
otimizando o trabalho dos mutirantes, entretanto, com a decisão houveram resistências por
parte dos órgãos reguladores para aprovação da obra sofrendo assim, paralisações no mutirão.
Figura 8 - Mutirão Paulo Freire
"As Prefeituras dos municípios brasileiros devem abraçar a ATHIS como uma das
prioridades absolutas de seus programas habitacionais nesses tempos de pandemia.
Só assim será viável enfrentar a vulnerabilidade da população que vive em moradias
precárias, que hoje já constituem 1/3 das casas do país" (SOMEKH, 2021)
Somekh (2021) também destaca, a importância da aprovação de legislações
específicas a nível municipal, que possam subsidiar a aplicação da lei federal, facilitando o
acesso aos recursos disponíveis e a efetivação de programas que funcionem continuamente,
evitando a interrupção por divergências políticas, como acontece nos municípios brasileiros.
"Já possuem legislações municipais de ATHIS as cidades de Salvador, na Bahia;
Brasília e entorno, no Distrito Federal; Sinopi, no Mato Grosso; Belo Horizonte e
Nova Lima, em Minas Gerais; Belém, no Pará; Rio de Janeiro e Rio das Ostras, no
Rio de Janeiro; Gramado, no Rio Grande do Sul; Chapecó e Florianópolis, em Santa
Catarina; e Carapicuiba, Limeira, Ribeirão Preto e Suzano no Estado de São Paulo."
(SOMEKH, 2021)
Continuar superando os desafios existentes, ampliar o debate e as iniciativas
relacionadas à assistência técnica é o caminho para conquistar cidades mais justas e
consequentemente, a efetivação do direito à cidade e moradia digna.
A partir da escolha do cliente, sendo esse, família de até três salários mínimos com
habitação própria e sem situação de risco, existem algumas etapas a serem cumpridas até a
entrega final, sendo essas: o levantamento e diagnóstico inicial, a apresentação para
comunidade com orientação das atividades a serem desenvolvidas, desenvolvimento do
projeto executivo, oficinas de capacitação para a comunidade e colaboradores e execução das
obras.
Figura 11 - Imagens de reforma no banheiro - Casa da Dona Lourdes
A figura 11, demonstra uma das ações feita pela organização, a reforma de um
banheiro, foram trocados e inseridos revestimentos pois as áreas possuíam infiltrações,
mudou-se também, o layout para que houvesse um melhor aproveitamento do espaço. É
notório que a mudança gerou bem-estar para os moradores, evitando problemas respiratórios e
futuras patologias resultantes da situação do antigo banheiro.
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Colocação Segundo lugar do grupo 02 (unidades com dois quartos com expansão para
mais um)
Equipe José Vanildo de Oliveira Júnior, Sizinandes Barros de Lima Neto, Sarah
Lima, Rita Gurjão, Diego Montenegro de Lacerda, Liana Correa dos Santos
lacerda, Laudelino de Araújo Pedrosa Filho, Thyago Ramon Pereira da Silva,
Thálita Zavaski Abreu, Renata Caiaffo, Raphael Albuquerque dos Santos,
João Victor de Tatrai Carreiro, Jean Carlo Fechine Tavares, Giuseppe
Branquinho, Emmanuel Silva Dantas e Bruna França de Pontes
Ano 2017
.
Fonte: CODHAB/DF (2017). Editada pela autora, 2021
O projeto foi realizado, entre 2017 e 2018, por uma equipe de alunos e professores de
Engenharia Civil da UNEMAT, localizada em Nova Xavantina - MT, tendo como objetivo
analisar os erros das edificações das COHAB’s, os métodos empregados nas modificações
feitas pelos próprios moradores, como também auxiliá-los quanto a situação irregular perante
aos órgãos públicos.
Foi feito um diagnóstico em 75 casas de dois conjuntos habitacionais da cidade, dentre
essas, com duas tipologias diferentes, buscando registrar quais as maiores modificações feitas
pelos usuários sem o auxílio técnico (Figura 16).
Figura 16 - Localização dos conjuntos habitacionais em Nova Xavantina - MT
2.4.3.1. Metodologia
2.4.3.2. Resultados
As principais modificações feitas pelos moradores do Conjunto “Meu Lar”, foram na
área de serviço, cozinha e varanda, como também a inserção de novos cômodos como quartos,
garagens, despensas, sala de jantar, banheiro, suíte e corredores. Percebeu-se também, que
existiam esquadrias e recuos que não estavam de acordo com as normas vigentes. Já no
conjunto habitacional “Morar Melhor” seguiu-se o mesmo padrão de modificações, com
exceção da área de lazer, que no conjunto anterior não foi identificado essa alteração (Figura
19).
Figura 19 - Quantitativo das modificações por conjunto habitacional
3. METODOLOGIA
O público alvo desta pesquisa são moradores do Complexo Aluízio Campos que
fizeram ou pretendem fazer ampliações em sua moradia, como também profissionais da área
de Arquitetura e Urbanismo que pretendem atender a demanda por moradia digna dessa
população.
3.5. Legislações
Para subsidiar de forma coesa a presente análise, serão utilizadas as seguintes leis
vigentes:
- Estatuto das Cidades – Lei Nº 10.257 de 10 de julho de 2001. Regulamenta os artigos
182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá
outras providências;
- Lei Nº 11.888, de 24 de dezembro de 2008. Assegura às famílias de baixa renda
assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de
interesse social e altera a Lei no 11.124
- Plano Diretor do município de Campina Grande, Paraíba - Lei complementar Nº 003,
de 09 de outubro de 2006. Instrumento da política de desenvolvimento da cidade, que
3
Associação civil sem fins lucrativos, com fins educacionais e de pesquisa técnico científica. Com sede
na cidade de Campina Grande, na Paraíba, busca-se desenvolver estudos voltados aos espaços públicos,
mobilidade de pessoas por qualquer meio de transporte, promoção da cultura, defesa e conservação do
patrimônio histórico, artístico e cultural, entre outras finalidades. Com foco em que essas tanto possam embasar
o desenho urbano dos espaços públicos estudados como dar subsídios para políticas públicas que contemplem os
aspectos de uma cidade mais democrática.
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O presente capítulo aborda o estudo sobre a área do objeto de estudo, bem como as
análises das transformações ocorridas com foco nas habitações existentes no local.
Figura 23 - Mapa de distância do centro de Campina Grande ao Complexo habitacional Aluízio Campos
área que alegam espraiamento da malha urbana existente e deslocamento a população para
áreas periféricas é prejudicial do ponto de vista morfológico e social (MACÊDO, 2019).
Figura 25 - Mapa com setorização do Complexo Aluízio Campos
Fonte: Alexandrexxhb.
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Figura 28 - Planta baixa dos prédios tipo “H” do Complexo Habitacional Aluízio Campos
Sabe-se que fachadas ativas e ao nível da rua são importantes para as pessoas se
apropriarem do espaço, seja para permanecer ou caminhar (GEHL, 2013). As casas
geminadas do Complexo Aluízio Campos são térreas, porém, foi identificado que as mais
expressivas alterações foram elementos que estão relacionados à sensação de segurança - os
muros e as grandes (Imagem 32). Assim, a inserção de muros ocasiona-se em fachadas
monótonas sem permeabilidade visual entre moradores e a rua, desestimulando a
caminhabilidade de pessoas e aumentando a sensação de insegurança dos habitantes: “Nas
cidades, a animação e a variedade atraem mais animação; a apatia e a monotonia repelem a
vida.” (JACOBS, 2011, p. 108).
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4.3.2 Infraestrutura
A infraestrutura urbana básica foi ampliada para o Complexo Aluízio Campos, apesar
de sua localização distante da área central, o empreendimento foi inaugurado com distribuição
de água potável, rede de esgoto e de energia elétrica, além da pavimentação de mais de
sessenta vias sinalizadas e com iluminação em LED.
As calçadas foram entregues de acordo com a NBR 9050, contendo rampas, faixa de
acesso e faixa livre contínua e regular, o que possibilita o trânsito de forma acessível e
democrática, porém foram encontradas muitas modificações que alteraram esse padrão.
Algumas unidades construíram rampas a fim de favorecer a entrada de veículos, ocasionando
em uma faixa livre irregular, retirando-se assim a acessibilidade, além da diminuição de solo
permeável nos casos em que a faixa de acesso e a área interna do lote foram pavimentadas.
Em outros casos, foram notados a presença de materiais da construção civil nas faixas livres,
prejudicando também a passagem dos pedestres. (Imagem 34).
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O Programa Minha Casa Minha Vida como sendo a única política por muito tempo
deixou marcas em várias cidades brasileiras, inclusive em Campina Grande, com o recém
empreendimento Complexo Aluízio Campos. A falta do diálogo entre os planejadores e a
comunidade, causa o distanciamento: de um bom projeto, das lutas sociais e do planejamento
urbano ideal.
Como debatido nos capítulos anteriores, os anos oitenta foram importantes para a
regulamentação de muitos direitos que hoje estão instaurados. A regulamentação de ATHIS
foi uma conquista para a categoria profissional dos arquitetos e urbanistas tanto para a
sociedade. Para hoje, é urgente que se retome esse cenário de organização e reivindicação por
direitos, com foco no contexto atual. É preciso transformar o serviço de assessoria técnica em
uma realidade contínua, tal como o Sistema Único de Saúde (SUS) e as defensorias públicas
dos estados. De fato, iniciativas como as do CAU/BR com editais são bem vindas e exitosas
mas não devem acontecer só por temporada.
Diante disso, com o intuito de viabilizar a ATHIS, pretende-se levar o debate e a
técnica para a comunidade de forma acessível e simplificada sobre as possibilidades que
possam ser feitas, tendo noção de viabilidade para fazer com pouco dinheiro e poder assim,
planejar o futuro.
5. DIRETRIZES E PROPOSTAS
Como visto no capítulo anterior, a área é dotada de vias e passeios projetados com
dimensões adequadas e acessíveis a todos os públicos. No entanto, diante das necessidades
dos habitantes, houveram mudanças nas calçadas de algumas unidades habitacionais que
podem trazer diversos prejuízos para a área e seus moradores. As interrupções no passeio, seja
pela construção de rampas ou pela obstrução por materiais da construção civil, provocam
sensação desagradavel de insegurança e desconforto nos pedestres, e os desestimulam a
caminhar, podendo até interferir no acesso ao comércio local.
Para as alterações feitas em calçadas, a ideia é incentivar os moradores a construí-las
de forma normatizada, dado que além de garantir segurança aos pedestres com a preservação
da acessibilidade existente, também contribui para uma melhor manutenção das vias, valoriza
o imóvel e o bairro. Assim, de acordo com a Lei Nº 095/15 - Plano de Mobilidade de
Campina Grande - PLANMOB/CG, as calçadas devem ter duas faixas, sendo elas: faixa de
circulação e faixa de serviço, no caso do Complexo Aluízio Campos existe uma terceira, a
faixa de proteção a edificação (Figura 42).
Figura 42 - Faixas da calçada normatizada
Diante das necessidades dos moradores de adequar as calçadas para acesso dos carros
as garagens, é importante salientar que deve ser feito de acordo com as regulamentações da
Lei nº 5410/13 - Código de Obras, onde o rebaixamento do meio fio deve ser feito na faixa de
serviço com inclinação no sentido longitudinal e não deve ultrapassar a 8,33%, e em hipótese
alguma pode diminuir a faixa de circulação, prejudicar a arborização pública ou ser feita a
inserção de rampas entre a rua e o meio fio (figura 43). Nas unidades habitacionais de
esquina, os acessos a garagens devem ter 5,00m de distância da esquina. Ademais, na faixa de
circulação é proibida a parada de veículos, sendo essa uma infração ao Código de Posturas -
Lei Nº 4.129/03.
Figura 43 - Calçadas com inserção de rampas e degraus
sejam definidos de forma clara, como se dará a obtenção de recursos financeiros, a formação
de equipe técnica, os critérios de escolha dos beneficiários, e as etapas do processo junto a
família e a prefeitura.
Serão apresentadas a seguir algumas possibilidades de financiamento e convênios que
poderiam ser aplicados pelo município e sociedade civil na construção de legislações
específicas, e consequentemente promover a efetivação da Assistência Técnica como política
pública permanente (figura 46).
Figura 46 - Esquema de possibilidades de financiamentos e convênios
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, foi possível perceber que a história das políticas habitacionais no
Brasil foi marcada por muito esforço por parte dos movimentos sociais em prol de moradia
digna, sobretudo nos anos oitenta, e a criação da Assistência Técnica em Habitação de
Interesse Social é fruto dessas lutas populares em articulação com o Estado porém, desde sua
aprovação se encontra inoperante. Também foi posto, que as práticas populares de
autoconstrução via mutirão e autogestão, foi por muito tempo o meio de se conseguir o acesso
à moradia com forte caráter de organização e que se obteve bons resultados.
O Complexo Aluízio Campos, produto do programa Minha Casa Minha Vida que após
consolidado por seu êxito, foi ao longo de muito tempo, a única iniciativa com objetivo de
resolver o problema do déficit habitacional existente, sendo utilizado mais como uma marca
pelos planos de governos dos candidatos políticos do que de fato uma construção de política
pública. Durante anos, a técnica foi distanciada da realidade dos brasileiros e a criação de um
ciclo iniciou-se, no qual a população de baixa renda precisa ocupar a cidade informal, então o
Estado intervém com o deslocamento dessa população para as áreas periféricas e novamente
institui-se a informalidade, dado que essas pessoas são excluídas do processo participativo de
construção de cidade.
Nesse contexto, esse cenário fica evidente no Complexo Aluízio Campos, os
residentes com suas variadas formas de vida precisam adaptar suas necessidades ao local que
lhes foi concedido, ficando livres para suas intervenções. Assim, diante das modificações
habitacionais apresentadas no trabalho, percebe-se que os moradores possuem
desconhecimento das regulamentações vigentes como, o Código de Obras, o Plano Diretor
Municipal e a Lei de Assistência Técnica, e tão pouco possuem acesso aos profissionais
habilitados, pelo alto custo da prestação de serviço.
Por isso, as modificações nas habitações serão feitas de qualquer forma e é de extrema
importância que se tenha o auxílio de um profissional para essa população continuar tendo
oportunidade de usufruir de uma moradia segura, com qualidade construtiva e
economicamente viável. Dessa forma, o trabalho trouxe possibilidades de implementação da
lei e principalmente, como intervir nos espaços privados e públicos, de acordo com as maiores
necessidades observadas.
As propostas aqui apresentadas, deixam claro que não é necessário grandes projetos e
orçamentos para intervenção de melhorias no espaço, e que a responsabilidade social do
profissional de arquitetura e urbanismo vai muito além dessas propostas físicas, é a
61
contribuição para formação de uma sociedade mais justa e igualitária. Posto isso, ter prática
dentro da academia, desenvolvendo projetos pequenos e de reformas para a população de
baixa renda é fundamental para formação de profissionais agentes transformadores da
realidade.
Devido a situação de isolamento social no semestre 2021.1, foram impossibilitadas as
visitas às casas e entrevistas, sendo feito os seus levantamentos de forma externa. Outros
estudos nas habitações são necessários para melhores propostas, as análises internas poderão
identificar outras necessidades, como organização do espaço devido o dimensionamento do
espaço.
Ademais, o presente estudo contribui para a propagação da pauta de ATHIS entre a
população moradora do Complexo Aluízio Campos como também, para os estudantes e
profissionais com interesse em atuar com habitação social e a formação de cidades mais
inclusivas.
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REFERÊNCIAS
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Fundação da Casa Popular ao Banco Nacional Habitação. Rio de Janeiro, 2011.
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03 de abril de 2021.
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territoriais. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2013
CAU/BR. CAU Brasil inicia articulação para a produção de ATHIS em escala massiva.
CAU/BR, 2021 Disponível em:
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MACÊDO, Persio Padre de. Aluízio Campos para quê? Outro caminho através de
políticas habitacionais em centros urbanos. 2008. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Arquitetura e urbanismo) – UNIFACISA - Centro universitário de Campina
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MULATO, Yuri. CAU abre edital para apoiar projetos de ATHIS no combate a
coronavírus. AECweb, 2020. Disponível em:
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2º SEMINÁRIO ATHIS e suas potencialidades como política pública. [S. l.: s. n.], 2020. 1
vídeo (3:40 hrs). Publicado pelo canal ATHIS na baixada. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=bGBsG1rIvVw&t=8744s>. Acesso em: 05 mar. 2021
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ANEXOS
ANEXO A - CARTILHA
67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
77
78