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Contabilidade

A contabilidade deve ser vista, cada vez mais, não apenas como uma área de interesse dos contadores, mas
sim como uma ferramenta de gestão para todos aqueles que, direta ou indiretamente, estão envolvidos na
busca dos interesses das organizações.
Os capítulos desta obra foram estruturados e dispostos para que você possa compreender desde os conceitos
iniciais da contabilidade, como o processo contábil, até a estruturação e análise dos relatórios. Você encon-
trará, também, conceitos avançados tratados com enfoque objetivo e prático, o que facilita a sua apreensão.
Afinal, a informação é a ferramenta mais eficaz para o adequado gerenciamento de um negócio. Nesse sen-
tido, a contabilidade mostra-se como um banco de dados imprescindível para a gestão das empresas.

Érico Eleutério da Luz

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6164-8

58179 9 788538 761648


Contabilidade

Érico Eleutério da Luz

IESDE BRASIL S/A


2018
© 2013-2018 – IESDE BRASIL S/A.
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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L994c Luz, Érico Eleutério da
Contabilidade / Érico Eleutério da Luz. - [2. ed.]. - Curitiba
[PR] : IESDE Brasil, 2018.
158 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6164-8

1. Contabilidade. I. Título
CDD: 657
18-53175
CDU: 657

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Érico Eleutério da Luz
Mestre em Controladoria e Contabilidade pela Universidade Norte do Paraná (Unopar),
especialista em Finanças e Auditoria pela FAE/CDE. Contador e advogado, já atuou como
contador e controller em grandes empresas. Na área acadêmica, leciona disciplinas nas áreas de
Contabilidade e Direito, em cursos de graduação e pós-graduação e é autor de diversas obras
na área contábil. Atualmente, é consultor empresarial e coordenador do curso de Ciências
Contábeis da FAE – Centro Universitário.
Sumário

Apresentação 7

1 Contabilidade: aspectos introdutórios 9


1.1 Contabilidade financeira 9
1.2 Contabilidade tributária 10
1.3 Contabilidade gerencial 11
1.4 Plano de contas 17

2 Estrutura conceitual básica da contabilidade brasileira 21


2.1 Normas contábeis 21
2.2 Informações contábeis 23
2.3 Análise das características da informação contábil 23

3 Escrituração contábil e contas retificadoras do Ativo e do Passivo 29


3.1 Obrigatoriedade da escrituração contábil 30
3.2 Técnica de escrituração 32
3.3 Contas retificadoras do Ativo e do Passivo 34

4 Demonstrações contábeis: modelos de representação da


situação econômica e financeira I 39
4.1 Estrutura dos relatórios contábeis: Balanço Patrimonial 39
4.2 Ativo: bens e direitos 40

5 Demonstrações contábeis: modelos de representação da


situação econômica e financeira II 49
5.1 Passivo: obrigações 49
5.2 Critérios de avaliação dos Passivos 55
5.3 Diferença entre reservas e provisões 55

6 Demonstrações Contábeis: Demonstração do Resultado do Exercício 57


6.1 Modelo de representação da rentabilidade das empresas 57
6.2 Demonstração do Resultado do Exercício 57
7 Operações contábeis 65
7.1 Controle de estoques 65
7.2 Métodos de avaliação dos estoques quando da baixa das mercadorias por
venda 66
7.3 Depreciação 71
7.4 Provisão para créditos de liquidação duvidosa 73

8 Demonstração do Resultado Abrangente e Demonstração das


Mutações do Patrimônio Líquido 77
8.1 Demonstração do Resultado Abrangente (DRA) 77
8.2 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) 80

9 Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 93


9.1 Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) 93
9.2 Demonstração do Valor Adicionado (DVA) 99

10 Notas explicativas e parecer de auditoria 105


10.1 Notas explicativas 105
10.2 Conceito de auditoria 107
10.3 Auditoria interna e externa 108
10.4 Programa de auditoria 113

11 Indicadores de gestão 119


11.1 Análise econômica e financeira de empresas 119
11.2 Metodologia e tipos de análise 121
11.3 Escolha de indicadores 126
11.4 Análise da gestão do caixa 132
11.5 Prazos médios 134
11.6 EBIT e EBITDA 136

12 Consolidação das demonstrações contábeis 141


12.1 Conceito e objetivo 141
12.2 Considerações gerais sobre a consolidação 142
12.3 Equivalência patrimonial 151
12.4 Juros sobre o capital próprio 152

Gabarito 155
Apresentação

Você tem em mãos um livro que se propõe a contribuir para diversos conceitos inerentes à
contabilidade, ou seja, uma obra que está alicerçada na apreensão, avaliação e reporte de informa-
ções financeiras.
A informação é a ferramenta mais eficaz para o adequado gerenciamento de um negócio.
Percebe-se, cada vez mais, a necessidade que os gestores têm de acompanhar o desempenho de
suas atividades, a rentabilidade de seus ativos e a mensuração adequada do resultado empresarial.
A contabilidade se posiciona cada vez mais como um fantástico banco de dados, cujo uso é impres-
cindível para a gestão de negócios. Está claro que grande parte dos problemas atuais das organiza-
ções é oriunda da ausência de dois produtos essenciais: controle e informação.
Os capítulos desta obra foram estruturados e dispostos para que você, caro leitor, possa
compreender desde os conceitos iniciais, como o processo contábil (captação e registro dos fatos
econômicos), até a estruturação e análise dos relatórios. Encontrará também conceitos avançados,
como consolidação, demonstração do valor adicionado e fluxo de caixa, tratados com enfoque
objetivo e prático, facilitando a leitura e compreensão para aplicação no dia a dia.
Lembremos que os executivos devem estar preparados para, no mínimo, ler e interpretar
relatórios que contenham dados relativos ao seu negócio. Nesse sentido, a contabilidade, em sinto-
nia com a ordem econômica brasileira e mundial, experimentou, nos últimos tempos, profundas
transformações que se traduzem em uma evolução constante, sempre com o objetivo principal de
proporcionar aos seus usuários a possibilidade de controlar seu patrimônio, estudando sua estru-
tura e suas respectivas variações.
Embora a contabilidade financeira ou societária seja regulada por normas e leis, as altera-
ções ocorridas trouxeram uma certa aproximação entre o enfoque contábil societário e a conta-
bilidade gerencial, no intuito de aproximar cada vez mais a contabilidade da gestão empresarial.
A tecnologia da informação fornece os meios para que isso ocorra, basta que os utilizemos da
forma mais eficaz possível.
Apesar de os conceitos expostos nesta obra parecerem técnicos e, portanto, de uso restrito
dos contadores, a contabilidade deve ser vista cada vez mais como uma ferramenta imprescindível
para todos aqueles que, direta ou indiretamente, estão envolvidos na busca do objetivo maior de
uma organização: maximizar o retorno dos investimentos.
Bons estudos!
1
Contabilidade: aspectos introdutórios

Este primeiro capítulo trata dos conceitos iniciais relativos à contabilidade, suas principais
abordagens, finalidades e seus usuários, enfocando aspectos dos impactos tributários e gerenciais na
estrutura dos relatórios contábeis mais tradicionais, como o Balanço Patrimonial e a Demonstração
do Resultado do Exercício. Destaca-se, inclusive, a importância do plano de contas, pois o conheci-
mento e o uso adequados das informações contábeis – sejam elas de natureza financeira, tributária ou
gerencial – são dependentes da estrutura e da sequência lógica das contas contábeis.

1.1 Contabilidade financeira


A contabilidade financeira é uma ciência que capta, registra, resume, analisa e interpreta to-
dos os fatos ocorridos em determinado período, que afetam o patrimônio e o desempenho (resul-
tado) de uma entidade. O art. 176 da Lei n. 6.404/1976, Lei das Sociedades por Ações, define que:
Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na escritu-
ração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações financeiras, que
deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as
mutações ocorridas no exercício:
I – Balanço Patrimonial;
II – Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados;
III – Demonstração do Resultado do Exercício;
IV – Demonstração dos Fluxos de Caixa; e
V – se companhia aberta, Demonstração do Valor Adicionado. (BRASIL, 1976)

O objetivo principal da contabilidade financeira é o estudo focado no controle do patrimô-


nio e do resultado das entidades, sejam elas de fins lucrativos ou não. Assim, o patrimônio é o ob-
jeto da contabilidade e seu objetivo será alcançado quando os usuários tiverem acesso ao conjunto
de informações financeiras que deverão estar contempladas nos relatórios contábeis, referidos no
art. 176 da Lei n. 6.404/1976.
Quanto aos campos de aplicação, as técnicas de contabilidade aplicam-se a todas as entida-
des que necessitem de informações acerca de sua situação econômica e financeira, independente-
mente de porte, tipo de atividade ou regime tributário ao qual estão sujeitas.
A finalidade da contabilidade financeira é prestar informações, visando ao controle e ao
planejamento de um determinado patrimônio:
• controle: por meio dos relatórios contábeis, o administrador certifica-se de que as metas
estabelecidas para a consecução dos seus objetivos estão sendo cumpridas;
• planejamento: o sistema contábil deve integrar-se ao plano orçamentário, o que permite a
comparação entre os valores orçados e os realizados (extraídos da contabilidade) e, dessa
forma, garante que a administração possa agir rapidamente no caso de não atingimento
de qualquer objetivo.
10 Contabilidade

1.2 Contabilidade tributária


O enfoque tributário da contabilidade concretiza-se no registro contábil das provisões
relativas aos tributos a recolher, em obediência aos Princípios de Contabilidade e às regras
fiscais. A contabilidade tributária tem a responsabilidade de informar de maneira correta e
tempestiva os valores das provisões de tributos, ocupando-se também da escrituração dos
documentos fiscais em livros próprios ou registros auxiliares, a fim de apurar e determinar o
montante de tributos a ser recolhido.
Entretanto, não há dúvida de que um dos objetivos mais nobres da contabilidade tributária
é prestar orientações adequadas aos diversos setores da empresa, a respeito da legislação tributá-
ria e de suas alterações, bem como de possíveis planejamentos fiscais que possam ser feitos e que
ofereçam, dentro da legalidade, ganhos para todos os envolvidos, sejam filiais, departamentos ou
sociedades participantes de um grupo econômico.
Uma gestão tributária responsável compreende o cuidado com políticas e ações que visem
reduzir o impacto dos tributos no resultado e no caixa das empresas, porém sempre com a obser-
vância dos princípios e normas fiscais. A busca constante da elisão fiscal, que compreende o plane-
jamento tributário, deve superar a visão imediatista e insensata da evasão, posto que esta é proibida
e consiste em burlar a legislativa tributária.
O emaranhado de leis, normas, resoluções e outros tantos tipos legislativos que constituem
a estrutura tributária brasileira por vezes dificultam o estudo e a análise dos efeitos fiscais sobre o
patrimônio e o resultado das entidades. A contabilidade tributária deve contribuir com conceitos
tributários e contábeis que possam, conjuntamente, auxiliar na compreensão e na definição de
políticas responsáveis por conduzi-la a uma gestão tributária eficaz.
O controle estatal sobre a arrecadação está se aprimorando a passos largos, com a infor-
matização de controles e informações sobre contribuintes e tributos. É imprescindível, portanto,
que o gestor tributário entenda do negócio com o qual está envolvido e tenha uma considerável
compreensão da contabilidade financeira e dos efeitos tributários das operações. A contabilida-
de tributária é em essência a combinação adequada entre a legislação tributária e a legislação
contábil societária.
A legislação relativa aos tributos no Brasil tem como fonte originária a Constituição Federal
de 1988, nela estão os princípios basilares que norteiam a relação fisco/contribuinte para, quiçá,
frear o ímpeto arrecadatório do Estado (BRASIL, 1988).
Os princípios e normas, notadamente constitucionais, são fundamentais para a compreensão
e aplicação das regras da contabilidade tributária. Sem o conhecimento da legislação tributária e de
seus enunciados, sua prática arrisca-se a tornar-se uma mera escrituração sem o aproveitamento
de todo seu arcabouço teórico e, obviamente, sem a obtenção do resultado que se almeja, isto é,
uma adequada gestão tributária que visa a uma economia com o pagamento de tributos, porém
sem o risco de se adotar medidas fiscais que possam levar a futuras autuações por parte do fisco.
Contabilidade: aspectos introdutórios 11

As organizações de qualquer porte e atividade buscam sempre a racionalização dos gastos,


sejam estes de qualquer natureza. O impacto tributário na estrutura de custos e no fluxo de caixa das
empresas é alvo de constante preocupação e ações que buscam minimizá-lo. A contabilidade tribu-
tária integra-se pela junção dos aspectos contábeis com os aspectos tributários, portanto, deve-se ter
uma compreensão adequada desses conceitos para que a gestão tributária possa ter eficácia.

1.3 Contabilidade gerencial


A contabilidade gerencial refere-se a uma abordagem diferente daquela que caracteriza a
chamada contabilidade financeira. Teve origem na necessidade de controle que os proprietários e
gestores tinham de seus negócios, necessidade que se mantém extremamente atual, pois verifica-se
que sua razão de ser é o apoio ao processo decisório empresarial.

1.3.1 Histórico
Há evidências de que a contabilidade tenha surgido há mais de 10 mil anos, inicialmente
como um rudimentar controle de patrimônio. É interessante notar que a necessidade de se con-
trolar uma riqueza é intrínseca ao homem, pois rudimentos de controle contábil surgiram antes
mesmo do aparecimento da moeda e da escrita, destacando-se a importância dessa ferramenta
como meio de controle de um patrimônio.
Com a evolução da sociedade, a contabilidade também experimentou grande evolução,
cujo marco se deu com a Revolução Industrial na Inglaterra, pois foi nesse período que os gestores
passaram efetivamente a se preocupar com o controle e gestão de custos e relatórios gerenciais.
Ricardino (2005) destaca que é difícil precisar quem criou a expressão management
accounting, embora possamos considerar que esse termo tenha sido desenvolvido posteriormente management
accounting: contabili-
à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), no intuito de descrever o fornecimento de informações dade gerencial.

estatísticas para propósitos de planejamento, decisão e controle.


Kaplan e Johnson (1987, p. 18) trazem essa perspectiva quando afirmam que “a contabilida-
de gerencial surgiu pela primeira vez nos Estados Unidos, quando as organizações comerciais, em
vez de dependerem dos mercados externos para trocas econômicas diretas, passaram a conduzir
trocas econômicas internas”.
Padoveze (2010a, p. 29) informa que o campo da atividade organizacional abarcado pela
contabilidade gerencial foi desenvolvido por meio de quatro estágios reconhecíveis:
• Estágio 1 – antes de 1950, o foco era na determinação do custo e controle fi-
nanceiro, através do uso das tecnologias de orçamento e contabilidade de custos.
• Estágio 2 – por volta de 1965, o foco foi mudado para o fornecimento de infor-
mação para o controle e planejamento gerencial, através do uso de tecnologias
tais como análise de decisão e contabilidade por responsabilidade.
• Estágio 3 – por volta de 1985, a atenção foi focada na redução do desperdício
de recursos usados nos processos de negócios, através do uso das tecnologias de
análise do processo e administração estratégica de custos.
12 Contabilidade

• Estágio 4 – por volta de 1995, a atenção foi mudada para a geração ou criação
de valor pelo uso de tecnologias, tais como exame dos direcionadores de valor
ao cliente, valor para o acionista, e inovação organizacional.

Observe que a ideia da contabilidade gerencial como criadora de valor para o negócio ini-
ciou-se a partir do momento em que a tecnologia da informação possibilitou a mensuração e o
controle de variáveis que até então eram de difícil, ou impossível, mensuração e controle, como
processos, clientes, tecnologia de produção, entre outros. A Figura 1 sintetiza os quatro estágios
mencionados pelo autor.
Figura 1 – A evolução da contabilidade gerencial

1º estágio Determinação do custo e controle

Informação para planejamento de


2º estágio controle gerencial

Redução de desperdício de recursos


3º estágio
nos processos do negócio

Criação de valor pelo uso efetivo


4º estágio
dos recursos

Fonte: Elaborada pelo autor com base em Padoveze, 2010a.

1.3.2 Conceito
A contabilidade gerencial se ocupa de conferir um tratamento especial a objetos e eventos
já reconhecidos pela contabilidade financeira. Seu conceito está atrelado aos relatórios que são
produzidos e distribuídos após a transformação de dados em informações e destas em informa-
ções gerenciais que sejam úteis às tomadas de decisões. Também podemos conceituá-la como um
processo de captação (receptação), processamento, elaboração e comunicação de relatórios e in-
formações com forma e conteúdo diferentes daqueles elaborados e distribuídos pela contabilidade
financeira. Seu objetivo maior é proporcionar ao decisor (gestor) um conjunto de informações que
lhe sejam úteis em suas decisões econômicas e que proporcionem a agregação de valor.
Pela importância da contabilidade gerencial, e considerando que se trata de um conceito
que se originou na contabilidade norte-americana, é de grande valia buscar entre os doutrinadores
americanos os principais conceitos relativos a essa forma especial de contabilidade.
Atkinson et al. (2000, p. 18) definem contabilidade gerencial como sendo o “processo de
identificar, mensurar, reportar e analisar informações sobre os eventos econômicos das empresas”.
Anthony (1974, p. 17) faz uma distinção clara entre a contabilidade financeira e a contabilidade
gerencial. Segundo o autor:
a contabilidade financeira tem como objetivo primário proporcionar informa-
ção financeira a terceiros – acionistas, banqueiros, outros credores e agências
governamentais. As técnicas, os regulamentos e as convenções segundo os quais
os dados contábeis são coletados e relatados refletem, em grau considerável, as
exigências desses terceiros.
Contabilidade: aspectos introdutórios 13

Já a contabilidade gerencial, para Anthony, preocupa-se com a informação contábil útil à


administração. Útil, nesse contexto, traz sempre a conotação de algum propósito para o qual os nú-
meros devem ser usados. Li (1977), no clássico livro Contabilidade gerencial, ressalta que essa área
é o resultado da interação da contabilidade com a administração e foi um dos primeiros autores a
definir a contabilidade (no sentido amplo de ciência) como a “linguagem universal dos negócios”,
pois se a linguagem é um meio de expressar e comunicar ideias em geral, a contabilidade é um
meio de relatar os resultados da administração.
Horngren (2000, p. 4), no mesmo sentido dado à expressão por Kaplan e Johnson (1987),
escreve que “a contabilidade gerencial é um processo de identificar, mensurar, acumular, analisar,
preparar, interpretar e comunicar informações que auxiliem os gestores a atingir objetivos organi-
zacionais”. Já Fess, Warren e Reeve (2001, p. 3) afirmam que:
as informações da contabilidade gerencial incluem dados históricos e estimados
usados pela administração na condução de operações diárias, no planejamento
de operações futuras e no desenvolvimento de estratégias de negócios integra-
das, pois as características da contabilidade gerencial são influenciadas pelas
variadas necessidades da administração.

Os mesmos autores propõem graficamente o que seria a essência da contabilidade gerencial


comparativamente à contabilidade financeira, como podemos ver na Figura 2 a seguir.
Figura 2 – Contabilidade financeira x Contabilidade gerencial

Contabilidade financeira Contabilidade gerencial

Demonstrações
Relatórios gerenciais
financeiras

Usuários externos Administração


e administração

Critérios objetivos
Critérios objetivos de
e subjetivos de registro
registro e mensuração
e mensuração

Fonte: Elaborada pelo autor com base em Fess, Warren e Reeve, 2001.

Para Jiambalvo (2002), a contabilidade tem como objetivo a disponibilização de informações


necessárias aos usuários, no intuito de fornecer apoio aos processos de planejamento, controle e
para as respectivas tomadas de decisões. Ela é imprescindível, segundo o autor, para que os gestores
possam tomar decisões eficazes e proporcionar alto valor agregado aos seus negócios.
Dessa forma, podemos considerar que a contabilidade gerencial tem alguns atributos
que sempre a acompanham e que a distinguem como uma ferramenta especial para uma efi-
caz gestão empresarial. Esses atributos ou qualidades específicas (destacados no Quadro 1 a
seguir) permitem uma distinção clara entre a contabilidade financeira ou societária e a conta-
bilidade gerencial.
14 Contabilidade

Quadro 1 – Características básicas da contabilidade financeira e da contabilidade gerencial

Contabilidade financeira Contabilidade gerencial


Clientela Externa: acionistas, credores, governo. Interna: funcionários, administradores, executivos.

Reportar desempenho passado às partes Informar decisões internas tomadas pelos funcio-
Propósito externas; contratos com proprietários e nários e gerentes; feedback e controle sobre desem-
credores. penho operacional.

Data Histórica, atrasada. Atual, orientada para o futuro.

Regulamentada: dirigida por regras e prin- Desregulamentada: sistemas e informações deter-


Restrições cípios da contabilidade e por autoridades minadas pela administração para satisfazer neces-
governamentais. sidades estratégicas e operacionais.

Tipo de Mensuração física e operacional dos processos,


Somente para mensuração financeira.
informação tecnologia, fornecedores e competidores.

Natureza da Objetiva, auditável, confiável, consistente, Mais subjetiva e sujeita a juízo de valor, válida, rele-
informação precisa. vante, acurada.

Escopo Muito agregada; reporta toda a empresa. Desagregada; informa as decisões e ações locais.
Fonte: Padoveze, 2010b, p. 31.

A análise dos aspectos que distinguem a contabilidade gerencial da contabilidade societária


permite a percepção da verdadeira essência da contabilidade gerencial e de seu produto fundamen-
tal, que são as informações gerenciais:
• Clientela: o cliente da contabilidade gerencial é o gestor responsável por decisões internas
que impactam o resultado (lucro ou prejuízo) ou a geração de caixa do negócio, ou seja,
o usuário é o gestor, aquele que utiliza a informação gerencial para suas decisões no coti-
diano da empresa. Ele deverá receber todas as informações que sejam relevantes para seu
posicionamento em relação a uma decisão econômica. Já o cliente da contabilidade finan-
ceira é parte de um grupo de usuários externos, como sócios e acionistas, financiadores,
fornecedores, governo, funcionários e outros.
• Propósito ou objetivo: os objetivos da contabilidade gerencial se diferenciam daqueles
da contabilidade financeira exatamente porque seus clientes são específicos e distintos.
• Mensuração: os critérios de mensuração de objetos e eventos são diferentes para a con-
tabilidade gerencial e para a contabilidade financeira. Primeiro porque a contabilidade
financeira, ao produzir informações para o mercado, deve observar as regras fixadas pela
lei societária e também as normas contábeis, ou seja, a contabilidade financeira utiliza pa-
drões de mensuração definidos previamente pelas normas e pelos regulamentos da classe
contábil. Como exemplo, podemos citar as avaliações dos estoques, que na contabilidade
financeira são basicamente mensuradas por seus valores de aquisição (custo histórico).
Já a contabilidade gerencial não precisa restringir seus critérios de mensuração aos dita-
mes legais, ao contrário, ela deverá utilizar os critérios que melhor representem os valores
econômicos dos itens avaliados. Utilizando do mesmo exemplo dos estoques, podemos,
na contabilidade gerencial, ter critérios diversos, como preço de reposição, valor de mer-
cado e outros.
Contabilidade: aspectos introdutórios 15

1.3.3 Objetivo
A contabilidade gerencial permite o uso da informação contábil como ferramenta para o
empresário. Para uma utilização eficaz dessa ferramenta, é necessário que os usuários da infor-
mação (administradores e empresários) tenham algum conhecimento relativo aos conceitos de
contabilidade financeira, de custos e, é claro, de contabilidade gerencial. Observe que a relação
custo/benefício na construção da informação deve ser favorável, ou seja, o custo para obtenção da
informação não pode ser maior do que o seu valor para a entidade.
Nesse sentido, o objetivo fundamental da contabilidade gerencial é fornecer aos interessados
(internos à organização) relatórios gerenciais que contenham informações de natureza financeira,
física e de produtividade, a fim de possibilitar a estes a escolha da melhor alternativa em uma de-
cisão, visando à criação de valor para o negócio. A Figura 3 demonstra de modo mais técnico esse
pressuposto: informação para melhor decisão.
Figura 3 – Informações para a tomada de decisões

Responsáveis pelas tomadas de decisões

Restrição geral Benefício > Custo

Qualidades
Compreensiblidade
específicas a usuários

Qualidades
Utilidade na tomada de decisões
específicas a decisões

Relevância Confiabilidade

4. Oportunidade 1. Verificabilidade
2. Fidelidade de
5. Valor Preditivo representação
6. Valor como feedback 3. Neutralidade

Limite de
Materialidade
reconhecimento

Fonte: Elaborada pelo autor.

Podemos entender pela Figura 3 que o início de um pensamento gerencial em contabilidade


se dá pelo usuário. É ele que, agindo gerencialmente, vai necessitar de informações que subsidiem
suas decisões. A área de controladoria, responsável pela implementação do sistema de contabilida-
de gerencial, verificará se é possível atender ao solicitado pelo usuário, observando a relação entre
custo e benefício da informação objeto da solicitação. Mesmo diante das dificuldades que surjam
para avaliar tal relação, é importante não perder de vista essa análise, pois se ela for desfavorável,
devemos descartar a possibilidade de construção dessa informação.
16 Contabilidade

Se o benefício da informação é maior que seu custo de processamento e distribuição,


devemos, na sequência, avaliar sua compreensibilidade, ou seja, a condição que a informação
proporciona de ser efetivamente compreendida pelo usuário, que poderá, nesse caso, fazer dela
um melhor uso.
A compreensibilidade deve ser analisada também em relação ao perfil do usuário, pois se-
guidamente percebemos que a não compreensão ou uma compreensão limitada de um relatório
gerencial ocorre em virtude de falta de preparo do usuário e não necessariamente por característi-
cas intrínsecas das informações. Nesse caso, recomenda-se um treinamento prévio para as pessoas
que utilizarão os relatórios.
Se a informação é compreensível, considera-se que poderá ser útil nas tomadas de decisões.
É necessário, entretanto, verificar se ela contém características que a tornam segura e eficaz para
motivar adequadamente uma decisão.
Primeiro analisa-se sua relevância, isto é, sua importância para sugerir o melhor caminho
entre as alternativas do decisor. A relevância é percebida quando a informação é oportuna, requisi-
to também chamado de tempestividade. É a informação que está disponível no momento adequado
para a decisão.
A oportunidade é avaliada também com relação ao valor preditivo da informação, isto é, se
toda a decisão tem impacto futuro, toda informação tem que observar os impactos dessas decisões
para um dado futuro almejado. Relatórios orçamentários e relatórios que informam as margens de
contribuição de produtos e serviços também são exemplos disso.
A confiabilidade é outro atributo que deve ser encarado como inerente a uma informação
gerencial. Uma informação é confiável quando pode ser rastreada e testada e aí reside a importân-
cia de que as informações sejam produtos de sistemas estruturados de informações, possibilitando
o acesso a elas e a sua reconstrução em qualquer momento desejado. A fidelidade de representação
significa que, na medida do possível, os valores monetários – por exemplo, que representam os
eventos e elementos informados – devem expressar o mais fielmente a essência econômica desses
elementos. Esse aspecto fica facilitado na contabilidade gerencial por não estar sujeito a critérios
padronizados de avaliação monetária, como ocorre com a contabilidade financeira.
Neutralidade é uma característica importante, pois recomenda-se que a informação geren-
cial auxilie a decisão do gestor pelo seu conteúdo e forma, e não por eventuais distorções motivadas
por interesses escusos de determinada pessoa ou área.
O limite para tratamento e reconhecimento de uma informação é sua materialidade. Se o
valor do elemento informado é imaterial, não devemos, por uma questão de objetividade e racio-
nalização de custos, dar-lhe um tratamento especial. Não podemos esquecer, entretanto, que ma-
terialidade é um conceito que deve ser verificado caso a caso, já que um determinado valor pode
ser imaterial para uma empresa de grande porte, mas constituir grandeza considerável para uma
pequena ou média empresa.
Contabilidade: aspectos introdutórios 17

1.4 Plano de contas


1.4.1 Estrutura e funcionamento
Conta contábil é um código alfanumérico cuja finalidade é registrar os fatos contábeis,
identificando-os por natureza de acordo com os eventos econômicos ocorridos. Desse modo, a
conta contábil expressa individualmente os elementos conforme suas características e particula-
ridades essenciais.
As contas contábeis representam facilmente as operações realizadas pelas entidades e estão
dispostas em um relatório denominado plano de contas. A gestão desse relatório (inclusão, alte-
ração e exclusão de contas) deve ficar a cargo da área contábil, pois ele servirá como parâmetro
para a geração dos relatórios contábeis, como Balanço Patrimonial, Demonstração de Resultado,
Demonstração do Fluxo de Caixa etc.
A estruturação de um plano de contas deve ser elaborada considerando-se o porte da empresa,
sua atividade e as necessidades de informações personalizadas que os usuários possam demonstrar.
De acordo com Sá (2004, p. 22), “o plano de contas é uma peça na técnica contábil que estabelece
previamente a conduta a ser adotada na escrituração, através da exposição das contas em seus títulos,
funções, funcionamentos, grupamentos, análises, derivações, dilatações e reduções”.
O plano de contas deve ser organizado em níveis: grupo, subgrupo, contas sintéticas e contas
analíticas. Cada nível e conta deve ser identificado com um código numérico específico:

Nível 1: ocorre a consolidação dos saldos dos subgrupos.


Ativo, Passivo, Patrimônio Líquido, Receitas, Custos e Despesas.

Nível 2: obtém-se o resumo dos saldos das contas sintéticas, ou seja,


aquelas contas que serão desdobradas em contas analíticas para melhor
compreensão e visualização dos valores.
Ativo: Circulante e não Circulante.
Passivo: Circulante, não Circulante e Patrimônio Líquido.
Receitas: Receita Bruta, Deduções da Receita Bruta, Outras Receitas
Operacionais, Custos e Despesas Operacionais.

Nível 3: contas que evidenciem os grupos a que se referem. Visualizam-


-se os valores relativos às contas sintéticas, conforme explicado no
item anterior.
Nível 1 – Ativo.
Nível 2 – Ativo Circulante.
Nível 3 – Bancos conta movimento.
18 Contabilidade

Nível 4: subcontas que evidenciem o tipo de registro contabilizado. Os


lançamentos contábeis serão efetuados originalmente no Nível 4 – onde
estão cadastradas as contas analíticas, que servirão de código inicial de
registro das operações.
Nível 1 – Ativo.
Nível 2 – Ativo Circulante.
Nível 3 – Bancos conta movimento.
Nível 4 – Banco Ambrosiano S/A.

1.4.2 Objetivo do plano de contas


O principal objetivo do plano de contas é estabelecer regras e parâmetros para a contabiliza-
ção e evidenciação dos eventos econômicos e, se possível, atender a quatro objetivos fundamentais,
dispostos no Quadro 2.
Quadro 2 – Objetivos fundamentais do plano de contas

Conceder informações bem estruturadas e claras aos usuários dos relatórios contábeis, no intuito de possibilitar o
uso racional e efetivo destas.

Apresentar uma estrutura condizente com o que a legislação contábil preconiza acerca das Demonstrações
Contábeis, atendendo ao disposto na Lei n. 6.404/1976 (Lei das Sociedades por Ações) e na Lei n. 10.406/2002
(Código Civil).

Adaptar-se às determinações de agentes externos, facilitando a consolidação das Demonstrações Contábeis e com-
patibilizando-se, se possível, com os preceitos da legislação do Imposto de Renda.

Facilitar a integração do sistema contábil às demais áreas operacionais da entidade, como financeiro, recursos huma-
nos, produção e outros. Nesse caso, o registro contábil será feito nas áreas geradoras dos eventos, proporcionando
rapidez e integridade no reconhecimento dos fatos contábeis.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Ao se projetar e implementar um plano de contas, a entidade deve considerar os vários


tipos de usuários da contabilidade (externos e internos) e visar a criação e disponibilização de
relatórios contábeis e gerenciais, evitando a dupla entrada de dados conforme o tipo de relatório
que se deseja.
Percebe-se que um plano de contas adequadamente estruturado é garantia de informações e
relatórios com grande possibilidade de cumprir suas finalidades informacionais. Assim, o plano de
contas deve conter as seguintes características:
• ser uma matriz destinada a orientar a execução de serviços contábeis, visando à padroni-
zação de procedimentos e à racionalização de tarefas;
• estabelecer previamente a conduta a ser adotada na escrituração;
• relacionar as contas em que são registrados os fatos contábeis pertinentes às atividades de cada
empresa, contendo, além dos títulos, as respectivas funções e as regras de funcionamento;
Contabilidade: aspectos introdutórios 19

• ser estruturado por agrupamento das contas, para que se possam realizar análises seto-
riais e para que seja flexível no intuito de permitir dilatações e reduções sem prejuízo
do conjunto.

No manual de procedimentos contábeis deve constar para cada conta contábil sintética ou
analítica sua função e respectivo funcionamento, como no exemplo a seguir:

Conta: 1.1.1.1 – Caixa


Função: registrar a movimentação de dinheiro na empresa.
Funcionamento: debita-se pelas entradas (recebimentos) e credita-se
pelas saídas (pagamentos e outros eventos que demandem retiradas de
numerários da empresa).

O manual poderá acompanhar o plano de contas para que os profissionais responsáveis pela
contabilidade consigam gerenciar o plano de contas de maneira padronizada e segura.

Atividades
1. Indique uma diferença entre a contabilidade tributária e a contabilidade financeira tradicional.

2. Qual é a importância do plano de contas para o sistema contábil?

3. Em relação ao plano de contas, pode-se afirmar que:

a) As contas sintéticas são códigos alfanuméricos que servem para recepcionar os valores
objetos dos lançamentos contábeis.
b) As contas analíticas são códigos que servem para acumulação de valores relativos a obje-
tos de natureza semelhante.
c) O agrupamento de contas deve ser feito de maneira a permitir análises gerenciais de fácil
visualização por parte dos usuários.
d) Em um sistema contábil descentralizado, as áreas responsáveis pelos lançamentos devem
também ter a possibilidade de fazer alterações nas contas contábeis.

Referências
ANTHONY, R. N. Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas, 1974.

ATKINSON, R. et al. Contabilidade gerencial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17
dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.
20 Contabilidade

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.
htm. Acesso em: 24 out. 2018.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11
jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 24 out. 2018.

FESS, P. E.; WARREN, C. S.; REEVE, J. M. Contabilidade gerencial. São Paulo: Pioneira, 2001.

HORNGREN, C. T. Introdução à contabilidade gerencial. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

JIAMBALVO, J. Contabilidade gerencial. Rio de Janeiro: LTC, 2002.

KAPLAN, R. S.; JOHNSON, H. T. A relevância da contabilidade de custos. 2. ed. São Paulo: Campus, 1987.

LI, D. H. Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas, 1977.

PADOVEZE, C. L. Contabilidade gerencial e a função de criação de valor. In: PADOVEZE, C. L. Contabilidade


gerencial. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2010a.

PADOVEZE, C. L. Contabilidade gerencial: um enfoque em Sistema de Informação Contábil. São Paulo:


Atlas, 2010b.

RICARDINO, A. Contabilidade gerencial e contabilidade societária: origens e desenvolvimento. São Paulo:


Saraiva, 2005.

SÁ, A. L. Plano de contas. São Paulo: Atlas, 2004.


2
Estrutura conceitual básica
da contabilidade brasileira

Como se observa na prática, a contabilidade no Brasil é fortemente regulada, seja por


leis específicas – Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), que dispõe sobre as sociedades por ações, e
Lei n. 10.406/2002 (BRASIL, 2002), que institui o Código Civil –, seja por normas procedentes
dos órgãos reguladores, que serão estudadas adiante. Mais precisamente a partir do ano de 2005, o
Brasil optou por aderir às regras internacionais de contabilidade, denominadas IFRS – International
Financial Reporting Standards1.

2.1 Normas contábeis


Essa nova estrutura conceitual da contabilidade brasileira tem início com a criação do
Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) por meio da Resolução n. 1.055/2005 (BRASIL,
2005) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). O CPC tem total independência em suas
deliberações – pronunciamentos técnicos, interpretações e orientações –, embora receba suporte
material do CFC.
A Resolução expressa a crescente internacionalização das normas contábeis, evidenciada no
fato de muitos países estarem a caminho de uma convergência a elas. Esta convergência entende
que o CFC geraria, entre outros benefícios, a redução dos riscos dos empreendimentos e o bara-
teamento dos custos de captação de recursos via empréstimos e financiamentos, além da melho-
ria na comunicação contábil entre países por meio de uma linguagem contábil mais homogênea
(BRASIL, 2005). Pelos motivos expostos, e por outros que se destacam no documento, institui-se o
Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), composto inicialmente pelas seguintes entidades:
a) ABRASCA – Associação Brasileira das Companhias Abertas;
b) APIMEC NACIONAL – Associação dos Analistas e Profissionais de
Investimento do Mercado de Capitais;
c) BM&F BOVESPA – Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros;
d) CFC – Conselho Federal de Contabilidade;
e) IBRACON – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil;
f ) FIPECAFI – Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e
Financeiras. (BRASIL, 2005)

O objetivo e a atribuição do Comitê estão definidos nos arts. 3º e 4º da Resolução, assim dispostos:
Art. 3º – O Comitê de Pronunciamentos Contábeis – (CPC) tem por objetivo
o estudo, o preparo e a emissão de pronunciamentos técnicos sobre procedi-
mentos de contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para

1 Normas Internacionais de Relatórios Financeiros.


22 Contabilidade

permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à


centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre
em conta a convergência da contabilidade brasileira aos padrões internacionais.
Art. 4º – É atribuição do Comitê de Pronunciamentos Contábeis – (CPC) –
estudar, pesquisar, discutir, elaborar e deliberar sobre o conteúdo e a redação
de Pronunciamentos Técnicos. (BRASIL, 2005)

Com a criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, inúmeros pronunciamentos téc-


nicos são editados sempre com a finalidade de estabelecer a convergência da estrutura contábil
brasileira com as melhores regras internacionais de contabilidade.
Já por meio da Resolução n. 1.374/2011 (BRASIL, 2011) foi revisada a Norma Brasileira
de Contabilidade, que trata da estrutura conceitual para a elaboração e divulgação do relatório
contábil-financeiro. Segundo a norma, as demonstrações contábeis elaboradas de acordo com as
regras da estrutura conceitual satisfazem as necessidades comuns da maioria dos usuários. Isso
porque a maioria dos usuários utiliza as demonstrações contábeis para tomar decisões econômi-
cas, dentre as quais:
a) decidir quando comprar, manter ou vender instrumentos patrimoniais;
b) avaliar a administração da entidade quanto à responsabilidade que lhe tenha sido
conferida e quanto à qualidade de seu desempenho e de sua prestação de contas;
c) avaliar a capacidade de a entidade pagar seus empregados e proporcionar-
-lhes outros benefícios;
d) avaliar a segurança quanto à recuperação dos recursos financeiros empres-
tados à entidade;
e) determinar políticas tributárias;
f) determinar a distribuição de lucros e dividendos;
g) elaborar e usar estatísticas da renda nacional; ou
h) regulamentar as atividades das entidades. (BRASIL, 2011)

Em seu teor, a estrutura conceitual estabelece os conceitos que fundamentam a geração e


disponibilização de demonstrações contábeis destinadas a usuários externos, com a finalidade de:
a) dar suporte ao desenvolvimento de novas normas, interpretações e comuni-
cados técnicos e à revisão dos já existentes, quando necessário;
b) dar suporte à promoção da harmonização das regulações, das normas contá-
beis e dos procedimentos relacionados à apresentação das demonstrações con-
tábeis, provendo uma base para a redução do número de tratamentos contábeis
alternativos permitidos pelas normas, interpretações e comunicados técnicos;
c) dar suporte aos órgãos reguladores nacionais;
d) auxiliar os responsáveis pela elaboração das demonstrações contábeis na
aplicação das normas, interpretações e comunicados técnicos e no tratamento
de assuntos que ainda não tenham sido objeto desses documentos;
e) auxiliar os auditores independentes a formar sua opinião sobre a conformi-
dade das demonstrações contábeis com as normas, interpretações e comuni-
cados técnicos;
f) auxiliar os usuários das demonstrações contábeis na interpretação de infor-
mações nelas contidas, elaboradas em conformidade com as normas, interpre-
tações e comunicados técnicos; e
Estrutura conceitual básica da contabilidade brasileira 23

g) proporcionar aos interessados informações sobre o enfoque adotado


na formulação das normas, das interpretações e dos comunicados técnicos.
(BRASIL, 2011)

A estrutura conceitual, na verdade, constitui um documento técnico de orientação e fun-


damentação de aspectos contábeis relevantes a serem observados pelos contadores na execução
da contabilidade e na divulgação das demonstrações contábeis. Nessa estrutura conceitual, os
usuários são destacados como investidores, empregados, credores por empréstimos, fornecedores,
clientes, governos e público em geral.
Outro documento, identificado como CPC 00 ou Pronunciamento Conceitual Básico
(CPC, 2013), fornece as bases necessárias para a emissão dos demais pronunciamentos e dá iní-
cio ao processo de convergência brasileira às regras internacionais de contabilidade. Segundo esse
documento:
O objetivo da elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro de pro-
pósito geral constitui o pilar da estrutura conceitual. Outros aspectos da estru-
tura conceitual – como o conceito de entidade que reporta a informação, as
características qualitativas da informação contábil-financeira útil e suas restri-
ções, os elementos das demonstrações contábeis, o reconhecimento, a mensura-
ção, a apresentação e a evidenciação – fluem logicamente desse objetivo. (CPC,
2013, p. 21)

2.2 Informações contábeis


Um dos aspectos mais importantes do CPC 00 é o destaque às qualidades da informação
contábil, evidenciando as características que devem qualificar a informação para que esta tenha
o potencial de cumprir com sua finalidade, ou seja, servir de conteúdo para balizar as decisões
dos usuários.
Ao tratar das características da informação contábil, o pronunciamento ressalta a impor-
tância do usuário dessas informações, destinatário final dos relatórios contábeis e gerenciais que
os utilizará em suas decisões econômicas. Como elemento determinante na análise e no uso da
informação, o usuário deve ter condições de compreendê-la, isto é, a característica da compreen-
sibilidade é fundamental.
No entanto, o primeiro aspecto a ser considerado na elaboração do relatório contábil é a
relação do custo/benefício relacionado ao uso das informações, pois se estas não promoverem um
benefício econômico (fruto de seu uso pelo gestor) que seja superior ao seu custo de elaboração e
divulgação, não devem ser produzidas. Neste caso (relação custo/benefício desfavorável), é prová-
vel que o usuário tome sua decisão utilizando outras informações já disponíveis e menos onerosas.

2.3 Análise das características da informação contábil


Já destacada anteriormente, a compreensibilidade é a possibilidade de o usuário entender a
informação contábil disponibilizada, no intuito de melhor utilizá-la no processo decisório. Uma
informação não compreensível pode induzir a decisões equivocadas e perdas financeiras.
24 Contabilidade

As dificuldades em sua compreensão, portanto, seu uso inadequado ou até mesmo não uso,
podem derivar de três situações: a) relatório confuso ou informação muito complexa e técnica; b)
usuário sem o preparo técnico/conceitual necessário ou; c) excesso de termos técnicos utilizados
pelo emissor da informação. Nos três casos, os problemas poderão ser solucionados por meio de
um diálogo da contabilidade com as áreas operacionais usuárias da informação.
A informação compreensível permite seu uso nas decisões gerenciais. No entanto, é neces-
sário que se analise sua utilidade como elemento de redução de incertezas. Para isso, devem ser
verificados dois aspectos essenciais: sua relevância e sua confiabilidade.
A tempestividade, abordada no Capítulo 1, é relevante para a decisão, uma vez que a in-
formação deve ser disponibilizada no tempo adequado para sua utilização. O gestor precisa da
informação no momento em que vai decidir, não antes (pois pode estar desatualizada), tampouco
depois da decisão (por absoluta irrelevância).
A confiabilidade é um atributo de importância vital para a qualidade da informação, pois
o gestor dever ter confiança no relatório que irá utilizar em sua decisão. É outro atributo que
determina se a informação pode ser rastreada (origem) e testada (critérios para sua formação).
Outras características, como a fidedignidade de representação – cujo enunciado expressa
que os valores monetários que representam os eventos e objetos na contabilidade devem ser os
mais verdadeiros possíveis – e a neutralidade – característica que privilegia a informação isenta
de qualquer manipulação – também são qualidades fundamentais para que a informação contábil
possa cumprir com seu objetivo: a redução da incerteza nas decisões econômicas e, consequente-
mente, a geração de valor para os negócios.
Em 23 de setembro de 2016, foi publicada a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC
TSP Estrutura Conceitual – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Informação
Contábil de Propósito Geral pelas Entidades do Setor Público), revogando a Resolução n. 750/1993
(BRASIL, 1993) que consolidava os princípios da contabilidade, tornando a Resolução
n. 1.374/2011 (BRASIL, 2011) como documento único que representa a estrutura conceitual da
contabilidade brasileira. Porém, é importante destacar que a revogação da Resolução não significa
a revogação dos princípios, pois seus conteúdos continuam a existir, embora não necessariamente
com as mesmas nomenclaturas.
Dessa forma, não podemos deixar de estudá-los e considerá-los ao executarmos os registros,
mensurações e divulgações das informações contábeis.

2.3.1 Princípio da entidade


O patrimônio, a teor do princípio da entidade, é reconhecido como objeto da contabilidade.
Afirma-se, assim, a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um patrimônio par-
ticular em um universo de patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa,
um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou
sem fins lucrativos.
Estrutura conceitual básica da contabilidade brasileira 25

O princípio tem como axioma que o patrimônio da entidade não se confunda com aquele
dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição, determinando-se pelo seu
enunciado a clara distinção entre o que pertence à entidade e o que pertence às pessoas, físicas ou
jurídicas, que são seus sócios e acionistas.
Quando não se distingue claramente o que pertence à entidade e o que é do sócio, podem
surgir contingências fiscais, como no caso de se considerar como despesa um recurso consumido
exclusivamente pelo sócio.

2.3.2 Princípio da continuidade


O princípio da continuidade pressupõe que a entidade continuará em operação no futuro,
por isso, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta essa
circunstância. As empresas são criadas com a intenção de operar indefinidamente e essa pre-
missa deve ser observada no registro e na avaliação das mutações patrimoniais, alterando esse
princípio apenas caso surjam fortes evidências de descontinuidade. A regra é a perenidade dos
negócios, essa premissa que determina os critérios para reconhecimento e avaliação de Ativos e
Passivos pela entidade.

2.3.3 Princípio da oportunidade


O registro das operações deve ser efetuado no tempo certo e com a extensão correta. Assim,
existindo apenas razoável possibilidade de ocorrer um evento, este deve ser considerado, por exem-
plo, nas provisões constituídas, quando um evento econômico está se potencializando.
O princípio da oportunidade refere-se ao processo de mensuração e apresentação dos
componentes patrimoniais e objetiva produzir informações íntegras e tempestivas. A falta de
integridade e tempestividade na produção e na divulgação da informação contábil pode ocasio-
nar perda de sua relevância, por isso é necessário ponderar a relação entre a oportunidade e a
confiabilidade da informação.

2.3.4 Princípio do registro pelo valor original


Inicialmente, os Ativos e Passivos devem ser contabilizados pelos valores originais que re-
presentam as quantidades de moedas dos eventos. Porém, na permanência desses elementos como
componentes de um determinado patrimônio, outros critérios de mensuração devem ser cuida-
dosamente estudados para se estabelecer os melhores parâmetros de atribuição de valores a esses
objetos ou eventos.
Os componentes do patrimônio devem ser registrados pelos valores originais das transações,
expressos a valor presente na moeda do país. Por exemplo, a regra como base para avaliação dos
Ativos é o seu valor de custo ou de mercado (o que for menor). Entretanto, poderão ser utilizados
outros critérios na mensuração quando há permanência destes no patrimônio, como custo corrente,
valor de realização líquida, valor justo e outros, a depender do caso.
26 Contabilidade

2.3.5 Princípio da competência


As receitas e despesas devem ser incluídas no resultado do período em que ocorreram, e não
quando efetivamente foram recebidas ou pagas. O resultado (lucro ou prejuízo) de um exercício
deve corresponder ao confronto das receitas e despesas geradas naquele exercício. Assim, os efeitos
das transações e outros eventos são reconhecidos nos períodos a que se referem, independente-
mente do recebimento ou pagamento efetivo.
O princípio da competência, que se contrapõe ao regime de caixa, pressupõe a simultanei-
dade da confrontação de receitas e despesas que sejam correlatas. Szuster et al. (2013) afirmam que
os fatos contábeis devem ser reconhecidos quando ocorridos os eventos econômicos, independen-
temente dos seus efeitos financeiros.
Esse princípio exige que se estabeleça claramente quando a receita é considerada realizada.
Nesse sentido, considera-se que houve a realização efetiva da receita quando, tornando-se passível
de registro pela contabilidade, os produtos ou serviços produzidos ou prestados pela entidade são
transferidos para outra entidade ou pessoa física, com a anuência destas, e mediante pagamento ou
compromisso de pagamento. Ou seja, é a transferência de propriedade ou a execução do serviço
que comumente determina a obrigatoriedade do reconhecimento contábil da receita.
Em relação às despesas e aos custos, eles devem ser adequadamente confrontados com as re-
ceitas para que o lucro possa ser mensurado e reconhecido no momento econômico de sua geração.
Nesse caso, toda despesa diretamente delineável deve ser confrontada com as receitas reconhecidas
em determinado período.
Os consumos ou sacrifícios de Ativos (atuais ou futuros) realizados em determinado pe-
ríodo – e que não puderam ser associados à receita do período atual nem às receitas dos períodos
futuros – deverão ser descarregados como despesa do período em que ocorreram.

2.3.6 Princípio da prudência ou conservadorismo


Esse princípio determina a adoção do menor valor para o Ativo e o maior valor para o
Passivo sempre que as alternativas para a quantificação das mutações patrimoniais se apresentem
de maneira igualmente válida.
A contabilidade deve se pautar pela escolha de critérios de mensuração de Ativos e Passivos
que resultem no menor valor para os Ativos e Receitas e o maior valor para os Passivos e Despesas,
sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas de atribuição de valores diferentes a um
elemento do Ativo ou do Passivo.
O conservadorismo ou cautela são recomendados para se evitar que as informações evi-
denciadas nos relatórios contábeis criem falsas expectativas no mercado, induzindo pessoas a efe-
tuarem transações com a empresa baseadas em eventos que tenham riscos potenciais de não se
realizar da forma como foram divulgados. Todas as expectativas de perdas de Ativos devem ser
reconhecidas e os seus riscos mensurados. A empresa pode experimentar perdas nos estoques, nos
clientes, nos Ativos financeiros etc. e essas perdas potenciais devem ser contabilizadas.
A prudência também deve ser aplicada ao julgamento de Passivos que estejam surgindo,
embora não exista naquele momento uma obrigação líquida e certeira com terceiros. As provisões
Estrutura conceitual básica da contabilidade brasileira 27

para contingências fiscais, trabalhistas e ambientais são exemplos de Passivos que estão se poten-
cializando e devem ser reconhecidos contabilmente.
A contabilização de uma provável perda no Ativo é efetuada tendo como contrapartida uma
conta de despesa ou ajuste na Receita. São exemplos as perdas prováveis com o não recebimento de
créditos dos clientes. A contabilização de uma provável obrigação no Passivo deve ser reconhecida
tendo como contrapartida uma conta de despesa, como nos casos de provisão para indenizações
trabalhistas em ações movidas contra a empresa.

Atividades
1. O princípio da competência está ligado, de alguma maneira, ao princípio da oportunidade?
Explique.

2. É correto afirmar, seguindo o princípio da competência, que as receitas e despesas devem


ser incluídas na apuração do resultado do período em que ingressarem no fluxo de caixa?
Explique.

3. O contador deverá, sempre, avaliar a influência e a materialidade da informação evidenciada


ou negada para o usuário? Explique.

Referências
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17
dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 750, de 29 de dezembro de 1993. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 31 dez. 1993. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_750.pdf.
Acesso em: 25 out. 2018.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 11 jan.
2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 24 out. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.055, de 7 de outubro de 2005. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 24 out. 2005. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1055.pdf.
Acesso em: 25 out. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.374, de 8 de dezembro de 2011. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 16 dez. 2011. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1374.pdf.
Acesso em: 25 out. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 2016/NBCTSPEC, de 04 de outubro de 2016.


Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 out. 2016. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/
NBCTSPEC.pdf. Acesso em: 25 out. 2018.

CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamentos Técnicos Contábeis 2012. Brasília:


Conselho Federal de Contabilidade, 2013. Disponível em: http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/
uploads/2013/06/cpc_pronunciamentos_2012_web.pdf. Acesso em: 25 out. 2018.

SZUSTER, N. et al. Contabilidade geral: introdução à contabilidade societária. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
3
Escrituração contábil e contas retificadoras
do Ativo e do Passivo

A escrituração é a técnica contábil utilizada para registrar os eventos econômicos ocorridos


em determinada data que sejam relevantes para efeito contábil. Essa relevância diz respeito à in-
fluência ou não que o evento causa no patrimônio ou resultado da entidade.
Os fatos contábeis classificam-se em permutativos, modificativos ou mistos. Os fatos per-
mutativos são aqueles que não alteram o valor do Patrimônio Líquido da entidade, apenas permu-
tam (trocam) valores em uma operação envolvendo elementos patrimoniais (Ativos e Passivos).
Por exemplo, em uma compra a prazo, a empresa adquire estoques (aumenta seu Ativo) porém,
no mesmo instante, assume uma dívida com seu fornecedor (aumenta seu Passivo). Nesse caso, o
valor do Patrimônio Líquido (riqueza líquida) não é alterado.
Os fatos contábeis modificativos são aqueles que modificam diretamente o valor líquido
contábil da entidade, pois representam um ingresso de recursos via geração de uma receita ou uma
saída de recursos por incorrência de uma despesa. O recebimento de uma receita de aluguel é um
exemplo desse tipo de fato contábil, pois nesse caso tem-se uma receita sendo gerada e contabiliza-
da (aumentando diretamente o Patrimônio Líquido) com a respectiva contabilização da entrada de
recursos no disponível. O pagamento de uma despesa de alimentação em dinheiro é outro exemplo
de fato contábil modificativo, pois afeta diretamente a riqueza líquida da empresa (Patrimônio
Líquido), diminuindo-a com a concomitante saída de numerário do disponível.
Os fatos mistos tanto podem ser aumentativos quanto diminutivos. São fatos que simultanea-
mente provocam uma permuta (fato contábil permutativo) e uma modificação (fato contábil modifi-
cativo) na situação líquida. Combinam, portanto, fatos permutativos e modificativos, determinando
a variação qualitativa e quantitativa do patrimônio ou variação patrimonial mista. É exemplo dessa
questão o pagamento de uma dívida com juros, pois há uma redução em conta do Passivo – pela
baixa da obrigação quitada –, uma redução em conta do Ativo – pela saída de recursos do disponível –
e uma redução no Patrimônio Líquido – pelo reconhecimento de uma despesa financeira, como
uma despesa com juros sobre duplicatas. Nesse caso, houve uma permuta (valores do Ativo e do
Passivo), porém a troca gerou uma perda (pelo pagamento da despesa financeira), combinando dois
fatos: o permutativo e o modificativo.
Outro exemplo, agora com reflexo positivo no Resultado e no Patrimônio Líquido, é o
recebimento com juros de uma duplicata de um cliente que a quitou com atraso. Há, portanto, uma
permuta de valores de Ativos (baixa de um direito a realizar e entrada concomitante de um valor no
disponível). Entretanto, nesse caso há um aumento na riqueza líquida da companhia, pois houve
um ganho na troca dos Ativos pelo reconhecimento de uma receita de juros sobre duplicatas.
30 Contabilidade

São esses fatos os objetos dos lançamentos contábeis ou da escrituração contábil, que é o
registro dos eventos nas contas contábeis. Graficamente, pode-se representar o fluxo contábil da
seguinte maneira:
Figura 1 – Fluxo de informações contábeis

Relatórios contábeis
Fatos contábeis Lançamento ou
Informações para
Dados escrituração contábil
tomada de decisões

Processo que implica Processo de escrituração


Eventos que influenciam registro (entrada) dos valores contábil deve resultar em rela-
o patrimônio da entidade. relativos aos eventos nas tórios que permitam ao usuá-
Compra, venda, obtenção de respectivas contas contábeis, rio um entendimento preciso
empréstimos, pagamentos etc. por meio do mecanismo da situação da
de débito e crédito empresa analisada

Fonte: Elaborada pelo autor.

3.1 Obrigatoriedade da escrituração contábil


A escrituração contábil, não obstante ser uma necessidade indiscutível para efeito de con-
trole administrativo, contábil e gerencial de um patrimônio, é uma obrigação legal. Diversas le-
gislações tratam dessa técnica e tornam-na obrigatória, dada sua importância para o empresário,
para o governo, para os investidores e para outros interessados no acompanhamento da situação
econômica da entidade. Sem o registro contábil não seria possível disponibilizar relatórios contá-
beis como o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado, o Fluxo de Caixa, entre outros.

3.1.1 Legislação societária


A Lei n. 10.406/2002 (BRASIL, 2002) institui o Código Civil e, com o art. 1.179, dispõe ex-
pressamente sobre a obrigatoriedade da escrituração contábil para o empresário e para a sociedade
empresária nos seguintes termos:
O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de
contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus
livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anual-
mente o Balanço Patrimonial e o de resultado econômico.
[...]
§2º É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se
refere o art. 9701. (BRASIL, 2002)

Cabe à técnica de escrituração contábil registrar toda a movimentação financeira, inclu-


sive bancária, em dois livros contábeis principais: o livro diário e o livro razão. No livro diário
registram-se, em ordem cronológica de dia, mês e ano, todas as movimentações diárias relativas

1 Assegura-se tratamento diferenciado para o empresário rural e para o pequeno empresário.


Escrituração contábil e contas retificadoras do Ativo e do Passivo 31

aos pagamentos, recebimentos, receitas, despesas e outros fatos contábeis. No livro razão esses
fenômenos aparecem por contas contábeis. Após os lançamentos contábeis, os eventos podem ser
visualizados por meio de datas (utilizando-se do livro diário) e de contas contábeis (via livro razão
de contas).
A Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), em seu capítulo XV, determina que ao fim de cada
exercício social a empresa deve elaborar as demonstrações financeiras com base na escrituração
contábil. O art. 177 da mesma Lei estabelece que a escrituração contábil deve ser mantida em
registros permanentes, em obediência aos preceitos da legislação empresarial e aos princípios da
contabilidade, devendo-se seguir métodos ou critérios contábeis uniformes e registrar mutações
do patrimônio segundo o regime de competência.

3.1.2 Lei de recuperação judicial, extrajudicial e falências


Outra legislação que torna obrigatória a escrituração contábil é aquela relativa à recupera-
ção judicial, extrajudicial e falência do empresário e da sociedade empresária (Lei n. 11.101/2005).
Nela, é determinado que, para as entidades utilizarem esse instituto legal de recuperação econômi-
ca, devem formalizar o pedido acrescentando as demonstrações financeiras e outros documentos
contábeis, previstos em seu art. 51 (BRASIL, 2005).

3.1.3 Legislação tributária


A escrituração contábil também é fundamental para a legislação tributária, pois é por meio
dela que o governo, nos âmbitos municipal, estadual e federal, certifica-se de que a empresa está
cumprindo suas obrigações fiscais.
Embora exista um tratamento diferenciado, favorecido e simplificado às microempresas e
empresas de pequeno porte, no âmbito da Lei Complementar n. 123/2006 (BRASIL, 2006) – que
permite às empresas enquadradas nessas categorias a utilização de outros registros, que não obriga-
toriamente o contábil – não se pode desprezar o fato de que a melhor prova e o controle dos eventos
tributários é, sem dúvida, o registro contábil e seus respectivos relatórios contábeis.

3.1.4 Legislação profissional


O Conselho Federal de Contabilidade (CFC), por meio da Resolução n. 1.330/2011, aprovou
a interpretação técnica ITG 2000 – Escrituração Contábil –, dispondo sobre os “critérios e procedi-
mentos a serem adotados pela entidade para a escrituração contábil de seus fatos patrimoniais, por
meio de qualquer processo, bem como a guarda e a manutenção da documentação e de arquivos
contábeis e a responsabilidade do profissional da contabilidade” (BRASIL, 2011).
Essa norma deve ser adotada na elaboração da escrituração contábil de todas as entidades,
observando ainda as exigências da legislação e de outras normas aplicáveis. Segundo a ITG 2000,
a escrituração será executada:
a) em idioma e em moeda corrente nacionais;
b) em forma contábil;
32 Contabilidade

c) em ordem cronológica de dia, mês e ano;


d) com ausência de espaços em branco, entrelinhas, borrões, rasuras ou emen-
das; e
e) com base em documentos de origem externa ou interna ou, na sua falta, em
elementos que comprovem ou evidenciem fatos contábeis. (BRASIL, 2011)

Dispõe ainda que a escrituração deve observar o princípio da competência e deve conter um
nível de detalhamento que atenda às necessidades de informações dos usuários da contabilidade.
A forma contábil deve conter alguns requisitos mínimos:
a) data do registro contábil, ou seja, a data em que o fato contábil ocorreu;
b) conta devedora;
c) conta credora;
d) histórico que represente a essência econômica da transação ou o código de
histórico padronizado, neste caso baseado em tabela auxiliar inclusa em livro
próprio;
e) valor do registro contábil;
f) informação que permita identificar, de forma unívoca, todos os registros que
integram um mesmo lançamento contábil. (BRASIL, 2011)

Uma adequada e regular escrituração contábil assegura, entre outras vantagens, melhor
controle financeiro e gerencial do patrimônio e do resultado (lucro ou prejuízo) da entidade.
Presta-se como prova das atividades do empresário e da sociedade empresária, assim como em
eventuais discussões judiciais (trabalhistas, previdenciárias, tributárias etc.), e permite ainda aos
interessados naquele patrimônio a verificação e o acompanhamento de seu desempenho, facili-
tando a inserção da empresa no mercado de capitais e na obtenção de linhas de financiamentos,
além de outros benefícios.

3.2 Técnica de escrituração


A técnica de escrituração utiliza-se dos lançamentos contábeis para registro das operações,
cujo método utilizado é o método das partidas dobradas.

Partida = Lançamento
Dobrada = Duplicidade

O método prevê que para todo débito haverá sempre um crédito e vice-versa. Esse método,
desenvolvido pelo Frei Luca Pacioli, em 1494, estabelece que cada débito em uma ou mais contas
contábeis corresponde a créditos em uma ou mais contas. Graficamente, o roteiro da escrituração
pode ser visualizado da seguinte maneira:
Escrituração contábil e contas retificadoras do Ativo e do Passivo 33

Figura 2 – Roteiro de escrituração contábil

Evento econômico/contábil

Definição das contas. Conta(s) a débito Conta(s) a crédito

Reflexo nos livros


Diário e Razão
contábeis

Balanço Patrimonial
Evidenciação dos Demonstração do Resultado
valores nos Demonstração do Fluxo de Caixa
relatórios contábeis Demonstração das Mutações do
Patrimômio Líquido
Demonstração do Valor Adicionado

Fonte: Elaborada pelo autor.

A primeira etapa do trabalho de escrituração é a definição das contas contábeis que serão
utilizadas. Após a escolha das contas, deve-se proceder ao lançamento em cada uma delas, confor-
me tenham de ser creditadas ou debitadas.
É importante saber o saldo normal com que se apresenta cada conta contábil – o qual será
devedor ou credor a depender da conta – usualmente representam um bem, um direito, uma obri-
gação, uma receita ou uma despesa.
Os Ativos, que são representados pelos bens e direitos, são as aplicações de recursos efetua-
das pelas entidades, cujos benefícios esperados relacionam-se com a obtenção de resultados posi-
tivos (lucro), têm saldo devedor porque ali estão os devedores daquele patrimônio, com os quais a
empresa tem créditos.
O Passivo (incluindo o Patrimônio Líquido) tem saldo credor, pois contempla os credores
da entidade com os quais a empresa tem débitos (dívida). O Passivo representa o valor das obri-
gações da entidade – tanto de curto quanto de longo prazo – com os financiadores do patrimônio.
Conceitua-se o Passivo também como as origens ou fontes de recursos, que tanto podem ser ori-
ginados de terceiros (fornecedores, bancos e governo) quanto podem ter como fonte os sócios e
acionistas, também denominado de capital próprio.
As Receitas têm saldo credor porque concorrem para o aumento do Patrimônio Líquido, ao
passo que as Despesas têm saldo devedor, pois diminuem o Patrimônio Líquido.
O método das partidas dobradas expressa a ideia de que, ao se movimentar um recurso, a
operação irá envolver sempre uma origem e uma aplicação deste recurso. Por exemplo, a compra
de um estoque a prazo tem a aplicação de um recurso no Ativo (estoque), em contrapartida ela
tem uma fonte de financiamento (origem) desse recurso junto ao fornecedor, pelo prazo que este
concede à empresa. O lançamento de partida será um débito na conta estoques e a contrapartida
será representada por um crédito na conta fornecedores do Passivo.
34 Contabilidade

Decorrente dessa concepção (cada um ou mais débitos em uma ou mais contas contábeis
corresponderão a um ou mais créditos em uma ou mais contas contábeis), extrai-se a lógica
da igualdade do Ativo e do Passivo, ou seja, os saldos credores serão sempre iguais aos saldos
devedores. Para reforçar essa ideia, pode-se raciocinar que nas transações econômicas não existe
devedor sem um respectivo credor.
Para facilitar a exposição, a Figura 3 apresenta os seguintes conceitos:
Figura 3 – Escrituração contábil

Conta Grupo a que Saldo normal Reflexo da


Evento
Contábil pertence da conta operação

Compra, venda, Ativo, Passivo, Ativo e despesas = Saldo


Caixa, estoques,
pagamento, receitas, Devedor – aumentam pelos débi-
fornecedores
recebimento despesas tos, diminuem pelos créditos
Passivo e receitas = Saldo
Credor – aumentam pelos créditos,
Ativo e despesas = Saldo devedor diminuem pelos débitos
Passivo e receitas = Saldo credor

Fonte: Elaborada pelo autor.

3.3 Contas retificadoras do Ativo e do Passivo


As contas retificadoras ou redutoras representam fatos que causaram ou poderão causar re-
duções nos valores de alguns elementos do grupo a que pertencem dentro do Balanço Patrimonial.
As contas retificadoras do Ativo comumente são representativas de provisões que expressam
possíveis perdas em valores de bens e direitos. Sabe-se que o Ativo possui saldo devedor, portanto,
suas contas retificadoras são de natureza credora, pois são contas que ajustam ou retificam elemen-
tos do Ativo.
Nesses casos, as contas representativas de objetos das retificações apresentam no Balanço
Patrimonial o saldo pelo valor líquido, ou seja, o valor nominal da conta reduzido do respectivo
ajuste. Quanto às provisões para ajustes em valores do Ativo, pode-se representar graficamente
acerca da necessidade de sua constituição:
Figura 4 – Provisões para ajuste em valores do Ativo

Valor Contábil – VC

Sim Valor líquido de realização é Não


maior que o VC

Não há perda Mensurar o


montante da perda
e contabilizar

Fonte: Elaborada pelo autor.


Escrituração contábil e contas retificadoras do Ativo e do Passivo 35

3.3.1 Contas retificadoras ativas


3.3.1.1 Provisão para créditos de liquidação duvidosa
Quando as empresas vendem a prazo, não raras vezes deparam-se com créditos a receber
que não são efetivados nos prazos contratados com os clientes. O risco de não recebimento dos
créditos com clientes ou mesmo de atrasos no recebimento desses valores é intrínseco aos negócios
em qualquer atividade econômica. Os créditos a receber devem ser avaliados pelo seu valor líquido
de realização, isto é, o valor que se espera obter em moeda.
A provisão para créditos de liquidação duvidosa tem a finalidade de ajustar as contas a
receber (créditos) para seu provável valor de realização, tendo como contrapartida uma despesa
(comercial) no resultado. A contabilidade precisa estar sempre atenta à avaliação da carteira de
recebíveis da empresa e, sempre em conjunto com o setor de cobrança, deve proceder mensalmente
com uma análise dos riscos de perdas desses créditos e executar a respectiva provisão.
Tabela 1 – Contabilização na constituição da provisão

Contas contábeis Débito Crédito


Despesa com provisão para créditos de liquidação duvido-
R$ 1.000,00 –
sa – Resultado
Provisão para créditos de liquidação duvidosa – Redutora
– R$ 1.000,00
de contas a receber – AC
Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 2 – Contabilização do reconhecimento da perda efetiva, supondo uma perda no valor de R$ 100,00.

Contas contábeis Débito Crédito


Provisão para créditos de liquidação duvidosa – redutora
R$ 100,00 –
de contas a receber – AC
Contas a receber – AC – R$ 100,00
Fonte: Elaborada pelo autor.

3.3.1.2 Provisão para ajuste do estoque ao valor de mercado


Os estoques são Ativos de grande representatividade nas empresas comerciais e industriais.
Uma provisão deverá ser constituída quando o custo de aquisição ou produção dos bens constantes
no Balanço for menor que o seu valor de mercado. Esse ajuste ao valor de mercado se justifica pela
observância dos princípios registro pelo valor original e prudência, e essa provisão será classificada
como redutora das contas de estoques.
Outro fundamento para essa provisão é o fato de que nenhum Ativo deve ser registrado e
mantido no patrimônio por um valor que exceda o seu respectivo valor de recuperação, a teor da
Norma Brasileira de Contabilidade – NBC TG 01 – Redução ao Valor Recuperável de Ativos:
Um Ativo está registrado contabilmente por valor que excede seu valor de re-
cuperação se o seu valor contábil exceder o montante a ser recuperado pelo uso
ou pela venda do Ativo. Se esse for o caso, o Ativo é caracterizado como sujeito
ao reconhecimento de perdas, e a Norma requer que a entidade reconheça um
ajuste para perdas por desvalorização. (BRASIL, 2010)
36 Contabilidade

Para constituir a provisão, é necessário que os itens que comprovadamente estejam com
preço inferior ao mercado sejam analiticamente relacionados.
Outra provisão que pode afetar os valores dos estoques é de possíveis perdas ou quebras, ou
até mesmo itens que estejam comprovadamente obsoletos. A constituição dessa provisão para per-
das também será considerada como um ajuste no estoque e sua contrapartida será em uma conta
de despesa ou custo.
As duas provisões constituídas referem-se a perdas esperadas em itens dos estoques, mas
pode-se considerar que a provisão para perdas em estoque retrata um evento de maior gravidade,
pois a perda é do valor integral do item. Por exemplo, determinada empresa pode ter em estoque
produtos perecíveis em grande quantidade, cujos prazos de validade vencerão em período menor
que o tempo em que se estima que serão vendidos tais itens. Nesse caso, a empresa provisiona o
valor total dos itens, portanto, a perda estimada é do valor integral destes.
Na provisão para ajuste do estoque a valor de mercado, a perda se relaciona com a diferença
entre o preço pago na aquisição do item e o valor pelo qual se espera realizá-lo (vendê-lo) ao mer-
cado, que nessa circunstância específica é inferior ao custo.
Tabela 3 – Contabilização da provisão para ajuste de estoque a valor de mercado

Contas contábeis Débito Crédito


Despesa com provisão para ajuste do estoque a valor de
R$ 1.000,00 –
mercado – Resultado
Provisão para ajuste de estoque a valor de mercado – Re-
– R$ 1.000,00
dutora de estoques
Fonte: Elaborada pelo autor.

Em qualquer provisão que a contabilidade julgue prudente constituir e que cause um efeito
no resultado, isto é, as provisões que têm como contrapartida uma conta de despesa ou custo, de-
ve-se avaliar rotineiramente a ocorrência da perda ou não. Caso a perda estimada não se realize,
deve-se efetuar a reversão do seu lançamento utilizando-se das mesmas contas do Ativo e do resul-
tado em que foram constituídas.
Tabela 4 – Contabilização do reconhecimento da perda efetiva, supondo uma perda no valor de R$ 100,00.

Contas contábeis Débito Crédito


Provisão para créditos de liquidação duvidosa – Redutora
R$ 100,00 –
de contas a receber – AC
Contas a receber – AC – R$ 100,00
Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 5 – Contabilização de reversão de parte da provisão cuja perda não ocorreu, supondo uma perda
efetiva no valor de R$ 90,00.

Contas contábeis Débito Crédito


Provisão para créditos de liquidação duvidosa – Redutora
R$ 10,00 –
de contas a receber – AC

Despesa com provisão para créditos de liquidação duvido-


– R$ 10,00
sa – Resultado
Fonte: Elaborada pelo autor.
Escrituração contábil e contas retificadoras do Ativo e do Passivo 37

Nesse caso, a empresa perdeu efetivamente R$ 90,00 do total da perda esperada de R$ 100,00;
portanto R$ 10,00 será objeto de um lançamento de reversão, debitando-se a conta redutora do
Ativo com o crédito respectivo na conta de despesa.

3.3.2 Contas retificadoras passivas


3.3.2.1 Empréstimos e financiamentos – encargos prefixados: encargos
financeiros a transcorrer
Nas operações financeiras relativas a empréstimos com taxa de juros pré-fixados, os encar-
gos financeiros são descontados antecipadamente. Nesses casos, a empresa recebe somente o valor
líquido do empréstimo, representado pela diferença entre o valor a pagar – que será registrado no
Passivo – e o valor descontado relativo aos encargos financeiros incidentes na operação.
Ao proceder a contabilização desses empréstimos, a empresa deve registrar o valor recebido
na conta bancos, o valor total do empréstimo na conta de Passivo (Circulante ou não Circulante,
conforme o prazo) e os encargos financeiros antecipados serão debitados em uma conta denomi-
nada encargos financeiros a transcorrer, que é redutora da conta empréstimos a pagar.
À medida que os períodos contábeis transcorrem, e sempre em observância ao princípio
da competência, os encargos financeiros são apropriados (alocados) em despesas financeiras,
no resultado.
O exemplo da Tabela 6 considera um empréstimo de R$ 1.000,00 obtido por uma empresa
em que o contrato previa o desconto antecipado dos encargos financeiros.
Tabela 6 – Contabilização do empréstimo com desconto antecipado dos encargos financeiros

Contas contábeis Débito Crédito


Bancos conta-corrente – AC R$ 900,00 –

Empréstimos bancários – PC – R$ 1.000,00

Encargos financeiros a transcorrer – PC R$ 100,00 –


Fonte: Elaborada pelo autor.

Observe que, pelo regime de competência, esses encargos devem ser contabilizados como
despesa financeira durante o prazo do contrato.

3.3.3 Contas retificadoras do Patrimônio Líquido


O subgrupo do Patrimônio Líquido também tem contas que retificam seus valores, porém
nesse caso não haverá contrapartida no resultado, como geralmente ocorre com as contas retifica-
doras Ativas e Passivas.

3.3.3.1 Capital a integralizar


Esta conta retifica o Patrimônio Líquido, pois está vinculada à parcela do capital que foi
subscrita pelo sócio, porém a efetivação da entrega dos valores para pagamento do capital será
efetuada em momento futuro. Nesse caso, o saldo da conta redutora deverá ser deduzido do
Capital Social.
38 Contabilidade

3.3.3.2 Ações em tesouraria


São ações adquiridas pela própria empresa na execução de operações de resgate, reembolso
ou amortização de ações/quotas, ou simplesmente para futura redução do Capital Social.

3.3.3.3 Prejuízos acumulados


A conta de prejuízos acumulados expressa o valor relativo a resultados negativos incorridos
pela empresa e que devem ser apresentados como redutores do Patrimônio Líquido.

Atividades
1. Diferencie a provisão para perdas em estoques da provisão para ajuste do estoque a valor
de mercado.

2. Qual deve ser o tratamento contábil do valor da perda estimada e contabilizada, caso esta
não ocorra?

3. Pode-se afirmar que toda conta retificadora do Ativo ensejará como contrapartida o reco-
nhecimento de uma despesa? Justifique.

Referências
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17
dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.

BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 11
jan. 2002. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 29 out. 2018.

BRASIL. Lei n. 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 9 fev.
2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11101.htm. Acesso
em: 26 out. 2018.

BRASIL. Lei complementar n. 123, de 14 de dezembro de 2006. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 15 dez. 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp123.htm.
Acesso em: 26 out. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.292, de 7 de outubro de 2010. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 7 out. 2010. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTG01(R4).
pdf. Acesso em: 29 out. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.330, de 22 de março de 2011. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 22 mar. 2011. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1330.pdf.
Acesso em: 26 out. 2018.
4
Demonstrações contábeis: modelos de
representação da situação econômica e financeira I

4.1 Estrutura dos relatórios contábeis: Balanço Patrimonial


Assim como os demais relatórios contábeis, o Balanço Patrimonial constitui-se em um au-
têntico modelo de representação da situação econômica e financeira de um patrimônio.
Modelos são representações da realidade, já que a realidade por si só é praticamente impos-
sível de ser apresentada integralmente. É possível representá-la por meio de um modelo utilizado
para estudo e compreensão da realidade financeira de uma instituição. Esses modelos de represen-
tação são utilizados em diversas áreas, como na engenharia (em que a planta representa o futuro
empreendimento) ou na produção de um veículo, em que se tem a concepção gráfica (o design)
desse produto.
Em todos os casos, quanto mais completo e compreensível o modelo, melhor será a repre-
sentação daquela realidade. Isso não é diferente com os relatórios contábeis, que devem expressar
o mais precisamente possível a realidade econômica e financeira das empresas.
O Balanço Patrimonial mostra a configuração do patrimônio de uma empresa em ter-
mos de Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido. Ele proporciona a possibilidade de o empresário
acompanhar a evolução de seu patrimônio em diversos períodos. Szuster et al. afirmam que “o
Balanço Patrimonial tem como objetivo mostrar a posição financeira da empresa em um mo-
mento específico e informar a capacidade de geração dos fluxos futuros de caixa” (2013, p. 114).
O Balanço Patrimonial é uma demonstração estática da situação financeira de um patrimônio
em determinada data e deve ser apresentado sempre em comparação com os valores do exercício
imediatamente anterior.
Os elementos que constam no Balanço Patrimonial, representados pelas contas contábeis,
classificam-se em dois grandes grupos e vários subgrupos, como podemos ver no Quadro 1:
Quadro 1 – Elementos do Balanço Patrimonial

Ativo Passivo

Ativo Circulante Passivo Circulante

Disponível Fornecedores

Clientes Empréstimos e financiamentos

Estoques Obrigações fiscais

Despesas antecipadas Outras obrigações

(Continua)
40 Contabilidade

Ativo Passivo

Ativo não Circulante Passivo não Circulante

Realizável a Longo Prazo Patrimônio Líquido

Investimentos Capital Social

Imobilizado Reservas

Intangível Ajustes de avaliação patrimonial

– Prejuízos acumulados

Fonte: Elaborado pelo autor.

4.2 Ativo: bens e direitos


O Ativo é o aspecto mais importante de um negócio porque determina a estrutura e o poten-
cial que a empresa tem de atender uma demanda do mercado e, consecutivamente, de aproveitar
oportunidades. Conceitualmente, conforme sua finalidade, podemos dividir o Ativo em dois gran-
des grupos: Ativos realização e Ativos de uso.
Os Ativos de realização compõem o Ativo Circulante, que se realizam integral e direta-
mente em dinheiro, em menor ou maior prazo, como duplicatas a receber, estoques, entre outros.
Um exemplo é a situação em que a empresa recebe uma duplicata de seu cliente: ela realiza
esse direito (extingue-o), em contrapartida há uma entrada de numerário no caixa. Outro exemplo
é com relação à realização dos estoques: utilizados na produção (no caso de material direto nas
indústrias) ou transferidos aos clientes (quando das vendas), cada item é integralmente realizado
no momento da operação, no consumo pela produção ou na venda ao cliente.
Já os Ativos de uso são aqueles que proporcionam a estrutura que a empresa necessita para
exercer sua atividade. Estes não são realizados diretamente em dinheiro, porém cumprem com sua
finalidade, proporcionando à empresa a condição necessária para execução de sua atividade, como
máquinas e participações de capital em outras sociedades.
Os benefícios econômicos esperados dos Ativos de uso, cuja utilidade se prolonga no tempo,
– ou seja, seu consumo não se dá em um único momento, mas refere-se a um número considerável
de períodos contábeis classificados no Ativo não Circulante (investimentos, imobilizado e intangí-
vel) – estão relacionados com seu uso na produção de outros Ativos.
No caso de investimentos em participações permanentes em outras empresas, o benefí-
cio econômico é o recebimento de dividendos das empresas nas quais a entidade possui ações
ou quotas, já no caso do imobilizado, os itens são utilizados para produção de bens e serviços.
Resumidamente, pode-se afirmar que um determinado Ativo de realização contribui com o caixa,
com sua conversão imediata ou mediata em dinheiro; já o Ativo de uso contribui de maneira indi-
reta, pois proporciona a geração de Ativos que serão realizados em dinheiro.
O quadro a seguir elenca os requisitos para um item ser considerado Ativo:
Demonstrações contábeis: modelos de representação da situação econômica e financeira I 41

Quadro 2 – Requisitos para um item ser considerado Ativo

Ser um bem ou direito.

Ser de propriedade da empresa.

Ser mensurável monetariamente (ter um valor).

Representar um benefício presente ou futuro.

Fonte: Elaborado pelo autor.

A propriedade é um dos requisitos para a caracterização de um elemento como Ativo,


não basta a posse. Entretanto, no caso dos Ativos objetos de arrendamento mercantil, as normas
contábeis – dentre elas o CPC 06 (CPC, 2013) – determinam sua classificação na empresa arren-
datária como uma compra financiada, disso resulta que a posse, como caracterizadora do Ativo,
fica relativizada.
Outro requisito essencial para qualificarmos um Ativo é a possibilidade de que seja mensu-
rado monetariamente, ou seja, deve haver a possibilidade objetiva de atribuir um valor monetário
a esse Ativo.
A marca, por exemplo, é um dos Ativos mais importantes de propriedade da empresa, em-
bora haja dificuldades em sua avaliação monetária. Os critérios utilizados para este fim são sub-
jetivos e não atendem ao que determina o princípio contábil da objetividade. Tendo em vista que
a mensuração monetária requer uma dose considerável de objetividade, torna-se difícil realizá-la
em avaliações de Ativos imateriais (intangíveis).
Outro requisito essencial para conceituação do Ativo é a sua potencialidade como elemento
gerador de benefícios presentes ou futuros. Todos os bens e direitos devem ser constantemente
analisados com o propósito de medir suas potencialidades de satisfação das necessidades da em-
presa. Caso se perceba que será muito difícil ou quase impossível a obtenção desses benefícios,
pode ser o caso de se proceder com sua baixa, por exemplo em um valor a receber de um cliente
que teve esgotadas as possibilidades de cobrança.

4.2.1 Critérios de classificação do Ativo


De acordo com o art. 178, da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), no Ativo as contas serão dis-
postas em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos registrados, isto é, primeiramente
aparecem as contas que representam bens ou direitos mais rapidamente conversíveis em dinheiro.
É exatamente por esse motivo a conta caixa é a primeira a ser colocada no Balanço Patrimonial, já
que ela representa o próprio dinheiro da empresa.
Vejamos a seguir, de acordo com o grau de liquidez, a ordem em que os grupos e subgrupos
devem aparecer no Balanço Patrimonial.

4.2.1.1 Ativo Circulante


Constitui-se pelos bens e direitos realizáveis no curso do exercício social subsequente ou nos
próximos 12 meses. É o que determina o art. n. 179, da Lei n. 6.404/1976, ao estabelecer que serão
42 Contabilidade

classificados “no Ativo Circulante: as disponibilidades, os direitos realizáveis no curso do exercício


social subsequente e as aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte” (BRASIL, 1976).
A Resolução n. 1.185/2009 do Conselho Federal de Contabilidade estabelece que o Ativo
deve ser classificado como circulante quando satisfizer qualquer um dos seguintes critérios:
a) espera-se que seja realizado, ou pretende-se que seja vendido ou consumido
no decurso normal do ciclo operacional da entidade;
b) está mantido essencialmente com o propósito de ser negociado;
c) espera-se que seja realizado até 12 meses após a data do balanço; ou
d) é caixa ou equivalente de caixa (conforme definido na NBC TG 03 –
Demonstração dos Fluxos de Caixa), a menos que sua troca ou uso para liqui-
dação de Passivo se encontre vedada durante pelo menos 12 meses após a data
do Balanço. (BRASIL, 2009)

As disponibilidades representam os saldos existentes no caixa e nas contas correntes em


bancos, que são movimentadas também por meio de cheques. O critério de avaliação das disponi-
bilidades (dinheiro no caixa da entidade ou nas contas correntes em bancos) será o valor nominal
desses Ativos, pois trata-se da quantidade de moedas com as quais a empresa poderá contar quan-
do necessitar realizar pagamentos. Caixa, bancos e aplicações de liquidez imediata são, portanto,
exemplos de disponibilidades.
Para as aplicações financeiras, o critério de avaliação será o valor nominal aplicado, acres-
cido dos rendimentos, visto que as aplicações rendem juros que devem ser reconhecidos conforme
o regime de competência.
Os créditos são as duplicatas a receber, títulos a receber, provisão para créditos de liqui-
dação duvidosa.
A conta duplicatas a receber representa o saldo ainda não recebido, referente às vendas fei-
tas a prazo aos clientes da empresa. O critério de avaliação dos créditos a receber é seu valor líquido
esperado de realização, ou seja, a empresa deve realizar periodicamente uma análise dos riscos de
perdas desses créditos e efetuar, se for o caso, as devidas provisões para perdas, pois o saldo da
conta deve representar sua expectativa de geração futura de caixa.
A conta provisão para devedores duvidosos é outra redutora de duplicatas a receber, sendo
uma provisão constituída por possíveis perdas de duplicatas a receber que podem ocorrer por falta
de pagamento dos clientes. Essas perdas nem sempre se realizam, mas é prudente fazer a provisão
em cada exercício contábil.
Os estoques são os bens adquiridos ou produzidos pela empresa com o objetivo de venda ou
utilização própria no curso normal de suas atividades. Nas empresas comerciais, compreende-se o
saldo existente como mercadorias adquiridas para revenda, já nas empresas industriais, os estoques
se dividem em matéria-prima, produto em processo e produto acabado.
Os direitos que tenham por objeto mercadorias e produtos produzidos ou comercializados
pela empresa, bem como as matérias-primas, produtos em fabricação e bens que estejam no almo-
xarifado, serão avaliados pelo custo de aquisição ou produção, combinados a uma provisão, a fim
de ajustá-los ao valor de mercado quando este for menor.
Demonstrações contábeis: modelos de representação da situação econômica e financeira I 43

A conta estoques de matérias-primas representa o saldo das matérias-primas existentes na


empresa e ainda não utilizadas no processo de fabricação. Já os estoques de produtos em fabricação
são os saldos de produtos que estão sendo fabricados na data do Balanço. O estoque de produtos
em fabricação é composto por matérias-primas que estão sendo utilizadas na fabricação, salários e
encargos de profissionais da fábrica e outros custos indiretos de fabricação (como energia, manu-
tenção, limpeza etc.).
O estoque de produto acabado é o resultado do processo de produção em uma indústria,
isto é, o valor dos produtos que já estão prontos para a venda cujos processos de produção já
foram concluídos.
As despesas antecipadas são aplicações de recursos em despesas que irão gerar benefícios
no exercício seguinte. Em outras palavras, são recursos aplicados pela empresa em direitos que se
referem a exercícios futuros, seus benefícios não se esgotam no momento da aplicação do recurso.
Veja alguns exemplos de despesas antecipadas:
• Despesas de seguros a apropriar: a empresa efetiva o seguro de um veículo cuja vigência
da apólice é de um ano. Quando da contratação do seguro, a empresa adquire um direito
em relação à seguradora, que será realizado à medida que os períodos contábeis ocorram.
Nesse caso, mensalmente deve ser feita a transferência da parcela para a conta despesa de
seguros, pois o benefício daquele mês se exaure.
• Despesas financeiras pagas antecipadas: são despesas financeiras descontadas antecipada-
mente, nos casos de descontos de duplicatas ou em empréstimos bancários prefixados. Nessas
situações, os juros referem-se aos períodos futuros, conforme o prazo de amortização contra-
tado, e serão apropriados em despesas à medida em que os períodos contábeis se sucedam,
sempre em respeito ao princípio da competência.

4.2.1.2 Ativo não Circulante


O Ativo não Circulante é um grupo novo trazido pela Lei n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007).
Contempla elementos que se realizam em moeda – aqueles que integram o realizável a longo prazo
– bem como aqueles que têm uma duração maior e são utilizados continuamente, como os inves-
timentos, o imobilizado e o intangível.
O Ativo Realizável a Longo Prazo consiste em contas representativas de bens e direitos rea-
lizáveis após o término do exercício social seguinte ou após o 12º mês da data de fechamento das
Demonstrações Contábeis. Classificam-se nesse subgrupo também os valores relativos a operações
não usuais realizadas com coligadas, controladas, sócios, acionistas e diretores.
Esse subgrupo engloba valores de realização demorada e superior a um ano. Os valores
normalmente encontrados são pequenos, como depósitos compulsórios, depósitos judiciais, entre
outros. Eventualmente são encontrados valores a receber de sócios, de diretores ou de empresas co-
ligadas e controladas. Nesses casos, mesmo que seu recebimento ocorra no curto prazo, devem ser
classificados no longo prazo por determinação do art. 179, da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976).
Os depósitos judiciais são saldos de depósitos feitos judicialmente relativos a questões pen-
dentes, como contestação de ações judiciais trabalhistas ou tributárias.
44 Contabilidade

Os investimentos, a teor do art. 179, devem ser classificados como “as participações per-
manentes em outras sociedades e os direitos de qualquer natureza, não classificáveis no Ativo
Circulante, e que não se destinem à manutenção da atividade da companhia ou da empresa”
(BRASIL, 1976). É possível citar como exemplos as ações de outras empresas e a provisão para
perdas permanentes.
Esse subgrupo representa as aplicações de recursos no Capital Social de outras sociedades,
com intenção de permanência, portanto, não são aplicações temporárias ou meramente especula-
tivas e traduzem a estratégia da empresa em diversificar sua atividade, pulverizando seu risco ope-
racional quando investe em atividades diferentes da sua ou ainda quando a companhia pretende
concentrar investimentos e aumenta a participação na mesma atividade que desempenha, obtendo
ganhos de escala e visando maior rentabilidade.
Quanto aos critérios que serão utilizados para atribuição de valor aos investimentos per-
manentes, estes devem ser interpretados conforme determina o disposto no art. 248 da Lei
n. 6.404/1976: “no Balanço Patrimonial da companhia, os investimentos em coligadas ou em con-
troladas e em outras sociedades que façam parte de um mesmo grupo ou estejam sob controle
comum serão avaliados pelo método da equivalência patrimonial” (BRASIL, 1976).
A equivalência patrimonial é um critério de avaliação dos investimentos em que há o reco-
nhecimento dos resultados obtidos pela empresa investida no valor do investimento da sociedade
investidora, no momento em que estes resultados são gerados. Assim, o método da equivalência,
diferentemente do critério de mensuração a valor de custo histórico, acompanha o fato econômico,
ou seja, a geração do resultado e não a distribuição efetiva deste.
Conforme Iudícibus e Marion (2016, p. 139), o conceito do método de equivalência
patrimonial é baseado no fato de que “os resultados e quaisquer variações patrimoniais de uma
controlada ou coligada devem ser reconhecidos (contabilizados) no momento de sua geração,
independentemente de serem ou não distribuídos”.
No subgrupo Ativo Imobilizado, classificam-se os bens corpóreos que a empresa utiliza
para manter sua atividade no mercado. Dependendo de seu ramo, ela terá maior ou menor neces-
sidade de investir em estrutura física. De acordo com o art. 179, da Lei n. 6.404/1976:
IV – no Ativo Imobilizado: os direitos que tenham por objeto bens corpóreos
destinados à manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exer-
cidos com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operações que transfiram
à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens. (BRASIL, 1976)

São exemplos de Ativo Imobilizado imóveis, instalações, móveis e utensílios, veículos e a


depreciação. Uma empresa de consultoria, que se classifica como prestadora de serviços, via de
regra não necessita de muito imobilizado, ao passo que uma indústria necessariamente terá que
concentrar maior volume de investimentos nesses Ativos.
O Imobilizado é classificado por natureza: móveis e utensílios, máquinas, equipamentos,
veículos, edificações, entre outros. É pela análise do imobilizado que se vê a capacidade que a em-
presa possui de se manter no mercado.
Demonstrações contábeis: modelos de representação da situação econômica e financeira I 45

O critério de avaliação dos bens componentes do imobilizado é o valor de custo de aquisição


deduzido da depreciação acumulada, sendo esta uma conta redutora do Ativo em questão.
A depreciação, em um sentido partilhado, é a perda de valor de algo, depreciar alguma coisa
é diminuir seu valor. Em contabilidade, trata-se do reconhecimento da despesa ou do custo relativo
ao desgaste do Ativo Imobilizado de acordo com a vida útil estimada desses bens, depreciado por
seu uso, pela ação da natureza e pela obsolescência.
Os itens desse subgrupo não perdem utilidade apenas pelo uso porque a natureza exerce
um efeito considerável em sua perda de substância. A obsolescência se instaura na medida em que
novos elementos são disponibilizados ao mercado e aqueles que estão em uso ficam defasados em
relação aos produtos com maior potencial tecnológico.
A depreciação acumulada mostra a soma das depreciações realizadas ao longo dos anos,
trata-se de uma conta negativa, que reduz o valor do imobilizado. O valor acumulado demonstra
quanto a empresa já apropriou ao custo ou despesa relativamente ao valor já consumido de seu
imobilizado.
Classificam-se como intangíveis os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos
(intangíveis) destinados a manter a atividade da companhia ou que serão exercidos com essa
finalidade. A Lei n. 6.404/1976 determina que se inclua também nesse subgrupo o fundo de
comércio adquirido. São exemplos de intangíveis as marcas e patentes adquiridas pela empresa
e gastos com desenvolvimento de novos produtos que, anteriormente, eram classificados como
Ativos diferidos. O critério de avaliação dos elementos do Ativo Intangível é o valor original dos
recursos aplicados.

4.2.2 Critérios para mensuração dos Ativos


Mensuração é o processo de atribuição de valores monetários a objetos (contas a receber,
instalações, equipamentos, dívidas a longo prazo) ou a eventos (vendas de produtos e serviços,
pagamentos de dividendos) associados a uma empresa.
Entretanto, antes que a mensuração possa ser feita, é necessário selecionar um atributo es-
pecífico a ser medido. No caso de conta a receber, por exemplo, os atributos escolhidos poderiam
incluir o número de reais a serem recebidos e a data esperada de recebimentos.
Já os atributos de instalações e equipamentos poderiam incluir a capacidade física de pro-
dução, o dispêndio de recursos no ato da aquisição ou os recursos necessários para repor os Ativos
no presente momento.
Geralmente a mensuração é imaginada em termos monetários. Como os Ativos possuem diver-
sos atributos, a mensuração e publicação de mais de um atributo pode ser relevante para os investidores
e outros usuários das demonstrações contábeis. Desse modo, os conceitos de avaliação podem ser com-
plementares, bem como substitutos um do outro. Por exemplo, o custo corrente pode ser um substituto
do valor presente dos fluxos de caixa futuros, atributo que realmente desejamos medir. O Quadro 3
elenca as bases de mensuração dos Ativos:
46 Contabilidade

Quadro 3 – Bases de mensuração

Valores de entrada Valores de saída


Passados Custos históricos Preços de vendas passados
Correntes Custos de reposição Preço corrente de venda
Futuros Custos esperados Valor realizável esperado
Fonte: Elaborado pelo autor.

Os critérios de avaliação de Ativos para efeito de evidenciação, conforme dispositivos da Lei


n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), são aplicados dentro do regime de competência e, de maneira geral,
seguem sumariamente a orientação retratada no Quadro 4 a seguir.
Quadro 4 – Critérios de avaliação

Contas a receber O valor dos títulos menos provisão para reduzi-los ao valor provável de realização.

Valores mobiliários Ao custo de aquisição acrescido de juros e atualização devida e reduzidos ao preço
(temporários) de mercado, se este for menor.

Ao custo de aquisição ou fabricação, reduzido de provisão para ajustá-lo ao preço de


Estoques mercado, quando este for inferior.
Ao custo de aquisição deduzido da depreciação, pelo desgaste, perda de utilidade,
Ativo Imobilizado amortização ou exaustão.

Investimentos
Pelo método de equivalência patrimonial, ou seja, com base no valor do Patrimônio
relevantes em coligadas Líquido da coligada ou controlada proporcionalmente à participação acionária.
e controladas
Outros investimentos Ao custo menos provisão para reconhecimento de perdas permanentes.

Ativo Intangível Ao custo deduzido de provisão para amortização.


Fonte: Elaborado pelo autor.

Atividades
1. Quais são os dois critérios para se classificar um elemento no Ativo Realizável a Longo Prazo?

2. Qual é o critério previsto pela Lei n. 6.404/1976 para a disposição dos elementos que com-
põem o Ativo de uma empresa?

3. Apenas o uso do Ativo Imobilizado é a causa de sua depreciação? Justifique.

Referências
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17
dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.

BRASIL. Decreto-Lei n. 1.598, de 26 de dezembro de 1977. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília,
DF, 27 dez. 1977. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1598.htm. Acesso em:
30 out. 2018.
Demonstrações contábeis: modelos de representação da situação econômica e financeira I 47

BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 28
dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso
em: 30 out. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.185, de 28 de agosto de 2009. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 15 set. 2009. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_1185.pdf.
Acesso em: 30 out. 2018.

BRASIL. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamentos Técnicos Contábeis 2012. Brasília, DF,
Conselho Federal de Contabilidade, 2013. Disponível em: http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/
uploads/2013/06/cpc_pronunciamentos_2012_web.pdf. Acesso em: 25 out. 2018.

IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C. Contabilidade comercial. São Paulo: Atlas, 2016.

SZUSTER, N. et al. Contabilidade geral: introdução à contabilidade societária. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
5
Demonstrações contábeis: modelos de
representação da situação econômica e financeira II

5.1 Passivo: obrigações


Conforme o CPC 001 (CPC, 2013), emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis
(CPC)2, o Passivo é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liqui-
dação se espera que resulte na saída de recursos capazes de gerar benefícios econômicos. Desse
modo, em algum momento futuro, o Passivo exigirá o consumo de Ativos para sua liquidação.
Uma característica essencial para a existência do Passivo é que a entidade tenha uma obri-
gação presente, ou seja, um dever ou uma responsabilidade de agir ou de desempenhar uma dada
tarefa de certa maneira. As obrigações podem ser legalmente exigíveis em consequência de contra-
to ou de exigências estatutárias.
Esse é normalmente o caso, por exemplo, das contas a pagar por bens e serviços recebidos.
Entretanto, obrigações surgem também de práticas usuais do negócio, de usos e costumes e do
desejo de manter boas relações comerciais ou agir de maneira equitativa.
As obrigações com terceiros referem-se a dívidas com credores externos que destinam re-
cursos à empresa e que não fazem parte da sociedade (não são sócios). Também são conhecidas
como passivos exigíveis porque em geral são dívidas que têm um valor certo ou facilmente estimá-
vel de liquidação e uma data acertada ou prevista para pagamento.
Já os recursos próprios são fontes internas representadas por aportes de capitais de sócios
ou acionistas e capitalização de lucros, constantes do Patrimônio Líquido. São conceituados como
Passivos não exigíveis porque, embora refiram-se a obrigações da entidade com seus sócios, não é
possível definir uma data certa de devolução desses capitais e tampouco identificar o valor que será
devolvido em uma possível retirada de um sócio da sociedade.
No Passivo, as contas são dispostas em ordem decrescente de grau de exigibilidade dos ele-
mentos registrados, ou seja, primeiro aparecem as contas representativas das dívidas com menor
tempo para pagamento.

1 Pronunciamento técnico que trata da estrutura conceitual básica da contabilidade e aborda os seguintes assuntos:
objetivo da elaboração e divulgação do relatório contábil-financeiro; características qualitativas da informação contábil-fi-
nanceira útil; definição, reconhecimento e mensuração dos elementos com base nos quais as demonstrações contábeis
são elaboradas; e conceitos de capital e de manutenção de capital.
2 Comitê que “tem por objetivo o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de
contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora
brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergên-
cia da contabilidade brasileira aos padrões internacionais” (BRASIL, 2005).
50 Contabilidade

No parágrafo 2º do art. 178 da Lei n. 6.404/1976 determina-se que as contas do Passivo


serão classificadas nos seguintes grupos: “I – Passivo Circulante; II – Passivo não Circulante; e III
– Patrimônio Líquido, dividido em Capital Social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimo-
nial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados” (BRASIL, 1976). A ordem em
que os grupos e subgrupos devem aparecer é descrita nas seções a seguir.

5.1.1 Passivo Circulante


As dívidas da entidade, incluindo os financiamentos para aquisição de itens do Ativo não
Circulante, serão classificadas no Passivo Circulante quando tiverem seus vencimentos durante o
transcurso do Exercício Social seguinte (próximos 12 meses) ou no Passivo não Circulante se tive-
rem vencimento em prazo maior que um ano.
O Passivo Circulante é também denominado de recursos de terceiros de curto prazo ou dí-
vidas de curto prazo. Ele é composto por dívidas com fornecedores, salários e encargos a pagar,
impostos a pagar, empréstimos bancários e contas a pagar, entre outras. Conforme dispõe o item
69, da Resolução n. 1.185/2009:
O Passivo deve ser classificado como circulante quando satisfizer qualquer dos
seguintes critérios:
(a) espera-se que seja liquidado durante o ciclo operacional normal da entidade;
(b) está mantido essencialmente para a finalidade de ser negociado;
(c) deve ser liquidado no período de até 12 meses após a data do Balanço; ou
(d) a entidade não tem direito incondicional de diferir a liquidação do Passivo
durante pelo menos 12 meses após a data do Balanço [...]. Os termos de um
Passivo que podem, à opção da contraparte, resultar na sua liquidação por meio
da emissão de instrumentos patrimoniais não devem afetar a sua classificação.
(BRASIL, 2009)

A conta fornecedores representa o saldo das dívidas de curto prazo resultantes das compras
a prazo de mercadorias (comércio) ou matérias-primas e embalagens (indústria).
Contas a pagar é composta pelas contas e despesas a pagar, como energia elétrica, água, tele-
fone, aluguel, serviços de consultores, advogados ou auditores, propagandas, materiais de limpeza,
materiais de escritório, entre outras.
Os dividendos a pagar são os saldos de dividendos que ainda não foram pagos aos acionistas
ou sócios. Sempre que os sócios decidem pela retirada de lucros, o contador reduz o valor de lucros
do período no Patrimônio Líquido e transfere o valor para dividendos a pagar, constituindo, assim,
uma dívida com prazo definido para pagamento.
Salários e encargos a pagar é a conta que representa o saldo a pagar dos salários e dos encar-
gos que incidem sobre eles, como INSS, FGTS, férias e Décimo terceiro salário.
Empréstimos bancários compreendem basicamente os saldos e empréstimos ou financia-
mentos bancários de curto prazo ainda não pagos na data do Balanço, os valores dos empréstimos
estão corrigidos e acrescidos de juros ainda não pagos até esta data.
Demonstrações contábeis: modelos de representação da situação econômica e financeira II 51

A conta adiantamento de clientes representa valores pagos antecipadamente pelos clientes


em razão do fornecimento de mercadorias. Caso estas não sejam entregues, a entidade é obrigada
a devolver ao cliente o valor recebido anteriormente.
Adiantamento sobre contratos de câmbio (ACC) é uma conta utilizada quando ocorre uma
operação cambial em que o exportador contrata o câmbio antes da entrega dos documentos de
embarque relacionados à exportação. Nesse caso, o exportador contrata a venda de moeda estran-
geira em um banco por um valor em reais e a operação de câmbio é liquidada quando o importador
efetua o pagamento no exterior. Assemelha-se ao desconto de títulos (duplicatas ou cheques) em
operações comerciais normais, equivalendo-se a um empréstimo.
A conta de impostos a pagar representa o saldo de impostos originados pelas vendas e que
ainda não foram pagos, dos quais os mais comuns são ICMS, IPI, ISS, PIS e COFINS. Pode estar
também incluído o Imposto de Renda retido na fonte.
Imposto de Renda a pagar representa a dívida de imposto de renda sobre os lucros da em-
presa no ano.
As duplicatas descontadas são duplicatas a receber cuja posse foi transferida para bancos em
troca do recebimento imediato de seus valores. No Balanço Patrimonial, a conta duplicatas descon-
tadas é mostrada como redutora de duplicatas a receber no Ativo Circulante.

5.1.2 Passivo não Circulante


O Passivo não Circulante representa as dívidas de longo prazo e que serão pagas a partir de
365 dias após a data do Balanço ou Balancete. É chamado também de recursos de terceiros de longo
prazo ou fontes de longo prazo. Essas dívidas são transferidas para o Passivo Circulante sempre que
faltar menos de um ano para seu pagamento.
Os financiamentos são títulos que equivalem a recursos obtidos junto a instituições
financeiras para aquisição de investimentos, como máquinas e equipamentos. Normalmente nos
financiamentos a empresa não recebe o recurso, mas sim o bem financiado, já que o recurso é
repassado pelo agente financiador diretamente ao vendedor. No saldo dos financiamentos são
incorporados juros e variações monetárias ainda não pagas.
Na conta empréstimos estão os valores relativos a empréstimos de recursos obtidos pelas en-
tidades para financiamento de capital de giro. Nesses casos, os recursos são recebidos diretamente
pela entidade, reforçando seu disponível. Nas parcelas de longo prazo dos empréstimos incorpo-
ram-se os juros e as variações monetárias que indexam o contrato.
Os impostos parcelados são dívidas de impostos atrasados que a empresa parcelou para
pagar a longo prazo. O parcelamento pode ser espontâneo ou forçado pela fiscalização e seu valor
é atualizado por multas, juros e atualização monetária ainda não paga. As primeiras doze parcelas
são incluídas no Passivo Circulante, permanecendo no longo prazo apenas as demais cujo venci-
mento é maior que 365 dias.
52 Contabilidade

5.1.3 Patrimônio Líquido


De acordo com a Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), serão classificadas no Patrimônio
Líquido as contas representativas:
• dos investimentos dos proprietários na empresa;
• das reservas de lucros oriundas de lucros obtidos pela empresa;
• dos ajustes de avaliação patrimonial;
• das ações em tesouraria;
• dos prejuízos acumulados.
Chamado também de capital próprio ou recursos próprios, o Patrimônio Líquido é consti-
tuído essencialmente pelos recursos fornecidos pelos sócios e por lucros que permanecem na em-
presa, ele é também compreendido como o resultado da diferença entre Ativo e Passivo ou como o
valor contábil pertencente aos acionistas ou sócios da empresa.
A contabilidade considera o Patrimônio Líquido como um Passivo pelo fato dos recursos
que compõem esse grupo pertencerem aos sócios ou acionistas. Caso haja a retirada de um desses
participantes no capital da sociedade, este receberá de volta seu capital aplicado acrescido dos ren-
dimentos desse capital, os lucros obtidos.
Considerar o Patrimônio Líquido como Passivo decorre da premissa do princípio da entidade,
que determina a distinção clara entre o sócio (investidor) e a sociedade (investida). Se o sócio tem um
direito em relação à sociedade, esta terá uma obrigação (não exigível) em relação ao sócio.
O Capital Social representa o valor do capital, ou seja, do investimento realizado pelos só-
cios, constante nos estatutos e registrado na junta comercial, devidamente integralizado. O capital
sempre se divide em ações ou quotas e seus aumentos podem ser feitos com entrega de recursos
pelos sócios ou por incorporação de reservas de capital ou de lucros. A decisão de aumentar o ca-
pital cabe à maioria dos sócios com direito a voto.
As reservas de capital são reservas constituídas por valores recebidos pela entidade, mas
que não transitam pelo resultado (não se enquadram no conceito de receita), pois são verdadei-
ros reforços do capital. Nesses casos, não se vislumbra nenhum esforço da empresa em termos de
transferência da propriedade de bens ou de prestação de serviços.
Como exemplos podem ser indicadas as reservas de ágio na emissão de ações e a alienação
de partes beneficiárias e de bônus de subscrição. As reservas de capital somente poderão ser utili-
zadas nos seguintes casos:
• para absorção de prejuízos, quando estes ultrapassarem as reservas de lucros;
• no resgate, reembolso ou compra de ações;
• no resgate de partes beneficiárias;
• para incorporação ao Capital Social e;
• no pagamento de dividendos cumulativos a ações preferenciais, quando eventualmente
esta situação estiver prevista no estatuto social.
Demonstrações contábeis: modelos de representação da situação econômica e financeira II 53

Reservas de lucros são aquelas constituídas por apropriação de lucros da empresa, como se
nota pelo teor do art. 182, parágrafo 4, da Lei n. 6.404/1976 “serão classificados como reservas de
lucros as contas constituídas pela apropriação de lucros da companhia” (BRASIL, 1976).
Essas reservas são constituídas sobre a parcela dos lucros que não foi distribuída aos
sócios ou não teve destinação específica e, assim, fortalece a estrutura financeira da empresa.
Outras podem ser constituídas por decisão dos sócios ou por imposição legal, como no caso
da reserva legal.
A reserva legal será constituída no montante de 5% (cinco por cento) do lucro líquido do
exercício, antes de qualquer outra destinação. Será constituída obrigatoriamente pela companhia,
até que seu valor atinja 20% do Capital Social realizado, quando então deixará de ser acrescida.
Também poderá deixar de ser constituída quando seu saldo, acrescido dos saldos das reservas de
capital, exceder a 30% do Capital Social.
Reservas estatutárias são as reservas constituídas por determinação expressa do estatuto da
companhia, como a destinação de parcelas dos lucros do exercício, no entanto não poderão ser
constituídas com prejuízo do pagamento do dividendo obrigatório. Deverão ter finalidade, crité-
rios e limite máximos claramente definidos no estatuto.
De acordo com o art. 195 da Lei n. 6.404/1976, para constituição das reservas para contin-
gências a partir de proposta formulada pelos órgãos de administração, a assembleia geral pode
destinar parte do lucro líquido com o objetivo de compensar a diminuição do lucro decorrente de
perda julgada provável, em exercício futuro, cujo valor possa ser estimado.
As reservas de lucros para realizar são constituídas nos casos em que a distribuição de
dividendos obrigatórios pode comprometer a situação financeira da empresa, ou seja, quando
o resultado do exercício tiver receitas de vendas a longo prazo e que ainda não foram realiza-
das financeiramente.
No exercício em que o montante do dividendo obrigatório, calculado nos ter-
mos do estatuto ou do art. 202, ultrapassar a parcela realizada do lucro líquido
do exercício, a assembleia-geral poderá, por proposta dos órgãos de administra-
ção, destinar o excesso à constituição de reserva de lucros a realizar.
§1° Para os efeitos deste artigo, considera-se realizada a parcela do lucro líquido
do exercício que exceder da soma dos seguintes valores:
I - o resultado líquido positivo da equivalência patrimonial (art. 248); e
II - o lucro, rendimento ou ganho líquidos em operações ou contabilização de
Ativo e Passivo pelo valor de mercado, cujo prazo de realização financeira ocor-
ra após o término do Exercício Social seguinte.
§2° A reserva de lucros a realizar somente poderá ser utilizada para pagamento
do dividendo obrigatório e, para efeito do inciso III do art. 202, serão considera-
dos como integrantes da reserva os lucros a realizar de cada exercício que forem
os primeiros a serem realizados em dinheiro. (BRASIL, 1976)
54 Contabilidade

A conta retenção de lucros (reservas para expansão) é constituída quando a companhia pre-
tender efetuar investimentos e expansão, podendo reter parte dos lucros do exercício. Essa reten-
ção deverá estar justificada com o respectivo orçamento de capital aprovado pela assembleia geral,
conforme previsto no art. 196 da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976). Em relação às reservas de
incentivos fiscais:
A assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar
para a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido decorrente de
doações ou subvenções governamentais para investimentos, que poderá ser
excluída da base de cálculo do dividendo obrigatório (inciso I do caput do art.
202 desta Lei). (BRASIL, 1976)
Em relação à conta prejuízos acumulados, a partir da publicação da Lei n. 11.638/2007
(BRASIL, 2007), não existe mais a possibilidade de se manter saldo em lucros acumulados para so-
ciedades por ações, portanto essa conta representa o saldo dos prejuízos do ano e de anos anteriores.
Contudo, sempre que possível, o prejuízo deve ser absorvido pelos lucros acumulados, pelas
reservas de lucros e pela reserva legal, nessa ordem, como determinado pelo art. 189, parágrafo
único, da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976).
Vale ressaltar que nas demais sociedades – representadas em sua maioria pelas sociedades li-
mitadas, excetuando-se aquelas consideradas de grande porte e sujeitas à Lei n. 6.404/1976 (BRASIL,
1976), por força do art. 3º, combinado com seu parágrafo único da Lei n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007)
– a conta lucros acumulados poderá continuar apresentando saldo nos Balanços encerrados a partir
de 31 de dezembro de 2008.
Art. 3° Aplicam-se às sociedades de grande porte, ainda que não constituídas
sob a forma de sociedades por ações, as disposições da Lei n. 6.404, de 15 de
dezembro de 1976, sobre escrituração e elaboração de demonstrações finan-
ceiras e a obrigatoriedade de auditoria independente por auditor registrado na
Comissão de Valores Mobiliários.
Parágrafo único. Considera-se de grande porte, para os fins exclusivos desta
Lei, a sociedade ou conjunto de sociedades sob controle comum que tiver, no
exercício social anterior, Ativo total superior a R$ 240.000.000,00 (duzentos e
quarenta milhões de reais) ou receita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00
(trezentos milhões de reais). (BRASIL, 2007)

É o entendimento que se extrai pela análise do teor da Resolução n. 1.157/2009, que assim
se manifesta:
115. A obrigação de essa conta não conter saldo positivo aplica-se unicamente
às sociedades por ações, e não às demais, e para os Balanços do Exercício Social
terminado a partir de 31 de dezembro de 2008. Assim, saldos nessa conta preci-
sam ser totalmente destinados por proposta da administração da companhia no
pressuposto de sua aprovação pela assembleia geral ordinária.
116. Essa conta continuará nos planos de contas, e seu uso continuará a ser feito
para receber o resultado do exercício, as reversões de determinadas reservas,
os ajustes de exercícios anteriores, para distribuir os resultados nas suas várias
formas e destinar valores para reservas de lucros. (BRASIL, 2009a)
Demonstrações contábeis: modelos de representação da situação econômica e financeira II 55

A conta ajustes de avaliação patrimonial foi criada recentemente pela Lei n. 11.638/2007
(BRASIL, 2007), que a incluiu no Patrimônio Líquido. São classificadas como ajustes de avaliação
patrimonial – enquanto não computadas no resultado do exercício, em obediência ao regime de
competência – as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuídos a elementos do
Ativo e do Passivo, em decorrência da sua avaliação a valor justo.
Nessa conta, por exemplo, estão as variações a preços de mercado dos instrumentos finan-
ceiros, e as eventuais diferenças nos valores de Ativos e Passivos avaliados a preço de mercado nas
operações societárias (fusão, cisão e incorporação).

5.2 Critérios de avaliação dos Passivos


Os critérios de avaliação dos Passivos (para efeito de evidenciação conforme dispositivos na
lei societária) são aplicados dentro do regime de competência e, de maneira geral, seguem suma-
riamente a seguinte orientação:
Quadro 1 – Critérios de avaliação

Pelos valores reconhecidos ou calculáveis para as obrigações, encargos e riscos, incluindo


o Imposto de Renda e dividendos propostos. Para empréstimos e financiamentos sujeitos à
Exigibilidades
atualização monetária ou pagáveis em moeda estrangeira, pelos valores atualizados até a
data do Balanço.

Os investimentos e reinvestimentos (lucros retidos) e demais reservas constituídas serão


Patrimônio Líquido
avaliadas pelos respectivos valores originais de formação.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Martins et al., 2013.

5.3 Diferença entre reservas e provisões


Continuamente, há uma confusão conceitual entre as reservas e as provisões, já que as duas
contas se referem a uma espécie de retenção de valores para se fazer frente a um evento futuro e
incerto. Entretanto, existem diferenças claras entre ambas: as provisões constituem-se como redu-
toras do Ativo ou como obrigações no Passivo, ao passo que as reservas têm origem no Patrimônio
Líquido, como destinações de resultados já apurados. Percebe-se que as provisões afetam o resulta-
do do exercício (diminuindo-o) e as reservas não, pois são destinações de um resultado já apurado
e transferido para o Patrimônio Líquido. Quando se constitui uma provisão, o fato gerador desta já
ocorreu, no caso das reservas o fato ainda irá ocorrer.

Atividades
1. Por que o Patrimônio Líquido é considerado um Passivo da empresa? Justifique.

2. Diferencie reservas e provisões quanto ao impacto no resultado empresarial.

3. Indique uma situação que requeira a constituição de uma provisão.


56 Contabilidade

Referências
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17
dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.055, de 7 de outubro de 2005. Diário Oficial da
União, Poder Executivo, Brasília, DF, 24 out. 2005. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/
Res_1055.pdf. Acesso em: 25 out. 2018.

BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 28
dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso
em: 30 out. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.157, de 13 de fevereiro de 2009. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 17 fev. 2009a. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1157.pdf.
Acesso em: 5 nov. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.185, de 28 de agosto de 2009. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 15 set. 2009b. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_1185.pdf.
Acesso em: 30 out. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.376, de 8 de dezembro de 2011. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 16 dez. 2011. Disponível em: http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1376.pdf.
Acesso em: 5 nov. 2018.

BRASIL. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamentos Técnicos Contábeis 2012. Brasília:


Conselho Federal de Contabilidade, 2013. Disponível em: http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/
uploads/2013/06/cpc_pronunciamentos_2012_web.pdf. Acesso em: 25 out. 2018.

MARTINS, E. et al. Manual de contabilidade societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
6
Demonstrações Contábeis:
Demonstração do Resultado do Exercício

6.1 Modelo de representação da rentabilidade das empresas


Conforme o Pronunciamento Técnico CPC 26 (CPC, 2013) – que trata da Apresentação
das Demonstrações Contábeis – as empresas devem apresentar todas as mutações do Patrimônio
Líquido, reconhecidas em cada exercício, que não representem transações entre a empresa e seus só-
cios, em duas demonstrações: a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e a Demonstração
do Resultado Abrangente do Período (DRA).
As duas são, em essência, modelos que representam a situação econômica e financeira de
uma entidade em determinado momento. A adequada compreensão da estrutura, da forma e do
conteúdo desses demonstrativos por parte do usuário é imprescindível para a gestão empresarial.

6.2 Demonstração do Resultado do Exercício


A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) é um relatório que expressa o montante
de receitas e despesas geradas em um determinado período e que, em observância ao princípio da
competência, será escriturado nesse período.
Ela é elaborada concomitantemente ao Balanço Patrimonial e demais relatórios obrigatórios
por força da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976). Pode-se dizer que a DRE é um resumo das opera-
ções realizadas pela empresa no decorrer de determinado período de tempo e que envolvem uma
receita e um consumo de recursos (gasto ou perda).
Esse relatório oferece ao gestor um dos valores mais importantes dos negócios, que é o re-
sultado (lucro ou prejuízo) líquido do exercício. A demonstração deve ser estruturada de maneira
dedutiva, contemplando primeiramente todas as receitas (ganhos) e, em seguida, as despesas e
custos (gastos) ocorridos em um exercício, o que forma o resultado desse período.
A DRE proporciona o estudo da estrutura, formação e composição do resultado de um
determinado exercício social. Por meio de sua análise, pode-se compreender a performance eco-
nômica e financeira de qualquer atividade.
Os critérios de avaliação de Ativos e Passivos monetários e os critérios utilizados para as
provisões podem influenciar para mais ou para menos o resultado empresarial. Esse resultado vai
representar a maior ou menor possibilidade de a entidade manter-se no mercado, porque trata-se
da remuneração que ela está obtendo pelo capital aplicado.
58 Contabilidade

A Demonstração do Resultado é composta por receitas e despesas reconhecidas ou apropria-


das em obediência ao princípio da competência. Receita é a contrapartida que a empresa obtém
por uma venda efetuada ou um serviço prestado, e origina-se em geral da atividade comercial da
entidade, mas também pode ter origem em uma atividade secundária, a financeira. Nesses casos,
derivam de rendimentos obtidos de aplicações financeiras, de descontos em negociações com for-
necedores e também de juros cobrados dos clientes quando do recebimento de títulos com atraso.
Em um conceito mais sofisticado, a receita é considerada uma expressão monetária dos
produtos ou serviços agregados, transferidos por uma empresa a seus clientes em determinado
período. Baseando-se em conceitos clássicos, como o proposto por Hendrikssen e Breda (2001),
as receitas podem ser entradas e outros aumentos de Ativos de uma entidade ou liquidações de
seus Passivos (ou ambos) decorrentes da entrega/produção de bens, prestação de serviços e outras
atividades correspondentes a operações normais ou principais da entidade.
Deve-se diferenciar receita de ganhos, já que estes são periféricos às atividades da empresa.
Em outras palavras, os ganhos são eventuais e extraordinários.
A despesa é outro elemento componente do resultado das entidades, são recursos consumidos
no esforço da entidade para obtenção das receitas e devem ser reconhecidas no mesmo instante em
que as receitas são, tendo em vista que é essa confrontação que permite a mensuração do resultado
no tempo em que é gerado. As perdas são consumos extraordinários de recursos e assim como os
ganhos, são periféricas às atividades da empresa.
Os princípios de contabilidade determinam que a receita e os lucros devem ser reconheci-
dos nas demonstrações contábeis quando os seguintes critérios são atendidos (HENDRIKSSEN;
BREDA, 2001):
• deve ter sido acrescido valor pela empresa a seu produto;
• o nível da receita deve ser mensurável;
• a mensuração deve ser verificável e relativamente isenta de distorções;
• deve ser possível estimar as despesas correspondentes com um grau razoável de precisão.
Em geral, as receitas devem ser reconhecidas o mais rapidamente possível, após a mensura-
ção do aumento de valor, conforme o Quadro 1.
Quadro 1 – Do reconhecimento das receitas

Época de registro Critérios Exemplos


Contratos a longo prazo na constru-
Estabelecimento de um preço firme, baseado
ção civil ou itens que tenham cresci-
em um contrato ou em condições gerais de
Durante a produção mento natural e preços de mercado
negócio, ou ainda na existência de preços de
em qualquer fase em que se encon-
mercado em vários estágios de produção.
tram (boi, porco e outros).

Existência de preço de venda determinável


Metais preciosos, produtos agrícolas
Na conclusão da produção ou preço de mercado estável. Não há custo
e serviços.
substancial de venda.

(Continua)
Demonstrações Contábeis: Demonstração do Resultado do Exercício 59

Época de registro Critérios Exemplos


Preço determinado para o produto. Método
razoável de estimação do montante a ser
No momento da venda Maioria das vendas de mercadorias.
recebido. Estimação de todas as despesas
significativas associadas.

Impossível avaliar Ativos recebidos com grau


razoável de exatidão. Despesas adicionais Vendas à prestação, troca por Ativos
No momento do pagamento significativas prováveis, que não podem ser fixos sem valor determinável com
estimadas com grau razoável de precisão no precisão.
momento da venda.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Todos os relatórios contábeis se complementam com o objetivo de informar aos usuários


a situação econômica e financeira da empresa. Com a utilização da Demonstração do Resultado
do Exercício, podem-se efetuar análises, estudos e interpretações de variações ocorridas entre um
período e outro, analisar a evolução econômica e financeira do negócio, e elaborar novos planos e
objetivos, basta que informações e dados que estão disponíveis na contabilidade sejam averiguados.
O art. 187 da Lei n. 6.404/1976 determina que a Demonstração do Resultado do Exercício
deve ser estruturada na ordem de apresentação das receitas, custos e despesas. O parágrafo 1º do
artigo define que “na determinação do resultado do exercício serão computados: a) as receitas e os
rendimentos ganhos no período, independentemente da sua realização em moeda; e b) os custos,
despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, correspondentes a essas receitas e rendimentos”
(BRASIL, 1976).
O texto do artigo citado expressa fundamentalmente um dos pressupostos básicos presentes
no Pronunciamento Conceitual Básico (R1) – Estrutura conceitual para elaboração e divulgação
de relatório contábil-financeiro (CPC 00) –, denominado princípio da competência. Esse princípio
determina que haja adequado confronto entre receitas e despesas, conforme o documento:
As despesas devem ser reconhecidas na demonstração do resultado com base na
associação direta entre elas e os correspondentes itens de receita. Esse proces-
so, usualmente chamado de confrontação entre despesas e receitas (regime de
competência), envolve o reconhecimento simultâneo ou combinado das receitas
e despesas que resultem diretamente ou conjuntamente das mesmas transações
ou outros eventos. (CPC, 2013, p. 43)

Martins et al. (2013, p. 561) afirmam que por decorrência desse pressuposto:
a) a receita de venda é contabilizada por ocasião da transferência dos riscos e
benefícios, e não quando de seu recebimento;
b) a despesa de pessoal (salários e seus encargos) é reconhecida no mês em que
se recebeu tal prestação de serviços, mesmo sendo paga no mês seguinte;
c) uma compra de matéria-prima é contabilizada quando do recebimento da
mercadoria e não quando de seu pagamento;
d) a despesa do Imposto de Renda é registrada no mesmo período dos lucros a
que se refere e não no exercício seguinte, quando é declarada e paga.
60 Contabilidade

O Quadro 2 mostra como é a estrutura de uma DRE:


Quadro 2 – Estrutura da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)

Receita Bruta de vendas


(-) Deduções da Receita Bruta (Impostos sobre vendas, devoluções e abatimentos)

(=) Receita Líquida de Vendas

(-) Custo das mercadorias vendidas

(=) Resultado/Lucro Bruto (lucro ou prejuízo)

(-) Despesas operacionais


Despesas gerais e administrativas
Despesas comerciais
Outras receitas e despesas operacionais
Resultado da equivalência patrimonial

(=) Resultado operacional antes dos efeitos financeiros

Encargos financeiros líquidos (despesas financeiras deduzidas das receitas financeiras)

(=) Resultado operacional

(-) Outras receitas e outras despesas


(+/-) Vendas/Custos (Vendas de itens do não Circulante) resultado de operações descontinuadas

(=) Resultado do exercício (lucro ou prejuízo) antes dos tributos sobre o lucro

(-) Despesa com provisão para Imposto de Renda e contribuição social

Participações (debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias)

(=) Resultado Líquido do Exercício


Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 1976.

Pela estrutura da Demonstração do Resultado do Exercício, percebe-se que o critério de


disposição das contas considera a relação mais próxima e direta do recurso consumido com a
receita gerada.
Com efeito, quanto mais direto, proporcional e próximo da receita está o recurso despendi-
do para se obter essa receita, mais próximo dela será demonstrado. Dessa forma, visualiza-se mais
fácil e racionalmente a relação entre os recursos consumidos e os benefícios (receitas) gerados.
Por essa perspectiva, pode-se também atribuir responsabilidade a determinadas áreas, pelos
valores que compõem a estrutura desse relatório. Da receita bruta deduz-se os custos diretamente
associados à sua obtenção – nas indústrias o custo do produto vendido, no comércio o custo
da mercadoria vendida e nas prestadoras de serviços o custo do serviço prestado. Desse modo,
pode-se considerar que o lucro bruto é de responsabilidade direta das áreas comercial, produção
e compras.
Após o resultado bruto, temos a dedução dos gastos incorridos nas áreas de apoio adminis-
trativo, comercial e financeiro. Nesses departamentos, os recursos são consumidos no intuito de
remunerar os serviços necessários para se oferecer à empresa a condição de vender seus produtos
e administrar seu negócio.
Tem-se, então, que a responsabilidade pelo resultado operacional (lucro ou prejuízo) já abar-
ca uma gama maior de áreas, cada uma com suas atribuições específicas e sua contribuição ao
Demonstrações Contábeis: Demonstração do Resultado do Exercício 61

resultado. Vale dizer que todas as áreas e serviços são necessários e úteis para a empresa atingir
um resultado positivo, caso contrário, os recursos consumidos seriam efetivamente desperdiçados.
O esforço da empresa para gerar um resultado operacional positivo pode ficar comprometi-
do quando se considera a remuneração paga aos capitais de terceiros onerosos (como empréstimos
e financiamentos bancários), pois essa remuneração é fixa (possui juros e variação monetária) e
poderá consumir todo o resultado operacional, caso o montante seja elevado.
Do resultado operacional, parte será consumida pela tributação (tributos sobre o lucro).
Nesse caso, a empresa pouco ou nada poderá fazer para minimizar o efeito em seu resultado, já
que é obrigada a contribuir com o governo em um percentual fixo sobre o resultado operacional.
Sintetizando, pode-se afirmar que todos os agentes que contribuem para o resultado serão
remunerados – fornecedores, empregados, governo, bancos etc. – e o objetivo maior da empresa é
estabelecer um modelo de gestão que lhe permita gerar receitas sempre em volume superior à remu-
neração que deve pagar aos que contribuem direta e indiretamente para a consecução desse objetivo.
O Quadro 3 representa o conteúdo de cada uma das contas do Resultado:
Quadro 3 – Conteúdo das contas

É a soma de todas as vendas, à vista ou a prazo, realizadas pela empresa durante


todo o período. A receita de vendas é registrada na data de sua ocorrência, indepen-
Receita Bruta de Vendas
dentemente de ter sido recebida. O registro é feito sempre pelo valor total da venda,
sem dedução de impostos ou custos.

Representam os impostos que incidem sobre o faturamento da empresa. Os mais


Impostos sobre Vendas
comuns são ICMS, IPI, PIS, COFINS e ISS.

Pode aparecer com outros nomes: Vendas Líquidas ou Receita Operacional Líqui-
da. Contém as receitas provenientes das vendas de produtos ou da prestação de
serviços oriundos da atividade operacional da empresa, já deduzidas de impostos
Receita Líquida de Vendas e devoluções. O saldo dessa conta é resultado das vendas brutas deduzidas dos
impostos e devoluções.
É a conta de receita mais importante para a análise financeira, pois gera os recursos
financeiros para gerenciamento do fluxo de caixa.

Custos de produtos vendidos, São todos os custos incorridos no processo de fabricação do produto, na aquisição
serviços prestados e da mercadoria para revenda ou na prestação de serviços. Esse valor é sempre resul-
mercadorias vendidas tante da venda de estoque e representa o valor do custo do estoque que foi vendido.

Neste grupo deve ser demonstrado o ganho ou a perda bruta da atividade (seja
industrial, comercial ou de serviços). Mede a rentabilidade bruta, ou seja, o quanto
Resultado Bruto ou a empresa ganhou com a atividade de comprar, produzir ou comercializar as merca-
Lucro Bruto dorias ou produtos e, portanto, indica a possibilidade de cobertura dos demais gas-
tos (despesas operacionais, tributação, despesas financeiras), e de um resultado
líquido positivo, capaz de remunerar o capital que os sócios investiram na atividade.

Engloba todas as despesas relacionadas com a área administrativa da empresa,


como contabilidade, tesouraria, recursos humanos, financeiro, faturamento, contro-
ladoria, tecnologia de informação, diretoria administrativa/financeira, serviços ge-
rais, entre outros. As despesas incorridas nessas áreas, sejam salários, encargos,
Despesas gerais
material de escritório, despesas de viagens, condução, aluguéis e outras, são incluí-
e administrativas
das neste grupo, desde que se relacionem com a administração. Aqui é importante
que a empresa classifique os gastos também por área (centros de custos ou des-
pesas), para que possa acompanhar o comportamento desses valores não só por
natureza, mas pelos departamentos em que foram consumidos os recursos.
(Continua)
62 Contabilidade

São despesas relacionadas às atividades de comercialização, promoção e venda


dos produtos, tais como departamento de vendas, marketing, promoção e propa-
ganda. As despesas incorridas nessas áreas, sejam salários e comissões de ven-
Despesas comerciais dedores, encargos sociais, despesas de viagens, material de escritório, despesas de
propaganda, promoções de eventos, folhetos, aluguéis e outros, são incluídas nessa
conta desde que se relacionem à venda e comercialização dos produtos. Nesse gru-
po também se classifica a provisão para créditos de liquidação duvidosa.

É o resultado que mede a rentabilidade oriunda da atividade operacional da empre-


sa, nas atividades de compra, produção, vendas e administração da sua estrutura.
No Brasil optou-se por dividi-lo em dois, para que seja mensurado antes das recei-
tas e despesas financeiras (resultado operacional puro, sem a dependência dos
recursos de empréstimos e financiamentos bancários, por exemplo) e o resultado
operacional líquido dos efeitos financeiros.
Resultado operacional antes O resultado financeiro líquido (receitas financeiras deduzidas das despesas finan-
dos efeitos financeiros ceiras) é considerado operacional porque se entende que são valores que corres-
pondem a complementos da atividade operacional, tendo em vista que quando a
empresa paga despesas financeiras é porque buscou recursos financeiros para
complementar as fontes operacionais ou não tinha recursos financeiros para pa-
gar os Passivos nas datas contratadas e consumiu caixa, pagando juros por atra-
so. Por outro lado, quando obtém receitas financeiras, é porque, em regra, aplicou
excedentes de caixa (gerados por sua atividade) e obteve uma remuneração.

Resultam de encargos financeiros sobre empréstimos ou financiamentos bancá-


rios, empréstimos de coligadas ou sócios, juros de mora e multas. Normalmente
Despesas financeiras essas despesas são separadas em juros passivos e variações monetárias passi-
vas. Os juros são despesas reais e as variações monetárias passivas são a atuali-
zação monetária das dívidas.

Representam rendimentos sobre Ativos, como aplicações financeiras, emprésti-


mos concedidos e outros. Normalmente essas receitas são separadas em juros
Receitas financeiras
ativos e variações monetárias ativas. Os juros são receitas reais e as variações
monetárias ativas são a atualização monetária sobre esses ativos.

Constituídas pela atualização monetária ou variação cambial que incide sobre Ati-
Variações monetárias e vos, como aplicações financeiras e depósitos judiciais que estejam no Ativo Circu-
cambiais ativas lante ou no Ativo não Circulante. As variações monetárias são registradas mesmo
que não tenham sido recebidas até a data do Balanço.

Constituídas pelas variações monetárias ou variação cambial que incide sobre


Passivos, como empréstimos ou financiamentos bancários, créditos de coligadas
ou controladas, impostos atrasados, parcelas ou outras dívidas que estejam no
Variações monetárias e
Passivo Circulante ou no Passivo não Circulante. As variações monetárias são re-
cambiais passivas
gistradas mesmo que não tenham sido pagas até a data do Balanço. Elas dizem
respeito a atualizações monetárias de contratos financeiros, por exemplo, repre-
sentadas por índices como IGPM e TJLP.

Pode ser receita ou despesa. Representa o lucro ou prejuízo das empresas coli-
gadas ou controladas. Se for receita, as coligadas ou controladas deram lucro no
período. Se for despesa, as coligadas ou controladas deram prejuízos. O mesmo
Equivalência patrimonial
valor que aparece na DRE é somado (se for receita) ou deduzido (se for despesa)
da conta de investimentos no Ativo não Circulante, pois representa um ganho ou
uma perda desses investimentos.

É o resultado (lucro ou prejuízo) obtido ou incorrido em determinado período


Resultado Líquido do Período
(mês, trimestre ou ano), que corresponde à rentabilidade líquida antes da tributação.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Demonstrações Contábeis: Demonstração do Resultado do Exercício 63

Atividades
1. De acordo com a Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), é correta a classificação do Resultado
Financeiro Líquido que corresponde às receitas financeiras deduzidas das despesas financei-
ras – como operacional? Justifique.

2. Qual é o tratamento contábil dado no resultado aos encargos financeiros passivos prefixados?

3. Por que a Demonstração do Resultado do Exercício é estruturada de maneira dedutiva?


Justifique.

Referências
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17
dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.

BRASIL. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamentos Técnicos Contábeis 2012. Brasília, DF:
Conselho Federal de Contabilidade, 2013. Disponível em: http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/
uploads/2013/06/cpc_pronunciamentos_2012_web.pdf. Acesso em: 25 out. 2018.

HENDRIKSEN, E. S.; BREDA, M. F. V. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2001.

MARTINS, E. et al. Manual de Contabilidade societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
7
Operações contábeis

Existem algumas operações contábeis que em razão da relevância e de uma relativa com-
plexidade na definição dos valores envolvidos merecem um maior destaque. Afinal, quando se
verifica o impacto que as despesas com depreciação e o custo das mercadorias vendidas causam no
resultado das entidades, é prudente que se utilizem critérios extremamente consistentes e objetivos
no cálculo e contabilização desses valores.

7.1 Controle de estoques


Os estoques representam um dos principais ativos de uma entidade. Eles são classificados
no Ativo Circulante, compreendendo bens na forma de mercadorias para revenda (no caso das
empresas comerciais) e matérias-primas, e produtos em processo e produtos acabados (nas em-
presas industriais).
Representam, tanto na atividade industrial quanto na atividade comercial, um dos maiores
investimentos feitos em relação ao total dos recursos investidos pelas organizações. Ocorre que
após a venda dos itens desse estoque, deve-se transferir o valor investido nesses Ativos para o re-
sultado do exercício, contabilizando-o como custo das unidades vendidas.
O entendimento é relativamente simples: até a baixa por venda, a empresa tem um investi-
mento em um Ativo, ao passo que após a transferência desse Ativo ao cliente por meio da venda, ela
se desfaz do Ativo e seu consumo pela venda deve ser reconhecido como custo no momento dessa
transferência, o que denomina-se custo da mercadoria vendida (CMV).
O CMV é o valor que representa o custo das mercadorias que foram adquiridas para venda,
uma conta contábil que pertence à Demonstração do Resultado do Exercício.
O valor a ser atribuído aos itens baixados dependerá do critério utilizado para controle con-
tábil de entradas e saídas dos estoques, ou seja, do tipo de inventário utilizado.

7.1.1 Tipos de inventário


Inventário é um levantamento ou verificação utilizado normalmente para se certificar da
existência, da quantidade e da qualidade de um determinado item. Sua utilização nos estoques tem
como objetivo verificar e controlar os itens que compõem esses Ativos. Contabilmente, compreen-
dem o controle na entrada (em razão de compra ou devolução) e saída (em razão de venda ou outro
motivo) de um estoque.

7.1.1.1 Periódico
O inventário periódico é um tipo de inventário em que a empresa não realiza registros a cada
entrada e saída de itens do almoxarifado, por isso, quando é necessário apurar o valor do custo das
mercadorias vendidas, deve-se efetuar um inventário do estoque, apurando os saldos iniciais e finais,
contemplando também o valor das compras efetuadas no período de acordo com a seguinte fórmula:
66 Contabilidade

CMV = EI (estoque inicial) + Compras – EF (estoque final)

Primeiramente, apura-se o valor do estoque inicial – que corresponde ao estoque final do


período anterior –, somando-se a ele o valor das compras efetuadas no período por meio das notas
fiscais de entrada. A soma resulta no valor das mercadorias disponíveis para venda no período
(mês, trimestre ou ano).
Desse resultado, após a dedução do valor das mercadorias que ainda permanecem no esto-
que (estoque final), temos o valor das unidades baixadas por vendas no período.
Esse é um método pouco utilizado atualmente, porque a maioria das empresas já têm sis-
temas integrados de controle de estoque, o que lhes permite saber o custo da unidade vendida no
momento da operação de venda realizada.

7.1.1.2 Permanente
No controle permanente de estoque, a empresa conta com um sistema que lhe permite
verificar e controlar cada unidade adquirida e baixada do almoxarifado. Se esse sistema esti-
ver integrado à contabilidade, será ainda melhor, porque a cada movimentação gerada haverá a
contabilização concomitante nas contas contábeis do Ativo (estoque) e do Resultado (custo das
mercadorias vendidas).

7.2 Métodos de avaliação dos estoques quando da baixa das


mercadorias por venda
Com relação ao valor atribuído às unidades adquiridas, não há dificuldades em avaliar os
estoques, pois as informações são extraídas das notas fiscais de compras e esses valores constam no
controle de estoques utilizado. Almeida et al. (2014, p. 121) afirmam que “tão importante quanto a
escolha do método de controles de estoques é a definição do método de avaliação desses estoques”.
O problema maior na avaliação refere-se ao valor atribuído a cada unidade baixada
(vendida). A empresa adquire quantidades diferentes, em datas diversas e por valores diferentes
de uma mesma mercadoria, porém a dificuldade reside quando essa mercadoria é vendida e é
necessário atribuir a ela o valor de custo respectivo. Qual valor lhe atribuir como custo na baixa?
Lembre-se de que foram feitas diversas compras e por preços diferentes. Nesses casos, pode-se
utilizar um dos vários métodos que veremos a seguir.

7.2.1 Preço específico


Nesse método, valoriza-se cada unidade adquirida para o estoque pelo preço efetivamen-
te pago em cada item de um determinado produto. Esse método somente poderá ser utilizado
quando for possível levantar tal determinação do preço específico de cada unidade em estoque,
Operações contábeis 67

mediante identificação física desse bem. Um exemplo de atividade que poderá utilizar esse método
é uma revenda de veículos; nessa situação, a quantidade, o valor ou a própria característica da mer-
cadoria ou material permitem a identificação do valor de aquisição do bem, não sendo necessário
outro controle para se saber o seu custo de aquisição. Nesses casos é facilmente identificável o item
que está sendo baixado do estoque e seu respectivo valor de custo.
Imaginemos agora uma loja de calçados. No dia 15 de um determinado mês, a empresa
adquire 100 pares de um modelo específico cujo custo unitário foi de R$ 50,00. No dia 16 do
mesmo mês, faz mais uma compra de 120 pares ao custo unitário de R$ 52,00. No dia 20, vende
150 pares desse modelo por R$ 230,00. O valor da venda não é relevante para o controle de es-
toque, pois refere-se à receita da venda, porém quanto será o custo das mercadorias vendidas?
Qual será o valor unitário atribuído a cada par na baixa do estoque? É isso que estudaremos
agora em cada método de controle.

7.2.2 PEPS – Primeiro que entra é o primeiro que sai


Neste critério, o valor de custo atribuído a cada unidade baixada é relativo ao das primeiras
unidades adquiridas. Importante notar que o método não se refere à ordem física de baixa (ou seja,
a unidade entregue ao cliente será aquela escolhida por ele, não necessariamente a que primeiro
entrou no estoque), mas sim ao valor que será atribuído às unidades baixadas.
À medida que ocorrem as vendas ou o consumo, é feita a baixa e toma-se como referência
o valor das primeiras compras efetivadas daquele item, disso resulta que o estoque ficará sempre
avaliado aos custos das aquisições mais recentes.
Como consequência da utilização desse critério, o valor do estoque no Balanço ficará
ao custo das últimas compras, fato que em uma economia com algum nível de inflação tem o
seguinte reflexo:

Custo das mercadorias vendidas Menor


Estoque final Maior
Lucro Maior

7.2.3 UEPS – Último que entra é o primeiro que sai


Este critério é inverso ao PEPS, pois a baixa dos estoques ocorre pelo valor das últimas uni-
dades adquiridas. Desse modo, pode-se inferir que o custo das mercadorias vendidas, calculado
por este método, estará por um valor maior do que o do critério anterior.
O valor que compõe o CMV é aquele relativo às compras mais recentes (valor das últimas
entradas são atribuídos às mercadorias vendidas), permanecendo no estoque o valor das primeiras
unidades adquiridas.
68 Contabilidade

Custo das mercadorias vendidas Maior


Estoque final Menor
Lucro Menor

7.2.4 MPM – Média ponderada móvel


Segundo este critério, o valor a ser atribuído às unidades baixadas do estoque será função de
uma média entre o saldo final em reais dividido pelo saldo físico de estoque.
Em outras palavras, o valor unitário que será atribuído a cada unidade de mercadoria baixa-
da por venda será a média resultante da divisão do valor total do estoque em reais pela quantidade
de mercadorias em estoque.
Esse método é o mais utilizado no Brasil para avaliação dos estoques, pois evita controle de
custos por lotes de compras (como nos casos dos métodos PEPS e UEPS), porém exige um cuidado
maior no cálculo do custo médio a cada entrada de mercadorias. A seguir, veremos um compara-
tivo entre os métodos para melhor compreensão.

7.2.5 Comparação entre os métodos


Para facilitar a compreensão da influência dos três métodos no valor do custo da merca-
doria vendida na Demonstração do Resultado do Exercício e do estoque final sobre o Balanço
Patrimonial, utilizaremos um exemplo de uma empresa que efetuou as seguintes operações
com mercadorias:
• no dia 01/06, adquiriu 300 unidades de determinada mercadoria a um custo total de
R$ 6.000,00;
• no dia 04/06, adquiriu mais 400 unidades da mesma mercadoria a um custo total de
R$ 8.800,00 e;
• no dia 06/06, vendeu 350 unidades dessa mercadoria.
O valor da receita não interessa nesse momento para o cálculo do CMV, pois a receita é fun-
ção da venda e não tem relação com o valor do custo. Utilizando o Método PEPS:
Tabela 1 – Método PEPS (primeiro que entra é o primeiro que sai)

Dia Entrada Saída Saldo – Estoque final

Custo Custo Custo


– Quant. Total Quant. Total Quant. Total
unitário unitário unitário

1/jun. 300 R$ 20,00 R$ 6.000,00 – – – 300 R$ 20,00 R$ 6.000,00

– – – – – – – – – –

(Continua)
Operações contábeis 69

Dia Entrada Saída Saldo – Estoque final

Custo Custo Custo


– Quant. Total Quant. Total Quant. Total
unitário unitário unitário

4/jun. 400 R$ 22,00 R$ 8.800,00 – – – 300 R$ 20,00 R$ 6.000,00

– – – – – – – 400 R$ 22,00 R$ 8.800,00

6/jun. – – – 300 R$ 20,00 R$ 6.000,00 – – –

– – – – 50 R$ 22,00 R$ 1.100,00 350 R$ 22,00 R$ 7.700,00

– – – – – – – – – –

Custo da mercadoria vendida R$ 7.100,00

Fonte: Elaborada pelo autor.

Observe que as baixas foram efetuadas buscando-se o valor das primeiras entradas a custo
unitário de R$ 20,00. Neste caso, permaneceram no estoque os itens relativos às últimas entradas,
com custo unitário de R$ 22,00. A Tabela 2 mostra a aplicação do Método UEPS:
Tabela 2 – Método UEPS (último que entra é o primeiro que sai)

Dia Entrada Saída Saldo – Estoque final

Custo Custo Custo


– Quant. Total Quant. Total Quant. Total
unitário unitário unitário

1/jun. 300 R$ 20,00 R$ 6.000,00 – – – 300 R$ 20,00 R$ 6.000,00

– – – – – – – – – –

4/jun. 400 R$ 22,00 R$ 8.800,00 – – – 300 R$ 20,00 R$ 6.000,00

– – – – – – – 400 R$ 22,00 R$ 8.800,00

6/jun. – – – – – – 300 R$ 20,00 R$ 6.000,00

– – – – 350 R$ 22,00 R$ 7.700,00 50 R$ 22,00 R$ 1.100,00

– – – – – – – – – –

Custo da mercadoria vendida R$ 7.700,00

Fonte: Elaborada pelo autor.

Aqui as baixas foram efetuadas atribuindo aos itens o valor das últimas entradas a um custo
unitário de R$ 22,00 (houve um aumento de preço entre uma compra e outra). Permaneceram no
estoque os itens relativos às primeiras entradas, com custo unitário de R$ 20,00.
70 Contabilidade

Na Tabela 3 vemos a aplicação do Método MPM:


Tabela 3 – Método MPM (média ponderada móvel)

Dia Entrada Saída Saldo – Estoque final

Custo Custo Custo


– Quant. Total Quant. Total Quant. Total
unitário unitário unitário

1/jun. 300 R$ 20,00 R$ 6.000,00 – – – 300 R$ 20,00 R$ 6.000,00

– – – – – – – – – –

4/jun. 400 R$ 22,00 R$ 8.800,00 – – – 700 R$ 21,00 R$ 14.800,00

– – – – – – – – – –

6/jun. – – – 350 R$ 21,00 R$ 7.400,00 350 R$ 21,00 R$ 7.400,00

– – – – – – – – – –

Custo da mercadoria vendida R$ 7.400,00

Fonte: Elaborada pelo autor.

Esse é o critério mais utilizado, pois considera a média do custo entre o saldo atual do esto-
que e o valor das entradas, não necessitando de um controle por lote de compras, como exigido nos
métodos anteriores. A Tabela 4, finalmente, estabelece um comparativo entre os métodos:
Tabela 4 – Comparação entre os métodos

PEPS UEPS MPM


Estoque final R$ 7.700,00 R$ 7.100,00 R$ 7.400,00

Custo da mercadoria vendida R$ 7.100,00 R$ 7.700,00 R$ 7.400,00


Fonte: Elaborada pelo autor.

Comparando o efeito no Ativo e no resultado, pode-se inferir que em uma situação de leve
aumento no preço das mercadorias, tem-se:

PEPS Estoque final maior CMV menor Lucro maior


UEPS Estoque final menor CMV maior Lucro menor
MPM pelo próprio conceito, os valores são representativos de uma
média entre aqueles gerados pelos outros dois métodos.

Para concluir, podemos considerar que tão importante quanto o controle físico e contábil
dos estoques é o critério de atribuição de valor às unidades baixadas, pois o valor total das baixas
irá compor o CMV (o custo das mercadorias vendidas) e afetará o lucro da empresa consecutiva-
mente. Assim, cabe cuidado e planejamento ao se decidir por um ou outro método.
Operações contábeis 71

7.3 Depreciação
A palavra depreciação significa perda de valor de alguma coisa ou redução da capacidade de
geração de benefícios, no caso de ativos. A depreciação dos bens do Imobilizado, que corresponde
à diminuição do valor dos bens ali classificados, tem como causas fundamentais o uso, a ação da
natureza e a obsolescência.
Esses bens, sendo utilizados pela empresa, desgastam-se e perdem o valor. Contabilmente, a
depreciação significa a alocação (distribuição) em despesa do valor investido em um bem durante
o período de sua vida útil, que é uma estimativa.
O uso corresponde ao fator mais comum de depreciação, pois os bens do Imobilizado são
adquiridos com o objetivo de uma utilização que confira suporte físico às atividades da companhia.
Toma-se como exemplo um veículo adquirido, decorridos alguns anos, esse veículo, em utilização
diária, não terá o mesmo rendimento de quando estava novo, perdendo utilidade.
A ação da natureza exerce uma influência na redução de utilidade dos bens, posto que mes-
mo não sendo utilizado com frequência, um bem se desgasta e se consome naturalmente com o
passar do tempo. No exemplo anterior, o desgaste natural se daria em virtude de o veículo ficar
exposto ao sol, à chuva e a outros eventos que lhe reduziriam a capacidade de gerar benefícios.
Já a obsolescência diz respeito a uma perda de utilidade dos bens em relação a outros de
mesma natureza que estejam tecnologicamente mais avançados. Exemplo característico dos tem-
pos modernos são os computadores: a cada intervalo curto de tempo surgem novas e mais potentes
máquinas, com produtividade e eficiência superiores àquelas já existentes.
Os itens mais comuns que podem ser encontrados como imobilizados e estão sujeitos à
depreciação são, entre outros:
• computadores;
• imóveis (construções);
• instalações;
• móveis e utensílios;
• veículos;
• máquinas;
• equipamentos.
A empresa, ao efetuar um investimento de recursos em um bem que terá uma duração
prolongada por vários períodos contábeis, proporcionará direta ou indiretamente a geração de
receitas ao longo desse período, chamado de vida útil. Esse investimento é classificado como
Ativo Imobilizado.
Com base na definição de vida útil, a empresa define os percentuais de depreciação, por
exemplo: veículo – vida útil estimada 5 anos; percentual de depreciação 20% ao ano ou o equiva-
lente a 1,67% ao mês.
72 Contabilidade

O primeiro passo para se calcular a depreciação é estimar a vida útil do bem e fixar a taxa
anual de depreciação e o seu percentual equivalente ao mês, esses dados são estimados pela pró-
pria entidade. Os prazos anualmente considerados, bem como as respectivas taxas de depreciação
podem ser, por exemplo:
• imóveis, exceto terrenos: vida útil de 25 anos;
• percentual anual 4%;
• instalações: 10 anos – 10% ao ano;
• móveis e utensílios: 10 anos – 10% ao ano.
Estabelecido o tempo de vida útil do bem e a sua respectiva taxa de depreciação, deve-se
verificar qual método de depreciação será utilizado.
O método mais comum e prático é denominado de método linear, que consiste na utili-
zação de taxas constantes durante o tempo de vida útil estimado para o bem. Por exemplo, se o
tempo de vida útil de um bem foi determinado em 10 anos, a taxa anual de depreciação será de
10%. Este método também é conhecido como método das quotas constantes e, de acordo com
Almeida (2018, p. 69), ele “repousa na premissa de que a eficiência do equipamento é constante
durante os anos”.
A depreciação deve ser calculada e contabilizada mensalmente, assim o valor da quota men-
sal é obtido dividindo-se o valor da quota anual por 12. A depreciação pode ainda ser normal ou
acelerada, diferenciando-se tão somente em relação à taxa aplicada, que poderá variar conforme
o número de turnos de utilização do bem a ser depreciado (cada turno corresponde a um período
de oito horas).
Assim, se o bem for utilizado durante um único turno, a ele será aplicada a taxa normal; se
for utilizado durante dois turnos, será aplicada a taxa multiplicada pelo coeficiente 1,5; e se for uti-
lizado durante três turnos, será aplicada a taxa multiplicada pelo coeficiente 2,0. Veja um exemplo:
Tabela 5 – Controle do imobilizado e da depreciação

Depreciação Depreciação
Item Percentual Valor do bem
anual mensal

Veículo 20% R$ 10.000,00 R$ 2.000,00 R$ 166,67

Edificações 4% R$ 1.000.000,00 R$ 40.000,00 R$ 3.333,33

Móveis e utensílios 10% R$ 5.000,00 R$ 500,00 R$ 41,67

Totais – R$ 1.015.000,00 R$ 42.500,00 R$ 3.541,67


Fonte: Elaborada pelo autor.

É importante destacar que os percentuais de depreciação são relativos a estimativas feitas


pela empresa para os bens do imobilizado. Nesse caso, o valor total da depreciação contabilizado
no ano seria de R$ 42.500,00, porém deve-se sempre efetuar o seu cálculo e a sua contabiliza-
ção mensal, o que resultaria em R$ 3.541,67 mensais.
Operações contábeis 73

A contabilização deve ser efetuada sempre a débito da despesa de depreciação, com o crédi-
to correspondente na depreciação acumulada por natureza de Imobilizado, sendo esta uma conta
redutora da conta principal, que registra o bem no Imobilizado, conforme exemplo da Tabela 6.
Tabela 6 – Lançamento contábil da depreciação de veículos

Contas contábeis Débito Crédito

Despesa de depreciação (DRE) R$ 166,67 –

Depreciação acumulada – veículos (conta redutora do Ativo Imobilizado –


– R$ 166,67
Balanço Patrimonial)

Obs.: esse procedimento será utilizado para todos os bens depreciáveis.


Fonte: Elaborada pelo autor.

A conta creditada – depreciação acumulada de veículos – é patrimonial e representará sempre o


valor acumulado das depreciações efetuadas durante o tempo de vida útil do bem. Ela aparecerá ao lado
do Ativo, como conta retificadora da conta do Ativo Imobilizado que serviu de base para seu cálculo.

7.4 Provisão para créditos de liquidação duvidosa


As duplicatas a receber são avaliadas pelo seu valor provável de realização. Esse critério é
determinado pela Lei n. 6.404/1976:
No balanço, os elementos do Ativo serão avaliados segundo os seguintes critérios:
I - as aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, e em di-
reitos e títulos de créditos, classificados no Ativo Circulante ou no Realizável a
Longo Prazo:
[...]
b) pelo valor de custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme dis-
posições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização, quando
este for inferior, no caso das demais aplicações e os direitos e títulos de crédito.
(BRASIL, 1976)

Por valor provável de realização entende-se a quantidade de moeda que se poderá obter no
recebimento desses créditos. Sabe-se que todo o recebível tem um risco, maior ou menor, de não
realização financeira. As empresas devem, nesses casos, efetuar uma provisão para atender a uma
possível perda no recebimento desses créditos.
A provisão, feita com fundamento em uma estimativa de risco, será contabilizada como
redução do saldo dos créditos com clientes, com o objetivo de evidenciar que a carteira de créditos
está mensurada pelo seu valor provável de realização financeira. A contrapartida é um débito na
conta Despesa com provisão para créditos de liquidação duvidosa, que será lançada no grupo das
despesas comerciais na Demonstração do Resultado do Exercício.
Ao final de cada exercício social ou mensalmente – o que é mais indicado –, é permitido que
as empresas constituam a provisão para créditos de liquidação duvidosa. Contabilmente, pode-se
utilizar qualquer critério para quantificar o valor da perda estimada, já que a legislação fiscal não
aceita como dedutível essa despesa.
74 Contabilidade

O mais comum é a aplicação de um percentual sobre o montante dos direitos existentes nes-
sa data, embora o setor financeiro (que gerencia a carteira de clientes) e o departamento contábil
devam sempre efetuar uma análise criteriosa dessa carteira para que a provisão expresse o mais
fielmente possível esse valor potencial de perda.
A análise poderá levar em conta as perdas históricas, o perfil dos clientes com os quais
ocorreram as maiores e mais frequentes perdas e a situação atual de clientes que estejam em
dificuldades financeiras, ou até mesmo em vias de pedir recuperação judicial ou falência. O im-
portante é que o valor líquido expresso nos créditos a receber seja aquele que terá a maior pro-
babilidade de gerar entradas de caixa para a empresa.
Poderão compor a base de cálculo dessa provisão os direitos oriundos da exploração da ati-
vidade econômica da empresa, decorrentes da venda de bens nas operações de contas próprias, dos
serviços prestados e das operações de conta alheia (operações em que a empresa recebe comissões,
como representante de produtos de terceiros), normalmente contabilizados nas contas Duplicatas
a Receber ou Clientes.
Veja a seguir uma carteira de clientes com valores a receber totalizando R$ 450.000,00. Para
se calcular a estimativa de perda e contabilizar a respectiva provisão, é importante estabelecer um
diálogo com a área gestora da carteira (departamento financeiro) a fim de mensurar o risco de
perda com mais confiabilidade.
Tabela 7 – Contas a receber (Data-base: 31/12/2017)

Contas a receber

Clientes Valor

Mercedes R$ 25.000,00

Belgo R$ 31.360,00

Becton R$ 18.200,00

Fresenius R$ 11.400,00

Baxter R$ 6.340,00

Paraibuna R$ 17.700,00

Bandeirantes R$ 38.400,00

Derminas R$ 55.000,00

Aimorés R$ 61.600,00

Eldorado R$ 65.000,00

Madeireira R$ 35.000,00

Ind. Palmeiras R$ 85.000,00

TOTAL R$ 450.000,00

Fonte: Elaborada pelo autor.


Operações contábeis 75

Primeiro, é necessário classificar os valores por idade de vencimento e então já será


possível visualizar com mais clareza o risco de perda, posto que a análise poderá ser feita de
maneira individualizada.
Como trata-se de uma provisão, a empresa deverá estabelecer os critérios. Por exemplo,
poderia provisionar integralmente os valores relativos a créditos vencidos há mais de 60 dias;
provisionar perda de 30% dos créditos vencidos de 31 a 60 dias e para os demais saldos estabele-
cer um percentual (no exemplo a seguir, foi estabelecido 3%).
Esses parâmetros devem ser definidos com bastante cautela pelos departamentos contábil e
financeiro, com base, inclusive, em um percentual histórico de perda.
Tabela 8 – Duplicatas a receber por idade de vencimento (Data-base: 31/12/2017)

N. da Não Vencidas Vencidas Vencidas


Clientes Vencimento Total
duplicata vencidas 1 a 30 dias 31 a 60 dias 61 a 90 dias

Aimorés
35470 20/12/16 – R$ 61.600,00 – – R$ 61.600,00
Ltda.

Bandeirantes 35473 23/12/16 – R$ 38.400,00 – – R$ 38.400,00

Baxter Ltda. 35480 19/01/17 R$ 6.340,00 – – – R$ 6.340,00

Becton 35487 07/02/17 R$ 18.200,00 – – – R$ 18.200,00

Belgo 35490 13/02/17 R$ 31.360,00 – – – R$ 31.360,00

Derminas 35451 05/10/16 – – – R$ 55.000,00 R$ 55.000,00

Eldorado 35456 17/10/16 – – – R$ 65.000,00 R$ 65.000,00

Fresenius 35483 20/01/17 R$ 11.400,00 – – – R$ 11.400,00

Ind.
35458 20/10/16 – – – R$ 60.000,00 R$ 60.000,00
Palmeiras

Ind.
35467 25/11/16 – – R$ 25.000,00 – R$ 25.000,00
Palmeiras

Madereira
35465 19/11/17 – – R$ 35.000,00 – R$ 35.000,00
Ltda.

Mercedes 35485 03/02/17 R$ 25.000,00 – – – R$ 25.000,00

Paraibuna 35494 15/02/17 R$ 17.700,00 – – – R$ 17.700,00

Total R$ 110.000,00 R$ 100.000,00 R$ 60.000,00 R$ 180.000,00 R$ 450.000,00

Provisões (%) 3% 3% 30% 100% –

Provisões (Valores) R$ 3.300,00 R$ 3.000,00 R$ 18.000,00 R$ 180.000,00 R$ 204.300,00

Fonte: Elaborada pelo autor.


76 Contabilidade

Tabela 9 – Lançamento contábil da provisão para créditos de liquidação duvidosa com valor estimado de perda

Contas contábeis Débito Crédito


Despesa com provisão para créditos de liquidação duvidosa (DRE) R$ 204.300,00 –

Provisão para créditos de liquidação duvidosa (Conta redutora do


– R$ 204.300,00
Ativo – contas a receber – Balanço Patrimonial)
Fonte: Elaborada pelo autor.

Vale ressaltar que a análise da carteira de recebíveis deve ser efetuada mensalmente, aplicando
os ajustes, pois os riscos e valores se alteram com o tempo.
Se ocorrer a perda efetiva – por falência do cliente, por exemplo – ou caso se esgotem as
possibilidades de recebimento, deve ser efetuada a baixa dos respectivos títulos, pois eles deixam
de representar benefícios para empresa, isto é, entradas de caixa.
Para a contabilização da perda efetiva, considere que a possibilidade de recebimento dos cré-
ditos vencidos com o cliente Derminas, por exemplo, foi esgotada. Procede-se então à baixa efetiva:
Tabela 10 – Lançamento contábil de baixa

Contas contábeis Débito Crédito

Provisão para créditos de liquidação duvidosa (conta redu-


R$ 55.000,00 –
tora do Ativo – contas a receber – Balanço Patrimonial)

Duplicatas a receber – R$ 55.000,00


Fonte: Elaborada pelo autor.

A estimativa de perdas com créditos de clientes é um aspecto fundamental para se deter-


minar o valor realizável líquido da carteira de recebíveis. Por valor realizável líquido, podemos
entender como o valor que a empresa espera receber e gerar caixa no período.
Essa estimativa não deve ser responsabilidade de apenas um setor da empresa, como a con-
tabilidade ou a cobrança, mas sim produto do esforço dessas duas áreas para se proceder a melhor
avaliação da carteira com o objetivo de se estimar as perdas mais coerentes com os riscos que sem-
pre cercam esses ativos.

Atividades
1. Por que uma entidade deve constituir provisão para créditos de liquidação duvidosa?
Justifique.

2. Como devem ser definidos os percentuais de depreciação dos bens do Ativo Imobilizado?

3. Qual deve ser o procedimento contábil em relação aos créditos considerados incobráveis?

Referências
ALMEIDA. J. E. F. et al. Contabilidade das pequenas e médias empresas. Rio de Janeiro: Campus, 2014.
ALMEIDA, M. C. Contabilidade societária. São Paulo: Atlas, 2018.
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
17 dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.
8
Demonstração do Resultado Abrangente e
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido

8.1 Demonstração do Resultado Abrangente (DRA)


Quanto ao resultado das empresas, dentre as alterações trazidas pelas novas normas con-
tábeis – decorrentes das alterações na Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976) e dos Pronunciamentos
Técnicos do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC, 2013) – devem ser destacadas duas mo-
dificações substanciais: a supressão do resultado não operacional da estrutura da Demonstração do
Resultado do Exercício (DRE) e a inclusão do relatório denominado Demonstração do Resultado
Abrangente (DRA).
Considera-se que atualmente a entidade deve apresentar seu resultado em duas demonstra-
ções contábeis: a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e a Demonstração do Resultado
Abrangente (DRA).
A DRE apresenta as receitas e despesas reconhecidas no período segundo o regime de com-
petência. Já a DRA “apresenta as receitas, despesas e outras mutações que afetam o Patrimônio
Líquido, mas que não são reconhecidas (ou não foram reconhecidas ainda) na Demonstração do
Resultado do Exercício, conforme determinam Pronunciamentos, Interpretações e Orientações
que regulam a atividade contábil” (MARTINS et al., 2013, p. 566).
Ainda segundo os autores, essas receitas e despesas caracterizadas anteriormente são
identificadas como Outros Resultados Abrangentes. Ao estruturar a Demonstração do Resultado
Abrangente, deve-se iniciá-la com a última linha da Demonstração do Resultado. Em seguida são
incluídos todos os itens de outros resultados abrangentes, conforme classificação estabelecida pelo
Pronunciamento Técnico CPC 26 (CPC, 2013).
É sabido que a Demonstração do Resultado do Exercício deve incluir, no mínimo, os seguin-
tes elementos caracterizadores de receitas e despesas, conforme o Pronunciamento Técnico CPC
26 (CPC, 2013) em consonância com o art. 187 da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976):
(a) receitas;
(b) custo dos produtos, das mercadorias ou dos serviços vendidos;
(c) lucro bruto;
(d) despesas com vendas, gerais, administrativas e outras despesas e receitas
operacionais;
(e) parcela dos resultados de empresas investidas reconhecida por meio do mé-
todo de equivalência patrimonial;
(f) resultado antes das receitas e despesas financeiras;
(g) despesas e receitas financeiras;
(h) resultado antes dos tributos sobre o lucro;
78 Contabilidade

(i) despesa com tributos sobre o lucro;


(j) resultado líquido das operações continuadas;
(k) valor líquido dos seguintes itens:
(i) resultado líquido após tributos das operações descontinuadas;
(ii) resultado após os tributos decorrente da mensuração ao valor justo menos
despesas de venda ou na baixa dos ativos ou do grupo de ativos à disposição
para venda que constituem a unidade operacional descontinuada.
(l) resultado líquido do período. (CPC, 2013, p. 635)

De acordo com o mesmo Pronunciamento, a estrutura mínima da Demonstração do


Resultado Abrangente deve incluir os seguintes elementos:
(a) resultado líquido do período;
(b) cada item dos outros resultados abrangentes classificados conforme sua
natureza (exceto montantes relativos ao item (c);
(c) parcela dos outros resultados abrangentes de empresas investidas reconheci-
da por meio do método de equivalência patrimonial; e
(d) resultado abrangente do período. (CPC, 2013, p. 635)

Os outros resultados abrangentes compreendem os seguintes resultados, de acordo com o


CPC 26:
(a) variações na reserva de reavaliação, quando permitidas legalmente (ver
Pronunciamentos Técnicos CPC 27 – Ativo Imobilizado e CPC 04 – Ativo
Intangível);
(b) ganhos e perdas atuariais em planos de pensão com benefício definido reco-
nhecidos conforme item 93A do Pronunciamento Técnico CPC 33 – Benefícios
a empregados;
(c) ganhos e perdas derivados de conversão de demonstrações contábeis de ope-
rações no exterior (ver Pronunciamento Técnico CPC 02 – Efeitos das Mutações
nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis);
(d) ganhos e perdas na remensuração de ativos financeiros disponíveis para
venda (ver Pronunciamento Técnico CPC 38 – Instrumentos Financeiros:
Reconhecimento e Mensuração);
(e) parcela efetiva de ganhos ou perdas advindos de instrumentos de hedge em
operação de hedge de fluxo de caixa (ver Pronunciamento Técnico CPC 38).
(CPC, 2013, p. 624)

A Demonstração do Resultado Abrangente é uma importante ferramenta de análise geren-


cial, pois, respeitando o princípio de competência de exercícios, atualiza o capital próprio dos só-
cios por meio do registro das receitas e despesas incorridas que sejam de realização financeira
“incerta” no Patrimônio Líquido (e não no resultado), uma vez que decorrem de investimentos de
longo prazo sem data prevista de resgate ou outra forma de alienação.
Na prática, o resultado abrangente visa apresentar os ajustes efetuados no Patrimônio
Líquido como se fosse um lucro da empresa. Por exemplo, a conta ajuste da avaliação patrimonial
registra as modificações de Ativos e Passivos a valor justo, o que, pelo princípio da competência,
não transita pelo resultado, ou seja, não estão incluídos na DRE.
Demonstração do Resultado Abrangente e Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido 79

No entanto, no resultado abrangente, essas variações são computadas, a fim de apresentar


o lucro o mais verdadeiro possível no sentido econômico, por isso o uso da palavra abrangente,
que representa um resultado global da entidade. O resultado abrangente é a mutação que ocorre
no patrimônio líquido durante um período resultante de transações e outros eventos que não se
originaram de operações com os sócios na qualidade de proprietários.
As normas internacionais, conhecidas pela sigla IFRS (International Financial Reporting
Standards) e divulgadas no Brasil por meio da Lei n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007), são a inspira-
ção para a institucionalização da Demonstração do Resultado Abrangente. As normas indicam
que a Demonstração do Resultado Abrangente poderá ser apresentada como continuidade da
Demonstração do Resultado do Exercício; no Brasil, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis
(CPC, 2013) determinou que ela seja apresentada como um relatório à parte.
No modelo apresentado a seguir, que não foi bem recepcionado no Brasil, seria possível
apresentar os dois relatórios em uma só estrutura. Contudo, de acordo com as conveniências brasi-
leiras, a estruturação da DRA deve ser iniciada com base no lucro líquido do período.
Tabela 1 – Modelo de DRA segundo as normas internacionais

Receita de vendas – R$ 1.879.400,00

Tributos sobre vendas – (R$ 300.000,00)

Receita líquida de vendas – R$ 1.579.400,00

Custos dos produtos vendidos – (R$ 820.000,00)

Lucro bruto – R$ 759.400,00

Despesas com vendas – (R$ 180.000,00)

Despesas administrativas – (R$ 125.000,00)

Receita de equivalência patrimonial – R$ 35.000,00

Lucro antes das receitas e despesas financeiras – R$ 489.400,00

Receitas financeiras – R$ 93.000,00

Despesas financeiras – (R$ 124.500,00)

Lucro antes dos tributos sobre o lucro – R$ 457.900,00

Tributos sobre o lucro – (R$ 185.900,00)

Lucro líquido do período – R$ 272.000,00

Parcela dos sócios da controladora R$ 250.000,00 –

Parcela dos não controladores R$ 22.000,00 –

Ajustes instrumentos financeiros – (R$ 60.000,00)

Tributos sobre ajustes instrumentos financeiros – R$ 20.000,00

Equivalência patrimonial sobre ganhos abrangentes de coligadas – R$ 30.000,00

(Continua)
80 Contabilidade

Ajustes de conversão do período – R$ 260.000,00

Tributos sobre ajustes de conversão do período – (R$ 90.000,00)

Outros resultados abrangentes antes reclassificação – R$ 160.000,00

Ajustes de instrumentos financeiros reclassificados para resultado – R$ 10.600,00

Outros resultados abrangentes – R$ 170.600,00

Parcela dos sócios da controladora R$ 164.600,00 –

Parcela dos não controladores R$ 6.000,00 –

Resultado abrangente total – R$ 442.600,00

Parcela dos sócios da controladora R$ 414.600,00 –

Parcela dos não controladores R$ 28.000,00 –


Fonte: Elaborada pelo autor.

As pequenas e médias empresas – assim consideradas pelo Pronunciamento Técnico que


trata da contabilidade específica para elas, denominado CPC-PME (CPC, 2009) – também devem
apresentar a Demonstração do Resultado Abrangente.
Segundo o Pronunciamento Técnico CPC 21, a apresentação do resultado abrangente deve
ser feita separadamente da Demonstração do Resultado do Exercício, porém “a demonstração
do resultado abrangente pode ser apresentada como parte da demonstração das mutações do
Patrimônio Líquido” (CPC, 2013, p. 522).
Como visto na Tabela 1, a entidade deve divulgar o montante do efeito tributário relativo
a cada componente dos outros resultados abrangentes na DRA. Dessa forma, os valores incluídos
no relatório devem estar líquidos dos seus respectivos efeitos tributários ou, se a empresa preferir,
esses efeitos tributários poderão ser apresentados em uma linha específica da DRA. Por efeito tri-
butário entende-se a tributação relativa ao imposto de renda pessoa jurídica e a contribuição social
sobre o lucro líquido que incidirá nesses valores futuramente.
A entidade deve divulgar em notas explicativas os ajustes de reclassificação relativos a com-
ponentes dos outros resultados abrangentes.

8.2 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)


Antes de estudarmos a DMPL, é oportuno esclarecer que a Lei n. 6.404/1976 (BRASIL,
1976), em seu art. 176, não inclui essa demonstração ao determinar os relatórios contábeis obriga-
tórios, determinando que seja elaborada a Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados.
Entretanto, sendo a DMPL mais abrangente – pois contempla, como o próprio nome escla-
rece, a movimentação de todas as contas do Patrimônio Líquido – que a DLPA – que demonstra a
movimentação de apenas uma conta do Patrimônio Líquido, a linha relativa ao lucro ou prejuízo
Demonstração do Resultado Abrangente e Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido 81

acumulado –, o art. 186, parágrafo 2º da lei indica que: “A demonstração de lucros ou prejuízos
acumulados deverá indicar o montante do dividendo por ação do Capital Social e poderá ser in-
cluída na Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, se elaborada e publicada pela com-
panhia” (BRASIL, 1976).
Nesse sentido, as empresas preferem elaborar a Demonstração das Mutações do Patrimônio
Líquido (DMPL), que é a demonstração que apresenta o lucro ou o prejuízo do período; os itens
de receita e despesa reconhecidos diretamente no Patrimônio Líquido do período; os efeitos das
alterações na política contábil e a correção de erros reconhecidos no período; e as quantias
das transações com sócios, em condição de sócios, durante o período. A entidade deve apresen-
tar a DMPL contendo:
(a) o resultado abrangente do período, apresentando separadamente o mon-
tante total atribuível aos proprietários da entidade controladora e o montante
correspondente à participação dos não controladores;
(b) para cada componente do Patrimônio Líquido, os efeitos da aplicação
retrospectiva ou da reapresentação retrospectiva, reconhecidos de acordo
com o Pronunciamento Técnico CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança de
Estimativa e Retificação de Erro;
(c) [eliminado];
(d) para cada componente do Patrimônio Líquido, a conciliação do saldo
no início e no final do período, demonstrando separadamente as mutações
decorrentes
(i) do resultado líquido;
(ii) de cada item dos outros resultados abrangentes; e
(iii) de transações com os proprietários realizadas na condição de proprie-
tário, demonstrando separadamente suas integralizações e as distribuições
realizadas, bem como modificações nas participações em controladas que
não implicaram perda do controle. (CPC, 2013, p. 639)

A DMPL, embora não seja uma demonstração contábil obrigatória por força da Lei n.
6.404/1976 (BRASIL, 1976), teve sua publicação exigida para as companhias abertas por disposição
da Comissão de Valores Mobiliários1 (CVM) na Instrução n. 59/1986 (BRASIL, 1986).
No entanto, a partir do vigor do Pronunciamento CPC 26 – Apresentação das Demonstrações
Contábeis (BRASIL, 2013), aprovado pela Deliberação n. 676/2011 (BRASIL, 2011) e tornado obri-
gatório para as demais entidades, pela Resolução n. 1.185/2009 (BRASIL, 2009), pode-se dizer que
a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido já faz parte do conjunto de demonstrações
obrigatórias para todas as empresas.

1 A Comissão de Valores Mobiliários é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Fazenda, criada com o obje-
tivo de fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no Brasil.
82 Contabilidade

Trata-se de uma demonstração analítica e abrangente que demonstra a movimentação de


todas as contas do Patrimônio Líquido durante o Exercício Social, inclusive a formação e utilização
das reservas não originadas do lucro, indicando claramente a origem e o respectivo valor de cada
aumento ou redução no Patrimônio Líquido durante um determinado exercício.
A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido complementa os demais dados cons-
tantes do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício, indicando igualmente
a constituição e a utilização de todas as reservas, sendo útil para o cálculo do dividendo obrigatório.
Outra vantagem da DMPL está ligada àquelas empresas que possuem investimentos perma-
nentes avaliados pelo método da equivalência patrimonial, pois se essas entidades – coligadas ou
controladas – disponibilizarem esse relatório para a investidora, ficará mais fácil e prática a apura-
ção do resultado da equivalência patrimonial.

8.2.1 Mutações nas contas patrimoniais


Conforme Martins et al. (2013, p. 641), as contas que pertencem ao Patrimônio Líquido
podem ser afetadas por inúmeras variações, por exemplo:
(a) Itens que afetam o patrimônio total:
1. Acréscimo pelo lucro ou redução pelo prejuízo líquido do exercício.
2. Redução por dividendos.
3. Redução por pagamento ou crédito de juros sobre o capital próprio.
4. Acréscimo por reavaliação de ativos (quando permitida por Lei).
5. Acréscimo por doações e subvenções para investimentos recebidos (após
transitarem pelo resultado).
6. Acréscimo por subscrição e integralização de capital.
7. Acréscimo pelo recebimento de valor que exceda o valor nominal das
ações integralizadas ou o preço de emissão das ações sem valor nominal.
8. Acréscimo pelo valor da alienação de partes beneficiárias e bônus
de subscrição.
9. Acréscimo por prêmio recebido na emissão de debêntures (após transitar
pelo resultado).
10. Redução por ações próprias adquiridas ou acréscimo por sua venda.
11. Acréscimo ou redução por ajuste de exercícios anteriores.
12. Redução por reversão da Reserva de Lucros a Realizar para a conta de
dividendos a pagar.
13. Acréscimo ou redução por outros resultados abrangentes.
Demonstração do Resultado Abrangente e Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido 83

14. Redução por gastos na emissão de ações.


15. Ajuste de avaliação patrimonial.
16. Ganhos ou perdas acumulados na conversão etc.
(b) Itens que não afetam o total do patrimônio
1. Aumento de capital com utilização de lucros e reservas.
2. Apropriações do lucro líquido do exercício, por meio da conta Lucros
Acumulados, para formação de reservas, como Reserva Legal, Reserva de
Lucros a Realizar, Reserva para Contingência e outras.
3. Reversões de reservas patrimoniais para a conta de Lucros ou Prejuízos
Acumulados (conta transitória).
4. Compensação de prejuízos com Reservas e outras.

Note que as transações listadas são aquelas mais comumente executadas pelas empresas,
destacando também que algumas delas não influenciam no valor do Patrimônio Líquido, pois se
compensam, como no exemplo em que há um aumento do Capital Social pela incorporação de
reservas de lucros.
Como são valores constantes do Patrimônio Líquido, quando é feita a incorporação ao capi-
tal há apenas uma transferência interna, o que não modifica a riqueza líquida da empresa, porém
deve constar da DMPL.

8.2.2 Estruturação da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido


É relativamente simples a estruturação da Demonstração das Mutações do Patrimônio
Líquido, basta que ela relacione, de maneira ordenada e resumida, toda a movimentação ocorrida
em determinado Exercício Social (já que em regra essa demonstração é elaborada ao final de cada
ano) nas diversas contas contábeis que representam elementos do Patrimônio Líquido, como: ca-
pital, reservas de capital, reservas de lucros, reservas de reavaliação (quando permitido por lei),
ações ou quotas em tesouraria, ajustes de avaliação patrimonial e lucros ou prejuízos acumulados.
Em uma planilha ou papel de trabalho, utiliza-se uma coluna para cada uma das contas do
Patrimônio Líquido da empresa, incluindo uma conta total, que representará a soma dos saldos ou
transações de todas as contas individuais.
Os acréscimos e reduções de valores causados pelas transações são transcritos nas colunas
respectivas. Por exemplo, se há um aumento de Capital Social com lucros e reservas, na linha cor-
respondente a essa transação transcreve-se o aumento no valor do Capital Social. Na mesma linha
demonstram-se também reduções dos valores utilizados para o aumento de Capital Social nas con-
tas de reservas e lucros. Em outras palavras, nas mesmas linhas são evidenciadas, de certa forma, as
origens e aplicações de recursos envolvendo elementos do Patrimônio Líquido.
A Tabela 2 mostra um modelo de DPML de empresa com o capital aberto. Em seguida,
na Tabela 3, é possível observar um exemplo de Balanço Patrimonial:
84

Tabela 2 – Modelo de DPML de empresa de capital aberto

Reservas
– Reservas de lucros –
Contabilidade

de capital

Incentivos Reserva Reserva Lucros Ações em


Em 31/12/2015 Capital Total
fiscais legal investimentos acumulados tesouraria

Saldos iniciais R$ 1.854.507,00 R$ 162.209,00 R$ 281.037,00 R$ 1.927.411,00 – (R$ 8.986,00) R$ 4.216.178,00

Lucro líquido – – – – R$1.148.333,00 – R$1.148.333,00

Constituição
– – R$ 57.417,00 R$ 605.916,00 (R$ 663.333,00) – –
de reservas

Dividendos
– – – – (R$ 485.000,00) – (R$ 485.000,00)
propostos

Em 31/12/2016 R$ 1.854.507,00 R$ 162.209,00 R$ 338.454,00 R$ 2.533.327,00 – (R$ 8.986,00) R$ 4.879.511,00

Lucro líquido – – – – R$ 1.020.617,00 – R$ 1.020.617,00

Constituição
– – R$ 51.031,00 R$ 470.686,00 (R$ 521.717,00) – –
de reservas

Capitalização
R$ 1.017.274,00 – – (R$ 1.017.274,00) R$ 2.015,00 – R$ 2.015,00
de reservas

Dividendos
– – – – (R$ 498.900,00) – (R$ 498.900,00)
propostos

Em 31/12/2017 R$ 2.871.781,00 R$ 162.209,00 R$ 389.485,00 R$ 1.986.73,009 R$ 2.015,00 R$ 8.986,00 R$ 5.403.243,00

Fonte: Elaborada pelo autor.


Tabela 3 – Exemplo de Balanço Patrimonial

Balanço Patrimonial

Ativo 31/12/2017 31/12/2016 Passivo 31/12/2016 31/12/2017

Ativo Circulante R$ 3.702.013,00 R$ 4.157.790,00 Passivo Circulante R$ 2.058.821,00 R$ 2.536.801,00


Disponível R$ 1.049.125,00 R$ 1.794.416,00 Fornecedores R$ 747.453,00 R$ 612.568,00
Aplicações financeiras R$ 584.687,00 R$ 598.173,00 Obrigações sociais R$ 224.095,00 R$ 175.584,00
Clientes R$ 1.676.167,00 R$ 1.437.212,00 Obrigações fiscais R$ 440.247,00 R$ 532.120,00
Estoques R$ 103.802,00 R$ 121.424,00 Provisões e outros R$ 647.026,00 R$ 1.216.529,00
Outros R$ 288.232,00 R$ 206.565,00 – – –

Ativo não Circulante R$ 15.419.650,00 R$ 13.701.642,00 Passivo não Circulante R$ 4.993.314,00 R$ 4.026.805,00
Empréstimos/
Realizável a Longo Prazo R$ 5.939.512,00 R$ 4.805.293,00 R$ 2.057.985,00 R$ 1.280.982,00
Financiamentos
Investimentos R$ 549.158,00 R$ 483.450,00 Provisões e outros R$ 2.935.329,00 R$ 2.745.823,00
Imobilizado R$ 7.209.123,00 R$ 6.663.945,00 – – –
Intangível R$ 1.721.857,00 R$ 1.748.954,00 – – –

– – – Patrimônio Líquido R$ 12.069.528,00 R$ 11.295.826,00

Atribuível a acionistas
– – – R$ 11.826.694,00 R$ 11.030.123,00
controladores

– – – Capital Social R$ 6.910.000,00 R$ 6.910.000,00


Ajustes de avaliação
– – – R$ 1.457.081,00 R$ 1.559.516,00
patrimonial

– – – Reserva legal R$ 536.187,00 R$ 478.302,00


Reserva de retenção
– – – R$ 2.923.396,00 R$ 2.082.305,00
de lucros

Atribuível a acionistas
– – – R$ 242.834,00 R$ 265.703,00
não controladores
Demonstração do Resultado Abrangente e Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido

Total do Ativo R$ 19.121.663,00 R$ 17.859.432,00 Total do Passivo R$ 19.121.663,00 R$ 17.859.432,00

Fonte: Elaborada pelo autor.


85
86 Contabilidade

Como em todos os relatórios obrigatórios por lei ou por norma específica da CVM ou do
CFC, os valores devem ser apresentados comparativamente ao exercício anterior. Vê-se que a
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido apresenta de maneira clara e objetiva as modi-
ficações ocorridas no valor total do Patrimônio Líquido, o que não seria possível em outro relatório.
Para melhor compreensão da importância de cada demonstração e da integração dos relató-
rios objetos de estudo neste capítulo, fizemos uso de um exemplo.
Veja que foram demonstrados o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado
do Exercício, a Demonstração do Resultado Abrangente e a Demonstração das Mutações do
Patrimônio Líquido.
O Patrimônio Líquido da empresa experimentou um crescimento do ano de 2016 para 2017
no valor de R$ 773.702,00 (em 31/12/2016 era de R$ 11.295.826,00, em 31/12/2017 passou a ser de
R$ 12.069.528,00). Para o usuário (acionista, sócio, analistas etc.) ou um simples leitor da demons-
tração, a mera diferença matemática não traz explicações objetivas e úteis sobre as variáveis do gru-
po que causaram a evolução do valor de um período para o outro. Portanto, é essa diferença entre
Patrimônios Líquidos de períodos distintos que será explicada pela Demonstração das Mutações
do Patrimônio Líquido.
A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido apresenta como primeira conta o lu-
cro do exercício, informação oriunda da Demonstração do Resultado, como veremos na Tabela 4.
Tabela 4 – Exemplo de Demonstração do Resultado do Exercício

Exercícios findos em 31/12/2017 31/12/2016


Receita Operacional Líquida R$ 7.776.165,00 R$ 6.901.113,00

Custo dos Produtos Vendidos (R$ 5.457.015,00) (R$ 4.976.143,00)

Outras receitas (despesas) operacionais (R$ 960.002,00) (R$ 892.663,00)


Despesas com vendas (R$ R$ 113.764,00) (R$ 62.466,00)

Despesas gerais e administrativas (R$ 461.452,00) (R$ 353.626,00)

Outras receitas (despesas) líquidas (R$ 440.440,00) (R$ 575.908,00)

Resultado da equivalência patrimonial R$ 55.654,00 R$ 99.337,00

Lucro antes do resultado financeiro e dos tributos R$ 1.359.148,00 R$ 1.032.307,00

Resultado financeiro R$ 224.768,00 R$ 348.425,00


Receitas financeiras R$ 577.532,00 R$ 652.231,00

Despesas financeiras (R$ 352.764,00) (R$ 303.806,00)

Lucro operacional R$ 1.583.916,00 R$ 1.380.732,00

Imposto de Renda e Contribuição Social (R$ 407.062,00) (R$ 370.451,00)

Lucro líquido do exercício R$ 1.176.854,00 R$ 1.010.281,00


Atribuível aos acionistas da empresa controladora R$ 1.157.690,00 R$ 987.807,00

Atribuível aos acionistas não controladores R$ 19.164,00 R$ 22.474,00


Fonte: Elaborada pelo autor.
Agora, veja a Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido para compreensão e análise mais segura do comportamento dos capitais dos sócios
entre dois ou mais períodos contábeis:
Tabela 5 – Exemplo de Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido

Atribuível aos acionistas da empresa controladora

– Reservas de lucros – – –

Reservas Ajustes de avalia- Reserva de reten- Lucros Total Acionistas não Total
Capital Social Reserva legal
de capital ção patrimonial ção de lucros acumulados controladora controladores consolidado

Saldo em 1º de
R$ 4.460.00,00 R$ 838.340,00 R$ 1.660.634,00 R$ 428.912,00 R$ 2.908.112,00 – R$ 10.295.998,00 R$ 228.365,00 R$ 10.524.36,003
janeiro de 2016

Lucro Líquido do
– – – – – R$ 987.807,00 R$ 987.807,00 R$ 22.474,00 R$ 1.010.281,00
Exercício

Outros resultados
– – – – – – – – –
abrangentes

Ajustes relativos a
ativos financeiros
– – R$ 1.999,00 – – – R$ 1.999,00 – R$ 1.999,00
disponíveis para
venda

Resultado abran-
gente total do – – R$ 1.999,00 – – R$ 987.807,00 R$ 989.806,00 R$ 22.474,00 R$ 1.012.280,00
exercício

Realização dos
ajustes de avalia- – – (R$ 103.117,00) – – R$ 103.117,00 – – –
ção patrimonial
Demonstração do Resultado Abrangente e Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido

(Continua)
87
88

Atribuível aos acionistas da empresa controladora

– Reservas de lucros – – –

Reservas Ajustes de avalia- Reserva de reten- Lucros Total Acionistas não Total
Capital Social Reserva legal
de capital ção patrimonial ção de lucros acumulados controladora controladores consolidado

Aumento de
R$ 2.450.000,00 (R$ 838.340,00) – – (R$ 1.611.660,00) – – – –
Contabilidade

Capital Social

Adiantamento para
futuro aumento de – – – – – – – R$ 30.813,00 R$ 30.813,00
capital

Reserva legal – – – R$ 49.390,00 – (R$ 49.390,00) – – –

Juros sobre capital


– – – – – (R$ 200.000,00) (R$ 200.000,00) – (R$ 200.000,00)
próprio

Dividendos – – – – – (R$ 55.681,00) (R$ 55.681,00) (R$ 15.949,00) (R$ 71.630,00)

Reserva de reten-
– – – – R$ 785.853,00 (R$ 785.853,00) – – –
ção de lucros

Saldo em 31 de
R$ 6.910.000,00 – R$ 1.559.516,00 R$ 478.302,00 R$ 2.082.305,00 – R$ 11.030.123,00 R$ 265.703,00 R$ 11.295.826,00
dezembro de 2016

Lucro líquido do
– – – – – R$ 1.157.690,00 R$ 1.157.690,00 R$ 19.164,00 R$ 1.176.854,00
exercício

Outros resultados
– – – – – – – – –
abrangentes

Ajustes relativos a
ativos financeiros
– – R$ 876,00 – – – R$ 876,00 – R$ 876,00
disponíveis para
venda
(Continua)
Atribuível aos acionistas da empresa controladora

– Reservas de lucros – – –

Reservas Ajustes de avalia- Reserva de reten- Lucros Total Acionistas não Total
Capital Social Reserva legal
de capital ção patrimonial ção de lucros acumulados controladora controladores consolidado

Resultado
abrangente total – – R$ 876,00 – – R$ 1.157.690,00 R$ 1.158.566,00 R$ 19.164,00 R$ 1.177.730,00
do exercício

Realização dos
ajustes de avalia- – – (R$ 103.311,00) – – R$ 103.311,00 – – –
ção patrimonial

Devolução de
adiantamento para
– – – – – – – (R$ 30.813,00) (R$ 30.813,00)
futuro aumento de
capital

Reserva legal – – – R$ 57.885,00 – (R$ 57.885,00) – – –

Dividendos – – – – – (R$ 336.216,00) (R$ 336.216,00) (R$ 11.220,00) (R$ 347.436,00)

Reserva de reten-
– – – – R$ 841.121,00 (R$ 866.900,00) (R$ 25.779,00) – (R$ 25.779,00)
ção de lucros

Saldo em 31 de de-
R$ 6.910.000,00 – R$ 1.457.081,00 R$ 536.187,00 R$ 2.923.396,00 – R$ 11.826.694,00 R$ 242.834,00 R$ 12.069.528,00
zembro de 2017
Fonte: Elaborada pelo autor.
Demonstração do Resultado Abrangente e Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido
89
90 Contabilidade

Percebe-se agora que fica fácil explicar a variação no Patrimônio Líquido, lembrando que
aqui só interessa aquela mutação que altera o valor final do Patrimônio Líquido, pois as variações
que se compensam dentro do grupo não influenciam, obviamente, na definição do seu saldo final.
Como exemplo podemos citar a constituição da reserva legal no valor de R$ 57.885,00 e a
reserva de retenção de lucros no valor de R$ 866.900,00. O aumento na riqueza líquida do sócio
(variação do Patrimônio Líquido de 2016 para 2017) deveu-se basicamente ao acréscimo pelo lu-
cro do período, somado a outros resultados abrangentes – R$ 1.177.730,00 (DRA) – e a redução
pela proposição de dividendos no valor de R$ 347.436,00 (contrapartida do Passivo Exigível).
Observe o valor de R$ 876,00; relativo a outros resultados abrangentes, classificado no
Patrimônio Líquido e que será desmembrado na próxima demonstração, a própria DRA.
Tabela 6 – Exemplo de Demonstração do Resultado Abrangente

31/12/2017 31/12/2016

Lucro líquido do exercício R$ 1.176.854,00 R$ 1.010.281,00

Outros resultados abrangentes – –

Ganhos (perdas) com Ativos financeiros disponíveis para venda – –

Aplicações financeiras R$ 2.962,00

Concessões (R$ 7.282,00) R$ 3.029,00

Outros investimentos R$ 5.647,00 0

Tributos sobre ganhos (perdas) com Ativos financeiros (R$ 451,00) (R$ 1.030,00)

Total de outros resultados abrangentes (líquido de impostos) R$ 876,00 R$ 1.999,00

Resultado abrangente do período R$ 1.177.730,00 R$ 1.012.280,00

Atribuível aos acionistas da empresa controladora R$ 1.158.566,00 R$ 989.806,00

Atribuível aos acionistas não controladores R$ 19.164,00 R$ 22.474,00


Fonte: Elaborada pelo autor.

Vamos nos fixar na compreensão do ano de 2017, cujo valor líquido total de outros resulta-
dos abrangentes foi de R$ 876,00. A Demonstração do Resultado Abrangente inicia-se com o valor
do lucro líquido do exercício.
No caso em destaque, o valor dos outros resultados abrangentes foi relativo ao ajuste de
avaliação patrimonial, decorrente de ganhos e perdas na remensuração de Ativos financeiros dis-
poníveis para venda, conforme preconiza textualmente o CPC 26 (BRASIL, 2013).
Como o valor não foi significativo, a influência do resultado abrangente no resultado do
período (que foi incluído no Patrimônio Líquido) não foi relevante, não requerendo, nesse caso,
mais considerações.
Demonstração do Resultado Abrangente e Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido 91

É importante lembrar também que esses valores que compõem o resultado abrangente
são de difícil e incerta realização financeira, razão pela qual, em respeito à prudência, não são
classificados diretamente no resultado do exercício. Entretanto, sua classificação diretamente no
Patrimônio Líquido permitirá ao sócio o acompanhamento do reflexo no resultado de operações
de risco elevado e realização financeira de longo prazo.

Atividades
1. Qual é a característica principal da Demonstração do Resultado Abrangente?

2. Indique duas informações úteis aos sócios que podem ser obtidas na análise da Demonstra-
ção das Mutações do Patrimônio Líquido.

3. A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido e a Demonstração do Resultado


Abrangente são obrigatórias por força de imposição da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976)?
Justifique.

Referências
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
17 dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.

BRASIL. Comissão de Valores Mobiliários. Instrução n. 59, de 22 de dezembro de 1986. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 30 dez. 1986. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst059.html.
Acesso em: 12 nov. 2018.

BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
28 dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm.
Acesso em: 30 out. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.185, de 28 de agosto de 2009. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 15 set. 2009. Disponível em: http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?
Codigo=2009/001185&arquivo=Res_1185.doc. Acesso em: 12 nov. 2018.

BRASIL. Comissão de Valores Mobiliários. Deliberação n. 676, de 13 de dezembro de 2011. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 15 dez. 2011. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/legislacao/deliberacoes/deli0600/
deli676.html. Acesso em: 12 nov. 2018.

BRASIL. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamentos Técnicos Contábeis 2012. Brasília, DF:
Conselho Federal de Contabilidade, 2013. Disponível em: http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/
uploads/2013/06/cpc_pronunciamentos_2012_web.pdf. Acesso em: 25 out. 2018.

BRASIL. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamento técnico PME: contabilidade para peque-
nas e médias empresas. 2009. Disponível em: https://cfc.org.br/wp-content/uploads/2016/02/CPC_PME.
pdf. Acesso em: 19 nov. 2018.

MARTINS, E. et al. Manual de contabilidade societária. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
9
Demonstração dos Fluxos de Caixa e
Demonstração do Valor Adicionado

9.1 Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)


A Demonstração do Fluxo de Caixa é um relatório obrigatório a partir da publicação da Lei
n. 11.638/2007, que alterou o art. 176 da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976). Entretanto, o parágrafo
6º do referido artigo ressalva que as companhias fechadas, com Patrimônio Líquido inferior a
R$ 2.000.000,00 na data do Balanço, não são obrigadas a elaborar e publicar a DFC (BRASIL, 1976).
Apesar dessa isenção dada pela lei àquelas empresas que não se enquadram como socieda-
des anônimas de capital aberto, as empresas de qualquer porte e tipo societário devem proceder
sempre à elaboração da DFC para efeito de acompanhamento gerencial de sua atividade. A análise
de geração de caixa, combinada com a análise da geração de resultado, permite, entre outras uti-
lidades, uma compreensão mais adequada e verdadeira dos impactos das atividades operacionais
dos negócios.
O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) regulou essas especificidades por meio da
Resolução n. 1.296/2010, que define a DFC como:
Informações sobre o fluxo de caixa de uma entidade são úteis para proporcionar
aos usuários das demonstrações contábeis uma base para avaliar a capacidade
de a entidade gerar caixa e equivalentes de caixa, bem como as necessidades da
entidade de utilização desses fluxos de caixa. As decisões econômicas que são
tomadas pelos usuários exigem avaliação da capacidade de a entidade gerar cai-
xa e equivalentes de caixa, bem como da época de sua ocorrência e do grau de
certeza de sua geração. (BRASIL, 2010)

Os benefícios da utilização do fluxo de caixa compreendem uma série de aspectos, como a


disponibilização de informações sobre mudanças na estrutura de Ativos líquidos da entidade e sua
capacidade de geração de caixa líquido, a perspectiva de geração de caixa futuro e a possibilidade
de analisar a relação entre lucratividade e geração de caixa.
A resolução esclarece o significado de termos utilizados em seu texto cuja compreensão é
essencial para um uso adequado do relatório, conforme exposto no Quadro 1:
Quadro 1 – Significados dos termos

Caixa Compreende numerário em espécie e depósitos bancários disponíveis.

Aplicações financeiras de curto prazo, de alta liquidez, que são prontamente


conversíveis em montante conhecido de caixa e que estão sujeitas a um insig-
Equivalentes de caixa
nificante risco de mudança de valor. Aqui não se define o prazo da aplicação,
porém se qualifica o risco, que deve ser mínimo.

Fluxos de caixa São as entradas e saídas de caixa e equivalentes de caixa.


(Continua)
94 Contabilidade

São as principais atividades geradoras de receita da entidade e outras que


não são de investimento e tampouco de financiamento. Essas atividades es-
Atividades operacionais
tão vinculadas ao objetivo principal da empresa, na compra, produção, pres-
tação de serviços e vendas.

São referentes à aquisição e à venda de Ativos de longo prazo e de outros in-


vestimentos não incluídos nos equivalentes de caixa. Estão neste tópico os
Atividades de investimento
investimentos temporários, cujo prazo e risco não autorizam a classificá-los
nos equivalentes de caixa.

São aquelas que resultam em mudanças no tamanho e na composição do


capital próprio e no capital de terceiros da entidade. Compreendem-se como
Atividades de financiamento atividades de financiamentos a busca de recursos de curto e longo prazo para
financiamento da estrutura de ativos necessários à manutenção da atividade
da entidade.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Brasil, 2010.

O conteúdo do caixa está disponível na empresa, nos bancos e no mercado financeiro de


curtíssimo prazo, sendo que a gestão do caixa1 significa, em síntese, preservar liquidez imediata
suficiente à manutenção das atividades de uma empresa.
Seria possível considerar a nulidade do saldo de caixa ideal (dinheiro ou aplicação financeira
de liquidez imediata), já que ele não proporciona retorno operacional explícito. Entretanto, a razão
principal de torná-lo necessário é a incerteza relacionada ao fluxo de recebimentos e pagamentos.
É importante considerar que saldos maiores mantidos em caixa, embora promovam
maior segurança, tendem a apresentar um custo de oportunidade maior, já que pode se perder
a oportunidade de melhor rentabilizá-los; por outro lado, saldos menores representam menor
segurança financeira.
Esse é o dilema da escolha entre risco e rentabilidade enfrentado na gestão do caixa da
empresa. Normalmente, os problemas de baixa liquidez ou até de insolvência nas empresas, que
podem as levar à falência, ocorrem pela gestão ineficiente do fluxo de caixa.
O saldo do caixa sempre poderá ser zero, ou seja, o total de entradas igual ao total de saídas.
A empresa pode postergar um pagamento a um credor ou simplesmente não cumprir um compro-
misso assumido, fazendo com que o saldo do caixa seja zero. Ou ainda, em uma dada situação, se os
deficits de caixa (insuficiência de saldo) forem regularizados por meio de empréstimos bancários,
no final do dia ou do período o saldo acaba zerando, ou seja, não haverá deficit nem superavit de
caixa, porém isso não é gestão de caixa.

1 É importante lembrar o que é regime de competência adotado pela contabilidade e regime de caixa adotado pelo admi-
nistrador financeiro. O regime de competência é utilizado para apurar o resultado econômico e mensurar a rentabilidade das
operações. As receitas são reconhecidas no momento da venda e as despesas no momento em que ocorrem. Assim, esse re-
gime coincide com o ciclo econômico. A liquidez da empresa é a sua capacidade de honrar compromissos financeiros de curto
prazo. O regime de caixa é adotado pelo administrador financeiro para planejar e controlar as necessidades e sobras de caixa,
apurando o resultado financeiro (superavits e deficits de caixa). Por esse regime, as receitas são reconhecidas no momento
efetivo em que ocorrem os recebimentos dos recursos e as despesas no momento em que ocorrem os pagamentos. Esses
dois regimes não são conflitantes, na verdade, eles são interdependentes e complementares.
Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 95

A adequada gestão do caixa consiste em criteriosa análise dos fatores que o levam a deter-
minado comportamento. A análise permite saber se a empresa está sendo capaz de gerar recursos
suficientes para o financiamento de suas atividades, amortizações de dívidas e investimentos, mos-
trando o seu grau de independência financeira.
Vale lembrar, no entanto, que o fluxo de caixa da empresa não depende exclusivamente do admi-
nistrador financeiro e sim da sinergia do conjunto de todas as áreas. Matarazzo (2009, p. 309) cita que ele
decorre de múltiplas decisões (de diferentes áreas), como nível de estocagem,
prazos concedidos aos clientes, prazos obtidos de fornecedores, expansão, es-
tabilização ou redução do volume de atividades (produção e vendas), investi-
mentos no Ativo permanente, bem como as possibilidades de aporte de capital.

Gerir adequadamente o caixa da empresa transcende a simples administração de entradas


e saídas de dinheiro. O que você acha que pode ser avaliado, isoladamente ou em conjunto, como
estratégias de gestão do caixa?
Com um caixa superavitário (sobras de caixa) é possível, de acordo com o fluxo de caixa,
avaliar a possibilidade de:
• aumentar estoques;
• aumentar prazos de vendas a clientes;
• repor maquinários e instalações;
• aplicar no mercado financeiro;
• desenvolver novos empreendimentos.
É claro que tudo dependerá do que o fluxo de caixa comporta, sem que a sua adequada
gestão seja comprometida. Com um caixa deficitário (negativo), é necessário que se verifique a
possibilidade de:
• reduzir tudo o que for possível de custos e despesas;
• dar mais eficácia à cobrança;
• melhorar a adequação dos compromissos ao fluxo de caixa;
• reduzir prazos de vendas;
• negociar melhores prazos nas compras;
• reduzir o giro dos estoques;
• realizar promoções;
• vender Ativos Imobilizados;
• abandonar áreas do negócio que sejam deficitárias;
• injetar recursos de sócios;
• tomar empréstimos.
Nesse caso, tudo deve ser feito de modo que não se comprometa a operação e que também
não resulte em quedas de vendas e rentabilidade. As necessidades emergenciais de caixa podem ser
supridas pelas várias modalidades de empréstimos que normalmente se encontram à disposição
no mercado financeiro.
96 Contabilidade

Para a adequada gestão dos recursos, é imprescindível um fluxo de caixa que contemple to-
das as previsões de entradas e saídas e permita também observar eventuais distorções importantes
entre o previsto e o realizado para as necessárias correções.

9.1.1 Método direto


Este método explicita as entradas e saídas brutas de dinheiro dos principais componentes
das atividades operacionais, como os recebimentos pelas vendas de produtos e serviços e os paga-
mentos a fornecedores e empregados. Sua estrutura deve contemplar o fluxo de entradas e saídas
relativos às atividades operacionais e às atividades de investimentos e financiamentos, e sua princi-
pal característica é que as entradas e saídas de caixa são demonstradas pelos aumentos (entradas)
e diminuições (saídas) de caixa nas respectivas contas contábeis.
A Tabela 1 mostra um exemplo da aplicação deste método:
Tabela 1 – Modelo de fluxo de caixa pelo método direto

Empresa Exemplo

2017

Fluxo de caixa das atividades operacionais

Recebimento de clientes R$ 30.150,00

Pagamento a fornecedores e empregados (R$ 27.600,00)

Caixa gerado pelas operações R$ 2.550,00

Juros pagos (R$ 270,00)

Imposto de Renda e contribuição social pagos (R$ 800,00)

Imposto de Renda sobre dividendos recebidos (R$ 100,00)

Caixa líquido gerado pelas atividades operacionais R$ 1.380,00

Fluxos de caixa das atividades de investimento

Aquisição da Controlada X (R$ 550,00)

Compra de Imobilizado (R$ 350,00)

Recebimento pela venda de equipamento R$ 20,00

Juros recebidos R$ 200,00

Dividendos recebidos R$ 200,00

Caixa líquido consumido pelas atividades de investimentos (R$ 480,00)

(Continua)
Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 97

Empresa Exemplo

2017

Fluxos de caixa das atividades de financiamento (R$ 790,00)

Recebimento pela emissão de ações R$ 250,00

Recebimento por empréstimos a longo prazo R$ 250,00

Pagamento de passivo por arrendamento (R$ 90,00)

Dividendos pagos (R$ 1.200,00)

Caixa líquido consumido pelas atividades de financiamento R$ 110,00

Aumento líquido de caixa e equivalentes de caixa R$ 110,00

Caixa e equivalentes de caixa no início do período R$ 120,00

Caixa e equivalentes de caixa no fim do período R$ 230,00


Fonte: Elaborada pelo autor com base em CPC, 2013.

Observe que o fluxo de caixa tem início pelos recebimentos e pagamentos de itens com
relação direta com a atividade operacional, em seguida contempla as entradas pelos empréstimos
e saídas pelas amortizações – tanto de empréstimos quanto de financiamentos – e termina com a
informação de pagamentos relativos aos investimentos efetuados. Considerado de fácil compreen-
são e utilização, é um método utilizado na gestão diária do fluxo de caixa.

9.1.2 Método indireto


Este método faz a conciliação entre o lucro líquido e o caixa gerado pelas operações, por isso
é chamado de método da conciliação. É uma forma mais gerencial de se demonstrar a influência
das políticas de concessão de prazos a clientes e negociação com fornecedores na geração de caixa
operacional em determinado período, por isso é o método mais utilizado pelas empresas.
Por este modelo pode-se, inclusive, proceder a uma análise combinada entre o resultado
procedente da Demonstração do Resultado do Exercício e a geração bruta, operacional e líquida
de caixa.
Em uma empresa com baixa rentabilidade operacional (resultado) haverá em um futuro
próximo uma baixa geração operacional de caixa. Nesses casos, seguidamente se vê o empresá-
rio buscando o mercado financeiro (empréstimos) para complementar o financiamento de sua
atividade operacional e esse aspecto pode comprometer o lucro líquido futuro (volume maior de
despesas financeiras), o que poderá comprometer a geração líquida de caixa.
Essa situação pode criar um “círculo vicioso”, comprometendo a própria continuidade do
negócio. Portanto, o acompanhamento e a análise da geração de caixa são essenciais para uma
eficácia na gestão empresarial.
98 Contabilidade

A Tabela 2 mostra um modelo de fluxo de caixa pelo método indireto:


Tabela 2 – Modelo de fluxo de caixa pelo método indireto

Empresa Exemplo

2017

Lucro líquido R$ 3.350,00

Ajustes – despesas e receitas que não afetam o caixa R$ 390,00

R$ 3.740,00

Aumentos nas contas a receber de clientes e outros (R$ 500,00)

Diminuição nos estoques R$ 1.050,00

Diminuição nas contas e pagar e fornecedores (R$ 1.740,00)

Caixa gerado pelas operações R$ 2.550,00

Juros pagos (R$ 270,00)

Imposto de Renda e contribuição social pagos (R$ 800,00)

Imposto de Renda na fonte sobre dividendos recebidos (R$ 100,00)

Caixa líquido gerado pelas atividades operacionais R$ 1.380,00

Fluxos de caixa das atividades de investimento

Aquisição da Controlada X (R$ 550,00)

Compra de Imobilizado (R$ 350,00)

Recebimento pela venda de equipamento R$ 20,00

Juros recebidos R$ 200,00

Dividendos recebidos R$ 200,00

Caixa líquido consumido pelas atividades de investimentos (R$ 480,00)

Fluxos de caixa das atividades de financiamento

Recebimento pela emissão de ações R$ 250,00

Recebimento por empréstimos a longo prazo R$ 250,00

Pagamento de passivo por arrendamento (R$ 90,00)

Dividendos pagos (R$ 1.200,00)


(Continua)
Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 99

Empresa Exemplo

2017

Caixa líquido consumido pelas atividades de financiamento (R$ 790,00)

Aumento líquido de caixa e equivalentes de caixa R$ 110,00

Caixa e equivalentes de caixa no início do período R$ 120,00

Caixa e equivalentes de caixa no fim do período R$ 230,00


Fonte: Elaborada pelo autor com base em CPC, 2013.

No método indireto, o lucro ou prejuízo do exercício é uma informação que vem da


Demonstração do Resultado do Exercício.
Observe que nos dois modelos, as informações de caixa e equivalentes de caixa inicial e
final (que na verdade correspondem ao disponível) são oriundas do Balanço Patrimonial.
Obrigatoriamente, o seu aumento ou redução deve ser igual à diferença de saldos entre os valores
iniciais e finais da conta caixa e equivalentes de caixa.

9.2 Demonstração do Valor Adicionado (DVA)


A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) tem sua previsão legal expressa no art. 176 da
Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976) e é obrigatória para as companhias abertas. Essa demonstração
foi incluída naquelas de publicação obrigatória pela Lei n. 11.638/2007 (BRASIL, 2007).
O pronunciamento contábil CPC 09 (BRASIL, 2013) define os critérios para elaboração e
apresentação da Demonstração do Valor Adicionado, sendo ela um dos elementos componentes
do Balanço Social, conforme preconiza o pronunciamento em questão. A finalidade principal da
Demonstração do Valor Adicionado (DVA) é identificar e evidenciar a riqueza criada por determi-
nada entidade e sua respectiva distribuição.
Segundo a Norma Brasileira de Contabilidade (BRASIL, 2010), as informações devem ser
extraídas da contabilidade e os valores informados devem ter como base o princípio contábil da
competência. A norma ainda define que “a entidade, sob a forma jurídica de sociedade por ações,
com capital aberto, e outras entidades que a lei assim estabelecer, devem elaborar a DVA e apresen-
tá-la como parte das demonstrações contábeis divulgadas ao final de cada Exercício Social”. Embora
prevista sua obrigatoriedade para as companhias abertas, o Conselho Federal de Contabilidade
recomenda sua geração por todas as entidades que divulguem demonstrações contábeis.
O valor adicionado (ou valor agregado) é representado pela diferença entre as receitas ge-
radas pela entidade e os custos dos bens e serviços adquiridos de terceiros para a obtenção das
respectivas receitas.
Economicamente, pode-se visualizar o valor adicionado como a contribuição da empresa
para a geração de valores para a economia, resultado dos esforços de todos os seus fatores de pro-
dução, evidenciando os aspectos econômico e social do valor adicionado.
100 Contabilidade

Analisando a Demonstração do Valor Adicionado sob o aspecto social, pode-se com-


preendê-la como a distribuição da riqueza gerada. Essa riqueza (resultado da diferença entre a
receita e os recursos consumidos na remuneração de terceiros) será distribuída aos empregados,
ao governo, aos acionistas, além da parcela retida pela empresa. Assim, a DVA permite uma aná-
lise dos elementos que mais consumiram a riqueza criada pela entidade e seus possíveis reflexos
econômicos e sociais.
Pode-se perceber, em sua análise, o quanto da riqueza criada foi distribuída aos trabalhado-
res que fornecem a mão de obra, aos investidores e acionistas que aportam capital à empresa, aos
financiadores que financiam ativos, e ao governo, de quem se espera a disponibilidade de serviços
públicos e uma infraestrutura que permita à empresa exercer sua atividade de modo eficaz.
Veja a seguir a estrutura básica da Demonstração do Valor Adicionado, conforme su-
gerido pela Resolução n. 1.138/2008 (BRASIL, 2008) e pelo Pronunciamento Técnico CPC 09
(CPC, 2013):
Quadro 2 – Modelo de descrição da Demonstração do Valor Adicionado

1 – RECEITAS
1.1 – Vendas de mercadorias, produtos e serviços (inclui tributos)
1.2 – Outras receitas
1.3 – Receitas relativas à construção de Ativos próprios

1.4 – Provisão para devedores duvidosos – Reversão/(Constituição)

2 – INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (inclui tributos – ICMS, IPI, PIS e COFINS)


2.1 – Custo das mercadorias, produtos e serviços vendidos
2.2 – Materiais, energia, serviços de terceiros e outros.
2.3 – (Perda)/Recuperação de valores Ativos
2.4 – Outras (especificar)

3 – VALOR ADICIONADO BRUTO (1 – 2)

4 – DEPRECIAÇÃO, AMORTIZAÇÃO E EXAUSTÃO

5 – VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE (3 – 4)

6 – VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA


6.1 – Resultado de equivalência patrimonial
6.2 – Receitas financeiras (juros, aluguéis etc.)

7 – VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5 + 6)

8 – DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (7 = 8)


8.1 – Remuneração do trabalho (pessoal e encargos)
8.2 – Remuneração do governo (impostos, taxas e contribuições)
8.3 – Remuneração do capital de terceiros (juros, aluguéis etc.)
8.4 – Remuneração dos acionistas (juros s/ cap. próprio e dividendos)
8.5 – Remuneração retida (lucros retidos/prejuízo do exercício)
Fonte: Adaptado de CPC, 2013.

Veja também uma aplicação do modelo da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) pu-
blicada pela Eletrobras, empresa de capital aberto controlada pelo governo brasileiro que atua nas
áreas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. A empresa demonstra sua efetiva
Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 101

contribuição, dentro de uma visão global de desempenho, para a geração de riqueza na economia
em que está inserida, sendo resultado do esforço conjugado de todos os seus fatores de produção.
No exemplo a seguir, é possível perceber que a DVA é um importante índice de avaliação
do desempenho social, à medida que demonstra na distribuição da riqueza gerada a participação
dos empregados, do governo, dos agentes financiadores e dos acionistas. Na Tabela 3, verifica-se a
geração da riqueza, e na Tabela 4 a distribuição dessa riqueza.
Tabela 3 – DVA das empresas Eletrobras em R$ mil (Data-base: 31/12/2017)

2017 2016

Receitas (despesas)

Venda de mercadorias, produtos e serviços 44.237.905 68.606.282

Receitas de construção 1.231.982 2.047.247

Total 45.469.887 70.653.529

Insumos adquiridos de terceiros

Materiais, serviços e outros (7.817.913) (10.197.506)

Encargos setoriais (1.986.659) (2.550.473)

Energia comprada para revenda (11.854.925) (11.264.044)

Combustível para produção de energia elétrica (424.964) (759.826)

Provisões operacionais (5.226.504) (14.389.612)

Total (27.040.965) (39.161.461)

Valor adicionado bruto

18.428.922 31.492.068

Retenções

Depreciação, amortização e exaustão (1.751.303) (1.843.785)

Valor adicionado líquido produzido pela entidade

16.677.619 29.648.283

Valor adicionado recebido em transferência

Participações societárias 2.692.171 3.114.047

Receitas financeiras 5.151.375 11.223.390

Total 7.843.546 14.337.437

Valor adicionado total a distribuir

24.521.165 43.985.720

Fonte: Adaptado de Eletrobras, 2017, p. 149.


102 Contabilidade

Tabela 4 – Distribuição do Valor Adicionado das Empresas Eletrobras em R$ mil (Data-base: 31/12/2017)

2017 2016

Pessoal

Pessoal, encargos e honorários 7.466.142 6.371.711

Plano de aposentadoria e pensão 255.796 176.861

Total 7.721.938 6.548.572

Tributos

Impostos, taxas e contribuições 7.652.866 16.199.405

Total 7.652.866 16.199.405

Terceiros

Encargos financeiros e aluguéis 10.872.052 17.724.467

Total 10.872.052 17.724.467

Acionistas

Participação de acionistas não controladores 38.114 87.377

Lucros retidos ou prejuízo do exercício (1.763.805) 3.425.899

Total (1.725.691) 3.513.276

Valor adicionado total distribuído

24.521.165 43.985.720

Fonte: Adaptado de Eletrobras, 2017, p. 149.

Na Tabela 5 há a distribuição percentual da DVA:


Tabela 5 – Distribuição percentual do valor adicionado

2017 2016
Acionistas (7%) 8%

Pessoal 32% 14%

Tributos 31% 37%

Terceiros 44% 41%

Fonte: Elaborada pelo autor.

Analisando a Demonstração do Valor Adicionado da empresa, pode-se compreender que


nos dois períodos contábeis a maior participação no valor agregado, ou seja, a maior participação
na distribuição do valor adicionado por suas atividades, é representada pela rubrica “terceiros”, que
inclui as despesas com os juros pagos sobre as dívidas com instituições financeiras.
Observa-se, ainda, que o valor adicionado bruto é representado pela diferença entre as re-
ceitas operacionais e os insumos adquiridos de terceiros. Quanto maior a eficiência e eficácia na
criação de valor, maior será o valor adicionado bruto.
As retenções representam recursos consumidos relativos a consumo de Ativos de longa du-
ração que não afetam o caixa e devem ser retidos para não haver descapitalização da empresa e
Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado 103

proporcionar a possibilidade de novos investimentos, a fim de se manter a competitividade da


entidade no mercado.
O valor relativo ao valor adicionado por transferência, que no caso da empresa em análise foi
significativo, é representado por ganhos financeiros e lucros obtidos pelas participações em outras
empresas (equivalência patrimonial) que se somam ao valor adicionado pela entidade.
No exemplo, o valor adicionado total a distribuir corresponde a mais de 50% sobre as recei-
tas nos dois períodos (2017 e 2016), percentual significativo que demonstra uma consistência nos
dois períodos e uma eficiência da empresa na criação de valor ao negócio. A distribuição do valor
adicionado também revela uma participação menor na distribuição aos acionistas, o que provavel-
mente ocorreu por questões atípicas do ano de 2017.

Atividades
1. Indique uma diferença entre o método direto e método indireto de fluxo de caixa.

2. Qual é o objetivo principal da Demonstração do Valor Adicionado?

3. Indique duas operações que podem aumentar a geração de caixa da empresa sem impactar
no seu endividamento.

Referências
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
17 dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.

BRASIL. Lei n. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
28 dez. 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm.
Acesso em: 30 out. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.138, de 21 de novembro de 2008. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 28 nov. 2008. Disponível em: http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?
Codigo=2008/001138&arquivo=Res_1138.doc. Acesso em: 14 nov. 2018.

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 1.296, de 19 de agosto de 2016. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 7 out. 2010. Disponível em: http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/detalhes_sre.aspx?Codi-
go=2010/001296&arquivo=NBCTG03(R3).doc. Acesso em: 13 nov. 2018.

BRASIL. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamentos Técnicos Contábeis 2012. Brasília, DF:
Conselho Federal de Contabilidade, 2013. Disponível em: http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/
uploads/2013/06/cpc_pronunciamentos_2012_web.pdf. Acesso em: 25 out. 2018.

ELETROBRAS. Relatório de Administração e Demonstrações Financeiras. Rio de Janeiro: Eletrobras, 2017.


Disponível em: http://eletrobras.com/pt/ri/DemonstracoesFinanceiras/DCC%202017%2031-12-2017.pdf.
Acesso em: 20 nov. 2018.

MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 6. ed. São Paulo:
Atlas, 2009.
10
Notas explicativas e parecer de auditoria

10.1 Notas explicativas


Notas explicativas são informações complementares às demonstrações contábeis, que devem
ser emitidas obrigatoriamente por força do disposto no art. 176, parágrafo 4º, da Lei n. 6.404/1976:
“as demonstrações serão complementadas por notas explicativas e outros quadros analíticos ou
demonstrações contábeis necessários para esclarecimento da situação patrimonial e dos resultados
do exercício” (BRASIL, 1976).
É sabido que os relatórios contábeis – Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do
Exercício, Demonstração do Resultado Abrangente, Demonstração das Mutações do Patrimônio
Líquido, Demonstração dos Fluxos de Caixa e Demonstração do Valor Adicionado –, por mais que
evidenciem uma série de informações, o fazem utilizando-se de valores monetários.
Outra característica das demonstrações contábeis é a sintetização dos valores em contas e
grupos, fato que por vezes não permite ao usuário uma compreensão mais detalhada e clara dos
eventos reconhecidos.
A lei societária (BRASIL, 1976) exige a elaboração e publicação das notas explicativas como
parte integrante das demonstrações contábeis. Elas visam fornecer informações elementares para
o esclarecimento da situação patrimonial, seja por meio de quadros que explicam a composição
de determinado saldo, seja por meio de informações sobre critérios de registro e de avaliação de
elementos Ativos e Passivos, bem como pela indicação e explicação de fatos que podem alterar
futuramente a situação patrimonial da sociedade.
A Lei n. 11.941/2009 (BRASIL, 2009) acrescentou o parágrafo 5º ao art. 176 da Lei n.
6.404/1976, dispondo que as notas explicativas devem:
I - apresentar informações sobre a base de preparação das demonstrações finan-
ceiras e das práticas contábeis específicas selecionadas e aplicadas para negócios
e eventos significativos;
II - divulgar as informações exigidas pelas práticas contábeis adotadas no Brasil
que não estejam apresentadas em nenhuma outra parte das demonstrações
financeiras;
III - fornecer informações adicionais não indicadas nas próprias demonstrações
financeiras e consideradas necessárias para uma apresentação adequada; e
IV - indicar:
a) os principais critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, especialmente
estoques, dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão, de constituição de
provisões para encargos ou riscos, e dos ajustes para atender a perdas prováveis na
realização de elementos do Ativo;
b) os investimentos em outras sociedades, quando relevantes (art. 247, parágra-
fo único);
106 Contabilidade

c) o aumento de valor de elementos do Ativo resultante de novas avaliações (art.


182, § 3°);
d) os ônus reais constituídos sobre elementos do Ativo, as garantias prestadas a
terceiros e outras responsabilidades eventuais ou contingentes;
e) a taxa de juros, as datas de vencimento e as garantias das obrigações a longo
prazo;
f) o número, espécies e classes das ações do capital social;
g) as opções de compra de ações outorgadas e exercidas no exercício;
h) os ajustes de exercícios anteriores (art. 186, §1°); e
i) os eventos subsequentes à data de encerramento do exercício que tenham,
ou possam vir a ter, efeito relevante sobre a situação financeira e os resultados
futuros da companhia. (BRASIL, 1976)

O Pronunciamento Técnico CPC 26 (CPC, 2013), que trata da apresentação das demons-
trações contábeis, prevê também a elaboração das notas explicativas, porém não inova em relação
à lei – tampouco o poderia –, mas elenca ainda assim uma série de informações e explicações que
devem nortear a elaboração das notas.
Já o parágrafo 5º do art. 176 da Lei das Sociedades por Ações (BRASIL, 1976) indica, sem
esgotar o assunto, as bases gerais e as principais informações que devem ser incluídas nas demons-
trações financeiras.
Embora a Lei das Sociedades por Ações (BRASIL, 1976) tenha estabelecido as situações que
deverão ser mencionadas em notas explicativas, esse rol não é restrito, podendo a contabilidade,
e até mesmo auditoria externa, considerar prudente e necessário mencionar outras situações rele-
vantes além daquelas já previstas pela lei.
A seguir apresenta-se um exemplo de nota explicativa que trata da decomposição de valores
constantes no Balanço Patrimonial na rubrica “Caixa e Equivalentes de Caixa” e dos critérios utili-
zados para avaliação (atribuição de valor monetário) a esses elementos.

Caixa e equivalentes de caixa


(KLABIN S.A., 2018, p. 45)
A Companhia, seguindo suas políticas de aplicações de recursos, tem
mantido suas aplicações financeiras em investimentos de baixo risco,
mantidos em instituições financeiras, as quais a Administração entende
que sejam de primeira linha tanto no Brasil como no exterior, de acor-
do com o rating divulgado pelas agências de classificação de risco apre-
sentado na nota explicativa 25. A administração tem considerado esses
ativos financeiros como equivalentes de caixa devido à sua liquidez ime-
diata junto às instituições financeiras emissoras, com risco insignificante
de mudança de valor.
Notas explicativas e parecer de auditoria 107

As aplicações financeiras em moeda nacional, correspondentes a


Certificados de Depósitos Bancários – CDBs e outras operações com-
promissadas, são indexadas pela variação do Certificado de Depósito
Interfinanceiro – CDI, com taxa média anual de remuneração de 6,95%
(13,76% em 31 de dezembro de 2016), e as aplicações em moeda estran-
geira, correspondentes a operações de Time Deposit firmados em dólar e
over night, possuem taxa média de remuneração anual de 1,69% e 1,29%
respectivamente (over night com 0,53% em 31 de dezembro de 2016),
com liquidez imediata garantida pelas instituições financeiras.

As notas explicativas podem estar expressas tanto na forma descritiva quanto na forma de
quadros analíticos, podendo incluir também demonstrações contábeis diversas daquelas obrigató-
rias, mas que sejam necessárias para uma compreensão mais clara e completa do resultado da em-
presa, das modificações no capital circulante ou mesmo de informações de natureza social, como o
Balanço Social. O essencial é que essas informações complementares sejam úteis para um melhor
conhecimento acerca da situação financeira da entidade.

10.2 Conceito de auditoria


A auditoria é uma técnica contábil que, utilizando-se de procedimentos específicos, procura
obter elementos de convicção que permitam verificar se os registros contábeis foram efetuados de
acordo com os Princípios da Contabilidade.
Objetiva, igualmente, verificar se as demonstrações contábeis refletem adequadamente a
situação econômico-financeira do patrimônio e se os resultados do período examinado, se as de-
mais informações nelas demonstradas e os controles implementados pela companhia estão sendo
concretizados de maneira adequada.
O objetivo do exame de auditoria das demonstrações contábeis é expressar uma opinião
sobre a adequação dessas demonstrações, assegurando que elas representem adequadamente a
posição patrimonial e financeira da entidade, o resultado de suas operações e os fluxos de caixa
correspondentes aos períodos em exame, de acordo com os Princípios da Contabilidade, aplicados
uniformemente aos exercícios contábeis em análise.
Dessa forma, o objetivo principal da auditoria pode ser descrito em linhas gerais como o
processo pelo qual o auditor se certifica da veracidade das demonstrações contábeis preparadas
pela companhia auditada. Utiliza-se, para tanto, dos procedimentos que lhe traduzem provas e
assegurem a efetividade dos valores demonstrados.
108 Contabilidade

10.2.1 Concepção estratégica da auditoria


A auditoria, como ferramenta de controle, deve ser utilizada para assegurar que as estraté-
gias definidas pela organização não ficarão comprometidas por falhas de controle ou por políticas
inadequadas de gestão. Nesse sentido, todos os conceitos inerentes à auditoria deverão contemplar
uma preocupação com a implementação e o controle de estratégias empresariais.
Falhas de controle interno, por exemplo, poderão resultar em perdas de oportunidades.
Assim, quando a organização valoriza os trabalhos de auditoria, os pontos fracos (componentes
estratégicos da análise do ambiente) poderão ser visualizados mais rapidamente, permitindo a im-
plementação de medidas para eliminá-los.

10.3 Auditoria interna e externa


10.3.1 Auditoria interna
Auditoria interna é aquela exercida por auditores que, em regra, integram o departamento
de auditoria da própria empresa, regidos pela Consolidação da Leis do Trabalho – CLT (BRASIL,
1943). Trata-se de um controle gerencial que funciona por meio da medição e da avaliação da
eficiência e eficácia de outros controles e pode ser entendida tanto como uma atividade de asses-
soramento à administração quanto ao desempenho das atribuições definidas para cada área da
empresa, mediante as diretrizes políticas e os objetivos previamente determinados pela entidade.
A auditoria interna se destaca por um papel fundamental: subsidiar os gestores com elemen-
tos tecnicamente elaborados, referentes a atividades cujo acompanhamento e controle o gestor não
teria condições de efetuar. Ela se desincumbe dessas tarefas mediante o exame da:
• adequação, pertinência e eficácia dos controles;
• integridade e confiabilidade dos registros e controles;
• pertinência, oportunidade e confiabilidade dos sistemas de controles desenhados para
efetivar o cumprimento e a observação das políticas e de todo o conjunto de normas e
procedimentos aplicados pela empresa;
• eficiência e eficácia dos procedimentos necessários para se salvaguardar os Ativos e a
comprovação de sua existência, assim como a exatidão dos Ativos e Passivos.

Não é recomendável haver restrições no âmbito da empresa para atuação da auditoria inter-
na, pois os auditores internos devem ter acesso a todas as áreas e informações para realização de
seus trabalhos.
Quadro 1 – Enfoques da auditoria interna

Tem a finalidade de apoiar a gestão da empresa no desempenho efetivo de suas funções e


Auditoria na área responsabilidades, testando e avaliando se a organização e suas partes componentes (de-
operacional partamentos, sistemas operacionais, operações e programas) estão atingindo os objetivos
propostos, ou seja, evitando possíveis falhas e irregularidades.

(Continua)
Notas explicativas e parecer de auditoria 109

Executa suas atividades participando de reuniões de diretoria, comitês internos etc. Tra-
Auditoria de gestão balha em nível de planejamento estratégico, tático e no processo decisório, verificando a
adequação e aplicação de políticas, critérios e procedimentos previamente estabelecidos.

Esses sistemas fazem parte em larga escala da estrutura das entidades de qualquer por-
te ou atividade. Bancos, indústrias, comércio e serviços têm sua estrutura fundamentada
Auditoria de siste- em controles sobre os sistemas informatizados. O auditor interno não pode negligenciar
mas informatizados o exame e a avaliação desses sistemas, ao contrário, deverá envolver-se nos processos
de planejamento, desenvolvimento, testes e aplicação de tais sistemas, notadamente
pela segurança e proteção dos dados.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para Attiê (1992), a empresa, visando resguardar e salvaguardar seus interesses, constitui,
por política a área de auditoria, que tem por finalidade o fornecimento aos administradores, em
todos os níveis, de informações que os auxiliem a controlar as operações e atividades pelas quais
são responsáveis. Para o autor, no intuito de fortalecer a base e permitir que sua atividade se de-
senvolva no mais alto grau de aceitação e profissionalismo, a auditoria atua em nível de assesso-
ria, reportando-se diretamente ao presidente do conselho de administração e, em sua falta, ao
diretor-presidente.

Vantagens da auditoria interna

• continuidade: está sempre funcionando, existe um acompanhamento


contínuo;
• maior identificação dos auditores com a empresa: têm conhecimento
da empresa com maior aprofundamento;
• menor custo em relação aos auditores externos.

Desvantagens da auditoria interna

• a proximidade dos auditores com os demais membros da empresa


pode comprometer a isenção nos trabalhos, já que os profissionais da
auditoria interna são funcionários da entidade;
• dependência econômica e subordinação hierárquica;
• credibilidade relativa, pois os auditores trabalham sob ordem e
subordinação.

10.3.2 Controles internos


Para Franco e Marra (2005), entende-se por controles internos todos os instrumentos da
organização destinados à vigilância, à fiscalização e à verificação administrativa, os quais permi-
tam prever, observar, dirigir ou governar os acontecimentos da empresa e que produzam reflexos
em seu patrimônio.
110 Contabilidade

Em suma, o controle interno de uma empresa representa o conjunto de procedimentos, mé-


todos ou rotinas implementados com a finalidade de proteger os Ativos e de possibilitar a obtenção
de dados contábeis confiáveis, capazes de fornecer suporte à administração na condução ordenada
dos negócios da entidade. Para Mautz (1985, p. 164):
O controle interno compreende o plano de organização e todos os métodos e
medidas coordenadas, aplicados em uma empresa, a fim de proteger seus bens,
conferir a exatidão e a fidelidade de seus dados contábeis, promover a eficiência
operacional e estimular a obediência às diretrizes administrativas estabelecidas.

Almeida (2017b, p. 150) afirma que “um bom sistema de controle interno funciona como
uma ‘peneira’ na detecção de erros ou irregularidades. Portanto, o auditor pode reduzir o volume
de testes de auditoria na hipótese de a empresa ter um sistema de controle interno forte, caso con-
trário, o auditor deve aumentá-lo”.
O volume e a amplitude dos testes serão inversamente proporcionais à qualidade e efetivi-
dade dos controles internos. Na avaliação do controle interno, deve-se ter em mente a observação
de todos os fatos, independentemente da sua materialidade, pois, algumas vezes, as pequenas defi-
ciências podem ser indícios de grandes problemas.
O exame dos controles internos é uma das fases mais importantes no trabalho do auditor.
O auditor externo, o qual estudaremos com maior aprofundamento na próxima seção, executa os
seguintes passos na avaliação do controle interno: estuda o sistema de controle interno; verifica se
o sistema existente é apropriado; avalia a possibilidade de o sistema revelar objetivamente erros e
irregularidades e; determina o tipo, a data e o volume dos procedimentos de auditoria.
O auditor externo deve analisar os controles internos existentes, atentando para seus pon-
tos mais vulneráveis, para então ampliar e aprofundar seus exames. Ao selecionar as contas de
receitas e despesas a serem analisadas mais profundamente, o auditor externo deve avaliar os
seguintes pontos:
• A natureza das operações incluídas nas contas: operações entre a empresa e seus admi-
nistradores, diretores ou empregados-chave, operações de natureza incomum e com im-
portância significativa para a situação patrimonial e os resultados das operações estarão
sujeitos a receber atenção especial.
• A extensão do controle interno sobre operações: algumas operações incomuns podem ser
submetidas a menor controle interno que outras operações mais comuns e numerosas.
• A importância relativa das operações: a relevância é sempre um assunto importante em
auditoria, quanto mais relevantes são as operações registradas em determinada conta,
mais atenção elas estão sujeitas a receber.
• A extensão com que outros testes executados fornecem, indiretamente, comprovação para
o saldo da conta: se grande número de comprovantes foi examinado quando da auditoria
nas contas patrimoniais (salários a pagar, por exemplo), relativamente menor número de
despesas relacionadas com essas contas necessitará atenção (despesas com salários, no
exemplo citado).
Notas explicativas e parecer de auditoria 111

• Exemplos de controles internos contábeis: sistema de conferência,


aprovação e autorização; segregações de funções (pessoas que têm
acesso aos registros contábeis não podem custodiar Ativos da empre-
sa) e controles físicos sobre Ativos.
• Exemplos de controles internos administrativos: análises estatís-
ticas de lucratividade por linha de produto; controle de qualidade;
treinamento de pessoal; estudo de tempos e movimentos; análise das
variações entre os valores orçados e reais; controle dos compromissos
assumidos e ainda não realizados economicamente.

A existência de um adequado sistema de controles internos permite a identificação de al-


guns problemas:
• Fraude: prática dolosa que alguém faz em seu benefício e contra a empresa. Por exemplo,
um profissional que se aproveita do emprego para praticar fraude e prejudica a empresa.
Não existe fraude culposa, é sempre dolosa (com propósitos).
• Desvio de valores: mudar a destinação da verba pública ou privada, podendo ser dinhei-
ro em espécie ou algo material. São exemplos o dinheiro em caixa e as mercadorias ou
matérias-primas nos estoques.
• Erro: ato não intencional decorrente de negligência de funcionários, que gera prejuízos
para empresa, portanto não deve ser tolerado. Podemos exemplificar com desperdício de
materiais, uso inadequado dos Ativos, atraso no pagamento de dívidas que causem inci-
dência de juros, entre outros.

10.3.3 Auditoria externa ou independente


Neste tipo de auditoria, os auditores não mantêm vínculo com a empresa auditada, eles são
independentes e preservam apenas uma relação contratual de prestação de serviços.

Vantagens da auditoria externa

• credibilidade: os auditores externos não têm nenhuma dependência


ou vinculação administrativa com a empresa auditada, por isso seus
pareceres tornam-se mais confiáveis;
• independência: não existe subordinação hierárquica, mas sim um
contrato de serviços sem relação de dependência;
• ausência de familiaridade com os elementos que integram a entidade
auditada: não há maior relacionamento com os elementos da empresa.
112 Contabilidade

Desvantagens da auditoria externa

• maior custo: o custo da hora do auditor independente é maior do que


a do auditor interno;
• descontinuidade: o auditor independente não está presente todo dia
e não tem contato permanente com a empresa;
• menor identificação com a entidade auditada: o serviço pode demo-
rar mais, em razão do pouco conhecimento sobre a empresa.

10.3.4 Comparação entre auditoria interna e externa


Quanto ao objeto das auditorias, pode-se destacar graficamente:
Figura 1 – Objetivo das auditorias

Auditoria

Externa Interna

Controles e
Demontrações contábeis
procedimentos internos

Fonte: Elaborada pelo autor.

Embora com objetos e funções distintas, tanto a auditoria interna quanto a auditoria exter-
na fazem uso recíproco de seus trabalhos. A auditoria externa verifica a qualidade dos controles
internos; a auditoria interna utiliza-se seguidamente das demonstrações contábeis. As técnicas de
auditoria se aplicam a todas as entidades (públicas, privadas, com ou sem fins lucrativos).
A auditoria interna, na revisão e acompanhamento de processos e verificação da existência
e qualidade dos controles internos, contribui sobremaneira para a eficácia da gestão empresarial.
A auditoria externa, na verificação da adequação dos relatórios contábeis, também tem fundamen-
tal importância, dando credibilidade às demonstrações que serão divulgadas ao mercado.
O Quadro 2 estabelece um comparativo entre essas duas modalidades:
Quadro 2 – Comparativo entre auditorias externa e interna

Itens Auditoria externa Auditoria interna


Assessorar a administração da empresa
1. Objetivo Opinar sobre as demonstrações financeiras.
no efetivo desempenho de sua função.

Independente, com responsabilidade civil e Há relação de dependência, com respon-


2. Profissional
contratação por período predeterminado. sabilidades trabalhistas entre as partes.

3. Existência Obrigatória em determinadas empresas. Facultativa.

Empresa, órgãos governamentais, credores


4. A quem interessa Empresa.
e investidores em geral.

Relatório de recomendações e sugestões


5. Produto final Parecer sobre demonstrações financeiras.
à administração.
Fonte: Elaborada pelo autor.
Notas explicativas e parecer de auditoria 113

10.4 Programa de auditoria


O programa de auditoria consiste no plano de trabalho para exame de área específica. Ele
prevê os procedimentos que deverão ser aplicados para que se possa alcançar o resultado desejado.
Ao planejar um programa de auditoria, várias considerações básicas devem ser lembradas,
levando em conta sua importância. Entre elas está a responsabilidade do auditor na apuração de
qualquer erro ou irregularidade que afete os dados sob exame e as formas de modificação do pro-
grama em virtude das variações na eficiência do controle interno.
O programa de auditoria é o plano de trabalho a ser executado em campo, devendo ser ela-
borado com base no objetivo da auditoria e nas características da empresa a ser auditada.

10.4.1 Procedimentos de auditoria


Procedimentos ou técnicas de auditoria são as investigações técnicas que tomadas em
conjunto permitem a formação fundamentada da opinião do auditor sobre as Demonstrações
Contábeis ou sobre o trabalho realizado.
Os procedimentos de auditoria são as ferramentas técnicas utilizadas pelo auditor para a
realização de seu trabalho e consistem na reunião das informações possíveis e necessárias à ava-
liação das informações obtidas para a formação de sua opinião imparcial. A técnica por si só não
é uma prova, ela fornece prova exigida pelo auditor, dando-lhe informações suficientes sobre o
assunto para que ele possa emitir seu parecer profissional.
Os procedimentos ou técnicas básicas de auditoria normalmente utilizados são: exame físi-
co, confirmação, exame dos documentos originais, conferência de cálculos, exame de escrituração,
investigação minuciosa, inquérito, exames dos registros auxiliares, correlação das informações ob-
tidas, observação, entre outros.
Graficamente, o fluxo do trabalho do auditor pode ser visualizado do seguinte modo:
Figura 2 – Fluxo de trabalho de auditoria

Planejamento dos trabalhos


Conforme objetivos do trabalho
de auditoria

Programas de trabalho Específicos para cada área auditada

Exames, confirmações, conferên-


Procedimentos/ Testes
cias, correlações e circularizações

Parecer sem ressalva, parecer com


Parecer do auditor ressalva, parecer adverso e parecer
com abstenção de opinião

Fonte: Elaborada pelo autor.


114 Contabilidade

O roteiro dos trabalhos de auditoria deve ser observado com rigor por parte dos profissio-
nais, seja auditor interno ou externo, pois é a garantia de efetividade e confiabilidade na execução
dos procedimentos necessários para fundamentar o relatório ou parecer.

10.4.2 Parecer da auditoria externa


De acordo com Almeida (2017a, p. 403), o parecer representa o produto final do trabalho do
auditor, compreendendo três parágrafos: “parágrafo referente à identificação das demonstrações
contábeis e à definição das responsabilidades da administração e dos auditores; parágrafo referente
à extensão dos trabalhos; parágrafo referente à opinião sobre as demonstrações contábeis”.
O Quadro 3 elenca os tipos de parecer realizados pelo auditor:
Quadro 3 – Tipos de parecer

Demonstrações contábeis estão corretas, emitidas conforme os princípios fundamen-


Parecer sem ressalva
tais de contabilidade, aplicados com uniformidade.

Quando há discordância por parte do auditor ou restrição na extensão de seu tra-


balho (vem antes do parágrafo de opinião). Deve ficar claro, no parecer, a natureza
Parecer com ressalva da ressalva e seu efeito sobre a situação patrimonial e financeira, de resultado etc.
Normalmente utilizam-se as expressões “exceto quanto”, “com exceção de” na reda-
ção desse tipo de parecer.

Quando as demonstrações não estão adequadamente representadas (incorretas ou in-


completas, de modo que impossibilite emissão do parecer com ressalva), nas datas e
períodos indicados. É emitido quando o auditor tem informações suficientes para con-
Parecer adverso
cluir que as demonstrações contábeis não representam a posição patrimonial e finan-
ceira, o resultado das operações, as mutações do Patrimônio Líquido, a origem e as
aplicações de recursos de acordo com os princípios fundamentais de contabilidade.

Quando o auditor não obtém comprovação suficiente para fundamentar opinião sobre
Parecer com abstenção
as demonstrações contábeis. Quando não tem elementos comprobatórios suficientes
de opinião
para formar sua opinião sobre as demonstrações contábeis tomadas em conjunto.
Fonte: Elaborado pelo autor.

A seguir temos um exemplo de parecer sem ressalvas:

Relatório dos auditores independentes sobre as demonstrações finan-


ceiras individuais e consolidadas
(RELATÓRIO, 2018, p. 25)
Aos Acionistas, Conselheiros e Administradores da
Natura Cosméticos S.A.
São Paulo - SP
Opinião
Examinamos as demonstrações financeiras individuais e consolidadas da
Natura Cosméticos S.A. (Sociedade), identificadas como controladora e
Notas explicativas e parecer de auditoria 115

consolidado, respectivamente, que compreendem o Balanço Patrimonial


em 31 de dezembro de 2017 e as respectivas demonstrações do resul-
tado, do resultado abrangente, das mutações do Patrimônio Líquido e
dos fluxos de caixa para o exercício findo nessa data, bem como as cor-
respondentes notas explicativas, compreendendo as políticas contábeis
significativas e outras informações elucidativas.
Em nossa opinião, as demonstrações financeiras acima referidas apresen-
tam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimo-
nial e financeira, individual e consolidada, da Natura Cosméticos S.A. em
31 de dezembro de 2017, o desempenho individual e consolidado de suas
operações e os seus respectivos fluxos de caixa individuais e consolidados
para o exercício findo nessa data, de acordo com as práticas contábeis
adotadas no Brasil e com as normas internacionais de relatório financeiro
(IFRS) emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB).
Base para opinião
Nossa auditoria foi conduzida de acordo com as normas brasileiras
e internacionais de auditoria. Nossas responsabilidades, em confor-
midade com tais normas, estão descritas na seção a seguir intitulada
“Responsabilidades dos auditores pela auditoria das demonstrações
financeiras individuais e consolidadas”. Somos independentes em rela-
ção à Sociedade e suas controladas, de acordo com os princípios éticos
relevantes previstos no Código de Ética Profissional do Contador e nas
normas profissionais emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade,
e cumprimos com as demais responsabilidades éticas de acordo com
essas normas. Acreditamos que a evidência de auditoria obtida é sufi-
ciente e apropriada para fundamentar nossa opinião.

O parecer do tipo sem ressalvas demonstra efetivamente a relação do parecer de auditoria


com as notas explicativas e a importância de um conjunto adequado de notas que expliquem
situações não contempladas nos relatórios, como já visto. Essas notas são também objetos da
auditoria, pois estão vinculadas às demonstrações contábeis, bem como ao respectivo parecer.
116 Contabilidade

A Figura 3 mostra de maneira esquemática o percurso da emissão de pareceres:


Figura 3 – Resumo dos pareceres de auditoria

Parecer

Demonstrações contábeis em con-


Não formidade com os princípios da Sim
contabilidade?

Houve uma divergência contábil


entre o auditor e o auditado,
Não Parecer sem ressalva
mas isso comprometeu os
trabalhos de auditoria?

Auditoria foi realizada e


Sim
comprovou-se que as
Não
Demonstrações não refletem
a situação financeira da empresa?

Não foi possível realizar os testes


de auditoria
Sim

Parecer com ressalva Parecer adverso de opinião Parecer com abstenção de opinião

Fonte: Elaborada pelo autor.

O parecer mais comum é o sem ressalvas. Os demais tipos são aplicáveis a situações mais
específicas e pontuais e a casos mais graves de desorganização da contabilidade ou de absoluta
impossibilidade de realização dos testes por parte do auditor.

Atividades
1. Qual é a importância das notas explicativas? Justifique.

2. Indique a diferença entre a auditoria interna e a auditoria externa no que diz respeito ao
produto final do trabalho de cada uma.

3. Como é possível identificar o parecer com ressalvas? Justifique.


Notas explicativas e parecer de auditoria 117

Referências
ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. São Paulo: Atlas, 2017a.

ALMEIDA, M. C. Contabilidade societária. São Paulo: Atlas, 2017b.

ATTIÊ, W. Auditoria interna. São Paulo: Atlas, 1992.

BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452, de 1 de maio de 1943. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
9 ago. 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm. Acesso em: 19
nov. 2018.

BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
17 dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.

BRASIL. Lei n. 11.941, de 27 de maio de 2009. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF,
28 maio 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11941.htm.
Acesso em: 16 nov. 2018.

BRASIL. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamentos Técnicos Contábeis 2012. Brasília, DF:
Conselho Federal de Contabilidade, 2013. Disponível em: http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/
uploads/2013/06/cpc_pronunciamentos_2012_web.pdf. Acesso em: 25 out. 2018.

FRANCO, H.; MARRA, E. Auditoria Contábil. São Paulo: Atlas, 2005.

KLABIN S.A. Demonstrações financeiras referentes aos exercícios findos em 31 de dezembro de 2017 e 2016 e
relatório dos auditores independentes. São Paulo: Klabin S.A., 2018. Disponível em: http://ri.klabin.com.br/
ptb/3740/595063.pdf. Acesso em: 22 nov. 2018.

MAUTZ, R. K. Princípios de auditoria. São Paulo: Atlas, 1985.


RELATÓRIO dos auditores independentes sobre as demonstrações financeiras individuais e consolida-
das. Estadão Economia & Negócios, São Paulo, 2018. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/
fatos-relevantes/pdf/27329756.pdf. Acesso em: 22 nov. 2018.
11
Indicadores de gestão

A gestão de negócios, principalmente em seus aspectos financeiros, deve ser adequadamen-


te monitorada, com o objetivo de gerir recursos financeiros com maior qualidade possível, o que
contribui de maneira significativa para a boa performance da atividade empresarial como um todo.
Os indicadores financeiros, genericamente denominados de indicadores de gestão, são ferra-
mentas de especial relevância para que os gestores possam fazer um acompanhamento sistemático
da performance financeira de suas companhias, pois se constituem como um conjunto de índices
que correlacionam elementos das demonstrações contábeis e oferecem uma série de informações
sobre endividamento e sua estrutura, rentabilidade e sua origem, e relacionamentos com o Ativo,
vendas, Patrimônio Líquido, liquidez, entre outros. A utilização desses indicadores na gestão de
negócios é fundamental para que os gestores tenham condições de acompanhar sistematicamente
o desempenho econômico de suas empresas.
É importante compreender que a análise econômica e financeira se baseia em um raciocínio
lógico-científico, por isso é importante entender como o processo de análise é construído. A cor-
reta aplicação de um conjunto de técnicas possibilitará um diagnóstico seguro sobre as condições
de um determinado negócio.

11.1 Análise econômica e financeira de empresas


Conforme Matarazzo (2010), análise econômica e financeira é a arte de se extrair relações
úteis para o objeto econômico que se tem em mente, por meio dos relatórios contábeis tradicionais
e de suas extensões e detalhamentos, se necessário.
Trata-se, portanto, de técnicas aplicadas às demonstrações contábeis com o objetivo de estabe-
lecer relações entre os elementos dessas demonstrações e, assim, produzir uma série de informações
acerca da situação econômica e financeira da entidade. É importante destacar que o processo de
análise deve contemplar perguntas e respostas do analista, pois constatada uma situação delicada,
deve-se buscar uma explicação de sua causa e seus possíveis reflexos para o futuro.
O objetivo da análise econômica e financeira é extrair informações dos demonstrativos con-
tábeis para a tomada de decisões, ou seja, transformar dados em informações. Quais seriam, então,
os conceitos de dados e de informações?
• Dados: são números ou descrições de objetos ou eventos que isoladamente não provocam
nenhuma reação no leitor.
• Informações: representam para quem as recebe uma comunicação que pode produzir
reação ou decisão, frequentemente vêm acompanhadas de um efeito surpresa.
120 Contabilidade

Vejamos, então, algumas técnicas de análise econômica e financeira no Quadro 1 a seguir.


Quadro 1 – Técnicas de análise e seus objetivos

Técnicas Objetivos

1. Padronização e reclassificação
Dar às demonstrações financeiras forma mais adequada para análise.
das contas

Possibilita a descrição e o detalhamento da situação econômico-fi-


2. Análise vertical/horizontal
nanceira que escapa da abrangência dos índices.

Evidencia como a administração está tomando as decisões que afe-


3. Análise do capital de giro
tam os investimentos e o financiamento do capital de giro.

Dar uma ampla e profunda visão sobre os fatos que interferem na ren-
4. Análise da rentabilidade
tabilidade de uma empresa.
Fonte: Matarazzo, 2010, p. 8.

A padronização depende sempre do objetivo da análise e da própria experiência do analista,


porém ela é importante para darmos às demonstrações uma estrutura mais objetiva e clara, favore-
cendo a qualidade do próprio relatório de análise.
As demais técnicas apresentadas demonstram um universo mais amplo de procedimentos
que podem ser utilizados, como a análise da gestão do caixa, a análise das taxas de retorno, entre
outros. Essas técnicas serão utilizadas de acordo com o objetivo do analista.
A análise econômica e financeira proporciona alguns produtos, como informações relacio-
nadas à situação financeira e econômica da entidade (e causas de suas alterações), ao desempenho
da empresa, à eficiência na utilização dos recursos, aos pontos fortes e fracos da companhia, às
tendências e perspectivas, ao quadro evolutivo e às providências que deviam ter sido tomadas e
não foram.
O fluxo da análise de indicadores pode ser visualizado na Figura 1, a seguir:
Figura 1 – Fluxo da análise de indicadores

Fatos contábeis Informações para a tomada de


Técnicas de análise
Dados decisões

Processo que implica O resultado do processo


Eventos que influenciam o
tratamento especial conferido de análise deve ser
patrimônio da entidade, mas
aos dados dos relatórios contemplado em relatórios que
necessitam de um tratamento
contábeis para se obter uma permitam ao usuário um
adequado a fim de subsidiarem
visão da situação econômica e entendimento claro da situação
o processo de decisão
financeira da entidade da empresa analisada

Fonte: Elaborada pelo autor.

Ao iniciar a análise com indicadores, é sempre importante contextualizar a empresa e o seu


mercado. A análise econômica e financeira não deve estar dissociada da análise do ambiente, assim,
variáveis como taxa de câmbio, taxa de juros, inflação, mercado externo etc., bem como uma análise
das políticas referentes a cada uma dessas variáveis, são elementos que devem sempre ser conside-
rados. É por meio da análise que será possível identificar o posicionamento da empresa diante de
oportunidades e ameaças no mercado, bem como sua reação diante de determinadas crises.
Indicadores de gestão 121

Se o mercado se retraiu no período analisado e a análise demonstra que a empresa teve um


bom desempenho, pode significar que ela soube (e estava preparada para) aproveitar oportunidades
que as concorrentes não conseguiram. Se, ao contrário, ocorreu em um mercado em expansão e a
empresa teve um baixo rendimento, é um indício de que existem problemas internos que devem ser
ressaltados na análise.

11.2 Metodologia e tipos de análise


Para Matarazzo (2010), a análise de balanços baseia-se no raciocínio científico e pode ser
dividida em três etapas distintas e sequenciais, as quais devem estar perfeitamente coordenadas.
Cada uma dessas etapas se vale de técnicas próprias, conheça-as na Figura 2, a seguir:
Figura 2 – Etapas de análise de balanços

Escolha de indicadores Comparação com padrões Diagnóstico ou conclusão

É imprescindível a É o aspecto mais importante.


A quantidade e a qualidade
comparação com Uma boa análise deve
dos indicadores dependerão
determinados padrões, pois a habilitar o decisor para a
do objetivo da análise
análise não deve ser absoluta escolha da melhor alternativa

Fonte: Elaborada pelo autor.

Os indicadores de gestão indicam tendências do comportamento da empresa em seus as-


pectos financeiros e econômicos e, embora não devam ser considerados como verdades absolutas,
são extremamente úteis na compreensão do desempenho passado e estabelecem possíveis tendên-
cias para o comportamento da gestão financeira para o futuro. Normalmente a primeira técni-
ca aplicada é aquela que compreende a análise vertical e horizontal, conheceremos essas técnicas
na sequência.

11.2.1 Análise vertical


A técnica denominada análise vertical demonstra a relação existente, em um dado período,
entre um elemento – conta ou subgrupo – sobre uma grandeza na qual aquele elemento está contido.
Por meio da análise vertical, pode-se saber, por exemplo, qual é o percentual representado
pelas aplicações no Ativo não Circulante em relação ao total do Ativo. Seu cálculo é efetuado divi-
dindo-se a parte (conta ou subgrupo) pelo todo (grupo ou qualquer elemento-base), dessa forma,
há uma medida de representatividade da parte calculada.
Silva (2013, p. 203) afirma que “o primeiro propósito da análise vertical é mostrar a par-
ticipação de cada item de uma demonstração financeira em relação a determinado referencial.
No Balanço, por exemplo, é comum determinarmos quantos por cento representa cada rubrica
(e grupo de rubricas) em relação ao Ativo total”.
Essa técnica também nos permite efetuar uma análise da tendência da representatividade de
determinado elemento ao longo de uma série de períodos contábeis, portanto, não se deve visua-
lizá-la em apenas um exercício. Sua utilidade reside em proporcionar uma visão das estratégias da
empresa na aplicação de seus recursos.
122 Contabilidade

Podemos verificar, por exemplo, se em um determinado período a empresa acentuou inves-


timentos em Estoques, Imobilizado ou outra rubrica do Ativo. Em contrapartida, poderemos saber
qual é a representatividade de cada linha do Passivo sobre o total das origens.
A análise vertical é extremamente útil na mensuração e no acompanhamento das várias con-
figurações do resultado empresarial – resultado bruto, resultado operacional e resultado líquido –
tendo como base, nesse caso, sempre a receita líquida, isto é, todos os cálculos de participação dos
elementos componentes da Demonstração do Resultado do Exercício – receitas, despesas, lucro
bruto, resultado operacional etc. – serão feitos sobre a receita líquida.
A fórmula utilizada para a análise vertical estabelece o cálculo do valor representativo de
uma conta, por exemplo, a conta Lucro Líquido sobre uma determinada base. Como visto ante-
riormente, no caso da análise da DRE, será sempre a Receita Líquida. O resultado sempre será
multiplicado por 100 para obtermos a informação em percentual.

elemento
· 100
todo
Obs.: elementos são as contas ou subgrupos e o todo é entendido como o grupo.

11.2.2 Análise horizontal


A análise horizontal mostra a evolução no tempo de cada item componente de determinado
relatório contábil. Por meio dessa técnica, podemos saber, por exemplo, qual é o comportamento
do custo dos produtos vendidos em uma sequência de períodos.
Silva (2013) comenta que a finalidade da análise horizontal é permitir o exame da evolução
histórica de cada uma das contas que compõem as demonstrações contábeis. Podemos calcular a
análise horizontal tendo como base um período específico, sobre o qual serão comparados todos
os demais períodos.
Por exemplo, em uma análise histórica compreendendo os anos de 2014 a 2017, utilizaríamos
nesse caso o ano de 2014 como base para todos os anos seguintes. Ou poderíamos – dependendo
do objetivo da análise e da representatividade do ano escolhido – calcular a análise horizontal
sobre o ano imediatamente anterior (2017 sobre 2016, 2016 sobre 2015 e assim sucessivamente).
Quando tratamos do cálculo da análise horizontal, a fórmula deve retratar a evolução de um
determinado item do Balanço ou da Demonstração do Resultado do Exercício em dois ou mais
períodos contábeis.

Período atual
– 1 · 100
Período base
Indicadores de gestão 123

11.2.3 Aplicação das análises vertical e horizontal


As primeiras técnicas a serem utilizadas na análise de demonstrações contábeis geralmente
são a análise vertical e horizontal. Em conjunto, poderão suscitar uma série de perguntas que o
analista tentará responder utilizando-se das demais técnicas.
A Figura 3 mostra as diferenças desses tipos de análise. Em seguida, encontramos na Tabela
um exemplo da aplicação dessas análises.
Figura 3 – Análise vertical e horizontal

Análise

Vertical Horizontal

Participação de um elemento sobre um todo Evolução de um elemento em diversos períodos


(exemplo: Ativo Circulante sobre o total (exemplo: Ativo Circulante em 2017 em relação
do Ativo) ao Ativo Circulante de 2016)

Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 1 – Exemplo de análises vertical e horizontal sobre o Ativo

2016 2017
Balanço Patrimonial
Valor AV%* Valor AV%* AH%**

ATIVO

Ativo Circulante R$ 2.019.216,00 43,5% R$ 2.800.115,00 46,5% 39%

Financeiro R$ 1.037.904,00 22,5% R$ 1.762.368,00 29,1% 70%

Disponível R$ 64.707,00 1,4% R$ 7.098,00 0,1% -89%


Aplicações financeiras R$ 973.197,00 21,1% R$ 1.755.270,00 29% 80%

Operacional R$ 981.312,00 21% R$ 1.037.747,00 17,4% 6%

Clientes R$ 610.222,00 13% R$ 597.759,00 10% -2%


Estoques R$ 250.741,00 5% R$ 261.922,00 4,4% 4%
Outros R$ 120.349,00 3% R$ 178.066,00 3% 48%

Ativo não Circulante R$ 2.592.978,00 56,5% R$ 3.204.026,00 53,5% 24%

Realizável a longo prazo R$ 291.335,00 6% R$ 297.689,00 5% 2%

Investimentos R$ 357.422,00 8% R$ 484.119,00 8,1% 35%

Imobilizado R$ 1.921.863,00 42% R$ 2.367.420,00 39,4% 23%

Intangível R$ 22.358,00 0,5% R$ 54.798,00 1% 145%

Total do Ativo R$ 4.612.194,00 100% R$ 6.004.141,00 100% 30%


*Valores aproximados **ano-base 2016
Fonte: Elaborada pelo autor.
124 Contabilidade

No exemplo da Tabela 1, o Ativo Circulante aumentou sua participação no Ativo Total de


43,5% para 46,5%, representando uma evolução de 39% do ano de 2016 para o ano de 2017.
A causa desse aumento foi o Ativo Circulante Financeiro, cujo acréscimo nesse período foi
de aproximadamente 70%, compreendendo uma participação de 29,1% sobre o Ativo.
O Ativo não Circulante também experimentou um aumento de 24% no período, influencia-
do basicamente pelo Imobilizado, que registrou aumento de 23%. O subgrupo Investimentos, com
acréscimo de 35% – embora sua participação no total do Ativo seja de apenas 8,1% – contribuiu
para a evolução do Não Circulante. Em relação ao Ativo total, a empresa aumentou suas aplicações
de recursos em 30%.
A Tabela 2 mostra um exemplo de análise sobre o Passivo:
Tabela 2 – Exemplo de análises vertical e horizontal sobre o Passivo

2016 2017
Balanço Patrimonial
Valor AV% Valor AV% AH%

PASSIVO

Passivo Circulante R$ 1.168.401,00 25% R$ 1.122.747,00 19% -4%

Operacional R$ 427.152,00 9% R$ 482.431,00 8% 13%

Fornecedores 171.944,00 4% 203.305,00 3% 18%

Outras obrigações 255.208,00 5% 279.126,00 5% 9%

Financeiro R$ 741.249,00 16% R$ 640.316,00 11% -14%

Empréstimos bancários R$ 611.232,00 13% R$ 605.002,00 10% -1%

Duplicatas descontadas R$ 130.017,00 3% R$ 35.314,00 1% -73%

Passivo não Circulante R$ 1.199.131,00 26% R$ 2.420.623,00 40% 102%

Empréstimos/Financiamentos R$ 1.116.394,00 24% R$ 2.333.072,00 39% 109%

Outros (inclui minoritários) R$ 82.737,00 2% R$ 87.551,00 1% 6%

Capitais de terceiros R$ 2.367.532,00 51% R$ 3.543.370,00 59% 50%

Patrimônio Líquido R$ 2.244.662,00 49% R$ 2.460.771,00 41% 10%

Capital e reservas R$ 1.100.000,00 24% R$ 1.100.000,00 18% 0%

Lucros e reservas R$ 1.144.662,00 25% R$ 1.360.771,00 23% 19%

Total do Passivo R$ 4.612.194,00 100% R$ 6.004.141,00 100% 30%


Fonte: Elaborada pelo autor.
Indicadores de gestão 125

Pela análise, é possível identificar que o Passivo Circulante diminuiu sua participação no
Passivo Total em 4% de 2016 para 2017. Em 2016, o Passivo Circulante compreendia 25% do total
das dívidas, passando para 19% em 2017.
A principal alteração foi observada no Passivo Circulante Financeiro, que diminuiu 14%,
tendo como causa basicamente o resgate de títulos descontados.
O Passivo não Circulante constituiu-se como principal fonte de recursos para financiamento
do Ativo da empresa, experimentando um acréscimo de 102% com aumento na participação no
Passivo Total de 26% para 40% de um ano para o outro.
O aumento nas dívidas de longo prazo fez com que a participação dos capitais de terceiros
no financiamento da empresa aumentasse de 51% para 59%, variando positivamente em 50% no
período em análise.
Embora se tenha obtido lucro em 2017, o capital próprio reduz sua participação no financia-
mento do Ativo, pois em 2016 representava 49% das fontes, passando a representar 41% em 2017. Essa
modificação na estrutura de capitais deve-se ao crescimento do Passivo não Circulante no período.
Na Tabela 3 vemos as análises vertical e horizontal sobre a DRE:
Tabela 3 – Exemplo de análises vertical e horizontal sobre a DRE

Demonstração do Resultado

Exercícios findos em 2016 2017


Valor AV% Valor AV% AH%

Receita líquida R$ 2.560.320,00 100% R$ 2.594.732,00 100% 1%

Custo dos produtos vendidos (R$ 2.019.074,00) -79% (R$ 2.004.363,00) -77% -1%

Lucro bruto R$ 541.246,00 21% R$ 590.369,00 23% 9%

Despesas operacionais (R$ 383.918,00) -15% (R$ 400.270,00) -15% 4%


Outras receitas/despesas operacionais R$ 308.335,00 12% R$ 284.829,00 11% -8%

Resultado operacional R$ 465.663,00 18% R$ 474.928,00 18% 2%

(antes dos efeitos financeiros)

Receitas financeiras R$ 122.983,00 5% R$ 301.695,00 12% 145%

Desp. financeiras (R$ 267.191,00) -10% (R$ 204.600,00) -8% -23%

Resultado operacional R$ 321.455,00 13% R$ 572.023,00 22% 78%

(após os efeitos financeiros)

Outros resultados (R$ 2.295,00) 0% R$ 591,00 0% 126%

Resultado antes dos impostos R$ 319.160,00 12% R$ 572.614,00 22% 79%

Provisão para Impostos (R$ 10.052,00) 0% (R$ 99.122,00) -4% 886%

Lucro/prejuízo do Exercício R$ 309.108,00 12% R$ 473.492,00 18% 53%


Fonte: Elaborada pelo autor.
126 Contabilidade

Pode-se observar que a empresa aumentou sua margem bruta no período em 9%, tendo em
vista um efeito combinado positivo – aumento de 1% na receita líquida e queda de 1% no custo dos
produtos vendidos. A rentabilidade operacional manteve-se constante nos dois períodos analisa-
dos – 18% de margem em 2016 e em 2017.
A margem operacional, após o cômputo do resultado financeiro, demonstrou um aumento
significativo de 78% de 2016 para 2017, devendo essa melhora ao desempenho da receita financeira
(aumento de 145%) e à redução das despesas financeiras (queda de 23%).
O aumento da margem bruta combinado ao reconhecimento de uma receita de equivalência
patrimonial – 12% sobre a receita líquida – e a excelente participação do resultado financeiro deri-
vam em um aumento da margem líquida de 53% de 2016 para 2017.
Com base nesses exemplos, observa-se que as análises vertical e horizontal devem ser utili-
zadas conjuntamente.

11.3 Escolha de indicadores


Podemos definir o termo índice, de acordo com Matarazzo (2010), como a relação entre
contas ou grupos de contas das demonstrações contábeis.
Os índices representam a técnica de análise mais empregada, porém não se deve confundir
análise de balanços com a “simples” extração de índices, já que estes não constituem um fim, mas
sim um meio para em conjunto com outras técnicas permitir um diagnóstico mais preciso da si-
tuação da empresa.
Para Silva (2013, p. 228), os índices financeiros são “relações entre contas ou grupos de
contas das demonstrações financeiras, que têm por objetivo fornecer-nos informações que não são
fáceis de serem visualizadas de forma direta nas demonstrações financeiras”. Ainda de acordo com
o autor, como medida relativa de grandeza, o índice deve permitir:
• que compreendamos seu significado, o que é o ponto de partida para a análise da relação
das partes das demonstrações contábeis que representa;
• que possamos comparar sua evolução histórica em uma mesma empresa, com base na
observação de seu comportamento ano a ano;
• que em uma mesma época ou momento possamos comparar o índice de uma empresa em
particular com o mesmo índice relativo a outras empresas de mesma atividade, porte e re-
gião geográfica, a fim de compreender como está a situação da entidade em relação às suas
principais concorrentes ou mesmo em relação aos padrões de seu segmento de atuação.

As demonstrações financeiras podem ser analisadas sob dois aspectos: financeiro e eco-
nômico. O aspecto financeiro do negócio é analisado pelos indicadores de liquidez e endivi-
damento ao passo que, quando se quer saber o seu desempenho econômico, utilizam-se os
indicadores de rentabilidade.
Indicadores de gestão 127

11.3.1 Índices de liquidez


Os índices deste grupo demonstram a base da situação financeira da empresa e, a partir do
confronto dos Ativos Circulantes com as dívidas que vencem a curto prazo (até 365 dias), expres-
sam quão sólida é a base financeira da empresa.
Entretanto, não se pode confundir índices de liquidez com índices de capacidade de paga-
mento, pois a capacidade de pagamento é medida pelo fluxo de entrada e saídas de caixa.
Um aumento nos índices de liquidez pode ocorrer por meio de um acúmulo indevido de
estoques e recebíveis em dado período. Por essa razão, devem sempre ser analisados em conjunto
com outras técnicas, como os índices de prazos médios e a formação do capital de giro. Os índices
que expressam a liquidez são:
• Liquidez geral (LG): demonstra quantos reais (R$) a empresa possui de Ativo Circulante
mais o Realizável a Longo Prazo para cada real (R$) de dívida total.

Ativo Circulante + Realizável a Longo Prazo


Passivo Circulante + Passivo não Circulante

• Liquidez corrente (LC): demonstra quanto a empresa possui de Ativo Circulante para
cada Passivo Circulante.

Ativo Circulante
Passivo Circulante

• Liquidez seca (LS): demonstra quanto a empresa possui de Ativo Circulante Líquido –
sem a dependência da venda de estoques para manter-se solvente – para cada Passivo
Circulante.

Ativo Circulante – Estoques


Passivo Circulante
128 Contabilidade

11.3.2 Índices de endividamento (estrutura de capitais)


Os índices desse grupo mostram as grandes linhas de decisões financeiras em termos de ob-
tenção de recursos. Por meio do cálculo desses índices, pode-se verificar a proporção entre Capitais
de Terceiros e Capital Próprio utilizados pela empresa.
Sob o aspecto financeiro, quanto maior a relação entre capitais de terceiros/capital próprio,
menor a liberdade de decisões financeiras da empresa ou maior a dependência da entidade em
relação a esses terceiros.
Entretanto, sempre que se aborda o índice de participação de capitais de terceiros, realiza-se
a análise exclusivamente do ponto de vista financeiro, ou seja, com foco no risco de insolvência,
não no lucro ou prejuízo. Os índices que expressam a estrutura de capitais são:
• Endividamento geral: demonstra quanto a empresa utiliza de recursos de terceiros para
financiamento do seu Ativo.

Capitais de terceiros
Ativo total

• Participação de capitais de terceiros: demonstra quanto a empresa tomou de capitais de


terceiros para cada R$ 100,00 de capital próprio.

Capitais de terceiros · 100


Patrimônio Líquido

• Composição do endividamento: indica o percentual de obrigações de curto prazo em


relação às obrigações totais.

Passivo Circulante
Capitais de terceiros (PC + PNC)

• Imobilização do Patrimônio Líquido: demonstra quanto a empresa aplicou nos Ativos


de Longo Prazo para cada R$ 100,00 de Patrimônio Líquido.
Indicadores de gestão 129

Ativo não Circulante – Ativo Realizável a Longo Prazo · 100


Patrimônio Líquido

É perfeitamente possível utilizar recursos de longo prazo para financiamento de investimen-


tos de longa duração, desde que o prazo seja compatível com a duração do Ativo1 ou então que o
prazo seja suficiente para a empresa gerar recursos capazes de resgatar suas dívidas.

11.3.3 Índices de rentabilidade


Os índices desses grupos demonstram a rentabilidade dos capitais investidos, isto é, quanto
renderam os investimentos e qual foi o grau de êxito econômico da empresa.
• Giro do Ativo: demonstra quanto a empresa vendeu para cada R$ 1,00 de investimento
total.

Vendas líquidas
Ativo Total

• Margem bruta: demonstra quanto a empresa obtém de lucro bruto para cada R$ 100,00
vendidos.

Lucro bruto · 100


Vendas líquidas

A margem bruta demonstra a margem comercial da atividade, ou seja, o ganho obtido pela
empresa, considerando apenas o confronto entre o preço de venda e os custos de produção (indús-
tria), prestação de serviços ou custo de compra das mercadorias (comércio). Essa margem deve ser
suficiente para permitir a cobertura dos gastos operacionais e proporcionar o lucro líquido.

1 Embora a fórmula contenha os Investimentos, o Imobilizado e o Intangível, as empresas buscam recursos de longo
prazo para financiar, quase sempre, o Imobilizado.
130 Contabilidade

• Margem líquida: demonstra quanto a empresa obtém de lucro para cada R$ 100,00
vendidos.

Lucro líquido · 100


Vendas líquidas

Analisando a margem líquida, a empresa pode perfeitamente gerenciar sua política de ven-
das em termos de margem, giro ou até mesmo volume, de acordo com as circunstâncias.
• Rentabilidade do Ativo: demonstra quanto a empresa obtém de lucro para cada
R$ 100,00 de investimento total médio.

Lucro líquido · 100


Ativo total

A Rentabilidade do Ativo mostra quanto os Ativos da empresa geraram de lucro no período,


mede o potencial de geração de lucro da empresa, sua capacidade de gerar lucros líquidos e assim
poder capitalizar-se.
• Rentabilidade do Patrimônio Líquido: demonstra quanto a empresa obteve de lucro
para cada R$ 100,00 de capital próprio investido.

Lucro líquido · 100


Patrimônio Líquido

A rentabilidade do Patrimônio Líquido mede os retornos obtidos sobre os investimentos dos


proprietários, tanto acionistas preferenciais quanto acionistas comuns. Pode ser calculado sobre o
Patrimônio Líquido médio, para não haver uma distorção do índice.
Tendo existido grandes variações desse capital durante o ano por aumento de capital, incor-
poração de reservas e o próprio lucro gerado durante o período, não se pode afirmar que esse lucro
tenha sido produzido por esse investimento.

11.3.4 Aplicação dos indicadores


Os índices, como destacado anteriormente, são resumidos em liquidez e endividamento –
que demonstram a situação financeira –; e os que refletem a rentabilidade do negócio – que são os
indicadores de rentabilidade – como se vê na Figura 4 a seguir:
Indicadores de gestão 131

Figura 4 – Resumo dos índices

Índices

Situação financeira Situação econômica

Liquidez Endividamento Rentabilidade

Demonstram a estrutura
Demonstram a possi- Demonstram a
de capitais utilizada
bilidade de a empresa capacidade de geração
pela empresa. Qual o
manter-se solvente no de resultados positivos
montante de dívidas
curto prazo (corrente), e a relação desse
(terceiros e capital
no longo prazo (geral) resultado com elementos
próprio) e perfil
e sem dependência dos causadores (venda,
respectivo (curto e
estoques (seca) ativo etc.)
longo prazo)

Fonte: Elaborada pelo autor.

Tomando como base os dados do exemplo utilizado na aplicação das análises vertical e ho-
rizontal, temos na Tabela 4 um exemplo de análise econômica e financeira:
Tabela 4 – Exemplo de análise econômica e financeira

Análise econômica e financeira de empresas

Cálculo de indicadores 2016 2017

Liquidez

Corrente R$ 1,73 R$ 2,49

Seca R$ 1,51 R$ 2,26

Geral R$ 0,98 R$ 0,87

Endividamento

Geral 51,33% 59,02%

Composição do endividamento 49,35% 31,69%

Participação dos capitais de terceiros 105,47% 143,99%

Imobilização do PL 102,54% 118,11%

Rentabilidade

Margem bruta de vendas 21,1% 22,8%

Margem líquida de vendas 12,1% 18,2%

Rentabilidade do capital próprio 14% 19%

Giro do Ativo R$ 0,56 R$ 0,43

Rentabilidade do Ativo 6,70% 7,89%


Fonte: Elaborada pelo autor.
132 Contabilidade

Em 2016, a empresa possuía R$ 1,73 de Ativo Circulante para cada R$ 1,00 de dívida a curto
prazo. Já no longo prazo, a liquidez de R$ 0,98 em Ativos realizáveis totais para cada R$ 1,00 de dí-
vida total em 2016 diminui para R$ 0,87 em 2017. Essa queda é explicada pelo aumento expressivo
nas dívidas de longo prazo em 2016 e 2017.
O fato não precisa necessariamente ser considerado preocupante, porque a empresa tem um
razoável prazo para gerar lucro e caixa para amortização da dívida. Destaque-se a liquidez seca,
com o valor R$ 1,51 em 2016 e R$ 2,26 em 2017, o que representa que a empresa diminuiu sua
dependência dos estoques para manter-se solvente.
No que diz respeito ao endividamento, não obstante o aumento na participação de capitais
de terceiros (59% em 2017), os indicadores não demonstram uma situação que revele preocupação.
Percebe-se uma queda na garantia do capital de terceiros de 105% em 2016 a 144% em 2017, mas a
mudança no perfil da dívida, em sua maior parte de longo prazo, resulta em uma queda no endivi-
damento de curto prazo pela composição de capital de terceiros. Em 2016, a empresa tinha 49% de
suas dívidas concentradas no curto prazo, passando esse índice para 31,69% em 2017.

11.4 Análise da gestão do caixa


A análise da gestão do caixa proporciona o estudo do fluxo de recursos em determinado
período – origens e aplicações do dinheiro –, em um sentido mais amplo. A geração de caixa nos
níveis desejados pela organização é dependente de uma rentabilidade líquida adequada, pois a
quantidade de lucro obtido em maior ou menor tempo irá refletir-se no caixa. Existem dois mé-
todos de estruturação do fluxo de caixa: o direto e o indireto.
O método direto consiste na apuração da variação do saldo de caixa com base nas entradas
e saídas ocorridas em um período. Para efeito de análise da geração de caixa, o método mais in-
dicado é o indireto. Por esse método, utiliza-se o lucro líquido do exercício (ajustado por valores
que transitam pelo resultado, mas não afetam o caixa), contemplando-se as variações ocorridas
nas contas Circulantes e Não Circulantes que representam origens e aplicações de caixa, como o
modelo a seguir.
Tabela 5 – Análise da geração de caixa

Demonstração do fluxo de caixa 2017

Lucro líquido R$ 473.492,00

Ajustes – despesas e receitas que não afetam o caixa (R$ 50.914,00)

(=) 1. GERAÇÃO BRUTA DE CAIXA R$ 422.578,00

Aplicações operacionais

Duplicatas a receber (R$ 12.463,00)

Estoques R$ 11.181,00

Outros R$ 57.717,00

Soma (a) R$ 56.435,00

(Continua)
Indicadores de gestão 133

Demonstração do fluxo de caixa 2017

Fontes operacionais

Fornecedores R$ 31.361,00

Outros Passivos operacionais R$ 23.918,00

Soma (b) R$ 55.279,00

2. VARIAÇÃO DA NCG (a-b) R$ 1.156,00

(=) 3. GERAÇÃO OPERACIONAL DE CAIXA (1-2) R$ 421.422,00

(+) Fontes não operacionais de curto prazo

Obrigações bancárias (R$ 100.933,00)

(=) 4. GERAÇÃO CORRENTE DE CAIXA R$ 320.489,00

(+) Fontes de longo prazo

Aumento de capital

Empréstimos e financiamentos R$ 1.922.731,00

Outros R$ 222.941,00

Soma R$ 2.145.672,00

(-) Aplicações de Longo Prazo

Dividendos 0

Aquisição de investimentos R$ 231.117,00

Aquisição de imobilizado R$ 701.535,00

Aumento do Ativo intangível R$ 50.587,00

Outros R$ 758.458,00

Soma R$ 1.741.697,00

(=) 5. GERAÇÃO LÍQUIDA DE CAIXA R$ 724.464,00

(+) Ativo Circulante financeiro inicial R$ 1.037.904,00

(=) Ativo Circulante financeiro final R$ 1.762.368,00

R$ 724.464,00

Fonte: Elaborada pelo autor.

O aumento na rentabilidade em 2017 proporcionou uma geração líquida de caixa 53% supe-
rior ao lucro líquido do exercício. A manutenção dos prazos médios de estoques e de recebimento
de vendas, como será visto adiante, combinados à captação de recursos de longo prazo, reforçou o
capital de giro, exercendo um efeito positivo sobre a geração operacional de caixa.
Mesmo após a amortização de empréstimos bancários (que tem um efeito benéfico sobre a
rentabilidade pelo menor impacto das despesas financeiras) e a aquisição de Ativos não Circulantes,
ainda persiste uma geração considerável de caixa superior ao lucro líquido do exercício.
134 Contabilidade

A análise financeira não é um exercício de divagações e proposições infundadas. Ao contrá-


rio, baseia-se em um raciocínio técnico/analítico e obedece a uma sequência lógica de construção.
A metodologia da análise deve observar a identificação e escolha dos indicadores que serão
utilizados. A comparação desses indicadores com um padrão estabelecido e a conclusão ou diag-
nóstico completam o ciclo de uma análise financeira que conduz o gestor a decisões mais asserti-
vas. As técnicas a serem utilizadas ou a quantidade e qualidade dos indicadores a serem calculados
dependem do objetivo da análise.
Por exemplo, para a concessão de um empréstimo de curto prazo, provavelmente o cre-
dor preocupa-se com a situação de liquidez e endividamento de curto prazo do possível toma-
dor dos recursos.
É importante destacar também que o analista deve ter uma visão sistêmica da empresa, pois
um problema de endividamento desencadeará uma rentabilidade menor pelo custo da dívida e
poderá comprometer uma futura geração de caixa.

11.5 Prazos médios


Antes de se iniciar o estudo dos prazos médios, é conveniente verificar o conceito de ciclo
operacional. Na execução de suas atividades operacionais, a empresa persegue sistematicamente a
produção e a comercialização de seus produtos. Por meio dessas atividades, ela procura obter de-
terminado volume de lucros que satisfaçam à necessidade de retorno de seus investimentos.
O ciclo operacional se desenvolve normal e repetitivamente nesse processo. Ele pode ser
definido como as fases operacionais existentes, que vão desde a aquisição de materiais para a
produção (indústria) ou aquisição de mercadorias (comércio) até o recebimento das vendas.
Cada uma dessas fases (compra, estocagem, venda e recebimento) têm determinada duração.
Os índices de atividade procuram medir a rapidez com que certos Ativos giram dentro de
um determinado exercício, dado o volume de operações alcançado.
Prazo médio é o tempo em que um elemento permanece no patrimônio da empresa até ser
realizado – no caso das duplicatas a receber, por exemplo, sua realização se dá pelo recebimento, já
os estoques se realizam pela venda – ou até ele ser quitado no caso dos Passivos, como fornecedores
e empréstimos.
Depreende-se que, quanto maior o prazo médio dos Ativos, maior tempo eles ficam “para-
dos”, compondo o Ativo da empresa. Em relação aos Passivos, quanto maior o prazo médio, maior
o tempo que a empresa tem para gerar recursos financeiros para sua liquidação.
• Prazo médio de renovação de estoques (PMRE): representa o tempo médio em que
as mercadorias ou produtos permanecem na empresa até serem vendidos. Na indústria,
considera-se o tempo de produção e estocagem, já na atividade comercial esse prazo re-
presenta o tempo que vai da compra da mercadoria até sua venda.
Indicadores de gestão 135

Vamos destacar a fórmula de prazo médio anual. Para melhor entender o cálculo, devemos
observar o seguinte: você sabe que o estoque permanece no Ativo até ser vendido, pois com a venda
ele é reconhecido contabilmente como o Custo da Mercadoria Vendida (comércio) ou Custo do
Produto Vendido (indústria).
Entendamos o cálculo considerando a afirmativa anterior. Quando dividimos o valor do
Custo da Mercadoria Vendida por 360 (CMV/360), obtemos o valor médio diário de estoque bai-
xado para o custo (CMV diário). Se dividirmos o saldo de estoque que consta no balanço pelo
CMV diário, saberemos quantos “dias” de estoques ainda temos de mercadorias para vender.

Estoques
PMRE = · 360
Custo das mercadorias vendidas

• Prazo médio de recebimento de vendas (PMRV): representa o tempo transcorrido entre


a venda e o seu respectivo recebimento.
O prazo médio de recebimento de vendas informa o tempo médio que as duplicatas permane-
cem no Ativo até serem recebidas, portanto informam o prazo concedido aos clientes.
Vamos entender melhor o cálculo com o mesmo raciocínio utilizado para o prazo médio de
estoques. Quando dividimos o valor da Receita de Venda por 360 (vendas/360), obtemos o valor
médio diário de vendas (Receita de vendas diária). Se dividirmos o saldo de duplicatas a receber
que consta no Balanço pela Receita de venda diária, então saberemos quantos “dias” de vendas
ainda temos para receber.

Duplicatas a receber
PMRV = · 360
Vendas

• Prazo médio de pagamento de compras (PMPC): expressa o prazo concedido pelos for-
necedores para pagamento das compras.

Fornecedores
PMPC = · 360
Compras

Para se saber quantas vezes ao ano se renovam as duplicatas a receber, os estoques e os for-
necedores, basta dividir 360 (se anual) pelo prazo médio de cada um dos itens citados.
136 Contabilidade

Não devemos nos esquecer da integração que deve haver entre a análise dos índices de liqui-
dez, os índices de prazos médios e o estudo do capital de giro da empresa, pois como se afirmou no
estudo da liquidez, pode ocorrer um indesejado acúmulo de recebíveis (causado por uma inadim-
plência) ou estoques (retração nas vendas, compras em volumes superiores ao normal), ocasionando
um aumento naqueles índices.
Matarazzo (2010) ensina que o ciclo operacional mostra o prazo de investimento.
Paralelamente ao ciclo operacional, ocorre o financiamento concedido pelos fornecedores, a partir
do momento da compra.
Até o momento do pagamento aos fornecedores, a empresa não precisa se preocupar com o
financiamento, que é automático. O tempo decorrido entre o momento em que a empresa efetua
o pagamento ao fornecedor e o momento em que recebe pelas vendas feitas aos seus clientes é o
período em que a empresa precisa conseguir financiamento – é o ciclo de caixa ou ciclo financeiro.
É desejável que o prazo médio de pagamento das compras supere os prazos médios de re-
novação de estoques e os prazos médios de recebimento de vendas. Sabe-se que, na prática, isso
é bastante difícil, mas a empresa deve constantemente avaliar seu ciclo operacional com vistas a
verificar possibilidades de melhores negociações.
Tabela 6 – Exemplo de análise econômica e financeira

Cálculo de indicadores 2016 2017


Prazos médios

Estocagem 45 47

Recebimento vendas 86 83
Fonte: Elaborada pelo autor.

A análise dos prazos médios da empresa demonstra que há uma estabilidade nesses indi-
cadores em 2016 e 2017. Em 2016, a empresa concedia em média 86 dias de financiamento aos
clientes, passando esse prazo a ser de 83 dias em 2017.

11.6 EBIT e EBITDA


O EBITDA, sigla correspondente a Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and
Amortization, é um indicador bastante utilizado quando se quer analisar a geração operacional de
caixa. Corresponde ao conceito de Lucro antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização
(LAJIDA) e mede a capacidade de geração operacional de caixa, ou seja, quanto de caixa as em-
presas geram por sua atividade operacional sem considerar os efeitos financeiros e tributários e o
consumo dos Ativos via depreciação e amortização.
O EBIT, sigla correspondente a Earning Before Interests and Taxes, corresponde a Lucro
Antes dos Juros e Impostos (LAIR) e é pouco utilizado pela preferência que se dá ao LAJIDA.
O LAIR desconsidera, para efeito de análise do resultado operacional, apenas o efeito dos
encargos financeiros e dos tributos sobre o lucro. Por isso, daremos destaque para o EBITDA/
LAJIDA, pois este mede o desempenho operacional líquido de efeitos não só tributários, mas
Indicadores de gestão 137

também de juros das depreciações e amortizações. Com o LADIJA, a empresa tem uma melhor
compreensão do lucro puramente operacional.
O EBITDA não é uma medida de desempenho financeiro exigida pela legislação contábil bra-
sileira e não deve ser utilizada como alternativa ao lucro líquido do exercício. Em razão de as des-
pesas e receitas com juros (financeiras), o Imposto de Renda, a contribuição social, a depreciação e
a amortização não serem consideradas para o seu cálculo, o EBITDA funciona como um indicador
do desempenho econômico geral que não é afetado por flutuações das taxas de juros, alterações das
alíquotas do Imposto de Renda e da contribuição social ou dos níveis de depreciação e amortização.
Consequentemente, essa medida de desempenho funciona como ferramenta importante para se me-
dir e acompanhar o desempenho operacional, bem como para embasar determinadas decisões.
O cálculo desse indicador é relativamente simples: parte-se do valor do lucro operacional
e adicionam-se os valores relativos às depreciações e amortizações por representarem despesas e
custos que não impactam no caixa, ou seja, não consomem recursos financeiros.
Outra conta que será adicionada ao lucro operacional para se chegar à geração de caixa (EBITDA)
é a despesa financeira líquida, pois se busca a geração operacional de caixa sem a influência de recursos
financeiros utilizados para financiar a atividade. Assim, para se calcular o EBITDA, adicionam-se os
juros, a depreciação e a amortização ao lucro operacional líquido antes dos impostos.
Por esse indicador, analisa-se a eficiência operacional sem uma possível dependência de
capitais de terceiros para financiamento da atividade operacional, isto é, mede-se a eficiência e
eficácia operacional independentemente da estrutura de capitais utilizada para financiá-los.
O cálculo do EBITDA ou LAJIDA é efetuado de maneira prática e simples, bastando que se
ajuste ao lucro operacional líquido antes dos impostos, juros, depreciação e amortização, como nos
modelos a seguir:
Tabela 7 – Demonstrativo do EBITDA ou LAJIDA (em reais mil)

2º trimestre 2012 3º trimestre 2012 Variação %

Receita líquida 1.491 1.556 4%

Custo dos produtos vendidos (633) (661) 4%

Fretes (156) (171) 10%

Despesas de vendas (80) (75) -6%

Despesas administrativas (69) (78) 13%

Outras receitas (despesas) operacionais (3) 2 -167%

Resultado da alienação de Ativos

EBITDA ou LAJIDA ajustado 550 573 4%

Margem EBITDA 37% 37%


Fonte: Adaptada de Fibria, 2012.
138 Contabilidade

Nesse modelo, a empresa optou por não incluir os valores das contas que representam ajustes
para se chegar ao EBITDA ou LAJIDA. Isso é possível se o sistema contábil identifica (parametriza)
previamente aquelas contas contábeis que não devem compor sua estrutura. Isso pode ser feito
colocando-se um atributo nas contas de tributos sobre o lucro, despesas financeiras, depreciação e
amortização, atributo que fará com que o sistema não inclua esses valores no relatório.
Tabela 8 – EBITDA/LAJIDA – Copel

Cálculo do EBITDA/LAJIDA (Lucro Antes dos Juros, Consolidado


Impostos, Depreciação e Amortização) – Em mil 2010 2009
Lucro líquido do período atribuído aos acionistas da empresa controladora 987.807 791.776

Lucro líquido do período atribuído aos acionistas não controladores 22.474 20.502

IRPJ e CSLL diferidos (127.517) (38.851)

Provisão para IRPJ e CSLL 497.968 290.770

Resultado da equivalência patrimonial (99.337) (14.327)

Despesas (receitas) financeiras, líquidas (348.425) (6.735)

LAJIR/EBIT 932.970 1.043.135

Depreciação e amortização 542.992 539.781

LAJIDA/EBITDA – ajustado 1.475.962 1.582.916

Receita operacional líquida (ROL) 6.901.113 6.250.140

Margem do EBITDA/LAJIDA 21,4% 25,3%


Fonte: Copel, 2010.

Nesse modelo publicado, a empresa utiliza a estrutura mais comumente verificada e suge-
rida pela doutrina, fazendo os ajustes para se chegar ao lucro conforme os conceitos do LAJIDA.
Existem algumas vantagens em se utilizar esse formato gerencial de relatório financeiro, pois
seu uso pode aprimorar a análise da geração de lucros das empresas, destacando-se, obviamente, o
lucro genuinamente operacional.
Ao se desconsiderar os efeitos financeiros do resultado (tanto Ativos quanto Passivos), ob-
tém-se melhor medida comparativa entre empresas concorrentes, entre períodos contábeis e entre
o orçado e realizado, pois é possível fazer uma análise mais apropriada de medidas de produtivi-
dade, eficiência e eficácia.
É interessante efetuarmos cálculos percentuais relacionando o EBITDA ou LAJIDA com as
receitas operacionais para se conhecer o potencial de geração desse modelo de lucro operacional
por parte das vendas.
Os relatórios que demonstram o resultado operacional da empresa sem o efeito da par-
ticipação de juros, depreciações e tributação são de grande valia, na medida em que permitem
ao gestor um conhecimento da eficácia da atividade em gerar resultados operacionais “puros”.
Porém, como não são obrigatórios, são raras as empresas que os elaboram e mais raro ainda
aquelas que os publicam. Contudo, deve-se reconhecer que são demonstrativos de potencial
informativo extraordinário.
Indicadores de gestão 139

Atividades
1. Indique um objetivo na análise do EBITDA ou LAJIDA.

2. Qual a importância da análise dos índices de rentabilidade? Justifique.

3. Explique a relação existente entre os índices de liquidez e os prazos médios.

Referências
COPEL – Companhia Paranaense de Energia Elétrica. Relatório anual de gestão e sustentabilidade. 2010.
Disponível em: http://www.copel.com/relatoriosanuais/2010/pt/relatorio/03_03.htm. Acesso em: 29 nov. 2018.

FIBRIA. Resultados 3T12. 2012. Disponível em: https://fibr.infoinvest.com.br/ptb/5139/PR_Fibria_3T12%20


-%20Final.pdf. Acesso em: 29 nov. 2018.

MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços. São Paulo: Atlas, 2010.

SILVA, L. L. Contabilidade geral e tributária. São Paulo: IOB, 2013.


12
Consolidação das demonstrações contábeis

12.1 Conceito e objetivo


A consolidação das demonstrações contábeis é a apresentação da posição patrimonial, dos
resultados das operações e do fluxo dos recursos de várias entidades interligadas, como se fossem
uma única, porém deve-se considerar que os valores consolidados não representam uma entidade
juridicamente constituída, sendo a consolidação efetuada apenas extra-contabilmente.
O objetivo da consolidação das demonstrações contábeis é apresentar aos usuários, prin-
cipalmente aos acionistas e credores, os resultados das operações e a posição financeira tanto da
sociedade controladora quanto de suas controladas, como se o grupo fosse uma única empresa que
tivesse uma ou mais filiais ou divisões.
A consolidação permite uma visão abrangente de um conjunto de sociedades, já que a análi-
se individual de diversas demonstrações financeiras faria com que se perdesse a visão do conjunto
e do desempenho global do grupo.
Quando uma empresa adquire ações (títulos representativos do capital das sociedades anô-
nimas) ou quotas (títulos representativos de uma sociedade limitada) com objetivo de permanên-
cia, ou seja, com a intenção de obter benefícios econômicos (lucro) por tempo indeterminado, fica
estabelecida uma relação societária entre essas empresas.
Participam dessa relação jurídico-societária a empresa investidora – aquela que adquire a
participação em ações ou quotas – e a investida, sociedade na qual há a participação da investidora.
Contabilmente, a investidora classifica essa aplicação de recursos no Ativo não Circulante,
na conta Investimentos. Na investida, esse valor será reconhecido no Capital Social. Em termos
legais, as empresas que participam dessas relações societárias são classificadas como coligadas,
controladoras e controladas.
O enquadramento da sociedade em um ou em outro tipo societário é conferido pela Lei n.
6.404/1976, que em seu art. 243 define que “são coligadas as sociedades nas quais a investidora
tenha influência significativa”. O parágrafo 4º do mesmo artigo esclarece que “há influência sig-
nificativa quando a investidora detém ou exerce o poder de participar nas decisões das políticas
financeira ou operacional da investida, sem controlá-la” (BRASIL, 1976). Essa influência será pre-
sumida quando a investidora for titular de 20% ou mais do capital votante da investida, isto é, do
Capital Social formado pelas ações ordinárias da sociedade que dão direito a voto. De acordo com
o Pronunciamento Técnico CPC 36:
142 Contabilidade

Se o investidor mantém direta ou indiretamente (por meio de controladas, por


exemplo), vinte por cento ou mais do poder de voto da investida, presume-
se que ele tenha influência significativa, a menos que possa ser claramente
demonstrado o contrário. Por outro lado, se o investidor detém, direta ou
indiretamente (por meio de controladas, por exemplo), menos de vinte por
cento do poder de voto da investida, presume-se que ele não tenha influência
significativa, a menos que essa influência possa ser claramente demonstrada.
A propriedade substancial ou majoritária da investida por outro investidor
não necessariamente impede que um investidor tenha influência significativa
sobre ela.
A existência de influência significativa por investidor geralmente é evidenciada
por uma ou mais das seguintes formas:
(a) representação no conselho de administração ou na diretoria da investida;
(b) participação nos processos de elaboração de políticas, inclusive em decisões
sobre dividendos e outras distribuições;
(c) operações materiais entre o investidor e a investida;
(d) intercâmbio de diretores ou gerentes;
(e) fornecimento de informação técnica essencial. (CPC, 2013, p. 463)

Conforme o art. 243, parágrafo 2º da Lei n. 6.404/1976, “considera-se controlada a sociedade


na qual a controladora, diretamente ou através de outras controladas, é titular de direitos de sócio
que lhes assegurem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder de
eleger a maioria dos administradores” (BRASIL, 1976).
Veja a Figura 1:
Figura 1 – Controladora e controladas

Cia. A

Cia. B 70% 80% Cia. C

Fonte: Elaborada pelo autor.

A Figura 1 demonstra as relações societárias entre três companhias: A, B e C. Vemos que a


companhia A (investidora) é controladora das companhias B e C (investidas), o que é depreendido
pelos percentuais de participação.
A possível coligação entre A e B vai depender da existência de influência significativa de
uma sobre a outra, ou que uma detenha 20% ou mais do capital votante da outra.
Podemos afirmar, então, que a coligação se dá em uma perspectiva horizontal de participa-
ção e o controle (de onde provém os conceitos de controladora e controlada) se estabelece em uma
relação vertical, de hierarquia estabelecia por comando legal.

12.2 Considerações gerais sobre a consolidação


Há algumas considerações gerais que precisam ser feitas sobre a consolidação das demons-
trações contábeis:
• a consolidação de Balanços é uma técnica contábil adotada pelas normas internacionais
de contabilidade;
Consolidação das demonstrações contábeis 143

• um mercado de capitais fortalecido obriga as empresas a publicarem suas demonstrações


consolidadas;
• a consolidação das demonstrações contábeis é notadamente importante para empresas
que tenham participações relevantes em outras sociedades.
Com referência à obrigatoriedade da consolidação, o art. 249 da Lei n. 6.404/1976 estabelece
que: “A companhia aberta que tiver mais de 30% (trinta por cento) do valor do seu Patrimônio
Líquido representado por investimentos em sociedades controladas deverá elaborar e divulgar,
juntamente com suas demonstrações financeiras, demonstrações consolidadas nos termos do ar-
tigo 250” (BRASIL, 1976).
Devemos ressaltar a extensão dessa obrigação aos denominados grupos de sociedades, con-
forme o teor do art. 275 da mesma Lei, que assim determina: “Art. 275. O grupo de sociedades
publicará, além das demonstrações financeiras referentes a cada uma das companhias que o com-
põem, demonstrações consolidadas, compreendendo todas as sociedades do grupo, elaboradas
com observância do disposto no artigo 250” (BRASIL, 1976).
Veja, portanto, que a lei faz uma equiparação para efeito de obrigatoriedade da consoli-
dação dos grupos de sociedades às sociedades de capital aberto, mesmo que o grupo não inclua
uma sociedade de capital aberto.
O Pronunciamento Técnico CPC 36 traz os princípios que regem a consolidação das demons-
trações contábeis, conforme determinado pela Deliberação n. 608/2009: “este Pronunciamento
deve ser aplicado na elaboração e apresentação de demonstrações contábeis consolidadas de grupo
econômico de entidades sob o controle de controladora” (BRASIL, 2009).
As companhias abertas devem ainda observar os dispositivos da Instrução n. 247/1996
(BRASIL, 1996), que estabelece regras específicas sobre consolidação para as sociedades sob
seu controle.
Art. 21. Ao fim de cada Exercício Social, demonstrações contábeis consolida-
das devem ser elaboradas por: I - companhia aberta que possuir investimento
em sociedades controladas, incluindo as sociedades controladas em conjunto
referidas no artigo 32 desta Instrução; e II - sociedade de comando de grupo de
sociedades que inclua companhia aberta.

Vejamos, a seguir, algumas situações que devem ser consideradas na elaboração da consoli-
dação das demonstrações contábeis.

12.2.1 Diferença na data de encerramento do exercício


O processo de consolidação deve observar uma série de requisitos técnicos, como a eliminação
de saldos de contas, ajustes de lucros ainda não realizados e outros. Dessa forma, a fidedignidade dos
valores consolidados depende também do rigor na preparação das demonstrações contábeis indivi-
duais que serão consolidadas. Nesse sentido, as datas de emissão dessas demonstrações devem ser
coincidentes, sob pena de se consolidarem valores sem uma correspondência no tempo.
144 Contabilidade

Com referência às datas de elaboração das demonstrações contábeis das empresas que
serão consolidadas, há uma previsão expressa no art. 250 da Lei n. 6.404/1976, autorizando uma
diferença de até 60 dias, ou seja, se a data base para consolidação for 31 de dezembro, poderão
ser contempladas na consolidação demonstrações contábeis de controladas elaboradas até 31 de
outubro. Para defasagem de períodos maiores que 60 dias entre a controladora e as controladas,
devem-se apurar demonstrações contábeis extraordinárias.

12.2.2 Técnicas de consolidação


O objetivo básico da consolidação é apresentar a posição financeira e os resultados das opera-
ções das diversas empresas de um grupo como se elas fossem uma única empresa. A técnica básica
será, primeiramente, somar os saldos das contas. Veja o exemplo de consolidação dos estoques de
três empresas:

Empresa A: R$ 1.000,00
Empresa B: R$ 400,00
Empresa C: R$ 600,00
Saldo consolidado*: R$ 2.000,00
*O saldo consolidado do estoque é a soma dos valores dos estoques das três empresas.

O mesmo deve ser feito para as demais contas do Balanço, como Duplicatas a Receber,
Imobilizado, Contas a Pagar, Fornecedores etc. Na denominada consolidação parcial, que ocorre
quando a sociedade investidora não possui uma participação de 100% no Capital Social da investi-
da, surge a figura dos acionistas minoritários, que participam também do respectivo Capital Social
da investida. Na demonstração consolidada, essa diferença será destacada como Participação de
Minoritários, antes do Patrimônio Líquido.

12.2.3 Necessidade de uniformidade de critérios contábeis entre


as empresas consolidadas
As empresas consolidadas devem observar os mesmos critérios de avaliação e registro dos
elementos patrimoniais e de resultado, visando uniformidade. É importante que a controladora
elabore um manual de consolidação que permita clareza e objetividade na elaboração das demons-
trações consolidadas e confiabilidade dos valores apresentados.

12.2.4 Eliminações de consolidação


A consolidação não é, todavia, simplesmente a soma dos saldos de cada conta das diversas
empresas. Há também necessidade de se eliminar os saldos existentes ou as transações realizadas
entre as empresas do grupo. O art. 250 da Lei n. 6.404/1976 estabelece que:
Consolidação das demonstrações contábeis 145

Art. 250. Das demonstrações financeiras consolidadas serão excluídas:


I - as participações de uma sociedade em outra;
II - os saldos de quaisquer contas entre as sociedades;
III - as parcelas dos resultados do exercício, dos lucros ou prejuízos acumulados
e do custo de estoques ou do Ativo não Circulante que corresponderem a resul-
tados, ainda não realizados, de negócios entre as sociedades.
§1º A participação dos acionistas não controladores no Patrimônio Líquido e no
lucro do exercício será destacada, respectivamente, no Balanço Patrimonial e na
Demonstração do Resultado do Exercício.
§2° A parcela do custo de aquisição do investimento em controlada, que não for
absorvida na consolidação, deverá ser mantida no Ativo não Circulante, com
dedução da provisão adequada para perdas já comprovadas, e será objeto de
nota explicativa.
§3º O valor da participação que exceder do custo de aquisição constituirá par-
cela destacada dos resultados de exercícios futuros até que fique comprovada a
existência de ganho efetivo.
§4º Para fins deste artigo, as sociedades controladas, cujo exercício social ter-
mine mais de 60 (sessenta) dias antes da data do encerramento do exercício da
companhia, elaborarão, com observância das normas desta Lei, demonstrações
financeiras extraordinárias em data compreendida nesse prazo. (BRASIL, 1976)

12.2.5 Saldos de Balanços


Os saldos de Balanço são exemplos de eliminações necessárias, como demonstrado nos ca-
sos a seguir:
• Duplicatas a receber: caso tenha existido operações de compra e venda entre empresas
do conjunto, os valores das duplicatas aparecerão no Balanço de ambas. Em uma delas,
o lançamento a débito será na conta Fornecedores; na outra, o crédito será efetuado na
conta Duplicatas a Receber.
• Contas correntes: entre as empresas do mesmo grupo, podem ocorrer operações que são
debitadas ou creditadas em conta corrente. Sendo assim, na data do Balanço, haverá um
saldo devedor em uma empresa e um saldo credor em outra. Ambos deverão ser elimina-
dos na consolidação do seguinte modo:
• Débito – contas correntes credoras (empresa A).
• Crédito – contas correntes devedoras (empresa B).

• Investimentos: a participação acionária – representada pela conta Investimentos –


que uma empresa tiver na outra será também eliminada contra as diversas contas do
Patrimônio Líquido da controlada pelos valores proporcionais aos que a empresa de co-
mando tiver de participação.
146 Contabilidade

12.2.6 Saldos das Demonstrações dos Resultados do Exercício


As operações intercompanhias que envolveram contas de resultado, ou seja, cujos lança-
mentos contábeis foram efetuados em contas de receitas ou de despesas, também devem ser elimi-
nadas, pois o resultado (lucro ou prejuízo) consolidado deve ser aquele obtido em operações com
terceiros, pessoas jurídicas que não fazem parte da consolidação. Veja um exemplo:

As empresas A e B são consolidadas, portanto, se houve uma venda da


empresa A para a empresa B ou vice-versa, essas receitas e despesas de-
vem ser eliminadas, pois elas não envolvem resultado com terceiros.
Nesse caso, o ajuste no mapa de conciliação ficaria da seguinte maneira:

• receita de vendas da empresa A eliminada com o custo dos produtos


vendidos da empresa B;
• despesas de comissões da empresa A eliminada com a receita de co-
missões da empresa B.

12.2.7 Execução
Agora, veja como se deve proceder às eliminações do Balanço consolidado:
• Transcrevem-se todos os saldos das contas de cada uma das empresas nas respectivas
colunas. Esses saldos são extraídos das demonstrações financeiras finais de cada empresa.
• Lançam-se as eliminações de consolidação a débito e a crédito.
• Fazem-se as somas horizontais e as verticais.
Para melhor compreensão do tema, acompanhe uma sequência natural do processo de con-
solidação: a empresa “X” S/A é uma empresa de capital aberto e tem 100% de controle acionário
da empresa “Y” S/A. Durante o Exercício Social de 2017, não houve qualquer operação comercial
entre as empresas envolvidas na consolidação.
Atente-se para as demonstrações individuais. Nesse exemplo são apenas os demonstrativos
do Balanço Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício.
Tabela 1 – Balanço Patrimonial de “X” S/A

“X” S/A

Balanço Patrimonial
31/12/2017

ATIVO PASSIVO

Circulante R$ 8.350.000,00 Circulante R$ 6.350.000,00

Caixa R$ 2.100.000,00 Fornecedores R$ 3.200.000,00

Contas a receber R$ 3.250.000,00 Outras obrigações R$ 3.150.000,00

Estoques R$ 3.000.000,00

(Continua)
Consolidação das demonstrações contábeis 147

“X” S/A

Balanço Patrimonial
31/12/2017

Ativo não Circulante R$ 25.600.000,00 Passivo não Circulante

Investimentos R$ 14.000.000,00

“Y” S/A R$ 14.000.000,00 Patrimônio Líquido R$ 27.600.000,00

Imobilizado R$ 11.600.000,00 Capital Social R$ 18.000.000,00

Terrenos R$ 4.000.000,00 Reservas R$ 1.000.000,00

Veículos R$ 3.000.000,00 Lucro líquido de 2017 R$ 8.600.000,00

Equipamentos R$ 4.600.000,00

Total do Ativo R$ 33.950.000,00 Total do Passivo R$ 33.950.000,00


Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 2 – Balanço Patrimonial de “Y” S/A

“Y” S/A

Balanço Patrimonial
31/12/2017

ATIVO PASSIVO

Circulante R$ 3.600.000,00 Circulante R$ 1.070.000,00

Caixa R$ 1.200.000,00 Fornecedores R$ 780.000,00

Duplicatas a receber R$ 2.400.000,00 Outras obrigações R$ 290.000,00

Ativo não Circulante R$ 13.470.000,00 Passivo não Circulante -

Realizável a Longo Prazo -

Imobilizado R$ 13.470.000,00 Patrimônio Líquido R$ 16.000.000,00

Terrenos R$ 2.800.000,00 Capital Social R$ 14.000.000,00

Máquinas R$ 5.000.000,00 Lucro líquido de 2017 R$ 2.000.000,00

Móveis e utensílios R$ 5.670.000,00

Total do Ativo R$ 17.070.000,00 Total do Passivo R$ 17.070.000,00

Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 3 – Demonstração do Resultado do Exercício de “X” S/A

Demonstração do Resultado de “X” S/A em 2017


Receitas operacionais R$ 24.000.000,00
Com terceiros R$ 24.000.000,00

Custo das vendas (R$ 6.300.000,00)

(Continua)
148 Contabilidade

Demonstração do Resultado de “X” S/A em 2017

Lucro bruto R$ 17.700.000,00

Despesas operacionais (R$ 5.000.000,00)

Lucro operacional R$ 12.700.000,00

Resultado antes do IR e CSLL R$ 12.700.000,00

Provisão para IR e CSLL (R$ 4.100.000,00)

Lucro líquido do exercício R$ 8.600.000,00

Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 4 – Demonstração do Resultado do Exercício de “Y” S/A

Demonstração do Resultado de “Y” S/A em 2017

Receitas operacionais R$ 9.500.000,00

Custo das vendas (R$ 6.100.000,00)

Lucro bruto R$ 3.400.000,00

Despesas operacionais (R$ 1.200.000,00)

Lucro operacional R$ 2.200.000,00

Resultado antes do IR e CSLL R$ 2.200.000,00

Provisão para IR e CSLL (R$ 200.000,00)

Lucro líquido do exercício R$ 2.000.000,00

Fonte: Elaborada pelo autor.

O mapa de consolidação é feito com a soma dos Ativos, Passivos, receitas e despesas e, em
colunas específicas, efetuam-se os ajustes:
Tabela 5 – Mapa de consolidação de “X” S/A e “Y” S/A

Mapa de consolidação

Ajustes e eliminações Consolidado

Empresa “X” Empresa “Y” Subtotal Débito Crédito

ATIVO

Caixa R$ 2.100.000,00 R$ 1.200.000,00 R$ 3.300.000,00 R$ 3.300.000,00

Duplicatas a receber R$ 3.250.000,00 R$ 2.400.000,00 R$ 5.650.000,00 R$ 5.650.000,00

Estoques R$ 3.000.000,00 – R$ 3.000.000,00 R$ 3.000.000,00

Investimentos em “Y” R$ 14.000.000,00 – R$ 14.000.000,00 (1) R$ 14.000.000,00 –

Terrenos R$ 4.000.000,00 R$ 2.800.000,00 R$ 6.800.000,00 R$ 6.800.000,00

Equipamentos R$ 4.600.000,00 – R$ 4.600.000,00 R$ 4.600.000,00

Máquinas – R$ 5.000.000,00 R$ 5.000.000,00 R$ 5.000.000,00

Veículos R$ 3.000.000,00 – R$ 3.000.000,00 R$ 3.000.000,00

Móveis e utensílios – R$ 5.670.000,00 R$ 5.670.000,00 R$ 5.670.000,00

R$ 33.950.000,00 R$ 17.070.000,00 R$ 51.020.000,00 R$ 37.020.000,00

PASSIVO E RESULTADOS

Fornecedores R$ 3.200.000,00 R$ 780.000,00 R$ 3.980.000,00 R$ 3.980.000,00

Outras obrigações R$ 3.150.000,00 R$ 290.000,00 R$ 3.440.000,00 R$ 3.440.000,00

Capital Social R$ 18.000.000 R$ 14.000.000 R$ 32.000.000 (1) R$ 14.000.000 R$ 18.000.000

Reservas R$ 1.000.000,00 – R$ 1.000.000,00 R$ 1.000.000,00

Receitas operacionais R$ 24.000.000,00 R$ 9.500.000,00 R$ 33.500.000,00 R$ 33.500.000,00

Custo das vendas (R$ 6.300.000,00) (R$ 6.100.000,00) (R$ 12.400.000,00) (R$ 12.400.000,00)
Consolidação das demonstrações contábeis

Despesas
(R$ 5.000.000,00) (R$ 1.200.000,00) (R$ 6.200.000,00) (R$ 6.200.000,00)
operacionais

IR e CSLL (R$ 4.100.000,00) (R$ 200.000,00) (R$ 4.300.000,00) (R$ 4.300.000,00)

R$ 33.950.000,00 R$ 17.070.000,00 R$ 51.020.000,00 R$ 37.020.000,00


149

Fonte: Elaborada pelo autor.


150 Contabilidade

Embora não tenha havido operações entre as companhias, há um ajuste obrigatório que diz
respeito à eliminação do saldo do investimento no Ativo da empresa “X” (investidora) em contra-
partida ao Capital Social – Patrimônio Líquido – da empresa “Y” (investida). A explicação é de
que, como na consolidação há uma soma dos patrimônios para efeito de valor contábil do grupo
de empresas, aqueles valores que se referem a operações internas devem ser eliminados.
O patrimônio consolidado para informação a terceiros é de R$ 37.020.000,00; quando a
simples soma desses patrimônios – antes dos ajustes – resulta no valor de R$ 51.020.000,00.
Após a estruturação do mapa de consolidação, basta gerar as demonstrações consolidadas.
Observe que o valor do investimento da empresa “X” na empresa “Y” não aparecerá no consolidado,
pois foi devidamente ajustado no mapa.
Tabela 6 – Balanço Patrimonial consolidado de “X” S/A e “Y” S/A

Balanço Patrimonial consolidado


31/12/2017

Ativo Passivo

Circulante R$ 11.950.000,00 Circulante R$ 7.420.000,00

Caixa R$ 3.300.000,00 Fornecedores R$ 3.980.000,00

Contas a receber R$ 5.650.000,00 Outras obrigações R$ 3.440.000,00

Estoques R$ 3.000.000,00

Ativo não Circulante R$ 25.070.000,00 Passivo não Circulante -

Realizável a Longo Prazo -

Imobilizado R$ 25.070.000,00 Patrimônio Líquido R$ 29.600.000,00

Terrenos R$ 6.800.000,00 Capital Social R$ 18.000.000,00

Equipamentos R$ 4.600.000,00 Reservas R$ 1.000.000,00

Máquinas R$ 5.000.000,00 Lucro líquido R$ 10.600.000,00

Veículos R$ 3.000.000,00

Móveis e utensílios R$ 5.670.000,00

Total do Ativo R$ 37.020.000,00 Total do Passivo R$ 37.020.000,00


Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 7 – DRE consolidada de “X” S/A e “Y” S/A

Demonstração do Resultado
Consolidada em 2017

Receitas operacionais R$ 33.500.000,00

Custo das vendas (R$ 12.400.000,00)

Lucro bruto R$ 21.100.000,00

Despesas operacionais (R$ 6.200.000,00)


(Continua)
Consolidação das demonstrações contábeis 151

Demonstração do Resultado
Consolidada em 2017

Lucro operacional R$ 14.900.000,00

Resultado antes do IR e CSLL R$ 14.900.000,00

Provisão para IR e CSLL (R$ 4.300.000,00)

Lucro líquido do exercício R$ 10.600.000,00


Fonte: Elaborada pelo autor.

12.3 Equivalência patrimonial


Quando a empresa faz um investimento no Capital Social de outra entidade, o valor investido
se classifica no subgrupo Investimentos do Ativo não Circulante, cujo valor será aquele pago na aqui-
sição. Entretanto, nos períodos seguintes, a empresa terá que avaliar novamente o investimento para
determinar seu valor contábil na data de elaboração das demonstrações contábeis.
Para isso, existem dois critérios de avaliação que podem ser utilizados. O primeiro deles é
o critério de custo, ou seja, esse Ativo será demonstrado no Balanço Patrimonial pelo seu valor de
aquisição (custo original), porém, se a empresa investida for uma coligada ou controlada, a inves-
tidora deve utilizar o critério denominado de equivalência patrimonial, que implica reconhecer
(contabilizar) como receita ou despesa de equivalência, aumentando ou reduzindo o valor do in-
vestimento, ou seja, contabilizando o lucro ou prejuízo gerados na investida, independentemente
do recebimento dos dividendos.
Veja o exemplo a seguir:

A empresa X (investidora) detém uma participação de 40% no Capital


Social da empresa Y (investida). Se a empresa Y apura um lucro de
R$ 100,00 em 31/12/20X1, a empresa X deverá, nessa mesma data, reco-
nhecer como receita de equivalência o valor de R$ 40,00.

A Lei n. 6.404/1976, determina que: “no Balanço Patrimonial da companhia, os investi-


mentos em coligadas ou em controladas e em outras sociedades que façam parte de um mesmo
grupo ou estejam sob controle comum serão avaliados pelo método da equivalência patrimonial”
(BRASIL, 1976). Dessa forma, o método da equivalência, diferentemente do critério de mensura-
ção a valor de custo histórico, acompanha o fato econômico, isto é, a geração do resultado, e não
sua distribuição efetiva.
Conforme Iudíbicus e Marion (2016, p. 139), o conceito do método de equivalência
patrimonial é baseado no fato de que “os resultados e quaisquer variações patrimoniais de uma
controlada ou coligada devem ser reconhecidos (contabilizados) no momento de sua geração,
independentemente de serem ou não distribuídos”.
152 Contabilidade

Sugere-se que na contabilização de equivalência patrimonial, no caso de geração de lucro na


investida, a investidora reconheça contabilmente a parte que lhe pertence (proporcional à sua par-
ticipação no Capital Social da investida), contabilizando uma receita de equivalência no momento
em que o lucro é apurado na investida, independentemente de distribuição1.
Tabela 8 – Reconhecimento contábil da receita de equivalência e do recebimento de dividendos

Contas contábeis Débito Crédito

Investimentos – Ativo não Circulante R$ 50,00

Receita de equivalência patrimonial – Demonstração do Resultado do Exercício R$ 50,00

Investimentos – Ativo não Circulante R$ 50,00

Caixa ou bancos R$ 50,00

Fonte: Elaborada pelo autor.

Conclui-se atualmente que o enquadramento como coligada ou controlada, para efeitos de


avaliação dos investimentos pelo método de equivalência patrimonial e também para se determi-
nar a obrigatoriedade de emissão de demonstrações contábeis consolidadas, não está relacionado
com os percentuais de participação de uma sociedade em outra, mas sim com o fato de esses inves-
timentos proporcionarem à investidora influência significativa (no caso das empresas coligadas).
Já para se enquadrar como controladora, a empresa deve ter de maneira permanente a pre-
ponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores. Embora
não haja menção legislativa expressa em relação ao percentual de participação da investidora sobre
o Capital Social da investida para adquirir a qualidade de controladora, fica implícito que para
preponderar nas deliberações sociais (ou seja, ter o poder de decisão sobre as demais empresas
ligadas) é necessário ter a maioria do capital que dá direito a voto, o que na sociedade anônima
equivale às ações ordinárias.

12.4 Juros sobre o capital próprio


Antes de estudarmos os juros sobre o capital próprio, é oportuno destacar que não há uma
vinculação direta entre esse conceito e a consolidação das demonstrações contábeis. Porém, como
se trata de uma relação entre a empresa e seus sócios e acionistas, e tal como os dividendos têm
natureza de remuneração do capital dos investidores, é importante conhecer o tema.
Os juros sobre o capital próprio são a remuneração que a pessoa jurídica poderá creditar aos
sócios ou acionistas e que serão dedutíveis para efeitos de Imposto de Renda e contribuição social
sobre o lucro, mas apenas para as empresas tributadas pelo lucro real. É o que dispõe a legislação
do Imposto de Renda (Decreto n. 3.000/1999), que prescreve:
Art. 347. A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos de apuração do lucro
real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acio-
nistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas

1 A contabilização do recebimento dos dividendos é efetuada creditando-se a conta de Investimentos, posto que a
receita já foi contabilizada quando do reconhecimento da equivalência, segundo o princípio da competência.
Consolidação das demonstrações contábeis 153

do Patrimônio Líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de


Longo Prazo – TJLP (Lei n. 9.249, de 1995, art. 9º).
§1º O efetivo pagamento ou crédito dos juros fica condicionado à existência de
lucros, computados antes da dedução dos juros, ou de lucros acumulados e re-
servas de lucros, em montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros
a serem pagos ou creditados (Lei n. 9.249, de 1995, art. 9º, §1º, e Lei n. 9.430, de
1996, art. 78).
§2º Os juros ficarão sujeitos à incidência do imposto na forma prevista no art.
668 (Lei n. 9.249, de 1995, art. 9º, §2º).
§3º O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurídica, a título de remu-
neração do capital próprio, poderá ser imputado ao valor dos dividendos de que
trata o art. 202 da Lei n. 6.404, de 1976, sem prejuízo do disposto no §2º (Lei n.
9.249, de 1995, art. 9º, §7º). (BRASIL, 1999)

Nesse sentido, também a Lei n. 9.249/1995 autoriza a pessoa jurídica a:


deduzir, para efeitos de apuração do lucro real, os juros pagos ou creditados
individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do
capital próprio, calculados sobre as contas do Patrimônio Líquido e limitados à
variação, pro rata dia, da taxa de juros de longo prazo – TJLP. (BRASIL, 1995)

O mesmo dispositivo legal prescreve que o pagamento ou crédito dos juros fica condicio-
nado à existência de lucros computados antes da dedução dos juros, ou de lucros acumulados, em
montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem pagos ou creditados.
Haverá incidência do Imposto de Renda na fonte de 15%, na data do pagamento ou crédito
ao beneficiário, que será considerado como antecipação do devido na declaração de rendimentos,
caso o beneficiário seja pessoa jurídica tributada pelo lucro real ou será tido como tributação defi-
nitiva, para casos de beneficiários pessoas físicas ou pessoas jurídicas não tributadas com base no
lucro real.

Exemplo: supondo uma empresa que tem dois sócios e, em 31 de dezem-


bro de 2009, apurou um lucro e creditou nas contas de seus sócios o valor
de R$ 200.000,00 a título de juros sobre o capital próprio, efetuando a
retenção do Imposto de Renda na fonte à alíquota de 15% e recolhendo
o imposto até o terceiro dia útil da semana subsequente. Demonstrativo
do cálculo dos juros sobre o capital próprio:

Contas contábeis Débito Crédito


Despesas financeiras
Juros sobre capital próprio – R$ 200.000,00
na Demonstração do Resultado do Exercício.

Obrigações fiscais
R$ 30.000,00
IRRF a recolher – 15%

Juros sobre capital próprio a pagar –


R$ 170.000,00
Passivo Circulante
Fonte: Adaptado de Nepomuceno, 2004.
154 Contabilidade

Os temas tratados nesta unidade, embora pareçam restritos a grandes empresas, devem
ser de conhecimento e aplicação por todos os contadores que atuam em empresas de qualquer
tipo e porte, pois são absolutamente necessários e úteis para uma contabilidade mais trans-
parente. Por essa razão, os conceitos aqui apresentados são aplicáveis também a pequenos e
médios empreendimentos.

Atividades
1. Qual é o objetivo da consolidação das demonstrações contábeis?

2. Quais sociedades estão obrigadas a efetuar a consolidação?

3. Em que consiste o método da equivalência patrimonial de avaliação de investimentos


permanentes?

Referências
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 17
dez. 1976. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm. Acesso em: 24 out. 2018.

BRASIL. Lei n. 9.249, de 26 de dezembro de 1995. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 27
dez. 1995. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9249.htm. Acesso em: 22 nov. 2018.

BRASIL. Comissão de Valores Mobiliários. Instrução n. 247, de 27 de março de 1996. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 29 mar. 1996. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst247.html.
Acesso em: 22 nov. 2018.

BRASIL. Decreto n. 3.000, de 26 de março de 1999. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF,
29 mar. 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3000.htm. Acesso em: 22 nov.
2018.

BRASIL. Deliberação n. 608, de 26 de novembro de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 nov.
2009. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/deliberacoes/anexos/0600/deli608
consolid.pdf. Acesso em: 23 nov. 2018.

BRASIL. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pronunciamentos Técnicos Contábeis 2012. Brasília, DF:
Conselho Federal de Contabilidade, 2013. Disponível em: http://portalcfc.org.br/wordpress/wp-content/
uploads/2013/06/cpc_pronunciamentos_2012_web.pdf. Acesso em: 25 out. 2018.

IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C. Contabilidade comercial. São Paulo: Atlas, 2016.

NEPOMUCENO, F. Contabilização de tributos e contribuições sociais. São Paulo: Thomson, 2004.


Gabarito

1 Contabilidade: aspectos introdutórios


1. A contabilidade financeira se ocupa do preparo e distribuição de informações acerca da situação
econômica e financeira geral de uma entidade. Já a contabilidade tributária tem como função o
controle e gestão dos valores dos tributos que impactam o patrimônio e o resultado das entida-
des. São enfoques complementares e interdependentes, porém com objetivos muito bem defini-
dos e delimitados.

2. Uma estrutura adequada e bem planejada de plano de contas permitirá o registro e o controle
contábil de maneira mais segura e útil para o gestor, pois a disposição dos elementos e valores
que comporão os relatórios contábeis serão efetuados de modo que possam ser mais facilmente
visualizados.

3. A alternativa correta é a letra c.

2 Estrutura conceitual básica da contabilidade brasileira


1. Verdadeiro. Ambos os princípios estão relacionados com o momento de registro das operações.
O princípio da oportunidade diz que o registro das operações deve ser efetuado no tempo certo
e com a extensão correta, já no princípio da competência as receitas e despesas devem ser incluí-
das no resultado do período em que ocorreram, e não quando foram efetivamente recebidas ou
pagas.

2. Falso. Essa afirmação seria cabível no caso do Regime de Caixa. O Regime de Caixa, como o
próprio nome sugere, registra fatos contábeis na medida em que se altera a posição dos fundos da
empresa, ou seja, as disponibilidades.

3. Verdadeiro. Caberá ao contador, geralmente em consonância com as diretrizes ou normas da


entidade, analisar a relação custo-benefício da disponibilização da informação.

3 Escrituração contábil e contas retificadoras


do Ativo e do Passivo
1. Fundamentalmente a diferença está no valor da perda esperada, pois na provisão para perdas
estima-se uma perda integral do item, porém, na provisão para ajuste de estoque ao valor
de mercado, a perda (parcial) refere-se à diferença entre o valor que se esperava obter na venda
e o valor de custo de aquisição.

2. O valor contabilizado anteriormente como perda provável e que reduziu o resultado do


exercício deve ser revertido, constituindo-se uma recuperação daquela despesa, aumentando o
resultado.

3. Não necessariamente, haja vista a conta de duplicatas descontadas cuja contrapartida é uma con-
ta do Ativo disponível.
156 Contabilidade

4 Demonstrações contábeis: modelos de representação


da situação econômica e financeira I
1. O critério mais comum é aquele que considera o tempo esperado de realização do Ativo, pois se for
superior a um ano, deverá ser classificado nesse grupo. O outro critério diz respeito à natureza da
operação que gerou o Ativo e às entidades envolvidas, se for um direito em relação a uma entidade
ligada (uma empresa do mesmo grupo econômico, sócios ou diretores) e se referir a uma operação
não usual entre os contratantes, será classificado no realizável a longo prazo, independentemente do
prazo contratado. Essa previsão consta no art. 179, da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976).

2. O grau decrescente de liquidez dos elementos, ou seja, os Ativos de maior liquidez (possibilidade de
conversão em dinheiro em menor tempo) aparecerão primeiro no Balanço Patrimonial.

3. Não. A depreciação dos itens do imobilizado está relacionada com seu uso efetivamente, porém os
elementos que integram esse grupo também perdem utilidade e substância pela ação da natureza e
pela obsolescência.

5 Demonstrações contábeis: modelos de representação


da situação econômica e financeira II
1. Porque ele se refere a obrigações da entidade com seus sócios e acionistas, que são entidades distintas
(indicando a autonomia patrimonial, conforme preceitua o enunciado do princípio da entidade).

2. As provisões são constituídas após a ocorrência de um fato econômico (fato gerador), cuja perda es-
timada será reconhecida como despesa. Já as reservas são constituídas como mutações de Patrimônio
Líquido, portanto são concebidas após a apuração do resultado do exercício.

3. Um auto de infração lavrado em função do descumprimento de uma obrigação fiscal, que poderá
resultar no pagamento do valor principal do tributo mais eventual, multa e atualização monetária
sobre esse valor. Nesse caso, embora a empresa possa contestar a autuação, é prudente se constituir
uma provisão.

6 Demonstrações Contábeis:
Demonstração do Resultado do Exercício
1. Sim, porque esta classificação reflete a essência do resultado financeiro líquido que, em verdade, está
vinculado à atividade operacional, complementando-a.

2. São tratados como juros, não se desdobrando em juros e atualização monetária.

3. No intuito de que possa ser visualizada a confrontação entre receitas e despesas, de modo que os
recursos que consomem mais diretamente as receitas possam ser apresentados vinculados a estas.
Gabarito 157

7 Operações contábeis
1. Porque é necessário apurar o mais objetivamente possível o valor líquido dos créditos com que a
empresa poderá contar para incremento de caixa, expurgando, portanto, valores com possibilidades
de não recebimento.

2. Para definição dos percentuais de depreciação de cada item do imobilizado, a empresa deve estimar a
vida útil do bem, ou seja, o tempo em que este bem vai proporcionar benefícios econômicos por meio
do seu uso. Definida a vida útil, o percentual de depreciação (anual) será aquele que corresponda à
apropriação do valor total do bem em despesa com depreciação no final de sua vida útil. Por exemplo,
um bem com vida útil de 10 anos será depreciado em 10% ao ano de modo linear.

3. Deverão ser baixados, pois esses créditos não serão, ou têm pouca possibilidade de serem rece-
bidos. A conta duplicatas a receber, assim como todas as outras, deve expressar o valor mais real
possível de recebimentos.

8 Demonstração do Resultado Abrangente e


Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido
1. Reconhecer diretamente no Patrimônio Líquido ganhos e perdas cuja realização financeira será de
longo prazo, não os transitando pelo resultado.

2. Pode-se considerar a alocação do lucro do período (na criação de reservas ou sua proposição para
distribuição na forma de dividendos) e a incorporação de valores ao capital dos sócios.

3. Essas duas demonstrações não têm sua previsão legal expressa na Lei n. 6.404/1976 e são obrigatórias
por força de normas infralegais, como o Pronunciamento Técnico CPC 26 (CPC, 2013).

9 Demonstração dos Fluxos de Caixa e


Demonstração do Valor Adicionado
1. No método direto utilizam-se os valores de entrada e saída diretamente em cada conta, ao passo que
no método indireto busca-se a variação indireta dos saldos, partindo-se do lucro líquido do período.

2. Informar o quanto a empresa agregou de valor aos insumos adquiridos de terceiros e a sua subse-
quente distribuição, indicando também qual grupo de pessoas (financiadores, governo, acionistas,
empregados) recebeu a maior parcela desse valor adicionado.

3. Venda de mercadorias à vista e aportes de capital pelos sócios.


158 Contabilidade

10 Notas explicativas e parecer de auditoria


1. Além de serem obrigatórias por disposição da Lei n. 6.404/1976 (BRASIL, 1976), as notas explicativas
trazem informações com mais detalhamentos acerca da composição de valores de Ativos e Passivos
e ainda dispõem sobre os critérios utilizados para registrar e avaliar determinados elementos patri-
moniais. A ausência dessas informações limitaria sobremaneira o uso das informações contábeis por
parte dos interessados.

2. O produto final do trabalho do auditor interno é um relatório que pontua eventuais falhas de controle
que poderão comprometer a eficácia de Ativos. Já o produto final do trabalho do auditor externo é o
parecer, em que o profissional da auditoria emite uma opinião acerca da representatividade das de-
monstrações contábeis em relação à situação econômica e financeira da entidade.

3. O parecer com ressalvas será emitido nas situações em que há controvérsias acerca do reconhecimen-
to ou mensuração de determinada operação, cujo valor omitido poderá comprometer a informação
contábil, porém não compromete a conformidade das demonstrações contábeis, tampouco os prin-
cípios e normas contábeis e a qualidade de representação das demonstrações contábeis em relação
ao patrimônio e resultado da empresa. Na estrutura do parecer aparecerão expressões como “exceto
quanto”, “com exceção de” etc.

11 Indicadores de gestão
1. O EBITDA objetiva analisar e acompanhar a geração dos lucros operacionais que vão gerar fluxos de
caixa sem o efeito das depreciações, amortizações e de possíveis dependências de capitais financeiros
(empréstimos e financiamentos), desconsiderando-se o efeito da tributação. Vale dizer que o EBITDA
demonstra o lucro genuinamente operacional que poderá ser traduzido em caixa.

2. Os índices de rentabilidade objetivam demonstrar a eficácia da empresa em gerar resultados satisfató-


rios para remuneração dos capitais dos sócios, recuperar os investimentos e acompanhar a eficiências
das vendas, entre outras vantagens.

3. Às vezes um alto índice de liquidez corrente pode ser resultado de um aumento no prazo que os es-
toques demoram para serem vendidos ou as duplicatas demoram para serem recebidas. Nesses casos,
altos índices de liquidez não são necessariamente positivos para a empresa.

12 Consolidação das demonstrações contábeis


1. Objetiva demonstrar o valor da empresa em relação a terceiros, ou seja, a soma do patrimônio e do
resultado sob a perspectiva do mercado, sem a influência de operações intercompanhias.

2. A fundamentação legal para a consolidação está prevista nos artigos 249, 250 e 275 da Lei n. 6.404/1976
(BRASIL, 1976), bem como na Instrução n. 247, de 27 de março de 1996 (BRASIL, 1996), em seus
artigos 21 a 41.

3. Equivalência patrimonial é um critério de avaliação dos investimentos relevantes da empresa, em


que há o reconhecimento dos resultados obtidos pela empresa investida no valor do investimento da
sociedade investidora no momento em que estes resultados são gerados.
Contabilidade
A contabilidade deve ser vista, cada vez mais, não apenas como uma área de interesse dos contadores, mas
sim como uma ferramenta de gestão para todos aqueles que, direta ou indiretamente, estão envolvidos na
busca dos interesses das organizações.
Os capítulos desta obra foram estruturados e dispostos para que você possa compreender desde os conceitos
iniciais da contabilidade, como o processo contábil, até a estruturação e análise dos relatórios. Você encon-
trará, também, conceitos avançados tratados com enfoque objetivo e prático, o que facilita a sua apreensão.
Afinal, a informação é a ferramenta mais eficaz para o adequado gerenciamento de um negócio. Nesse sen-
tido, a contabilidade mostra-se como um banco de dados imprescindível para a gestão das empresas.

Érico Eleutério da Luz

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6164-8

58179 9 788538 761648

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