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XVIII ENCUENTRO DE LA RED ULACAV

Tema: “PRODUCCIÓN SOCIAL DEL HÁBITAT - Desafíos en la


Formación Interdisciplinaria, interinstitucional e intersectorial”

Título: Interfaces entre ensino, pesquisa e prática profissional:


o caso do plano de Reabilitação de Imóveis na Área Central da
Cidade do Rio de Janeiro

Autores: SANTOS, Mauro¹, FERRER, Wilder², PERET, Paula³

Atelier Universitário Laboratório de Habitação/ Programa de Pós-Graduação em


Arquitetura
Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Brasil (LABHAB/PROARQ/UFRJ),
labhab.ufrj@gmail.com

¹Arquiteto, Dr., Prof. DPA/PROARQ/FAU/UFRJ- e-mail: mcsantos@ig.com.br;


²Arquiteto, M.Sc., Prof. DPA/PROARQ/FAU/UFRJ- e-mail: wilderferrer@gmail.com;
³Arquiteta, Mestranda /PROARQ/FAU/UFRJ- e-mail: paula.peret@gmail.com

Resumo:

Este artigo visa apresentar algumas considerações sobre como o processo de


desenvolvimento do “Plano de Reabilitação e Ocupação dos Imóveis do Estado
do Rio De Janeiro na área Central da Cidade do Rio de Janeiro” – licitação
lançada pelo Ministério das Cidades do Governo Federal do Brasil, e a
Secretaria Estadual de Habitação do Governo do Estado do Rio de Janeiro –
consolidou a interface entre ensino, pesquisa e prática profissional no âmbito
do Atelier Universitário da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. As diretrizes do Plano fazem parte de
uma estratégia nacional do Ministério das Cidades, que prevê a utilização do
estoque imobiliário ocioso de propriedade dos estados, situado nos centros
urbanos das capitais de estados brasileiros.

Estudantes de Graduação e Pós-graduação tiveram a oportunidade de


participar nas etapas de desenvolvimento do projeto – de discutir
potencialidades à elaboração de propostas arquitetônicas e urbanísticas – e de
ter contato com consultores de diversas áreas ao longo do processo. Esta
interação possibilitou uma maior conscientização da relevância de se discutir
conceitos e aplicar métodos pertinentes assim como contribuiu para a formação
critica destes estudantes. Relatos dos participantes, transcritos no final desse
artigo, evidenciam como ações integradas como esta enriquecem a formação
profissional desses alunos.
Introdução

O centro da Cidade do Rio de Janeiro, principalmente as áreas adjacentes da


área central como a região da Zona Portuária, Lapa e o entorno da Praça da
Cruz Vermelha, apresentam um alto potencial para uso habitacional.
Entretanto, desde o início do século XX houve um gradual esvaziamento
dessas áreas devido a processos históricos diversos como a industrialização e
consequente expansão urbana em direção à áreas mais periféricas. Ainda que
esta região concentrasse um grande número de moradias (sobretudo das
classes trabalhadoras), politicas habitacionais implementadas nos anos 1970,
que negavam licenciar na área edificações destinadas a usos habitacionais,
reservando tais áreas apenas às atividades de comércio e serviços,
contribuiriam de forma significativa para a mudança da identidade do lugar.

Somente no final do século XX a legislação seria revista, prevendo então o


retorno da autorização para a edificação de construções de uso residencial.
Não obstante, grande dano já havia sido causado ao tecido urbano central: ao
minimizar a relevância da função habitacional e, consequentemente,
negligenciar a população local privando-a de investimentos nos setores
comercial, cultural e de serviços, essas áreas centrais geralmente se
transformam em enclaves sociais e econômicos. Com isso, cortiços, invasões à
terrenos/construções abandonados, marginalização e pobreza se tornam
problemas endêmicos em áreas centrais de diversas metrópoles, incluindo o
Rio de Janeiro.

Foi pensando em minimizar esse problema de ordem sócio-econômica que o


Governo do Estado do Rio de Janeiro lançou um programa de reabilitação da
área central da cidade visando a provisão de moradias. Assim, em 2008 foi
lançada pela Secretaria de Habitação do Estado do Rio de Janeiro uma
licitação pública para o desenvolvimento do “Plano de Reabilitação e Ocupação
dos Imóveis do Estado do Rio De Janeiro na área Central da Cidade do Rio de
Janeiro”, cujo objetivo maior era propor estratégias de revitalização do centro
da cidade através da ocupação – com uso destinado à habitação de interesse
social ou misto – das edificações e imóveis vazios ou subutilizados
pertencentes ao Estado.

De forma a participar da licitação do “Plano de Reabilitação e Ocupação dos


Imóveis”, o Laboratório de Habitação do Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do
Rio de Janeiro (LabHab/FAU/UFRJ), coordenado pelo Prof. Mauro Santos desde
1995, associou-se ao Atelier Universitário na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Essa associação
proporcionaria um melhor ambiente para discussões de ordem conceitual,
filosófica e prática no campo da Arquitetura e Urbanismo, consolidando
parcerias entre estudantes e profissionais e permitindo um maior entendimento
das interfaces entre o ensino, pesquisa e prática projetual. Mas antes de se
discutir estas interfaces, há de se entender as esferas de atuação desses dois
núcleos.
1. Desenvolvendo o projeto: interface entre ensino, pesquisa e prática
projetual dentro do Atelier Universitário da FAU/UFRJ

Com o objetivo de aprofundar o conceito de racionalidade e estabelecer


requisitos e critérios da eficácia de projetos e programas habitacionais de
interesse social, o LabHab vem, dentro do Programa de Pós-graduação da
FAU/UFRJ, desenvolvendo pesquisas utilizando uma abordagem interdisciplinar
1
. Ao longo deste período diversos estudos foram conduzidos 2, contemplando a
ocupação e adaptação sócio-urbana de diferentes complexos arquitetônicos de
habitação social no Rio de Janeiro; os conceitos de racionalidade, funcionalidade,
qualidade psico-ambiental; e a adaptação urbana em soluções habitacionais de
baixo custo. Em seu conjunto, a produção do LabHab representa um importante
acervo da análise dos aspectos teóricos e práticos de exemplos relevantes da
produção de habitação social no Rio de Janeiro, confrontando diversas épocas e
linhas de pensamento.

Outra contribuição importante é o desenvolvimento da disciplina de Projetos de


Habitação de Interesse Social que faz parte da estrutura curricular do curso de
graduação em Arquitetura e Urbanismo, que desenvolve a partir de uma
metodologia especifica atividades de ensino que se compõem de etapas teóricas
e praticas e de visitas externas a exemplares significativos da produção
habitacional brasileira, estas etapas podem ser resumidas na sequencia a seguir
as quais tem por objetivo produzir propostas de projetos no campo da habitação
de interesse social que reflitam a utilização dos conceitos extraídos pelas
pesquisas e pelas diretrizes do atelier universitário e do LABHAB.

A etapa inicial é dada em sala de aulas e com a apresentação de imagens da


historia da trajetória da habitação no Brasil intercalando esta atividade com visitas
de campo que se relacionam a cada momento da historia da produção
habitacional na cidade de Rio de Janeiro, de forma a complementar a informação
recebida em sala de aula. Na etapa seguinte inicia-se a analise urbano, ambiental
do local escolhido para a elaboração das propostas dos alunos que devera ser
contemplada através da elaboração de diagramas conceituais evidenciados no
projeto, assim como as referencias utilizadas nas resoluções arquitetônicas,
partido e implantação. A etapa final se da através do desenvolvimento do projeto
com ênfase aos aspectos técnicos e construtivos com acompanhamento dos
professores, sendo as propostas finais apresentadas em sala de aula para
discussões e compartilhamento das diversas soluções produzidas.

Já o Atelier Universitário é um “escritório técnico” que visa produzir projetos


arquitetônicos onde docentes e estudantes de graduação e de pós-graduação
participam de forma integrada. O Atelier foi institucionalizado em 2008 e vem
desenvolvendo desde então projetos significativos. No seu âmbito de atuação,
arquitetos, urbanistas, docentes e estudantes formam uma equipe de trabalho
bastante diversificada, onde estratégias pedagógico-didáticas como: as visitas
aos exemplares significativos edificados para a melhor percepção espacial do
1
Notadamente incluindo debates de ordem sócio-economica e cultural, mas também observando
características mais técnicas, como questões de saneamento básico, conforto, utilização de materiais
adequados etc…
2
Dentre os conjuntos já estudados, destacam-se a Vila Operária da Fábrica Confiança, o IAPI da Penha e
Realengo, o conjunto habitacional Pedregulho, os conjuntos do período BNH Pedro I e Cafundá, e os de
reassentamento Bento Ribeiro Dantas, Fernão Cardin, Canal das Taxas e Pereira da Silva.
lugar; o uso de instrumentos de pesquisa aplicada como a teoria das
representações sociais, entrevistas aos moradores, levantamentos físicos e o
consequente desenvolvimento de propostas como resultado do processo
metodológico utilizado, as quais também são implementadas com o intuito de
melhorar o entendimento, por parte do corpo discente, das etapas projetuais
“reais” – e não como um exercício/programa fictício geralmente proposto em
sala de aula. Desta forma, uma complexidade de dados e informações são
absorvidas, entendidas e manipuladas pelos alunos que, junto ao corpo
docente e consultores diversos, participam ativamente do processo projetual.
Essa complexidade de informações, métodos e processos projetuais diversos
são discutidas durante várias etapas, com a finalidade de melhor conscientizá-
los e melhor qualifica-los como profissionais.

A interface entre ensino, pesquisa e prática profissional se verificaria mais


fortemente durante a fase de entendimento do problema proposto pelo “Plano
de “Plano de Reabilitação e Ocupação” 3, cujo objetivo era analisar as
potencialidades urbanísticas e arquitetônicas desses imóveis e elaborar
propostas para a realização de empreendimentos habitacionais – proposta
essa desenvolvida pela equipe de projeto no Atelier Universitário entre 2009-
2011. Considerando as teorias urbanas contemporâneas que apontam para a
necessidade de requalificação das áreas centrais e para a valorização do
ambiente, construído, a implementação de estratégias que incentivem 1) a
volta da população para tais áreas, potencializando o uso de infraestruturas
existentes; 2) a diminuição da necessidade do transporte rodoviário; 3) a
recuperação de áreas degradadas e a valorização do patrimônio histórico-
cultural; e 4) a promoção de uma maior igualdade social com a melhoria da
qualidade de vida por meio da redução dos custos de transporte, da diminuição
do tempo de percurso casa-trabalho e da acessibilidade à cultura e infra-
estrutura, promoveria, indiscutivelmente, benefícios tanto ambientais, quanto
econômicos e sociais para a cidade e seus moradores.

Por outro lado, devido a natureza do projeto e a extensão territorial da área em


questão, foi criada uma equipe multidisciplinar e interinstitucional que visava
justamente entender e analisar o programa sob diversas perspectivas. A área
de Arquitetura e Urbanismo, por exemplo, foi representada pela Equipe Técnica
do Ministério das Cidades, pela Secretaria de Estado de Habitação e pela
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Participaram dessas reuniões
de trabalho especialistas, professores, pesquisadores, estudantes de
graduação e de pós-graduação que realizaram atividades específicas tais
como: investigação in loco e em fontes secundárias; análise e consolidação
das informações; desenvolvimento de projetos arquitetônicos para utilização
dos terrenos e imóveis; e organização de material de difusão para as
instituições e órgãos públicos e privados e para a sociedade em geral.

A peculiaridade de elaborar e desenvolver esse projeto no Atelier Universitário


da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ reforçou o caráter inter- e

3
As diretrizes do “Plano de Reabilitação e Ocupação” previam a utilização do estoque imobiliário ocioso
do centro das cidades, estratégia aplicada ao Rio de Janeiro, mas pensada para implementação em
outros centros das capitais dos estados brasileiros com o mesmo processo de esvaziamento e de
degradação. Veja http://www.rj.gov.br/web/imprensa/exibeconteudo?article-id=537133;
http://www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/programas-urbanos/;
multidisciplinar do pensar e fazer Arquitetura e Urbanismo, o que retroalimenta
o processo de ensino. Ou seja: o contato dos alunos com diversos
profissionais de diversas áreas durante as diversas fases de um projeto ‘real’,
asssim como a participação nas constantes discussões de cunho teórico-
prático, reforça a importância de se ter uma visão mais abrangente da
Disciplina. Portanto, a relação ensino-pesquisa-prática esteve presente em
todas as etapas do Plano, sendo assim organizadas:

Meta 1 – Levantamento

Consistiu no levantamento com a identificação de imóveis com usos


inadequados, vazios e subutilizados pertencentes ao patrimônio imobiliário do
Estado do Rio de Janeiro, sendo identificados 186 imóveis. Em seguida foi
realizada ampla pesquisa em arquivos com a finalidade de levantar
documentos técnicos sobre os imóveis, bem como pareceres a respeito de
intervenções realizadas, licenças de uso e processos visando ações de
preservação, além de obter informações dos projetos arquitetônicos originais e
das principais intervenções realizadas posteriormente (acréscimos, demolições
e reformas eventualmente realizadas).

O levantamento dos imóveis envolveu equipes multidisciplinares de Arquitetura


e Urbanismo e de Serviço Social, compostas de profissionais e de estagiários.
Para o levantamento das características, condições físicas e usos atuais dos
imóveis, foi utilizado o instrumento de levantamento denominado walkthrough,
que consiste na observação do ambiente construído simultaneamente com
entrevistas a informantes conhecedores do local. Este é, em geral, o primeiro
instrumento a ser aplicado em uma avaliação desta natureza, que permite a
identificação das características da construção, dos ambientes e da sua
utilização. A escolha desse instrumento deve-se à sua eficiência para se obter
uma compreensão geral do desempenho ambiental do imóvel avaliado. O
walkthrough foi elaborado por se acreditar que o uso do ambiente físico pode
funcionar como meio de "entrevistados" e pesquisadores expressarem as suas
necessidades, ao se interpretar, através das reações e sensações, suas
relações com o ambiente analisado.

O resultado desta etapa foi a elaboração de uma ficha descritiva para cada um
dos 186 imóveis. A conjunção das duas pesquisas (em campo e em arquivos)
gerou conhecimento fundamental para a etapa seguinte.

Meta 2 – Análises

Esta etapa consistiu na análise e pré-seleção de 50 imóveis com maior


potencial para reabilitação e, dentre estes, 10 imóveis para ações prioritárias. O
maior desafio enfrentado pela equipe de projeto foi a construção de uma
estratégia para sistematizar as informações coletadas na Meta 1 e estabelecer
critérios para mensurar e chegar a um resultado preciso do potencial de
reabilitação de cada imóvel.
A análise dos imóveis foi realizada a partir da definição de critérios e requisitos
de prioridades e de medidas de desempenho 4, determinando relações e graus
de influência que, analisados por meio de uma matriz de prioridades
desenvolvida pela equipe do LabHab, definiram hierarquicamente o potencial
de reabilitação dos imóveis. Vale ressaltar que entendemos que a habitação
social é um dos muitos usos necessários para a requalificação da área central
da cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, para os imóveis desqualificados para
o uso residencial proposto pelo “Plano de Requalificação e Ocupação” foram
sugeridas as funções administrativas, culturais, entre outras possibilidades, não
tendo sido, de forma alguma, minimizada a importância destes imóveis no
contexto geral desta proposta de intervenção.

Em paralelo à análise citada anteriormente, foi realizada pesquisa, estudo e


análise das tipologias das edificações residenciais ou mistas existentes hoje e
historicamente na área central, com o intuito de aprimorar o conhecimento das
experiências arquitetônicas ocorridas e fundamentar as soluções projetuais
empregadas nos Estudos Preliminares dos 50 imóveis com maior potencial de
reabilitação. As intervenções propostas em tais imóveis foram desenvolvidas
em adequação às demandas da Caixa Econômica Federal para o programa
Minha Casa Minha Vida 5, principal linha de financiamento do Governo Federal
do Brasil para programas desta natureza.

A investigação realizada anteriormente pelo LabHab 6 foi de grande utilidade


em todas as etapas de projeto e fundamentou uma importante decisão
referente às resoluções internas das unidades. Por outro lado, podemos
destacar a importância de se ter um grupo de pesquisa em habitação social
desenvolvendo as propostas projetuais, de ocupação/requalificação dos
imóveis e, consequentemente, da (nova) conformação do ambiente construído
urbano em conjunto com especialistas, professores e alunos. Conforme
mencionado anteriormente, essa integração entre diversas esferas acadêmicas
e profissionais não só melhor capacitam o profissional como também ampliam
os conhecimentos dos estudantes em relação aos processos criativos, técnicos
e construtivos.

Em função dos Estudos de Viabilidade Técnico-administrativa e Estudos


Preliminares de arquitetura dos 50 imóveis foi possível selecionar 10 imóveis
com maior potencial para inclusão nas ações prioritárias do Plano de
Reabilitação e desenvolver, na etapa posterior, material suficiente para dar
continuidade no processo de aplicação.

4
Os critérios e requisitos foram elaborados em função do objetivo do Plano, de ocupação das edificações
e imóveis vazios ou subutilizados próprios do Estado com habitação de interesse social.
5
http://www.caixa.gov.br/habitacao/mcmv/index.asp
6 A pesquisa do LabHab, há mais de dez anos, analisa os tipos de intervenção no pós-uso nas
habitações de interesse social, com o objetivo de aprofundar os conceitos de racionalidade e
“habitabilidade” nos aspectos físicos, psicológicos, sociais e culturais. Exploram-se métodos e técnicas
capazes de fornecer informação sobre os aspectos objetivos e subjetivos que determinam o
comportamento do morador com a sua moradia, contribuindo no desenvolvimento de metodologia
adequada à avaliação e projeto da habitação de interesse social.
Rua do Resende nº 182 Rua da Lapa nº 49

Rua
Rua Riachuelo nº 353 Sacadura Cabral nº 279

exemplos do material produzido durante a fase de estudos preliminares


Fonte: LabHab
Meta 3 – Propostas

A terceira etapa do projeto consistiu na elaboração de Projetos Básicos de


arquitetura para os 10 imóveis selecionados que apresentam uso residencial ou
misto com comércio/serviços. Nesta etapa, foram realizados: estudos e
propostas para readequação de atos normativos necessários aos objetivos da
reabilitação; estudos e análises das alternativas de planos, programas, projetos
e linhas de financiamento considerando-se as diferentes fontes de recursos;
propostas de métodos de financiamento e subsídios para viabilizar cada
empreendimento ou grupos de empreendimentos; e elaboração de modelos
econômico-financeiros para viabilizar a reabilitação dos imóveis (levantamento
das fontes existentes e cenários possíveis). Realizou-se também estudos
técnicos visando à regularização fundiária dos imóveis selecionados, além de
estudos e propostas de regularização e de relocação dos residentes de
ocupações irregulares nos imóveis.
4. Resultados

Nos dias 12 e 13 de Julho de 2011 foi realizado o Seminário Nacional sobre o


Plano de Reabilitação, com a apresentação do “Plano de Reabilitação e
Ocupação dos Imóveis do Estado do Rio de Janeiro na área central da Cidade
do Rio de Janeiro” e discussões sobre a inserção do Plano na estratégia para
revitalização da área central da cidade. Também, foi discutida a reabilitação de
imóveis situados em áreas centrais para habitação de interesse social
(experiências realizadas e o cenário possível); a questão fundiária na área
central da cidade do Rio de Janeiro; e a atuação do mercado imobiliário e
programas governamentais disponíveis para provisão habitacional e
possibilidade de atendimento em áreas centrais. Este evento marcou o
encerramento do Plano.

Foram realizadas, durante o desenvolvimento do trabalho, duas reuniões


públicas para a apresentação e discussão dos levantamentos, análises e
definição dos critérios de seleção dos imóveis para as ações prioritárias do
Plano de Reabilitação com a população. Para a divulgação do trabalho, foi
produzido um livro e DVD contendo as propostas, os 10 projetos de ações
prioritárias, e outros mais 10 projetos que estariam entre os 50 imóveis com
maior potencial de reabilitação.

5. Algumas conclusões observadas

A institucionalização do Atelier Universitário formalizou uma instância da


Universidade pública para realizar projetos de arquitetura e urbanismo como
atividade de extensão universitária para os estudantes da FAU/UFRJ.
Enquanto realiza projetos de interesse público e universitário, o Atelier
Universitário responsabiliza-se também pela capacitação dos estudantes da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo que, sob orientação didática de seus
professores, realizam a experiência prática fundamental à formação.

Estas considerações se tornam ainda mais evidentes se observados os


depoimentos dos alunos participantes:

“O Atelier me deu uma noção de mercado profissional ideal quando


tive acesso a detalhes do Meta 1,(…). A forma de organizar a Matriz
de avaliação inicial dos imóveis me ajudou a perceber que as
prioridades podem ser listadas de uma maneira menos linear e talvez
mais racional.

O Atelier tem a estrutura de uma empresa o que ajuda a reconhecer


os personagens administrativos convencionais. Semelhante ao
estágio convencional, no Atelier a relação entre o professor e o aluno
dá lugar à uma relação profissional pois estamos envolvidos em um
projeto remunerado mas mesmo assim o ambiente de estudo não se
perde, talvez por estarmos dentro do ambiente físico da universidade
ou porque realmente ali estão os docentes que em outro momento do
dia ministram aula.

Para mim o trabalho no ReHab foi lapidador. Durante o trabalho no


Atelier eu pude perceber as limitações que profissionalmente eu terei
ao lidar com as questões sociais. Lá visitei casas de moradores
receosos que aumentou meu entendimento da dimensão e da
urgência do problema.

Lá o desenho técnico unia a difícil tarefa de reprojetar um espaço


que acomodasse as pessoas que o superlotavam, somando as
normas edilícias em vigor à estética não esquecendo do contexto.

Eu intenciono contribuir para o desenvolvimento social da minha


comunidade, mas a estrutura de mercado hoje dificulta a
identificação de onde se inserir. Após trabalhar em um ambiente
ideal entendi que devo buscar algo semelhante. Mesmo que não o
encontre entendi que estar próxima à Universidade e suas
contribuições será uma forma de me atualizar como arquiteta.

Enfim, por isso que meu trabalho final de graduação não fugiu à luta!”
Nadia al Hayani

"Participar do REHAB foi fundamental para minha formação


profissional. Aprendi a confiar em mim ao ter a chance de opinar e
desenvolver projetos de forma mais independente do que em outros
escritórios fora da faculdade. Aprendi que é possível fazer uma
arquitetura de qualidade e esteticamente interessante para projetos
de baixo orçamento. Aprendi que é muito mais difícil trabalhar com
uma equipe grande, porém é muito mais rico. Além disso tudo, é
muito gratificante poder participar de um projeto que vai ajudar a sua
cidade quando for construído."
Lívia Perfeito

"Trabalhei no ReHab durante seis meses. Nesse tempo, eu tive a


chance de por em prática muito do que aprendi durante as aulas de
Projeto de Habitação Social. Além disso, o laboratório despertou em
mim a vontade de conhecer e me aprimorar mais nessa área. O
desenvolvimento dos projetos era super bacana, sempre pensando
no usuário final, no melhor aproveitamento do espaço, mesmo
trabalhando com o mínimo e preservando ao máximo as
características originais do edifício. A área de trabalho, um encanto à
parte. Gostei tanto da experiência que encontrei meu próprio
cantinho e já estou morando no centro também."
Tiago Batistone
Ficha técnica Ana Luisa Butturini Cogliatti
Coordenador Geral - Mauro Santos Bianca Freitas Soares
Coordenador de Projetos - Ubiratan da S. R. Beatriz Steenhagen do Nascimento
de Souza Carina Pires Batista
Coordenador de Urbanismo - Cristovão F. Frej Miro Fredrik Lind Holm
Duarte Lívia Perfeito Sampaio
Equipe Profissional Jonas Abreu da Silva
Adriano P. Fonseca – Arquiteto e Urbanista Nádia de Lacerda Werneck al Hayani
Amanda Clara Arcuri Favero – Designer Marcela Monteiro dos Santos
Andre O. Parreiras - Arquiteto e Urbanista Maria Laura Ramos Rosenbusch
Helga S. da Silva - Arquiteta e Urbanista Priscila Coli Rocha
Irma Miriam C. Zubieta – Arquiteta e Urbanista Priscila Marques Mendes
Lourenço Lana - Advogado Santiaine Jandrey
Maria Júlia de O. Santos – Arquiteta e Silvia Barcellos Rezende
Urbanista Tássia Batista Cordeiro
Maria Lucia Pecly - Arquiteta e Urbanista Tiago Batistone
Mauricio Brandão - Engenheiro Tiago Nascimento de Souza
Paula P. A. de Oliveira – Arquiteta e Urbanista Thania Andrea Morales Rojas
Patrícia P. A. de França – Arquiteta e Thais dos Santos Diegues
Urbanista Thiago Falcão de Moura
Paulo Fernando N. Rodrigues – Engenheiro Thiago Oliveira Vieira
Civil Valeska Ulm de Gouvea Sachett
Tiago F Fontes - Advogado Olivier Ferreira Bruno Lauppi
Wendell D. Varela – Engenheiro Civil Wallacy de M. Coelho
Estagiários

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