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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM URBANISMO

O LUGAR DA UNIVERSIDADE PÚBLICA NA POLÍTICA URBANA:


EXPROPRIAÇÃO, PRIVATIZAÇÃO E REFUNCIONALIZAÇÃO DO ESPAÇO
PÚBLICO BRASILEIRO

Projeto Básico de Pesquisa


apresentado no Seminário de Tese I
(2022.1) do Curso de Doutorado em
Urbanismo – Turma 2022

Autor: Vitor Halfen


Orientador: Cláudio R. Ribeiro

JULHO DE 2022
1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa enfoca o fenômeno da privatização e expropriação das terras e das


infraestruturas sociais públicas no espaço urbano brasileiro que vem sendo empreendidas
pelo próprio Estado em associação com diversos agentes do capital, em particular do
capital imobiliário, e tem como objeto empírico o caso das universidades públicas. Nos
últimos anos, vem sendo realizadas diversas ações e disputas em torno da privatização
dos espaços das instituições públicas de ensino superior, tanto na esfera legislativa e no
âmbito da formulação e execução de políticas públicas de gestão e de financiamento da
educação, quanto também no campo político e ideológico em torno dos embates sobre o
sentido público do espaço, da educação e do patrimônio imobiliário associado às
infraestruturas sociais urbanas.

O que chamamos aqui de privatização e expropriação das infraestruturas sociais públicas


pode ser entendido como um fenômeno sistêmico e complexo que se apresenta de diversas
formas, seja de modo mais direto com a transferência de ativos e recursos estatais ou
comuns para empresas privadas, ou pela extinção de meios públicos urbanos de acesso a
bens e serviços de consumo coletivo ou ainda por meio da submissão das instituições e
infraestruturas sociais públicas à lógica de mercado orientada para a garantia do lucro
privado. Nesse sentido, a pesquisa está situada no campo crítico de estudos sobre o direito
à cidade.

Esse processo caracteriza a doutrina político-econômica do neoliberalismo, que vem se


impondo como forma hegemônica de dominação do capital sobre os territórios do planeta
desde meados dos anos 1970. Essa doutrina tem como uma de suas marcas a reatualização
de dispositivos permanentes de expropriação e despossessão das populações mundiais
subalternizadas em associação com a dinâmica da financeirização, produzindo constantes
e aceleradas transformações sobre os territórios, em especial sobre as cidades, na forma
do que pode ser definido como “ajustes espaciais” com vistas a garantir as condições para
a continuidade da acumulação de capital nestes moldes, orientando a produção do espaço
urbano nesta direção (HARVEY, 2004).

No caso dos campi universitários públicos, essa dinâmica tem impactos significativos
sobre seu próprio espaço e sobre os contextos urbanos em que estão inseridos,
modificando até mesmo a paisagem urbana destes locais. Na UFRJ, assim como na maior
parte das universidades federais, é marcante a presença de edifícios e estruturas

2
inacabadas cuja construção fora iniciada anos atrás no contexto de expansão das
universidades federais pelo REUNI1 e paralisadas em seguida pelo estrangulamento dos
recursos orçamentários. Essas “ruínas do REUNI” se tornam hoje uma espécie de anti-
monumento presente na paisagem de quase todos os campi universitários públicos,
materializando espacialmente o processo de expropriação em curso.

Outro elemento marcante na paisagem neoliberal das universidades é a proliferação dos


“edifícios efêmeros” montados a partir da reutilização de containers navais desativados,
reconfigurados para servir às funções de ensino, pesquisa, extensão e administração das
instituições. Essas estruturas são empregadas como alternativa à redução do orçamento
de investimento, produzindo espaços precários e transitórios, uma vez que os edifícios-
containers não são de propriedade da universidade, mas sim alugados, estando sujeitos de
forma ainda mais direta às contingências no fluxo dos recursos orçamentários em razão
das disputas sociais pelo fundo público.

O forte simbolismo dos edifícios-container expressa a sujeição cada vez mais forte do
espaço público à lógica e ao imaginário do capital privado, produzindo “edifícios
públicos” à imagem e semelhança dos espaços industriais da era da acumulação flexível
e do just-in-time pós-fordista (HARVEY, 1993), encurtando o horizonte temporal do
planejamento urbano e arquitetônico do espaço público pelo Estado e subvertendo a
própria lógica espacial do edifício público, antes central na concepção do urbanismo e da
arquitetura moderna, da qual o próprio plano urbanístico do campus da Ilha do Fundão e
seus edifícios são exemplares representativos. O novo paradigma dos edifícios-container
desloca até mesmo as concepções mais clássicas da noção mesma de arquitetura, como a
tríade vitruviana: em que patamares são recolocadas as noções de solidez construtiva,
adequação ao uso e fruição estética no contexto da “containerização” dos edifícios
públicos? O contraste estético revelado atualmente no edifício Jorge Machado Moreira,
da UFRJ, ilustra de maneira didática este processo (Figura 1).

Mas a face mais perversa do processo de expropriação do patrimônio público que se


pretende investigar talvez seja a evidente deterioração física dos edifícios por
consequência do rigoroso ajuste orçamentário. No caso da UFRJ isso fica tragicamente
demonstrado pelos inúmeros incêndios ocorridos em edifícios da instituição nos últimos

1
Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, instituído em
2007 pelo Decreto nº 6096 de 24 de abril de 2007.

3
anos, sendo os mais significativos os incêndios no oitavo andar do Edifício Jorge
Machado Moreira em outubro de 2016, no Alojamento Estudantil em agosto de 2017, no
Museu Nacional em setembro de 2018 – este o de piores proporções, destruindo quase
inteiramente o edifício e um dos mais importantes acervos museográficos do país – e mais
recentemente um novo incêndio no Edifício Jorge Machado Moreira, em abril de 2021.
O impacto dos incêndios e de outras interdições de espaços por problemas de
infraestrutura acentuam ainda mais a escassez de espaços para as atividades universitárias
e comprometem a própria existência física das instituições de ensino, aspecto agravado
recentemente com a pandemia do novo coronavírus.

Figura 1: Edifícios containers anexos ao Edifício Jorge Machado Moreira, no Campus da Ilha
do Fundão, da UFRJ: mudança de paradigma na concepção do espaço e do edifício público.
Fonte: Do autor.

Outra questão central relacionada ao espaço das universidades públicas e à política urbana
é o problema da moradia estudantil. Também neste aspecto a UFRJ serve como caso
paradigmático. Sendo a maior universidade federal do país, a instituição conta atualmente
com 53.500 estudantes de graduação, dentre os quais cerca de 30% são oriundos de outras
cidades. Não obstante, a única Residência Estudantil da universidade abriga hoje apenas
245 pessoas, o que corresponde a 0,46% do total de estudantes e a 1,5% daqueles oriundos

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de fora do Rio de Janeiro2. Outra federal situada na mesma cidade, a Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) tem cerca de 14.500 estudantes de graduação e
não possui nenhuma moradia estudantil, oferecendo apenas 90 bolsas de auxílio moradia
no valor de quatrocentos reais mensais, o que atende a 0,62% do corpo discente. É preciso
considerar que a capital fluminense tem um dos mais altos custos de vida e valor do solo
elevado, tornando a questão da moradia crucial para os estudantes com renda familiar
mais baixa, especialmente para aqueles oriundos de outros locais, quase sempre com
custo de vida menor.

Além dos graves problemas educacionais decorrentes da ausência de uma política que
efetivamente garanta a permanência estudantil, a questão do déficit de moradia estudantil
tem impactos importantes na dinâmica urbana de forma mais ampla, já que a grande
demanda por habitação pressiona o aumento do valor do solo nas áreas de entorno dos
campi universitários, comprometendo o acesso à moradia digna não só de estudantes e
trabalhadores da universidade mas também de outros segmentos da população, por vezes
gerando um processo de substituição das populações dos entornos mais pauperizados por
moradias estudantis, num processo que alguns autores denominam como
“estudantificação” em analogia ao de gentrificação (SMITH, 2005). Fenômenos desta
natureza foram identificados e analisados em diversos casos no país (FREIRE, 2014;
SUGAI, 2012; CALDERARI; FELIPE, 2021).

Contraditoriamente, as ruínas do REUNI, os edifícios-container, os prédios destruídos


pela falta de investimento e a inexistência de moradias estudantis dignas contrastam com
a presença cada vez mais numerosa de edifícios construídos por grandes empresas para
abrigar laboratórios e centros de pesquisas privados voltados para áreas de conhecimento
diretamente ligadas às suas atividades econômicas. O caso do Parque Tecnológico da
UFRJ também é um dos mais significativos desta dinâmica. Criado por volta de 2000, o
Parque consiste na cessão de 7% da área do campus para a instalação de laboratórios de
grandes empresas internacionais, especialmente do ramo de petróleo e gás. A rápida
evolução da ocupação urbana do Parque pelo capital privado entre 2009 e 2021 (Figura
2) contrasta com as ruínas da expansão inacabada dos edifícios educacionais públicos

2
Dados extraídos do site da UFRJ, disponível em: https://ufrj.br/acesso-a-informacao/institucional/fatos-
e-numeros/, acessada em 1/11/21, 18:26.

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(Figura 3) e as salas de aula precariamente instaladas nos já mencionados containers no
mesmo período.

Para compreender o atual estado das coisas no que se refere à produção do espaço da
universidade pública brasileira é preciso analisar de maneira aprofundada de que modo e
por quais atores foram concebidas, propostas e implementadas as diversas políticas
públicas para o setor da educação e sua imbricação com a política urbana nos últimos
anos.

Figura 2: Comparativo da ocupação urbana do Parque Tecnológico da UFRJ por empresas


privadas entre 2009 (esquerda) e 2021 (direita). Fonte: Google Earth

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Figura 3: Construção abandonada do prédio do CFCH, no Fundão. Fonte: ETU/UFRJ

2. PROBLEMÁTICA

O processo de privatização e expropriação do espaço da universidade pública que se


pretende investigar vem ocorrendo pelo menos desde a redemocratização do país. Embora
tenha origens anteriores, devido ao seu caráter estrutural para a acumulação de capital, é
no contexto pós Constituição de 1988, em meio a ascensão das políticas neoliberais de
ajuste e do receituário tecnocrático dos organismos multilaterais como o FMI e o Banco
Mundial que a dinâmica em tela ganhará novas proporções e centralidade nos debates
tanto da pauta urbana como da educação. Esse fenômeno passa a avançar de forma mais
acelerada no último decênio, com os cortes orçamentários sistemáticos no setor da
educação a partir de 2014, e atinge o seu auge após 2016, com a Emenda Constitucional
nº 95/2016, que congelou por um período de vinte anos os gastos do Estado com políticas
sociais e outros investimentos públicos essenciais para a garantia de direitos básicos.

Por essa razão, o recorte temporal sugerido inicialmente para a pesquisa abrange o
período de 2012 até os dias atuais, tendo como marco inicial o ano com o maior volume
de recursos orçamentários federais investidos nas universidades públicas, passando a
decair progressivamente nos anos seguintes até o recrudescimento do ajuste e a
apresentação das propostas de refuncionalização radical do ensino superior pelo atual
governo federal. Esse recorte poderá ser redefinido ao longo do desenvolvimento da
pesquisa, sobretudo em função do avanço ainda incerto das políticas em discussão
atualmente no parlamento e em outras esferas do Estado.

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2.1. A crise do financiamento público e a refuncionalização da educação
superior

O período temporal que a pesquisa pretende analisar é marcado por uma forte política de
desinvestimento do Estado em gastos primários, sendo a educação superior um dos
setores mais afetados, com o orçamento anual das IFES decaindo ano a ano a partir de
2013. Como o orçamento das universidades é dividido entre as despesas obrigatórias, que
envolvem os salários e aposentadorias dos servidores, e as despesas discricionárias,
ligadas ao custeio das atividades e da estrutura da universidade (bolsas, equipamentos,
energia, água, limpeza, segurança, manutenção, reforma e construção de infraestruturas
físicas), a redução orçamentária incide inteiramente sobre o segundo grupo de gastos.

O Gráfico 1 indica a vertiginosa queda nas verbas de investimento das universidades


federais entre 2014 e 2021, passando de quase 3 bilhões para cerca de 100 milhões, valor
inexpressivo diante da dimensão do sistema de ensino superior público brasileiro.
Segundo Roberto Leher (2021), a redução da verba para investimentos neste período foi
de 96,4%, sendo a principal razão para os diversos problemas de deterioração física do
espaço das universidades públicas mencionados anteriormente.

Gráfico 1: Verba de investimento das Universidades Federais (2014-2021). Fonte: LEHER,


2021.

Em meio a esta grave crise do financiamento público da educação superior provocada


pela mudança na destinação dos recursos do fundo público, e sob as ofensivas ideológicas
da guerra cultural e ideológica contra a universidade pública (LEHER, 2019), foram
apresentadas pelo governo federal algumas “soluções alternativas”, que modificam

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estruturalmente o papel do Estado no financiamento das estruturas de provisão de direitos
sociais e recolocam uma nova função para as instituições públicas de ensino superior. Em
julho de 2019, o Ministério da Educação lançou publicamente um novo programa para a
educação superior federal: o Programa Institutos e Universidades Empreendedoras e
Inovadoras, também chamado de Future-se. O projeto de lei indicava que a finalidade
central do programa seria a de promover o “fortalecimento da autonomia administrativa
e financeira das Instituições Federais de Ensino Superior – IFES, por meio de parceria
com organizações sociais e do fomento à captação de recursos próprios” (BRASIL, 2019).

Lançado na esteira do estrangulamento das verbas públicas provocado pelo “teto de


gastos”, o Future-se foi apresentado como a solução para o problema orçamentário na
educação. A proposta consistia em transferir a gestão das IFES para Organizações
Sociais, eliminar o financiamento público das mesmas, e instituir mecanismos de
“autofinanciamento” baseados na captação de recursos da iniciativa privada e na
constituição de um fundo de investimento imobiliário das universidades.

Neste ponto, é preciso chamar atenção para a centralidade que esta política pública, a
princípio do setor da educação, dá para a questão do patrimônio imobiliário, colocando
este como o principal sustentáculo do dito “autofinanciamento”. O projeto estabelece que,
como condição de participação no programa, as IFES devam “aperfeiçoar a gestão
patrimonial de seus bens, mediante cessão de uso, concessão, comodato, fundo de
investimentos imobiliários, realização de parcerias público-privadas, entre outros
mecanismos” (BRASIL, 2019). Roberto Leher (2019) considera que o Future-se
representa uma política de refuncionalização completa da universidade pública brasileira,
reconvertida assim em uma espécie de agência de prestação de serviços mediante
captação de recursos privados, erodindo seu caráter público de instituição garantidora do
acesso à educação pública gratuita e de qualidade.

Com esse intuito, os dispositivos do projeto de lei preveem a transferência da gestão e até
mesmo a doação de bens imóveis públicos para as Organizações Sociais. Em seu desenho
inicial, o projeto prevê o aporte de um conjunto de imóveis públicos no valor total de 50
bilhões de reais, integralizados pelo fundo de investimento imobiliário. Portanto, mais do
que um programa educacional, trata-se de um mecanismo de transferência direta de
imóveis públicos urbanos para a iniciativa privada. Para Giolo, Leher e Sguissardi (2020),
o intuito do programa consiste em “levar patrimônio, obtido prioritariamente com
recursos públicos, às organizações sociais participantes”. Nesse sentido, fica evidente que

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o projeto opera por meio de um mecanismo de expropriação e privatização do patrimônio
público vinculado às universidades federais.

Este processo de privatização de imóveis tem avançado de maneira acelerada também em


outras esferas do setor público, através da aprovação de dispositivos legais que facilitam
e estimulam a realização de leilões, alienações e doações de imóveis públicos para a
iniciativa privada, além de instituir novos mecanismos para privatização da gestão destes
imóveis, sendo a Lei nº 14.011, de 10 de junho de 2020 o mais importante destes
instrumentos. Uma das inovações da lei é a Proposta de Aquisição de Imóveis (PAI), que
permite que agentes privados façam ofertas livres para compra de quaisquer imóveis
públicos, sem que o Estado precise antes coloca-los à venda. Na realidade, a PAI
representa em si a disponibilização a priori de todo o conjunto de imóveis públicos da
União aos interesses privados.

Na esteira deste novo marco regulatório, em agosto de 2021 o governo federal lançou o
chamado “Feirão de Imóveis SPU+”. Esta primeira edição do leilão, inicialmente restrita
ao Rio de Janeiro, colocou à disposição do mercado privado mais de 2,2 mil imóveis
públicos avaliados em cerca de 110 bilhões de reais3. Neste primeiro leilão não foram
incluídos imóveis das universidades federais, mas a sua realização aponta para uma
tendência geral que se pretende adotar também no caso do chamado “autofinanciamento”
das universidades.

2.2. Universidade pública e mercado imobiliário

Para melhor compreender a centralidade da questão imobiliária das universidades federais


e a extensão do montante de recursos públicos envolvido é preciso analisar brevemente
os dados sobre o patrimônio imobiliário dessas instituições. Segundo a Secretaria de
Patrimônio da União (SPU) as 69 universidades federais brasileiras existentes atualmente
compõem um conjunto imobiliário espalhado por diversas cidades do país avaliado em
mais de 42 bilhões de reais, conforme a Tabela 1. No entanto, a defasagem temporal de
parte das avaliações, algumas delas realizadas há mais de quinze anos, indicam uma forte
subestimativa neste dado e sugerem um valor real significativamente maior.

3
Governo Federal lança feirão de imóveis da União no Rio de Janeiro. Agência Brasil, 27/08/2021.
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-08/governo-federal-lanca-feirao-
de-imoveis-da-Uniao-no-rio-de-janeiro

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Evidentemente, este patrimônio está distribuído de forma bastante desigual pelo território
brasileiro e entre as universidades. As instituições com maior patrimônio avaliado são
justamente aquelas sediadas em grandes regiões metropolitanas como Rio de Janeiro,
Brasília, Salvador, Belo Horizonte, entre outras. Considerando o contexto urbano das
universidades sediadas nestes grandes centros, é possível supor que haja maior pressão
do capital imobiliário sobre a dinâmica urbana, tanto no que se refere à especulação sobre
o valor do solo quanto à busca por novas frentes para expansão imobiliária.

Tabela 1: Patrimônio imobiliário (em R$) das universidades federais, detalhando


as dez primeiras

A tabela também é reveladora da posição de destaque que a UFRJ ocupa neste aspecto,
sendo a segunda maior proprietária de imóveis dentre as universidades federais, atrás
apenas da UnB, que possui a particularidade de estar situada no contexto urbano e
fundiário excepcional da capital federal. No caso da UFRJ, se considerarmos a dimensão
de seu patrimônio imobiliário e as localizações privilegiadas de alguns de seus imóveis,
é possível compreender melhor o volume de recursos públicos na forma de imóveis
urbanos que as atuais políticas de “autofinanciamento” pretendem colocar à disposição
do mercado.

O Campus da Ilha do Fundão, por exemplo, é uma área plenamente infraestruturada e


urbanizada, conectada a diversos sistemas de circulação e mobilidade, localizada em
posição central na metrópole fluminense (Figura 4). A área total do campus é de 5,238
quilômetros quadrados, quase o mesmo da área delimitada pela Operação Urbana
Consorciada do Porto Maravilha, que foi a maior parceria público-privada já realizada no
país. Outro objeto de grande interesse do mercado imobiliário é o Campus da Praia

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Vermelha, menor em tamanho, mas localizado na zona sul da cidade, numa das áreas de
mais alto valor de solo urbano e em meio a uma das zonas turísticas mais movimentadas
do país (Figura 4). Os dois campi principais da Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro (UNIRIO) também se localizam no mesmo contexto e despertam grande
interesse de agentes imobiliários. Além disso, ambas as universidades possuem diversas
outras unidades instaladas em grandes imóveis localizados na área central da cidade.

Figura 4: Localização dos Campi da Ilha do Fundão e da Praia Vermelha e das unidades
isoladas da UFRJ na Cidade do Rio de Janeiro. Fonte: Google Earth com dados do autor.

No caso do Campus da Praia Vermelha da UFRJ o debate sobre a utilização da área não
é recente. A polêmica em torno da desocupação do campus existe desde o início da
transferência das primeiras unidades para o Fundão na década de 1960 e, com ela, a
questão de qual seria a destinação futura do local. Em 2018 a discussão foi retomada em
novos termos quando a Reitoria da UFRJ iniciou a elaboração do projeto intitulado Viva
UFRJ, desenhado em parceria com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) e com estudos de viabilidade elaborados pelo Banco Fator S.A.

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O projeto consiste na cessão de três quartos da área do campus (Figura 5) para a iniciativa
privada pelo período de 50 anos. Como contrapartida, a cessionária aportaria
investimentos na estrutura física da universidade, reformando ou construindo novas
infraestruturas acadêmicas, culturais e de assistência estudantil. Segundo os
coordenadores do projeto, o fato da contrapartida não ser financeira vincularia tal
contrapartida aos interesses da universidade e não apenas aos do capital imobiliário. Não
obstante, para tornar o negócio atrativo e lucrativo aos possíveis investidores, a área
cedida teria seus parâmetros urbanísticos flexibilizados, permitindo uma ampliação do
potencial construtivo (Figura 6) do empreendimento privado em moldes semelhantes ao
de uma operação urbana consorciada.

Embora restrito ao âmbito da UFRJ, a análise das premissas fundamentais do projeto Viva
UFRJ permite considerar que ele se insere na mesma lógica e incorpora as mesmas regras
que, se universalizadas para o conjunto das universidades públicas, conduzem ao modelo
proposto pelo governo federal através do Future-se. Ambas ações tem em comum o fato
de recorrerem a dispositivos de privatização dos espaços destas instituições como suposta
“alternativa” ao financiamento estatal, revelando uma imbricação direta entre as políticas
educacionais e a política urbana atual, especialmente no que tange ao seu caráter
espoliativo.

A subordinação da universidade à lógica da privatização e aos ditames do mercado


financeiro através dos fundos de investimento indica uma subversão do espaço público
da universidade e de sua função social, já que a instituição passa a atuar como um player
do mercado imobiliário urbano. O espaço sob jurisdição das administrações universitárias
se converte em espaço autônomo da legislação urbanística geral da cidade, configurando
uma espécie de exceção aos instrumentos de regulação da política urbana como os planos
diretores. Em paralelo, o financiamento da universidade passa a estar condicionado à
valorização dos seus ativos imobiliários em fundos de investimentos negociados no
mercado financeiro. Em outras palavras, o processo de refuncionalização da universidade
e da educação públicas atrelado às políticas do atual governo corresponde em igual
medida a um processo de refuncionalização do espaço da universidade pública, atrelado
a um fenômeno mais amplo de reconversão do próprio caráter público do espaço urbano
em geral.

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Figura 5: Campus da Praia Vermelha da UFRJ - Indicação dos limites da área do campus e da
área cedida pelo Viva UFRJ. Fonte: COMPUR

Figura 6: Campus da Praia Vermelha da UFRJ - Simulação de ocupação com base nos novos
parâmetros urbanísticos propostos pelo Viva UFRJ. Fonte: COMPUR

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2.3. Expropriação e privatização do espaço público

Um dos aspectos que se coloca como central a partir do processo descrito acima é a
questão da destruição do caráter público das estruturas de provisão do direito à cidade e,
por conseguinte, do próprio espaço público em si. Podemos aqui retomar a concepção de
Pannerai (1994), para quem “o espaço público se define primeiramente como espaço do
público” e também que “aberto e acessível a todos, a todo momento, ele pertence à
coletividade, ele é, para retornar à expressão latina, coisa pública (res publica)”. É
precisamente esse caráter radicalmente (no sentido de raiz) republicano do espaço público
que parece ser colocado em cheque pelo avanço das políticas de expropriação e
privatização do espaço nas cidades e universidades brasileiras.

A progressiva transformação na política de financiamento da educação pública e o


enfraquecimento de um imaginário coletivo sobre a qualidade dos espaços públicos
urbanos, induz uma transformação radical na lógica espacial dos campi universitários.
Tendencialmente, mesmo quando não privatizado do ponto de vista jurídico, o espaço da
universidade pública parece ser produzido cada vez mais à imagem e semelhança do
espaço privado, que domina uma espécie de inconsciente coletivo como o modelo de
qualidade de espaço urbano em geral e produz um tipo de paisagem urbana homogênea e
fetichizada que espelha a própria forma das relações sociais do capitalismo
contemporâneo (HALFEN, 2014; RIBEIRO, 2017; ROLNIK, 2019).

Nesse sentido, recoloca-se a questão do componente ideológico da produção do espaço


(LEFEBVRE, 2000), entendendo ideologia aqui como mecanismo próprio dos aparelhos
de hegemonia burguesa de imposição de interesses privados próprios das classes
dominantes como interesses supostamente universais de toda a sociedade. Em outras
palavras, a subversão do caráter público das instituições de provisão de direitos sociais
básicos através de processos espoliativos diversos parece ter relação direta com a
subversão e implosão do próprio espaço público urbano per se, num processo que vem se
agravando e se acelerando neste último decênio, mas que tem raízes mais profundas e
históricas e está diretamente ligado inclusive à concepção mesma de espaço público
proposta pelo urbanismo moderno, bem como pelos críticos do urbanismo contextualista
e culturalista pós-moderno.

Nas ciências humanas de um modo geral, o campo teórico que trata do fenômeno de
desagregação da vida e do espaço públicos na modernidade capitalista é amplo e

15
absolutamente diverso do ponto de vista epistemológico. Friedrich Engels (2010) já
identificava a perversidade do espaço urbano produzido nas cidades industriais inglesas
do século XIX a partir de uma racionalidade própria do lucro capitalista privado que
condenava as grandes massas operárias a condições de vida desumanizadas. Georg
Simmel (1976) também identificou na grande cidade moderna a expressão máxima da
economia monetária capitalista que dominava todas as relações sociais e reduzia a
qualidade e a individualidade sempre à lógica do dinheiro e da quantificação, do cálculo
e do interesse econômico. Hannah Arendt (2001) concebe a esfera pública como
sustentada pela dimensão da comunicação humana e, por isso mesmo, como fundamento
essencial da atividade política, de modo que o espaço público – locus privilegiado da
esfera pública – pode ser entendido como condição da atividade política e da própria
democracia. Mais contemporaneamente, Jurgen Habermas (1984) compreende que, sob
o capitalismo atual, a esfera pública passa a estar submetida a um processo de colonização
sistêmica pelos imperativos da lógica de mercado o que modifica não só a interação dos
indivíduos entre si como também o próprio espaço público. E ainda Richard Sennett
(1989), para quem o equilíbrio e a definição clara dos limites entre público e privado do
passado são borrados pela vida moderna, havendo uma predominância da esfera privada
sobre a pública, num processo que marca o que chama de “declínio do homem público”.

Dentro do campo dos estudos urbanos essa questão é absolutamente central. Arantes
(2015) analisou as contradições da própria concepção de espaço público do urbanismo
modernista, que instituiu a quantidade como o critério de qualidade do espaço público.
Ao conceber a cidade moderna como uma enorme extensão indefinida de espaços livres
públicos, porém abstratos, terminou por produzir seu contrário, isto é, o esvaziamento do
espaço público simultaneamente à desintegração dos limites e à indiferenciação entre
público e privado, homogeneizando indiscriminadamente os espaços de moradia e
trabalho, por exemplo, o que abriria caminho para que, em última instância, a lógica do
privado avançasse sobre o público em meio a esta indiferenciação generalizada. Cabe
ressaltar que foi precisamente este paradigma moderno de espaço público que orientou e
deu forma ao espaço da universidade pública brasileira no século passado, sendo o
campus universitário um de seus programas mais emblemáticos.

Em direção semelhante, Caldeira (2000) aponta para a “implosão da vida pública


moderna” na cidade contemporânea e ressalta a importância que os instrumentos de
planejamento e projeto urbano modernistas tiveram para a produção dos “enclaves

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fortificados” que caracterizam o modo de segregação urbana atual. Para a autora, a mesma
técnica de produção de um espaço público total e unificado idealizado pelo modernismo
se converte na prática em seu contrário e passa a ser utilizada para estender cada vez mais
os limites do espaço privado como nova totalidade que se impõe sobre o conjunto da
cidade, passando inclusive a assumir funções antes públicas, mas agora de maneira
segregada.

Essa mesma tendência de privatização do espaço público é apontada por Ribeiro (2009;
2017; 2018). Operando dentro da lógica de eliminação do espaço público e do acesso
público aos direitos sociais básicos, o urbanismo passa a se constituir de forma
hegemônica como “técnica de privatização do espaço público” (RIBEIRO, 2018) que atua
como legitimadora de um discurso de progresso que se impõe como modelo único de
produção do espaço, escamoteando conflitos de fundo essencialmente político na disputa
entre as classes sociais. Esse modelo opera sempre na busca de uma espacialidade
definida pela autoridade técnico-política que opera e manobra nas zonas cinzentas entre
legalidade e ilegalidade e entre público e privado, produzindo o que o autor chama de
“espaço cordial” (RIBEIRO, 2009).

Rolnik (2015) também nos fala sobre o papel da manutenção de incertezas sobre o urbano
que constitui o que chama de “transitoriedade permanente” como fator essencial para o
estabelecimento de uma massa de reserva de terras à disposição da expansão capitalista.
Essa transitoriedade permanente seria constituída por “zonas de indeterminação entre
legal/ilegal, planejado/não planejado, formal/informal, dentro/fora do mercado,
presença/ausência do Estado” (ROLNIK, 2015, p. 174). Poderíamos tratar de modo
semelhante a condição ambígua na qual são colocados também os demais bens e serviços
de consumo coletivo urbanos além da moradia. Em outra obra, Rolnik (2019) aponta o
caráter contraditório que o espaço público possui no capitalismo moderno, sendo
concebido justamente a partir da ideia de propriedade privada controlada pelo Estado.

Basta considerarmos, por exemplo, que o Estado moderno tem como sua
função precípua a de garantidor da propriedade privada e que portanto a
própria noção iluminista liberal de república democrática moderna está
diretamente ligada a uma democracia direta dos proprietários privados
capitalistas.
(...) Esse modelo se consolida sob a forma de Estados-nação, que fornece a
matriz conceitual e prática da noção de “espaço público”– noção que também
é privatista na medida em que surge juntamente (e por contraponto ou
complemento) à de espaço privado. Ao menos desde o século XIX, quando os
governos implantam sistemas de circulação, saneamento, manutenção, lazer,

17
entre outros, o público é entendido como “propriedade privada do Estado”,
essencial para suas táticas de governamentalidade. (ROLNIK, 2019, p. 24)
Essa noção do público como propriedade privada do Estado nos parece central para o
problema de pesquisa em tela, uma vez que cabe ao próprio Estado definir a cada
momento histórico e contexto socioespacial aquilo que deve ou não ser definido como
propriedade estatal.

Nessa perspectiva, o processo que estamos analisando revela que as infraestruturas sociais
urbanas são colocadas justamente nessa zona de transição permanente entre dentro/fora
do mercado e dentro/fora do Estado, constituindo também uma enorme reserva de terras,
edifícios e recursos gerida pelo aparato estatal e passível de ser colocada à disposição dos
capitais sempre que necessário, especialmente nas situações de crise. É no centro dessa
zona de indefinição que o espaço da universidade pública nos parece estar hoje colocado.
Essa transitoriedade permanente é a base que estrutura e possibilita o avanço dos
processos de expropriação que sustentam a acumulação de capital na contemporaneidade.

Portanto, torna-se fundamental caracterizar esta dinâmica como um fenômeno


estruturante do capitalismo neoliberal, compreendido não só como uma política
econômica ou um sistema ideológico, mas como uma racionalidade complexa que
organiza não apenas a ação do Estado como também a dos governados, instituindo uma
espécie de imaginário coletivo hegemônico que tem no regime de concorrência e na
empresa capitalista seus únicos modelos universais de ordenamento da vida social
(DARDOT, LAVAL; 2016; FOUCAULT, 2008). Uma das dimensões fundamentais
desta razão neoliberal é justamente o aprofundamento ou a atualização de dispositivos de
expropriação e espoliação do capital sobre as populações, seja nas formas mais clássicas
de despossessões e desterritorializações diretas, seja por meio de novos mecanismos de
privatização dos bens comuns, que podem ser caracterizados como uma nova onde de
cercamento dos comuns (FEDERICI, 2017; 2021; BENSAÏD, 2017).

2.4. Expropriação do espaço urbano e acumulação capitalista

O debate sobre papel dos processos de expropriação na garantia da reprodução ampliada


do capital é central para a economia política de um modo geral, especialmente no campo
do materialismo histórico dialético. O impacto destes processos sobre a produção do
espaço das cidades vem sendo amplamente estudado e discutido por diversos autores do

18
campo do urbanismo, do planejamento urbano e da geografia nas últimas décadas
(HARVEY, 2004; 2005; 2013; ROLNIK, 2019a; 2019b; GONÇALVES; COSTA, 2020).

David Harvey (2005) revisita a teoria marxiana da acumulação de capital e reflete sobre
como esta dinâmica e suas contradições produzem efeitos distintos sobre os territórios
que podem ser analisados do ponto de vista espacial. Para o autor, a perpetuação do
sistema capitalista é garantida por uma racionalidade externa imposta pela ocorrência
contínua de crises autoproduzidas. As crises recolocam permanentemente a possibilidade
de expansão para o capital e o duplo movimento dessa expansão está associada tanto a
intensificação, isto é, uma expansão interna, dentro dos limites territoriais já dominados
pelo capital, quanto uma expansão externa, subordinando novos espaços e expandindo
seu controle sobre o globo.

É nesse sentido que o autor desenvolve a noção de “acumulação por espoliação”


(HARVEY, 2004). A contribuição de Harvey é especialmente importante ao tratar de
como esses processos espoliativos no contexto atual não se dão apenas de forma direta e
individual (no sentido de uma subtração da propriedade individual dos trabalhadores),
mas também com frequência através do que ele chama “expropriação das terras comuns”,
ou seja, da privatização do conjunto de bens e serviços (e espaços) públicos não
mercantilizados que são acessados e consumidos pelas classes trabalhadoras na forma de
direitos.

Alguns dos mecanismos da acumulação primitiva que Marx enfatizou foram


aprimorados para desempenhar hoje um papel bem mais forte do que no
passado. (...)
Foram criados também mecanismos inteiramente novos de acumulação por
espoliação. (...) A corporativização e privatização de bens até agora públicos
(como as universidades), para não mencionar a onda de privatizações (da água
e de utilidades públicas de todo gênero) que tem varrido o mundo, indicam
uma nova onda de “expropriação das terras comuns”. Tal como no passado, o
poder do Estado é com frequência usado para impor esses processos mesmo
contrariando a vontade popular. (HARVEY, 2004, pp. 122-123)

Lúcio Kowarick (1979) pensa a questão de forma semelhante a partir do contexto


brasileiro de capitalismo periférico. Sua contribuição é fundamental para
compreendermos como os processos de expropriação são constitutivos e essenciais para
a reprodução ampliada do capital em geral, mas em particular no que se refere às
dinâmicas da cidade capitalista. Kowarick descreve o fenômeno que denomina de
“espoliação urbana” como um conjunto de extorsões operadas pelo capital sobre as

19
populações urbanas através da subtração ou precarização dos serviços e bens de consumo
coletivo necessários reprodução social da vida. Para o autor,

o processo de espoliação urbana, entendido enquanto uma forma de extorquir


as camadas populares do acesso aos serviços de consumo coletivo, assume seu
pleno sentido: extorsão significa impedir ou tirar de alguém algo a que, por
alguma razão de caráter social, tem direito. Assim como a cidadania supõe o
exercício de direitos tanto econômicos como políticos e civis, cada vez mais
parece ser possível falar num conjunto de prerrogativas que dizem respeito
aos benefícios propriamente urbanos. (KOWARICK, 1979, pp. 73-74)

Nesse sentido, podemos considerar que Kowarick compreende a espoliação urbana em


um sentido amplo que engloba não apenas a moradia – tema central em sua obra – mas
também o conjunto das extorsões promovidas pelo capital em relação ao rol de direitos
básicos próprios da vida urbana. Estamos tratando aqui do direito à cidade, entendido
como feixe de direitos propriamente urbanos como, por exemplo, o direito ao trabalho, à
cultura, ao repouso, à saúde, à moradia, à educação, isto é, o direito coletivo à vida urbana
(LEFEBVRE, 2001; CAVALLAZZI; MACHADO, 2016).

A partir dos estudos de caso das duas universidades federais sediadas na cidade do Rio
de Janeiro, pretendo buscar compreender em que medida podemos considerar que a
universidade pública hoje se constitui hoje como uma nova fronteira de expansão urbana
do capital, não apenas no sentido estrito, isto é, da criação de um mercado de serviços
educacionais privados, processo que já vem em ritmo acelerado nas últimas décadas, mas
incorporando agora uma dimensão diretamente ligada à expropriação dos espaços
urbanos da educação pública. Isso coloca a universidade no centro do debate sobre a
questão urbana e sobre o processo de produção do espaço urbano na era da hegemonia do
capital financeiro e, em particular, sobre os fenômenos de acumulação por espoliação
(HARVEY, 2004) e espoliação urbana (KOWARICK, 1979).

3. OBJETIVOS

A pesquisa tem como objetivo central analisar, sob o ponto de vista dos aspectos
urbanísticos, as consequências das atuais políticas para o setor da educação superior
pública no Brasil, em especial as propostas baseadas no chamado “autofinanciamento das
IFES”, decorrentes da política de desinvestimento estatal nos gastos primários. Pretende-
se conhecer como operam e quais são os agentes envolvidos na formulação dos novos
dispositivos legais e infralegais de expropriação e privatização de terras públicas e das

20
infraestruturas sociais urbanas instituídos pelos atuais programas governamentais para a
educação superior como o Future-se e por projetos localizados de parcerias público-
privadas como o Viva UFRJ. Pretende-se ainda compreender a extensão e os possíveis
impactos desses novos mecanismos de privatização do patrimônio imobiliário
universitário sobre o espaço público em geral das cidades e, em particular, sobre os
espaços educacionais públicos, especialmente os grandes campi urbanos das
universidades federais.

4. RELEVÂNCIA E JUSTIFICATIVA

Em primeiro lugar, cabe mencionar que o interesse pelo tema e a formulação das questões
apresentadas neste Projeto de Pesquisa advém principalmente de minha atividade
profissional como arquiteto e urbanista técnico-administrativo em educação na
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), onde atuo no planejamento
e concepção de projetos urbanos e arquitetônicos, além do acompanhamento e
fiscalização de obras na instituição. Ingressando no cargo em 2017, pude acompanhar na
prática ao longo dos últimos anos as graves consequências da asfixia do orçamento
público destinado as universidades federais e seus impactos sobre o espaço físico da
instituição.

Para além do envolvimento profissional e pessoal com o tema, a pesquisa se justifica


sobretudo a partir da percepção da escassez de estudos que tratem desta questão e que
relacionem de maneira clara as políticas educacionais com a política urbana. É vasto o
campo de discussão sobre o processo mercantilização da educação no Brasil,
especialmente pela expansão incentivada do capital privado no ensino superior. No
entanto, as implicações espaciais deste mesmo fenômeno são ainda muito pouco
debatidas e investigadas no âmbito acadêmico, especialmente no campo do urbanismo.
Não obstante, o quadro atual indica uma imbricação muito próxima entre a dinâmica de
mercantilização da educação e de privatização da produção do espaço urbano brasileiro,
especialmente dos espaços considerados “comuns”, isto é, os espaços e estruturas urbanas
públicas de provisão de direitos sociais.

Dentre as diversas estruturas urbanas de provisão de direitos sociais a universidade


pública é um caso singular. Provavelmente não há paralelo nas cidades brasileiras com os
campi universitários em termos de extensão de terras urbanas e concentração territorial

21
dos imóveis. Enquanto a maioria dos demais equipamentos públicos de provisão de
direitos tendem a se dispersar no tecido urbano de modo a se estabelecer como uma rede
mais ou menos distribuída pelas diversas áreas da cidade – pensemos nos hospitais, postos
de saúde, escolas, equipamentos culturais, centros esportivos, parques, praças – a
universidade opera na lógica inversa, buscando a concentração de suas funções em um
ou poucos locais, constituindo um conjunto urbano edificado com características
excepcionais. Trata-se na maior parte dos casos de grandes espaços situados quase sempre
em áreas urbanas plenamente infraestruturas, conectadas a vias e infraestruturas de
transporte ou próximo às regiões centrais. Por outro lado, via de regra possuem densidade
construtiva muito mais baixa que as áreas do entorno, predominando as extensas áreas
livres e as edificações isoladas.

O único caso análogo talvez sejam as estruturas militares – quartéis, bases e vilas militares
– cujo uso, no entanto, está muito mais ligado às funções de defesa armada do Estado do
que de acesso a serviços públicos coletivos e cuja distribuição no território é muito menos
uniforme. Já o campus universitário público, embora singular do ponto de vista de sua
presença no espaço intraurbano das cidades, é um fenômeno amplamente generalizado e
se faz presente em praticamente todas as cidades de médio e grande porte do país. O fato
de que os momentos de mais intensa expansão dos espaços universitários quase sempre
tenham coincidido com os períodos de mais intensa urbanização no país nos permite
considerar o campus universitário como um elemento constitutivo e estruturante do
processo de urbanização das cidades brasileiras, o que coloca a centralidade de se
investigar a articulação entre políticas educacionais para o ensino superior e o processo
de produção do espaço das cidades de grande e médio porte.

É fundamental destacar ainda a relevância política e a latência deste tema no seio do


debate público hoje na sociedade brasileira. O mesmo período temporal do recorte da
pesquisa ao longo de qual se produziu a crise do financiamento público do ensino superior
é marcado também pela ascensão de discursos e de governos autoritários e
antidemocráticos no país, inclusive com traços semelhantes às doutrinas do nazi-fascismo
europeu, do fundamentalismo religioso e do negacionismo científico. Um dos
componentes centrais deste discurso é a produção da já mencionada guerra cultural que
elege como alguns de seus alvos estratégicos justamente os pressupostos basilares da
produção do conhecimento científico, a legitimidade social da ciência e as instituições
ligadas ao conhecimento, especialmente as universidades.

22
Neste contexto, produzir reflexão crítica da universidade sobre si mesma e, no caso do
campo da arquitetura e do urbanismo, sobre seu espaço me parece um compromisso
acadêmico e intelectual inadiável e premente, não só para avançar na defesa da existência
da universidade pública, como sobretudo para reafirmar o papel da universidade como
locus privilegiado da produção do saber científico comprometido com as questões sociais
de seu tempo e com o seu próprio lugar no mundo.

5. METODOLOGIA

Em razão da escassez de produções científicas do campo do urbanismo que abordem a


temática em tela e da atualidade do fenômeno pesquisado, este estudo assume um caráter
predominantemente exploratório, considerando se tratar praticamente da abertura de uma
nova frente de investigação ainda pouco estudada no campo do urbanismo, que se coloca
justamente a partir do surgimento de novas determinantes nos últimos anos.

Portanto, o que denominamos de fase exploratória da pesquisa (MINAYO, 2002) deverá


se estender pelo menos ao longo dos dois primeiros anos de trabalho, de modo que os
primeiros resultados desta fase sejam submetidos para avaliação no Exame de
Qualificação. Neste ponto, deverá estar melhor definido o quadro teórico adotado
apresentando a redação preliminar do desenvolvimento teórico do problema. Também
deverá ser apresentada nesta etapa uma delimitação mais precisa e detalhada do objeto e
dos objetivos da pesquisa, de modo a reduzir a amplitude inicial demasiada, própria de
um estudo dessa natureza. Serão também melhor detalhadas as metodologias de coleta e
análise dos dados que devem orientar o trabalho na fase seguinte da pesquisa. Para isso,
essa fase exploratória será desenvolvida com a adoção dos procedimentos metodológicos
discriminados a seguir:

5.1. Revisão bibliográfica do tema

A fase exploratória terá como ponto de partida uma ampla revisão da bibliografia
relacionada à problemática da pesquisa. Essa revisão deverá se dar em duas frentes. De
um lado um estudo crítico, sistemático e pormenorizado das obras dos principais autores
que compõe o referencial teórico adotado, sobretudo nas questões que envolvem os
processos de acumulação por meio de expropriações e espoliações, especialmente
consideradas as dimensões espaciais desses processos (MARX, 2013; 2017; LENIN,
2012; LUXEMBURGO, 1970; HARVEY, 2004; 2005; 2013; KOWARICK, 1979;

23
FONTES, 2013; ROLNIK, 2019a; 2019b; GONÇALVES; COSTA, 2020), a
caracterização da doutrina neoliberal e do papel das expropriações nesse contexto dos
novos cercamentos contemporâneos (DARDOT; LAVAL, 2016; FOUCAULT, 2008;
FEDERICI, 2017; 2021; BENSAÏD, 2017), as questões ligadas à corrosão do caráter
público do espaço urbano na atualidade (ARENDT, 2001; HABERMAS, 1984;
SENNETT, 1989; ARANTES, 2015; CALDEIRA, 2000; RIBEIRO, 2009; 2017; 2018),
e os autores do campo ampliado da educação que tratam da constituição sócio-histórica
da universidade pública brasileira (FERNANDES, 2020; CHAUÍ, 2001; LEHER, 2019;
2021; GIOLO; LEHER; SGUISSARDI, 2020).

De outro lado, deverá também ser empreendida uma extensiva revisão bibliográfica da
produção acadêmica recente sobre o problema da privatização dos espaços universitários
públicos, de modo a compor um estado da arte. Como dito anteriormente, o mapeamento
preliminar que fundamenta este projeto de pesquisa indica uma escassez de trabalhos que
tratem da questão. No entanto, é fundamental um aprofundamento deste mapeamento,
especialmente em função da crescente relevância do tema, sendo essencial identificar
possíveis estudos simultâneos, visando estabelecer diálogos, interlocuções e colaborações
com outros pesquisadores.

5.2. Estudo de casos

Em que pese se tratar de um fenômeno de abrangência nacional, considero fundamental


que parte da pesquisa se concentre na análise mais aprofundada de pelo menos um caso
concreto, permitindo especializar o problema e buscar compreender os possíveis impactos
das políticas de privatização e expropriação do espaço universitário sobre um
determinado contexto urbano concreto. Nesse sentido, adoto inicialmente como casos de
estudo as duas universidades federais sediadas na cidade do Rio de Janeiro: UFRJ e
UNIRIO. A primeira se justifica por ser justamente um dos casos mais significativos,
pelas razões já mencionadas anteriormente. A segunda, embora de menor porte, se
concentra na mesma área estando também submetida às mesmas pressões da dinâmica
imobiliária da metrópole fluminense. Além disso, é importante considerar a facilidade de
acesso aos dados por parte do pesquisador, especialmente no caso da UNIRIO, onde atuo
profissionalmente.

Nesta fase exploratória inicial deverá ser feita a coleta e análise preliminar dos dados mais
relevantes de modo a compor um inventário geral sobre os casos em estudo. Esse

24
inventário deverá conter um breve histórico das instituições e uma caracterização do
conjunto de seu patrimônio imobiliário e do contexto urbano em que estão inseridas.
Também deverá ser apresentada uma análise preliminar dos projetos de privatização do
espaço universitário, com especial enfoque, em princípio, para o projeto Viva UFRJ e o
caso do Campus da Praia Vermelha.

A análise dos casos será feita com base em dados tanto quantitativos como qualitativos.
As fontes utilizadas para coletas de dados incluem as bases sobre dados imobiliários das
IFES do Ministério da Educação (MEC) e da Secretaria de Patrimônio da União (SPU),
além de informações a serem solicitadas junto as próprias administrações das duas
universidades, especialmente as divisões de patrimônio e outros setores técnicos
análogos, bem como dados produzidos por comissões e grupos de trabalho relacionados
ao tema, como a Comissão Viva UFRJ. Já os dados qualitativos incluem aqueles coletados
através do acompanhamento dos fóruns públicos de debate dentro e fora das
universidades, como também os obtidos através de realização de entrevistas com
gestores, técnicos e demais pessoas envolvidas na formulação, execução e operação das
políticas públicas e dos projetos analisados.

5.3. Acompanhamento sistemático do tema em fóruns públicos

Por se tratar do estudo de um fenômeno absolutamente dinâmico e em pleno curso, creio


ser fundamental um acompanhamento permanente e sistemático das repercussões do tema
nos veículos de comunicação e, em especial, nos fóruns institucionais definidores das
políticas públicas e projetos de lei que se relacionam com o tema. O próprio projeto
Future-se, que apontamos aqui como grande síntese dos processos em tela, encontra-se
atualmente em discussão no Congresso Nacional, podendo ainda sofrer inúmeros
desdobramentos que deverão ser acompanhados, registrados e analisados ao longo da
pesquisa. Também devem ser acompanhadas as discussões sobre patrimônio imobiliário,
gestão e autofinanciamento nas instâncias deliberativas (conselhos superiores e
colegiados) das duas universidades tomadas inicialmente como casos de estudo (UFRJ e
UNIRIO).

5.4. Mapeamento de outros casos

Paralelamente aos estudos de caso, pretendo monitorar e mapear, dentro dos limites
possíveis para esta pesquisa, o surgimento de outros possíveis projetos locais nas
universidades públicas do país, nos mesmos moldes do Viva UFRJ como consequência

25
de eventuais desdobramentos do Future-se. Entretanto, este mapeamento consiste em um
objetivo secundário da pesquisa, podendo ser interrompido em função da priorização dos
objetivos principais no decorrer do estudo.

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