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O COLÉGIO ESTADUAL VALMIR PEÇANHA - BAIRRO VILA ISABEL –

TRÊS RIOS – RJ
ALGUMAS PREMISSAS DO CURSO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO (UFRRJ)
COMO PROPOSTA PARA O ENFRENTAMENTO DE PROBLEMAS E
PRÁTICAS COLETIVAS

Introdução

A singularidade do momento atual e do presente artigo reflete o impulso


principal no Texto de Fábio Risério, postado no dia 19 de março de 2009, no
blog do Programa de voluntariado, replicado na Dissertação de Mestrado da
Universidade Federal Fluminense, 2009, pagina 35, intitulada: Três Rios – RJ -
O Mito da Esquina do Brasil e a Crise dos Anos 80:

“Paulo Freire é o grande inspirador deste mutirão. Homens


e mulheres que se juntam no dia-a-dia e na história para
construir outra realidade. Para fazer o inédito viável. No
dia 03 de maio de 2007 foi inaugurada, dentro do campus
da Universidade Católica de Brasília, uma esquina, com
placa e tudo, chamada Inédito Viável, em homenagem a
Paulo Freire. Para que as pessoas dali pudessem sentar-
se nos banquinhos na esquina e pensar o futuro. Porque a
noção de esquina é muito forte para nós. Paulo Freire
usava muito essa expressão da esquina, ele gostava
muito de falar da esquina da briga. Aliás, ele dizia que há
uma briga na vida que vale a pena ser brigada: a briga
pela dignidade coletiva. E dizia ele: “Cada um de nós briga
numa esquina”. Lembra daquela história da briga da
esquina? “Te pego lá na esquina, te espero na esquina”?
Ele dizia cada um de nós briga numa esquina. Você briga
na esquina da escola pública, o outro briga no núcleo de
trabalhos comunitários, o outro briga na universidade, a
outra briga na escola privada, o outro briga na ONG, o
outro briga num teatro. Paulo Freire dizia: “Na vida, você
pode até mudar de esquina, o que você não pode mudar é
de briga”. E essa briga é, evidentemente, a briga pela
dignidade coletiva.” (Ribeiro, 2009, pagina 35)

Toda ação educativa e tudo que envolve as questões educacionais


impulsionam sentimentos e afetos, reflexões e práticas, erros e acertos em
todas as dimensões da vida cotidiana é considerada por muitos uma missão,
um chamamento, uma necessidade inevitável de engajamento de defesa por
uma vida mais digna e cidadã. Dentro do censo comum é uma dimensão
fundamental na vida de todos os seres humanos, porém, no contexto
histórico /espacial, da vivência e da concretude é permeada de problemas e
dificuldades.

Os problemas sócio/econômicos vivenciados nas últimas décadas no


Brasil e no mundo tiveram muitos impactos na vida de Professores, alunos e de
toda a população brasileira, de modo especial o contínuo processo de
desmonte intencional das políticas públicas, principalmente aquelas de
precarização das populações mais vulneráveis. A constante desvalorização do
Magistério e da Educação ampliam as pressões sofridas nos ambientes
escolares e trazem à tona a necessidade de reflexões, debates e possíveis
soluções para a luta coletiva para as populações menos assistidas de políticas
públicas. O Estado do Rio de Janeiro, tem uma realidade ainda mais peculiar,
já que as políticas públicas estaduais tiveram como diretriz associar
investimentos na Educação como custos e prejuízos e uma tentativa constante
de fechamento de escolas, redução do número de turmas, desmonte de
políticas de Estado, a não realização de novos concursos, congelamento dos
cargos, salários e planos de carreira e como consequência a delicada situação
de atuação e sobrevivência de professores, funcionários e demais profissionais
envolvidos.

Durante o Governo Federal de 2019 à 2022, a Educação Pública foi


duramente atacada, assim como a ciência, órgãos de controle estatal,
servidores públicos, alguns setores da imprensa, cultura, universidades, etc.,
onde professores foram tratados como doutrinadores, traidores da Pátria, etc.
(....). Uma onda de informação, peças publicitárias e meias verdades,
associadas a velocidade fluida das redes sociais, gerou um turbilhão de
desinformação, pós verdade e “fakenews”, intensificou os problemas comuns e
graves no cotidiano escolar. As inúmeras teorias sobre a “Educação em Casa”,
os debates de costumes, associados ao obscurantismo dos séculos anteriores,
ressaltou o medo de grande parte da população de assuntos superados no
pós-Guerra Fria como comunismo contra capitalismo, terraplanismo, anti
vacinas, racismo, homofobia e fundamentalismo religioso tiveram como alvo a
minimização do valor da educação escolar, as metodologias exitosas de
conceituados teóricos como Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Celso Furtado, dentre
outros.

O sofrido período da Pandemia de Covid 19 agravou os problemas


dentro e fora das Escolas, assim como a necessidade mais que urgente de
investimentos e vivências de assistência, apoio e valorização do magistério e
Servidores Públicos, acolhimento e escuta de alunos de todos os seguimentos
e idades, colocando a Educação como importante aspecto sócio/cultural na
formação de uma vida digna e cidadã.

Algumas dinâmicas sócio/espaciais observadas na cidade de Três Rios,


no Estado do Rio de Janeiro, de forma mais especifica no Bairro Vila Isabel, no
Colégio Estadual Valmir Peçanha trazem para a discussão principal nesse
artigo: apresentar os dados coletados para o trabalho produzido, intitulado
Colégio Estadual Doutor Valmir Peçanha – Continua em Atividade e
Afetividade, produzido no final de 2021, para a conclusão do Curso de
Educação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), de
Escolas do Campo, sobre a importância da Educação Popular e das Escolas
Rurais, que retrata como a falta de investimentos públicos na educação são
comuns e interferem na vida cotidiana dos moradores de todo o município,
onde é a possível realidade recorrente de muitos brasileiros de áreas urbanas e
rurais.

Outras informações contribuem para a compreensão sobre o assunto do


presente artigo:
- A importância de conhecimento das realidades locais, e reconhecimentos das
potencialidades presentes em qualquer comunidade escolar. No caso do Bairro
Vila Isabel sendo o local de origem de uma intensa história de população de
ex-escravizados que sofreram a recorrente tentativa de apagamento das
identidades locais e acesso à terra. A História de Três Rios foi fortemente
impactada com os trabalhos produzidos pela Pesquisadora e Doutora Isabela
Torres de Castro Innocencio, que comprovou a partir dos estudos e pesquisas
do testamento da Condessa do Rio Novo, que aconteceu uma doação de terras
para a população de escravizadados libertos, e que essa conquista foi
temporária, pela falta de regularização fundiária e a posse definitiva. Esse
marco teórico, transformado no Livro intitulado: Memória de Afrodescendentes
no Vale do Paraíba: de colônia agrícola Nossa Senhora da Piedade a bairro
Vila Isabel - Lugar de Memória, história e esquecimento em Três Rios, 1882 –
1951.

- Algumas possibilidades de gestão escolar que tenha como premissa a ação


dialógica, colaborativa e democrática, dentro da perspectiva das Escolas do
Campo.

- Explicitar como as Políticas Públicas de Governos e não de Estado,


geralmente impostas de cima para baixo, sem a participação de toda a
comunidade envolvida, provocam dinâmicas conjunturais associadas aos
problemas estruturantes.

- Como a falta de manutenção dos prédios escolares, especulação imobiliária e


valorização territorial de áreas urbanizadas causam problemas e pressões para
as populações menos favorecidas

- Levantamento de algumas ruralidades presentes no Bairro de Vila Isabel,


como por exemplo, a Feira Livre do Bairro Vila Isabel em Três Rios – RJ.

- Propostas possíveis para o Colégio Estadual Valmir Peçanha e outras


Escolas do Bairro Vila Isabel e todo o município trirriense.
Materiais e Métodos:

O presente artigo foi produzido à partir de inquietações e reflexões sobre


a importância de uma educação pública, dialógica, com a urgente e
fundamental necessidade de valorização do Magistério, elaborado de forma
qualitativa e quantitativamente na análise dos dados e seguindo alguns
modelos de revisões:

- Revisão Narrativa: pela facilidade e liberdade para dialogar com assuntos


elaborados anteriormente para o Curso de Educação do Campo, proposto pela
Secretaria Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) em parceria com
a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), no Segundo
Semestre do Ano de 2018, que seria iniciado no Primeiro Semestre de 2019,
onde o Calendário teve que ser revisto em virtude da Pandemia de Covid 19,
transferido para segundo semestre de 2021, realizado de forma remota. Outro
motivo adotado nessa revisão narrativa tem como motivo a utilização de
assuntos abordados no curso de 180 h, como requisito para a obtenção de
certificado, que teve como produto a elaboração de um livro sobre a Escola,
neste caso o Colégio Estadual Valmir Peçanha e o fechamento com
apresentação coletiva dos livros e trabalhos produzidos durante todo o Curso.

- Revisão Integrativa: Tendo como premissa a importância de divulgação da


ideia e a necessidade de retomada de debates, defesas e
implementação/retomada da Educação Popular, assim como ressaltar a
importância de uma Educação Pública, que seja, Civil, Inclusiva, Laica,
Democrática, Diversa e Cidadã.

A metodologia da pesquisa utilizada para a elaboração do Livro


intitulado: “Colégio Estadual Doutor Valmir Peçanha – Continua em atividade e
afetividade” seguiu à partir das informações e pesquisas do corpo docente da
UFRRJ, do Curso de Educação que tinha como objetivo principal a divulgação
da importância das Escolas do Campo, e a fundamental viabilidade de uma
Educação Pública Popular.

O Curso seguiu em duas etapas:

A primeira com a divulgação dos dados históricos sobre a importância da


Educação popular, dos principais conceitos, metodologias utilizadas,
dificuldades enfrentadas e experiências positivas e possíveis nas Escolas
Rurais no Estado do Rio de Janeiro e em todo o território brasileiro, com a
colaboração e a participação de diversos professores nas aulas que
aconteciam aos sábados de 9 às 12 h. Os conteúdos abordados seguiram o
seguinte cronograma, entre os meses de junho a dezembro de 2021, com a
seguinte concepção e conceitos: Apresentação do percurso formativo do
Escola da Terra, perspectivas e desafios, Introdução à educação do campo,
Trajetória do Movimento Nacional "Por uma Educação do Campo", Marcos
Normativos da Educação do Campo: Resoluções, Portarias e Políticas públicas
de Educação do Campo: PRONERA, PROCAMPO e PRONACAMPO, Histórico
da Pedagogia da Alternância no Brasil Instrumentos da Pedagogia da
Alternância, Limites e possibilidades Educação e Cultura Popular, Encontros
com a Área de Ciências Humanas e Sociais, Os desafios da Educação Popular
e a Educação do Campo no Brasil, Experiências de Educação do Campo nas
Universidades e Licenciaturas em Educação do Campo, Paulo Freire e o
estudo da realidade nas práticas pedagógicas da educação do campo,
Encontros com a Área de Linguagens, Experiências do Programa Escola da
Terra no Estado de Tocantins, Interfaces entre Educação do Campo,
Agroecologia e Cultura Popular, Escola da Terra: breve histórico de sua
trajetória nacional, Apresentação e socialização das experiências
desenvolvidas ao longo da formação nos municípios, Confecção dos livros
Encontros com a Área de Agroecologia. Encontros com a Área de Matemática,
conforme é possível a comprovação no Certificado:

file:///C:/Users/Jonas/Downloads/ROSANGELA%20RIBEIRO.pdf

A Segunda etapa tinha como objetivo a produção dos Livros sobre as


Escolas do Campo e as Escolas Urbanas contempladas, a partir dos
professores inscritos e selecionados pelo Edital do Curso de Educação do
Campo, onde na cidade de Três Rios, foram duas professoras, Rita de Cássia
Elmor, do Colégio Estadual Condessa do Rio Novo e Rosângela de Fátima
Campos Ribeiro (Eu), do Colégio Estadual Doutor Valmir Peçanha. O modelo
proposto foi chamado de “Fio de Luz”, onde deveria conter:

- Informações gerais da Escola: (endereço, telefone, Email, dados sobre corpo


docente, discente e funcionários) mapeamento através de um croqui (desenho,
localização geográfica, reconhecimento das identidades locais (município e
localidade, principais aspectos históricos e trabalhos desenvolvidos na Escola e
Comunidade Escolar e propostas de ação.

Para a produção, revisão e trabalho final do livros foram feitos vários


encontros com o Tutor Eduardo Spitz e dois dias para as apresentações das
Escolas e dos Livros.

O material apresentado no Livro sobre o Colégio Estadual Valmir


Peçanha, foi feito a partir de um trabalho colaborativo com Professores,
funcionários e direção com informações coletadas através de um link do
Google formulários, com depoimentos de alunos, professores e funcionários, já
que em virtude da Pandemia de Covid 19, por razões de saúde e
recomendações sanitárias e coletivas, o afastamento era amplamente
recomendado, dificultando o trabalho de campo e outras informações coletadas
no Projeto Político Pedagógico (PPP) do próprio Colégio, e nos arquivos da
própria Instituição escolar
Resultados e Discussão

As informações disponibilizadas no Livro é um breve resumo que deveria


conter a princípio até 10 páginas e que após diálogos, foi estendido e finalizado
em 18, para a compilação final pela UFRRJ. É o resultado de um trabalho
colaborativo, através de uma pesquisa feita pelo Google Formulário, aplicado
entre os meses de agosto e setembro de 2021 em alguns alunos, professores,
funcionários, equipe diretiva (atuais e aposentados) com as seguintes
porcentagens: Professores e funcionários 58% das respostas; 33,3% de
alunos; 4,2% de diretores e 4,2% pais e responsáveis, no total de 50 respostas.
A escolha desse formato foi decorrente à pandemia de Covid 19 e a
necessidade de distanciamento espacial e das exigências sanitárias, e também
da não localização de documentos históricos do Colégio. É possível ver em
anexo o livro acessando o hiperlink a seguir:

file:///C:/Users/Jonas/Documents/Livro%20Valmir%20-%20Final%20(2).pdf

Diante da necessidade de redução de páginas, os assuntos foram


tratados de forma sintética e com superficialidade em alguns assuntos densos
e necessários.

No subtítulo sobre o reconhecimento das realidades: Municipal e local


foram incluídas informações gerais como: localização geográfica aspectos
sócio/ econômicos e históricos sobre o município e Bairro Vila Isabel, tendo
como fontes bibliográficas os dados do IBGE, a Prefeitura Municipal de Três
Rios, e outros informações das referências bibliográficas.
A história do Município de Três Rios, no Estado do Rio de Janeiro, já
nasce secularizada em 1938, em virtude do desmembramento territorial e
político do município de Paraíba do Sul, tendo como um desenrolar de lutas e
tentativa de apagamento das identidades, do acesso e a posse à terra, por
parte dos reais donos, verdadeiros herdeiros, populações pretas de
escravizados libertos, informações resgatadas através do trabalho de
Innocencio, 2015, foram propositalmente esquecidas por políticos e dirigentes
locais, assim como a Irmandade ou Casa de Caridade de Paraíba do Sul que
foi fundada para administrar os bens do espolio da Condessa do Rio Novo e a
Colônia Agrícola de Nossa Senhora da Piedade que deu origem ao Bairro
Colônia, “branqueado” e transformado em Bairro de Vila Isabel.

“O posicionamento de políticos em Três Rios, após sua


emancipação em 1938 da Cidade de Paraíba do Sul, era
de negar o poderio da irmandade de Nossa Senhora da
Piedade, que influenciava a organização territorial da
cidade, refletindo na sua administração e na sua
economia.

A memória e a história dos descendentes dos libertos no


Bairro colônia sofreu mais um golpe ocasionando o seu
esquecimento, a sua negação quando em 1951, o seu
nome foi trocado para Vila Isabel. (....)

Esse passado permaneceu obscurecido, mas as


memórias imersas nos documentos, nos periódicos, e nas
lembranças de alguns afrodescendentes e moradores
mais antigos da Vila Isabel foram trabalhadas no sentido
de vencer o “esquecimento” e o “silêncio”, como também
de registrar essa trajetória na tentativa de construir um
processo visando à transformação.

Essa transformação à qual estamos nos referindo,


consiste na forma como os afrodescendentes veem o seu
passado. Percebe-se que muitos preferem continuar em
silêncio.” (Innocencio, 2015, páginas 274, 275)
Dessa forma é possível perceber que a tentativa de apagamento
intencional das identidades de matrizes africanas e dos descendentes das
populações locais como forma de desviar recursos e investimentos públicos
para outras áreas de centralidade financeira e econômica e alguns poucos
elementos surgem como testemunho da história onde é possível detectar os
resquícios espaciais das populações pretas de afrodescendentes, dentre os
quais estão a Estátua da Mãe preta, e o Campo do Colônia no Morro São
Carlos.

Na parte do livro destinada para explicitar as propostas educacionais


elaboradas para o curso de Escola da Terra e a importância da Educação
Popular, os professores e Tutores do Curso de Escola do Campo da UFRRJ,
elaboraram os seguintes princípios e conceitos:

“Podemos formular cinco princípios básicos que mostram


o papel da escola e a sua transformação. A primeira
transformação da escola refere-se especificamente a 3
compromissos que a educação do campo deve assumir;

- O compromisso ético/moral com a pessoa humana;

- O compromisso com a intervenção social que irá


vincular os projetos de desenvolvimento regional e
nacional.

- E o compromisso com a cultura no seu resgate, na sua


conservação e sua recriação, tendo como eixo a
educação dos valores baseada na educação para
autonomia cultural e na educação pela memória histórica.

A segunda transformação do papel escola diz respeito à


gestão da escola com o espaço público e comunitário; ou
seja, a democratização do espaço escola.

A terceira transformação refere-se à pedagogia escolar


onde a educação popular insere-se no cotidiano escolar e
no processo ensino-aprendizagem.
A quarta transformação refere-se aos currículos escolares
que devem adequar-se à realidade que cerca o aluno.

A quinta transformação do papel da escola vêm mostrar a


transformação dos educadores das escolas do campo.

Diante da profundidade de compromissos, conceitos e a enumeração de


propostas possíveis e viáveis para o papel da educação como fonte de
transformação da vida social o presente artigo mostra como algumas posições
da Escola do Campo deviam ser amplamente divulgadas em todos os
ambientes escolares, cursos de formação docente, licenciaturas e atrelados às
experiências tanto no campo como possíveis de serem aplicadas também em
escolas das áreas urbanas.

As dinâmicas espaciais são intrínsecas e indissociáveis em vários


aspectos da vida cotidiana, principalmente quando nos referimos as constantes
relações entre campo e cidade, e essas dinâmicas são percebidas em quase
todos os países do mundo, a ruralidade é muito marcante no espaço geográfico
do Bairro Vila Isabel, onde é comum encontrar elementos geográficos do
campo em várias dimensões: econômica, Social, Cultural, etc., mesmo sendo
considerado pelo IBGE como área urbana no município trirriense, no bairro é
possível encontrar, quintais grandes, algumas pequenas hortas, criação de
animais como cavalo, galinhas, etc.

Outro aspecto relevante para a ruralidade presente na Vila Isabel é a


Feira Livre do Bairro que tem mais de 50 feirantes cadastrados, segundo a
Prefeitura Municipal de Três Rios e que movimenta importantes recursos
financeiros tanto ao circuito superior e formal, e principalmente nos circuitos
inferiores da economia local, que é a fonte de sobrevivência principal para uma
grande parcela da população local e de produtores rurais. É a maior Feira Livre
da cidade e funciona aos domingos, na parte da manhã, onde circulam além de
produtos, mercadorias, pessoas, recursos financeiros, além de valores culturais
e simbólicos do campo.
A Vila Isabel é o maior bairro do município, e o maior colégio eleitoral do
município, sua história deve ser valorizada como forma de resgate para uma
identidade e pertencimento, espaço este onde está inserido o Colégio Estadual
Doutor Valmir Peçanha, que é o maior em espaço físico do Bairro, porém
apresenta um declínio constante no número de alunos, em virtude de vários
problemas enfrentados, desde a década de 90, entre os quais é possível
destacar:

- Disputas políticas e tentativa de municipalização de Unidades Estaduais,


onde os acordos acontecem sem uma consulta e participação da comunidade
envolvida.

- Gestão inadequada dos recursos e políticas públicas estaduais de educação,


que a cada Governo implementa ações desconectas e inviáveis, reduzindo
verbas, fechando escolas, turmas, etc. Diminuição da demanda de professores,
funcionários, que são obrigados a sair para outras unidades escolares, ou
mesmo a não contratação de pessoal adequado para atender o funcionamento
mínimo. O não pagamento dos valores e salários dignos, assim como a não
reposição de perdas salariais, o congelamento de salários, cargos e planos de
carreira do magistério.

- Redução dos gastos com a manutenção do prédio, das instalações elétricas,


da rede de água, e o aparecimento de infiltrações e depredações. Aquisição de
equipamentos muitas vezes desnecessários e superfaturados, como por
exemplo: tablets, roteadores, etc.

É notório a extrema sensação de cansaço, tristeza, e desilusão por parte


de grande parcela de professores e profissionais da educação, é muito comum
encontrar educadores com problemas psicológicos como depressão, crises de
pânico e ansiedade, e outras doenças e comorbidades, onde de forma geral
não se vê uma real solução para curto e médio prazos.
Considerações finais:

O artigo apresentou algumas informações à partir de algumas demandas


educacionais, que demostram a grande dificuldade enfrentada por inúmeros
professores, onde a intenção é buscar um engajamento, sem preconceitos,
pré-julgamentos, com apontamentos para os erros do Estado, representados
nesse por inúmeros gestores públicos irresponsáveis. É também um convite
para uma busca de soluções coletivas para um problema sério, onde todos e
todas estão enfrentando os seus medos, inseguranças, fragilidades,
particularidades, mas somente uma luta coletiva é possível para o nosso
“Inédito Viável”.

A sociedade em que vivemos nos arremessa de forma brutal e


desumana para a competição e individualismo, a disputa por aquisição de bens
materiais é uma realidade constante entre as pessoas. Infelizmente as
instituições escolares, assim como diversas políticas públicas educacionais nos
direcionam para essa dimensão de histeria coletiva de contraposição aos
valores de acolhimento às diferenças, à diversidade.

Sabemos que neste ponto os educadores das escolas do campo e da


cidade são vítimas de um sistema educacional que desvaloriza à docência e os
coloca num círculo vicioso e perverso, gerando uma consequência
problemática; como vítimas os educadores constroem novas vítimas; os
educandos das escolas rurais e urbanas.

A solução será a adoção de práticas pedagógicas educação do campo e


da cidade, com forte propensão ao resgate de valores culturais de uma
educação popular comunitária pautada na dimensão coletiva.

Propostas Possíveis “nada inéditas” Porém viáveis:

- Fazer diagnósticos sócio/econômicos dos alunos para melhor atender e suprir


as demandas do público atendido;

- Fazer trabalhos formativos com professores e funcionários para que todos


tenham uma mesma linguagem e ação em relação ao respeito aos alunos,
funcionários, etc.;

- Planejamentos pedagógicos e escutas também de professores e funcionários;

- Evitar ao máximo a educação “bancária”, onde o aluno é encarado apenas


como um depósito de informações descontextualizadas;

- Valorização do meio ambiente, da proximidade com a natureza e das


ruralidades que fortalecem as diferentes culturas populares;

- Olhar respeitoso e uma relação mais horizontal, de escuta e acolhimento;

- Uma educação libertária que não provoca o distanciamento da população de


sua cultura e no desenvolvimento das individualidades;

- Dar protagonismo também aos alunos com pesquisas, seminários; eventos


culturais, etc.
- Fortalecimento do Grêmio Estudantil;

- Construir uma História através da oralidade e do trabalho coletivo;

- Responsabilidade com a sistematização e escrita, projetos que auxiliam na


construção das identidades individuais e coletivas;

- Laboratório de escuta compartilhada com buscas, assembleias e valorização


dos mais velhos, do Colégio, dos relatos e da comunidade em questão;

- Relacionar a História oficial com as Histórias contadas;

- Montagem de painéis informativos;

- Proporcionar eventos e espaços de acolhimento e diálogo com familiares dos


alunos e comunidade, para momentos culturais mais informais que possibilitem
conhecimentos mais espontâneos;

- Inspirar, incentivar um olhar carinhoso para com alunos, colegas, familiares,


comunidade e histórias individuais e coletivas como importantes;

- Montar parcerias locais e formar um núcleo de amigos do Colégio Estadual


Valmir Peçanha;

- Aprender e ensinar e fazer uma práxis onde se tenha um respeito pela


comunidade;

- Acolhimento comprometido com a diversidade e pluralidade cultural, social e


econômica.
Referências bibliográficas.

COUTINHO, Aquilas R. Como Nasceu Três Rios, Três Rios: do Autor, 1976

GUIMARÂES. Irene L. Três Rios – A Esquina do Brasil, Três Rios: do Autor,


1988

INNOCENCIO, Isabela Torres de Castro: “Memória de afrodescendentes no


Vale do Paraíba: de colônia agrícola Nossa Senhora da Piedade a bairro de
Vila Isabel. Lugar de memória, história e esquecimento em Três Rios, 1882-
1951”, 2015 Tese de Doutorado (História e Memória Social), Curso de História.
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JORGE, Cinara. Pioneiros de Três Rios – A condessa do Rio Novo, Três Rios:
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RIBEIRO, Rosângela de F. C. Três Rios – A Crise dos anos 80 e o Mito da


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SÁ, A. Ribeiro de. Três Rios (Entre-rios) – RJ. e sua origem, Três Rios: Editora
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Outras fontes:

Sites do IBGE, Prefeitura Municipal de Três Rios

https://doity.com.br/blog/artigo-cientifico/#:~:text=Todo%20artigo%20cient
%C3%ADfico%20precisa%20atender,aten%C3%A7%C3%A3o%20para%20o
%20tema%20escolhido. Consulta feita no dia 15/08/2023

Anexos:

Livro Sobre o Colégio Estadual Doutor Valmir Peçanha

file:///C:/Users/Jonas/Documents/Livro%20Valmir%20-%20Final%20(2).pdf

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