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Departamento Nacional
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ISSN 1809-9815
Sinais Sociais | Rio de Janeiro | v.8 n. 22 | p.1-152 | maio-ago. 2013
Sesc | Serviço Social do Comércio
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As opiniões expressas nesta revista são de inteira Sinais Sociais / Sesc, Departamento Nacional - Vol. 1, n. 1 (maio/
responsabilidade dos autores. ago. 2006)- . – Rio de Janeiro : Sesc, Departamento
Nacional, 2006 - .
As edições podem ser acessadas eletronicamente em v.; 30 cm.
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ISSN 1809-9815
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SUMÁRIO
Apresentação 5
Editorial 6
Organização
Myriam Moraes Lins de Barros 9
Feminismo e velhice
Guita Grin Debert 15
Assim como ao Sesc cabe atuar sobre a realidade social, cabe valorizar e
difundir o entendimento acerca dessa realidade, dos conceitos e ques-
tões fundamentais para o país e das políticas públicas e formas diversas
de promover o bem-estar coletivo.
Com a revista Sinais Sociais, colaboramos para que esses verbos sejam
conjugados em favor de uma sociedade que traduza de forma mais
idedigna a expressiva riqueza cultural e o potencial realizador de seus
cidadãos.
Organização:
Myriam Moraes Lins de Barros
9
Myriam Moraes Lins de Barros
Doutora em Antropologia Social e professora titular da
Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). Velhice, relações intergeracionais,
juventude e família são os temas centrais de suas pesquisas
e publicações. Além de artigos em revistas e capítulos de
livros, publicou Autoridade e afeto e as coletâneas Velhice ou
terceira idade? e Família e gerações. Participa da comissão
editorial da revista Praia Vermelha: Estudos de Política e
Teoria Social e coordena, com Clarice Peixoto e Maria Luiza
Heilborn, as séries Família, geração e cultura e Análises
sociais contemporâneas.
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Myriam Moraes Lins de Barros
Este dossiê apresenta três artigos que trazem aspectos fundamentais so-
bre a velhice na atualidade. O primeiro, “Feminismo e velhice”, de Guita
Grin Debert, trabalha na interseção dos temas da velhice e do feminismo.
Dialogando com autores nacionais e internacionais, Guita Grin Debert
retoma as grandes questões presentes em seus trabalhos sobre velhice e
15
Guita Grin Debert
Professora titular do Departamento de Antropologia do
Instituto de Filosoia e Ciências Humanas da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), membro do Conselho
Cientíico do Núcleo de Estudos de Gênero da Unicamp
(Pagu) e pesquisadora do CNPq. É autora do livro
A reinvenção da velhice (Editora da USP) e de vários artigos
sobre discurso político, velhice e envelhecimento e violência
contra a mulher.
16
Feminismo e velhice
Resumo
O argumento central deste artigo é que não se pode explicar
o desinteresse das feministas pela velhice apenas como uma
consequência do medo de envelhecer, pela repulsa ao corpo
envelhecido, própria do sexismo, ou pela gloriicação da juven-
tude que caracteriza a sociedade de consumo. O interesse aqui
é mostrar que as imagens do envelhecimento bem-sucedido
presentes no senso comum e na gerontologia, assim como a
associação convencionalmente feita entre o avanço da idade
e a sabedoria, criam barreiras difíceis de serem transpostas
para que a velhice possa entrar no rol das questões centrais do
pensamento feminista.
Abstract
The central argument of this article is that the lack of interest given
to ageing and old age by feminists cannot be explained only as a
consequence of fear of aging, aversion to the ageing body, sexism, or
as a result of the gloriication of youth that characterizes consumer
society. The interest here is to show that the images of successful
aging present in common sense and in gerontology, as well as the
association conventionally made between ageing and wisdom, create
a gap that excludes old age from the range of main issues of feminist
thought.
Introdução
Por im, seguindo Kathleen Woodward (2003), propomos, como uma das
condições necessárias para quebrar a conspiração do silêncio do femi-
nismo em relação à velhice, uma moratória contra a sabedoria. O dever
de um envelhecimento bem-sucedido que tem sido imposto aos velhos
impede que a retórica da indignação ganhe o conteúdo emocional pró-
prio das críticas às formas de opressão.
Essa tensão acaba por levar a uma separação entre dois níveis da experiên-
cia: o sensual e o sentimental. Um prazer sensorial do sexo (dito sensu-
al) e um prazer afetivo sentimental (correspondente em nossa cultura à
ideologia do amor). É próprio desses estudos estabelecer uma correlação
entre o sensual e o masculino e entre o afetivo e o feminino. Essa cor-
relação tende a ser revista quando se pensa em sexualidade e velhice.
A inversão dos atributos de gênero ganha a seguinte expressão em um
artigo do psicanalista Kernberg (2001):
Contudo, uma nova face dessa etapa da vida emerge a partir dos estudos
mais recentes sobre o tema. Contra a visão de uma situação de perdas,
e de modo a combater os estereótipos negativos, os gerontólogos procu-
ram realçar os ganhos que o envelhecimento traz.
Diferentemente de suas mães e suas avós, elas já não têm que se ves-
tir de preto e icar em casa à espera da visita de ilhos e netos. Gozam
atualmente de uma liberdade inusitada para as velhas de antigamente
e também para as mulheres mais jovens. A participação nas atividades
dos programas para a terceira idade é uma oportunidade de envolvi-
mento em atividades motivadoras, ampliar seu grupo de amigos e seu
repertório de conhecimentos, explorar novas identidades e novos esti-
los de vida.
problema das famílias ou dos próprios velhos que não souberam cultivar
o carinho e a solidariedade familiar.
Nos programas dos partidos políticos, nas campanhas eleitorais, nas po-
líticas públicas e nas ofertas de bens de consumo e serviços, a presença
do idoso é cada vez mais marcante. Contudo, as imagens do envelheci-
mento ativo – das mulheres felizes e entusiasmadas com os programas
para a terceira idade – dão novos conteúdos e atualidade à conspiração
do silêncio, tornando invisíveis os dramas da velhice avançada.
O desinteresse das feministas pela velhice tem sido explicado pelo medo
de envelhecer e pela repulsa ao corpo envelhecido, próprio do sexismo
que marca as sociedades de consumo na sua gloriicação da juventude e
na destituição que se opera do poder dos velhos.
Notas
Referências
BARRON, M. L. The aging american. New York: Thomas & Crowell, 1961.
COHEN, L. Old age: cultural and critical perspectives. Annual Review of Anthropology,
Palo Alto, v. 23, p. 137-158, 1994.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: a história da violência nas prisões. 16. ed. Petrópolis:
Vozes, 1977.
KERNBERG, Otto F. Love relations in later years. In: STEINES, R.; JOHNS, J. (Org.).
Within time & beyond time: a festschrift for pearl king. London: Karnak Books, 2001.
p. 177-192.
MOTTA, A. Britto da. Palavras e convivência: idosos hoje. Estudos Feministas, Rio de
Janeiro, v. 5, n. 1, p. 129-135, 1997.
WOODWARD, K. Against wisdom: the social politics of anger and aging. Journal of
Aging Studies, n. 17, p. 55–67, 2003.
39
Carlos Eugênio Soares de Lemos
Doutor em Ciências Humanas (Sociologia) pelo Instituto
de Filosoia e Ciências Sociais da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ), professor adjunto da
Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenador
do Programa Universidade para Terceira Idade (Uniti), do
Polo Universitário de Campos dos Goytacazes (PUCG),
desenvolve trabalhos que relacionam temas como família,
gerações, memória, discurso e envelhecimento. Os artigos
“A sociologia da vida cotidiana e a universidade para a
terceira idade: uma experiência de campo de estágio para
o ensino de Ciências Sociais”, publicado no livro Dilemas e
perspectivas da sociologia na educação básica, e “Oicina
de educação, memória, esquecimento e jogos lúdicos para
a terceira idade”, na Revista Ciência em Extensão, são suas
publicações recentes.
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Entre o Estado, as famílias e o mercado
Resumo
Este artigo problematiza as relações entre a solidariedade pública e
privada, de modo a evidenciar que a precariedade das políticas de
assistência ao idoso dependente é minimizada pela centralidade da
ideia de ingratidão familiar, promovida pela criminalização do aban-
dono e da negligência presente no Estatuto do Idoso. A relação entre
as formas da lei e as práticas sociais está colocada em questão, pois,
partindo de um modelo idealizado de família, a legislação desconsidera
a pluralidade das conigurações existentes. Nesses termos, no âmbito
do Ministério Público Estadual, foram analisados doze processos que
tratavam de situações de abandono e negligência envolvendo os idosos
e os seus familiares. Dos casos pesquisados, foram escolhidos quatro
para uma análise qualitativa das soluções encontradas, respondendo
às demandas das famílias em situação de precariedade.
Abstract
This article discusses the relationship between public and private solidarity,
in order to highlight the precariousness of assistance policies to the dependent
elderly, which is minimized by the central idea of ingratitude from family,
caused by the criminalization of abandonment and negligence contained in the
Statute of the Elderly. On the other hand, the relationship between the law and
social practices is also questioned, since, from an idealized model of family, the
legislation ignores the plurality of current conigurations. Under these terms,
in the framework of the Public Prosecutor’s Ofice, twelve cases that dealt with
situations of neglect involving the elderly and their families were analyzed.
Among the cases studied, four were chosen for a qualitative analysis of the
solutions given to answer the demands of families in a precarious situation.
Introdução
Neste artigo, a família é abordada como uma relação que busca o funda-
mento de sua existência na lógica da reciprocidade e na narrativa que
produz sobre o seu próprio curso de vida (SARTI, 2004). Assim, a ideia de
“dar, receber e retribuir” está no horizonte “moral” que serve de referên-
cia para as falas dos entrevistados e para a análise dos relatos presen-
tes nos processos do Ministério Público Estadual (CAILLÉ, 2002). Porém, é
bom destacar que a perspectiva da reciprocidade não traz em si apenas
a ideia de equilíbrio, mas também comporta a dimensão conlituosa das
diferenças de poder relacionadas aos mais diversos papeis que o indi-
víduo assume na realidade social e, como não poderia deixar de ser, no
interior da família. Isso signiica dizer que as relações entre pais, ilhos,
irmãos podem ser muito tumultuadas ao longo do curso de vida.
Não há, neste artigo, a intenção de uma abordagem das matrizes expli-
cativas da construção desse “consenso” sobre a ideia de segurança da
família e de condenação da ingratidão. Esse termo é deinido aqui como
a falta de reconhecimento por uma graça, um bem recebido ou um esfor-
ço feito por alguém em favor de outros. A gratidão, por sua vez, pode ser
considerada um sentimento de singular importância para a estabilidade
da vida social, tendo em vista que:
1 Os caminhos percorridos
uma das mais abertas para parcerias e uma das mais interessadas na
análise de sua relação com os usuários em uma perspectiva temporal.
Ainal, cabe a ele adotar as medidas administrativas e judiciais na ten-
tativa de protegê-los, conforme prescreve a legislação, a exemplo do que
propõe o Estatuto do Idoso. Para tanto, empreende sindicâncias e faz uso
do inquérito civil e da requisição de inquérito policial (BOAS, 2005). As-
sim, várias outras instâncias, como asilos e hospitais, recorrem ao Minis-
tério Público Estadual quando se encontram diante de uma situação de
violência contra o idoso.
Enim, a investigação que deu origem a esse artigo contou com a autoriza-
ção do Ministério Público Estadual, o aceite de participação dos entrevis-
tados e teve a aprovação do Colegiado de Pesquisa do Polo Universitário
de Campos dos Goytacazes e pelo Colegiado da Universidade para a Ter-
ceira Idade, da Universidade Federal Fluminense, sendo autorizada pelo
protocolo 001-2011.5
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Sobrecarga financeira e de cuidado da idosa para quatro dos Não tinham como ajudar por terem a sua própria família, falta de
1
11 irmãos. tempo e dinheiro.
Ele, divorciado, pai de dois filhos, cumprindo dupla jornada de Desmentiram o irmão denunciante.
2 trabalho, Aceitavam cuidar do pai, mas não da tia com a qual não se
arcava com todas as despesas da casa. davam bem.
Os irmãos não apareciam para visitar a mãe e não ajudavam Não tinham como ajudar por terem a sua própria família, falta de
3
financeiramente. tempo e dinheiro.
A idosa tinha oito filhos e uma pensão. Apesar disso vivia uma Acusações mútuas e o argumento de que tinham a sua própria
4
vida de abandono e privação. família.
los cuidados com ele. Em três dos quatro processos, o encargo ica sob a
responsabilidade de uma pessoa apenas. Nota-se que é do conhecimento
de todos os outros que um irmão estava cuidando sozinho do pai/mãe/
tia. Antes da denúncia dos declarantes e da notiicação da promotoria,
conforme os autos dos processos, os irmãos acusados mostravam-se
“despreocupados” em relação às condições vivenciadas pelos pais, visto
que, há tempos, por razões diversas (trabalho, doença, viagem, entre ou-
tras) não faziam visitas aos mesmos.
A idosa se encontrava lúcida e as condições em que vivia eram razoáveis. Contudo, dormia na sala em um colchonete e no telhado
tinha casas de marimbondo. Por ter problemas de locomoção e cegueira, fazia suas necessidades em um balde colocado ao lado da
1
cama. Reclamava muito, pois queria voltar para casa e não queria ouvir reclamações dos filhos sobre o trabalho que ela dava. A filha
denunciante administrava a pensão.
A casa estava em péssimas condições de higiene, havia comida destampada, restos pela mesa e pelo chão, as paredes sem reboco
e um forte cheiro de urina que exalava por todo o recinto. O idoso, apesar de não poder se locomover, não era senil, pelo contrário,
2
mostrava-se bastante lúcido. A idosa aparentava ter comprometimento psiquiátrico, falava de maneira compulsiva e incoerente.
O filho denunciante administrava a pensão dos dois.
3 A casa foi encontrada em boas condições de higiene, a idosa bem cuidada e lúcida. O filho denunciante administrava a pensão dela.
A idosa foi encontrada sozinha, em péssimas condições de higiene e sem alimentos em casa. Estava doente e com fome, tendo
apenas uma garrafa de água na geladeira. Havia poucos móveis na casa e a suspeita de que a nora vinha vendendo-os para
4
benefício próprio. O imóvel era antigo, de cinco cômodos, telha de amianto, sem iluminação adequada e com parca ventilação.
A idosa dormia em uma cama de solteiro localizada na sala. Uma das filhas administrava a pensão da idosa.
3 Discussão
[...] temos observado que, à medida que o Estado restringe sua partici-
pação na “solução” de questões de determinados segmentos – como, por
exemplo, crianças, adolescentes, idosos, portadores de deiciências e pes-
soas com problemas crônicos de saúde – a família tem sido chamada a
preencher esta lacuna, sem receber dos poderes públicos a devida assis-
tência para tanto (GUEIROS, 2002, p. 102).
Semana passada, tinha dez ilhos, situação de abandono com dez ilhos.
Alguma coisa está errada aí. Nós izemos essa audiência. Normalmen-
te, eles argumentam uma diiculdade própria, outras vezes que não têm
dinheiro. Às vezes são as diiculdades de trabalho, ou estão sem tempo.
Só que a gente percebe que quando chegam a minha frente, não têm
muito o que dizer... Na verdade pedem desculpa. Então, esse mês já ize-
mos umas três ou quatro audiências, em todas saíram acordos. Ninguém
partiu para brigar. Eu procuro conduzir de uma maneira pra não deixar
espaço pra bate-boca. Entre os irmãos, se você der margem, não sai acor-
do nenhum.10
De modo geral, o ilho que mora com o idoso ou próximo a ele, solteiro
ou separado, e principalmente mulher, se encarrega de cuidar dos pais.
Em todos os casos, ainda que haja a participação masculina, são as ilhas
e noras que se desdobram nos cuidados dos idosos dependentes. Nesses
termos, há uma sobrecarga para as mulheres, tendo em vista que a dedi-
cação aos estudos, ao trabalho e à busca da realização proissional levou
a mulher para o espaço público, restando-lhe pouco tempo para uma
obrigação que antes era considerada atribuição exclusivamente sua.
O que se pode concluir da análise feita é que o idoso não é tão depen-
dente. Pelo contrário, com a crise econômica e o desemprego que têm
afetado sobremaneira a população adulta jovem, o seu papel tem sido
fundamental para o sustento das famílias, sem falar do apoio emocio-
nal que os dados aqui utilizados não permitem mensurar (CAMARANO;
GHAOURI, 1999, p. 304).
Nos casos vistos nos inquéritos, alguns ilhos se ressentiam de que suas
relações com a família tinham sido tumultuadas ao longo da vida, sendo
que, de acordo com suas opiniões, os pais manifestavam claramente a
preferência por certos ilhos. E aqui reside um ângulo aparentemente
contraditório da questão. Se, por um lado, a desavença entre os irmãos
atrapalhava o funcionamento da rede, por outro lado, também possi-
bilitava a denúncia e o controle das ações entre eles, o que acabava
revertendo em busca de proteção para o idoso, já que a situação ganha-
va visibilidade.
Olha só que coisa esquisita. Como é que você resolve no Direito o que a
gente chama de “a obrigação de fazer”? A gente entra com uma ação con-
tra o ilho, ixa uma multa se ele não aparecer. O cara vai e diz “eu preiro
pagar a multa.” Isso só enfatiza o drama. A pessoa vai lá obrigada, já pen-
sou? Fica lá e... “Acabou? Então vou embora.” Ou então vai e ica quieta. É
um negócio que, sinceramente, é difícil, uma situação que o Direito não
resolve. Amor e afeto, o Direito não resolve.11
Pensar a família como uma realidade que se constitui pelo discurso so-
bre si própria, internalizado pelos sujeitos, é uma forma de buscar uma
deinição que não se antecipe à realidade da família, mas que nos permi-
ta pensar como a família constrói, ela mesma, sua noção de si, supondo
evidentemente que isso se faz em cultura, dentro, portanto, dos parâme-
tros coletivos do tempo e do espaço em que vivemos, que ordenam as
relações de parentesco (entre irmãos, entre pais e ilhos e entre marido e
mulher (SARTI, 2004, p. 14).
Considerações finais
Notas
2 Embora o poder público seja constituído pelas três esferas, aqui o foco será o
executivo, seja em nível municipal, estadual ou federal.
Referências
MESTRINER, M. L. O estado entre a ilantropia e a assistência social. São Paulo: Cortez, 2001.
SARTI, C. A. A família como ordem simbólica. Psicologia USP, São Paulo, v. 15, n. 3,
p. 11-28, 2004.
63
Alda Britto da Motta
Bacharel e mestre em Ciências Sociais. Doutora em
Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Professora e pesquisadora dos programas de pós-
graduação em Ciências Sociais e em Mulher, Gênero e
Feminismo, da UFBA, e pesquisadora do CNPq. Seus
trabalhos tratam das relações de gênero e intergeracionais,
com ênfase no processo de envelhecimento. Os artigos
“Mulheres velhas. Elas começam a aparecer”, publicado no
livro História das mulheres no Brasil e “Mulheres: entre o
cuidado dos velhos e a reprodução dos jovens”, publicado
na revista ex aequo, estão entre suas publicações mais
recentes.
64
Violências específicas aos idosos
Resumo
A violência pode ocorrer em todas as idades, com diferentes expressões
ou intensidades, conforme a condição geracional e o gênero de quem é
objeto e os espaços sociais em que repercute. Pode se iniciar na infân-
cia, continuar na vida adulta e assumir formas especíicas na velhice,
quando mostra uma expressão chocante das relações intergeracionais,
já que nesse momento da vida a violência apresenta-se exercida majo-
ritariamente por ilhos, ilhas e netos, como demonstram pesquisas
recentes. Além dos casos de violência doméstica, multiplicam-se outras
formas especíicas de violência pública contra o idoso e a idosa, inclusive
as deinidas na Política Nacional de Redução de Acidentes e Violência
(2001), como o abuso econômico e o uso não consentido de seus recursos
inanceiros e patrimoniais. Embora essas modalidades de abuso ocorram
sobretudo no âmbito familiar, estão crescendo também em outras
instâncias. Um exemplo são os assédios constantes e as transações
fraudulentas praticadas contra idosos como consequência da expansão
do crédito consignado estimulado pelo governo federal. É necessária,
portanto, a discussão dessa questão que afeta principal e dolorosamente
as idosas, sempre vistas em sua real ou suposta fragilidade.
Abstract
Interpersonal violence occurs at all ages and stages of life, in different forms
and degrees, according to gender and the generational conditions of those
affected and the social spheres in which it may have repercussions. It begins at
childhood and continues throughout adulthood, assuming speciic forms at old
age, when it expresses shocking intergenerational relations, since it is usually
exercised by children and grandchildren, as shown by recent studies. In addition
to domestic violence, other forms of speciic public violence against the elderly,
including those deined by the National Policy for the Reduction of Accidents and
Violence (2001), such as inancial and economic abuse and the non-consented
use of inancial and patrimonial resources. Although these modalities of abuse
take place primarily in a family context, they are growing as well in other
instances, particularly as a result of consigned credit procedures, receiving
Federal Government incentives, which have caused constant harassment and
fraudulent transactions against the aged. Therefore, it is necessary to discuss
this issue that affects especially and painfully elder women, always regarded in
their supposed or real frailty.
Introdução
Por que tudo isso acontece com você, velho ou velha, e quase nada com
jovens?
Apesar disso, mas também o que em parte explica essa situação, é que
muitos dos velhos de hoje, depois de toda uma trajetória de vida e trabalho,
já talvez tenham acumulado alguns bens, ou pelo menos têm uma casa
para morar e dispõem de rendimentos regulares de pensões e aposenta-
dorias que, ainda que modestos, são “o nosso certo”, como costumam di-
zer. Vivem agora em uma sociedade cujo desenvolvimento lhes propiciou
ser mais saudáveis e socialmente dinâmicos que no passado, embora ao
mesmo tempo ainda suportando o peso de expectativas e ações sociais
preconceituosas, também delituosas. Ou simplesmente criminosas.
Essa posição inanceira dos velhos na família, mesmo nos muitos casos em
que são totalmente provedores, não lhes restitui, contudo, a centralidade
do poder no grupo, que se constitui sempre em determinada ordem gera-
cional, pela qual os jovens vão gradativamente assumindo, ou tentando
assumir, as posições de comando. O problema se acentua com as diferen-
Diante desses casos, lembraria que fatos nunca existem fora de um con-
texto social e, no caso das violências, essas nunca são puramente indi-
viduais, pois, como comenta Jaspard (2000), “estão ligadas às regras de
funcionamento das instituições nas quais se apoia a sociedade” (PEIXOTO,
2009). E as redes de comunicações institucionais no Brasil estimulam fre-
quentemente o crédito aos idosos.
Enquanto o Estado realiza cada vez mais intensamente uma gestão de ca-
ráter privatizante, vai reduzindo a proteção social pública e adjudicando
à família e à comunidade a proteção, nem sempre viável, dos seus idosos.
Ao mesmo tempo, nesta fase do capitalismo, o mercado parece ter des-
coberto, ainal, uma função social – e integradora – para os idosos, a de
consumidores de serviços e de “produtos próprios para a terceira idade”.
A análise atenta de Rigo (2007) relembra que esse limite máximo de em-
préstimo permitido pela Previdência Social é referente não à renda dis-
ponível para o aposentado, mas à renda maior do rendimento mensal
do aposentado, já comprometida, no entanto, com outros pagamentos. E
conclui: “O mais grave, contudo, é que mesmo entre aqueles que não têm
dívidas, esse grau de comprometimento pode se provar excesso” (RIGO,
2007, p. 104).
Apesar de mais baixas, não são irrisórias, pois servem ao mesmo tem-
po para remunerar o capital investido e assumir o risco, devidamente
calculado, de ocorrerem situações imprevistas no contrato, tais como:
diminuição da margem consignável, exoneração do servidor, decisões judiciais
suspensivas ou impeditivas do desconto em folha etc. (FURLAN, 2009, p. 65,
grifo do autor).
[...] foi a maior burrice da minha vida. Tomei empréstimo justamente pra
comprar o terreno para tentar fazer uma casa. Foi burrice, não deu cer-
to. O terreno tá lá em Terra Nova. Comprei no interior por R$ 2.000,00
para pagar R$ 10 mil, praticamente. Eu deveria ter pensado antes. Eu via
aquelas propagandas e, como todo mundo, fui lá. Vi a propaganda e vi
que tudo era maravilhoso na hora de tomar o empréstimo, aí eu disse:
“Ah, meu Deus, é agora que eu vou ter a minha casa!” Eu vi um horizonte
maravilhoso! Peguei R$ 2 mil, comprei o terreno, não deu para comprar
os blocos, eu só adquiri o terreno. Não deu pra fazer a casa. Não deu pra
fazer nada. Me atrapalhei toda. Atrapalhou a minha vida inteira. Agora tá
muito mais difícil porque todo mês desconta na folha e eu... mas agora eu
prometo a mim mesma que eu vou passar longe[...] (ANÁLIA, 2008 apud
AZEVEDO, 2010, p. 166).
Alguns idosos não sabem muito o que fazer, mas os ilhos sabem... Os
corretores, também:
Não sei nada, minha ilha olha essas coisas... só assinei (C.L.M, 73 anos
apud RIGO, 2007, p. 107).
Tomei mil reais, esse empréstimo piorou minha vida. [...] aconselho a
qualquer pessoa para não tomar esse dinheiro emprestado [...] a pessoa
só toma porque está passando necessidade e acaba se apertando. Não é
Gastei o dinheiro em dois dias e vou levar três anos pra pagar [...] não vale
a pena (F.S., 64 anos apud RIGO, 2007, p. 107).
Demora muito pra passar, aí falta dinheiro pra outras coisas (D.T.S, 71
anos apud RIGO, 2007, p. 111).
A gente pega, né... e depois pede pra morrer logo para não ter que pagar
por três anos tudo de novo (RIGO, 2007, p. 119).
3 Experiências de velhas
Em todas essas investidas – que não sou ingênua para acreditar em “pro-
cesso encantado”, mas pessoas menos informadas têm caído nesses con-
tos – o que mais me impressionou, para além da crueldade de prejudicar
pessoas em idade avançada, foi o nível de informação que tinham sobre
a minha vida.
Mas o pior ainda viria. Há cerca de três anos, o im do mês estava chegan-
do e o dinheiro da aposentadoria escasseando. Preocupada, ainal tendo
dois ilhos desempregados, procurei me situar, conversando com a geren-
te responsável pela minha conta bancária, que depois de consulta, sorriu:
“Por que se preocupa?! Você está ótima, com esse depósito!”
Venci essa batalha, me livrei da “dívida”. Mas até hoje não recebi a totali-
dade da mais que justa indenização por danos morais, pela grande fragi-
lização e sofrimento que vivi, atingida pela desonestidade dos outros. O
banco pagou a parte dele da indenização, mas a seguradora, nunca.
Minha história, entretanto, ainda não acaba aqui. Depois dessa fraude,
outras pessoas, outras instituições, já tentaram outros golpes, alguns de-
les menores, sempre com desconto em folha de pagamento e falsiicação
da minha assinatura e de dados pessoais; principalmente seguros de vida
e planos de previdência privada.
Não muito tempo depois da surpresa de ter sido cobrada pelo seguro de
vida em favor de um neto que nunca teve, Antônia sofreu dois “ataques”
quase simultâneos de dois diferentes bancos privados de grande porte:
empréstimos consignados fraudulentos. Um deles bastante alto.
Nota
Referências
FALEIROS, Vicente de Paula. In: LIMA, Fausto Rodrigues; SANTOS, Claudiene (Org.).
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87
Carlos Augusto Lima
Poeta e professor de literatura. Publicou OBJETOS
(Alpharrábio, 2002), vinte e sete de janeiro (Lumme, 2008),
Manual de acrobacias n.1 (Editora da Casa, 2009), O Livro
da espera (Alpharrábio, 2011) e Três poemas do lugar (La
Barca, 2011). É membro fundador da ONG Alpendre (casa de
arte, pesquisa e produção, com sede em Fortaleza-CE), ex-
coordenador do núcleo de literatura do setor de capacitação
do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura de Fortaleza e
mestre em Letras pela Universidade Federal do Ceará (UFC),
onde defendeu dissertação sobre o poeta Antônio Carlos
de Brito (Cacaso). Atualmente é doutorando em Literatura
Comparada pela mesma universidade, onde desenvolve
pesquisa sobre as ideias de fracasso, deriva e silêncio nas
narrativas de Antônio Lobo Antunes e J. M. Coetzee.
88
Carlos Augusto Lima
Resumo
A ideia de um “vazio cultural”, de uma perda da potência crítica e cria-
dora da cultura brasileira, seja em face do autoritarismo, seja diante
do poderio do mercado, faz parte da pauta da crítica cultural nacional.
Nos anos 1970, a denúncia de um vazio cultural representou um des-
conforto ante ao sufocamento das personalidades e ações críticas da
cultura brasileira pelo regime militar. Por outro lado, a discussão sobre
o vazio cultural ignorou uma parte signiicativa da produção cultural
dita marginal, que propôs outras formas de politização da cultura. Na
linha de frente das práticas de resistência dessa produção estavam os
poetas. Um nome importante dessa prática de resistência poética,
crítica e política foi Antônio Carlos de Brito, mais conhecido como Ca-
caso, um dos primeiros a ver uma movimentação bastante particular
que se conigurava na poesia brasileira da época, que parecia buscar
novos processos na produção material do livro e, da mesma forma, na
expressão de uma linguagem poética, a seu ver, libertadora em vários
sentidos e dimensões.
Abstract
The idea of a “cultural void”, a loss of critical power and creativity of Brazilian
culture, whether in the face of authoritarianism or before the power of the
market, is part of the national agenda of cultural criticism. In the 70’s, the
complaint of a cultural void was a discomfort compared to the suffocation
of critical actions and personalities of Brazilian culture during the military
dictatorship. On the other hand, the discussion about the cultural void ignored a
signiicant part of cultural production, said to be marginal, who proposed other
forms of politicization of culture. At the forefront of the resistance practices of
that production were the poets. An important name from this poetry resistance
practice, criticism and politics was Antônio Carlos de Brito, better known as
Cacaso, one of the irst poets who saw a very particular movement coniguring
in Brazilian poetry at that time, which urged for new production processes on
physical books and, likewise, in the expression of poetic language that was, in
his point of view, liberating in many ways and dimensions.
O vazio era mais uma metáfora para descrever com certa exatidão o
quadro cultural dos anos 1969/1971, em que correntes críticas, domi-
nantes entre 1964 e 1968, se tornaram marginais, perdendo em grande
parte a possibilidade de inluir diretamente sobre o público anterior.
Essa inluência não foi apenas diicultada pela censura direta (particu-
O cinema alternativo, por sua vez, esteve representado por uma pro-
dução que se contrapôs não só à cooptação estatal, via produções i-
nanciadas pela Embrailme, mas também em choque com toda uma
linguagem dita comercial. A experimentação de linguagens também
deu a tônica do chamado cinema “udigrudi”. Produções com baixíssi-
mo custo e carentes de maiores aparatos tecnológicos, mas livres para
criar. Angulações imprevistas, cenários improvisados, narrativas não
lineares, delirantes, a apropriação do mau gosto, do que é escatológi-
co, são alguns dos elementos trabalhados por cineastas como Rogério
Sganzerla, Júlio Bressane, Ivan Cardoso e outros, que estiveram na li-
nha de frente desse chamado cinema marginal. Com produções bara-
II
No mundo das letras, por debaixo dos panos, nas brechas, assistiría-
mos à grande explosão da imprensa alternativa, ou, como era chamada
na época, imprensa “nanica”. Fugindo do cerco imposto pela censura,
muitos jornalistas e intelectuais partiram para a produção de uma “im-
prensa livre”, marcada pela resistência. Época de atuação de periódicos
como O Pasquim, O Bondinho, e os jornais Movimento e Opinião, entre ou-
tros. Era a tentativa de livre pensamento e livre informação, associados
muitas vezes ao deboche, à informalidade, ao humor. Periódicos de vida
curta, muitos deles, de péssima qualidade editorial, mas importantís-
simos no sentido de dar vazão às relexões incontidas e à manutenção
Meu coração
de mil novecentos e setenta e dois
já não palpita fagueiro
sabe que há morcegos de pesadas olheiras
que há cabras malignas que há
cardumes de hienas iniltradas
no vão da unha na alma
um porco belicoso de radar
e que sangra e ri
e que sangra e ri
a vida anoitece provisória
centuriões sentinelas
do Oiapoque ao Chuí
(CACASO, 2002, p. 163)
isso deve jogar com o terreno que lhe é imposto tal como o organiza a lei
de uma força estranha. Não tem meios para se manter em si mesma, à
distância, numa posição recuada, de previsão e de convocação própria: a
tática é o movimento “dentro do campo de visão do inimigo”, como dizia
Büllow, e no espaço por ele controlado [...]. Ela opera golpe por golpe, lan-
ce por lance. Aproveita as “ocasiões” e delas depende, sem base para esto-
car benefícios, aumentar a propriedade e prever saídas. O que ela ganha
não se conserva. Este não lugar lhe permite sem dúvida mobilidade, mas
numa docilidade aos azares do tempo, para captar no voo as possibilida-
de oferecidas por um instante. Tem que utilizar, vigilante, as falhas que
as conjunturas particulares vão abrindo na vigilância do poder proprietá-
rio. Aí vai caçar. Cria ali surpresas. Consegue estar onde ninguém espera.
É astúcia (CERTEAU, 1999, p. 100-101, grifo do autor).
Se reais ou não as desilusões – não me cabe aqui levar mais adiante essa
discussão –, o fato é que os novos poetas se distanciam dessas proble-
máticas e armam suas táticas com a ideia de criar possibilidades sobre
o próprio viver. Ou sobre o que é possível viver. Nesse possível, toda uma
sistemática de poder é colocada de lado, no que interessa aos jovens poe-
tas. “Agora, os projetos não se fazem mais no sentido de mudar o siste-
ma, de tomar o poder. Cresce, ao contrário, uma desconiança básica na
linhagem do sistema e do poder” (HOLLANDA, 1980, p. 100). Reairmo,
dessa forma, o movimento tático que a geração marginal empreendeu na
época. Não sei airmar se uma nova utopia, ou uma nova ilusão substituí-
ra outra, mas a verdade é que a literatura, ou a negação dela, como co-
mentaremos depois, funcionou como substituta das armas, das palavras
de ordem. O que interessou, nesse jogo tático que assumiram os novos
poetas, foi, na verdade, o registro de outras instâncias da vida.
III
Nas táticas das letras, sobreviver, subsistir, é vontade tamanha e faz par-
te do jogo, das artimanhas. E dentro do “campo de visão do inimigo”, sa-
ber dizer não, outra hora não entrar no jogo, não querer dançar a dança,
é dos movimentos táticos o mais simbólico da geração marginal. Mesmo
que nesse negar se observe um movimento de ir e vir, uma mobilidade ao
sabor do vento e do momento. Uma negação que se contradiz, se desfaz
e, por isso mesmo, é tática.
Mas para achar um lugar, um modo de ser e estar, dentro desse próprio.
Um lugar que foi o da resistência, da artimanha, do jogo tático. E a tática
estava em movimentar-se pelos contrários, pelas negativas daquilo que
estava institucionalizado: a forma, o conteúdo, o modo de ser e estar da
própria literatura. Cacaso foi um ordenador dessas negativas.
É certo que a utopia perdurou durante a década de 1970 com força e aju-
dou a construir uma aura, uma mística da precariedade marginal, uma
quase pureza. Mas o jogo de forças, de movimentos táticos, exige idas e
vindas, avanços e retrocessos na busca do lugar. A exaltação da precarie-
dade, opondo-se à qualiicação técnica, seria tática durante um período
mais especíico (os anos 1970), no qual o movimento pelos lancos, nos
cochilos do poder (e de suas várias faces: estado, universidade, tradição
literária, crítica), era o único movimento possível. Com a chegada da dé-
cada de 1980, e o processo de abertura política, anistia, reordenação de
forças, muitos dos poetas da geração marginal passariam a ter seus li-
vros publicados por editoras “formais”, contando com signiicativas tira-
gens, eiciente sistema de distribuição e cuidado editorial. Na observação
de Heloisa Buarque de Hollanda:
Mais à frente, surge uma ressalva sobre o “lugar” das vanguardas presen-
tes na exposição de poesia:
O que parecia uma rixa particular, ou uma defesa juvenil dos mais fracos
ante os mais fortes (quem sabe, era), pode contudo ser lida como um jogo
tático. Cacaso se utilizará do “lugar” da poesia concreta (e das vanguar-
das) para, maliciosamente, afastar a poesia jovem dos anos 1970, a gera-
ção marginal, de quaisquer vínculos com aquela. Na verdade, o jogo não
é (era) o de propor uma ruptura com a (já) tradição das vanguardas. Pelo
menos no sentido de tomar o lugar dessa tradição. Mais uma vez, a táti-
ca não foi a de tomar o lugar do próprio, mas de propor um desvio, uma
dobra, e conectar-se a um outro próprio. Tanto em seus textos críticos
quanto na sua poesia (como veremos a seguir), Cacaso buscou substituir
os vínculos diretos da tradição que antecede a poesia marginal (geração
de 45, vanguardas) e substituí-la pela tradição e pelos valores estéticos
do modernismo entre 22/30.
o que tais poetas da esquerda oicial ainda não aprenderam é que não
há engajamento possível fora da lição modernista, onde o engajamento
prioritário é o da própria forma literária, onde se desenvolve uma ação
crítica no domínio mesmo da criação (CACASO, 1997, p. 122).
Mais idas e vindas. Foi tático para Cacaso a recorrente e constante ten-
tativa de desassociar a poesia marginal das vanguardas (concretismo,
práxis, processo etc.). No entanto, é preciso deixar claro que essa mesma
poesia marginal, frequentemente, por sua vez, fez uso de determinados
canais em que é nítido o aproveitamento da visualidade e dos recursos
“verbivocovisuais” propostos pelo concretismo e suas crias. Colagens,
graismos, brincadeiras com o espaço em branco da página, novas pos-
sibilidades de suporte para a poesia: o cartão-postal, o saco de pão, o
outdoor, a pichação em muros, o poema estampado na camiseta etc. Sem
contar com as “experiências” de Paulo Bruscky e Daniel Santiago com
seus “poemas classiicados”, publicados nas páginas de anúncios clas-
siicados do jornal Diário de Pernambuco, ou o livro lançado por J. Medei-
ros editado em formato de rolo de papel higiênico. Como lembra Glauco
Mattoso:
Não são autores ou grupos bitolados por esta ou aquela escola de van-
guarda, e sim gente que, mesmo sem ter tomado parte nos movimentos
concreto e processo, assimilou e utilizou livremente todos os recursos
disponíveis (MATTOSO, 1981, p. 37).
Sobre essa ideia de liberdade dos usos da poesia e do próprio poeta, re-
tomo a citação de Cacaso em seu texto sobre Chacal. Retomo o passo na
construção das ideias, dos nãos, das táticas da poesia da geração mar-
ginal. Cacaso atribui uma força, uma justiicativa e uma qualiicação na
capacidade de brincar que reside na poesia de Chacal. A brincadeira e o
amadorismo são vistos como dados de valoração, pois é no descompro-
misso que emana desse brincar que a poesia se faz; sem estar presa a
valores nobres, dogmas sociais e culturais, amarras comportamentais. E
é exatamente nessa capacidade de desprendimento – que outra hora fora
apostar numa transformação social situada num futuro não muito pró-
ximo, e cuja garantia de que seria atingida era teórica, torna-se uma
possibilidade cada vez mais remota e pouco signiicativa. A ênfase recai,
portanto, no presente. O “retardamento da ação” implicado pela relexão
teórica mostra-se cada vez mais ineicaz e comprometedor, tendo em
vista os objetivos que o grupo se colocava em termos de transformação
social. Neste contexto é que surge a possibilidade de um profundo ques-
tionamento da ciência, enquanto forma por excelência do “pensamento
racional”. Enquadra-se aí tanto a utilização de tóxicos, quanto a volta da
atenção para certas formas de pensamento místico, com a consequen-
te exploração de outros estados de consciência e outras formas de per-
cepção. É, portanto, no contexto desse questionamento do pensamento
racional (especialmente na sua versão cientíica) que se situa o anti-in-
telectualismo, que vai ser uma das marcas do pensamento da contracul-
tura (PEREIRA, 1981, p. 92).
Ao que parece, mais uma vez relembrando, Cacaso pensa em uma escrita
dotada de grande carga de naturalidade, desperta pelo sensível – que não
deixa de excluir o intelecto, de certa forma – e em perfeita sintonia com
um registro utópico de liberdade da poesia e do poeta: sem modelos, sem
partido ou patrões. Poesia de risco, pois, para Cacaso, põe em xeque a
Nota
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PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. Retrato de época: poesia marginal, anos 70. Rio de
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115
Edson Alexandre da Silva
Advogado criminalista com especialização em Ciências
Penais. Mestrando em Psicologia Social (violência e maus-
tratos em idosos) pela Universidade Salgado de Oliveira
(Universo).
116
Edson Alexandre da Silva | Lucia Helena de Freitas Pinho França
Resumo
Este artigo aborda as várias formas de violência contra idosos, bem
como os contextos mais propícios à sua delagração. Dentre as formas
de violência mais conhecidas na literatura estão o abuso físico, o
abuso psicológico, o abuso inanceiro, a negligência, o abuso sexual e o
autoabandono. Alguns fatores podem ser considerados como de risco
à integridade das vítimas, outros podem causar conlitos no âmbito
interpessoal ou social. Considerando a crescente incidência de agres-
sões na família, em que se revela uma subjacência de fatores multifa-
cetários, há uma tendência da vítima em não denunciar os agressores
resultando, assim, no fenômeno da subnotiicação dos casos. Portanto,
é fundamental identiicar os prováveis fatores de risco, bem como esta-
belecer estratégias de prevenção contra os maus-tratos de idosos.
Abstract
The article investigates various forms of violence against the elderly, as well
as the most favorable contexts in which these episodes can occur. Amongst the
most known types of violence in literature, there are the physical, psychological,
inancial and sexual abuses, negligence, and self-neglect. Some factors can
be considered a risk to the physical integrity of the victims; others might
cause interpersonal and social conlicts. Considering the increasing number of
incidents in the family, which reveals underlying multifaceted factors, there is
a trend on the part of the victims not to denounce the aggressors, resulting in
an underreporting phenomenon of cases. Therefore, it is crucial to identify the
likely risk factors so as to establish prevention strategies against elder abuse.
Introdução
1 Tipos de violência
A mesma autora ressalta o fato de a família não ser mais o absoluto re-
fúgio em um mundo sem sentimentos. Ao contrário, o ambiente familiar
tornou-se um espaço de opressão, abusos físicos e emocionais, no qual os
direitos individuais são cada vez mais alijados de seus detentores. Con-
sequentemente, já existe uma competição entre a primazia da violência
familiar e a violência geral das grandes cidades (DEBERT; OLIVEIRA, 2007).
Valadares e Souza (2010) corroboram com essa airmação, ressaltando que
a maioria das denúncias de agressões contra idosos são praticadas por
parentes das vítimas – 90% dos casos ocorrem nos lares, sendo que dois
terços dos agressores são os cônjuges, genros e ilhos do sexo masculino.
Em que pese a família ser o cenário de grande parte das agressões sofri-
das pelos idosos, é também no seio dela que o idoso, em geral, se sente
mais confortável, não apenas materialmente, mas também emocional e
psicologicamente. A constatação de tal fato está patente no próprio fenô-
meno da subnotiicação, mormente nos casos em que os idosos preferem
sofrer maus-tratos a romperem os laços familiares (CAMMER, 1996).
O resultado desse estudo parece um fato surreal, que não acontece nas
sociedades contemporâneas, mas tal conclusão é apenas aparente. O es-
tudo conduzido por Lemos (2010) revela alguns detalhes do relato de uma
assistente social em visita a uma casa na qual havia uma senhora de 92
anos abandonada. Uma denúncia anônima relatou que essa senhora en-
contrava-se em condições desumanas, onde não havia água e nem con-
dições de higiene mínimas. A vítima tinha oito ilhos, dos quais apenas
uma ilha, supostamente doente, lhe dava atenção e a visitava; recebia
pensão, mas se ignora quem recebia os valores e como eram utilizados.
Esse caso é, indubitavelmente, apenas um entre muitos que ocorrem nos
dias atuais, bastando uma consulta aos arquivos de denúncias em órgãos
de proteção ao idoso ou nos noticiários da mídia.
4 Fatores de risco
No que concerne à violência social, seus fatores de risco vêm sendo estu-
dados. Em 1994, Minayo trouxe à tona a ideia de que a violência estrutural
seria aquela que oferece um marco do comportamento violento na me-
dida em que as estruturas organizadas e institucionalizadas dos grupos
familiares, bem como a cultura, a economia e a política carregam em si a
opressão dos indivíduos, grupos, classes e nações que não têm acesso às
conquistas da sociedade, sendo estas mais vulneráveis aos sofrimentos e
à morte. Beauvoir (1990) aponta o estereótipo do idoso caduco e delirante
e vítima das zombarias por parte das crianças. A autora aduz que não
importa a virtude ou a objeção do idoso, este não é encarado como parte
da humanidade, o que legitima um tratamento sem escrúpulos, de modo
a negar-lhe o mínimo necessário à sua existência enquanto homem. Essa
situação, contudo, é ambivalente, haja vista o culto à juventude eterna e
as imagens da mídia mostrando idosos com mais de 80 anos totalmente
independentes e ativos. A imagem do idoso rico e alvo de sedução pelo
comércio contrasta com as reportagens que mostram idosos em comple-
to abandono em asilos.
Segundo Debert (2004), esse cenário pode trazer à tona o lado perverso e
paradoxal da questão, ou seja: considerar problemático e culpado o idoso
5 Subdiagnóstico e subnotificação
O idoso pode ser vítima de violência sob várias formas e em vários con-
textos, sendo certo que existem diferentes razões que levam ao proble-
ma do subdiagnóstico e da subnotiicação (MELO; CUNHA; FALBO NETO,
2006; BRADLEY, 1996). Dentre algumas causas das diiculdades do diag-
nóstico estão a culpa e a vergonha sentidas pela vítima, bem como o re-
ceio de retaliações e represálias do agressor ou de ser internado em asilo.
e não apenas ator, e assim ser livre e não violento” (XAVIER, 2008, p. 30).
O combate à violência, efetuado por meio do estímulo à dialética, em
diversos setores da sociedade, talvez possa trazer uma evolução da redu-
ção da sua escalada. De acordo com Jung, é necessário que o indivíduo
compreenda o seu valor e a possibilidade de transformação para poder
tomar uma decisão, agir eticamente e reconhecer o seu papel dentro
da sociedade. O que uma nação faz é o resultado do que muitos indiví-
duos izeram e “se não se muda o indivíduo, nada é mudado” (JUNG apud
XAVIER, 2008, p. 27).
Considerações finais
O estudo da violência com foco nas suas formas, números, sujeitos, so-
ciedades, fatores de risco, bem como em outras vertentes, é de grande
relevância para se buscar uma forma de prevenir esse problema. De acor-
do com Minayo e Souza (1999), a violência é indissociável da sociedade
que a produziu, alimentando-se da economia, da política e da cultura,
A violência contra os idosos é muitas vezes levada a cabo por outros ido-
sos (como o marido); e muitas vezes não tem a ver com a idade, mas com
a fragilidade, a dependência, as crenças culturais. Se quisermos ter me-
nos violência contra idosos temos de começar a ajudar a ediicar famílias
mais saudáveis e com bons laços afetivos entre seus membros.
Por im, para que possamos reduzir a violência com idosos é crucial que, além
da interlocução entre os diversos atores da sociedade, tenhamos uma visão
sustentável por meio da educação, pois só assim poderemos construir uma
sociedade verdadeiramente desenvolvida. Como ressaltado por Kalache (2008)
devemos nos preocupar com as futuras gerações, já que estas serão responsá-
veis pela sobrevivência da humanidade. Nesse sentido, é imprescindível uma
mudança no “tipo psíquico da sociedade” (DURKHEIM, 1893), de modo que as
futuras gerações já nasçam em um contexto de justiça e respeito aos idosos, fa-
zendo com que esses princípios sejam absorvidos naturalmente pela sociedade.
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EDIÇÃO 18
Um convite à leitura
Gabriel Cohn
EDIÇÃO 20
Incluir também o currículo (com até cinco páginas) com a formação aca-
dêmica e a atuação proissional, além dos dados pessoais (nome com-
pleto, endereço, telefone para contato) e um minicurrículo (entre 5 e 10
linhas, fonte Times New Roman, tamanho 10), que deverá constar no
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