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SUBCIDADANIAS E POLÍTICAS PÚBLICAS

Lucielly Conceição dos Santos (Bolsista Fundação Araucária / inclusão


social); Alexandre Bonetti Lima (Orientador), e-mail; bonetti@uel.br

Universidade Estadual de londrina/ Centro de Ciências Humanas

Psicologia Social

Palavras-chave: Moradores em situação de rua, cotidiano, cuidado.

Resumo

O presente trabalho objetivou contribuir para condições mais


encantadoras e dignas na vida de inúmeras pessoas social e politicamente
excluídas. Sendo assim, o processo de pesquisa desse estudo se realizou em
meio às ações nos espaços de convivência dessas pessoas.
Vale mencionar que o projeto se realizou em um bairro sócio econômico
carente, da zona norte de Londrina, junto à Associação Mãos Estendidas, ONG
que desenvolve um trabalho importante na região. E de modo particular na vida
de moradores em situação de rua do mesmo bairro onde foi desenvolvido o
estudo.
Dentro deste estudo com a população em situação de rua o quanto é
importante que existam instituições, serviços médicos, ONGS, programas
sociais, voluntários que lhes dê cobertor, pão, alimentos, sapatos e roupas, no
entanto algo de novo é preciso. De maneira simplória vemos que a essência
está no cuidado, no incentivo para que se apropriem dos serviços públicos
disponíveis e ampliem suas noções e direitos de cidadãos.

Introdução e objetivo

Ao longo dos últimos anos emerge a desigualdade social. No início do


Século XXI, o Brasil é um dos campeões mundiais da desigualdade
social. Compreender a dinâmica dessa população é fator fundamental para a
Psicologia Social Crítica que tem como objetivo contribuir para a produção de
condições mais dignas na vida de inumeráveis pessoas social e politicamente
excluídas.
Segundo relatório do Fundo de População das Nações Unidas, de 2014,
a diferença de renda entre ricos e pobres ampliou expressivamente nas últimas

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décadas. O mesmo relatório aponta que embora o mundo esteja globalmente
mais rico do que nunca, mais de 1,2 bilhões de pessoas vivem em situação de
extrema pobreza, e o 1% mais rico da população mundial possui
aproximadamente 40% dos bens. Apesar do quadro exposto há uma
naturalização das necessidades da minoria e o não ou pouco reconhecimento
dos efeitos dessa desequidade. Neste contexto, este estudo pretende
desconstruir discursos e ideologias que naturalizam o pensamento abissal, e
justificam as desigualdades sociais.
Para tanto é necessário participar de discussões e tentar tecer redes
com a sociedade, novas formas de construir e se relacionar, de estar presente
na comunidade, tornando a Psicologia um saber implicado com as discussões
que perpassam as pessoas em lugar de uma ciência que objetiva a
neutralidade.

Procedimentos metodológicos

O projeto se realizou em um bairro sócio economicamente carente, da


zona norte de Londrina, junto à Associação Mãos Estendidas (AME), ONG que
desenvolve trabalho importante na região.
Os dados da pesquisa foram gerados por meio de pesquisa
bibliográfica, documental, observação direta, visitas domiciliares, visitas em
locais de trabalho e entrevistas em profundidade.
Deste mesmo modo utilizou-se também para a elaboração da pesquisa
grupos de estudo cujo tema de discussão pautou-se no eixo subcidadania e
ocorreram visitas no assentamento de moradores em situação de rua, no
Centro de Referência Especializada para População em Situação de
Rua (Centro POP), Associação dos Moradores em Situação de Rua e na
Unidade Básica de Saúde do bairro.

Resultados e discussão

A presente pesquisa mostrou várias situações vivenciadas junto à


população de um bairro bastante pobre, no município de Londrina (PR) – com
alto índice de vulnerabilidade social (casos frequentes de assassinatos,
violência doméstica, além de alto índice de desemprego, escassez de espaços
adequados para lazer, educação, cultura, transporte público precário,
dificuldade de acesso aos serviços de saúde públicos, entre outros). E de modo
particular a vida de moradores em situação de rua do mesmo bairro onde foi
desenvolvido o estudo.
Dentro dos escritos acerca dos moradores em situação de rua
encontramos Vieira (1992, p.98) que define: “população de rua é aquela que
passa ali 24 horas por dia, em dias consecutivos, nela suprindo as
necessidades básicas de alimentação, sono e outras.” Para Marshall (1994),

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seriam os que não têm moradia, os que moram na rua, mas também os que
vivem em albergues, asilos e ainda os que habitam lugares inseguros,
considerados vulneráveis e insatisfatórios. É este conceito adotado por
Marshall, que é também aplicado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Nos orientamos pelo que Boaventura Souza Santos (2010) denomina
por epistemologia compreensiva, através da qual se busca compreender,
reconhecer e dialogar com a pluralidade de saberes e fazeres que compõem a
dinâmica da história das experiências e interações do cotidiano ordinário de
cada lugar. Isso exige desistir da arrogância de um personagem –
historicamente instituído no campo científico – que se compreende detentor da
exclusividade do saber e do fazer acertado, e se colocar como cidadão
copartícipe de saberes e fazeres construídos socialmente, como quaisquer
outros, acadêmicos e não acadêmicos, científicos e não científicos, mas cujas
práticas e linguagens singulares podem dialogar e contribuir para a produção
de condições mais encantadoras e dignas na vida de inumeráveis pessoas
social e politicamente marginalizadas.

Conclusão

Dentro destes resultados e das observações fornecidas pelas


entrevistas, conversas, convívio pudemos concluir o quanto é desafiador
entender este grupo em suas individualidades e nas histórias que marcam seus
corpos e suas mentes. Estas pessoas “tão sem tudo” trazem entre si um núcleo
comum. Vimos, conversamos com um grupo vinte pessoas. Cada um
perpassou por um caminho, criou ilusões, enfrentou desilusões, caiu, levantou,
caiu de novo, ganhou, perdeu, revoltou-se, acomodou e desistiu. Pessoas
esperam sua casa própria, pois acreditam que longe do tráfico conseguirão
reduzir o uso de substâncias psicoativas, outros esperam encontrar o porto
seguro da presença dos pais, dos filhos, dos companheiros ou das esposas
que perderam ou puseram a perder, outros esperam na fila de transplante pelo
Sistema Único de Saúde e todo o grupo tem uma relação de uso abusivo do
álcool e substâncias psicoativas.
Alguns não conseguem se amar, pois não se percebem nem amados
nem respeitados. O que recebem aparece sob a forma de espórtula, pena, dó
ou obrigação das autoridades. Pensamos dentro deste estudo com a
população em situação de rua o quanto é bom que existam instituições,
serviços médicos, ONGS, programas sociais, voluntários que lhes dê cobertor,
pão, alimentos, sapatos e roupas, no entanto algo de novo é preciso. De
maneira simplória vemos que a essência está no cuidado. Os moradores mais
do que falar das suas mazelas, também possuem talentos, dentro da
comunidade encontramos artistas que através da nossa apreciação e incentivo
material encontraram na atividade um meio de redução do uso das substâncias

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psicoativas e melhora da autoestima baixa, característica tão presente dentre
eles.

Agradecimentos

Á Fundação Araucária, pela concessão da bolsa. Ao meu orientador que


apoiou e incentivou o desenvolvimento da pesquisa e ao psicólogo da
Associação Mãos Entendidas.

Referências

Martins, P. M; Monterio V. A; Benine, C. G; Campos, C.L; Carvalho, S.


R; Lima S. L; Como os moradores de rua percebem a si mesmos?
Disponível em:
<http://www.cesjf.br/revistas/cesrevista/edicoes/2006/moradores_de_rua_perce
bem.pdf. > Acesso dia 20 de Julho de 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 122, De 25 de Janeiro de


2011. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0122_25_01_2012.html
> Acesso dia 16 de Junho de 2015.

SOUZA, J. A construção Social da Subcidadania: para uma


Sociologia Política da Modernidade Periférica. Belo Horizonte: Editora UFMG;
Rio de Janeiro: IUPERJ, 2003. (Coleção Origem) 207 p.

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<social/usuario/pnas-politica-nacional-de-assistencia-social-institucional >
Acesso dia 27 de Agosto de 2015.

LIMA, B. A. Psicologia Social e Processos Metodológicos no Cotidiano:


algumas considerações. Londrina. Psicologia & Sociedade, v. 25. 2013.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/psoc/v25n1/03.pdf> Acesso em 10 de Agosto
de 2015.

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