Você está na página 1de 29

EMPREENDEDORISMO SOCIAL

GISELA CONSOLMAGNO
MARCO NICOTARI
VAINE FERMOSELI VILGA
SILVIA HELENA CARVALHO RAMOS VALLADÃO DE CAMARGO
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social UNIDADE 1

BRASIL: SOCIEDADE,
ECONOMIA, POLÍTICA E
1
EMPREENDEDORISMO SOCIAL

INTRODUÇÃO
Nesta unidade, veremos o que são aspectos socioeconômicos e antropológicos e quais
as principais transformações relacionadas a eles que vêm acontecendo no Brasil e no
mundo, sendo que tais mudanças acabam por gerar informações precisas para que a
iniciativa pública tome ações assertivas no sentido de promover a melhoria das condições
de vida das pessoas, construindo uma sociedade mais equilibrada, justa e inclusiva.

Será abordado, também, o que é o empreendedorismo social, a forma híbrida que ele tem
de agregar valor para a sociedade, bem como o contexto histórico em que os empreendi-
mentos sociais surgiram no Brasil e as perspectivas para eles nos próximos anos.

Veremos, ainda, o que são as políticas sociais e como o governo se envolve com as
questões sociais. Esses entendimentos serão ilustrados pelos aspectos históricos re-
lacionados ao sistema de proteção social brasileiro, deixando claro de que forma as
políticas sociais podem ser agrupadas em eixos para que sejam mais bem analisadas
e implementadas. Bons estudos!

1. RECENTES TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E


ANTROPOLÓGICAS
Os seres humanos e as sociedades estão em constante transformação. Para com-
preendermos os impactos e desdobramentos de sermos seres biológicos e sociais,
neste capítulo necessário nos aprofundarmos em determinadas questões e realizarmos
algumas diferenciações como, por exemplo, determinar o que são aspectos socioeco-
nômicos e o que são aspectos antropológicos. Que transformações relacionadas a tais
aspectos vêm ocorrendo no Brasil e no mundo? O capítulo visa responder a esta ques-
tão e, também, analisar as consequências que estas mudanças geram para a tomada
de decisões e ações por parte da iniciativa pública que tem o intuito de melhorar a vida
das pessoas e construir uma sociedade mais justa, inclusiva e digna para todos.

1.1. O QUE SÃO ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E


ANTROPOLÓGICOS?
Não há dúvidas de que o homem é um ser biológico, certo? Sim, o ser humano é um
animal racional que vive no planeta Terra, estando inserido na natureza e transforman-
do-a para que suas necessidades sejam satisfeitas (relação homem x natureza). Tam-
bém é inegável que o homem é um ser social, já que ele vive junto com outros, comu-
nicando-se, cumprindo seus afazeres cotidianos, relacionando-se, ou seja, vivendo em
sociedade (relação homem x homem).

6
PARA REFLETIR
Quem não gosta de viajar para a praia com a família; fazer um happy hour com os amigos
1
no final do expediente; ir ao estádio de futebol para torcer pelo seu time junto com outros
inúmeros torcedores; estar em comunhão, em um local religioso, com outras pessoas que
professam da mesma fé; jantar com o cônjuge? É fácil imaginar que a grande maioria das

Universidade São Francisco


pessoas aprecia estes momentos de convívio social. Mas, por qual motivo o ser humano
precisa destas situações sociais? Que tipo de aprendizado elas podem trazer para a espécie
humana? Reflita sobre o assunto!

Agora, é importante que você compreenda que, à medida que a sociedade enfrenta
transformações históricas, o ser humano também é transformado. Sem precisar voltar
tanto no tempo, na época de nossas avós e bisavós, as pessoas faziam coisas que
seriam inimagináveis nos dias de hoje: fumar era um hábito refinado e cult (inclusive,
durante a gravidez!); dirigir sem cinto de segurança era uma prática comum; ir ao mer-
cado sem dinheiro não era problema porque o proprietário do estabelecimento vendia
fiado, marcando tudo na caderneta da família do comprador, já que estava seguro que
o chefe da casa iria quitar aquele valor o mais rápido possível; para não estragar, arma-
zenava-se a carne em latas preenchidas com banha de porco.
Estas mudanças de hábitos vivenciadas pelos seres humanos acontecem de forma
ininterrupta, estando muito ligadas a aspectos socioeconômicos e antropológicos. As-
sim, para iniciarmos esta discussão, você já parou para pensar o que são aspectos
socioeconômicos? Aspectos socioeconômicos são aqueles que impactam tanto a or-
dem social quanto a financeira (econômica) de um indivíduo, sociedade ou local. Eles
estão ligados a variáveis econômicas, sociológicas, educativas, de saúde, trabalhistas
etc. que podem ser mensuradas por índices, tais quais: o Produto Interno Bruto (PIB), a
taxa de desemprego, a renda per capita, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o
Coeficiente de Gini, entre outros.

GLOSSÁRIO
- PIB: é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos em algum lugar (país, região
estado ou município), em determinado período de tempo (um mês, um semestre, um ano).

- Taxa de desemprego: é o índice que mostra a proporção de pessoas desempregadas em


relação às pessoas que estão em uma faixa etária que as permite trabalhar.

- Renda per capita: mostra a média de renda de uma pessoa, sendo calculada por toda a
riqueza econômica gerada em um país dividida pelo número de habitantes dele. Por ser um
índice feito pelo cálculo de uma média, a renda per capita não consegue mostrar possíveis
problemas relacionados à distribuição de renda.

- IDH: índice que mostra o nível de desenvolvimento de uma sociedade com base em dados
de saúde, renda e educação.

- Coeficiente de Gini: índice que mede o grau de concentração de renda (ou seja, de desi-
gualdade social) de uma nação.

Empreendedorismo Social 7
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

Por outro lado, aspectos antropológicos são aqueles relacionados aos seres humanos
de maneira mais ampla, ou seja, à maneira que eles se formaram e se tornaram aquilo
que são. Os aspectos antropológicos mostram possíveis caminhos para explicar as
1 diferenças (particularidades) culturais, os movimentos e desigualdades sociais, os sa-
beres tradicionais e o nível de desenvolvimento socioeconômico de uma comunidade,
um povo ou um país. Dessa forma, de maneira biológica (física), material, linguística e/
ou cultural, os estudos antropológicos buscam as raízes dos seres humanos, estabe-
lecendo uma análise do passado (histórica) para a compreensão dos fenômenos que
acontecem nos dias de hoje. Vamos compreender isso melhor?

1.2. OS QUATRO CAMPOS ANTROPOLÓGICOS E AS RELAÇÕES COM


OUTRAS ÁREAS DAS CIÊNCIAS HUMANAS
Para entendermos os indivíduos e sociedades atuais, os estudos antropológicos são
divididos em 4 campos: a) antropologia biológica (ou física), b) arqueologia, c) antropo-
logia linguística e d) antropologia cultural (social).

A antropologia biológica procura entender a história da evolução humana a partir dos


restos mortais de pessoas que viveram no passado e das características da biologia
de pessoas que estão vivas no presente. Por exemplo, ao estudar o desgaste dos
dentes de um cadáver ou de uma pessoa viva, é possível identificar se ela tinha (tem)
uma dieta baseada em grãos, açúcares, verduras ou proteína animal, indicando se ela
estava (está) em uma comunidade que cultivava/comercializava estes tipos de bens.
Atualmente, o estudo do DNA também traz várias indicações sobre o modo de vida das
pessoas e suas relações sociais.

EXEMPLO
Os estudiosos Roger e Martine Lichtenberg examinaram, com Raio-X, cerca de 130 múmias
egípcias (ARNT, 1998). Nestes exames, detectaram que os ossos de algumas mostravam si-
nais de crescimento raquítico, marcas de má nutrição e doenças durante a juventude, trazen-
do indicações de que passavam fome e tinham vidas bastante difíceis (ARNT, 1998). Além
disso, diversas múmias apresentavam sinais de reumatismo na coluna, o que evidenciava
um trabalho físico intenso e de transporte de cargas pesadas (ARNT, 1998). Os estudiosos
também encontraram algumas múmias sem os dentes, mostrando que tinham mais açúcar
na dieta (ARNT, 1998). Interessante, né?

Já a arqueologia estuda o passado e o presente de diferentes sociedades através


de objetos materiais (utensílios, objetos de arte, estruturas arquitetônicas, armas,
vestimentas etc.), já que eles têm a capacidade de trazer pistas sobre a maneira
que determinada população vivia, gerando teorias sobre sua cultura e relaciona-
mentos pessoais e produtivos, além de permitir uma visualização das transforma-
ções ocorridas naquela determinada sociedade, comparando os dois conceitos
(do passado e do presente).

Com relação à antropologia linguística, ela estuda o papel da linguagem na vida social
de indivíduos e grupos, explorando-o como elemento de identidade social, pertenci-

8
mento de grupo, estabelecimento de crenças e ideologias culturais (GREELANE, 2019).
Nos dias de hoje, por exemplo, se você colocar num mesmo ambiente um rapper, um
surfista e um gamer, se você não pudesse vê-los, mas pudesse escutá-los, não seria
possível identificar cada um dos grupos a que pertencem pela forma que se comunicam? 1
Por fim, a antropologia cultural (social) é caracterizada pela compreensão da maneira
como os homens vivem em diferentes sociedades e culturas, sendo que estas culturas

Universidade São Francisco


podem ser definidas como um código pelo qual os seres humanos estudam, pensam e
modificam a sociedade, com base em padrões de convívio que trazem particularidades
e diferenças entre as sociedades.

Desta forma, estes quatro campos de estudo antropológicos trazem elementos que
permitem o entendimento da realidade, dos anseios e das expectativas da sociedade
em que estamos inseridos, bem como são capazes de mostrar as transformações que
ocorreram nela ao longo do tempo.

1.3. RECENTES TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E


ANTROPOLÓGICAS
Há diversas transformações socioeconômicas e antropológicas que ocorreram no Brasil
e no mundo nos últimos anos. Dentre elas, podemos destacar: o novo status da pobre-
za e suas causas estruturais, a formação de grupos que buscam voz na sociedade e o
mindset sustentável. Vamos entendê-las?

™ O Novo Status Da Pobreza E Suas Causas Estruturais

A pobreza é um assunto que simplesmente persiste no Brasil (e em muitos lugares do


mundo). Em nosso país, certamente, passamos por períodos de diminuição da pobreza
(alguns mais robustos outros mais tímidos), mas é indubitável que este assunto ainda
necessita de muitos avanços.

O interessante a se notar é que a pobreza, de acordo com Pereira (2007), pode ser vista
de várias maneiras, como: a) falta, ausência, carência e insuficiência de renda (devido
à baixa renda, as pessoas enfrentam situações de ausência de alimentação adequada
e de bens materiais básicos); b) demanda assistencial (como quem está na situação de
pobreza não tem condições por si só de atender a todas as suas necessidades, preci-
sará de algum tipo de assistência para supri-las); c) privação de capacidades (a situa-
ção de pobreza limita as pessoas a acessarem oportunidades econômicas, liberdades
políticas e condições habilitadoras (que estão relacionadas à boa saúde e educação
de qualidade); d) exclusão social (a pobreza também está relacionada a aspectos mais
subjetivos que geram sentimentos de rejeição, perda de identidade e ruptura de laços
culturais e de sociabilidade); e) vulnerabilidade social (uma condição que dificulta a
pessoa em estado de pobreza a sair dele, por conta do desemprego estrutural e das
diversas formas de precarização do trabalho (como o aumento da informalidade) que
geram pessoas descartáveis, refugadas para as novas exigências da modernização do
mercado de trabalho.

É claro que a fome, o desemprego e a falta de crescimento econômico são fatores


essenciais e determinantes para a pobreza. No entanto, percebe-se que a pobreza

Empreendedorismo Social 9
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

contemporânea não pode mais ser tratada apenas como uma questão material (de
renda), desconsiderando-se outros aspectos importantes (PEREIRA, 2007). “A pobreza
que constitui uma questão histórica, assume novas dimensões, constituindo o foco das
1 problemáticas sociais contemporâneas” (PEREIRA, 2007, p. 8).
[...] a pobreza, hoje, amplia-se, rompendo fronteiras sociais entre grupos,
atingindo segmentos antes tidos como integrados socialmente. É uma po-
breza que se articula com a vulnerabilidade do trabalho, ou seja, ser pobre
implica em uma inserção precária excludente no mundo do trabalho sem
conseguir garantir condições efetivas de inclusão na vida social. (PEREIRA,
2007, p. 8)

Dessa forma, é importante entender que a batalha contra a pobreza deverá passar
por uma mudança radical pautada na educação e inclusão tecnológica. Se alguns
anos atrás, a inserção ao mundo do trabalho era uma dificuldade para uma grande
camada da população (por conta dos elevados níveis de desemprego), atualmente,
esta inclusão é ainda mais complexa. Apesar de, em vários momentos, o desemprego
permanecer alto, muitos empregos gerados na atual sociedade moderna exigem uma
formação educacional e tecnológica para acompanhar esta revolução vista no mun-
do. A Internet das Coisas (IoT), a Inteligência Artificial, a automatização, o blockchain
e muitas outras tecnologias que aparecerão no futuro não são aprendidos no dia a
dia de um indivíduo, necessitando de um ensinamento formal, que só acontece com
inclusão educacional.

Assim, inovação, tecnologia e educação serão fundamentais para qualquer país (in-
clusive, o Brasil) enfrentar a pobreza de sua população (que ganhou um status mais
complexo para que seja combatida), trazendo, novamente, a possibilidade de uma real
inserção social de boa parte dos cidadãos da nação.

™ A Formação De Grupos (Comunidades) Que Buscam Voz Na Sociedade

Provavelmente, você já ouviu alguma história de sua avó/bisavó que dizia que as pes-
soas da vizinhança colocavam as cadeiras na calçada e ficavam conversando sobre
assuntos aleatórios. Atualmente, isso já não acontece mais (é até difícil as pessoas sa-
berem o nome de mais do que cinco pessoas que moram na mesma rua ou no mesmo
prédio delas). Mas, afinal, o que aconteceu para esta transformação tão drástica, em
poucos anos?

Aparentemente, fatores como: a falta de segurança, a violência, a poluição, o sistema


de transporte ineficiente (que obriga as pessoas a saírem muito cedo e a retornarem
muito tarde para os seus lares), o subemprego, a deterioração dos espaços urbanos,
o isolamento social causado pela pandemia do Coronavírus, e até a falta de moradia
acabam por trazer uma privatização da vida coletiva caracterizada por segregação,
evitação de contatos pessoais e confinamento (MAGNANI, 1998).

Além destes aspectos mais relacionados com a própria infraestrutura das cidades, tal
distanciamento das pessoas também se deve ao crescimento da internet e das Redes
Sociais, que passaram a preencher um espaço na sociabilização delas, transformando-
-a em algo mais virtual do que físico.

10
Como já visto anteriormente, as pessoas são seres sociais, que precisam se relacionar
com outras. Desta forma, essas transformações da sociedade são refletidas em mudan-
ças antropológicas, com o fortalecimento da cultura de grupos (comunidades) que têm
o mesmo objetivo, ideais, gostos e anseios (alguns formados em escassos encontros 1
face a face, outros, em sua maioria, formado nas Redes Sociais).

Universidade São Francisco


EXEMPLO
Dois exemplos podem mostrar este fortalecimento da cultura de grupos que acabam se en-
contrando presencialmente: 1- atualmente, diversas vezes, a ida ao banco por parte dos
mais idosos é muito mais um programa de lazer do que de obrigação, onde eles aproveitam
para conversar, tomar um cafezinho (enfim, socializar); e 2- alguns eventos culturais como a
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, principalmente durante os “rituais das filas”,
transformam-se em ocasiões de aproximação de pessoas e socialização genuína por conta
dos gostos comuns (ALMEIDA, 1995 apud MAGNANI, 1998).

Em termos virtuais, as pessoas se aproximam nas redes sociais por conta de gostos si-
milares e posições/opiniões parecidas que possuem. Há grupos (comunidades) forma-
dos por várias questões comuns: time do coração; posicionamento político e religioso;
aspectos raciais e de gênero etc. Todos eles defendem seus interesses, clamam por
igualdade, espaço social, voz e justiça.

No entanto, recentemente, dentro destes diversos grupos (comunidades) anta-


gônicos, também se percebe uma intolerância aos demais, que, muitas vezes,
acaba em debates violentos e agressivos na internet, que são refletidos na própria
sociedade. Dessa forma, apesar daquela experiência das cadeiras nas ruas não
ter desaparecido, mas apenas ter sido transformada em milhares de formas e
arranjos (MAGNANI, 1998), isso fez com que os grupos (comunidades) culturais
ainda estejam entendendo os seus espaços, em um processo de nova construção
da chamada sociedade contemporânea.

™ O Mindset (Mentalidade) Sustentável

Há alguns anos, as pessoas e as empresas demonstram preocupações relacionadas


com a preservação ambiental. No entanto, a maioria destas discussões permanecia no
campo teórico e diplomático, tendo pouca ação prática por parte dos indivíduos. Mas,
parece que isso está mudando.

Diversas pesquisas (no Brasil e no mundo) mostraram que o isolamento social causado
pelo Coronavírus parece ter feito as pessoas e as empresas se preocuparem ainda
mais com a sustentabilidade, indicando que elas estão dispostas a mudar seus hábitos
para minimizarem os problemas ambientais.

O planejamento sustentável das cidades, o consumo mais consciente, a produção que


gere menos poluição e desperdício, as energias mais limpas, a reciclagem de lixo, o
desperdício de alimentos, os materiais biodegradáveis, a educação ambiental e o uso
consciente da água são assuntos cada vez mais debatidos e defendidos em conversas

Empreendedorismo Social 11
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

informais e rodas de negócios, mostrando que a mentalidade (mindset) ambiental é algo


que se instalou na forma de pensar e agir da humanidade.

Sim, neste campo, muitos avanços ainda precisam ser conquistados. No entanto, agen-
1
tes públicos e privados passaram a fortalecer o pensamento crítico relacionado com
a sustentabilidade ambiental, percebendo-se como parte responsável do problema e
ressignificando seus conceitos, hábitos e expectativas.

1.4. A PRODUÇÃO ANTROPOLÓGICA SUBSIDIANDO A ELABORAÇÃO


DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Nesse momento, você pode estar se perguntando: como usar essas transformações
socioeconômicas e antropológicas para a construção de uma sociedade mais equilibra-
da e justa? Bem, todas estas mudanças fornecem dados, informações e aprendizados
para a compreensão e tradução de códigos culturais diversos, além do respeito à dife-
rença cultural (FELDMAN-BIANCO, 2011). Isso acaba por trazer uma visão mais preci-
sa do que está acontecendo na sociedade, subsidiando (alimentando com informações)
a elaboração, de forma mais assertiva, de políticas governamentais para segmentos e
grupos em situação de desvantagem e risco social (FELDMAN-BIANCO, 2011).

Cabe destacar que esse movimento em direção à melhora nas condições da sociedade
não é feito apenas pela iniciativa pública, já que empreendedores sociais e parcerias
público-privadas estão ganhando cada vez mais relevância no nosso país, realizando
ações que trazem mais humanidade e pessoalidade às relações de mercado, contri-
buindo para o desenvolvimento do país.

CONCLUSÃO
Neste capítulo, percebeu-se que os seres humanos e as sociedades a que perten-
cem estão em constante transformação. Problemas socioeconômicos e antropológi-
cos, recentes ou de longa data, pelos quais o Brasil enfrenta precisam de um olhar
atento por parte da iniciativa governamental para que as políticas públicas alcancem
bons resultados na minimização das desigualdades e injustiças. No entanto, esta
batalha vem ganhando novos atores privados que, através do empreendedorismo
social e parcerias público-privadas, também buscam uma melhora nas condições de
vida das pessoas.

12
Figura 01. Transformação na sociedade e Políticas Públicas

Problemas
socioeconômicos,
antropológicos,
ambientais... 1

Políticas
Públicas

Universidade São Francisco


Objetivos das Ciclo das
Políticas Políticas
Públicas Públicas

Distributivos 1. Entender o que


(destinados a um originou o problema
grupo específico) público
2. Buscar soluções e
Redistributivos alternativas ao problema
(promover o
3. Entender o motivo de
bem-estar social)
tais soluções não terem
Constitutivos sido implementadas 4. Analisar os obstáculos
(funcionamento existentes para a
das políticas efetivação de certas
públicas) medidas
5. Analisar possíveis
Regulatórios
resultados
(regras e organiza-
ção da sociedade) 6. Avaliar os impactos da
política pública
7. Ajustar a política
pública atual e
vislumbrar novas

Fonte: adaptada de Medeiros (2013, [n.p.]) e Lenzi ([s.d.], [n.p.]).

DICAS
Atualmente, é muito comum que as pessoas se agrupem em comunidades nas Redes So-
ciais para emitirem suas opiniões e atacarem aqueles que têm uma posição contrária à de-
las. Esse suposto “anonimato” sentido na internet torna as pessoas mais corajosas para:
distribuírem fakenews, atuarem como militantes cibernéticos e serem propagadores de ódio
e intolerância. Tal recente transformação antropológica pode ser conferida no filme “Rede de
Ódio” que aborda estes assuntos e outros que tratam da influência que as Redes Sociais têm
na vida das pessoas.
Rede de ódio. Direção de Jan Komasa. Los gatos: Netflix, 2020. (136 min.).

SAIBA MAIS
O artigo “A antropologia hoje”, de Bela Feldman-Bianco, mostra a crescente relação entre a
antropologia e a formulação de políticas públicas, trazendo exemplos reais desta aproxima-
ção que aconteceram no Brasil.
FELDMAN-BIANCO, Bela. A antropologia hoje. Revista Ciência e Cultura, São Paulo, vol.
63, n. 2, abr. 2011.

Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-


d=S0009-67252011000200002. Acesso em: 09 ago. 2022.

Empreendedorismo Social 13
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

SAIBA MAIS

1 Alguns anos atrás, a Prefeitura da cidade de Campinas, interior do estado de São Paulo,
criou um link dentro do seu site que permite que cidadãos, empresas e ONGs (Organizações
Não Governamentais) cadastrem ações e projetos na área de sustentabilidade. O objetivo
desta iniciativa é conhecer a realidade ambiental da cidade para que, a partir destas informa-
ções, sejam propostas políticas públicas de incentivo às atividades sustentáveis. Isso mostra
que cada vez mais, o mindset sustentável ganha espaço entre as pessoas, as empresas e
o governo, elevando a preocupação com a preservação ambiental a um novo patamar, em
que todos (cidadãos, setor produtivo e órgãos públicos), numa conscientização conjunta, se
percebem como atores realmente responsáveis pelo cuidado com as questões ambientais.

Fonte: BRITO, Manoel. Hotsite da Prefeitura fará cadastros de projetos sustentáveis. Portal
da Prefeitura de Campinas, Campinas, 1 mar. 2013.

Disponível em: https://portal.campinas.sp.gov.br/noticia/17731. Acesso em: 10 ago. 2022.

2. CENÁRIO SOCIOECONÔMICO BRASILEIRO E O


SURGIMENTO DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Neste capítulo, serão expostas algumas importantes questões sobre o empreendedo-
rismo social, com destaque para a forma híbrida que ele tem de agregar valor para a
sociedade, além de procurar estabelecer uma contextualização histórica sobre como os
empreendimentos sociais entraram e ganharam espaço no Brasil e quais são as expec-
tativas para eles no futuro próximo.

2.1. O QUE É EMPREENDEDORISMO SOCIAL?


Normalmente, ligamos o governo, enquanto instituição (agente econômico), às ques-
tões sociais e coletivas. Sim, vemos o governo como um ator que tem a responsabilida-
de constitucional de diminuir as mazelas e as desigualdades socioeconômicas do país.
Por outro lado, associamos as empresas privadas às questões mais individuais, onde
os empresários estão em constante busca da maximização dos seus próprios lucros,
sem se importar tanto com a situação da sociedade à sua volta.

No entanto, essa percepção sobre as empresas parece estar tomando um rumo di-
ferente, traçado pelos empreendedores sociais. Se você é uma pessoa que gosta de
acompanhar as novidades que acontecem no Brasil e no mundo, certamente, já ouviu
falar sobre os empreendimentos sociais. Mas, afinal, você sabe o que é o empreende-
dorismo social?

Apesar de não haver uma única definição para o termo “empreendedorismo social”, boa
parte dos autores que versa sobre este assunto acaba por trazer uma visão parecida
sobre o tema. Vamos a elas? De acordo com Marins (2018 apud SILVA E SILVA, 2019),
o empreendedorismo social está relacionado com empresas que aproximam os objeti-
vos buscados pelos empresários privados, tendo como missão institucional a diminui-

14
ção de problemas socioeconômicos, antropológicos e ambientais. Já para Barki (2015,
apud SILVA E SILVA, 2019), o empreendedorismo social é um modelo de organização
híbrido, que combina competências do setor privado com os conhecimentos de gestão
social, fornecendo soluções para problemas sociais e/ou ambientais para populações 1
de baixa renda, gerando lucros de forma sustentável, podendo, inclusive, fazer distribui-
ção de dividendos aos seus associados. Seguindo nesse mesmo sentido, Silva e Silva
(2019) diz que o empreendedorismo social compreende iniciativas empresariais com

Universidade São Francisco


fins lucrativos capazes de solucionar ou amenizar os problemas sociais e ambientais,
trazendo benefícios para a comunidade local e global.

Nesse ponto, é importante que você entenda que a missão de um empreendimento


social (ou seja, a sua razão/propósito de existir) está atrelada a melhorias e benesses
socioeconômicas, ambientais e antropológicas, não estando guiada, única e exclusi-
vamente, ao lucro (retorno financeiro). Dessa forma, de acordo com Dees (2001) apud
Silva e Silva (2019), apresentar lucro e atender as necessidades dos clientes faz parte
do modelo de gestão dos empreendedores sociais, mas como um meio para o atendi-
mento de um objetivo social mais amplo, que norteia todas as decisões da organização.

Com estas definições, percebe-se que os empreendedores sociais, diferentemente das


organizações que não visam lucro (como as ONGs – Organizações Não Governamen-
tais, por exemplo), são autossustentáveis, ou seja, eles produzem mercadorias ou fa-
zem a prestação de algum serviço e assumem os riscos econômicos como qualquer
empresa privada, podendo, inclusive, decretar falência (ANASTÁCIO; CRUZ FILGO;
MARINS, 2018 apud SILVA E SILVA, 2019). Geralmente, os empreendedores sociais
exploram todas as opções de levantamento de recursos financeiros, desde doações
até operações produtivas e comerciais (DEES, 2001 apud SILVA E SILVA, 2019), e, se
apresentarem lucro, este é reinvestido em sua missão social.

IMPORTANTE
O enfoque do empreendedorismo social está no impacto socioeconômico, antropológico e
ambiental que ele causa, sendo que o lucro é um meio para alcançar a missão organizacio-
nal, tanto que o empreendedor social adota critérios de avaliação de desempenho que levam
em consideração tais impactos não financeiros (SILVA E SILVA, 2019).

2.2. O CENÁRIO SOCIOECONÔMICO BRASILEIRO EM QUE O


EMPREENDEDORISMO SOCIAL SURGIU
A preocupação com os mais necessitados, a inclusão de pessoas e a preocupação com
o meio ambiente são práticas que acontecem há muitos anos no Brasil e no mundo. Na
Bíblia, por exemplo, há diversos relatos do cuidado que todos devem ter com as viúvas,
órfãos e oprimidos. As igrejas, por séculos, fazem ações para amenizar o sofrimento de
pessoas socialmente vulneráveis. Movimentos de preservação ambiental ganharam es-
paço e voz na sociedade, a partir da década de 1960. Gandi, Madre Teresa de Calcutá,
Martin Luther King e, mais recentemente, os brasileiros Herbert José de Souza (mais
conhecido como Betinho) e Chico Mendes são alguns exemplos de pessoas que se
tornaram ícones na questão da atenção às questões sociais e ambientais.

Empreendedorismo Social 15
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

Apesar dessas diversas práticas voltadas à preocupação social existirem há séculos, as


primeiras experiências do Empreendedorismo Social (como conhecemos atualmente)
surgiram nos Estados Unidos e Europa, na década de 1960 (LIMEIRA, 2015). Depois
1 disso, elas começaram a ser disseminadas em todo o mundo, merecendo destaque a
fundação do Grameen Bank, em 1983, por Muhammad Yunus (ganhador do Nobel da
Paz no ano de 2006) e a criação da Ashoka, por Bill Drayton, em 1980.

CURIOSIDADE
O Grameen Bank, fundado por Muhammad Yunus, foi o primeiro banco do mundo especiali-
zado em microcrédito. Em 1976, Yunus emprestou 46 dólares a 42 mulheres de Bangladesh
(pobre país asiático) que viviam em condição de extrema miséria, para que elas pudessem
pagar suas dívidas com agiotas e iniciar pequenos negócios (que acabaram por transformar
a realidade daquelas pessoas). Com essa experiência, Yunus decidiu fundar o Grameen
Bank, em 1983, com a finalidade de emprestar pequenas quantias de dinheiro para pessoas
(que não teriam acesso a empréstimos em bancos tradicionais), majoritariamente mulheres,
que investiriam os recursos, obrigatoriamente, em pequenos empreendimentos produtivos e
comerciais. O modelo de negócio foi um sucesso e ajudou muitas pessoas a superarem suas
difíceis condições de pobreza.

SAIBA MAIS
Para conhecer um pouco mais sobre a história de Yunus Muhammad, assista à entrevista
que ele concedeu a uma jornalista brasileira, para que você entenda como ele conseguiu
transformar a realidade social de milhares de pessoas ao redor do mundo, através do empre-
endedorismo social.

WILLIAN GIL. MuhhamadYunus, o banqueiro dos pobres.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QvzOnXektmw&t=34s. Acesso em:


17 ago. 2022.

CURIOSIDADE
A Ashoka é uma organização presente em diversos países, inclusive no Brasil, que presta
ajuda especializada aos empreendedores sociais, que, ao fazerem parte da rede Ashoka,
passam a receber conselhos estratégicos, colaboração, intercâmbio de informações, habili-
dades, visibilidade, investimento e networking para desenvolverem suas atividades de trans-
formação social e ambiental. No mundo, há mais de 3.500 empreendedores sociais que
fazem parte da Ashoka.

No caso brasileiro, o empreendedorismo social começa a aparecer na década de 1980,


ganhando mais força a partir da década de 1990, como uma resposta às desigualdades
socioeconômicas e à maior preocupação com a preservação ambiental. A Constituição
Federal de 1988 promulgou aspectos bastante relevantes para o empreendedorismo

16
social, enfatizando a importância de se ter uma sociedade justa, solidária e livre, bem
como destacou o princípio da defesa do meio ambiente. Nossa Carta Magna, portanto,
trouxe as bases em que o Empreendedorismo Social atua, estimulando o aparecimento
de negócios sociais no país. 1
Pode-se afirmar também que a Eco-92 (conhecida como Rio-92), primeira Conferência
mundial (organizada pelas Nações Unidas) para debater aspectos diplomáticos, cientí-

Universidade São Francisco


ficos, econômicos e políticos relacionados ao meio ambiente, por ter acontecido dentro
do Brasil, foi um marco para o país no que diz respeito à seriedade que o assunto pas-
sou a ser tratado pela sociedade, governo e empreendedores sociais.

O surgimento e o fortalecimento do Empreendedorismo Social no Brasil também acon-


teceram pelo nosso cenário socioeconômico da época (que ainda persiste nos dias
atuais), já que o desemprego, a desigualdade social, a violência de gênero, a miséria,
o analfabetismo, a poluição e todas as consequências dessas problemáticas se faziam
muito presentes na vida dos brasileiros (SILVA E SILVA, 2019). No Brasil, a década de
1980 ficou conhecida pelos economistas como “Década Perdida” porque o PIB ficou
estagnado e houve altíssima inflação e crescimento da dívida pública. Isso trouxe um
cenário econômico difícil que gerou desemprego, informalidade no mercado de traba-
lho, crescimento da desigualdade e elevação dos níveis de pobreza (houve amplia-
ção do percentual de pessoas com rendimento inferior ao salário-mínimo) (OMETTO;
FURTUOSO; SILVA, 1995). Muito dessa situação (que acabou sendo levada também
para a década de 1990) aconteceu porque o governo não tinha condições financeiras
para fazer investimentos em políticas econômicas e sociais que minimizassem essas
mazelas. Assim, como o governo não dava conta dessa demanda socioeconômica, os
empreendedores sociais aparecem dando apoio e complementos às (insuficientes) po-
líticas governamentais, passando a atuar em diversas áreas que abrangiam questões:
sociais, culturais, de gênero, etárias (crianças, jovens e adultos), de saúde, de habita-
ção, de educação, de gestão ambiental, de inclusão financeira, tecnológicas etc.

2.3. O CONCEITO DE CADEIA HÍBRIDA DE VALOR


Um peixe não existe sem a água, uma árvore não existe sem o solo, um governo não
existe sem uma sociedade. Essa forma de compreensão do impacto do cenário (ecos-
sistema) sobre qualquer elemento orgânico ou inorgânico também pode ser levada para
o funcionamento dos empreendimentos sociais, já que, assim como qualquer agente
econômico (governo, empresas, pessoas físicas e outros países), os empreendedores
sociais estão inseridos em um ambiente político, econômico, social e cultural em que os
diversos atores se relacionam, possibilitando que muitas iniciativas sejam desenvolvi-
das a partir destes relacionamentos (LIMEIRA, 2015).

De acordo com Silva e Silva (2019), o empreendedorismo social pode ser considerado
uma forma de ação entre os três setores (público, privado e sociedade civil). Isso faz
com que os empreendimentos sociais sejam considerados como organizações híbridas,
que operam em ambientes desafiadores (BILLIS, 2010 apud LIMEIRA, 2015).

Empreendedorismo Social 17
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

GLOSSÁRIO

1 O termo “híbrido” é muito associado às espécies animais ou vegetais e também é usado no


setor automobilístico. Na biologia, ele aparece quando um ser vivo é formado a partir do cru-
zamento de duas espécies diferentes como, por exemplo: o ligre (animal que surge do cruza-
mento de um leão com uma tigresa), a mula (que advém do cruzamento de um jumento com
uma égua) e o zebralo (animal que nasce do cruzamento de uma zebra com um cavalo). Já
na área automobilística, o hibridismo aparece para designar automóveis que podem utilizar
mais de uma fonte de energia para o seu funcionamento, ou seja, carros que, ao mesmo tem-
po, possuem um motor elétrico e um motor a combustão (movido a gasolina, por exemplo).

Quando associada ao empreendedorismo social, a palavra “híbrida” se refere às caracterís-


ticas diversificadas que estes empreendimentos possuem, já que visam o lucro (assim como
empresas privadas), mas, ao mesmo tempo, têm preocupações sociais (assim como o setor
público e as organizações sem fins lucrativos, como as ONGs).

De acordo com Williamson (1991 apud LIMEIRA, 2015), os empreendimentos híbridos


(como os sociais) estruturam seus negócios com base em acordos com outras orga-
nizações, compartilhamento de capital, tecnologia e serviço. Tudo isso faz parte de
uma cadeia híbrida de valor que “[...] designa um modelo de negócios que fomenta os
ativos e as competências das empresas e dos empreendedores sociais para gerar im-
pacto socioambiental e econômico em larga escala e com maior eficiência econômica”
(DRAYTON; BUDINICHI, 2008 apud LIMEIRA, 2015, p. 9).

GLOSSÁRIO
O conceito “cadeia de valor” representa todas as atividades necessárias para o desenvol-
vimento, a produção, a comercialização, a entrega e o suporte de bens e serviços que são
realizadas por diferentes empresas que colaboram entre si, direta ou indiretamente, para ge-
rar valor a todos os envolvidos no processo (fornecedores, clientes, funcionários, instituições
governamentais etc.) (PORTER, 1985 apud LIMEIRA, 2015).

É importante que você perceba que a cadeia híbrida de valor, que está embutida no
modelo de negócio dos empreendedores sociais, vai além de uma relação cliente-for-
necedor, já que adota práticas de gestão colaborativa entre empresas tradicionais e
sociais, permitindo vantagens complementares como: escala, know-how em diversas
áreas, conexão e parcerias com redes sociais, clientes e comunidades em todo o mun-
do (LIMEIRA, 2015).

Esses benefícios advindos da cadeia híbrida de valor são especialmente importantes


para os empreendedores sociais, já que a missão deles é minimizar as mazelas socio-
econômicas, antropológicas e ambientais. Assim, quanto mais gente for positivamente
impactada por uma empresa social (ou seja, quanto mais escala a ação do empreen-
dimento social alcançar), mais qualidade de vida será levada para uma comunidade,
um segmento social, uma sociedade ou um país. Dessa forma, objetivos conjuntos,

18
conscientização em massa e parcerias amplas entre diversos atores potencializam os
efeitos gerados pelo empreendedorismo social.

2.4. O BOOM DOS EMPREENDIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL E NO 1


MUNDO
Tanto se fala sobre o empreendedorismo social, mas será que ele já é tão relevante

Universidade São Francisco


no Brasil e no mundo? De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Schwab
(que é uma plataforma mundial que apoia e dissemina o empreendedorismo social
no planeta), mais de 620 milhões de pessoas já foram beneficiadas por ações de
empreendedores sociais, sendo que, desde os anos 2000, estas organizações ha-
viam conseguido reduzir a emissão de gás carbônico na atmosfera em mais de 192
milhões de toneladas – quantidade equivalente à poluição causada por cerca de 40
milhões de automóveis (ECOA, 2020). Em outro levantamento, realizado pela Aspen
Network of Development Entrepeneurs (Ande), há a indicação de que os negócios
sociais já movimentaram US$ 60 bilhões em todo o globo terrestre, com crescimento
anual de 7% (PEREIRA, 2020).

Os números brasileiros, apesar de crescentes ainda estão aquém de outras nações.


De acordo com um estudo, de 2017, feito pelo SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas) em parceria com o PNUD (Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento), nosso país tem mais de 800 empreendedores sociais, en-
quanto países como Reino Unido e Holanda (escolhidos apenas como base de compa-
ração) têm 68 mil e 5 mil empreendedores sociais, respectivamente.

Estes números (que já são expressivos) têm grande potencial de crescimento no Bra-
sil e no mundo, já que há diversas movimentações globais em torno da mitigação de
problemas socioambientais que ainda são muito presentes em vários países e comuni-
dades (SILVA E SILVA, 2019; PEREIRA, 2020). Essa onda crescente será ainda mais
fortalecida por novas tecnologias (internet das coisas, conectividade generalizada etc.)
que permitem uma cooperação humana sem fronteiras, gerando ampla difusão e inclu-
são social de pessoas excluídas em termos culturais, econômicos e sociais (ABRAMO-
VAY, 2014 apud SILVA E SILVA, 2019).

CONCLUSÃO
Neste capítulo, percebeu-se que os empreendimentos sociais, apesar de visarem o
lucro, têm uma missão socioambiental que guia todos os seus movimentos. Como o
Brasil enfrenta mazelas sociais, culturais e ambientais desde o seu descobrimento, o
empreendedorismo social encontrou terreno fértil em nosso território, ganhando força
a partir da elaboração da Constituição de 1988 e da realização da Rio-92. Os negócios
sociais são uma realidade no mundo todo, já tendo impactado a vida de centenas de
milhões de pessoas. No entanto, ainda há bastante espaço para o seu crescimento, já
que novas tecnologias e, principalmente, uma conscientização coletiva global da im-
portância da inclusão social, da redução de desigualdades e da preservação ambiental
estão estimulando novos empreendedores a seguirem os caminhos dos precursores
das empresas sociais.

Empreendedorismo Social 19
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

Figura 02. Diferenças entre os Empreendedores Privados, Sociais e ONGs

Meios para
1 Objetivo
Tipo atingir o
central
objetivo
Gerar lucro e Venda de bens e ser-
riqueza para os viços diversos que
Privados satisfaçam e fideli-
proprietários e
zem os clientes. São
investidores. autossustentáveis.

Resolver problemas Venda de bens e


socioambientais. serviços com
Podem ter lucro, propósitos
Empreendimentos Sociais mas eles são socioambientais. Até
reinvestidos no podem receber
propósito doações, mas são
socioambiental. autossustentáveis.

Não são
Resolver autossustentáveis.
Prestam serviços
problemas socioambientais
socioambientais. gratuitos com
ONGs Não possuem fins recursos advindos de
lucrativos. doações e apoios
financeiros.

Fonte: Adaptada de Pereira (2020, [n. p.]).

DICAS
Muitas vezes, o aparecimento de um empreendimento social está atrelado à criação de al-
guma inovação, que pode ser de um processo (mais produtivo, menos poluidor etc.) ou até
mesmo de algum produto. Em 2014, o lançamento do filme Slingshot, de Paul Lazarus, trou-
xe esse lado inovador dos empreendedores sociais, ao mostrar como a invenção de uma
máquina, capaz de reciclar qualquer tipo de água, poderia transformar a vida de milhões de
pessoas no mundo. O documentário retrata a cadeia híbrida de valor intrínseca ao empre-
endedorismo social, relatando a busca por parcerias para que a invenção pudesse ganhar
escala para ser economicamente viável.

SLINGSHOT. Direção de Paul Lazarus. Los Gatos: Netflix, 2014. (88 minutos).

20
SAIBA MAIS
O artigo “Economia Brasileira na década de oitenta e seus reflexos nas condições de vida 1
da população”, de Ana Maria H. Ometto, Furtuoso e Silva (1995), retrata a crise econômica
brasileira da década de 1980, a deterioração das contas públicas para a realização de polí-
ticas sociais e como as pessoas tentaram sobreviver diante deste cenário socioeconômico

Universidade São Francisco


bastante difícil.

OMETTO, Ana Maria H.; FURTUOSO, Maria Cristina O.; SILVA, Marina Vieira da. Economia
brasileira na década de oitenta e seus reflexos nas condições de vida da população. Revista
Saúde Pública, vol. 29, n. 5, Piracicaba, 1995. Departamento de Economia Doméstica da
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP).

Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/XRCdDpSndmxTY5J7wXz6tXn/?lang=pt#:~:-


text=A%20economia%20brasileira%20na%20d%C3%A9cada,indicadores%20sociais%20
apresentaram%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20positiva. Acesso em: 18 ago. 2022.

CASOS DE APLICAÇÃO
Quem poderia prever que uma viagem de férias poderia se transformar no marco para a
criação de uma das empresas sociais mais bem-sucedidas do mundo? Isso aconteceu com
Blake Mycoskie, empresário que viajou para a Argentina, em 2006, para aprender a jogar
polo a cavalo e se deparou com uma situação muito triste: inúmeras crianças que não tinham
condições financeiras sequer para comprar um par de calçados. Essa realidade acabou por
ser o estopim para Blake fundar, juntamente com Alejo Nitti, seu sócio, a TOM SHOES, em-
presa social (portanto, com fins lucrativos) com um novo modelo de negócios: a cada sapato
que a empresa vende, ela doa um par para jovens argentinos e de outros países que não
têm condições de adquiri-los. A ideia foi um sucesso, sendo que já foram doadas dezenas de
milhões de sapatos em mais de 70 países. Atualmente, outros produtos entraram no portfólio
da empresa (óculos, sacolas e até café), que foi parcialmente vendida (50% das cotas), em
2014, por US$ 300 milhões, para um fundo de investimentos (Bain Capital).

Fontes:

INSIDER EDITOR. Como a TomsShoes se tornou um sucesso de empreendedorismo so-


cial. Insider, [Online], 30 jan. 2021. Disponível em: https://blog.insiderstore.com.br/como-
-a-toms-shoes-se-tornou-um-sucessode-empreendedorismo-social/#:~:text=A%20hist%-
C3%B3ria%20da%20TOMS,ruas%20e%20com%20baix%C3%ADssimos%20recursos.
Acesso em: 21 ago. 2022.

TOMSShoes. Mundo Das Marcas, [Online],15 jun. 2015. Disponível em: https://mundodas-
marcas.blogspot.com/2015/06/toms-shoes.html#:~:text=A%20TOMS%20SHOES%2C%20
uma%20empresa,Canad%C3%A1%2C%20Holanda%20e%20Reino%20Unido. Acesso em:
21 ago. 2022.

Empreendedorismo Social 21
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

3. POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS


Ao longo deste capítulo procuraremos estabelecer o que são as políticas sociais e quais
1 seriam os envolvimentos do governo com elas. Para uma melhor compreensão, serão
apresentados aspectos históricos que estão diretamente relacionados ao sistema de
proteção social brasileiro. Por fim, o capítulo procura estabelecer as melhores formas
pelas quais as políticas sociais podem ser ajuntadas visando serem analisadas e im-
plementadas.

3.1. O QUE SÃO POLÍTICAS SOCIAIS


Muitas pessoas, ao ouvirem o termo “política”, já ficam chateadas, com raiva e aborreci-
das. Isso acontece porque, no Brasil, ele é associado a algo negativo, por conta do vas-
to histórico de ações reprováveis feitas por pessoas com cargos políticos. No entanto,
a etimologia da palavra “política” é muito ampla, advindo do grego “politea”, que definia
tudo o que tinha relação com a polis (cidade-estado) e com a vida em sociedade, sendo
usada, atualmente, como ato de governar, administrar (AZEVEDO et al., 2018).

Dessa forma, quando as empresas estabelecem normas para alinhar objetivos, elas fa-
zem políticas organizacionais; quando o governo administra algum assunto econômico
(taxa de câmbio, taxa de juros etc.), ele está fazendo política econômica; quando execu-
ta alguma ação com intuito de preservação ambiental, o governo faz política ambiental;
já quando ele direciona esforços às questões sociais, realiza política social.

Para focarmos um pouco mais no nosso objeto de estudo, Azevedo et al. (2018) afir-
mam que política social é aquela relacionada aos direitos de bem-estar social e à pos-
sibilidade de se ter um nível mínimo de consumo para toda a população, devendo ser
transversal e contemplar a totalidade da população para que haja o desenvolvimento
da comunidade e diminuição das desigualdades sociais. Já Iamamoto (2009 apud AZE-
VEDO et al., 2018) reforça que a política social visa agir sobre a questão social que é
expressa nas desigualdades econômicas, políticas e culturais, medidas pelas dispari-
dades nas relações de gênero, raciais, regionais etc. Dessa forma, percebe-se que as
políticas sociais são aquelas que se preocupam com a diminuição das desigualdades e
melhora na qualidade de vida da sociedade, voltando seus esforços para áreas como:
educação, transporte, saúde, previdência, saneamento básico, habitação etc.

A partir destas definições, neste momento, você pode estar se perguntando: as políticas
sociais são feitas para todas as pessoas? Em teoria, a resposta para esta pergunta se-
ria um “sim”, afinal qualquer brasileiro pode usar o transporte público, o Sistema Único
de Saúde, matricular seus filhos em escolas públicas, não é mesmo? No entanto, na
prática, cada vez mais tais políticas são executadas de maneira mais direcionada (políti-
cas de atendimento ao idoso, à infância, à mulher, ao negro, entre outros) (AZEVEDO et
al., 2018), descaracterizando sua função social mais ampla (VIEIRA, 2004 apud ROSA,
[s. d.]).

Assim, de acordo com Demo (1978 apud ZAMBELLO, 2016), é difícil se definir o al-
cance das políticas sociais pela pluralidade de ações e intervenções neste campo que,
ao longo dos anos, foram transitando entre diversas áreas; no entanto, é um consenso

22
dizer que as políticas sociais são feitas por ações que buscam uma dimensão assisten-
cialista de cobertura imediata. Ou seja, as políticas sociais são ações planejadas que
possuem um propósito bem definido, quando criadas: transformar, estrategicamente, a
realidade existente pelo enfrentamento de questões sociais (AZEVEDO et al., 2018). 1

3.2. FORMAS E TIPOS DE POLÍTICAS SOCIAIS: O ENVOLVIMENTO

Universidade São Francisco


DO ESTADO EM QUESTÕES SOCIAIS
Quando se trata de políticas sociais, uma pergunta muito comum de ser ouvida é se
elas são feitas apenas pelo governo. A resposta para este questionamento é que, ape-
sar de o governo ter a responsabilidade de criar políticas sociais para trazer garantias
mínimas à sociedade, elas não são exercidas exclusivamente por instituições públicas,
já que empresas privadas (como os empreendedores sociais, por exemplo) e Organi-
zações Não Governamentais (ONGs) também as executam, firmando ou não parcerias
com a iniciativa pública (AZEVEDO et al., 2018).

IMPORTANTE!
Na maioria dos países, as políticas sociais são um misto de uma política social pública e
privada (AZEVEDO et al., 2018). Essa dualidade público-privada ocorre de maneira que o
governo define quais áreas são direitos sociais, cabendo à iniciativa privada decidir de que
forma ela quer (ou não) participar destas ações de cunho social (AZEVEDO et al., 2018).

De acordo com Azevedo et al. (2018), para uma política social ser considerada gover-
namental, ela precisa ter sido criada e administrada pelo Estado, estando alinhada com
o desenvolvimento das políticas de governo, com o orçamento público, direcionamento
de verbas e tema de atuação direcionados para o bem comum do cidadão, sendo que
o ator que realiza tal administração é chamado de gestor público, que obtém recursos
por meio da cobrança de tributos (impostos, taxas e contribuições). Por outro lado, as
políticas sociais privadas buscam realizar serviços de cunho social com o menor custo
possível, contribuindo para a sociedade como um todo, mas visando também o desen-
volvimento da organização e o benefício dos proprietários, acionistas e funcionários, al-
cançado pelo atendimento das necessidades de seus clientes (AZEVEDO et al., 2018).

Empreendedorismo Social 23
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

Exemplo

1 Vimos que a administração da política social pública é feita totalmente pelo governo. No en-
tanto, a execução desta política pode ser feita por empresas privadas ou ONGs.

Um exemplo de política social pública executada 100% pelo governo são os hospitais públi-
cos, que recebem recursos governamentais para atenderem, gratuitamente, os pacientes.
Neste caso, médicos, equipamentos, medicamentos etc. são pagos e geridos totalmente pela
esfera governamental. Por outro lado, temos o transporte público como exemplo

de serviço social público executado por empresas privadas, que são contratadas (pagas)
pelo governo para disponibilizarem seus funcionários (motoristas, cobradores etc.) e seus
meios de transporte próprios (ônibus, por exemplo) para a locomoção dos cidadãos brasilei-
ros nos lugares geográficos para os quais foram contratados.

Agora, vamos focar nossa atenção para as políticas sociais públicas? Bem, o governo é
o único agente econômico que pensa e age, prioritariamente, de forma coletiva, ou seja,
que busca melhorar o bem-estar de todas as pessoas da sociedade. Família, empresa
e outros países, que são os demais agentes econômicos, de forma simplificada, agem
de maneira mais individual: a família (formada pelas pessoas físicas) busca, a princípio,
maximizar seu próprio bem-estar; a empresa visa, prioritariamente, a ampliação do seu
próprio lucro; e os outros países agem de forma a manterem suas empresas e famílias
com suas expectativas atendidas.

Este caráter intrinsecamente coletivo da esfera governamental faz com que as políti-
cas públicas sociais (de distribuição de renda, de combate à pobreza, de educação,
de saúde, habitacionais, previdenciárias etc.) tenham papel fundamental na diminuição
das desigualdades e na melhoria do bem-estar das pessoas. No entanto, a quantidade
e frequência de políticas sociais públicas dependerão do sistema político de cada país
(SENNE, 2017). Vamos entender isso melhor?

De acordo com Maigón (1998 apud SENNE, 2017), as formas com que o governo se
relaciona com a sociedade (inclusive, fazendo políticas sociais) podem ser divididas em
três: 1) liberal ou neoliberal (sistema em que as políticas sociais são definidas como
compensatórias e complementares às políticas econômicas, com base na ideia de que
o Estado é ineficiente e ineficaz, devendo ter uma menor interferência e participação
possíveis na economia; 2) neo-estruturalistas (modelo que considera as políticas so-
ciais como fortes determinantes do bem-estar social, reconhecendo o papel mais ativo e
prioritário do Estado na condução da economia, inclusive, na busca por maior equidade
social; e 3) economia social de mercado (sistema que objetiva combinar as premissas
dos dois modelos anteriores, reconhecendo que o foco ou sujeito das políticas sociais
deve ser o setor mais pobre da população, modificando a estrutura do gasto social,
tornando-o mais seletivo.

3.3. CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE O SISTEMA DE


PROTEÇÃO SOCIAL BRASILEIRO

24
Quando comparado a outros países, o Brasil é uma nação relativamente nova: temos
um pouco mais de 500 anos de história, sendo apenas 200 anos como nação indepen-
dente. Por esse motivo, as políticas sociais brasileiras também têm uma história não
tão extensa, que começa a ganhar forma a partir de 1930, já que, até os anos 30 do 1
século passado, a legislação do Brasil não tratava da questão social, pois aqueles que
não conseguiam alcançar destaque econômico sobreviviam sem nenhum tipo de auxílio
governamental (DRAIBE, 1989; SANTOS, 1979 apud ZAMBELLO, 2016).

Universidade São Francisco


Com o processo de industrialização do Brasil ocorrido a partir de 1930, surgem as pri-
meiras políticas sociais relacionadas: a benefícios previdenciários (ZAMBELLO, 2016),
trabalhistas e assistenciais; à atenção, à saúde; e à educação (com a expansão dos
ensinos fundamental e médio) (DRAIBE et al., 1991 apud IPEA, [s.d.]). Neste período,
também são consolidadas as leis trabalhistas. Tais conquistas sociais ainda não eram
massificadas e havia alguns tipos de categoria profissional que recebiam mais benefí-
cios do que outras, o que demonstrava que a questão social no Brasil apenas dava os
seus primeiros passos.

Com o início do governo militar, em 1964, houve uma reestruturação da forma como o
governo brasileiro administrava o país, desde aspectos políticos a econômicos, o que
acabou por trazer mudanças consideráveis no sistema de proteção social brasileiro,
que, com o objetivo de alcançar uma abrangência nacional, foi expandido por meio de
um aparelho governamental mais centralizado (IPEA, [s.d.]), que trouxe uma consolida-
ção das instituições que planejavam as políticas sociais, como o antigo INPS (Instituto
Nacional de Previdência Social) – hoje, transformado em INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social) – e o BNH (Banco Nacional da Habitação) (ZAMBELLO, 2016).

Apesar de ter incorporado um grande contingente de beneficiários, é importante desta-


car que as políticas sociais deste período tinham um caráter autossustentável, ou seja,
eram financiadas por recursos provenientes do mundo do trabalho e os benefícios man-
tinham proporcionalidade com o tempo de serviço e contribuição (IPEA, [s.d.]). Com
isso, as políticas sociais que pudessem corrigir as desigualdades e a pobreza, por meio
de políticas assistenciais e não contributivas, eram muito frágeis, já que o Estado ainda
não tinha responsabilidades constitucionais de garantir direitos sociais básicos a todos
os cidadãos, não importando se eles participassem (ou não) do processo de produção
(IPEA, [s.d.]).

No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, houve uma reversão do crescimento
econômico brasileiro, o que acabou por estrangular e quase parar o sistema de políticas
sociais (autossustentáveis) daquele período, já que as fontes de financiamento delas
enfrentavam queda drástica (por conta da ampliação do desemprego) (IPEA, [s.d.]).
Isso aconteceu exatamente em um momento em que as carências sociais foram am-
pliadas (em um cenário de queda do emprego e altíssima inflação), o que gerou pressão
dos movimentos sociais a favor da redemocratização e evidenciou o esgotamento do
sistema nacional de políticas sociais em vigor até então (IPEA, [s.d.]).

Este cenário político, econômico e social culminou no fim do governo militar e na pro-
mulgação da Constituição de 1988, que lançou as bases para uma expressiva mudança
da responsabilidade e da participação social do governo, que passou a ter que buscar

Empreendedorismo Social 25
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

objetivos tanto de equalização do acesso a oportunidades quanto de enfrentamento de


situações de pobreza, risco social e homogeneização de direitos (CASTRO; CARDOSO
JR, 2005 apud IPEA, [s.d.]).
1 Por intermédio da garantia dos direitos civis, sociais e políticos, a Constitui-
ção de 1988 buscaria construir uma sociedade livre, justa e solidária; erradi-
car a pobreza e a marginalização; reduzir as desigualdades sociais e regio-
nais; e promover o bem de todos sem preconceitos ou quaisquer formas de
discriminação. Para tanto, a nova Carta combinaria as garantias de direitos
com a ampliação do acesso da população a bens e serviços públicos. (IPEA,
[s.d.], p. 28)

Percebe-se que a Constituição de 1988 trouxe um redesenho para as políticas sociais


brasileiras afastando-as daquele modelo autossustentável e aproximando-as de uma
configuração mais voltada para todas as pessoas, além de trazer uma descentralização
da administração de tais políticas, com a transferência de recursos federais para esta-
dos e municípios.

Mesmo com estas alterações, as políticas sociais, ao longo da década de 1990, ficaram
estagnadas (ZAMBELLO, 2016), principalmente, por conta das ações governamentais
em favor da redução dos gastos públicos, necessários para o controle da alta inflação e
para a superação da crise internacional que foi apresentada ao mundo no final daquela
década. Cabe destacar que, neste período, a desaceleração dos gastos sociais só não
foi maior por conta da proteção jurídica contra cortes orçamentários em áreas como:
educação, saúde, seguro-desemprego e previdência social (CASTRO et al., 2008 apud
IPEA, [s.d.]).

A partir dos anos 2000, houve uma melhora na conjuntura econômica brasileira e mun-
dial, o que permitiu que uma visão governamental mais voltada ao lado social ganhasse
voz. Com isso, são fortalecidas políticas sociais garantidoras de itens necessários à
sobrevivência substancial, com o crescimento de ações governamentais: de transfe-
rência de renda, previdenciária, de reconhecimento cultural de minorias, de proteção
social etc. (ZAMBELLO, 2016). A partir deste período, as políticas sociais começam a
ser vistas pelo governo muito mais como investimentos capazes de promover o cresci-
mento econômico, ao invés de serem um peso orçamentário obrigatório (ZAMBELLO,
2016), fazendo com que os debates políticos a respeito do tema mudassem de caráter
e permanecessem nesta direção até os dias atuais.

EXEMPLO
Como exemplo de política social sendo vista como um investimento capaz de promover cres-
cimento econômico apresenta-se, de acordo com Zambello (2016), um estudo do IPEA, de
2011, que mostra que a cada R$ 1,00 (um real) investido em educação no Brasil, há o retorno
de R$ 1,85 (um real e oitenta e cinco centavos) no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

3.4 OS 4 EIXOS DO SISTEMA BRASILEIRO DE PROTEÇÃO SOCIAL


(SBPS)

26
Você já deve ter percebido que as políticas sociais feitas no Brasil abrangem muitas áre-
as: previdência; habitação; trabalho; saúde; assistências mais focadas de acordo com
gênero, etnia e grupos identitários; transferência de renda etc. (SENNE, 2017). Para
facilitar o entendimento de toda esta gama de políticas sociais brasileiras, podemos 1
agrupar o Sistema Brasileiro de Proteção Social (SBPS) em quatro eixos: 1) trabalho; 2)
assistência social, segurança alimentar e combate à pobreza; 3) cidadania social; e 4)
infraestrutura social. Vamos conhecê-los com mais detalhes?

Universidade São Francisco


GLOSSÁRIO
O SBPS é “[...] um conjunto de políticas sociais que se originam, se desenvolvem e se agru-
pam em quatro diferentes eixos estruturantes das políticas sociais” (SENNES, 2017, p. 3).

De acordo com Senne (2017), o eixo do trabalho é formado tanto pelo emprego assa-
lariado contributivo quanto pelo trabalho socialmente útil, mas não necessariamente
assalariado. Nesse eixo, aparecem as seguintes práticas sociais do governo:
[...] política previdenciária contributiva (assalariados do setor privado, fun-
cionários públicos estatutários e militares), política previdenciária parcial e
indiretamente contributiva (segurados especiais em regime de economia
familiar rural), políticas de proteção ao trabalhador assalariado formal (abo-
no salarial e seguro desemprego), políticas de proteção ao trabalhador em
geral (intermediação de mão-de-obra, qualificação profissional e concessão
de microcrédito produtivo popular) e políticas agrária e fundiária. (SENNE,
2017, p. 03)

Já no eixo da assistência social, segurança alimentar e combate à pobreza aparecem


as seguintes práticas sociais do governo: a política nacional de assistência social (o Be-
nefício de Prestação Continuada previsto na Lei Orgânica da Assistência Social (BPC
– LOAS)
[...] para idosos e pessoas portadoras de necessidades especiais, abaixo de
certa linha monetária de pobreza, programas e ações especiais para crian-
ças e jovens em situação de risco social), ações de segurança alimentar
(merenda escolar, ações emergenciais como a distribuição de cestas bási-
cas etc.), e ações de combate direto à pobreza. (SENNE, 2017, p. 03)

O Programa Fome Zero, o Programa Bolsa Família, o Auxílio Brasil e o Auxílio Emer-
gencial são (foram) exemplos de ações diretas de combate à pobreza.

Empreendedorismo Social 27
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

GLOSSÁRIO

1 ` O BPC-LOAS é um benefício social que garante um salário-mínimo por mês ao


idoso (ou seja, quem tem 65 anos de idade ou mais) ou aqueles com deficiências
(física, mental ou sensorial) que trazem impossibilidades de uma participação na
sociedade em condições iguais às outras pessoas (MINISTÉRIO DA CIDADA-
NIA, 2023).

` O Programa Fome Zero foi um conjunto de programas públicos sociais que ti-
nham como objetivo enfrentar as causas da fome e da insegurança alimentar,
com ações que iam desde ajuda financeira (como o Bolsa Família), até a cons-
trução de cisternas no Nordeste brasileiro, abertura de restaurantes populares e
instrução sobre hábitos alimentares.

` O Programa Bolsa Família fazia parte do Programa Fome Zero e consistia na


transferência de renda (ou seja, de dinheiro vivo) para famílias que se encaixa-
vam em alguns critérios impostos pelo governo (famílias com renda per capita
abaixo de determinado valor, que tinham gestantes e/ou crianças e adolescentes
(até 17 anos), que mantivessem determinada frequência escolar).

` O Programa Auxílio Brasil substituiu o Bolsa Família e consiste em uma transfe-


rência de renda destinada a famílias com um limite máximo de renda per capita,
tendo o objetivo de garantir uma renda básica a tais pessoas, com o intuito delas
terem autonomia para superarem suas situações de vulnerabilidade social.

` O Auxílio Emergencial foi um programa de transferência de renda que ocorreu


durante alguns meses, no início da pandemia do Coronavírus, que transferiu
dinheiro para trabalhadores informais, autônomos, desempregados e Microem-
preendedores Individuais (MEIs) para que eles enfrentassem a crise econômica
causada pela pandemia.

No eixo da cidadania social aparecem as seguintes práticas do governo: política na-


cional de saúde pública (organizada a partir do Sistema Único de Saúde – SUS); e a
política nacional para a educação (SENNE, 2017).

Por fim, no eixo da infraestrutura social aparecem as seguintes práticas governamen-


tais: políticas nacionais de habitação (inclusive as ações relacionadas ao urbanismo), e
saneamento básico (inclusive aquelas voltadas para a preservação do meio ambiente)
(SENNE, 2017).

CONCLUSÃO
Neste capítulo, percebeu-se o que são as políticas sociais, como elas podem ser agru-
padas em eixos (para que sejam mais bem analisadas e implementadas), bem como
a importância da participação governamental para cuidar das questões sociais, sendo
que as políticas sociais públicas dependem, ao longo da história, tanto do sistema de

28
governo (mais intervencionista ou menos intervencionista, neste aspecto) quanto do
cenário econômico enfrentado pelo Estado, que vão determinar suas prioridades de
governo.
Figura 03. Sistema Brasileiro de Proteção Social 1

Eixo Políticas

Universidade São Francisco


Política Previdenciária Contributiva
Política Previdenciária Parcial e Indiretamente Contributiva

Trabalho Política de Proteção ao Trabalhador Assalariado

Política de Proteção ao Trabalhador em Geral


Políticas Agrária e Fundiária
Assistência
Sistema Social, Política Nacional de Assistência Social
Brasileiro Segurança
de Prote- Alimentar e Política de Segurança Alimentar
Combate à
ção Social Pobreza Política de Combate à Pobreza
(SBPS)
Política Nacional de Saúde Pública
Cidadania
Social Política Nacional para a Educação

Infraestrutura Política Nacional de Habitação


Social
Política Nacional para o Saneamento Básico

Fonte: adaptado de Senne (2017, [n.p.]).

DICAS
O documentário brasileiro “Garapa”, do diretor José Padilha, acompanha a dura realidade de
três famílias cearenses no ano de 2009. A película documenta a seca e a fome daquelas fa-
mílias, mostrando o cotidiano delas ao longo de quatro semanas. A obra, além de mostrar as
mazelas sociais que ainda afetam milhões de pessoas no Brasil, evidência a importância de
um programa público federal de erradicação da fome (através de transferência de renda dire-
ta) para uma daquelas famílias, que só tinha água com açúcar (garapa) para disfarçar a fome.

Fonte: GARAPA. Direção de José Bastos Padilha. Rio de Janeiro: Downtown Filmes, 2009.

Empreendedorismo Social 29
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

SAIBA MAIS

1 Para entender a história das políticas sociais no território brasileiro, recomenda-se a leitura
do livro “Políticas sociais: acompanhamento e análise”, elaborado pela equipe técnica do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). O material traz a evolução das políticas
sociais brasileiras desde a década de 1930 até o início do século XXI, enfatizando as respon-
sabilidades sociais que ficaram a cargo da esfera pública, a partir da Constituição de 1988.

Fonte: IPEA. Políticas sociais: acompanhamento e análise. 2. ed.

Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4135/1/bps_17_introdu-


cao.pdf. Acesso em: 30 ago. 2022.

SAIBA MAIS
Atualmente, a administração pública está bastante descentralizada. Isso pode ser visto em
diversas áreas, inclusive, aquelas relacionadas às questões sociais. Em 2017, por exemplo,
o Ministério da Educação (portanto, um órgão federal) liberou R$ 3,8 milhões para a prefeitu-
ra de Bragança Paulista/SP construir uma nova unidade escolar no município. O repasse do
recurso aconteceu por meio do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação),
com o objetivo de melhor as condições do ensino público na cidade, além de trazer emprego
e renda para ela.

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Repasse de 4,6 milhões a Bra-


gança Paulista. Publicado em: 12 jun. 2017.

Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=379606. Acesso em: 02 set. 2022.

30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Rodrigo Luiz Simas. Antropologia sociocultural. 2015. Universidade Federal da Grande Dou-
rados, Dourados, 2015. Disponível em: https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/bitstream/prefix/3075/1/antropolo-
1
gia-sociocultural.pdf. Acesso em: 14 out. 2022.

ARNT, Ricardo. Múmias plebeias. Super Interessante, [Online], 31 mar. 1998. História. Disponível em: ht-

Universidade São Francisco


tps://super.abril.com.br/historia/mumias-plebeias/. Acesso em: 05 ago. 2022.

AZEVEDO, Vanessa Lucia Santos de. et al. Política Social. 2. ed. Porto Alegre: SAGAH, 2018.

IPEA. Políticas sociais: acompanhamento e análise. 2. ed. IPEA, [S. I.], [s.d.]. Disponível em: http://reposito-
rio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4135/1/bps_17_introducao.pdf. Acesso em: 30 ago. 2022.

BOAS, Franz. Antropologia cultural. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.

EMPREENDEDORISMO social impactou 622 milhões de pessoas em 20 anos. Ecoa Uol, [Online], 23 jan.
2020. Desigualdade. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/01/23/acoes-sociais-
-impactaram-622-milhoes-de-pessoas-em-20-anos-diz-relatorio.htm. Acesso em: 19 ago. 2022.

FELDMAN-BIANCO, Bela. A antropologia hoje. Revista Ciência e Cultura, São Paulo, vol. 63, n. 2, abr. 2011.
Disponível em http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252011000200002.
Acesso em: 09 ago. 2022.

GREELANE. O que é antropologia lingüística? Greenlane, [Online], 30 maio 2019. Disponível em: https://
www.greelane.com/pt/humanidades/ingl%C3%AAs/what-is-linguistic-anthropology-1691240. Acesso em: 05
ago. 2022.

LENZI, Tié. Políticas Públicas. Significados, [Online], [s.d.]. Disponível em: https://www.significados.com.br/
politicas-publicas/. Acesso em: 10 ago. 2022.

LIMEIRA, Tânia M. Vidigal. Empreendedorismo social no Brasil: estado da arte e desafios. São Paulo:
Inovação em Cidadania Empresarial, 2015. Disponível em: https://ice.org.br/wp-content/uploads/pdfs/Empre-
endedorismo_Social_no_Brasil_ICE_FGV.pdf. Acesso em: 17 ago. 2022.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Transformações na cultura urbana de grandes metrópoles. In: MOREI-
RA, Alberto da Silva (org.). Sociedade Global, Cultura e Religião. Petrópolis: Vozes, 1998. Disponível em:
https://nau.fflch.usp.br/sites/nau.fflch.usp.br/files/upload/paginas/transformacoes_cultura_urbana.pdf. Acesso
em: 09 ago. 2022.

MEDEIROS, Alexsandro M. Políticas Públicas. Sabedoria Política, [Online], 2013. Disponível em: https://
www.sabedoriapolitica.com.br/ci%C3%AAncia-politica/politicas-publicas/. Acesso em: 10 ago. 2022.

MINISTÉRIO DA CIDADANIA. Benefício de Prestação Continuada (BPC). Gov.br, [Online], 06 jan. 2023.
Disponível em: https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/assistencia-social/beneficios-assisten-
ciais/beneficio-assistencial-ao-idoso-e-a-pessoa-com-deficiencia-bpc. Acesso em: 01 fev. 2023.

Empreendedorismo Social 31
Brasil: Sociedade, Economia, Política e Empreendedorismo Social

OLIVEIRA, Edson Marques. Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas e desa-
fios – notas introdutórias. [s.n.], [S.I.], [s.d.]. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1143900/
mod_resource/content/1/Empreendedorismo%20social%20no%20Brasil%20_%20atual%20configura%-
1 -C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 12 ago. 2022.

OMETTO, Ana Maria H.; FURTUOSO, Maria Cristina O.; SILVA, Marina Vieira da. Economia brasileira na
década de oitenta e seus reflexos nas condições de vida da população. Revista Saúde Pública, vol. 29, n.
5, Piracicaba, 1995. Departamento de Economia Doméstica da Escola Superior de Agricultura Luiz de Quei-
roz (ESALQ/USP). Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/XRCdDpSndmxTY5J7wXz6tXn/?lang=pt#:~:-
text=A%20economia%20brasileira%20na%20d%C3%A9cada,indicadores%20sociais%20apresentaram%20
evolu%C3%A7%C3%A3o%20positiva. Acesso em: 18 ago. 2022.

PEREIRA, Maria de Fátima. As representações da pobreza sob a ótica dos “pobres” do Programa Bolsa
Família. 2007. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2007. Dis-
ponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/7740/1/2007-DIS-MFPEREIRA.pdf. Acesso em: 08 ago.
2022.

PEREIRA, Francine. Empreendedorismo social no Brasil e no mundo. A Economia B, [Online], 02 abr. 2020.
Tendências. Disponível em: https://www.aeconomiab.com/empreendedorismo-social-no-brasil-e-no-mundo/.
Acesso em: 19 ago. 2022.

PIANA, M. C. As políticas sociais no contexto brasileiro: natureza e desenvolvimento. São Paulo: Edito-
ra UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. Disponível em: https://books.scielo.org/id/vwc8g/pdf/pia-
na-9788579830389-02.pdf. Acesso em: 31 ago. 2022.

ROSA, K. M. da. Política social: a serviço de quem? [S.I.]: [s.n.], [s.d.]. Disponível em: https://ebooks.pucrs.
br/edipucrs/anais/sipinf/i/edicoes/I/22.pdf. Acesso em: 30 ago. 2022.

SENNE, A. de. Políticas sociais no Brasil: uma reflexão preliminar. TCC Graduação em Ciências Sociais
(Licenciatura). Universidade Federal de Santa Maria/RS – Centro de Ciências Sociais e Humanas, Curso de
Licenciatura em Ciências Sociais, Santa Maria-RS, 2017. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/bitstream/
handle/1/2634/senne_andressa_de.pdf?sequence=3&isAllowed=y. Acesso em: 29 ago. 2022.

SILVA E SILVA, Ricardo da. Empreendedorismo social. Porto Alegre: SAGAH, 2019.

ZAMBELLO, A. O que é política social? Revista Agenda Política, [S.I.], vol.4, n.1, janeiro/abril 2016. Dispo-
nível em: https://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/view/80. Acesso em: 30 ago.
2022.

32

Você também pode gostar