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Tópicos Especiais em

Serviço Social I –
Gerontologia Social
Tópicos Especiais em
Serviço Social I –
Gerontologia Social
Jairo da Luz Oliveira
Conselho Editorial EAD
Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) Andréa Eick
Mara Lúcia Machado André Loureiro Chaves
Astomiro Romais Cátia Duizith

Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que


é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer
meio ou forma sem a prévia autorização da Editora da ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº .610/98
e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.

Jairo da Luz Oliveira é assistente social, gerontólogo social, mestre e


doutor em Serviço Social, professor de graduação e pós-graduação –
presencial e na educação a distância – da Universidade Luterana do
Brasil (ULBRA).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

O48t Oliveira, Jairo da Luz.


Tópicos especiais em serviço social I : gerontologia social / Jairo da
Luz Oliveira. – Canoas : Ed. ULBRA, 2011.
128 p.

1. Gerontologia social. 2. Envelhecimento. 3. Assistente social.


4. Serviço social. I. Título.

CDU: 364.465

Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero - ULBRA/Canoas

ISBN 978-85-7528-406-3
Projeto Gráico: Humberto G. Schwert Dados técnicos do livro
Editoração: Rodrigo Saldanha de Abreu Fontes: Minion Pro, Oicina Sans
Capa: Juliano Dall’Agnol Papel: ofset 90g (miolo) e supremo 240g (capa)
Supervisão de Impressão Gráica: Edison Wolf Medidas: 15x22cm
Gráica da ULBRA
Setembro/2011
Sumário

Apresentação ............................................................. 7

1 | O envelhecimento humano ............................................ 9

2 | A Gerontologia.......................................................... 19

3 | Mitos e verdades sobre a terceira idade ......................... 29

4 | A família e o idoso .................................................... 39

5 | Aspectos legais aos direitos dos idosos ......................... 49

6 | Redes de proteção: sua importância na vida do idoso ...... 61

7 | A violência do preconceito contra o idoso no contexto


urbano: o idoso morador de rua, uma expressão da
questão social .......................................................... 77

8 | Uma análise sobre a realidade social do idoso no Brasil ... 91


9 | O trabalho do Serviço Social com as expressões
da questão social .....................................................103

10 | As instituições e o trabalho do Serviço Social


com grupos de terceira idade .....................................115
Apresentação
O presente livro representa a vontade de estudar e compreender um pouco
mais questões que envolvem o envelhecimento humano e o que isso representa
para a sociedade brasileira. Através deste estudo, serão desenvolvidos reflexões,
questionamentos e afirmações sobre o universo que envolve a vida do ser humano
na velhice. Em muitos momentos, sinalizamos a preocupação de como é difícil
envelhecer em um país onde os problemas sociais trazem, em si, as consequências
do abandono, da negligência. Pessoas que, no entardecer da vida, estão vivendo
condições de vulnerabilidade social até mesmo no seio familiar.
Estudar esta temática é de suma importância para compreendermos as
relações sociais, políticas, culturais e familiares que o tema desperta, na forma
como as pessoas vivem a terceira idade no cotidiano da vida em sociedade.
Esta realidade social não poderia ficar despercebida da formação em Serviço
Social, merecendo ser desvelada e problematizada no seu existir. Acreditamos
ser importante esclarecer ao leitor que esta produção literária está diretamente
implicada na prática profissional do assistente social, exigindo estudo e
pesquisa.
Nesse contexto, o interesse se desdobra em questionarmos: como está sendo
estabelecida a organização dos idosos que vivem nesta sociedade capitalista
que exclui, que abandona de forma perversa seus idosos? O presente estudo,
de maneira despretensiosa, procura questionar e dar algumas respostas a
estas indagações. As reflexões respaldam-se em autores do Serviço Social,
8 Apresentação

da Gerontologia Social e de outras disciplinas do conhecimento, que buscam


compreender a partir do trato teórico as contradições sociais vividas em nosso
cotidiano profissional. Da mesma forma, procurou-se refletir sobre questões
relacionadas a preconceito, crenças e mitos que envolvem a imagem do idoso.
Apresentam-se também narrativas importantes de profissionais assistentes sociais
que trabalham diretamente nas instituições que atendem idosos moradores de
rua que vivenciam um cotidiano marcado pelo abandono e exclusão, vivendo
em suas vidas as refrações da questão social. Nas falas dos assistentes sociais
percebemos o interesse que o tema requer, bem como a necessidade de se ampliar
um trabalho em rede para o atendimento destas demandas. Na sequência do
estudo, também apresentaremos narrativas dos idosos moradores de rua que
enfrentam um mar de dificuldades para sobreviverem nesta sociedade que
exclui, tornando esta situação uma expressão da questão social na sociedade
capitalista.
Por fim, gostaríamos de dizer que abordar a Gerontologia Social é algo que
merece seriedade, zelo, comprometimento e muita leitura. Sem dúvida, este livro
irá contribuir decisivamente para subsidiar conhecimentos aos acadêmicos e
profissionais para pensarem uma forma criativa de abordagem frente ao processo
acelerado de envelhecimento no Brasil.

Jairo da Luz Oliveira


1

O envelhecimento humano
Neste capítulo, apresentaremos uma reflexão sobre algumas considerações
amplas no que diz respeito ao processo do envelhecimento humano, buscaremos
realizar questionamentos e ponderações sobre as condições favoráveis de se
ter uma velhice com dignidade. As questões relacionadas à terceira idade têm
crescido em importância nos últimos anos, uma vez que o envelhecimento
da população é um fenômeno mundial, que traz relevantes repercussões nos
diversos setores da vida em sociedade.
Sabe-se que o Brasil enfrenta presentemente as consequências deste processo
do envelhecimento populacional, necessitando que estudos sejam formulados
para a compreensão deste fenômeno biológico, natural, com repercussões nos
âmbitos de assistência social, saúde, habitação, meio ambiente, na previdência
nacional, no espaço comunitário, e também no contexto da família, entre outros.
Entretanto, os recursos necessários para garantirmos uma qualidade de vida no
dia a dia destas pessoas hoje na terceira idade ficam muito a desejar. Recursos
financeiros, infraestrutura, medicação, lazer, cuidados especiais nas mais diversas
áreas já mencionadas acima não fazem parte de muitos brasileiros já nesta fase
da vida. Conforme estudos realizados sobre vencimentos por aposentadoria no
Brasil, estes apontam que:
10 O envelhecimento humano

A grande maioria dos aposentados pelo Instituto Nacional de


Seguridade Social (INSS) recebem valores baixos, que vão diminuindo
a cada ano, porque a atualização desses valores não corresponde à
inflação real. (BULLA e KAEFER, 2004, p.161)

Os investimentos do Estado, necessários para responder às demandas de


uma vida digna, são relativamente precários tanto quantitativamente quanto
qualitativamente. Necessitamos estar realmente questionando o papel do Estado,
da sociedade e da família para uma revisão de suas responsabilidades em relação
às condições de vida na terceira idade hoje.
O envelhecimento da população é um fato social natural, que merece ser
considerado, sendo importante almejar uma melhor qualidade de vida daqueles
que estão neste processo. O esforço de se tentar pensar alternativas diferenciadas
para se garantir felicidade e bem-estar ao ser humano, em especial ao homem e
à mulher envelhecidos ou em envelhecimento, torna-se o objetivo primeiro de
todos que estão comprometidos com a Gerontologia Social. Vejamos como os
processos socio-históricos foram sendo construídos ao longo dos anos.

1.1 O processo socio-histórico


do envelhecimento humano
À medida que os processos socio-históricos do desenvolvimento humano
vão se desenhando no livro do tempo da humanidade, os conceitos em torno da
realidade humana também vão sofrendo alterações. Aqui em particular temos
a realidade cronológica do tempo existencial do ser humano, cada período
histórico uma realidade diferente, cada tempo o seu período de maturação,
desenvolvimento e declínio conceitual. Ao nascer, o ser humano vivencia um
processo acelerado de desenvolvimento físico, mental e social com capacidades
múltiplas de criar e se desenvolver de forma criativa e com possibilidades de
liberdade no trato de sua vida.
O envelhecimento humano 11

Particularmente, o envelhecimento humano representa uma realidade


inexorável do existir humano, representa mais uma etapa a ser vivida com toda
a sua intensidade, e que também sofre uma interpretação conceitual cultural
de valor a partir do seu tempo histórico. O conceito sobre o envelhecimento
humano não poderia deixar de sofrer as mais diversas análises no seu modo de ser
percebido e sentido, sendo o mesmo conceituado nas mais diversas formas.
Nas sociedades antigas, a velhice atingia um estado de dignidade, sendo
os velhos considerados como sábios. Com o passar do tempo, com a evolução
das sociedades, e sobretudo com o advento da sociedade industrial, estes
conceitos foram se modificando, tornando o idoso um sujeito destituído
de suas capacidades de produção e reprodução da vida social. Paralelo ao
desenvolvimento da sociedade industrial, foi se construindo uma sociedade
mesclada por uma cultura, onde a força e o vigor eram preponderantes para o
seu desenvolvimento.
Com a consolidação dessa mesma sociedade industrial, estabeleceu-se uma
sociedade tecnológica focada junto aos mais jovens, onde o envelhecimento
passou a ser considerado com os aspectos da decadência física, mental e social
através de seu funcionamento não “adequado” a este fim, e seu confinamento
foi marcado por uma questão de abandono social. O idoso ficou apartado dos
espaços sociais mais amplos que nos vitalizam a vontade de viver de forma ativa,
reduzindo os idosos a uma condição absolutamente secundária.
Até meados do século XIX, o idoso era percebido como um sujeito respeitável
pela sua responsabilidade em transmitir oralmente os conhecimentos aos mais
jovens, garantindo à sociedade o arquivo da memória passada, a memória
histórica dos fatos, dos acontecimentos e do próprio conhecimento do ofício
familiar que a vida lhe oportunizou, sendo a ele outorgado o respeito do homem
e da mulher que possui sabedoria. Correia (2007) nos faz refletir a respeito
dos conceitos estabelecidos em torno do envelhecimento através dos tempos.
Vejamos o quadro abaixo, onde perceberemos as formas conceituais sobre a
condição de se viver a velhice nas sociedades antigas e atuais.
12 O envelhecimento humano

Sociedades antigas –
Sociedades atuais – “Ocidentais”
“Camponesas”
(cultura da produtividade)
(cultura da oralidade)
Processo de herança: transmissão do Processo de transmissão do saber
saber oralmente de geração em geração através da escolarização (escrita).
(oral).
Valorização do idoso pelo seu poder de Valorização da juventude pela sua força
sabedoria acumulado ao longo da vida. física, ação e símbolo de produtividade.
Respeito, responsabilidade, posição Improdutividade, dependência, velhice
importante. vista como doença social.
Valorização dos laços de parentesco. Perda dos laços familiares com a
institucionalização.
Autoridade dos idosos, por quem o ilho O patrimônio familiar é divido pelos
varão cuidava até a morte, herdava o ilhos, sob forma de partilhas.
patrimônio familiar.
Responsabilidade individual de cada Responsabilidade pública do
família em cuidar de seu idoso: função Estado, pela atribuição de reformas,
econômica, educativa de segurança institucionalização: função econômica,
social. educativa e de segurança social.
Gestão da velhice implica negociações Gestão da velhice através da mediação
pessoa a pessoa, entre família e meios anônima que age entre as gerações,
locais. num sistema de instituições e
agentes especializados em tratar do
envelhecimento.

Como vimos, os séculos XIX e XX oportunizaram mudanças negativas no


seu modo de ser, mas significativas no que se refere à forma de se perceber, sentir
e tratar as pessoas nesta fase da vida que merecem nossa atenção e estudos. É
na relação do tempo histórico no sentido que damos à vida do ser humano
que buscaremos constante o direito a uma qualidade de vida. Poderemos
considerar que, quanto mais envelhecemos, para muitos, menor representação
social possuímos. Assim ocorrendo, também entramos em um envelhecimento
funcional ou social, ou perda de direitos na sociedade contemporânea, pois a
relação que estabelecemos uns com os outros está determinada pelo sistema de
produção capitalista e pelo consumo, influenciando decisivamente na forma
O envelhecimento humano 13

como os mais jovens percebem os em idade avançada no trato, através das


gerações. Salvarezza (1988) afirma:

O envelhecimento leva as gerações jovens a verem os velhos como


diferentes e não considerá-los como seres humanos com iguais
direitos e, o que é pior, não permitem a eles (jovens) identificar-
se. O aumento da faixa populacional considerada idosa tem exigido
das profissões, das sociedades e do poder público um novo e
sensível olhar sob a forma de investimento em políticas sociais
que contemplem o idoso em suas necessidades biopsicossociais.
(1988, p.24)

A idade social é o percurso do ciclo de vida definido socialmente. Cada


sociedade distingue as etapas sucessivas e fixa as condições de acesso de uma
etapa para outra, definindo também qual o espaço que iremos ocupar nesta
mesma sociedade.
Exemplos:
• tempo da infância;
• tempo da adolescência;
• tempo de se ingressar no mundo do trabalho;
• tempo do casamento;
• tempo da procriação;
• tempo de estar fora do mundo do trabalho (aposentadoria);
• tempo de se viver a terceira idade;
• tempo de se viver a quarta idade.

A compreensão de determinadas mudanças e situações vividas em cada fase


da vida e a busca de informações sobre o envelhecimento ajudam a diminuir a
influência negativa dos preconceitos sobre a terceira idade. O idoso possui poder
de interferência no que está posto em relação aos preconceitos relacionados às
14 O envelhecimento humano

modificações decorrentes da idade. Necessário se faz instrumentalizar o idoso


sob seus direitos e deveres e trabalharmos no sentido de mudarmos o eixo da
felicidade que está condicionada a uma relação comparativa. Muitos idosos
gostam de falar que se sentem “jovens por dentro”.1 Esta fala reafirma que a
melhor fase da vida é ser jovem.
Quando assim procedemos, estamos reafirmando que a condição de estarmos
vivendo bem está condicionada à juventude, mesmo velho por fora eu estou
jovem por dentro. Poderíamos mudar nosso discurso dizendo de uma outra
maneira: “Estou na terceira idade e me sinto vivo, muito vivo por dentro, com
vontade de viver a vida na sua plenitude”. Vejamos o que Lima (2001) poderá
contribuir com suas reflexões:

A sociedade e o Estado não podem mais ignorar o idoso, que vem


se tornando ator na cena política e social, redefinindo imagens
estereotipadas nas quais a velhice aparece associada a solidão, doença,
viuvez e morte, enfatizando essa fase de vida como uma condição
desfavorável, muitas vezes indesejada. (LIMA, 2001, p.16)

Devemos construir uma nova forma de nos identificarmos com a terceira


idade, assim como valorizarmos a vida adulta nesta fase da vida. A forma e o
como nos sentimos e nos percebemos subjetivamente deverá ser construída na
percepção que temos de nós pelo que apresentamos, do que somos e sonhamos,
nos sentindo vivos para a vida, com muita disposição de viver e lutar pelo
usufruto das conquistas médicas e sociais nas áreas da Gerontologia e da
Geriatria2 nesta etapa da vida.
Se cada idoso permanece reafirmando que a condição de se sentir feliz e com
forças de viver permanece associada a esta condição de juventude, condição
focada na força e no vigor, repetimos, nós nunca conseguiremos mudar o foco

| 1 Na grande maioria dos idosos com quem interagimos nos grupos de convivência para a terceira
idade, temos observado que na fala destes idosos predomina o conceito de estar bem isicamente,
emocionalmente e sexualmente com a condição de se sentirem jovens por dentro (nota do
autor).
| 2 Ciência médica que estuda temas relacionados à saúde do corpo físico das pessoas na terceira
idade (nota do autor).
O envelhecimento humano 15

de que a juventude é a melhor etapa da vida humana. Se a felicidade fosse


apanágio da juventude, não teríamos tantos jovens vivendo suas vidas de forma
tão imprudente e irresponsável. Esta é uma condição cultural de se perceber e
sentir a vida que deveremos mudar.

1.2 Viver o envelhecimento: um processo natural


O processo de se viver o envelhecimento humano é vivido de forma natural,
o que equivale dizer que, para cada indivíduo, existe uma forma diferenciada
de viver esta etapa da vida no processo do envelhecimento. Cada um possui
uma forma de realizar-se e de enfrentar as dificuldades inerentes a cada fase
da vida, e no processo do envelhecimento não seria diferente. O sentido de
buscarmos alternativas para enfrentarmos a diminuição das capacidades
mentais, emocionais, corporais, vai depender da forma como os idosos acessam
os recursos disponíveis ou não no contexto comunitário.
Outro elemento importante a ser pensado quando nos referimos a uma boa
qualidade de vida na terceira idade, com melhores condições de realizarmos os
enfrentamentos naturais da velhice, é não deixar para trás situações de conflitos,
dissabores, traumas, inimizades, culpas inerentes as outras etapas de nossa
vida. Quando temos tempo de rever conceitos, valores, modos de proceder a
vida e resolvermos coisas que ficaram mal resolvidas no passado, aliviaremos
a bagagem de nossa consciência e assim não iremos levar conosco na terceira
idade problemas que não fazem parte deste tempo presente.
Dessa maneira, é importante oportunizar aos idosos condições de se sentirem
interessados pela vida, de modo que a vida deste sujeito se torne também
interessante para ele. Both (1990) faz alusão às ideias implícitas relacionadas
a possível ou não predisposição para a resolução dos problemas relacionados
à degradação das faculdades psicológicas, sociais e das funções orgânicas do
idoso, afirmando:

...se aos mais velhos for permitida uma vida com interesse e
disposição para ações estimulantes, é provável que raros serão
aqueles que chegarão aos 80 anos com algum comprometimento em
16 O envelhecimento humano

virtude da senilidade. Vale portanto dizer que uma ação educacional


estimulante pode qualificar a vida dos mais velhos. (1990, p.9)

Com este posicionamento, alteram-se os padrões culturais, modificam-se


ideologias, e, consequentemente, as concepções sobre a velhice, buscando
grandes transformações. Nessa perspectiva, a pessoa na velhice continuará a
ser produtiva nas mais diversas maneiras, socializando os seus conhecimentos.
Acredita-se que o idoso possui uma caminhada diferenciada dos demais, pelo
próprio fato de alguns possuírem mais experiência de vida. Mosquera (1987,
p.14) esclarece que a vida do homem vai sendo constituída através da estimulação
do meio em que vive, denominado pelo autor como “estimulação ambiental” em
que o homem está inserido. Cada situação (geográfica, social, biológica) terá a
sua devida representação para a formação da personalidade humana.
É na vida cotidiana que se constrói a história, e o indivíduo influenciado
pelas experiências estabelecidas e armazenadas contribui para a construção desta
história. Os pequenos como os grandes acontecimentos humanos representam
as tramas das relações que constituem esta história, acontecimentos vividos
no particular para o geral e vice-versa, provocando um constante estado de
movimento. O homem é um ser histórico e as etapas – infância, adolescência,
vida adulta e velhice – representam as partes de um todo em sequência, em
constante transformação, influenciando o cotidiano das relações humanas,
demarcadas através dos processos socio-históricos da sociedade.

Referência comentada
CASARA, Miriam B.; CORTELLETTI, Ivonne Assunta; BOTH, Agostinho.
Educação e envelhecimento humano. Caxias do Sul: EDUCS, 2006.
Esta obra pretende provocar uma séria reflexão sobre educação,
envelhecimento e velhice. Apresenta proposições que levam a avanços
qualitativos relacionados ao desenvolvimento de linhas de pesquisas, ações,
projetos e programas. Mostra também a importância de direcionar o olhar em
um perspectiva pedagógica que se estenda ao continuum do ciclo da via e que
tenha como objetivo a promoção do ser humano em todo seu tempo vital.
O envelhecimento humano 17

Referências
BOTH, Agostinho. Gerontologia, educação e longevidade. Passo Fundo:
Imperial, 1999.
______. Conversas sobre a terceira idade ou fragmentos para uma gerontologia.
Passo Fundo: UPF, 1990.
BULLA, Leonia Capaverde. Desaios e perspectivas da Gerontologia Social
face ao envelhecimento da população brasileira. 10º Congresso Brasileiro de
Assistentes Sociais – Trabalho, Direitos e Democracia: Assistentes Sociais
Contra a Desigualdade. Outubro de 2001.
CORREIA, Ruthe. A terceira idade hoje: sob a ótica do Serviço Social.
Canoas: Ed. ULBRA, 2007.
MOSQUERA, Juan; STOBÄUS, Claus. Educação para a saúde, desaio para
sociedade em mudança. Porto Alegre: DCL S.A., 1983.
SALVAREZZA, Leopoldo. Psicogeriatria Teoria y Clínica. Buenos Aires,
Argentina: Paidós, 1988.

Autoestudo
Coloque verdadeiro (V) ou falso (F):
( ) Desta maneira, é importante oportunizar aos idosos condições de
sentirem-se interessados pela vida, de modo que a vida deste sujeito
se torne também interessante para ele.
( ) O processo de se viver o envelhecimento humano é vivido de forma
igual para todos, o que equivale dizer que para cada indivíduo existe
uma forma que se equivale no processo de envelhecer. A forma de
realizar-se e de enfrentar as dificuldades inerentes e cada fase da vida
é igual para todos.
( ) A não aceitação de determinadas mudanças e a busca de informações
sobre o envelhecimento ajudam a diminuir a influência negativa dos
preconceitos sobre a terceira idade, uma vez que o idoso possui poder de
interferência no que está posto em relação aos preconceitos relacionados
às modificações decorrentes da idade.
18 O envelhecimento humano

( ) Poderemos considerar que, quanto mais envelhecemos, para muitos,


menor representação socialmente possuímos.
( ) Com a consolidação desta mesma sociedade industrial estabeleceu-
se uma sociedade tecnológica focada junto aos mais jovens, onde o
envelhecimento passou a ser considerado com os aspectos da decadência
física, mental e social através de seu funcionamento não “adequado” a
este fim e seu confinamento foi uma questão de necessidade, apartado
dos espaços sociais que nos vitalizam a vontade de viver de forma ativa,
reduzindo os idosos a uma condição absolutamente secundária.

Respostas:
V, F, V, V, V
2

A Gerontologia
A Gerontologia, como campo do conhecimento específico do envelhecimento
humano, busca compreender as demandas inerentes a esta área, particularizando-a
no social. Os estudos específicos da Gerontologia são recentes, surgindo no após
Segunda Guerra Mundial, buscando compreender através de pesquisas como se
caracterizam as particularidades da vida social na terceira idade.
A busca do conhecimento sempre foi determinada nas perquirições realizadas
pelos seres humanos, através dos processos socio-históricos que caracterizam
o desenvolvimento das ciências. Em um primeiro plano estes estudos em torno
do desenvolvimento do ser humano se deu nas fases da infância e da juventude,
posterior ao ser humano buscar reconhecer os processos inerentes à vida adulta
e ao envelhecimento.
A Gerontologia vem ao encontro da necessidade de aprofundarmos estudos
para compreender os processos de se tornar idoso no ciclo da vida humana,
preocupando-se com a passagem da vida adulta com a terceira idade. Segundo
Salgado (1979, p.1), este define a Gerontologia como sendo: “...o estudo dos
processos de desenvolvimento, levados a efeito pelas ciências sociais, psicológico-
comportamentais e biológicas”. Um conjunto de disciplinas que juntas procuram
intervir num mesmo campo de realidade. Segundo Salgado (1979, p.1), a
Gerontologia se divide em três grandes grupos:
20 A Gerontologia

A Gerontologia A Gerontologia Médica


A Gerontologia Social
Experimental ou Geriátrica
Compreende o estudo das Representa o estudo Representa o estudo
células, dos órgãos e de das doenças do dos processos
todo organismo humano. envelhecimento psicossociais do
Este ramo está ligado às humano, sendo o ramo envelhecimento e trata
ciências naturais. que primeiramente se da cooperação entre
desenvolveu. os demais ramos do
conhecimento.

Para a Gerontologia, torna-se importante estudar as questões que envolvem


a velhice mais particularmente e seus desafios. Para tanto, a Gerontologia busca
estudos nas áreas do Serviço Social, no direito, na antropologia, na psicologia,
na sociologia, entre outras.

2.1 Conceituando o envelhecimento humano


É de singular importância procurarmos definir o conceito sobre velhice, mas
para isso ocorrer não se torna tarefa fácil. Segundo Salgado (1979):

Não é fácil uma conceituação, tendo em vista que a velhice, sendo


o último tempo natural de um processo de vida biológica, não é
facilmente caracterizada como as etapas anteriores, especificamente
a infância e a adolescência, que quando estão para terminar
apresentam transformações tanto no plano físico como no plano
mental. (1979, p.24)

No mundo todo, este tema tem sido alvo de muitas discussões. No Brasil, esta
questão surge mais precisamente na década de 70. Assim, Bulla (2001) refere:

A partir de 1970, registrou-se, no Brasil, a preocupação com o


fenômeno do envelhecimento da população. Embora já se contasse
com estudos e trabalhos anteriores, voltados para a camada da
A Gerontologia 21

população acima dos 60 anos de idade, é a partir dessa época que


se passa a estudar mais seriamente o problema, devido aos desafios
impostos pelo crescimento acelerado dessa faixa etária. (2001, p.2)

Para melhor entendimento, situa-se a pessoa na terceira idade a partir


dos 60 anos3. Essa é uma variável importante, mas não é determinante para
se definir a pessoa e suas condições. Deve-se ter uma visão mais integral da
pessoa humana, pois os 60 anos, por exemplo, representam um marco de
ingresso da pessoa humana na terceira idade; isto não quer dizer que o ciclo de
vida esteja acabado, mas sim representa o somatório de experiências pessoais
e de relacionamentos, da riqueza vivenciada e acumulada ao longo do tempo.
Fustioni (apud GOLDMAN, 2000, p.13) faz a seguinte consideração sobre o
termo “terceira idade”:

Considera-se que a terceira idade tenha seu princípio cronológico


na época comumente declarada em muitos sistemas legislativos de
aposentadoria por emprego lucrativo, cuja faixa varia de 60 a 65
anos, mas, de fato, as mudanças características da terceira idade já
começaram a tornar-se evidentes mais cedo. (1982, p.8)

O processo do envelhecimento possui uma representação e uma


singularidade de estarmos vivendo mais uma etapa na vida de cada um de nós.
Para podermos definir e conceituar o processo do envelhecimento denominado
“velhice” (SALGADO, 1979, p.4), oportuniza-nos conceituar a velhice a partir
de definições mais próximas a uma e outra ciência e, por critérios comparativos
com outros grupos etários, vejamos:

| 3 A Assembleia Mundial das Nações Unidas, sobre envelhecimento da população, através da


Resolução 39/125, estabeleceu a idade de 60 anos como início da terceira idade nos países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, sendo de 65 anos para os países desenvolvidos (ONU,
1982).
22 A Gerontologia

Representa a ideia de tempo de vida, tomando por


base a expectativa média de vida de determinados
Velhice idade cronológica: grupos sociais. Assim, todos aqueles que se
aproximam ou ultrapassam a idade estabelecida
como média de vida estão na terceira idade.
A Gerontologia, sofrendo maior avanço por
impulso da Geriatria, está em grande parte
inluenciada pela ótica biológica que encara o
envelhecimento pelo desgaste do físico e da
mente. Dentro desta conceituação, poderíamos
considerar que o desenvolvimento de um
indivíduo apresenta duas etapas distintas: a
do acréscimo e a do decréscimo. Na primeira,
Velhice mutações
considerada desde a época da vida embrionária,
biológicas: estariam consideradas a formação, a fortiicação
e o desenvolvimento total de todas as partes do
organismo humano e, subsequentemente, suas
capacidades. Na segunda etapa, considerando-se
a existência de um pequeno tempo sem grandes
mutações, seria iniciado o processo reverso,
no qual tudo aquilo conquistado iniciaria uma
caminhada desgastante.
Este é um princípio que, embora nada apresente
de cientíico, ganha expressiva ênfase nos dias
atuais, em todas as sociedades, e, portanto, deve
ser considerado pelos trabalhadores sociais. Este
entendimento nasce do fato de que, embora o
físico e a mente envelheçam juntos, o processo
não se efetiva em ambos com a mesma cadência.
Velhice uma conceituação É no tempo em que o corpo apresenta os maiores
individual: sintomas de decadência que a mente está
mais apta a incorporações de todas as ordens
e contribuições. É aqui o grande paradoxo do
envelhecimento, pois os indivíduos se veem
isicamente envelhecidos e não se sentem velhos.
É neste momento que se evidencia para todos a
relatividade do envelhecimento e o entendimento
muito particular para cada indivíduo.
A Gerontologia 23

As sociedades da Antiguidade, em grande maioria,


tomavam o tempo da velhice como um estado
altamente digniicante para os indivíduos,
sendo considerados como sábios todos aqueles
que atingiam essa etapa da vida. Com o passar
Velhice decorrência do tempo, com a evolução das sociedades e,
cultural: sobretudo, com a cultura tecnológica mais
próxima dos jovens, o envelhecimento passou
a ser considerado mais pelos aspectos de
decadência das forças físicas para o trabalho,
e a posição dos indivíduos idosos resultou
absolutamente secundária.

A partir das definições sobre a velhice expostas acima, entendemos que o


processo do envelhecimento representa mais uma etapa a vencer no ciclo de
vida do indivíduo. Possui a representação do conjunto de realizações positivas
e ou negativas, construídas ao longo de um processo histórico individual, um
conjunto de vivências surgidas durante os períodos precedentes da existência
de cada um.
Estas vivencias se apresentarão de acordo como foi a caminhada individual
de cada pessoa, bem como foram construídos os processos de organização da
sociedade no sentido de se atender as demandas inerentes a esta realidade.
Outros fatores que também demarcam o processo do envelhecimento de forma
saudável:

A busca por uma alimentação saudável irá deinir nutrientes


indispensáveis para manter nosso corpo com as disposições
necessárias para regular o desgaste físico natural da vida
Alimentação
ocorrendo de forma diferenciada. A alimentação adequada
desde o nascimento do ser humano é fator decisivo para um
envelhecimento com qualidade de vida.
Os fatores relacionados ao ambiente afetam diretamente no que
se refere à saúde da pessoa humana. As exposições em excesso
ao Sol, a umidade, as substâncias tóxicas como poluentes
Meio ambiente
do ar, pesticidas, ao uso direto e indireto ao fumo, álcool, e
outras drogas, poderão inluir decisivamente no processo do
envelhecimento.
24 A Gerontologia

Sabemos que naturalmente carregamos conosco a herança


genética de nossos antepassados, e com elas as disposições
favoráveis ou não para termos uma vida longeva com saúde
ou para o desenvolvimento de patologias na área da saúde,
Herança como, por exemplo, o câncer que representa uma doença
genética proveniente da deformação de nossas células, disposições
do comportamento hormonal do organismo humano que irão
afetar decisivamente o nosso comportamento e também nossas
disposições para tendências às dependências psicoativas como
o álcool, por exemplo.
Sabemos que as tensões psicológicas ou sociais podem
apresentar as deteriorações associadas ao processo
Tensões do envelhecimento. Muitas vezes, o envelhecimento é
decisivamente afetado pelo estado de espírito, pelas
constantes mudanças de humor e estresses.
A falta regular de uma atividade física poderá comprometer
a sustentação e o vigor do tônus vital de nossos órgãos
Exercícios
físicos e a capacidade mental, bem como da vitalidade e da
físicos desenvoltura de nossos movimentos, promovendo a fadiga, a
lentidão e a perda muscular e óssea de nosso organismo.

Neste sentido, este capítulo busca apresentar uma reflexão que contemple
aproximar você leitor da Gerontologia Social, um estudo que busca compreender
o processo do envelhecimento humano por uma perspectiva biopsicossocial,
refletindo sobre a importância de pensarmos como nossa sociedade está
preparada para atender as demandas naturais desta fase da vida, nesta nossa
sociedade contemporânea.
Entendemos que o processo de envelhecimento é um desenvolvimento
mental, físico, e também cultural. A partir desta realidade, com o chegar da
terceira idade, é que constataremos como foram realizados os preparos para
este enfrentar natural, exigido por toda e qualquer fase da vida humana, e o
questionamento que deveremos fazer é: Como a sociedade compreende esta
etapa da vida?
A Gerontologia 25

2.2 A vida em movimento na terceira idade


O envelhecimento humano, por muitos, não é abordado como uma realidade
saudável e natural, mas percebido com cores escuras, de forma muito negativa.
Ao envelhecimento estão relacionados somente sentimentos e situações de
perdas e não possíveis ganhos que poderão chegar junto com a idade, algo
natural como a possibilidade de estabelecer mais tempo para si e para a família,
ao laser e à cultura.
Na intimidade do relacionamento afetivo, sexo sem os riscos da gravidez, mas
com os cuidados em relação às doenças sexualmente transmissíveis, liberdade
nas escolhas em função de não ter que cumprir com compromissos rigorosos
em relação a responsabilidades que estabeleceremos, o ritmo da vida poderá
ser estabelecido a partir de nossas escolhas, a felicidade de termos cumprido
nossas responsabilidades perante nossos filhos e demais familiares, entre outras.
Possibilidades que vamos descobrindo quando temos vontade de viver.
As modificações orgânicas e estéticas, que as pessoas vivenciam na terceira
idade, muitas vezes são sentidas como sendo um prenúncio de sua morte
iminente, criando, então, uma lógica de associar a velhice à finitude. Após
a terceira idade, em alguns países mais avançados em recursos de saúde e
assistência social, já se vislumbra a quarta idade, que se inicia aos 80 anos.
Cria-se então um quadro onde a velhice está associada por situações
vinculadas a dor física, imobilidade corporal, perda dos sentidos como visão,
audição, diminuição da memória e do desempenho sexual, entre outras situações
que poderão proporcionar conflitos. Muitos destes conflitos estão relacionados
a situações de perda dos vínculos familiares pela morte física, ou separações
judiciais e ou familiares com o afastamento dos conflitos.
A lógica do entendimento que devemos ter diz que os conflitos existenciais
são situações vividas em todos os períodos da vida, e que, para muitos, com o
chegar da terceira idade, os conflitos vão somando-se a uma certa instabilidade
emocional pelo fato de não querer enfrentar estes desencontros inerentes à vida.
Fraiman (1991) faz a seguinte referência às questões de instabilidade emocional
na vida do indivíduo:
26 A Gerontologia

Da adolescência à meia-idade, longe de passar por um período de


estabilidade, o homem (especialmente o de classe média) enfrenta
muita turbulência, especialmente agitada quanto mais próxima à
idade madura, que tem menos a ver com a idade cronológica e mais
com uma etapa de sua vida psicológica e social. (1991, p.87)

Estas turbulências são decorrências naturais, que irão oportunizar novas


possibilidades do existir humano. Entendemos que, quando existe o conflito, ele
nos oportunizará refazermos a caminhada para realizarmos novas conquistas,
novas possibilidades de nos sentirmos interessados pela vida. Neste sentido, os
profissionais que possuem uma vinculação e estudos sobre gerontologia deverão
estar atentos com os mais diversos aspectos que envolvem este processo de se
tornar idoso, para que as pessoas se sintam interessadas pela vida de uma forma
saudável.
Entendemos que, de certa maneira, não existe um estudo único que possa
dar conta de compreendermos este fenômeno natural que é o processo de
se tornar idoso, mas devemos buscar, nos diferentes estudos, a contribuição
necessária para que, de forma eficaz, possamos pensar soluções e possibilidades
de se viver a terceira idade com dignidade, vontade e com muita satisfação. A
Gerontologia representa um conjunto de disciplinas que poderão ir ao encontro
desta necessidade.

Referência comentada
MORAGAS, Ricardo. Gerontologia Social – Envelhecimento e qualidade de
vida. Porto Alegre: Paulinas, 2010.
Envelhecer com qualidade de vida é possível se houver ciência das bases
biológicas, psíquicas e sociais que atuam em cada um e fundamentam sua
conduta. Moragas analisa as tais bases e oferece conclusões práticas e úteis para
os envolvidos com o envelhecer alheio ou próprio e que precisam tomar decisões
que desenvolvam ao máximo a qualidade de vida.
A Gerontologia 27

Referências
BULLA, Leonia Capaverde. Desaios e perspectivas da Gerontologia Social
face ao envelhecimento da população brasileira. 10º Congresso Brasileiro de
Assistentes Sociais – Trabalho, Direitos e Democracia: Assistentes Sociais
Contra a Desigualdade. Outubro de 2001.
FRAIMAN, Ana Perwin. Coisas da idade. 2.ed. São Paulo: Hermes, 1991.
_________. Para ser um avô. São Paulo: Gente, 1996.
GOLDMAN, Sara Nigri. Velhice e direitos sociais. In: ______. Envelhecer
com cidadania: quem sabe um dia? Rio de Janeiro: ANG-CBCISS, 2000.
SALGADO, Marcelo Antônio. Gerontologia. Rio de Janeiro-RJ: CBCISS, n.
150, ano XII, 1979.
SALVAREZZA, Leopoldo. Psicogeriatria Teoria y Clínica. Buenos Aires,
Argentina: Paidós, 1988.

Autoestudo
Coloque verdadeiro (V) ou falso (F):
( ) A Gerontologia, como campo do conhecimento específico do
envelhecimento humano, busca compreender as demandas inerentes
a esta área, particularizando-a no social.
( ) A Gerontologia vem ao encontro da necessidade e do estudo para
compreendermos os processos de se tornar idoso no ciclo da vida
humana, preocupando-se com a passagem da vida adulta com a terceira
idade.
( ) Para a Gerontologia, torna-se de menor importância estudar as questões
que envolvem a velhice e seus desafios.
( ) O processo do envelhecimento possui a representação do conjunto
de realizações positivas e ou negativas, construídas ao longo de um
processo histórico individual.
28 A Gerontologia

( ) A lógica do entendimento que devemos ter é de que os conflitos


existenciais são situações vividas em todos os períodos da vida, e que,
para muitos, com o chegar da terceira idade, a ela vai se somando uma
certa instabilidade emocional pelo fato de não querer enfrentar estes
desafios inerentes à vida.

Respostas:
V, V, F, V, V
3

Mitos e verdades sobre


a terceira idade
Pensar sobre a vida na terceira idade requer refletir sobre o imaginário e o
simbólico das construções que realizamos sobre a velhice. Criamos estereótipos
sobre determinados conceitos em relação ao idoso que inviabiliza viver esta
etapa da vida com prazer, relacionando o envelhecimento a algo desprovido de
valor. Segundo Vieira (2001), temos o seguinte pensamento que nos diz que o
“imaginário social, o imaginário coletivo, é um conjunto de crenças, conceitos,
ideias verdadeiras ou não que determinam atitudes, modas da sociedade. Os
conceitos em relação ao envelhecimento deverão ser trabalhados para que
possamos eleger novas capacidades, um novo conjunto de ideias positivas para
que as pessoas se sintam motivadas a viverem a velhice. O idoso atualmente
enfrenta este desafio, ou seja, fortalecer sua identidade social frente aos mitos
que envolvem esta etapa da vida.
Trabalhar com este tema “envelhecimento” representa o desejo de se criar
novas formas de se pensar e agir frente a novos conceitos em relação à terceira
idade, conceitos que possam potencializar a vida. A importância de estarmos
reconhecendo esta etapa da vida, a partir do próprio idoso, na forma como
ele se reconhece e elege para si disposições para viver o seu cotidiano de vida.
Pensar o próprio processo de envelhecimento requer dos profissionais da área
novos estudos, novas pesquisas que venham a somar de forma positiva um novo
conceito sobre a condição humana na velhice. Moragas (1997) refere:
30 Mitos e verdades sobre a terceira idade

O enfoque da velhice como etapa vital se insere nas modernas teorias


e práticas da psicologia do desenvolvimento humano, da sociologia do
possível, do trabalho social integrador. Estas orientações científicas
e profissionais destacam a unicidade da experiência humana positiva
vivenciada por cada pessoa, respeitando sua individualidade, mas
inserindo-se numa sociedade de grupos fortalecidos e potencializados
pela contribuição de cada indivíduo. (MORAGAS, 1997, p.19)

Os conceitos contemporâneos em relação ao idoso e à sua forma de vida


foram sendo definidos com o surgimento da sociedade industrial, e, após esse
período, foram se criando efeitos de opinião pública negativos em relação ao
idoso, persistindo de forma a excluir os mesmos do centro da sociedade. Vejamos
o pensamento de Beauvoir:

Uma outra barreira é a pressão da opinião. A pessoa idosa dobra-se


ao ideal convencional que lhe é proposto. Teme o escândalo, ou
simplesmente o ridículo. Torna-se escrava do “o que vão dizer”.
Interioriza as obrigações de decência e de castidade impostas pela
sociedade. Seus próprios desejos a envergonham, e ela os nega...
(BEAUVOIR, 1990, p.393)

Torna-se muitas vezes difícil modificar e/ou realizar um enfrentamento da


opinião pública sobre determinados conceitos que se estabelece em relação ao
idoso devido a ainda termos o foco central da mídia e da sociedade de consumo
em torno da juventude, do vigor e da força física. Para romper-se com estes
padrões estabelecidos, acredita-se que os avanços sociais, o progresso intelectual
e uma educação voltada para o conhecimento sobre o envelhecimento poderão
surtir um efeito de ruptura frente a estas barreiras sociais conceituais.
Estas iniciativas poderão representar uma nova possibilidade de se romper
definitivamente com determinadas barreiras sociais que segregam e excluem o
idoso da sociedade. A modificação desta imagem determinará um novo status
sobre a velhice na sociedade, favorecendo ao idoso uma maior aceitação de sua
condição, fazendo com que ele se sinta parte integrante desta sociedade e vice-
Mitos e verdades sobre a terceira idade 31

versa, e amenizando também toda e qualquer forma de violência em relação à


pessoa idosa.

3.1 Mitos e verdades sobre a terceira idade


A velhice hoje ainda possui um enfrentamento a ser realizado frente aos mitos
relacionados ao processo do envelhecimento. Estes estereótipos muitas vezes
oportunizam e reforçam as barreiras que são colocadas aos idosos, necessitando
que profissionais da área do Serviço Social e da Gerontologia estimulem o
idoso a buscar cada vez mais novos significados para suas vidas, a partir deles
mesmos, e de preferência no espaço comunitário onde os idosos estão inseridos.
Zimerman (2000) refere:

A estimulação faz com que as pessoas vivam mais a vida, que vivam o
hoje, que usem mais a memória e a criatividade para criar situações,
atividades, alegria e felicidade. Com a estimulação tudo revive: o
corpo, não usado, a mente parada, os afetos anestesiados, os amigos
esquecidos. (ZIMERMAN, 2000, p.12)

Quando conseguimos desmitificar determinados conceitos em relação ao


idoso, a tendência é fazer com que este sujeito se sinta estimulado a buscar sua
própria felicidade, através das relações que o mesmo estabelece. Estabelecemos
quase sempre uma visão equivocada ao considerar que os idosos são frágeis e
dependentes, tendo como resultado a segregação e o afastamento dos mesmos
do convívio social.
Essa imagem negativa se revela nas mais ínfimas atitudes e nas mais diversas
situações em relação a estes sujeitos. Quando oportunizamos a eles, por exemplo,
presentes em datas comemorativas, surgem automaticamente em nossas mentes
objetos como: pijamas, meias e chinelos, camisolas, pantufas, mantas, cadeiras de
balaço, entre outros artefatos, direcionando a uma única possibilidade de vida,
ou seja, descansar, esquentar-se do “frio” que envolve a velhice. Essas atitudes
também são percebidas nos abrigos, albergues, asilos ou casas de repouso, como
são chamados os lugares onde se colocam os idosos. “Portanto, é impossível falar
na velhice sem falar na sociedade, pois é esta que estabelece os padrões que, em
32 Mitos e verdades sobre a terceira idade

cada época, regem o comportamento social” (HEREDIA, [s/d], p.33). Vejamos


alguns mitos que envolvem a imagem da pessoa na terceira idade.

O idoso volta a ser criança.


Tratar velho é igual a tratar criança.
Os mitos dos
É fácil cuidar do idoso.
conceitos Infantilização/idiotização/bebeismo.
A velhice é a melhor idade.
É possível impedir ou retardar o envelhecimento?
Não é possível a atividade física.
A dieta deve ser restrita.
A necessidade dos remédios, não vive sem eles...
Os mitos das
Ele(a) é muito velho para ser submetido a isto:
terapêuticas • Procedimentos;
• Hospitalização/cirurgia.
UTI é local de velho.
Ele não pode saber/decidir.
O idoso não se interessa mais pelos acontecimentos.
Votar não é importante para quem está “velho”.
Os idosos não possuem direitos, já viveram muito, as
Os mitos da
crianças sim precisam de direitos...
cidadania Está na hora de se aposentar, inclusive do seu próprio
gerenciamento.
O idoso não pode se autocuidar.
São próprios da velhice:
• As incontinências urinárias;
• A perda da memória;
• As alterações da sexualidade;
• Tristeza e apatia;
Os mitos das
• Tontura;
doenças • Perdas sensoriais;
• A hipertensão;
• A osteoporose;
• O tremor – doença de Parkinson;
• Perda de equilíbrio.

De acordo com Chopra (1999, p.294-295), “as pessoas idosas não podem ser
classificadas em grupos, reduzindo-as a uma perda de identidade social. Somos
todos sujeitos que vivemos processos de envelhecimento. É o indivíduo e não a
Mitos e verdades sobre a terceira idade 33

idade avançada sozinha que faz a diferença”. Desse modo, compreende-se que
o idoso é um adulto que está envelhecendo e que sofre preconceito.
Segundo Fornós (2001), a autora define as formas de preconceito como uma
atitude negativa, que se dirige geralmente a grupos sem uma fundamentação que
os justifique. É na vida cotidiana que vamos reforçando desde a infância até a
vida adulta os preconceitos que vão sendo incorporados na vida diária de forma
usual, estabelecendo em muitos casos atitudes de revide, sejam estes de forma
física ou por atos emocionais. No caso do idoso, muitas vezes, o mecanismo de
defesa em relação ao preconceito é o isolamento.

3.2 Revendo nossos conceitos


Temos que estar refletindo como estamos revendo nossos conceitos
referentes à forma como percebemos a velhice. Para Heller (1992) o preconceito
se caracteriza por ser uma “ultrageneralização” de pensamentos e ideologias
presentes no cotidiano (1992, p.43-44). A autora diz que “todo preconceito impede
a autonomia do homem, ou seja, diminui sua liberdade relativa diante do ato de
escolha, ao deformar e, consequentemente, estreitar a margem real de alternativa
do indivíduo” (1992, p.59). Beauvoir (1990, p.350) nos faz refletir sobre a forma
como os idosos pensam sobre o preconceito a eles colocado:

A atitude dos idosos depende de sua opinião geral com relação à


velhice. Eles sabem que os velhos são olhados como uma espécie
inferior. Toda uma tradição carregou essa palavra de um sentido
pejorativo, ela soa como um insulto. Assim, quando ouvimos nos
chamarem de velhas, reagimos com cólera. (BEAUVOIR, 1990,
p.350)

Desse modo, a imagem do velho na sociedade é o resultado da forma como


vamos estabelecendo nossas percepções, muitas destas baseadas em juízos de
valores que não correspondem à realidade, permitindo que aqueles que vivem
o processo de envelhecimento estejam destituídos de seus papéis sociais,
sonhos, desejos de encontrar formas de viver. Segundo Viguera (2001), a autora
aponta alguns preconceitos relacionados ao idoso, oportunizando-nos pensar
34 Mitos e verdades sobre a terceira idade

disposições para alterarmos os padrões estabelecidos em relação ao processo


do envelhecimento, propondo uma Educação para o Envelhecimento. Alguns
preconceitos relacionados ao idoso que a autora aponta:

• Que a passividade é característica do envelhecimento;


• Que o envelhecimento é uma enfermidade;
• Que o idoso já não tem capacidade para aprender;
• Que não é saudável recordar o passado;
• Que a pessoa que envelhece ica assexuada;
• O “viejismo”4, que são atitudes de rejeição.

Ninguém consegue viver saudavelmente quando carrega sobre seus ombros


uma condição de vida tão desprovida de possibilidades. Estabelecemos nossos
idosos a uma condição de vida em preto e branco, sem o colorido da vida que
torna as pessoas felizes. O ser humano em qualquer fase da vida necessita realizar
projeto de vida. Sonhar, desejar, adquirir são possibilidades criadoras que fazem
com que estejamos sempre com muita vontade de viver, de se relacionar, de se
manter ativo, em movimento. Conforme Novaes (1990):

Desejar é ter a certeza da ausência, da ausência, não tenho o que eu


quero e por isso eu desejo, então desejar na sua origem, quer dizer:
desistir de olhar os astros, desistir de especular sobre o futuro, com
grande realismo reconhecer que você não tem o que quer. (NOVAES,
1990, p.133)

Como vimos, desejar está diretamente associado à vida, é planejarmos nossas


atividades para que possamos preencher nosso tempo com coisas que nos tragam
satisfação, pois, segundo Luft (2003), “a idade madura não precisa ser o começo
do fim, idade avançada não precisa ser isolamento e secura. Podem-se fortalecer

| 4 Viejismo: conjunto de prejuicios, estereotipos, que se aplican a los viejos simplesmente en


función de su edad. Otro término utilizado con frecuencia. (http://pt.scribd.com/doc/30723559/
Viejismo-Salvareza)
Mitos e verdades sobre a terceira idade 35

laços amorosos, familiares, de amizade, variar de interesses, curtir melhor o


gozo das coisas boas” (2003, p.92).
O Serviço Social contemporâneo desenvolve-se em um processo de profundas
contradições que, segundo Iamamoto (2001), exige do profissional capacidade
para decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes
de preservar e efetivar direitos a partir de demandas emergentes no cotidiano.
Enfim, ser um profissional propositivo, investigativo e não só executor, no sentido
de podermos modificar determinados conceitos que envolvem o envelhecimento
humano. O Serviço Social como profissão percebe no preconceito uma expressão
da questão social, pois o mesmo nasce nas relações sociais da sociedade industrial
de produção, marcada por abandono, segregação, merecendo desse profissional
uma atenção especial de intervenção. Esta ação deverá ser criativa, capaz de
decifrar a realidade e propor mudanças efetivas na garantia e promoção dos
direitos sociais.

Referência comentada
NERI, Anita Ligeralesso. Desenvolvimento e envelhecimento: perspectivas
biológicas, psicológicas e sociológicas. Campinas-SP: Papirus, 2001.
Por muito tempo, o envelhecimento foi visto como a antítese do
desenvolvimento. Respaldados pela geriatria, muitos praticantes e pesquisadores
em gerontologia consideravam a velhice como sinônimo de doença. Contudo,
ao longo das últimas décadas, novas formulações começaram a apontar a
possibilidade de uma boa e saudável velhice. Sucedeu-se um período em que a
visão pessimista tradicional conviveu com um otimismo excessivo, que tomava
o desenvolvimento como um processo permanente, e que haveria possibilidades
quase ilimitadas de mudanças positivas com o passar da idade. Hoje, a perspectiva
predominante dos estudos na área trabalham com três ideias fundamentais: o
desenvolvimento é um processo finito, desenvolvimento e envelhecimento são
processos concorrentes, e ambos são afetados por uma complexa combinação de
fatores que operam ao longo de toda a vida. Mesclando autores de várias áreas,
esta coletânea discute os avanços dos conhecimentos sobre o envelhecimento
humano, com o objetivo de contribuir para o fazer ciência e para a disseminação
da informação.
36 Mitos e verdades sobre a terceira idade

Referências
BEAUVOIR, Simone de. A velhice. 4ª reimpressão. Rio de Janeiro: Ed. Nova
Fronteira, 1990.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: fatos e mitos. 2.ed. São Paulo:
Difel, 1961.
CHOPRA, Dupak. Corpo sem idade, mente sem fronteiras: a alternativa
quântica para o envelhecimento. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.
FORNÓS ESTEVE, M. El Estereotipo Social de la Vejez. I Congresso Virtual
de Psiquiatria, 26/12/2001.
HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 4.ed. Traduzido por Carlos Nelson
Coutinho e Leandro Konder. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
HERÉDIA, Vânia Beatriz Merlotti. A velhice instituída. [s.l.]: [s.d.].
IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na contemporaneidade:
dimensões históricas, teóricas e ético-políticas. São Paulo: Cortez, 1997.
LUFT, Lia. Perdas e ganhos. 24.ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.
MORAGAS, Ricardo. Gerontologia Social: envelhecimento e qualidade de
vida. São Paulo: Paulinas, 1997.
NOVAES, Adauto. O desejo. 2.ed. São Paulo: Companhia das letras, 1990.
SLAVSKY, David. Corpo y Envejecimiento. Programa de Seminários por
Internet. Temas de Psicogerontologia, n.3.
VIGUERA, Virginia G. de. Aulas do CVEPE 1, 2, 3, 4, 5, 8, 9, 11, 13, 14.
ZIMERMANN, Guile I. Velhice: aspectos biopsicossociais. Porto Alegre:
Artes Médicas Sul, 2000.
Mitos e verdades sobre a terceira idade 37

Autoestudo
Coloque verdadeiro (V) ou falso (F):
Segundo Vieira (2001), temos o seguinte pensamento que nos diz que o
imaginário é:
( ) O imaginário coletivo é um conjunto de crenças conceitos, ideias
verdadeiras ou não, que determinam atitudes, modas da sociedade.
( ) O imaginário coletivo não representa um conjunto de crenças
conceitos, ideias verdadeiras ou não que determinam atitudes, modas
da sociedade.
( ) O imaginário coletivo é um conjunto de crenças conceitos, ideias
verdadeiras que determinam atitudes, modas da sociedade.
( ) O imaginário coletivo é um conjunto somente de ideias verdadeiras
que determinam atitudes, modas da sociedade.

a) somente a questão 1 é verdadeira.


b) somente as questões 1 e 2 são verdadeiras.
c) as questões 1, 2 e 3 estão corretas.
d) todas estão erradas.

Resposta:
Letra “a”
4

A família e o idoso
O tema ora proposto sobre família pode ser abordado sob múltiplos aspectos,
tais como o social, o histórico, o antropológico, o sociológico, o psiquiátrico, o
jurídico, entre outros. Mais particularmente neste estudo, queremos aprofundar
o aspecto social. Entendemos que a família representa um complexo sistema de
relações e interações entre seus membros no espaço em que se encontra, a forma
e a dinâmica de seu funcionamento influencia cada indivíduo em seu próprio
desenvolvimento comunitário e social, refletindo a situação e o poder que ela
possui em cada época histórica.
A família poderá representar o lugar do reconhecimento da diferença,
do aprendizado das uniões dos rompimentos, o espaço das trocas afetivo-
emocionais da construção da identidade social de cada indivíduo. A família,
etimologicamente falando, é um termo originado do latim famulus, que tem
como significado: conjunto de servos, a esposa e os filhos de um senhor. A
definição de família passa por uma reflexão ampla.
Segundo Minuchin (1982), a família é uma unidade social que enfrenta uma
série de tarefas, tendo como finalidade ser uma matriz do desenvolvimento
psicossocial de seus membros. Os objetivos da família são fatores da maior
importância no curso da história do indivíduo (NICHOLS, 1998). A família é
um sistema aberto e que está continuamente em um processo de transformação.
E. Durkheim afirmava que a família contemporânea funcionava como um
espaço relacional, progressivamente construída como um espaço privado no
interior do qual os membros sentiram uma vontade crescente de estar juntos, de
40 A família e o idoso

partilhar uma intimidade, tendo-se tornado cada vez mais sensíveis à qualidade
das relações (VAN CUTSEM, 2001).
Para Romanelli (1991) a família brasileira se define da seguinte maneira:

O modelo predominante na sociedade brasileira é o da família nuclear


cujos atributos básicos são a dominância masculina, exercida em
uma estrutura hierarquizada de poder e autoridade, a divisão sexual
do trabalho, a presença de vínculo afetivo entre marido e esposa
e pais e filhos, o controle da sexualidade feminina e a dupla moral
sexual. (1991, p.44)

Como vemos, pelas definições citadas acima, a noção de família pode ser
apreendida de forma ampla, incluindo os avós, tios e primos, ou na forma
de unidade familiar residencial. A literatura está repleeta de definições,
apontando a uma infinidade de concepções sobre família, como, por exemplo,
a ideia de “parentes que vivem sob o mesmo teto”. Os estudos históricos da
evolução da humanidade demonstram que o ser humano, para garantir a
perpetuação da espécie, necessitou organizar a filiação biológica, direcionando
ao que entendemos hoje por família. Nesse sentido, entendemos também que a
organização social do grupo familiar é uma representação psíquica e emocional
que estimula a necessidade de o casal ter sua prole, seja ela biológica ou por
adoção, através da direção jurídica para cada caso.
A relação entre pais e filhos traz como consequência direitos e deveres para
cada um. Os pais, ao realizarem seus sonhos através de projetos parentais,
depositam naquele ser que acaba de nascer, ou através de processo judicial de
adoção, a possibilidade de materializarem um projeto de família. Por outro lado,
estes pais deverão cumprir com os deveres inerentes à sua responsabilidade
parental.
A Constituição Federal de 1988 introduziu de forma clara algumas
atualizações, como o conceito de “entidade familiar”, que inclui a união estável
entre o homem e a mulher e pode também representar a comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes (art. 226, §§ 3º e 4º). Trata-se das formas
que podem ser assumidas pela “entidade familiar”, não necessitando para muitos
da realização da celebração de casamento. Outro aspecto refere-se a “família
A família e o idoso 41

substituta”, para os casos de adoção (cf. Estatuto da Criança e do Adolescente),


e em uniões estáveis homoafetivas (cf. jurisprudência e doutrina).
Quanto a este último caso, temos de forma bem atualizada o avanço hoje no
Brasil para reconhecimento no que se refere à união homoafetiva e à possibilidade
da adoção entre pessoas do mesmo sexo. Existe então, a possibilidade de se
caracterizar uma relação familiar por vínculo do parentesco, por vínculo
conjugal e por último por vínculo da afinidade. Aqui nos ateremos somente à
configuração por parentesco, para podermos refletir sobre a representação do
idoso no seio familiar.

4.1 As configurações familiares por parentesco


Entendemos que a configuração por parentesco poderá se configurar entre
os indivíduos vinculados pelo mesmo sangue. Existem grupos de parentesco
caracterizados por serem legítimos pelo casamento e os ilegítimos, que não
procedem do casamento. Parentes em linha reta são os pais, avós e bisavós, por
exemplo. Parentes em linha colateral são os que se configuram de uma mesma
linhagem familiar, até o quarto grau, sem descenderem uma da outra, como
irmãos, tios ou primos. Vejamos no quadro abaixo os estágios do ciclo de vida
familiar apontados por Carter & McGoldrick (1995, p.17).

Quadro 1 – Os estágios do Ciclo de Vida Familiar


Mudanças de segunda
Processo emocional
Estágio do Ciclo ordem no status familiar,
de transição:
de Vida Familiar necessárias para prosseguir
princípio-chave
no desenvolvimento
1. Saindo de casa – Aceitar a a. Diferenciação do eu em relação
jovens solteiros responsabilidade à família de origem;
emocional e b. Desenvolvimento de
inanceira pelo eu. relacionamentos íntimos com
adultos iguais;
c. Estabelecimento do eu
com relação ao trabalho e à
independência inanceira.
42 A família e o idoso

Mudanças de segunda
Processo emocional
Estágio do Ciclo ordem no status familiar,
de transição:
de Vida Familiar necessárias para prosseguir
princípio-chave
no desenvolvimento
2. A união de famílias Comprometimento a. Formação do sistema marital;
no casamento – o como um novo b. Realinhamento dos
novo casal sistema. relacionamentos com as famílias
ampliadas e os amigos para incluir
o cônjuge.
3. Famílias com ilhos Aceitar novos a. Ajustar o sistema conjugal para
pequenos membros no sistema. criar espaço para o(s) ilho(s);
b. Unir-se nas tarefas de educação
dos ilhos, nas tarefas inanceiras
e domésticas;
c. Realinhamento dos
relacionamentos com a família
ampliada para incluir os papéis de
pais e avós.
4. Famílias com ilhos Aumentar a a. Modiicar os relacionamentos
adolescentes lexibilidade das progenitor-ilho para permitir ao
fronteiras familiares adolescente movimentar-se para
para incluir a dentro e para fora do sistema;
independência dos b. Novo foco nas questões
ilhos e a fragilidade conjugais e proissionais do meio
dos avós. da vida;
c. Começar a mudança no sentido
de cuidar da geração mais velha.
5. Lançando os ilhos Aceitar várias saídas a. Renegociar o sistema conjugal
e seguindo em frente e entradas no como díade;
sistema familiar. b. Desenvolvimento de
relacionamentos de adulto para-
adulto entre os ilhos crescidos e
seus pais;
c. Realinhamento dos
relacionamentos para incluir
parentes por ainidades e netos;
d. Lidar com incapacidades e
morte dos pais (avós).
A família e o idoso 43

Mudanças de segunda
Processo emocional
Estágio do Ciclo ordem no status familiar,
de transição:
de Vida Familiar necessárias para prosseguir
princípio-chave
no desenvolvimento
6. Famílias no estágio Aceitar a mudança a. Manter o funcionamento e os
tardio da vida dos papéis interesses próprios e/ou do casal
geracionais. em fase do declínio isiológico;
b. Apoiar um papel mais central
da geração do meio;
c. Abrir espaço no sistema para
a sabedoria e a experiência dos
idosos, apoiando a geração mais
velha sem superfuncionar por ela;
d. Lidar com a perda do cônjuge,
irmãos e outros iguais e preparar-
se para a própria morte;
e. Revisão e integração da vida.
Fonte: Carter & McGoldrick, 1995, p.17.

Pelo exposto acima, a família representa o espaço de socialização, de divisão


de responsabilidades, de organização das estratégias de sobrevivência, espaço
onde vamos nos organizando perante a própria divisão e transformação dos
papéis que vamos assumindo neste espaço, lugar da construção da cidadania, de
proteção do grupo. É na família que se estreitam os laços afetivos e os recursos
do trabalho para a manutenção do grupo.

4.2 A representação do idoso no contexto familiar


Para avançarmos na nossa reflexão em torno do tema família, diríamos que
é na família que se estabelece o aprendizado dos valores através das gerações, é
o espaço onde estabelecemos vínculos fortes, é na família que herdamos todo
um acervo cultural de imagens e representações simbólicas que comporão nossa
identidade histórica e social. É na família que está representado o espaço mais
íntimo e necessário para o desenvolvimento da personalidade da criança e do
adolescente, para o acolhimento da pessoa idosa, muitas vezes na condição de
avós.
44 A família e o idoso

O idoso desempenha um papel de extrema importância na vida da criança


e do adolescente. Os avós, na terceira idade, possuem a representação familiar
e social de transmitirem a história particular de cada geração, de cada família
para as gerações mais jovens. Fraiman (1996) refere:

...as crianças precisam da família para sobreviver, para ser alguém.


Os mais velhos precisam da família porque a amam e querem se
assegurar de que seus mais altos valores e ideais sejam transmitidos
às gerações futuras. (1996, p.24)

Esta condição de representação de ser avó ou avô no contexto familiar e na


sociedade de modo geral independe da classe social, pois eles por si sós possuem
um caráter objetivo por ser um membro da família, e com isso cumprem uma
função social determinada e subjetivamente pelo fato da pessoa na velhice, na
figura do avô ou da avó, possuir, um carisma muito especial na imagem que
representa, no afeto estabelecido dentro do seio familiar. Para a garantia do
idoso neste espaço que é o seio da família estão dispostos nos artigos 229 e 230
da Constituição Brasileira de 1988 os deveres do Estado e da família em relação
aos cuidados à pessoa idosa: “Art. 229: Os pais têm o dever de assistir, criar e
educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar
os pais na velhice, carência ou enfermidade”.
Vemos, pelo artigo acima, que quando duas pessoas se unem para constituírem
uma família, e com o nascimento dos filhos, os vínculos consanguíneos
familiares não representam somente o único laço que une os membros às suas
responsabilidades, mas o amparo legal constituído. Os filhos maiores possuem
o dever de assistir seus pais idosos, garantindo a eles os cuidados necessários
para que os idosos tenham uma qualidade de vida na velhice. Mas, quando as
condições sociais de pobreza estão presentes no processo de desenvolvimento
das famílias, existe a possibilidade de o idoso sofrer algum tipo de violência ou
abandono social por parte do grupo familiar. Esta condição de pobreza poderá
favorecer o rompimento frequente dos vínculos familiares, situando estes filhos
maiores na condição de violadores de direitos em relação aos seus pais mais
velhos.
A família e o idoso 45

Quando assim ocorre, o Estado possui o dever de prover políticas públicas


preventivas, não deixando com que a pobreza material ronde este espaço tão
importante de relações humanas. Também na Constituição Brasileira de 1988
está condicionado: “Art. 230: A família, a sociedade e o Estado têm o dever
de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade,
defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”.
Para termos claro este direcionamento, segundo Yazbek (1999, p.34), “a
pobreza é um fenômeno multidimensional, é uma categoria política que implica
carecimentos no plano espiritual, no campo dos direitos, das possibilidades
e da esperança”. Comporta o não acesso a bens e serviços, moradia, saúde,
educação, trabalho, lazer, etc. E “a subalternidade, que diz respeito à ausência de
protagonismo, de poder, expressando a dominação e a exploração”. Não podemos
aceitar que a família de modo geral, principalmente a família proletária, sofra
com este déficit de condições mínimas e básicas de sobrevivência, fazendo com
que tanto a criança e o adolescente quanto o idoso sofram as condicionantes de
abandono pelo fato do Estado não cumprir com o seu papel.
O tripé da seguridade social, constituído por saúde, previdência e assistência
social, deverá estar expressamente assegurado ao trabalhador, garantindo as
condições básicas de sobrevivência social do grupo familiar. Será somente com
políticas sociais públicas que conseguiremos minimizar tal situação de pobreza.
As Políticas Sociais, conforme Soares (2001), seria um conjunto dos princípios
e medidas postos em prática por instituições governamentais e outras, para a
solução de certos problemas sociais. Poderemos considerar que elas representam
de forma estratégica um conjuntos de ações utilizadas pelo governo para tentar
diminuir as demandas da sociedade em condições de vulnerabilidade social.
Para Santos (1989, p.35) se define política social como sendo: “(...) o conjunto
de atividades ou programas governamentais destinados a remediar as falhas
do laissez-faire”.
O autor argumenta que o tema tornou-se lugar-comum na definição de
qualquer ação governamental. “Política social é um termo largamente usado,
mas que não se presta a uma definição precisa. O sentido em que é usado em
qualquer contexto particular é em vasta medida matéria de conveniência ou de
convenção (...) e nem uma, nem outra, explicará de que trata realmente a matéria”.
A partir das citações dos autores, afirmamos que existem vários caminhos já
percorridos para se definir políticas sociais, necessitando que o Estado e a
46 A família e o idoso

sociedade de modo geral cumpram com suas obrigações na materialização das


políticas sociais junto à família carenciada.
Entendemos que a família representa um espaço que deverá estar sempre em
pauta em todos os fóruns acadêmicos, tanto científicos como comunitários, pois
o tema representa espaço de protagonismo social, espaço de vida para todas as
gerações: crianças, adolescentes, adultos, adultos idosos, espaço de representação
de gênero, de classe social. Conforme Carter & McGoldrick (1995, p.17), deve
haver espaço no sistema para o desempenho da sabedoria e da experiência dos
idosos.

Referência comentada
BORGES, Angela. Família, gênero e gerações contemporâneas. Porto Alegre:
Paulinas, 2007.
A obra se insere na coleção Família na sociedade contemporânea nascida
em colaboração com o Programa do Mestrado em Família na Sociedade
Contemporânea (www.ucsal.br), da Universidade Católica do Salvador, a partir
do seminário “Família Contemporânea: desafios à intimidade e à inclusão
social”.

Referências
CARTER, B.; GOLDRICK, M. M. C. As mudanças no ciclo de vida familiar:
uma estrutura para a terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988.
DURKHEIM, E. Lições em sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
MINUCHIN, S. Família: funcionamento e tratamento. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1982.
ROMANELLI, G. Família de camadas médias: a trajetória da modernidade.
Ribeirão Preto, 1986.
SANTOS, Wanderley. Razões da desordem. Rio de Janeiro: Rocco, 1989.
A família e o idoso 47

YAZBEK, Maria Carmelita. Globalização, precarização das relações de


trabalho. In: Revista Temporalis / Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa
em Serviço Social. Ano 2, n.3 (jan/jul 2001). Brasília: ABESS, Graline,
2001.

Autoestudo
Coloque verdadeiro (V) ou falso (F):
( ) Os objetivos da família são fatores da maior importância no curso da
história do indivíduo (NICHOLS, 1998). A família é um sistema fechado
e que está continuamente em um processo de transformação.
( ) Entendemos que a configuração por parentesco poderá se configurar
entre os indivíduos vinculados pelo mesmo sangue. Existem grupos
de parentesco caracterizados por serem legítimos pelo casamento e os
ilegítimos, que poderão proceder do casamento.
( ) A família poderá representar o lugar do reconhecimento da diferença,
do aprendizado das uniões dos rompimentos, o espaço das trocas
afetivo-emocionais, da construção da identidade social de cada
indivíduo.
( ) Segundo Minuchin (1982), a família é uma unidade social que
enfrenta uma série de tarefas, tendo como finalidade ser uma matriz
do desenvolvimento psicossocial de seus membros.
( ) É na família que se estabelece o aprendizado dos valores através das
gerações, é o espaço onde estabelecemos vínculos fortes, é na família
que herdamos todo um acervo cultural de imagens e representações
simbólicas que comporão nossa identidade histórica e social.
( ) É na família que está representado o espaço mais íntimo e necessário
para o desenvolvimento da personalidade da criança e do adolescente,
para o acolhimento da pessoa idosa, muitas vezes na condição de
avós.
48 A família e o idoso

( ) O Estado possui o dever de prover políticas públicas preventivas, não


deixando com que a pobreza material ronde este espaço tão importante
de relações humanas.
( ) Os estudos históricos da evolução da humanidade demonstram que
o ser humano, para garantir a perpetuação da espécie, não necessitou
organizar a filiação biológica, direcionando ao que entendemos hoje
por família.

Respostas:
F, F, V, V, V, V, V, F
5

Aspectos legais aos direitos


dos idosos
O Serviço Social, como profissão, está inscrito na divisão social e técnica do
trabalho, situando-se no processo de produção e reprodução das relações sociais.
Assim, o Serviço Social contribui na prestação, elaboração e criação de uma
prática especializada em serviços que atendam às necessidades sociais básicas da
população. As condições de vulnerabilidade material ocorrem na vida das pessoas
pobres devido à forma como a sociedade capitalista vai se metamorfoseando
para a sua manutenção, criando bolsões de excluídos sociais.
Aqui, em particular, temos a forma como a população idosa vivencia no
cotidiano de suas vidas as mais diversas expressões da questão social, situações
marcadas pelo não acesso a recursos básicos para a sobrevivência, tanto na área
da saúde, habitação, meio ambiente como naquilo que entendemos ser básico
para a sobrevivência como sendo a alimentação, remédios, vestuário e um certo
conforto neste período da vida.

5.1 Encaminhamento jurídico no trato


da questão social
Uma realidade social de precarização, vivida por uma grande maioria das
pessoas na terceira idade, tem se evidenciado em sofrimento e amargura. O
50 Aspectos legais aos direitos dos idosos

Serviço Social neste cenário é considerado, portanto, para esta população, como
um profissional que possui a capacidade de realizar mediações, auxiliando-o e
subsidiando-o através de encaminhamentos necessários para a concretização
dos direitos. Estes encaminhamentos requerem um trato jurídico, exigindo do
profissional conhecimentos constitucionais e estatutários necessários para a
organização social na vida do idoso. Segundo Faleiros (1985):

As mediações se implicam mutuamente no contexto de relação


histórico-estrutural, constituindo redes de mediações articuladas sob
cuja ótica é que vamos elaborar estratégias de ação, o método é o
desdobramento do objeto, das mediações, nas suas interconexões
ou multilateralidade (1985, p.53).

As mediações precisam ser compreendidas como uma possibilidade de


se estabelecer uma diferente inter-relação entre todos os atores envolvidos.
Entendemos que ao profissional cabe a possibilidade de construir uma
dinâmica que envolva usuário/sociedade/Estado. O profissional nesta dinâmica
compreende melhor o contexto onde está inserido, não fragmentando a
forma social que organiza a vida das pessoas em sociedade. Nesse processo, o
profissional estabelece de forma estratégica suas ações, sejam estas no trato com
o usuário e este com a instituição, bem como com a comunidade mais ampla
ou com outros atores pertencentes às diversas redes.
Aqui, em questão, temos o assunto envelhecimento humano e as condições
de se viver a terceira idade em uma sociedade capitalista, marcada pela beleza
física, juventude, força, destreza, rapidez, classe social, poder aquisitivo, entre
outros elementos. Muitos destes condicionantes são legitimados e reafirmados
por esta mesma sociedade industrial. Formas de vida construídas para vencer
de forma competitiva a garantia de um espaço na sociedade industrial.
Como entender tal fenômeno biológico e social do envelhecimento, em
uma sociedade marcada por preconceitos e desigualdades, aqui, em especial,
a brasileira? Onde o mais forte prepondera de forma desigual sobre o mais
fraco? Onde a beleza do corpo e o vigor físico ainda são os elementos que darão
sentido de existência ao ser humano para que ele se mantenha produtivo! Muitas
vezes, percebemos que a sociedade industrial e de consumo elege, de modo
Aspectos legais aos direitos dos idosos 51

geral, a juventude e a força física como sendo os elementos que compõem os


pré-requisitos para assegurar a sobrevivência, sejam estes espaços o mundo do
trabalho, o contexto comunitário e muitas vezes o próprio contexto familiar,
mostrando o quanto ser idoso na atual sociedade é algo desafiador.
As relações sociais, muitas vezes, são vivências marcadas por relações
conflituosas e tensas, gestadas na forma e na intenção que damos a determinados
significados e valorações que vão definir o comportamento humano e a sua
própria sobrevivência, definindo o perfil do sujeito que deveremos ser e seguir
para termos sucesso. A caminhada humana possui também nuances que se
expressam em ações amorosas e cheias de doações, vínculos, desejos, emoções
que nos fazem pensar na possibilidade de se poder mudar o rumo da caminhada
humana, fazendo romper com as circunstâncias sociais de abandono e de pré-
conceitos. Dessa maneira, os mais frágeis socialmente e fisicamente vão sofrendo
o abandono social na esteira da vida, permitindo que a humanidade, de modo
geral, permaneça direcionada no sentido de amadurecer seus valores e sonhos,
suas escolhas, seu modo de ser e hábitos.
Desvendar o objeto “questão social”, na vida e na forma como os sujeitos
hoje na terceira idade a vivenciam, suas vidas, eis o desafio. Entendemos que
o Serviço Social trabalha no campo subjetivo (valores) e no campo objetivo
(sociedade, sua base material, relação de classe, força de trabalho, dentre
outros)” (TURCK, 2006, p.13). Nesse quadro, entendemos que existem interesses
particulares em detrimento da sociedade, que estabelecem um controle sobre
o imaginário social da maioria das pessoas, instigando-nos a vivermos criando
necessidades materiais e de consumo, desnecessárias para as nossas vidas,
elegendo determinados segmentos sociais mais fortes para a manutenção desta
relação de fetiche.
O movimento então é desvendar o objeto “questão social”, com o qual
poderemos garantir o processo de reconhecimento dos direitos sociais na vida
cotidiana dos idosos, para estabelecermos nosso processo interventivo nas mais
diferentes expressões da questão social na forma como os idosos a vivenciam.
Aqui, particularmente, temos o sofrimento e o abandono social que alguns
idosos enfrentam no cotidiano da vida em sociedade na garantia de seus direitos,
nesse tempo em que deveriam possuir a dádiva das sombras dos anos, viver esta
singular e única etapa da vida de todos nós.
52 Aspectos legais aos direitos dos idosos

No sentido de podermos pensar ações que venham ao encontro das


necessidades sociais, da saúde, da habitação, enfim, de tudo que se faz necessário
para uma qualidade de vida, o profissional deverá intervir na realidade
pautando sua intervenção através de critérios legais, que sejam direcionados às
necessidades de todos os idosos. A seguir, apresentaremos alguns destes critérios,
todos pautados através da Constituição Federal Brasileira de 1988, bem como
de estatutos e outros mecanismos jurídicos.

5.2 A garantia do direito


Mais particularmente, temos em relação à população idosa na Constituição
Federal Brasileira de 1988 cinco dos seus artigos que se referem à Política
Nacional do Idoso, priorizando um atendimento particular às demandas desta
população cada vez mais crescente, quais sejam:
Art. 14: A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I – plebiscito;
II – referendo;
III- iniciativa popular;
§ lº O alistamento eleitoral e o voto são:
II – facultativo para:
b) os maiores de setenta anos;
Art. 203: A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I– a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice;
II – o amparo a crianças e adolescentes carentes;
III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária;
Aspectos legais aos direitos dos idosos 53

V- a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa


portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir
meios de prover à sua própria manutenção ou de tê-la provida por
sua família, conforme dispuser a lei.
Art. 229: Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e
os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência
ou enfermidade.
Art. 230: A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas
idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade
e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.

A Política Nacional do Idoso, através da Lei Federal n. 8.842, de 4 de janeiro


de 1994, estabelece as seguintes diretrizes:
a) na promoção e na assistência social, há previsão de ações no sentido de
atender as necessidades básicas do idoso, estimulando-se a criação de
centros de convivência, centros de cuidados noturnos, casas-lares, oficinas
de trabalho, atendimentos domiciliares, além da capacitação de recursos
para atendimento do idoso (art. 10, I);
b) na área de saúde, o idoso deve ter toda assistência preventiva, protetiva
e de recuperação por meio do Sistema Único de Saúde; deve ser incluída
a geriatria como especialidade clínica, para efeito de concursos públicos
federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais (art. 10, II);
c) na área da educação preveem-se: a adequação dos currículos escolares
com conteúdos voltados para o processo de envelhecimento, de forma a
eliminar preconceitos; a inserção da Gerontologia e da Geriatria como
disciplinas curriculares nos cursos superiores; a criação de programas
de ensino destinado aos idosos; o apoio à criação de universidade aberta
para a terceira idade;
d) na área do trabalho e da previdência: impedir a discriminação do idoso,
no setor público e privado; programas de preparação para a aposentadoria
com antecedência mínima de dois anos antes do afastamento; atendimento
prioritário nos benefícios previdenciários;
54 Aspectos legais aos direitos dos idosos

e) habitação e urbanismo: facilitar o acesso à moradia para o idoso e diminuir


as barreiras arquitetônicas;
f) na área da justiça: promoção jurídica do idoso, coibindo abusos e lesões
a seus direitos;
g) na área da cultura, esporte e lazer: iniciativas para a integração do idoso
e, com este objetivo, a redução de preços dos eventos culturais, esportivos
e de lazer.
h) no âmbito na União, dos estados, Distrito Federal e municípios: a
criação de conselhos do idoso, com o objetivo de formular, coordenar,
supervisionar e avaliar a política nacional do idoso, no âmbito da
respectiva atuação (arts. 5º e 6º).

A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) Lei n. 8.742, de 7 de dezembro


de 1993, possui como finalidade reafirmar de forma segura algumas definições
e objetivos para garantia dos mínimos básicos de sobrevivência em relação ao
idoso, pontuando:

Das definições e objetivos


Art.1º. A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política
de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada
através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade,
para garantir o atendimento às necessidades básicas.
Art.2º. A assistência social tem por objetivos:
I– a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice;
II – o amparo às crianças e aos adolescentes carentes;
III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV – a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e
a promoção de sua integração à vida comunitária;
Aspectos legais aos direitos dos idosos 55

V– garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa


portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família.
Parágrafo único. A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas
setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos
sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à
universalização dos direitos sociais.

A Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, de 1989, possui três artigos


referentes à questão do idoso, afirmando:
Art. 260: O Estado desenvolverá política e programas de assistência social e
proteção à criança, ao adolescente e ao idoso, portadores ou não de deficiência,
com a participação de entidades civis, obedecendo aos preceitos I, II, III, IV,
V, VI, VII.
Art. 261: Compete ao Estado:
I– dar prioridade às pessoas com menos de 14 anos e mais de 60 anos
em todos os programas de natureza social, desde que comprovada a
insuficiência de meios materiais;
II – estabelecer programas de assistência aos idosos portadores ou não de
deficiência, com o objetivo de proporcionar-lhes segurança econômica,
defesa da dignidade e bem-estar, prevenção de doenças, integração e
participação ativa na comunidade;
III – manter casas e albergues para idosos, mendigos, crianças e adolescentes
abandonados, portadores ou não de deficiências, sem lar ou família,
aos quais se darão as condições de bem-estar e dignidade humana;
IV – dispor sobre a criação de Centros Regionais de Habilitação e
Reabilitação Física e Profissional.
Art. 262: É assegurada a gratuidade:
I– aos maiores de sessenta e cinco anos, no transporte coletivo urbano
e metropolitano;
56 Aspectos legais aos direitos dos idosos

A Associação Nacional de Gerontologia (ANG), criada em 1985, representa


uma instância importante para discussão e estudos das questões referentes
ao envelhecimento da população brasileira. Em 7 de dezembro 1993, a lei n.
8.742, Lei Orgânica da Assistência Social LOAS, surge através da organização
da sociedade civil e governamental para o enfrentamento de demandas sociais
emergentes, entre elas a questão do idoso carente e sem renda.
A Lei Orgânica da Assistência Social passa, a partir de dezembro de 1993, a
constituir-se no estatuto que rege as relações entre o Estado e a Sociedade, para
consolidação do direito social da Assistência, dentro do contexto da Seguridade
Social. A LOAS estabelece novas estruturas de gestão, que são os conselhos e
fundos definindo as competências das esferas federal, estadual e municipal tanto
na gestão como no financiamento.
Um ano após o surgimento da LOAS, em 1994, o presidente Itamar Franco
sanciona uma lei para garantir os direitos do idoso, a Lei n. 8.842 – que estabelece
a Política Nacional do Idosos, de 4 de janeiro de 1994, sendo regulamentada dois
anos depois pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, através do Decreto
n. 1.948, de 3 de julho de 1996.
Dessa maneira, cabe à sociedade brasileira e em especial a todos os
profissionais que trabalham com a terceira idade apropriarem-se destas garantias
estabelecidas em lei, instrumentalizando a população sobre a existência das
mesmas, trabalhando com a população idosa de modo geral. Assim ocorrendo,
as possibilidades de enfrentar os impactos em termos de aumento da exclusão
social de modo geral, mais particularmente em relação ao idoso, serão menos
difíceis. Organismos internacionais como a ONU têm demonstrado preocupação
em relação ao idoso, em buscar alternativas para seu enfrentamento.
Dados oficiais do governo brasileiro, apresentados na Cúpula Mundial
para o Desenvolvimento Social, promovida em março de 1995 pela ONU5,
demonstravam, já no século passado que a acumulação e a concentração de
renda no Brasil representam a causa estrutural do aumento da pobreza. Segundo
este documento ele apresenta os seguintes dados:

| 5 Entre os 71 países incluídos no último relatório de Desenvolvimento do Banco Mundial (1995),


o Brasil apresenta o maior índice de desigualdade social, fruto do efeito cumulativo “perverso
sobre a distribuição de renda” (BRASIL, 1995, p.1-5).
Aspectos legais aos direitos dos idosos 57

...enquanto, na década de 60, a renda apropriada pelos 10% mais


ricos da população era de 34 vezes superior à renda apropriada pelos
10% mais pobres, e na década de 90 essa proporção se eleva para
78 vezes. (1995, p.1-5)

A exclusão social é a resultante da acumulação e concentração de renda no


Brasil. Ao olhar-se para trás, percebe-se que, em poucas décadas, os artesãos
se transformaram em operários, estes perdendo a posse de suas ferramentas e
oferecendo sua força de trabalho. É a força de trabalho vista como mercadoria.
Inicia-se a busca para se medir esta força em valor igual aos salários. A
determinação do trabalho se dá através da oferta e da demanda. Perde-se a
agricultura de subsistência para as grandes propriedades rurais, surgindo o
êxodo rural.
Este tipo de movimento desordenado na sociedade traz consigo a situação
perversa do alargamento das submoradias nas periferias das grandes metrópoles,
do crime e do abandono, devido à situação de desemprego. Uma boa parte da
população da zona urbana foi se formando através da migração no sentido rural/
urbano, com pessoas que saíram do campo com o “sonho” de encontrar nas
metrópoles qualidade de vida para si e/ou também para os seus, impulsionados
pelo mercado de trabalho aparentemente promissor.
No Brasil, contamos com o Decreto n. 1.948/96, que regulamenta a Lei n.
884/94, estabelecendo a Política Nacional do Idoso. Embora estas medidas
legais representem um ganho para a sociedade, ainda existe um longo caminho
a percorrer até que se inaugure o tempo em que o cumprimento dessas leis
represente o atendimento às reais necessidades da população idosa, melhorando
assim a sua qualidade de vida. Uma das estratégias para a viabilidade da cidadania
ao idoso se refere às efetivas políticas, que realmente correspondam às suas
necessidades e aos seus anseios, ampliando significativamente os seus direitos
fundamentais como cidadãos e estabelecendo medidas de proteção efetivas, de
maneira a criar e/ou aprimorar políticas de atendimento efetivas, estabelecendo
prioridades inclusive no que diz respeito ao acesso à justiça.
O Estatuto do Idoso, Lei n. 10.741, de 1º de outubro de 2003, possui os
seguintes artigos que irão estabelecer as seguintes diretrizes em relação à garantia
dos direitos sociais ao idoso:
58 Aspectos legais aos direitos dos idosos

Art. 1º É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos


assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-
se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para
preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual,
espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder
Público assegurar ao idosos, com absoluta prioridade, a efetivação do direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.
Ao constatarmos, no art. 3º, a importância do idoso estar convivendo com a
família e a comunidade, sendo seu direito, evidenciamos enquanto alternativa
a este, a inserção do idoso em grupos de convivência. Será a partir desta
garantia dos direitos dos idosos que iremos estabelecer uma qualidade de vida
reafirmando o que está posto na lei. Acredita-se também que, em cada fase da
vida, surgem conquistas legais que irão estabelecer as condições favoráveis a uma
qualidade de vida na terceira idade, que demandam capacidades criativas para a
superação de limitações que porventura aconteçam, proporcionando um desafio
constante. Acreditamos que é através desta reflexão constante sobre os conceitos
estabelecidos sobre a velhice em sociedade que novos valores serão construídos
e atribuídos à condição da velhice, resultando em uma nova identidade social.

Referência comentada
O Estatuto do Idoso – Lei n. 10.741 – 2003.
Este documento legal, revela o esforça da sociedade e do movimento da
terceira idade em dispor de mecanismos legais que venha ao encontro da garantia
minimamente das condições sociais e legais para uma vida digna.
Aspectos legais aos direitos dos idosos 59

Referências
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, promulgada
aos 3 de outubro de 1989, 6.ed. Livraria do Advogado, Porto Alegre/RS.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 27.ed.
Saraiva, São Paulo, 2001.
Estatuto do Idoso, Lei n. 10.741 – 2003.
FALEIROS, Vicente de Paula. Serviço Social: questões para o futuro. Revista
Serviço Social e Sociedade. São Paulo, Cortez, n.50, 1985.
________. Estratégias em Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1997.
LEGISLAÇÃO. Idosos. 2.ed. Brasília, 1999.
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social – Lei n. 8.742 – 1993.
Política Nacional do Idoso, através da Lei Federal n. 8.842, de 4 de janeiro
de 1994.
TÜRCK, Maria da Graça Maurer Gomes. Serviço Social jurídico: perícia
social no contexto da infância e da juventude. Campinas: Livro Pleno, 2000.
________. Rede interna e rede social: o desaio permanente na teia das
relações sociais. Porto Alegre: Tomo, 2001.

Autoestudo
Caro aluno, como vemos no Brasil, existe uma série de mecanismos legais
que vão ao encontro de garantirmos na sociedade as condições mínimas
de sobrevivência para as pessoas na terceira idade, desde os compromissos
assumidos pela família, pela comunidade até a reafirmação das obrigações do
Estado no amparo ao idoso via políticas sociais. Sendo assim, faça uma pesquisa
sobre as diretrizes legais municipais que amparam os idosos de seu município e
também procure investigar o que fala a Constituição Estadual do Estado onde
você vive. Assim, você terá um estudo completo sobre o aparato legal, para
propor uma ação interventiva pautada na lei.
6

Redes de proteção: sua importância


na vida do idoso
Para avançarmos de forma teórica e prática em nossas reflexões em torno
da garantia dos direitos, ou seja, direitos para a terceira idade, apontamos como
condição especial trabalhar na perspectiva de rede. A rede ainda é um dos
suportes mais eficazes no que se refere à forma de acolher as demandas sociais da
terceira idade na sociedade contemporânea. Este desafio representa um grande
esforço para os profissionais que trabalham com este grupo social, ou seja, os
gerontólogos, os assistentes sociais, os psicólogos, os médicos, entre outros.
Realizar mediações importantes na garantia dos direitos sociais constitucionais,
eis o desafio.
Temos constatado, de modo geral, que os espaços institucionais que
atendem as demandas sociais e de saúde para a terceira idade se constituem de
forma fragilizada e ainda de pequeno número no suprimento das demandas
que emergem da questão social, na sua relação capital e trabalho. Isso posto,
entendemos que estes espaços deveriam ser objeto de estudo e intervenção dos
profissionais da área, exigindo uma rigorosa análise institucional e da realidade
aparente, buscando na essência a compreensão da forma como as relações
vão se constituindo. A pesquisa é uma ferramenta de grande valor para esta
compreensão.
Entendemos que o profissional assistente social exerce uma íntima relação
com a instituição e com os demais atores sociais que compõem o quadro
62 Redes de proteção: sua importância na vida do idoso

funcional, podendo provocar o debate para a construção de alternativas e


respostas para o enfrentamento da realidade.
Demarcada esta situação a ser trabalhada no que se refere às demandas
sociais da terceira idade, o profissional no espaço de trabalho estimulará ações
motivadoras para a construção de uma rede interna forte no espaço institucional.
Estes direitos negados muitas vezes também dizem respeito à sociedade de modo
geral, bem como nas relações estabelecidas nos espaços por onde o idoso transita,
ou seja, na família, na comunidade e nas próprias instituições que negam acesso
aos direitos sociais nas mais variadas e particulares demandas que os usuários
idosos apresentam.

6.1 Motivando a construção da rede de apoio


Para podermos, de forma mais precisa, acolher tais necessidades da terceira
idade dentro de uma instituição, através de uma rede interna, é necessário
demarcarmos a identidade do profissional que nela atua, para que assim
consigamos deixar claro quais são as nossas atribuições e responsabilidades
no conjunto das forças operantes. É importante compreendermos os processo
sociais na sua relação com a vida dos usuários, com o corpo técnico naquilo
que cada um faz no conjunto das forças profissionais, bem como o papel da
instituição no conjunto coletivo para o suprimento das demandas internas dos
usuários. Cada um atendendo particularidades no grande conjunto que emerge
da questão social.
Demarcada a identidade deste ator social e suas respectivas responsabilidades,
vamos dando procedimento à construção daquilo que Türck (2001) assinala
como sendo a rede interna ou social na construção efetiva de um tecido protetivo
para as demandas inerentes do idoso. É através desta identificação de atores,
reconhecendo responsabilidades e papéis, percebendo o que os une através de
seu próprio conhecimento e procedimentos em conjunto de forma solidária, que
se dará a visibilidade e a perspectiva da constituição desta rede interna dentro
da instituição social com as demais instituições da comunidade.
Para melhor percebermos o cotidiano de trabalho de profissionais engajados
neste processo de construção de rede, apresentaremos estudos realizados por
Oliveira (2008), através da sua pesquisa com assistentes sociais que trabalham
Redes de proteção: sua importância na vida do idoso 63

com população de rua na terceira idade, o pesquisador buscou compreender o


cotidiano de trabalho de assistentes sociais que de alguma maneira falam sobre
a forma e o modo de como as redes estão ou não construídas no cotidiano da
prática profissional para o atendimento das demandas de idosos moradores de
rua, nas instituições de proteção social.
No influxo de tais reflexões, percebemos, através do estudo proposto, que
esta realidade se faz marcada por dificuldades e desafios no trabalho vivido pelas
assistentes sociais que participaram da referida pesquisa. Quando questionadas
sobre o trabalho em rede, no sentido de poderem atender as demandas que
chegam nas instituições para moradores de rua, as profissionais, através
das narrativas permeadas de dificuldades, relatam seus enfrentamentos no
atendimento desta população.

6.2 Narrativas sobre o trabalho em rede:


necessidades e possibilidades de inclusão social
para pessoas na terceira idade através da rede
Entendemos que o trabalho para ser efetivo, através de uma ação em rede,
deverá estar marcado por compromissos coletivos em relação à realidade social
percebida no cotidiano institucional e social. Para a construção de uma rede
forte, especializada, devemos estabelecer e garantir o fluxo da comunicação
entre os diversos atores que trabalham nas instituições com determinadas
demandas comuns entre si. O diálogo permanente sobre a realidade vivida no
cotidiano institucional deverá ser o passo primeiro para a construção de forma
madura e coletiva de decisões pensadas e articuladas em rede. Vejamos como
a profissional6 se expressa:

(...) nós construímos uma rede, uma rede pessoal, a partir da minha
pessoa (...), eu construí uma rede para o Serviço Social do município,
porque eu assumi esta vaga da colega anterior que saiu, e talvez por
questões de personalidade, algumas portas para ela eram fechadas, e

| 6 Os nomes das assistentes sociais apresentados neste estudo são ictícios, para se garantir a
privacidade dos proissionais envolvidos na pesquisa.
64 Redes de proteção: sua importância na vida do idoso

a partir da minha pessoa, eu (...), eu iniciei a rede com uma questão


pessoal minha, de uma particularidade pessoal minha, de poder com
jeitinho ter afinidade com algumas pessoas, para assim poder usar
principalmente o serviço da saúde que deveria ser uma parceira, e
quando eu cheguei no albergue ela não era uma parceria, a gente
sabe que a saúde mental ela é uma parceria muito grande – Assistente
social Maria da Luz. (OLIVEIRA, 2008, p.27)

A narrativa da assistente social acima que trabalha em uma instituição para


população adulta de rua e da terceira idade nos apresenta uma interlocução
marcada de dificuldades em relacionar conhecimentos teóricos para a
implementação de forma eficaz de um trabalho em rede. Sua forma de pensar
o trabalho em rede está calcada em uma ação particularizada, baseada no senso
comum, na afinidade, no jeitinho, sem articulação teórica, fundamental para
sua prática interventiva.
Constatamos, através da narrativa acima, um processo de trabalho
desassociado de uma prática que esteja conectada através de uma metodologia
que ilumine seu processo de intervenção, mas apresenta uma ação que reflete
um personalismo calcado em valores e percepções que não ultrapassam o senso
comum. Não podemos compreender a construção de um trabalho em rede feita
a partir de uma concepção que esteja implicada no “personalismo”, na afinidade,
“no jeitinho”, que tenha como intenção montar parcerias.
Este tipo de intervenção fragiliza a identidade profissional na rede, podendo
gerar uma equivocada ação do assistente social e de outros profissionais no
contexto da rede através de práticas tarefeiras. A construção da identidade
profissional em um trabalho em rede só se estabelece na medida em que, através
do processo de trabalho, o profissional vai materializando os mais diversos
conhecimentos que as demandas exigem como o Estatuto do Idoso, as mais
variadas produções e pesquisas no que se refere a Gerontologia Social e a geriatria
e também aquilo que sua área de conhecimento poderá oferecer.
Este conjunto teórico representará uma ferramenta necessária para o devido
enfrentamento das demandas inerentes ao tema que ora refletimos e que
darão sentido ao fazer profissional no mundo do trabalho. Esta articulação e
construção da identidade profissional no trabalho em rede torna-se importante
Redes de proteção: sua importância na vida do idoso 65

para esclarecer responsabilidades e atribuições dos profissionais, como já


referimos anteriormente, tanto do gerontólogo social como do assistente social,
do psicólogo, do administrador, entre outros, frente às necessidades que os
usuários estabelecem.
O estudo de Oliveira (2008, p.21) busca refletir através das narrativas
das profissionais, a compreensão sobre a forma e o modo de como algumas
assistentes sociais estão implementando seu processo de trabalho através de uma
ação em rede, no sentido de legitimar atribuições e responsabilidades diante das
demandas apresentadas. Como veremos abaixo, não percebemos nas narrativas
uma continuidade nos trabalhos desenvolvidos por elas, que caracterize uma
ação em rede, um ir além daquilo que a realidade apresenta, visando garantir
uma unidade, uma ação solidária na perspectiva de rede, através de um trabalho
interdisciplinar em favor do usuário, vejamos:

Agora mesmo teve uma situação de um paciente idoso que precisava


internar, mas o que a gente faz. Bom isto são questões da área da
saúde, quem tem que estar dando conta disto é a enfermagem, ah,
mas a auxiliar tem dificuldade, então chama-se a supervisão dela
para dar conta disto. Acho que a gente tem a coisa da nossa visão,
a gente contextualiza mais, a gente tem papel de mediador, mas isto
não traz para si a responsabilidade, não se tira a responsabilidade de
outros, aí foi a discussão; ah! Mas este paciente esteve no hospital
e foi desligado porque terminou o tempo de autorização da IH,
sim, mas e daí? Vai morrer por causa disto! Como é que trouxeram
este paciente de volta? Temos que nos posicionar, este médico que
escreveu a evolução, que encaminha para outro local. Chama a
enfermagem então para avaliar, se a auxiliar de enfermagem não tem
condições de fazer, chama-se a enfermeira para fazer a avaliação, o
parecer técnico é da enfermeira, não é do Serviço Social, então isto
tudo é uma coisa de estar colocando em discussão na rede local de
saúde, clareando muito para as pessoas, o que é responsabilidade
de cada um e de todos ao mesmo tempo – Assistente social Maria
das Dores. (OLIVEIRA, 2008, p.23)
66 Redes de proteção: sua importância na vida do idoso

Ao analisarmos a narrativa acima, percebemos um ruído no sentido de


não estarem definidas na rede as responsabilidades e atribuições frente às
necessidades dos usuários. Existe um acanhado reconhecimento sobre o papel
que cada um desempenha na rede. As necessidades do usuário, quando tecidas
na rede, tornam-se responsabilidades compartilhadas por todos os profissionais
envolvidos. Vejamos a narrativa da assistente social Maria das Graças. Oliveira
(2008, p.45) revela o mesmo direcionamento em suas questões em relação ao
suporte que a rede deve oportunizar para quem trabalha na área das necessidades
sociais e de saúde para a terceira idade:

Falta apoio da rede, não tem, simplesmente não tem para onde
encaminharmos as pessoas idosas que procuram atendimento a
droga e álcool, não temos, por exemplo, no município convênios
com fazendas de recuperação, daí o CAPS aqui do município também
não aceita álcool e drogas, da mesma forma acontece de nós termos
pessoas idosas com problemas mentais e que não acessam o CAPS,
e também não podem ficar aqui, e aí temos a questão do problema
mental, outros em estado terminal por causa do HIV. Enfim, tem
uma série de casos e nós não temos estrutura para lidar, não é nossa
função, é da saúde, chegam aqui sem nenhum hábito de higiene
devido aos problemas mentais, a gente aceita ele aqui alguns dias
e depois tem que ir para a rua – Assistente social Maria do Rosário.
(OLIVEIRA, 2008, p.21)

O profissional pode, na rede, através de sua iniciativa e das possibilidades de


decisão de que ele está investido, articular e incentivar esta reflexão dialogada
sobre as demandas e suas responsabilidades e papéis que cada um possui no
conjunto das forças mobilizadoras que a dimensão do coletivo possui. Esta ação
deverá ser trabalhada no coletivo e em rede para responsabilizar o poder público
“forçando” de alguma maneira a criação de ações de trabalho interdisciplinar,
garantindo com intencionalidade de prática o melhor atendimento para o
usuário. Turck (2001) alerta sobre estes imperativos quanto a trabalhar na
perspectiva de rede “interna e rede social”, estabelecendo elementos como sendo
diretrizes de sustentação da rede.
Redes de proteção: sua importância na vida do idoso 67

Entendemos que estes elementos de sustentação da rede estão representados


na forma como as pessoas dialogam, a forma como a comunicação flui, e no
poder do coletivo para pressionar o Estado para dar respostas às próprias
necessidades de manter a rede viva. Entendemos que rede interna (TURCK,
2001) é o espaço onde os fatos mais próximos sucedem, é onde deveriam ser
compartilhadas as demandas de forma solidária, responsável. Para a população
usuária na terceira idade, a articulação das políticas de assistência social e de
saúde são políticas importantes na construção da cidadania destes sujeitos e na
própria organização dos idosos e moradores de rua enquanto movimento social
legítimo, pois, segundo Faleiros (1999):

O foco de intervenção social se constrói nesse processo de


articulação do poder dos usuários e sujeitos da ação profissional
no enfrentamento das questões relacionais complexas do dia, pois
envolvem a construção de estratégias para dispor de recursos, poder,
agilidade, acesso, organização, informação, comunicação. (...) É ai
que se dá o trabalho sobre as mediações complexas na dinâmica das
relações particulares e gerais dos processos de fragilização social,
para intervir nas relações de força, nos recursos e nos poderes
institucionais, visando fortalecer o poder dos mais frágeis, oprimidos,
explorados, pelo resgate da sua cidadania, da sua autoestima, das
condições singulares da sobrevivência humana e coletiva, de sua
participação. (FALEIROS, 1999, p.41)

As relações de poder permeiam a vida das pessoas em um plano amplo de


convívio na sociedade, bem como na vida particular e cotidiana das pessoas,
estando estes mesmos sujeitos vivendo na dualidade dominação/submissão. A
palavra “poder”, em sua concepção primordial, “é a capacidade exímia de produzir
efeitos ou, ao menos, que possibilita a ação” (FALEIROS, 1997, p.43).
O profissional necessita, por meio de seu processo de trabalho, formular
um conjunto de reflexões e de mediações para intervir nesta realidade, junto a
outros profissionais, seja na formulação de uma educação permanente discutida
na rede, bem como em reuniões técnicas para a compreensão e a resolução dos
aspectos delimitados a partir de cada realidade vivida por cada usuário, pois
68 Redes de proteção: sua importância na vida do idoso

entendemos que cada situação pontual demandada pelo usuário está conectada
diretamente com o universo mais amplo da sociedade, necessitando, muitas
vezes, do empenho de todas as áreas do conhecimento para somarem forças
no sentido de o usuário superar suas necessidades, encontrando a resolução
das demandas.
A vida das pessoas está inserida nas mais diversas esferas da vida social,
atuando de um modo diverso na condição de dominadores e outros de
dominados. Esta relação de poder passa a assumir uma relação dinâmica,
conforme vão se estabelecendo as diversas representações sociais que cada
sujeito estabelece. Como vimos, estas relações sociais vão sendo constituídas
diacronicamente ao longo de um processo, e nesta dinâmica muitas pessoas
vão sofrendo perdas objetivas (materiais) e subjetivas (percepção de si mesmas,
valores), levando a uma autoestima baixa, fazendo com que o acolhimento
realizado institucionalmente seja o primeiro processo de inclusão social.
O poder dá às pessoas um status social e uma segurança no estabelecimento
das relações. Oliveira (2008, p.12) apresenta a fala da assistente social Maria
do Rosário, que nos faz refletir sobre a importância do acolhimento7 que o
assistente social estabelece quando o usuário chega na instituição, pois desta
maneira estamos, através do processo de trabalho, garantindo ao usuário um
significado social, valor:

Quando estamos fazendo uma intervenção, temos que ter claro que,
se existe uma rede constituída, temos que conhecê-la, saber como
ela se estabelece, como são estes serviços, sejam estes de grande ou
de pequena abrangência, a rede é muito falha às vezes, então acho
que isto é um limite, porque tu não está podendo às vezes atender
a demanda que surge, estar podendo fazer um encaminhamento,
estar podendo fazer com que o usuário acesse um outro serviço
que possibilite o atendimento daquela necessidade, então isto é
um limite bem grande que temos que superar, ter que trabalhar

| 7 Acolhimento não é, pois, apenas tratar bem o paciente e direcioná-lo dentro do sistema de
saúde; transpassa uma simples conduta proissional e constitui-se em uma característica do
serviço ou uma sempre presente virtualidade de genuína escuta e de espaços de subjetivação.
Esse ponto parece ser fundamental para a possibilidade criativa e de mudança, de inversão da
lógica vigente de organização dos serviços de saúde (GASTAL e GUTFREIND, p.135, 2007).
Redes de proteção: sua importância na vida do idoso 69

com o que é possível é ruim, o que a gente pode fazer é acolher


bem, a gente procura fazer aquela escuta, que às vezes as pessoas
chegam aqui com situações que os usuários acreditam não ter mais
o que fazer, que está tudo muito difícil, que não tem como sair
deste mesmo lugar, então poder estar refletindo os problemas com
o usuário, coisas que ela pode fazer para fazer uma mudança, os
cuidados com o corpo, consigo mesmo, podendo construir outras
coisas até de lazer, fazendo coisas que lhe dão prazer, representam
alternativas viáveis que estão ao nosso alcance – Assistente social
Maria do Rosário. (OLIVEIRA, 2008, p.23).

Quando trabalhamos com população idosa em condições de abandono


social e de saúde, buscamos dar significados que foram retirados destes
sujeitos, destituídos, perdidos ao longo de uma trajetória histórica de vida, no
processo de fragilização em que foram e ou estão envolvidos. O entendimento
do “emporwerment” no trabalho em rede seria o “aumento de poder pessoal
e coletivo de indivíduos e grupos sociais submetidos a relações de opressão
e de dominação” (VASCONCELOS, 2000, p.14), é um valor importante a ser
garantido no processo de trabalho em rede pelos profissionais implicados neste
processo. Reconhecer com os usuários o seu poder é reconhecer, através da ação
de intervenção, que os mesmos estão destituídos de bens materiais, moradia,
recursos de saúde, assistência social, etc., e que os mesmos são sujeitos políticos
a reivindicarem seus direitos.
O poder que o estatuto da cidadania confere a todas as pessoas que vivem em
uma sociedade democrática garante, no processo de trabalho do assistente social,
exercer a prática do reconhecimento da cidadania através do caráter histórico,
político e social em que estamos implicados, é “desvendar essa construção por
esse trânsito entre a forma de ser e a forma de aparecer, que passa pelo político,
pelo histórico e pelo social” (MARTINELLI, 1999, p.14).
O cotidiano de trabalho dos profissionais gerontólogos, dos assistentes sociais,
dos psicólogos, dos fisioterapeutas, dos profissionais das práticas esportivas estão
marcados por grandes desafios, e, muitas vezes, este cotidiano é assinalado por
uma carência de estrutura e de profissionais que realmente desejam tecer esta
rede de apoio, que é orgânica, pois possui vida. Uma constante correlação de
forças que demarcam o sistema capitalista na vida das pessoas e na forma como
70 Redes de proteção: sua importância na vida do idoso

elas vivenciam as expressões da questão social em suas vidas, sejam estas na


família, nas instituições e na sociedade de modo geral. Oliveira (2008, p.43) nos
traz a narrativa da assistente social Maria da Luz, que expressa este sentimento
de desconforto de perseguir este ideal de trabalho em rede, afirmando:

Enquanto rede, tenho tentado participar, não é muito fácil, acho que a
permanência de uma rede é sempre difícil, quem trabalha com rede sabe
disto, é difícil manter, a gente sempre participa e tenta ter presença
efetiva, nos fóruns representativos, apesar de isto ser cansativo e de
achar que às vezes a coisa não vai, a gente está sempre participando.
Nós temos uma reunião da Rede Ampliada que junta todas entidades
que atendem a população carenciada, que é no (...), que envolve as
entidades governamentais e não governamentais, e nós temos a rede
municipal, que se reúne uma vez por mês, a gente tem a nível local
alguns contatos, com dificuldade na região, os profissionais que atuam
nesta área são do Serviço Social, a gente não tem uma amplitude maior
de outros técnicos, as equipes são muito reduzidas – Assistente social
Maria da Luz. (OLIVEIRA, 2008, p.43)

Na vida das pessoas em sociedade, e em particular no mundo do trabalho,


estes espaços se configuram tensos, contraditórios. O mundo do trabalho para a
grande maioria da população está constituído por baixos salários, burocráticos,
competitivos. Estas situações, invariavelmente, poderão prejudicar o desempenho
profissional e social na vida de cada um e da própria rede de serviços. Este
contexto social se estabelece através da correlação de forças decorrentes da
forma como o sistema capitalista vai se incorporando nas particularidades das
relações sociais e institucionais, acirrando-se uma ação competitiva de ser, que
se legitima como forma de desempenho humano, em que o valor está associado
ao status e ao poder calcado no personalismo de cada um, fragilizando qualquer
ação de solidariedade que venha a ser tematizada na rede.
Esta forma de ser “clara ou oculta”, por meio de consecutivas vivências de
sucessos e fracassos, também é vivida no mundo do trabalho, principalmente
quando se acirra a disputa por status social e poder institucional, bem como
quando trabalhamos de forma equivocada na concepção de rede. Quando o
Redes de proteção: sua importância na vida do idoso 71

sentido de solidariedade deixa de estabelecer a conexão entre o todo e as partes


dos que integram a rede, esta deixa de existir no formato solidário com que uma
rede deva se constituir. A assistente social Maria da Luz, em sua narrativa, aponta
muitos significados sobre o trabalho em rede que merecem nossa reflexão, na
íntegra:

Eu imagino assim que nós assistentes sociais somos praticamente,


na (...), os únicos técnicos que estão à frente dessa rede, que
estão trabalhando nesta rede, então fica mais ou menos assim,
dependendo sempre da percepção e da ótica destes profissionais e
do ângulo que estes profissionais veem este conjunto todo que é
a questão do idoso abandonado, acho que nós podemos contribuir
muito, conseguindo traduzir para a instituição, pelo nosso contato
e pelo nosso conhecimento com o usuário. Traduzir esta demanda
é a contribuição maior. A maior parte dos programas e dos projetos
sociais são decisões políticas, não política no sentido de política
partidária, mas política. (OLIVEIRA, 2008, p.44).

O trabalho em rede merece ser desenvolvido com perseverança e cuidado, a


rede não nasce pronta, merece ser tecida, carece de um processo de maturação,
que requer dos profissionais muita criatividade, vontade de construir, fio a
fio, a rede, de abrir-se para o trabalho interdisciplinar, como temos afirmado.
Percebemos, na fala da assistente social Maria da Luz, que os assistentes sociais
são os profissionais que compõem a equipe na rede, sendo um número que se
expressa na sua grande maioria, portanto, o trabalho a ser feito merece todo
um cuidado de posicionamentos, pois, dependendo da atitude tomada, poderá
implicar a identidade profissional que esboçamos na rede, na sua implicação
com a construção da rede.
Este cuidado e forma de se expressar do assistente social está associado
a uma leitura que o mesmo faz dos princípios inerentes de seu Código de
Ética e do nosso compromisso ético-político com a população usuária. Os
princípios do Código de Ética profissional do assistente social por si já garantem
direcionamento à solidariedade que o trabalho em rede requer, como Turck
(2001) enfatiza.
72 Redes de proteção: sua importância na vida do idoso

Por efeito dessa conjuntura estabelecida através da dimensão ética política,


o assistente social poderá somar com seu trabalho, na rede, valorizando e
incentivando a representação e o valor que cada membro estabelece neste
trabalho conjunto, através de diálogos, discussões, encontros e ou assembleias
instrutivas. Assim ocorrendo, estaremos dando visibilidade e valor aos usuários,
às pessoas que estão nesta luta por uma vida social mais igualitária, valorizando a
pessoa do usuário idoso e atribuindo-lhe a dignidade que merecem. A assistente
social Maria da Luz afirma: “traduzir esta demanda para a instituição é a nossa
contribuição maior”, mas não podemos ficar somente nesta iniciativa quando
se trabalha em rede, necessitamos avançar em uma direção que venha:

[...] intervir nas relações de força, nos recursos e nos poderes


institucionais, visando fortalecer o poder dos mais frágeis, oprimidos,
explorados, pelo resgate de sua cidadania, da sua autonomia, da sua
autoestima, das condições singulares da sobrevivência individual e
coletiva, de sua participação e organização. (FALEIROS, 1999, p.41)

Entendemos que realmente em nosso país muitos dos programas e projetos


sociais são decisões políticas, como refere a assistente social Maria João de Deus,
todavia precisamos tencionar este tipo de atitude na rede, garantindo, neste
espaço, os direitos sociais. Na narrativa abaixo, da assistente social Maria das
Graças, a profissional argumenta sobre a importância de trabalharmos, na rede,
a realidade vivida pelos idosos moradores de rua, reafirmando a necessidade de
compartilhar as demandas recebidas na instituição, juntos, na rede. Vejamos:

Eu acho que nós, assistentes sociais, temos que estar sempre levando
na rede a realidade desta população, estar discutindo a vida destas
pessoas e os processos de exclusão, da negação de atendimento
a estas pessoas, tenho um colega que fala muito o significado de
estarmos trabalhando “da porta pra fora”, pra gente poder estar
construindo esta rede, estar colocando um pouco desta experiência
que a gente possui, para poder estar ampliando estes serviços que
são poucos, para estar construindo esta rede de uma maneira mais
ampla. (OLIVEIRA, 2008, p.45)
Redes de proteção: sua importância na vida do idoso 73

As colocações feitas pela assistente social demonstram a preocupação em


compartilhar, somar esforços para que possamos tencionar estruturas na garantia
de direitos. Entendemos que os idosos moradores de rua, particularmente
quando vivenciam perdas, acabam criando uma representação de isolamento
em meio ao contexto social. Na possibilidade de se trabalhar em rede, buscamos
potencializar nela as formas de garantir processos de autonomia e emancipação
dos usuários idosos, pois:

O desafio é redescobrir alternativas e possibilidades para o trabalho


profissional no cenário atual; traçar horizontes para a formulação de
propostas que façam frente à questão social e que sejam solidárias
com o modo de vida daqueles que a vivem, não só como vítimas, mas
como sujeitos que lutam pela preservação e conquista da sua vida, da
sua humanidade. Essa discussão é parte dos rumos perseguidos pelo
trabalho profissional contemporâneo. (IAMAMOTO, 2000, p.75)

O desafio posto aos profissionais gerontólogos, assistentes sociais, psicólogos,


entre outros, centram-se em reconhecer o próprio objeto de trabalho, sendo
o mesmo fundamental para o desempenho do exercício profissional. Para
podermos tencionar o trabalho em rede é importante e necessário apreender
como a questão social, em suas múltiplas expressões, é experimentada pelos
sujeitos em suas vidas, destacando:

...dar conta das particularidades das múltiplas expressões da questão


social na história da sociedade brasileira é explicitar os processos
sociais que as produzem e reproduzem e como são experimentadas
pelos sujeitos sociais que vivenciam em suas relações sociais
quotidianas. (IAMAMOTO, 2001, p.62)

Quando conseguimos estabelecer uma relação de diálogo na rede, quando


os atores sociais, profissionais que trabalham na instituição ou na comunidade,
conseguem reconhecer no outro a possibilidade de realizar trocas, de
compartilhar encaminhamentos, bem como socializar a tomada de decisões
74 Redes de proteção: sua importância na vida do idoso

sobre questões que envolvem os usuários, estamos estabelecendo uma relação


de trabalho em rede.

Referência comentada
GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais e redes de mobilizações civis no
Brasil contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 2010.
Esta obra nos oportuniza visualizar a importância da construção de redes de
mobilização tanto dos movimentos sociais como da sociedade de modo geral,
e com esta rede fortalecida compreenderemos a força da mudança para um
mundo melhor e mais igualitário.

Referências
FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em Serviço Social. São Paulo:
Cortez, 1999.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na contemporaneidade:
Trabalho e Formação Proissional. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2000.
MARTINELLI, Maria Lúcia (org.). O Serviço Social e as demandas na
contemporaneidade. Porto Alegre: PUCRS, 1999. Palestra proferida na
Faculdade de Serviço Social.
OLIVEIRA, Jairo da Luz. A vida cotidiana do idoso morador de rua: as
estratégias de sobrevivência da infância à velhice – um círculo da pobreza a
ser rompido. Canoas: Ed. ULBRA, 2003.
OLIVEIRA, Jairo da Luz. O processo de trabalho do Serviço Social na sua
abordagem com moradores de rua. Tese de Doutorado – PUC/RS – 2008.
TÜRCK, Maria da Graça Maurer Gomes. Rede interna e rede social: o desaio
permanente na teia das relações sociais. Porto Alegre: Tomo, 2001.
VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Serviço Social e interdisciplinaridade:
o exemplo da saúde mental. In: _______. Saúde mental e Serviço Social. O
desaio da subjetividade e a interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2000.
Redes de proteção: sua importância na vida do idoso 75

Autoestudo
Coloque verdadeiro (V) ou falso (F):
( ) O poder que o estatuto da cidadania confere a todas as pessoas que
vivem em uma sociedade democrática é imprimir, no processo de
trabalho do assistente social e dos demais profissionais envolvidos, a
prática do reconhecimento do caráter histórico, político e social em
que estamos implicados.
( ) O entendimento do “emporwerment” no trabalho em rede seria o
“aumento de poder pessoal e coletivo de indivíduos e grupos sociais
submetidos a relações de opressão e de dominação” (VASCONCELOS,
2000, p.14), este é um valor menos importante a ser garantido no
processo de trabalho em rede pelos profissionais implicados neste
processo.
( ) Quando trabalhamos com população idosa em condições de abandono
social e de saúde, buscamos dar significados que foram retirados
destes sujeitos, destituídos, perdidos ao longo de uma trajetória
histórica de vida, no processo de fragilização em que foram e ou estão
envolvidos.
( ) As relações de poder permeiam a vida das pessoas em um plano
menor de convívio na sociedade, bem como na vida particular e
cotidiana das pessoas, estando estes mesmos sujeitos vivendo na
dualidade dominação/submissão. A palavra “poder”, em sua concepção
primordial, “é a capacidade exímia de produzir efeitos ou, ao menos,
que possibilita a ação” (FALEIROS, 1997, p.43).
( ) O profissional pode, na rede, através de sua iniciativa e das possibilidades
de decisão de que ele está investido, articular e incentivar esta reflexão
dialogada sobre responsabilidades e papéis que cada um possui no
conjunto das forças mobilizadoras que a dimensão do coletivo possui
através do trabalho coletivo e em rede para responsabilizar o poder
público, “forçando” de alguma maneira a criação de ações de trabalho
interdisciplinar, garantindo com intencionalidade de prática o melhor
atendimento para o usuário.
76 Redes de proteção: sua importância na vida do idoso

Respostas:
V, F, V, F, V
7

A violência do preconceito contra


o idoso no contexto urbano: o idoso
morador de rua, uma expressão
da questão social
O fato de a pessoa ser pobre ou estar desprovida do trabalho, sobrevivendo
do mercado informal, ou sobrevivendo das ruas, faz com que muitas delas sejam
julgadas com valores de desvalia e sentimentos de desconfiança, o que gera
estados de insegurança social. Por vezes, os sujeitos de rua carregam consigo o
estigma de serem vistos como inferiores, sem qualificação, chegando, em alguns
momentos, a serem confundidos ou identificados como pessoas marginais,
perigosas, que ameaçam a sociedade.
Para entendermos determinadas situações sociais marcadas pelo preconceito
e abandono social de termos pessoas na terceira idade vivendo estigmas e
abandono, é importante compreendermos o valor atribuído à condição de ser
idoso em nossa sociedade contemporânea através da história. Nessa lógica, é
importante refletirmos sobre a forma de como nos colocamos em cada momento
da história da humanidade em relação de aceitarmos ou não os conceitos que
construímos em relação a fatos, pessoas, grupos, etc. Vamos influenciando de
forma decisiva com nossos conceitos estabelecidos a vida do ser humano através
da forma que organizamos a vida social, a vida em nossa sociedade.
A violência do preconceito contra o idoso no contexto urbano:
78 o idoso morador de rua, uma expressão da questão social

Vamos, também, condicionando nossas vidas de forma passiva com um


“certo imobilismo social”, em relação aos estereótipos que vamos criando, que
geram os mais diversos tipos de sofrimento humano e em particular as pessoas
que vivem o processo do envelhecimento, ações preconceituosas como forma
de vida, gestadas ao longo do tempo histórico. Goerck (2007, p.77) afirma: “A
definição ou valor atribuído á velhice varia de acordo com o tempo histórico,
cultural, regional ou conforme a classe social onde os sujeitos estão inseridos”.
E a autora continua: “No Brasil, assim como em outros países, a velhice é
estigmatizada, sendo este estigma uma construção da sociedade industrial”
(GOERCK, 2007, p.77), prejudicando o existir de determinados grupos sociais, e
aqui em particular a terceira idade em evidência. Temos o dever de estar revendo
estes conceitos, bem como pensar em ações eficazes para a garantia dos direitos
dos idosos moradores de rua.

7.1 A vida na rua e seus condicionantes


A vida na rua é marcada por privações, precariedades que acabam desgastando
a vida orgânica de quem nela vive. Muitos idosos nesta condição vivem doentes,
maltrapilhos, com aspectos que afetam a imagem destas pessoas, causando
constrangimentos, causando, certas vezes, um sentido de insegurança pública
pela existência dos moradores de rua. Em virtude deste tipo de comportamento
social e devido aos sentimentos de insegurança na vida pública, muitos se sentem
inseguros em oferecer uma atenção mais direta aos idosos moradores de rua,
pequenos serviços domésticos aos sujeitos que caminham pelas ruas em busca
de uma atividade que lhes garanta uma renda, como, por exemplo, as de cortar
grama, pintar, limpar, etc. Esse sentimento reflete a alteração nos padrões de
comportamento, gerados, principalmente, nos grandes centros urbanos, o medo
em função da violência urbana.
As mudanças comportamentais que se materializam em estados quase
permanentes de desconfiança, ameaças, furtos, agressões, violência urbana e
assédios, fazem parte de um conjunto de vivências que está marcando o cotidiano
das relações do ser humano contemporâneo. Esses sentimentos e vivências
estabelecem fraturas nas relações sociais, gerando um processo de adoecimento
que encobre o universo relacional dos sujeitos no meio em que vivem.
A violência do preconceito contra o idoso no contexto urbano:
o idoso morador de rua, uma expressão da questão social 79

Situações como a própria existência de idosos moradores de rua, que fogem


aos padrões estabelecidos de comportamento, incomodam algumas pessoas pelo
próprio fato dos mesmos existirem. Alguns outros, mais extremados, pensam
que estes sujeitos estão despossuídos de significados sociais, merecendo o
extermínio. Instaura-se a morte devido à intolerância pela diferença. Muitos
tipos de sentimentos vão se apropriando e conduzindo a vida das pessoas;
como o individualismo, a solidão, o abandono e o autoabandono. São estados
que representam sentimentos que amargam dolorosamente o existir humano,
e, assim, os comportamentos vão intensificando as indiferenças e o descuido
em relação ao outro.
A realidade vai se expressando com contornos de competitividade de uns
para com os outros, a disputa instaura-se nas relações sociais e reafirma-se
um afrouxamento nas relações sociais, intensificado pela indiferença e pela
intolerância. A condição de se ter pessoas vivendo nas ruas representa uma
expressão contemporânea de abandono que reflete o não cumprimento dos
direitos humanos.
Não podemos subestimar o homem andarilho, por mais que a vida o tenha
colocado em uma situação desprovida de recursos materiais, pois esse ser
humano ainda possui dentro de si, na sua essência, uma riqueza de possibilidades,
sonhos e lembranças não mensuráveis. Isso é observável quando se oportuniza
escutar o idoso morador de rua, propondo a ele falar de sua história de vida.
As lembranças que ficaram na memória, escritas na história individual,
bem como os fatos presentes na vida de cada sujeito, representam a identidade
social do ser humano. Viver a terceira idade no Brasil é algo desafiador, viver
a terceira idade abandonada nas ruas é quase inimaginável, uma forma de
violência que foge aos parâmetros de nossa racionalidade. Entendemos ser
importante buscarmos estudar tal situação por meio da pesquisa, pois muitas
vezes a violência representa uma das expressões da questão social na forma
como os idosos estão enfrentando os desafios de sua sobrevivência na sociedade
capitalista.
Não sendo o suficiente as dificuldades impostas pela condição de miséria
pelo fato de estarem abandonados nas ruas das grandes metrópoles, estes idosos
de rua enfrentam também o preconceito da idade a se expressar no cotidiano
de luta e resistência para a sobrevivência das pessoas. Estes idosos também são
A violência do preconceito contra o idoso no contexto urbano:
80 o idoso morador de rua, uma expressão da questão social

alvo do preconceito pelo fato de serem moradores de rua. A classe dominante


estabelece padrões para o desempenho das relações humanas, colocando as
pessoas em situações desconfortáveis devido ao preconceito. Lefebvre (apud
TEDESCO, 1999) afirma:

...a alienação caminha passo a passo com o preconceito. Quanto


mais alienada for a vida cotidiana, mais o preconceito a domina. A
força hegemônica da classe dominante e seus recursos ideológicos,
econômicos e técnicos buscam sempre mais universalizar seu modo
de conceber e de direcionar o mundo. (1999, p.177)

Estes sujeitos idosos de rua são vistos como transeuntes “vagabundos,


desqualificados” sem valor, pois a sociedade atual tem na categoria trabalho um
condicionante de realização individualista, de realização pessoal, egoísta, que
prima pela ação competitiva. Paiva (1998) menciona como o trabalho é visto
na sociedade burguesa:

Na sociedade burguesa, fundada no mercado, a realização mundana


do indivíduo passa a ser o valor ético central. Esse individualismo –
que estabelece a autonomia do sujeito, concebe o trabalho apenas
como modo de realização pessoal, enaltece a propriedade privada,
enaltece o saber como forma de domínio da natureza e dos outros
homens – reduz a liberdade ao livre-arbítrio. O caráter coletivo ou
transcendente do mundo ético cede lugar ao predomínio do interesse
individual, centrado na competitividade, na realização privada, na
felicidade estritamente pessoal. (1998, p.107)

Para as pessoas pobres que são vítimas desta sociedade “burguesa” o


preconceito torna-se um dos maiores obstáculos a ser vencido, uma forma de
violência velada, que fere a subjetividade humana. Aos profissionais da área da
Gerontologia, cabe a tarefa de compreenderem a forma como o preconceito vai
se instaurando na vida das pessoas, a pesquisa pode ser um instrumento valioso
para conseguirmos compreender esta realidade.
A violência do preconceito contra o idoso no contexto urbano:
o idoso morador de rua, uma expressão da questão social 81

7.2 Narrativas de vida dos idosos moradores de rua


Oliveira (2003), em sua pesquisa com idosos moradores de rua na terceira
idade, revela através da fala dos sujeitos entrevistados um universo rico de
potencialidades, de desejos, sonhos, amarguras que estes idosos de rua vão
enunciando ao entrevistador. Através de seus estudos com população de rua
idosa, o pesquisador procura compreender como estes idosos que hoje se
encontram nas ruas conseguem desenvolver suas estratégias de sobrevivência
neste espaço hostil.
A identificação da falta do trabalho surge como necessidade de manutenção
de si próprios e da família, expressa no comportamento destes sujeitos idosos
hoje moradores de rua. Este idoso morador de rua relata ao pesquisador as
dificuldades em encontrar trabalho, estando estas dificuldades relacionadas
ao preconceito pela idade já avançada e por causa dele ser um morador de rua,
e em sua fala demonstra ter enfrentado no seu cotidiano o preconceito como
barreira para a sua realização no trabalho:

Eu tenho andado, gasto sola de sapato..., em toda a cidade, vou


para Viamão, para Camaquã, qualquer lado eu procuro... Eu procuro
serviço de porteiro, de limpeza, serviço que não precise fazer muita
força, serviço para velho, pessoa de idade, mas não encontro, acho
que é mesmo por causa da idade... (OLIVEIRA, 2003, p.14)

Por mais que seja grande o esforço destes idosos em buscar uma atividade
que lhes garanta o seu sustento, a maioria das vezes as chances de conseguirem
uma atividade é quase nula, pois a comunidade em geral não se sente segura em
contratá-los, devido aos valores a eles atribuídos serem de desqualificação. A
sociedade ainda não conseguiu estabelecer o respeito à adversidade, impedindo
que os sujeitos, ditos “diferentes do padrão estabelecido” consigam se realizar.
Heller (1989) afirma: “Todo preconceito impede a autonomia do homem,
ou seja, diminui sua liberdade relativa diante do ato de escolha, ao defrontar
e, consequentemente, estreitar a margem real de alternativa do indivíduo”
(1989, p.59).
A violência do preconceito contra o idoso no contexto urbano:
82 o idoso morador de rua, uma expressão da questão social

Todo preconceito reduz as possibilidades criadoras da pessoa. Os idosos de


rua sofrem duplamente o preconceito social, o fato de serem velhos e a condição
de serem moradores de rua, ficando reduzidas as suas possibilidades. Heller
assim refere-se: “O preconceito portanto reduz as alternativas do indivíduo”
(1989, p.60). Torna-se necessário que os profissionais que trabalham com as
demandas sociais estejam atentos a esta questão ética: valorizar o ser humano
nos seus mais amplos aspectos e lutar para que sejam afastadas todas as formas
de preconceito. O mesmo ocorre com as pessoas que trabalham na reciclagem
do lixo nos espaços urbanos. Juncá, Gonçalves e Azevedo (1998) referem que,
apesar de os catadores exercerem uma atividade não reconhecida no mundo
do trabalho pela sociedade, estes sujeitos que vivem do lixo urbano sofrem esta
situação no cotidiano de suas vidas, e assim se expressam:

Já as questões relacionadas ao ambiente de trabalho em que vivem


podem ser expressas através da seguinte fala: “as pessoas não gostam
de dá serviço, elas escolhem pela cara da pessoa”, numa referência
à sua aparência física e onde a maioria reside. (1998, p.218)

Constata-se que tanto a pessoa que vive do lixo como o idoso de rua sofrem
esta situação de discriminação por não estarem enquadrados nos valores
estipulados pela sociedade, mas sim classificados na maioria das vezes como
malfeitores, oportunistas, e que podem representar ameaças. Ao assistente
social, particularmente, compete-lhe, em seu código de ética: ... o empenho
na eliminação de todas as formas de preconceito, o respeito à diversidade, à
participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças.
Na fala desta idosa percebe-se o esforço realizado para a garantia de seu
trabalho:

Eu saía, às vezes eu limpava uma casinha, mas eu não dizia nada


que eu dormia na rua. Eu ia bem limpinha, se eu não estava bem
limpinha, eu ia no rio, ali no Gasômetro sabe, tomava o meu banho
lá no rio. Ficava escondidinha, às vezes ficava até sem roupa, em um
canto que não tinha ninguém ... Aí vinha e pegava o meu serviço
trabalhava, limpava a casa... Uma vez estava frio, eu tinha que pegar
A violência do preconceito contra o idoso no contexto urbano:
o idoso morador de rua, uma expressão da questão social 83

no serviço às 8 horas da manhã, eu levantei às 5 horas da manhã e


fui para lá tomar meu banho... (OLIVEIRA, 2003, p.24)

A necessidade de dissimular a sua condição de moradora de rua é constante,


submetendo-se a estratégias bastante difíceis para que sua patroa não descobrisse
a sua condição. Esta mesma idosa relata de sua vergonha em ter que mendigar
nas ruas muitas vezes para poder se alimentar, comentando do seu sentimento de
constrangimento perante a situação vivenciada no espaço urbano da cidade:

Eu me levantava, pedia esmola para eu comer alguma coisa, tirava


um dinheirinho, parava nas esquinas, eu tenho vergonha, eu fui
uma mulher muito trabalhadeira sabe, pedia esmola na rua para mim
comer, sobreviver.... (OLIVEIRA, 2003, p.14)

O constrangimento para quem se encontra nos espaços urbanos das grandes


cidades torna-se realmente uma situação difícil na vida dos moradores de rua
idosos. A idosa vivenciou esta situação, pois, encontrando um trabalho, teve
que dissimular a sua condição de moradora de rua, e ao mendigar sentia-se
humilhada, pois em suas palavras o trabalho sempre fez parte de sua vida. Para
a sociedade em geral estes sujeitos vistos como “vagabundos” estão destituídos
de valores que os qualifiquem como trabalhadores. Neves (1995) refere-se sobre
a necessidade dos moradores de rua usarem de dissimulação para escapar de
qualquer repressão:

Visto como mutilação social porque não são percebidos pelos


atributos de trabalhador, sobre ele recaem inúmeras ações da
sociedade, na suposição de recuperação de tais qualidades. E as
iniciativas mais comuns são aquelas que pressupõem o recolhimento
na rua. Não só o medo do recolhimento como também a necessidade
de se dissimular como morador de rua para escapar da repressão
constituem outros fatores impeditivos de que esse trabalhador –
não reconhecido – veja-se diante da impossibilidade de acumular
pertences e reconstituir o fundo de consumo que lhe permita outras
A violência do preconceito contra o idoso no contexto urbano:
84 o idoso morador de rua, uma expressão da questão social

formas de inserção no mercado de trabalho formal e a apropriação


socialmente reconhecida de controle de um espaço para moradia.
(1995, p.68)

Devemos questionar qual a melhor forma de se pensar em uma intervenção


no cotidiano destes sujeitos, para que suas possibilidades de sobrevivência se
tornem alternativas de existência particular e social. Somente com a capacidade
de valorizar e resgatar as expressões particulares destes indivíduos com suas
capacidades criativas, através de programas e projetos, conseguir-se-á resgatar
a dignidade das pessoas que se encontram nas ruas de nossas cidades.
Podemos afirmar que, na sua grande maioria, a população idosa de rua possui
uma vontade de conseguir um trabalho, para poderem sair desta condição de
pobreza e abandono social. Percebe-se, nas falas dos sujeitos, um grande esforço
neste sentido, pois, além das dificuldades relativas à formação de cada um e o
preconceito que os colocam neste círculo excludente que é a rua, existe o fato de
serem velhos e moradores de rua, dificultando ainda mais as suas existências.
Entendemos que os problemas enfrentados pelos idosos de rua não foram
gerados pela sua condição de serem velhos, incapazes, ou malandros, mas
teve a sua gênesis na vida nômade pela busca do trabalho como forma de
sobrevivência. A necessidade de trabalharem em tenra idade para muitos se inicia
lá na infância desprovida de cuidados especiais, desenvolvendo este processo
de busca da sobrevivência através do trabalho na vida adulta, e muitas vezes
buscando na velhice abandonada, repetimos, um trabalho para que possam
viver ou sobreviver.
A condição de pobreza a que estes idosos quando crianças foram submetidos
geraram a falta de recursos em todos os sentidos, dificultando a possibilidade de
desenvolverem uma vida que lhes garantisse um futuro promissor. A necessidade
do trabalho como fator de sobrevivência impulsionaram estes idosos quando
crianças a trabalharem com seis, sete anos de idade. Neste período, toda a criança
deveria estar sendo conduzida e mantida na escola. Acredita-se que a escola
poderia ter contribuído para que o destino destes idosos não fosse a rua.
Nesta época em que suas vidas tiveram início, não existiam estudos mais
específicos sobre crianças vulneráveis que permitissem compreender o
funcionamento destas famílias e evitar este quadro de abandono e preconceito
A violência do preconceito contra o idoso no contexto urbano:
o idoso morador de rua, uma expressão da questão social 85

que estes idosos enfrentam. Na vida adulta, muitos deste idosos continuaram
de uma forma errante a buscar no trabalho a sua sobrevivência. Acredita-se
que muitos tiveram esta vida nômade pelo fato de quererem realizar sonhos,
saírem desta condição de pobreza em que se encontravam, mesmo que para isso
tivessem que romper com seus vínculos familiares, afetos, suas culturas e todo
um universo de relações.
Estas lacunas percebidas e que foram deixadas para trás poderiam ter
contribuído de alguma maneira para que este idoso não chegasse a esta condição
de mendicância. O fato de buscarem, na vida adulta, o trabalho itinerante não
possibilitou que estes idosos pudessem criar raízes e estruturar suas vidas para
que o amanhã não fosse tão desprovido de recursos. Muitos destes idosos, na
vida adulta, demonstraram não ter a capacidade de manter uma vinculação
afetiva, demonstrando que os traumas ocasionados na infância podem ter
sido agentes motivadores desta situação. Estes, quando não atendidos, podem
tornar-se problemas futuros.
Muitos idosos moradores de rua não conseguiram manter um relacionamento
estável com seus pares, deixando para trás companheiros, companheiras, filhos,
filhas e outros. Percebe-se então o nível de prejuízos que estes sujeitos tiveram
ao longo de suas vidas.
Outras questões que foram detectadas neste estudo proposto por Oliveira
(2003) e que provocam inseguranças são perdas relacionadas durante a história
de trabalho. Constatou-se que, ao longo da vida adulta, muitos deste idosos
buscaram o trabalho informal, não este trabalho de abrangência, o “Work”, como
Agnes Heller (1999) descreve, tendo como finalidade atingir-se uma necessidade
social, resultando de objetivações genéricas e que venham a ser universalizadas,
mas o trabalho como forma de sobrevivência ou, se diria, o “puro labor”.
Nesta trajetória, muitos desconheciam a necessidade de registrar em
documento próprio como carteira de trabalho as suas presenças nestes locais de
trabalho formal, repercutindo de uma forma negativa na velhice desamparada
o fato de não conseguirem comprovar os anos trabalhados, restando para
muitos, somente o salário de prestação continuada para idosos acima de sessenta
anos.
Ao despontar então a vida na velhice, estes sujeitos cansados, sem as forças
físicas, não possuem seu bem maior, ou seja, a possibilidade de vender sua força
A violência do preconceito contra o idoso no contexto urbano:
86 o idoso morador de rua, uma expressão da questão social

de trabalho. Associado a todos estes imperativos relacionados à velhice, soma-se


o preconceito da condição de rua com o preconceito de serem idosos.
Não mais possuem recursos para pagarem uma “pecinha”, ou irem para
pensões, ou outros locais que lhes garanta abrigo. Constatou-se, também, ao
longo deste estudo, o jogo de forças destes idosos de tentarem sobreviver na
rua, para muitos de constrangimentos, humilhações. O proposto por Oliveira
(2003) demonstra que o círculo da exclusão social fecha-se na velhice vulnerável.
Inicia-se na infância, desenvolve-se na vida adulta e culmina na velhice.
Pedir, mendigar um alimento, um vestuário, um local para banhar-se, a
disputa por um local onde repousar, o medo da violência no espaço urbano,
será o panorama social em que esse idoso irá viver. Dessa forma, a sociedade é
um local de contradições. Se existe a face que articula movimentos perversos,
por outro existem movimentos de distribuição de generosidades, e são essas
ações, na grande maioria das vezes, que têm garantido a sobrevivência a essas
pessoas que estão na rua.
A vida nos espaços urbanos agora é viver de albergue em albergue, e,
quando doentes, depender do atendimento médico público deficitário. O que
surpreende é constatar-se que estes sujeitos idosos perseguem o trabalho não
só para a própria sobrevivência, mas também como uma forma de mudança
em suas vidas. Estes sujeitos acreditam que o trabalho poderá modificar suas
vidas miseráveis de pobreza e consequentemente poderão encontrar a saída
desta condição de estarem nas ruas.
As instituições que recebem a população idosa de rua, de modo geral,
representam na vida destas pessoas uma porta garantia, no sentido de
oportunizar uma convivência social de grupo e outras tantas oportunidades
para a integração social. O Serviço Social pode contribuir para que o idoso de
rua tenha uma oportunidade de reintegração social, e o primeiro movimento
neste sentido é o da escuta, do acolhimento, do afeto, que a condição de rua não
permite mais este tipo de vivência. Posteriormente, são os encaminhamentos
necessários para avaliações das perdas relacionadas com a rualização e os
procedimentos legais para oportunizar uma seguridade social aos que, pela lei,
estão habilitados, o que não é do conhecimento de muitos idosos. Verifica-se,
através das falas dos sujeitos, que a presença dos assistentes sociais têm relevante
importância, intervindo nas suas necessidades imediatas.
A violência do preconceito contra o idoso no contexto urbano:
o idoso morador de rua, uma expressão da questão social 87

A pesquisa, para o Serviço Social, proporciona através do estudo uma


aproximação com a realidade social concreta, ou seja, com esta realidade que
está crescendo em nossa sociedade: a velhice abandonada nas ruas. Pensar nestas
pessoas que enfrentam a fragilidade da vida física na velhice e que se tornam-se
mais vulneráveis pelo fato de estarem abandonadas nas ruas.
Acredita-se que, diante desta realidade, possa-se quebrar mitos, preconceitos
e discriminações, e, parafraseando Sposati (1995, p.127), se diria: “A vida na
rua como modo de sobrevivência não deixa de compor uma das estratégias
de resistência, da coragem de enfrentar a vida. Não quer dizer que o modo
de viver seja necessariamente a rua”. O que realmente fica para nosso estudo
é reconhecer que estes idosos, por mais que a condição de rua os fragilize, a
coragem de superar esta realidade, em muitos, é latente.
Para encerrar nossas reflexões, deixaremos alguns questionamentos: as
políticas públicas estão realmente atendendo a todo o universo de pessoas que
estão vivendo este processo de exclusão social? O que está sendo feito em favor
destes idosos é eficaz? Está sendo eficaz para a população de rua de modo geral?
Enquanto realmente não houver uma política séria e determinada que pense na
família integral que está abandonada, não conseguiremos evitar que tenhamos
crianças de rua, adultos de rua e, mais particularmente, idosos de rua.

Referência comentada
OLIVEIRA, Jairo da Luz. A vida cotidiana do idoso morador de rua: as
estratégias de sobrevivência da infância à velhice – um círculo da pobreza a
ser rompido. Canoas: Ed. ULBRA, 2003.
Esta obra revela a vida cotidiana do idoso morador de rua, uma realidade
marcada pelo abandono e o preconceito. Dez idosos participantes de uma
pesquisa de mestrado apontam como é viver nesta condição, falam de suas vidas
desde a tenra infância de privações, sacrifícios, da alegria do lar, da saudade dos
pais que somente a memória e o coração conseguem guardar. A fala nobre destes
dez idosos entrevistados pelo pesquisador, todos com mais de sessenta anos é
marcada com um vigor quase insuportável de luta para sair desta condição social.
A fala destes idosos revela uma vontade muito grande de retornar ao trabalho
como forma de saírem da condição de rua.
A violência do preconceito contra o idoso no contexto urbano:
88 o idoso morador de rua, uma expressão da questão social

Referências
HELLER, Agnes. Teoria dos sentimentos – A heory of Feelings (Título
original). 3.ed. Barcelona, Espanha: Fantamara S.A. – Editora, 1985.
________. Ética – General – General Ethics. Madri, Espanha: Dim
Impresseres, 1995.
________. O cotidiano e a história. Allag und Geschichte (Título original).
3.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
JUNCÁ, Denise; GONÇALVES, Marilene Parente; AZEVEDO, Verônica
Gonçalves. A mão que obra no lixo. Niterói: Eduf, 2000.
OLIVEIRA, Jairo da Luz. A vida cotidiana do idoso morador de rua: as
estratégias de sobrevivência da infância à velhice – um círculo da pobreza a
ser rompido. Canoas: Ed. ULBRA, 2003.
PAIVA, Beatriz Augusto de. Algumas considerações sobre ética e valor.
In: BONETTI, Dilséia Adeodata. Serviço Social e ética. São Paulo: Cortez,
1998.
SPOSATI, Aldaísa. Mínimos sociais e seguridade social: uma revolução
da consciência da cidadania. Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo:
Cortez, n.55, 1997.
_______. A menina Loas: um processo de construção da assistência social.
São Paulo: Cortez, 2004.
SPOSATI, Aldaiza de Oliveira; BONETTI, Dilsea Adeodata; YASBEK,
Maria Carmelita; FALCÃO, Maria do Carmo B. Carvalho. Assistência na
trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão de análise. 3.ed. São
Paulo: Cortez, 1987.

Autoestudo
Coloque verdadeiro (V) ou falso (F):
( ) A realidade vai se expressando com contornos de competitividade de
uns para com os outros, a disputa instaura-se nas relações sociais e
reafirma-se um afrouxamento nas relações sociais, intensificado pela
indiferença e pela intolerância.
A violência do preconceito contra o idoso no contexto urbano:
o idoso morador de rua, uma expressão da questão social 89

( ) A condição de se ter pessoas vivendo nas ruas representa uma expressão


muito pequena na sociedade contemporânea.
( ) Temos o dever de estar revendo estes conceitos, bem como pensar em
ações eficazes para a garantia dos direitos dos idosos. Iremos a seguir
refletir sobre a forma de se viver a velhice em nosso país.
( ) As lembranças que ficam na memória, escritas na história individual,
bem como os fatos presentes na vida de cada sujeito, representam a
identidade social do ser humano.
( ) Todo preconceito não reduz as possibilidades criadoras da pessoa. Os
idosos de rua sofrem duplamente o preconceito social, o fato de serem
velhos e a condição de serem moradores de rua, ficando reduzidas as
suas possibilidades.
( ) Viver a terceira idade no Brasil é algo desafiador, viver a terceira idade
abandonada nas ruas é quase inimaginável, uma forma de violência
que foge aos parâmetros de nossa racionalidade.
( ) Para entendermos determinadas situações sociais marcadas pelo
preconceito e o abandono social de termos pessoas na terceira idade
vivendo estigmas e abandono, é importante compreendermos o valor
atribuído à condição de ser idoso em nossa sociedade contemporânea
através da história.
( ) Goerck (2007, p.77) afirma: “A definição ou o valor atribuído à velhice
varia de acordo com o tempo histórico, cultural, regional ou conforme
a classe social em que os sujeitos estão inseridos”.

Respostas:
V, F, V, V, F, V, V, V
8

Uma análise sobre a realidade


social do idoso no Brasil
Entendemos que a questão social representa o resultado estabelecido
a partir dos conflitos inerentes da relação capital e trabalho da sociedade
capitalista, traduzindo fenômenos sociais e particulares, na vida cotidiana das
pessoas. Segundo Cerqueira (1982), questão social é o conjunto de problemas
políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impõe
no curso da constituição do sistema capitalista. Assim, a “questão social” está
fundamentalmente vinculada ao conflito capital/trabalho (1982, p.21).
Estes problemas se caracterizam por desemprego, violência marcada pelo
desemprego e ou subemprego, discriminação, trabalho infantil, abandono e
preconceito contra a pessoa idosa, entre outros tantos fatores, que incidem na
vida cotidiana dos sujeitos. O Serviço Social a partir desta realidade é solicitado
a desempenhar seu trabalho, nos mais diferentes processos de trabalho, na
intermediação dos direitos sociais.
Nessa lógica, o profissional assistente social deve desenvolver em seu processo
de trabalho habilidades metodológicas que o possibilitem a reconhecer o seu
objeto de trabalho. A partir desta análise, o assistente social poderá planejar
e desenvolver o seu processo interventivo naquilo que ele já reconhece como
sendo seu objeto de intervenção. A percepção da totalidade é fundamental,
para propor alternativas e compreender a realidade social na vida cotidiana das
92 Uma análise sobre a realidade social do idoso no Brasil

pessoas. Segundo Iamamoto (2005), a autora, através da citação abaixo, nos fala
sobre o objeto de trabalho do Serviço Social mencionando:

O objeto de trabalho aqui considerado é a questão social. É ela,


em suas múltiplas expressões, que provoca a necessidade de ação
profissional junto à criança e ao adolescente, ao idoso, à situação
de violência contra a mulher, à luta pela terra, etc. (2005 p.62)

Entendemos que o profissional assistente social necessita ter a clareza de


como vão se instaurando as mais diversas manifestações da questão social no
cotidiano da vida social, através da análise dos processos estrutural e conjuntural
da realidade caracterizados por condicionantes históricos e culturais, com
seus devidos rebatimentos de toda a ordem nas relações de trabalho. Para
o centro de nossas reflexões, sobre a vida social e suas relações, desejamos
aprofundar a situação de se viver a terceira idade no Brasil. Como os idosos estão
garantindo uma vida com qualidade? Qual a real dimensão deste contingente de
brasileiros que a cada ano soma-se mais nas estatísticas relacionadas ao índice
populacional?
Em 1998, os idosos somavam 12,4 milhões, ou seja 7,6% da população. Ao
longo de várias pesquisas em torno do processo do envelhecimento social no
país, vemos que na década de 90 a população idosa era de 4.903.468 homens e
5.772.041 mulheres, cuja soma é de aproximadamente 10,7 milhões de idosos
(IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 1994). O que nos leva
a pensar na real importância deste contingente populacional, que necessita
ser atendido nas suas necessidades básicas biopsicossociais, para viverem com
qualidade de vida. O IBGE (1999), já no final da década de 90, indicava que em
21 anos a população de idosos no Brasil (com 60 anos ou mais) chegaria a 25
milhões, ou seja, cerca de 12% da população brasileira.
Uma pesquisa do (IBGE)8, mostra que a expectativa de vida no país aumentou
cerca de três anos entre 1999 e 2009. A nova expectativa de vida do brasileiro é
de 73,1 anos. Entre as mulheres são registradas as menores taxas de mortalidade.

| 8 Fonte da pesquisa realizada em 4/4/2011: http://www.ibicidade.com/2010/09/censo-2010-


segundo-dados-do-ibge.html
Uma análise sobre a realidade social do idoso no Brasil 93

Elas representam 55,8% das pessoas com mais de 60 anos. Segundo o IBGE, a
taxa de expectativa de vida no Brasil ainda é menor que a da América Latina
e do Caribe (73,9 anos), só ficando à frente da Ásia (69,6 anos) e da África (55
anos). Na América do Norte a taxa fica em 79,7 anos. Os níveis mais baixos da
taxa de fecundidade se encontram nos estados da Região Sudeste, sobretudo no
Rio de Janeiro e Minas Gerais, com 1,63 e 1,67 filho por mulher respectivamente.
Com relação a cor ou raça, segundo o IBGE, a taxa de fecundidade das mulheres
brancas (1,63 filhos) era menor do que a das negras ou pardas (2,20).
A pesquisa mostra que o aumento da esperança de vida ao nascer e a
queda da fecundidade no país têm feito subir o número de idosos, que passou
entre 1999 e 2009 de 6,4 milhões para 9,7 milhões. Em termos percentuais, a
proporção de idosos na população subiu de 3,9% para 5,1%. Em compensação,
no mesmo período, caiu o número de crianças e adolescentes de 40,1% para
32,8%, estreitando o topo da pirâmide etária brasileira.
Vejamos mais algumas informações sobre o processo de envelhecimento
em nosso país: segundo alguns estudos9, até o final desta década, o Brasil ainda
terá uma proporção de idosos na população (6%) bastante inferior à média dos
países europeus (17%), que hoje já vivenciam em larga escala os problemas
decorrentes de se ter uma significativa parcela da população com 60 anos ou
mais. Teremos no ano 2025 a proporção de 14% de pessoas com 60 ou mais
anos, no Brasil, inferior à média dos países europeus na mesma época (25%),
colocando para o Brasil os mesmos problemas que hoje são enfrentados em
alguns países europeus. Segundo Berzins (2003):

A crise econômica e de desemprego que o país vem sofrendo nas


últimas décadas tem provocado alterações nas condições de vida
das famílias brasileiras. Muitos filhos casados com suas famílias têm
voltado a morar com seus pais, por não terem condições de arcar
com as despesas do orçamento. (2003, p.30)

| 9 Rev. Saúde Pública, vol.21, n.3, São Paulo, Jun 1987. DOI: 10.1590/S0034-
89101987000300006
94 Uma análise sobre a realidade social do idoso no Brasil

Esta é uma das muitas realidades sociais vividas na contemporaneidade:


mesmo o Brasil sendo um país em desenvolvimento, ainda retratamos a
desigualdade social, que atinge significativamente o processo de envelhecimento
como um todo.

8.1 Trabalho: quando a idade chega,


o preconceito aumenta...
Algo a ser estudado diz respeito à relação trabalho versus idade, pois, quando
a idade chega, aumenta o preconceito contra o trabalhador. Temos percebido que
as pessoas, ao chegarem na idade dos seus quarenta anos, por exemplo, são-lhe
fechadas as portas do mercado de trabalho. Segundo Antunes (1999):

O indivíduo que chega aos quarenta anos começa a sofrer também


maiores discriminações no mercado de trabalho. Isso interfere
diretamente em sua produtividade e autoestima, pois sofrem os
abalos dessa mudança brusca de um dia pertencer a todo um contexto
e no outro não existir. (1999, p.191)

Percebe-se que a mudança ocorrida no mundo do trabalho afeta a todos os


trabalhadores de maneira geral, mas os trabalhadores que vão chegando nesta
fase da vida (em torno de 45 anos), como ressalta o autor acima, já estão sofrendo
o preconceito da idade, alterando as estruturas socioeconômicas, incidindo
diretamente sobre a subjetividade da população que está ou vai enfrentar o seu
processo de envelhecimento. Evidencia-se no pensamento de Antunes (1999)
que as mudanças descritas acima “criaram, portanto, uma classe trabalhadora
ainda mais diferenciada, entre qualificados/desqualificados, mercado formal/
informal, homens, mulheres, jovens/velhos, estáveis, precários e imigrantes”
(1999, p.191).
Os trabalhadores vão sendo fragmentados, tornando-se frágeis e vivendo
no cotidiano de suas vidas as dificuldades inerentes desta condição, a partir
de nossos conceitos e pré-conceitos aceitos e legitimados socialmente. Assim,
entendemos que na sociedade brasileira, quanto mais vamos vivendo o processo
do envelhecimento nos seus mais diversos aspectos, vamos sendo alijados
Uma análise sobre a realidade social do idoso no Brasil 95

dos processos produtivos, colocando a pessoa idosa na condição de excluído


socialmente, necessitando mecanismos legais que venham ao encontro da
garantia de direitos.
Estes condicionantes incidem nas transformações que se operam nas relações
sociais vigentes. Neste estudo desejamos problematizar, de alguma maneira,
como a questão social está afetando o cotidiano da vida das pessoas na terceira
idade. Vejamos no quadro abaixo o crescente número de idosos que está sendo
projetado para as décadas futuras.

Tabela 1 – Brasil: população total observada e projetada por idade (1940-2040)


Total de Total da
60 a 64 65 a 69 70 a 74 75 a 79 80 +
idosos população
1940 1.668.445 687.827 384.473 282.416 143.069 170.660 41.165.289

1950 2.210.318 938.277 516.456 361.206 185.199 209.180 51944.397

1960 3.335.700 1.404.942 788.788 562.271 288.646 291.053 70.191.370

1970 4.725.540 1.794.673 1.218.918 806.773 419.748 485.428 93.139.037

1980 7.223.781 2.448.218 2.031.110 1.317.997 833.322 593.134 119.002.706

1991 10.722.705 3.636.858 2.776.060 1.889.918 1.290.218 1.129.651 146.825.475

2000 14.536.029 4.600.929 3.581.106 2.742.302 1.779.587 1.832.105 169.799.170

2010 19.769.273 6.298.568 4.599.834 3.585.700 2.483.725 2.801.446 189.524.544

2020 29.045.488 9.060.915 6.981.475 5.088.124 3.386.556 4.528.417 203.464.00

2030 41.369.963 11.155.717 9.772.057 7.553.649 5.384.309 7.504.231 209.059.835

2040 55.555.895 13.914.645 11.188.998 9.547.418 7.839.790 13.065.043 206.953.455

Fonte: i) Para o período 1940 a 2000: Camarano et al. (2005). ii) Para o período 2010 a 2040:
Camarano et al. (2008). Elaboração: Disoc/Ipea.

Como vimos, o processo de envelhecimento populacional está em processo


de crescimento vertiginoso, devendo estabelecer um impacto relevante sobre as
diversas esferas da sociedade (trabalho, política, direito, cultura, economia, entre
outras). A partir desta realidade marcada pela longevidade, conforme a tabela
acima, questionaremos: Como faremos para o enfrentamento das expressões
da questão social que incidirão nas relações sociais e mais particularmente
96 Uma análise sobre a realidade social do idoso no Brasil

na vida dos sujeitos na terceira idade? Como a sociedade está conseguindo


organizar-se para o acolhimento das reais necessidades presentes e futuras
deste segmento social? Como estamos construindo os mais diferentes espaços
para o acolhimento deste sujeito idoso na família, no mundo do trabalho, nas
manifestações e relações culturais?
Para melhor compreendermos o objeto de intervenção do profissional
assistente social na particularidade das condições que incidem na vida da
terceira idade, precisamos compreender as mudanças que ocorreram e ocorrem
no cenário histórico, que afetam diretamente no processo e no desenvolvimento
das condições de vida desta população através dos rebatimentos econômicos,
políticos, e culturais implementados na sociedade capitalista. Sabemos que em
cada processo histórico alteram-se as percepções do objeto a ser trabalhado
pelo assistente social.
Logo, entendemos que o processo de reconhecimento do objeto de trabalho
está diretamente relacionado à forma como estabelecemos a nossa análise sobre
a realidade, realidade que se expressa através da economia, da política do país e
da forma como estão sendo construídas e estruturadas as instituições protetoras
deste segmento social.
A partir desta leitura, o assistente social passa a compreender que a vida
longeva se torna um fenômeno social, e que esta realidade não é algo isolado por
si só, mas um fenômeno social marcado por condicionantes dos mais diversos
fenômenos: econômicos, entre as classes, a participação e os condicionantes
culturais, emocionais, sociais, políticos, etc. As expressões da questão social
são decorrentes desta relação, tornando-se uma eterna correlação de forças
existentes entre os vários modelos instituídos para a manutenção do sistema
capitalista, sejam estes instituídos pela classe burguesa ou pelos que detêm o
capital financeiro dos processos de produção.
Nessa lógica de raciocínio, o trabalho do assistente social exige uma ação
dotada de estratégias metodológicas marcadas por instrumentais que irão se
efetivar na direção de um fim, objetivando um resultado. Os instrumentais são
mecanismos utilizados pelo profissional como sendo recursos indispensáveis
para uma efetiva ação de garantia dos direitos sociais dos usuários.
Esta realidade requer que exista por parte dos profissionais um maior
comprometimento com a realidade social, que oportunize meios de transformação
Uma análise sobre a realidade social do idoso no Brasil 97

da realidade, uma realidade que possa se expressar em cidadania. Estas alterações,


na forma como enfrentamos esta realidade adversa, buscam erradicar da
sociedade do cotidiano da vida dos sujeitos toda uma vulnerabilidade social
de violência, discriminação, abandono e as mais diversas desigualdades sociais
marcadas na vida do idoso.

8.2 As políticas sociais para o enfrentamento


das desigualdades sociais
Temos visto que as políticas sociais criadas pelo governo nas suas diferentes
esferas municipal, estadual e federal, no sentido de reduzir as desigualdades
sociais, não estão conseguindo oferecer condições reais para realmente
oportunizarem as mudanças socioeconômicas na vida da população. Muitas
vezes, formatam-se políticas incapazes de modificar a realidade de muitas
famílias que dependem da renda financeira de muitos idosos, alijando-os a
condições subalternas de vida na própria família. Outros idosos percebem baixos
vencimentos de aposentadoria, precários recursos no sentido de estabelecerem
a garantia de uma qualidade de vida. Vejamos a tabela abaixo fornecida pelo
PNAD (2007).

Tabela 2 – Brasil: população idosa (60 anos ou mais), por grupos de renda
de 0 a 1/2 salário mínimo (SM), segundo faixa etária (2007)
(Em %)

Faixa etária Sem renda Acima de 0 a 1/4 SM Entre 1/4 e 1/2 SM


60 a 64 42,7 52,8 37,5
65 a 69 21,0 21,9 24,5
70 a 74 12,7 10,9 15,4
75 a 79 13,6 6,7 10,6
Mais de 80 9,9 7,8 12,0
Total 100,0 100,0 100,0
Elaboração: Disoc/Ipea. Nota: Renda domiciliar per capita
Fonte: PNAD (2007).
98 Uma análise sobre a realidade social do idoso no Brasil

Como vemos a partir da tabela acima, as condições sociais da terceira idade


na sociedade brasileira têm levado muitos idosos a viverem situações de vida
marcadas pelo total desvalimento de recursos, estando estes idosos a buscarem
nos abrigos uma alternativa de sobrevivência, sendo já para muitos a única
condição que lhes resta, ou irão viver nas ruas. Idosos em situação de abandono
pelos familiares que não possuem uma estrutura mínima de sobrevivência para
manterem este idoso no seio familiar, seja material e/ou de afeto.
Muitas das políticas públicas não atingem o âmago da situação das famílias
desafortunadas que se encontram no Brasil. Segundo o Censo 2010, o IBGE
apontou que o Brasil possui uma população de mais de 190 milhões de pessoas.
Isso significa que pelo menos 8,5% dos brasileiros não possui banheiro nem
energia elétrica em casa ou não conta com água e esgoto tratados. Somado a
essas condições, estão abaixo da linha da pobreza as famílias com pelo menos
um morador maior de 15 anos que ainda não foi alfabetizado. O IBGE aponta
ainda que aproximadamente 16,2 milhões de brasileiros vivem em condições
de extrema pobreza, segundo estimativas deste Instituto.
Desse total, quase cinco milhões não possuem renda. O restante vive com
menos de R$ 70 por mês. O mapa da pobreza demonstrado pelo IBGE aponta
que a metade das pessoas extremamente pobres reside no campo, apesar de 84,4%
da população geral estar concentrada nas áreas urbanas. É como se um em cada
quatro moradores de zonas rurais vivesse na miséria. A maior parte desse grupo
está na Região Nordeste, que concentra 59,1% do contingente.
Nessa linha de raciocínio sobre as condições de vida da população brasileira,
questionamos o papel do Estado frente a esta realidade. Entendemos que as
ações do Estado atendem apenas o mínimo das reais necessidades da população
e do trabalhador de modo geral, não atingindo suas reais necessidades, e aqui
particularmente da terceira idade, com políticas sociais mínimas e residuais.
Sposati (1997) nos afirma, dizendo:

Insistir em direitos sociais no Brasil, este país de um “Estado mínimo


histórico”, é, sem dúvida, vestir a capa de utópico no pior sentido
do termo. Aqui, política social e pobreza são tomadas como irmãs
siamesas. (1997, p.11)
Uma análise sobre a realidade social do idoso no Brasil 99

Pela realidade exposta acima, percebemos que as medidas adotadas


pelo governo são construídas a partir de mínimos sociais com taxas baixas
de investimentos e de crescimento social, estabelecendo políticas públicas
fragmentadas e setorizadas, não oportunizando um desenvolvimento integral da
condição humana. Uma brutal concentração da riqueza, cada vez mais favorece o
estabelecimento de bolsões de miséria paralelo a todo um desenvolvimento e um
incremento que vem sendo construído através de novas tecnologias que deveriam
contribuir para a abertura de postos de trabalho, e que, contraditoriamente,
o movimento é inverso, acentua-se cada vez mais a destituição dos direitos
trabalhistas já conquistados, estabelecendo a redução salarial e o aumento do
desemprego.
Estas medidas representam o receituário de uma política de cunho
neoliberal10, que incide, material e subjetivamente, na vida das pessoas, e,
aqui particularmente, na vida das pessoas que se encontram na terceira idade
juntamente com seus familiares. Neste mesmo viés, a sociedade do capital vai
estabelecendo uma oferta de serviços privados de alto nível, financiados por
instituições que possuem uma parcela bastante expressiva da riqueza produzida
em nosso país, como é o exemplo das empresas de saúde privada, onde o acesso
a estes serviços é medido a peso de grandes somas.
Fora esta parcela da população que paga altos custos para a obtenção de
serviços privados, a grande maioria da população idosa que não possui renda
busca nas filas do SUS ou do SUAS o atendimento às suas necessidades de
sobrevivência, sejam estas da área da saúde ou da área social. Um sistema estatal
de saúde e de assistência social, com exíguos orçamentos, oferecendo alguns
serviços básicos a porção expressiva de indigentes da população (DRAIBE e
AURELIANO apud CASTEL, 2004, p.123). Nesse sentido, urge tomarmos uma
atitude e refletirmos sobre o futuro de nosso país, sobre este processo natural que
é a longevidade com qualidade de vida. Os profissionais da área da Gerontologia
e da Geriatria deverão tomar a frente desta discussão e envidarem esforços no
sentido de promoverem o debate sobre o tema, para que, assim, futuramente e
não muito distante do nosso tempo presente, não venhamos a nos lastimar pela
imprecaução de não termos feito o trabalho necessário frente a esta realidade.

| 10 O neoliberalismo é uma reação à expansão da intervenção do Estado no estágio intensivo, em


uma tentativa de recompor o âmbito e reassertir a primazia do mercado. http://www.usp.br/
fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/neolib/index.html
100 Uma análise sobre a realidade social do idoso no Brasil

Referência comentada
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses do
mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1999.
Esta obra é um ensaio sobre as metamorfoses, e a centralidade do trabalho
procura oferecer, com o olhar situado num canto particular de um mundo
marcado por uma globalidade desigual articulada, alguns elementos e contornos
básicos presentes no debate sobre o significado da classe trabalhadora.

Referências
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a
centralidade do mundo do trabalho. 6.ed. Campinas: Cortez, 1999.
CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social. Uma crônica do salário.
Petrópolis: Vozes, 2004.
IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na contemporaneidade. 3.ed. São
Paulo: Cortez, 2000.
SPOSATI, Aldaísa. Mínimos sociais e seguridade social: uma revolução
da consciência da cidadania. Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo:
Cortez, n.55, 1997.
______. A menina Loas: um processo de construção da assistência social.
São Paulo: Cortez, 2004.
SPOSATI, Aldaiza de Oliveira; BONETTI, Dilsea Adeodata; YASBEK,
Maria Carmelita; FALCÃO, Maria do Carmo B. Carvalho. Assistência na
trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão de análise. 3.ed. São
Paulo: Cortez, 1987.
VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Serviço Social e Interdisciplinaridade:
o exemplo da saúde mental. In: _______. Saúde mental e Serviço Social. O
desaio da subjetividade e a interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2000.
Uma análise sobre a realidade social do idoso no Brasil 101

Autoestudo
Coloque verdadeiro (V) ou falso (F):
( ) Os trabalhadores vão sendo fragmentados, tornando-se frágeis e
vivendo no cotidiano de suas vidas as dificuldades inerentes desta
condição, a partir de nossos conceitos e pré-conceitos aceitos e
legitimados socialmente.
( ) O Serviço Social a partir desta realidade é solicitado a desempenhar seu
trabalho, nos mais diferentes processos de trabalho, na intermediação
dos direitos sociais.
( ) A percepção da totalidade é fundamental, para propor alternativas e
compreender a realidade social na vida cotidiana das pessoas.
( ) A questão social representa o resultado estabelecido a partir dos
conflitos inerentes da relação capital e trabalho da sociedade capitalista,
traduzindo fenômenos sociais e particulares, na vida cotidiana das
pessoas.
( ) Segundo Cerqueira (1982), questão social não representa somente
o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o
surgimento da classe operária impõe no curso da constituição do
sistema capitalista.
( ) Percebe-se que a mudança ocorrida no mundo do trabalho afeta a
todos os trabalhadores de maneira geral, mas os trabalhadores que vão
chegando nesta fase da vida (em torno de 45 anos), já estão sofrendo
o preconceito da idade, alterando as estruturas socioeconômicas,
incidindo diretamente sobre a subjetividade da população que está ou
vai enfrentar o seu processo de envelhecimento.

Respostas:
V, V, V, V, F, V
9

O trabalho do Serviço Social com


as expressões da questão social
O assistente social é um profissional que busca compreender as condições
sociais em que se configuram as expressões da questão social na vida das
pessoas, e aqui em particular as que se encontram na terceira idade, sejam estas
na particularidade dos espaços que as mesmas ocupam ou no contexto coletivo
em que a sociedade vai se construindo. Os efeitos do trabalho profissional do
assistente social no cotidiano da vida dos sujeitos visa garantir espaços reflexivos
sobre os mais diversos aspectos, em particular sobre os direitos sociais.
O assistente social procura reconhecer a forma como as pessoas estão
organizadas para o enfrentamento das expressões da questão social, o assistente
social procura orientar o usuário, fazendo-o perceber a si mesmo e a se
reconhecer como cidadão a partir destes mecanismos legais que estão disponíveis
a todos, mas que muitos os desconhecem, como os que se encontram no capítulo
5 deste estudo.
O assistente social precisa reconhecer a realidade onde irá atuar, buscando
alternativas para poder propor condições de acesso às políticas públicas/sociais.
O profissional necessita analisar previamente a implementação destas políticas,
para que elas não venham a incidir de forma negativa na vida do usuário,
tornando-o dependente e sem autonomia. Nessa linha de raciocínio, poderíamos
nos indagar: Como fazer isso a partir das demandas sociais da terceira idade?
104 O trabalho do Serviço Social com as expressões da questão social

A partir da compreensão da realidade social, o assistente social necessitará


estar articulando o seu trabalho no conjunto dos diversos processos de trabalho
instaurados na instituição onde o mesmo atua. Através das diferentes leituras
da realidade, os profissionais encontrarão caminhos a serem percorridos com o
usuário na solução dos dilemas. Assim, através da discussão em equipe sobre as
diferentes demandas dos usuários e da interação com diferentes saberes sobre
o tema, os profissionais poderão avaliar o alcance das políticas sociais na vida
dos idosos e seus familiares.
Entendemos que o conhecimento representa uma ferramenta importante
nessa articulação realizada pelo assistente social utilizando-o no seu processo
de trabalho. Sendo assim, ter clareza sobre as diferentes dimensões da formação,
os conhecimentos teórico-metodológicos, o processo técnico-operativo e ético-
político associados, possibilitarão ao assistente social um saber/fazer capaz
de propor uma construção de alternativas viáveis, que possibilitem trabalhar
com a realidade apresentada pelos idosos. Assim, entendemos que o trabalho
do assistente social junto a uma equipe interdisciplinar poderá estabelecer um
conjunto de alternativas que incidirão na realidade vivida pelos usuários, através
da construção de uma rede interna realmente efetiva.
A interdisciplinaridade, enquanto princípio mediador entre diferentes
saberes, não poderá ser percebida como algo que iniba potencialidades, mas,
pelo contrário, deverá ser elemento teórico-metodológico construído no
coletivo institucional. A interdisciplinaridade é uma maneira criativa de juntar
potencialidades, em que cada disciplina do conhecimento oportunizará a
descoberta de novos caminhos a serem percorridos.
Muitas vezes, dentro das instituições, ocorrem os reflexos daquilo que
está posto nas relações de trabalho, uma série de transformações, marcadas,
repetimos, por acirramentos, disputas, vaidades, mas também de solidariedade.
Estas transformações, caracterizam-se por uma nova forma, oportuna para o
crescimento e o avanço do sistema capitalista, que trazem consigo momentos
conflituosos, acirrando ainda mais as relações entre as pessoas na busca da
manutenção do emprego.
Para o assistente social, para trabalhar em equipe são de suma representação
a socialização e a articulação de conhecimentos diferentes e ao mesmo tempo
comuns por área de conhecimento, pois esta direção viabiliza novas estratégias de
O trabalho do Serviço Social com as expressões da questão social 105

ação. Isso não significa, no entanto, que o assistente social perderá o verdadeiro
foco da intervenção. Este foco se mantém através da proposta expressa no seu
código de ética, que se materializa no seu plano de trabalho, com vistas a fazer
com que o usuário se reconheça como sujeito, valorizando-se e assumindo a
sua cidadania.
O processo de trabalho do Serviço Social, nesse sentido, implica fatores
diversos como intenções, estratégias de planejamento e execução, buscando aliar
possibilidades e alternativas que envolvam as demandas apresentadas. Portanto,
o assistente social transforma-se em um agente que interfere e age diretamente
como mediador, na busca dos direitos do usuário.
Nesse sentido, o Serviço Social não pode agir de uma forma isolada,
repetimos, deverá envidar esforços no sentido de estabelecer trocas de
pareceres, compartilhar ideias e intenções com os demais profissionais. Na
contemporaneidade, torna-se essencial o trabalho do assistente social, pelo seu
caráter reflexivo/propositivo. Vasconcelos (1997) nos faz pensar a respeito da
prática profissional do assistente social, enquanto prática de caráter reflexiva,
crítica, criativa, politizante e também educativa/propositiva que aponte para a
ruptura com o instituído, que coloca permanentemente em questão as relações
que envolvem vários sujeitos: usuário, profissional, Estado e sociedade.
Uma prática vinculada aos interesses e necessidades da população que
demandam os serviços sociais públicos. Um profissional atento, que busca fazer
uma prática reflexiva como base em seu código de ética, que busca possibilitar
à socialização da informação como uma vertente de indagação e ação sobre a
realidade social.
Vasconcelos (1997) afirma que é possível dizer que o processo de trabalho do
assistente social inicia no momento em que este se vincula a uma instituição, tem
contato com a realidade apresentada e observa os limites e possibilidades de seu
caráter interventivo, relacionando-se sempre com os obstáculos inerentes desta
sociedade capitalista, buscando encontrar alternativas possíveis de trabalho.
Como vimos, a articulação entre teoria, processo de conhecimento e
intencionalidade de prática interventiva é o que dá corpo ao processo de trabalho
do Serviço Social. Esta ação interventiva necessitará de meios de trabalho para
a operacionalização do trabalho profissional. Os meios de trabalho definirão a
forma concreta em que o assistente social se movimentará para alcançar os fins
106 O trabalho do Serviço Social com as expressões da questão social

que seu trabalho se propõe. É aqui que deveremos montar estratégias necessárias
de convencimentos e conquistas junto aos que dirigem os espaços que o assistente
social ocupa, pois, muitas vezes, estes espaços se apresentam deficitários, sem as
mínimas condições de se garantir a privacidade do trabalho profissional com o
usuário. Aos poucos, de forma “homeopática”, vamos mostrando que o trabalho
do assistente social requer os meios mínimos de condições de trabalho para
conseguirmos garantir a sua efetividade.
Outro elemento que incide diretamente no trabalho do assistente social é a
conjuntura social construída historicamente e que permeia a vida da sociedade e
das relações. As condições políticas, as forças e os poderes instituídos, os recursos
humanos são condicionantes diretos que influenciam o desenvolvimento da
ação interventiva do assistente social. O assistente social dispõe de uma relativa
autonomia no seu fazer profissional, necessitando articular o seu processo de
trabalho com os demais processos de trabalho garantidos institucionalmente
para a produção de um resultado final. Iamamoto (2000) nos faz refletir sobre
este ponto afirmando:

Como já salientado, o assistente social, em função de sua qualificação


profissional, dispõe de uma relativa autonomia teórica, técnica
e ético-política na condução de suas atividades. Todavia, essas
dependem dos meios e recursos para serem efetivas, os quais não
são propriedades do assistente social, visto que se encontra alienado
de parte dos meios e condições necessários à efetivação de seu
trabalho. (2000, p.99)

O assistente social em seu processo de trabalho, como já foi dito anteriormente,


requer de meios ou instrumentos para viabilizar suas ações e planejamentos,
pois concretizando sua atuação, essas dependem dos meios e recursos para se
efetivarem. A respeito de instrumentalidade, afirmou Guerra (2000):

Com isso infere-se que falar de instrumentalidade do Serviço Social


remete a uma determinada capacidade ou propriedade que a profissão
adquire na sua trajetória socio-histórica, como resultado do confronto
entre teleologias e causalidades. (2000, p.6)
O trabalho do Serviço Social com as expressões da questão social 107

Como vemos a partir da citação acima, a dimensão técnico-operativa para


se efetivar necessita de meios de trabalho e de instrumentos que irão constituir
a prática de trabalho do assistente social, pois saber utilizar e identificar
recursos também representa uma estratégia importante na ação interventiva.
Assim, entendemos que todo profissional possui sua instrumentalidade e que a
disponibiliza e desenvolve de maneira muito especializada, através de técnicas
coerentes e de acordo com sua formação.
No entanto, sabemos que é importante ter clara a forma de como se constitui
o seu objeto de trabalho, pois será a partir desta análise que o profissional irá
adaptando estes instrumentos dentro das alternativas viáveis de intervenção. Ter
um olhar crítico sobre a realidade infere diretamente nesta construção.
A partir desta dinâmica de construção e reconstrução sobre a realidade
projetam-se alternativas, desenvolvem-se técnicas, na qual as estratégias de
ação serão elaboradas e utilizadas. Após esta dinâmica de ação, o profissional
poderá analisar os resultados obtidos que se transformam em produtos. É
esse conjunto de ferramentas utilizadas pelo assistente social caracterizado
em torno dos instrumentos da ação profissional que Guerra (2000) denomina
de instrumentalidade, ou seja, [...] propriedades sociais das coisas, atribuídas
pelos homens no processo de trabalho ao convertê-las em meios/instrumentos
para a satisfação de necessidades e alcance dos seus objetivos/finalidades
(2000, p.11).
Sabemos que as habilidades deverão fazer parte do fazer profissional do
assistente social no seu processo de produção da vida material, pois nesse
processo ele passa a dominar e manipular estratégias que viabilizem suas
ações. O assistente social é impulsionado a querer buscar e conhecer melhor a
realidade que irá conduzir ao alcance de suas finalidades, aqui particularmente
lembramos mais uma vez a importante ferramenta que a pesquisa infere na
prática do assistente social.

9.1 Estratégias metodológicas no fazer


profissional
As estratégias metodológicas deverão ser pensadas para que venhamos de
forma mais precisa garantir e alcançar os resultados esperados. Ter a capacidade
108 O trabalho do Serviço Social com as expressões da questão social

de escutar, acolher as demandas de forma serena, observar a realidade a partir


das coisas simples, valorizando também aquilo que demanda uma maior atenção,
faz parte do fazer profissional. Não podemos incorrer em extremos, para que
nada seja tão simples que acabe na banalidade e também não tão complexo que
intimide o fazer profissional.
Procurar de forma cautelosa realizar uma leitura da realidade que oportunize
intervir da melhor maneira sobre a realidade, não naquilo que sobressai pela
aparência das coisas mesmas, mas buscar a essência da realidade, eis a meta a ser
alcançada, pois esta se apresenta de várias formas. Logo, é através do processo
de trabalho que o profissional irá no movimento estabelecido no seu trabalho
buscar a instrumentalidade que melhor lhe sirva para um fim determinado.
Para cada ação atribui-se uma técnica voltada ao seu objetivo.
O assistente social poderá vincular-se a instituições e construir projetos
que busquem refletir sobre a importância da construção de meios de trabalho
eficazes dentro da instituição. O profissional poderá de forma estratégica
influenciar os demais técnicos a buscarem, também, melhores meios de
trabalho, para que, de maneira mais efetiva, encontrem respaldo institucional
para a intervenção dos profissionais com seus instrumentais, visando alcançar,
através do reconhecimento da realidade e de apropriação teórica, os resultados
esperados por todos.
Em face dessas considerações, não devemos atribuir aos instrumentos e
técnicas um status sobre-humano, transformando-os em fetiche, muito comuns
a algumas áreas do conhecimento, que possuem a capacidade de não aceitarem
perceber que todas as áreas do conhecimento são importantes e precisam estar
integradas umas às outras. Entendemos que o fetichismo se apresenta como
sendo muitas vezes a base por onde caminha o mundo burguês, sendo uma
representação falsa da realidade, pois este é sustentado e consolidado pelo
capitalismo com interesses antagônicos à questão social. Entendemos que
a questão social se expressa no cotidiano e que sofre influências, históricas
e políticas, manifestando-se de diversas maneiras, como já foi mencionado
anteriormente.
A instrumentalidade no Serviço Social necessita ultrapassar os limites, que
por vezes se apresentam na realidade e, pois, estabelecer vínculos que interliguem
usuários, profissionais e instituição. Pois, segundo Iamamoto:
O trabalho do Serviço Social com as expressões da questão social 109

Para ser consumida e transformada em atividade, a força de trabalho


exige meios ou instrumentos de trabalho e uma matéria-prima
ou objeto de trabalho que sofrerá alterações mediante a força
transformadora do trabalho. Quem dispõe dos meios de trabalho –
materiais, humanos, financeiros, etc. – necessários à efetivação dos
programas e projetos de trabalho é a entidade empregadora, seja ela
estatal ou privada. (2005, p.99)

Como vemos a partir do pensamento de Iamamoto, o assistente social


possui uma relativa autonomia no seu fazer profissional, que se caracteriza por
entrevistas, visitas domiciliares, encaminhamentos, elaboração de programas,
projetos e outros, em que o profissional, repetimos, necessita dos meios de
trabalho para sua operacionalização. A instituição é detentora do poder
institucional que articulará os meios de trabalho para todos os profissionais
nela envolvidos. O que não deve ser um impedimento ao fazer profissional
que, diante das dificuldades, necessita encontrar alternativas criativas para a
realização do seu fazer profissional.
O assistente social que trabalha na área da Gerontologia Social deverá estar
atento a tudo que envolva e ou esteja diretamente conectado com o seu fazer
profissional, para que assim possa montar suas estratégias metodológicas para
poder intervir. Neste propósito, ao ter claro o objeto de trabalho, a prática
profissional se torna mais consciente, pois, ao se referir ao ato profissional,
temos uma intencionalidade a ser atingida, ou seja, fazer algo com intenção
para suprir algo que não chegou a ser vivido ou estabelecido na vida dos idosos
que procuram as instituições de proteção social.
O assistente social procura reconhecer qual é a forma de organização a que
estes sujeitos idosos se submetem para enfrentamento das adversidades da vida.
Através dessas articulações, entre prática e estratégias de trabalho, o assistente
social traz no seu cerne os princípios e valores norteadores que orientam a prática
profissional estabelecidos em seu Código de Ética. É por meio dessas estruturas
que o assistente social constrói e se reconstrói cotidianamente, dando formas
ao seu etos profissional, construindo e reconstruindo permanentemente a sua
prática profissional, na sua forma de ser.
110 O trabalho do Serviço Social com as expressões da questão social

O Serviço Social, estrategicamente, quando trabalha nas instituições e


proteção à terceira idade, instrumentaliza-se através dos diversos documentos
legais que a sociedade constrói para sinalizar e regular os direitos humanos. Os
estatutos, e aqui particularmente o Estatuto do Idoso, as leis constituintes, as
políticas públicas como forma de garantia, compõem este cenário de signos, que
irão balizar a ação interventiva do assistente social, garantindo dessa forma ao
usuário, o acesso aos direitos sociais e o exercício da cidadania.
Neste sentido, entendemos que, ao ficar claro para o assistente social a
existência destes instrumentos legais, sua ação se tornará mais qualificada, a
ação interventiva do técnico será sustentada a partir de atos legais, pois estes
instrumentais formam um conjunto de várias condições e direcionamentos.
Ferrarine (2003) conceitua instrumentalidade como:

Conjunto de condições que a profissão cria e recria no exercício


profissional e que se diversifica em função de um conjunto de
variáveis, tais como: o espaço socio-ocupacional, o nível de
qualificação de seus profissionais. (2003, p.7)

Portanto, ao operacionalizar este conjunto de condições, a análise do


objeto de intervenção que se coloca como desafio no processo interventivo
do assistente social se torna mais eficiente. Este irá buscar, sempre, o melhor
encaminhamento para o usuário dos serviços. Ao propor alternativas que possam
produzir resultados com a demanda existente, exige-se dos profissionais um
saber ético-político que permita respeitar os valores alheios sem ferir a liberdade
do usuário, mas que viabilize ações humanas em seus resultados, estabelecendo
um compromisso com a sociedade através do seu processo de trabalho.
Considerando que o Serviço Social é uma profissão de mediação e que
estabelece na sua prática a criação de redes sociais como forma de fortalecimento
dos sujeitos, a comunicação é algo fundamental na interação social, ou seja, a
relação entre assistente social/usuário/sociedade.
O trabalho do Serviço Social com as expressões da questão social 111

9.2 A entrevista como ferramenta de trabalho


e estratégia de acolhimento
O assistente social, quando realiza seu processo de trabalho com a população
idosa, procura reconstituir a história de vida dos sujeitos entrevistados,
valorizando suas experiências de vida, suas trajetórias, suas vivências. Escutar
o idoso é algo de grande representação para este segmento social, pois, na
maioria das vezes, ele não é escutado, vivendo no seu mundo isolado devido
a uma série de preconceitos relacionados à idade. O ato de escutar dá vistas a
uma valorização do sujeito, pois muitas vezes ser escutado é o que o idoso mais
deseja. O tempo histórico de vida de cada idoso são categorias importantes para
o desempenho de compreensão da realidade vivida pelos usuários na terceira
idade, e esta realidade de vida se dá nesta construção histórica, que é particular.
Estas habilidades do assistente social de reconhecimento da realidade a partir
da escuta sensível possibilitam reconhecer e elaborar informações importantes
através das intervenções, vividas pelos usuários ao longo de uma linha de tempo
histórica, é o cotidiano do vivido, é a cotidianidade da vida sendo construída.
Este profissional irá utilizar uma documentação própria para registrar estas
observações percebidas durante a abordagem, observações, atividades e análises.
Giongo (2003, p.29) nos confere algumas considerações importantes sobre a
documentação para o Serviço Social: “os objetivos da documentação são garantir
a qualidade da prestação e dos instrumentos profissionais, memorizando as
informações”. Memorizar as informações possui o caráter de também identificar
pontos nodais na vida dos sujeitos, criando pontos de partida para o processo
reflexivo que o assistente social realiza em sua prática interventiva com os idosos.
Neste mesmo movimento de registro e memorização, vamos com o sujeito
entrevistado, com estes mesmos recursos, criando ou recriando com o sujeito
a sua própria memória, a sua própria história, a sua identidade social. Este
movimento de tempo e espaço tem como intencionalidade para o assistente
social dar visibilidade ao usuário sobre si mesmo e da sua relação com o tempo
presente. Não podemos somente ficar no passado, temos que viver o presente.
Os idosos possuem um hábito de viver das lembranças de seu passado. Diríamos
que esta atitude poderá representar um ar de nostalgia, mas na verdade, para
muitos, é a forma como os idosos procuram manter na defensiva a integridade
pessoal intacta, pois para muitos a representação do tempo presente lhes causa
112 O trabalho do Serviço Social com as expressões da questão social

estranhamento pelo fato de não serem ou se sentirem valorizados pelos mais


jovens que eles.
A entrevista particular com o idoso requer do assistente social toda uma
habilidade de escuta sensível, que o remeta muitas vezes a se colocar na condição
do seu entrevistado. Este irá perceber os pequenos nadas, muitas vezes não
ditos através das palavras, mas expressos através dos movimentos do corpo
e as expressões do rosto, ou de sua própria linguagem, da sua cultura, do seu
meio social. Entendemos que a escuta estabelecida com usuários na terceira
idade representa uma das habilidades mais importantes a serem destacadas no
processo de trabalho do assistente social com os idosos, e as demais abordagens
sofrerão o mesmo cuidado, sejam estas visitas domiciliares, reuniões de grupo,
atividades de lazer, entre outras.

Referência comentada
FERRARINI, Adriane Vieira. Pobreza – possibilidades de construção de
políticas emancipatórias. São Leopoldo: Oikos, 2003.
Esta obra nos possibilita refletir sobre a condição de pobreza que assola a
vida das comunidades, refletindo sobre a possibilidade de construirmos políticas
emancipatórias para um mundo mais justo e igualitário.

Referências
FERRARINI, Adriane Vieira. Pobreza – possibilidades de construção de
políticas emancipatórias. São Leopoldo: Oikos, 2003
IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na contemporaneidade:
trabalho e formação proissional. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2000.
VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Serviço Social e interdisciplinaridade:
o exemplo da saúde mental. In: _______. Saúde mental e Serviço Social. O
desaio da subjetividade e a interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2000.
O trabalho do Serviço Social com as expressões da questão social 113

Autoestudo
Coloque verdadeiro (V) ou falso (F):
( ) Procurar, de forma cautelosa, realizar uma leitura da realidade que
oportunize intervir da melhor maneira sobre a realidade, não naquilo
que sobressai pela aparência das coisas mesmas, mas buscar a essência
da realidade, eis a meta a ser alcançada, pois esta se apresenta de várias
formas.
( ) Ter a capacidade de escutar, acolher as demandas de forma serena,
observar a realidade a partir das coisas simples, valorizando
também aquilo que demanda uma maior atenção, faz parte do fazer
profissional.
( ) A interdisciplinaridade, enquanto princípio mediador entre diferentes
saberes, não poderá ser percebida como algo que iniba potencialidades,
mas, pelo contrário, deverá ser elemento teórico-metodológico
construído no coletivo institucional.
( ) A interdisciplinaridade é uma maneira criativa de juntar potencialidades,
onde cada disciplina do conhecimento oportunizará a descoberta de
novos caminhos a serem percorridos.
( ) O processo de trabalho do Serviço Social, neste sentido, implica
fatores diversos, intenções, estratégias de planejamento e execução,
buscando aliar possibilidades e alternativas, que envolvam as demandas
apresentadas.
( ) O assistente social, através da pesquisa, é um profissional que busca
compreender as condições sociais em que se configuram as expressões
da questão social na vida das pessoas, e aqui, em particular as que se
encontram na terceira idade, sejam estas na particularidade dos espaços
que as mesmas ocupam ou no contexto coletivo em que a sociedade
vai se construindo.
114 O trabalho do Serviço Social com as expressões da questão social

( ) A partir da compreensão da realidade social, o assistente social


necessitará estar articulando o seu trabalho no conjunto dos diversos
processos de trabalho instaurados na instituição onde o mesmo atua,
para que no coletivo profissional, através das diferentes leituras da
realidade abordada, os profissionais possam encontrar caminhos a
serem percorridos com o usuário na solução dos dilemas.

Respostas:
V, V, V, V, V, V, V
10

As instituições e o trabalho
do Serviço Social com grupos
de terceira idade
O Serviço Social é uma profissão que possui uma dimensão política, e esta
dimensão está presente no seu exercício profissional através da garantia de
direitos. Sabemos que a ação interventiva do assistente social se materializa
no cotidiano da vida social através da sua condição de trabalhador livre ou
profissional liberal. Por outra, sabemos que a grande maioria dos assistentes
sociais ocupam a condição de trabalhadores assalariados, dependendo, assim,
das instituições para que os contratem. Quando assim ocorre, o assistente social,
através da sua força de trabalho, que é a própria mercadoria que ele vende,
necessita de condições sociais e institucionais para que sua força de trabalho se
efetive. O assistente social vende a sua força de trabalho em troca de salário.
Para que esta mercadoria, que é a própria força de trabalho do assistente
social, possa ser utilizada pela instituição, é necessária a mobilização de meios
de trabalho para que o profissional atinja seu determinismo social. Nesse
sentido, as instituições possuem um papel fundamental na garantia dos meios
de trabalho para que os diferentes processos de trabalho por ela contratados
possam se efetivar, particularmente o processo de trabalho do assistente social.
Entendemos que as instituições possuem um papel fundamental enquanto
116 As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade

espaço de atuação e de garantia de direitos, espaço político, de luta e resistência


em relação à questão social.
Entendemos, também, que o assistente social, quando trabalha na área da
Gerontologia, necessita apropriar-se da dimensão criativa do seu trabalho nos
espaços que o mesmo ocupa. Concordamos com Papalia e Olds (2000) nas suas
afirmações quando colocam que a criatividade é a capacidade que as pessoas
têm de ver as coisas de um modo novo, de produzir algo antes nunca visto, ou de
distinguir problemas que os outros não conseguem reconhecer e achar soluções
novas e incomuns. A criatividade somente ocorrerá quando o assistente social,
bem como o gerontólogo social conseguirem interferir na realidade a partir da
sua abertura para o reconhecimento da necessidade de termos uma formação
pautada na pluralidade teórica, na valorização da cultura local, no acolhimento
da forma simples de como se constitui a vida das pessoas, no que elas desejam
e sonham.
Esses elementos, quando combinados, na dinâmica do processo de
trabalho dos profissionais, auxiliam na criação do novo ou do inédito naquilo
que é necessário para suplantar as demandas sociais. Quando assim ocorre,
interferimos na direção social daquilo que está posto enquanto demanda
institucional, aqui particularmente o tema proposto, as condições sociais em
que vive o idoso na sociedade brasileira, por exemplo.
Trabalhar com mecanismos que mobilizem grupos de terceira idade e
comunidades envolvidas com as condições sociais dos idosos deverá ser tarefa
concebida pelo Serviço Social, pois, do contrário, a caminhada a ser percorrida
traduzir-se-á em imobilismo social e profissional na vida cotidiana, transformando
possibilidades em não acesso à garantia de direitos. Vejamos o pensamento de
Iamamoto (2000), quando a autora refere-se à ação transformadora, criativa da
matéria-prima colocada para o Serviço Social:

Realizar a transformação criativa da matéria-prima do nosso


trabalho é trabalhar na perspectiva de fortalecer o componente de
resistência, de ruptura com as expressões dramáticas da questão
social na realidade brasileira, com as quais o Serviço Social se depara
cotidianamente no exercício profissional. (IAMAMOTO, 2000, p.26)
As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade 117

Sabemos que para o exercício profissional do assistente social nas instituições,


o mesmo não somente depende do seu arsenal de conhecimentos, habilidades
e atitudes que o mobiliza frente às expressões da questão social, mas sim que
sua prática está diretamente vinculada às condições e aos meios de trabalho que
as instituições oferecem, dando a ele, profissional, aquilo de que necessita para
obter um produto final a partir de seu processo de trabalho. Iamamoto (2000)
refere que o assistente social possui “uma relativa autonomia” na sua atividade
profissional, vejamos a sua fala:

Como já salientado, o assistente social, em função da sua qualificação


profissional, dispõe de uma relativa autonomia teórica, técnica
e ético-política na condução de suas atividades. Todavia essas
dependem de meios e recursos para serem efetivadas, os quais não
são propriedades do assistente social, visto que se encontra alienado
de parte dos meios e condições necessárias à efetivação seu trabalho.
(IAMAMOTO, 2000, p.99)

O reconhecimento dos limites de sua ação profissional nos espaços operativos


é de suma importância para a implementação de ações de inclusão social e ao
próprio desempenho do processo de trabalho do Serviço Social. Será através das
estratégias metodológicas articuladas, da leitura de realidade social e institucional
operada pelo técnico social e bem como do trabalho interdisciplinar também
articulado institucionalmente, e de um trabalho em rede com diferentes setores
e segmentos da sociedade que o assistente social insurgirá na materialidade de
sua ação, obtendo um resultado ou produto final de seu trabalho.
Nesse sentido, reafirmamos, sobre o significado profissional da análise
institucional, esta deverá ser realizada constantemente pelo profissional, pois
através destas observações o assistente social vai reconhecendo o papel político
da instituição, os valores, as intencionalidades que a movem, bem como das
pessoas que dela muitas vezes fazem uso tanto por interesses legítimos daquilo
que a instituição se propõe como por interesses escusos e particulares.
O assistente social, por meio da análise institucional, consegue estabelecer
o reconhecimento dos atores institucionais e suas atuações, definindo os atores
que poderão ser reconhecidos como parceiros em um trabalho coletivamente
118 As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade

viável. Com este reconhecimento, o assistente social poderá pensar de forma


desafiadora possibilidades de articulação do coletivo social profissional, e poder,
no conjunto das representações profissionais, lidar com as correlações de forças
que, comumente, se expressam por questões políticas partidárias, supremacia
de uma identidade profissional sobre as outras por uma insegurança de perda
de poder e status institucional, e outras tantas formas de acirramentos que vão
criando embates e emperramentos na estrutura institucional.
A dimensão teórico-metodológica da formação profissional sinaliza
a importância do assistente social trabalhar como protagonista junto aos
movimentos sociais de resistência. Esta ação visa implementar a sua dimensão
ético-política, que possui fundamentos teóricos que dão vistas e clareza sobre
a possibilidade de mudança, compreendendo o movimento que a sociedade
está permanentemente estabelecendo, e que necessita, muitas vezes, estabelecer
reflexões junto aos movimentos sociais, a grupos organizados, a conselhos de
direito entre outros espaços. O protagonismo em defesa das minorias somente
encontra eco junto aos movimentos de resistência. Vejamos o pensamento de
Couto (2004);

[...] não basta nem a existência e nem o conhecimento da lei para


que a vida da população pobre seja alterada. É preciso mecanismos
que confirmem o protagonismo dessa população. Só no espaço de
disputa de projeto social para o país é possível equalizar a assistência
social com o direito social, (...) afirmar a assistência social como
direito é tarefa de uma sociedade, e essa tarefa só pode ser realizada
com a presença forte de toda essa sociedade, disputando, nos marcos
do capitalismo, a ampliação da fatia dos investimentos que devem
ser utilizados para os efeitos perversos da exploração capital sobre
o trabalho possam ser reduzidos. Assim a assistência será inscrita
como direito social. (COUTO, 2004, p.187)

Nesta análise, um dos pontos-chave para a real implementação de ações


emancipatórias recai na possibilidade das instituições possuírem técnicos
capacitados para o atendimento de demandas sociais emergentes, a curto e a
longo prazo. Nesse propósito, trabalhar com a possibilidade interdisciplinar,
As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade 119

como referimos acima, é algo de suma importância, como vemos na fala


de Eduardo Mourão Vasconcelos: “A interdisciplinaridade é entendida
aqui como estrutura, havendo reciprocidade mútua, com uma tendência
à horizontalização das relações de poder entre os campos implicados”
(VASCONCELOS, 2000, p.47).
Profissionais que detenham conhecimentos de áreas afins e diferentes a serem
colocadas à disposição do trabalho com a terceira idade, sejam profissionais da
área da saúde, da assistência social, da educação, do esporte, profissionais da
instituição ou da comunidade local. É a possibilidade de exercitarmos o trabalho
interativo entre si e outras pessoas de forma solidária, conforme salienta Turck
(2001).

A busca da solidariedade na proposição da Rede Interna não tem a


conotação, hoje comum no Brasil, de remédio para resolver os males
sociais, políticos e econômicos. Não é também a solidariedade aos
pobres que se propaga no discurso da sociedade civil. É solidariedade
entre pessoas, entre e intraclasses, em que as barreiras criadas
em função das desigualdades sociais possam ser rompidas para a
construção de uma nova solidariedade, em que o compromisso e a
responsabilidade estejam presentes. (TURCK, 2001, p.30)

O profissional do Serviço Social, articulando intencionalidades de prática e


conhecimentos da realidade institucional/social, procura instaurar a construção
de um trabalho que se articule em rede para conseguir atender as demandas
particulares e coletivas dos idosos a eles colocadas. “É na relação de redes que
se colocam as questões enfrentadas pelos próprios sujeitos na sua perda de
poder para articulá-las em estruturas e movimentos de fortalecimentos da
cidadania, da identidade, da autonomia” (FALEIROS, 1997, p.24). As instituições
desempenham um papel de extrema importância na tentativa de realizarem a
inclusão social das pessoas que estão vivendo à margem da sociedade.
As instituições exercem especial importância na vida das pessoas que, ao
chegarem na terceira idade, estão desprotegidas socialmente, tanto do âmbito
familiar como do mundo do trabalho e de recursos que o Estado deveria garantir
no sentido destas pessoas poderem usufruir de uma vida mais tranquila. Atender
120 As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade

as demandas da terceira idade através da articulação do “grupo” é uma das


ferramentas interessantes para este fim, é trabalharmos com projetos sociais
grupais que visem o atendimento do idoso no espaço que ele ocupa, ou seja, o
contexto comunitário.
Quando buscamos o espaço social onde ele reside, estamos mantendo
os vínculos deste usuário com as pessoas que ele conhece e é reconhecido.
É no contexto comunitário que vamos estabelecendo nossas redes sociais,
mesmo quando este idoso não possua familiares. Os grupos de terceira
idade representam espaços bem interessantes de autoajuda, de amizade, de
socialização, de entretenimento e principalmente de acolhimento. Entendemos
que o acolhimento não representa uma definição unívoca, mas poderá ter
interpretações diferenciadas. Vejamos:
Schmith e Lima (2004) definem acolhimento como sendo “uma ferramenta
que estrutura a relação entre equipe e população e se define pela capacidade
de solidariedade de uma equipe com as demandas do usuário”. Quando assim
pensado, o acolhimento é realizado por um grupo de profissionais capacitados
para compreenderem as necessidades dos usuários no conjunto das forças que
movem o coletivo organizado destes profissionais. Nesse sentido, o acolhimento
realizado no grupo de terceira idade é estabelecido por uma equipe que trabalha
diretamente com os idosos. Segundo Ramos e Lima (2003):

...a postura do trabalhador de colocar-se no lugar do usuário para


sentir quais suas necessidades e, na medida do possível, atendê-las
ou direcioná-las para o ponto do sistema que seja capaz de responder
àquelas demandas. (RAMOS e LIMA, 2003, p.24)

Esta capacidade de se colocar no lugar do outro revela um profissional


sensível que possui a habilidade necessária de acolher de forma solidária, de
forma humana, a dor ou a dificuldade do usuário em resolver determinado
conflito ou problema em sua vida. Este acolhimento, quando assim realizado
pelo profissional, revela também a forma como estrategicamente o profissional
articula a rede de serviços, fazendo com que o acolhimento da demanda se efetive
em um contexto maior, sendo ele, profissional, o mediador.
As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade 121

O efetivo acolhimento do usuário no grupo de terceira idade oferece ao idoso


um espaço de pertencimento social, repetimos, no lugar onde o mesmo reside,
no contexto comunitário em que o mesmo está situado. Quando o idoso se
vincula a um grupo operativo, poderíamos pensar na ideia dele não necessitar
mais buscar nos asilos a única alternativa de vida.
Trabalhar com grupos requer do assistente social uma certa habilidade em saber
conduzir os diferentes atores neste processo. Sabemos que no grupo se estabelecem
correlações de forças que deverão ser avaliadas, controladas, mediadas, fortalecidas
para o bom desempenho deste espaço operativo. O profissional assistente social
deverá ter o cuidado de não potencializar demais a figura do próprio técnico social,
pois, assim ocorrendo, poderemos incorrer no risco de estabelecer um vínculo de
dependência dos usuários em relação ao técnico.

10.1 O trabalho efetivo com grupos


de terceira idade
A seguir, acompanharemos alguns passos importantes de como implantar um
grupo de terceira idade nos espaços comunitário, e, posteriormente, falaremos sobre
o processo de trabalho do assistente social com grupos na terceira idade, vejamos:

O Processo de Trabalho na Implantação


Observações:
de Grupo de Terceira Idade:
1º O técnico social deverá ter claro que A temática terceira idade deverá
esta temática escolhida é algo que o mobilizar o técnico social, pois do
mobiliza. contrário a energia despendida no
processo não será motivadora para
o im desejado. Muitas vezes, temos
que realmente mostrar que a proposta
é relevante no contexto comunitário
ou institucional, para que as pessoas
se sintam mobilizadas, e esta energia
inicial partirá do proissional que
se propõe colocar-se à frente do
empreendimento. Se esta energia
positiva despendida do proissional não
existir, os idosos e demais membros não
assumirão o compromisso com o técnico
e com o grupo.
122 As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade

2º O segundo passo para a implantação É importante fazer uma pesquisa


do Grupo de Terceira Idade é saber se de campo, abordando os idosos do
a temática proposta é do interesse da contexto comunitário e/ou do espaço
comunidade. institucional, sobre a proposta do
trabalho com grupo de terceira idade,
veriicando qual seria o grau de
aderência dos mesmos no trabalho
proposto.
3º É importante que o técnico Este convite compartilhado possui como
social procure respaldar sua ação de intencionalidade buscar em alguém um
implantação do grupo de terceira idade status de coniança, no sentido de o
junto a alguma pessoa que já possua técnico social ser apresentado para os
uma referência com os idosos, como, idosos. Esta pessoa irá oferecer mais
por exemplo: quando o grupo for coniabilidade ao convite proposto
implantado em uma instituição asilar, pelo técnico social e seu convite
procurar um proissional que tenha de formalizado. É diferente alguém aderir
certa forma uma intimidade com os a um trabalho quando a pessoa que
idosos. Por exemplo: um enfermeiro convida é apresentada por outro alguém
que cuida dos idosos e estabeleceu de coniança. Quando alguém que
um vínculo forte com os mesmos, um conhecemos nos formula um convite,
ajudante, uma auxiliar de cuidados, o fato de eu saber quem é a pessoa
enim alguém que respalde conosco já representa um primeiro passo do
o convite. No contexto comunitário sucesso da ideia, o sujeito que convida
poderá ser uma liderança comunitária, é alguém sério.
um agente comunitário, entre outros.
4º Não desista no primeiro momento, Ter paciência e força de vontade são
pois nuclear um grupo requer muita habilidades importantes no processo
paciência e obstinação. Por isso, de constituição de um grupo, pois
o técnico social deve estar muito a implantação em si depende de
implicado com o processo e com a muitos fatores como, divulgação,
temática para não desanimar e desistir. amadurecimento da ideia, poder se
colocar em frente de um grupo, lidar
com as diferenças e querer fazer parte
de um espaço coletivo.
5º O grupo poderá iniciar com um É importante repetirmos que implantar
membro. Sabemos que um membro um grupo requer muita paciência, pois
não representa número suiciente poderemos ter o primeiro encontro
para a implantação de um grupo, mas com apenas um membro, no segundo
não desanime, pois todo o processo encontro somente a mesma pessoa,
coletivo inicia-se com duas pessoas, e no terceiro a mesma coisa, mas no
ou seja: você, técnico, e o usuário que quarto encontro poderá surgir o terceiro
aderiu ao chamado. membro, pois as semanas transcorridas
durante o processo de implantação
poderá favorecer melhor o processo
de socialização do convite, agora
formulado por uma segunda pessoa, que
é o componente do grupo e membro da
instituição ou do contexto comunitário.
As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade 123

A implantação de um grupo de terceira idade não é uma atividade muito


fácil, requer vontade, obstinação, seriedade, implicação com a temática “terceira
Idade”, e muita paciência. Necessitamos investir na divulgação, sejam estas
através de documento escrito, falado ou até de rádio e televisão. Quanto maior
a abrangência da comunicação, mais fácil a aderência dos interessados. Sabemos
que os processos comunitários, dependendo dos espaços que são utilizados, são
precários e isso requer muita obstinação por parte do profissional em prosseguir
com o projeto.
A rede de serviços locais representa uma via de comunicação de grande
amplitude de comunicação que poderá ser utilizada, assim como os conselhos
locais. Vejamos agora, no quadro abaixo, como iremos desenvolver nosso processo
de trabalho já com o grupo de pessoas que aderiram ao nosso convite:

O Processo de Trabalho do Serviço


Social na Implantação de Grupo de Observações:
Terceira Idade:
1º O grupo foi formado por pessoas Esta condição nivela os membros em
que não se conhecem, mas possuem estarem buscando objetivos comuns para
algo em comum, serem idosos, e/ou o funcionamento do grupo e utilização
gostarem desta temática, como é o deste espaço coletivo.
caso do proissional assistente social.
2º É necessário para o técnico social, Estabelecer processos de reconhecimento
oportunizar momentos de as pessoas é muito importante para se estabelecer
poderem se conhecer, quebrando o início da coniança mútua, e é
este sentimento de estranhamento neste momento, neste encontro de
de uns para com os outros, bem identidades, que buscaremos reconhecer
como do técnico para com os idosos o que nos une uns aos outros...
do grupo. Aqui as dinâmicas são
bem importantes, como técnicas
de mobilização e descontração, no
sentido de conseguirmos “quebrar o
gelo”.
124 As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade

3º O processo de construção da Durante os encontros, o técnico social


identidade do grupo é algo que será irá promover atividades especíicas que
construído de forma lenta e gradual, favoreçam os componentes do grupo a
é necessário primeiro que todos se irem dando pistas sobre o que mais lhes
sintam partes integrantes daquele convém. É importante que o proissional
espaço de convivência, e, para isso, o ique atento às falas, aos sentimentos,
técnico social terá que ter a habilidade que vão aparecendo ao longo dos
de perceber qual os interesses do encontros e das abordagens realizadas
grupo, sentimentos comuns, desejos, pelo técnico, principalmente as falas
sonhos, signiicados, vão sendo ditos onde aparece o “não dito”, aquilo que
e vividos no e pelo grupo. Estes ica nas entrelinhas...
elementos, quando percebidos e
pensados, poderão unir as pessoas
em torno de um mesmo espaço, de
um mesmo projeto de vida construído
coletivamente.
4º Outro elemento de extrema Valorizar os líderes naturais decorre
importância a que o assistente social de uma estratégia signiicativa para
deverá icar atento é a descoberta o proissional social, pois estes
dos líderes naturais, que poderão ser sujeitos poderão ocupar o papel
positivos ou negativos. Os membros que ora o assistente social ocupa.
que possuem este potencial deverão Com toda a certeza, este espaço de
ser estimulados a desenvolver um liderança do assistente social no grupo
papel importante no grupo, de representa um mecanismo de efetiva
forma positiva, como futuros líderes. organização daquilo que o grupo
Os líderes negativos deverão ser precisa no seu processo de nucleação
monitorados para que os mesmos e desenvolvimento, mas, à medida que
não deixem o grupo se arrastar para o grupo cresce, o assistente social vai
um caminho que iniba os processos desaparecendo estrategicamente para
criativos, para o extermínio, por que alguém do grupo vá assumindo
vezes movidos por sentimentos de seu papel como líder ou igura
antipatias, desconianças, intrigas, representativa. O proissional assistente
fofocas, entre outros. social deverá ter o cuidado de observar
os líderes naturais negativos e trabalhar
estes sujeitos no sentido de eles
mudarem suas formas de se colocar no
grupo, sempre no sentido de trabalhar de
forma a somarem no coletivo social. As
diiculdades inerentes que vão surgindo
no processo de nucleação do grupo
deverão ser trabalhadas no coletivo
social, para que elas sejam diluídas. O
grupo deverá ser sempre o espaço de
resolução de conlitos.
As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade 125

5º É relevante que o proissional Entendemos que as diferenças existem


assistente social promova sempre como forma de aproximação ou repulsa
encontros entre grupos. Por exemplo, o daquilo que nos agrada ou não. Se
grupo da comunidade “A” com o grupo positivas, as diferenças promoverão no
da comunidade “B”. Estes encontros grupo uma forma possível para agregar
possuem por inalidade estabelecer novos elementos observados no grupo
comparações de funcionamento e “A” em relação ao grupo “B”.
conquistas, é como se um olhasse para
o outro no formato de espelho, para
que haja comparações positivas. Estas
comparações poderão prover um novo
estímulo para que cada grupo queira
organizar seu grupo de diferentes
maneiras, ou de formas iguais a partir
do novo.
6º O grupo está maduro o suiciente Este é um momento difícil para
para poder caminhar sozinho. É o proissional assistente social,
o momento do grupo começar a é o momento de deixar o grupo
caminhar sozinho, sem a liderança caminhar sozinho, é a possibilidade
ostensiva do assistente social. O de ter a certeza que seu processo de
proissional, estrategicamente, vai nucleação deu certo, é o momento
permitindo que os componentes de observar seu produto inal, ou
do grupo e os líderes naturais seja, é ver a autonomia do grupo
positivos possam ir traçando novas funcionando, é saber que o grupo
possibilidades de ação e tomadas de tornou-se um espaço de democracia, de
decisões. O assistente social procurará constituição participativa, é mais um
não interferir tanto nas decisões recurso implantado tanto no âmbito
tomadas pelo grupo, permitindo que da instituição como no contesto
o grupo se torne autossuiciente nos comunitário.
encaminhamentos.
7º Chegou o momento de dizer Todo processo de trabalho, quando
adeus aos componentes do grupo, realizado com seriedade e competência
é o processo de tomada de decisão, ético-política, deverá passar por este
principalmente se o grupo foi nucleado momento. Mas temos a certeza de que
por um acadêmico de Serviço Social. este sentimento é natural em todo
Neste momento, todos no grupo processo de desvinculação de laços
poderão icar desestabilizados e dizer: fortes estabelecidos a partir da coniança
Que será de nós agora sem você? Não mútua. O tempo será o grande remédio
conseguiremos dar um passo sem a para colocar a saudade no seu devido
tua presença!... entre outras falas. É o lugar e o grupo retomar sua energia,
momento da saudade antecipada. com a presença do ou dos líderes
naturais constituídos no grupo. O que
estabelece as amarras nos componentes
são os objetivos comuns construídos, os
sentimentos de pertença e amizade, os
vínculos pela ainidade que os movem e,
principalmente, o caráter político que o
grupo possui e representa.
126 As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade

8ª Após o efeito “bomba” da notícia, o Este é o momento de avaliar o trabalho


grupo legitimamente constituído toma realizado pelo proissional assistente
fôlego e prossegue sua caminhada. social, é o momento de rever todo o
Elabora o “luto” do companheiro processo e avaliar se realmente seus
que se desvincula, e segue adiante objetivos foram alcançados. O melhor
enfrentando os desaios naturais parâmetro a ser utilizado nesta análise
de qualquer espaço democrático e diz respeito aos princípios estabelecidos
legítimo. no seu código de ética do Serviço Social,
será que eles foram rigorosamente
pensados, materializados e garantidos
através do processo de trabalho do
assistente social? Fica aqui a pergunta, e
a procura de respostas.

É importante pensarmos em criar ações que realmente possam estabelecer


uma organização social no atendimento à população idosa. Distinguimos o
quanto o processo de trabalho do assistente social é importante nesse sentido.
Convergindo com tal reflexão, entendemos que o trabalho com grupos de terceira
idade alcançam objetivos sempre presentes nos programas e projetos sociais
direcionados para este segmento social nos espaços que esses idosos ocupam.
O processo de trabalho desenvolvido pelo assistente social possui uma matéria-
prima a ser trabalhada, que se configura nas expressões da questão social, e que,
através do trabalho executado pelo assistente social, através da ferramenta grupo
para a terceira idade, resultará em um produto, e a este produto definimos como
sendo ter acesso a condições sociais que garantam ao idoso espaços reflexivos
sobre a garantia de direitos e de cidadania.

Referência comentada
SILVA, Jaqueline Oliveira. Práticas do Serviço Social: espaços tradicionais e
emergentes. Porto Alegre: DaCasa Editora, 1988.
Este livro revela uma intensa prática dos assistentes sociais em diversos
espaços coletivos, visualizando demandas tradicionais e as emergentes de nossa
época.
As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade 127

Referências
FALEIROS, Vicente de Paula. Serviço Social: questões para o futuro. Revista
Serviço Social e Sociedade. São Paulo, Cortez, n.50, 1996.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na contemporaneidade:
trabalho e formação proissional. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2005.
PAPALIA, D. E.; OALDS S. W. Desenvolvimento humano. Porto Alegre:
Artmed, 2000.
RAMOS, D. D.; LIMA, M. A. D. S. Acesso e acolhimento aos usuários em
uma unidade de saúde de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Caderno Saúde
Pública, Rio de Janeiro, 19 (1): p.27-34, 2003.
SCHMIDT, M. D.; LIMA, M. A. D. S. Acolhimento e vínculo em um
programa de saúde da família. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20
(6): p.1487-1494, 2004.
TÜRCK, Maria da Graça Maurer Gomes. Serviço Social jurídico: perícia
social no contexto da infância e da juventude. Campinas: Livro Pleno, 2000.
VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Serviço Social e interdisciplinaridade:
o exemplo da saúde mental. In: _______. Saúde mental e Serviço Social. O
desaio da subjetividade e a interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2000.

Autoestudo
Coloque verdadeiro (V) ou falso (F):
( ) A criatividade somente ocorrerá quando o assistente social, bem como
o gerontólogo social, conseguirem interferir na realidade a partir da
sua abertura para o reconhecimento da necessidade de termos uma
formação pautada na pluralidade teórica, na valorização da cultura
local, no acolhimento da forma simples de como se constitui a vida
das pessoas, no que elas desejam e sonham.
128 As instituições e o trabalho do Serviço Social com grupos de terceira idade

( ) O exercício profissional do assistente social nas instituições não somente


depende do seu arsenal de conhecimentos, habilidades e atitudes que o
mobiliza frente às expressões da questão social, mas sim que sua prática
está diretamente vinculada às condições e aos meios de trabalho que as
instituições oferecem, dando a ele, profissional, aquilo de que necessita
para obter um produto final a partir de seu processo de trabalho.
( ) O Serviço Social é uma profissão que possui uma dimensão política,
e esta dimensão está presente no seu exercício profissional através da
garantia de direitos.
( ) O reconhecimento por parte do assistente social dos limites de sua
ação profissional nos espaços operativos é de suma importância para
a implementação de ações de inclusão social e ao próprio desempenho
do processo de trabalho do Serviço Social.
( ) Sabemos que a ação interventiva do assistente social se materializa no
cotidiano da vida social através da sua condição de trabalhador livre
ou profissional liberal.
( ) Por outra, sabemos que são poucos os assistentes sociais que ocupam
a condição de trabalhadores assalariados, dependendo, assim, das
instituições para que os contratem.
( ) O assistente social por meio da análise institucional consegue estabelecer
o reconhecimento dos atores institucionais e suas atuações, definindo
os atores que poderão ser reconhecidos como parceiros em um trabalho
coletivamente viável.

Respostas:
V, V, V, V, V, F, V

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