Você está na página 1de 6

& ENVELHECIMENTO,

MÍDIA E SOCIEDADE

Silvia Virginia Coutinho Areosa1


Lisianne Brittes Benitez2
Francisca Maria Assmann Wichmann3
Luciano Lepper4
Claudia Maria Corrêa Cardoso5
Etiane Moreira Pereira6
Evelin Wegner7

RESUMO AGING, MEDIA AND SOCIETY


Este estudo pretendeu conhecer a percepção dos idosos frente ABSTRACT
a aspectos sociais, entender como a sociedade vê o idoso e como
This study intends to study and to know the perception of aged
isto é refletido e apresentado pela mídia. A pesquisa, do tipo
in front of social aspects, to understand how society views the
levantamento (descritiva), utilizou uma metodologia qualitativa,
aged and how it is reflected and presented by the media. The
com entrevistas estruturadas em um instrumento de coleta de
research, type rising (descriptive), used a qualitative methodolo-
dados com questões abertas. Através das narrativas dos idosos
gy (comparative-descriptive), with information obtained through
entrevistados foram construídas categorias pela técnica da análi-
interviews with a structured data collection instrument with open
se de conteúdo. Frente a estas narrativas, contatou-se que há
questions. Through the narratives of the aged ones interviewed
percepções positivas e negativas acerca do que é veiculado na
were built categories by the technique of content analysis. Front
mídia sobre a temática do idoso e na visão da velhice pela soci-
of these narratives it was verified that there are positive and
edade em geral. Assim, concluiu-se que o tema do envelhecimen-
negative perceptions about the theme of the elderly and the vision
to ainda carece de abordagens, pelas mídias, condizentes com as
of the old age by general society. Thus, we concluded that the
reais necessidades desta população que cresce visivelmente em
subject of aging still needs approaches by the medias, according
nossa sociedade.
with the real needs of this population that grows visibly in our
Palavras-chave: idoso, mídia, sociedade society
Keywords: elderly, media, society.

1
Doutora em Serviço Social pela PUCRS, Docente da UNISC. e-mail: silvia_areosa@yahoo.com.br
2
Doutora em Microbiologia Agrícola e do Ambiente, Docente da UNISC. e-mail: lisianne@unisc.br
3
Doutora em Desenvolvimento Regional pela UNISC, Docente da UNISC. e-mail: francis@unisc.br
4
Mestre em Desenvolvimento Regional pela UNISC, Docente da UNISC. e-mail: llpper@unisc.com
5
Acadêmica de Psicologia pela UNISC, Bolsista PIBIC-CNPq. e-mail: claudia_cardoso@yahoo.com.br
6
Acadêmica de Psicologia pela UNISC, Bolsista BIC-FAPERGS. e-mail: eti.ane@homail.com
7
Acadêmica de Farmácia pela UNISC, Bolsista PUIC-UNISC. e-mail: evelinwegner@hotmail.com

1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234
1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234
1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234
1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234
1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234
REVISTA CONTEXTO & SAÚDE IJUÍ EDITORA UNIJUÍ v. 10 n. 20 JAN./JUN. 2011 p. 261-266
1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234
1234567890123456789012345678901212345678901234567890123456789012123456789012345678901234
262

INTRODUÇÃO dando ou namorando. Por outro lado, nas entreli-


nhas dos noticiários político-econômicos, as previ-
sões, baseadas, muitas vezes, nos discursos de es-
Pesquisadores que vem trabalhando com a pro-
pecialistas, demonstram que em breve o sistema
blemática do envelhecimento no Brasil discutem os
previdenciário no Brasil irá sucumbir sob o peso do
desafios do crescente e acentuado envelhecimento
número de dependentes idosos (LOPES, 2006).
da população e alertam para a emergência de políti-
cas públicas e de saúde que visem minorar os efei- No Brasil os meios de comunicação, como os
tos desta aceleração e a integração do idoso na so- jornais, não possuem um espaço que se detenha,
ciedade. Diversos estudos tratam do processo de especificamente, em pautar assuntos relativos à te-
envelhecer através do imaginário social contempo- mática do envelhecimento. São divulgadas algumas
râneo sobre o idoso, e como ele afeta o processo de matérias sobre aposentadorias, planos de saúde,
integração social dos velhos além de discutir ques- memória e atividades do dia ou da semana do idoso.
tões ligadas à cidadania e às dificuldades de inte- No entanto, essas informações ainda não tem sido
gração social do idoso no Brasil (BRUNO, 2003). suficientes para chamar a atenção da sociedade para
a importância da valorização dos idosos, faixa etá-
A visão do outro, do social e da cultura, em rela-
ria que vem crescendo vertiginosamente nos últi-
ção aos velhos é refletida no imaginário dos entre-
mos anos em nosso país (CAMPOS et al., 2010).
vistados, o que reflete na construção imaginária do
sujeito em envelhecimento como um dado concreto Sabe-se que a televisão, os jornais, a rádio, todos
para pensar a si próprio como velho (ELIAS, 2001). os meios simbólicos são poderosos instrumentos na
formação das atitudes e crenças em relação à sig-
Na compreensão de Beauvoir (1990), é impossí-
nificação dos objetos sociais, dentre eles a velhice
vel encerrar essa pluralidade de experiências num
(NERI, 2006). As representações sociais são ne-
conceito ou mesmo numa noção. Pelo menos, pode-
cessárias para guiar e auxiliar a nomear os vários
se confrontá-los, tentando destacar deles as cons-
aspectos que constituem a realidade do cotidiano,
tantes e dar razões às suas diferenças. A autora
contribuindo assim, com o modo dos sujeitos se ex-
mostra a complexidade do conceito de velhice e deixa
pressarem em seu ambiente de convivência. Essas
claro que não se trata de eliminar o conflito, mas de
reconhecê-lo como elemento capaz de mexer com interações propiciam a comunicação dos grupos em
as organizações e manter um clima propício à mu- suas redes sociais, refletindo na maneira de lidar
dança. Não se trata de homogeneizar, mas de inte- com assuntos da realidade diária (FERRETO, 2010).
grar as diferenças. Os ciclos da vida e as realidades da velhice pre-
Beauvoir (1990) lembra ainda que, uma vez que cisam ser retratados para que as pessoas se vejam
em nós o “outro” que é velho, a revelação de nossa nessas representações, para que derivem lições úteis
idade vem através dos outros, referindo que, mes- à interpretação de suas experiências vitais e para
mo enfraquecido, empobrecido, exilado no seu tem- que amplifiquem a sua compreensão sobre a vida e
po, o idoso permanece sempre o mesmo ser huma- sobre o mundo. Assim, é relevante às sociedades e
no. Assim, aquilo que é refletido na mídia sobre o aos grupos humanos valer-se da imagem dos idosos
outro, aquele que é o velho, vai refletir na forma e da velhice para representar a continuidade e real-
como este irá se perceber, na sua auto-imagem. çar a necessidade de preservar e transmitir valores
culturais básicos (NERI, 2006).
Com relação às considerações sobre os aspec-
tos sociais da velhice, ainda é corrente a noção de Este estudo, em sua totalidade, tem como objetivo
que os idosos representam um ônus para a socieda- conhecer a percepção dos idosos sobre seus relacio-
de. A mídia costuma apresentar os idosos como eco- namentos sociais, familiares e com os grupos de con-
nomicamente dependentes, apesar de sinalizar e in- vivência dos quais participam, além da visão que pos-
sistir na sua “recente” pró-atividade, ao transmitir suem da sociedade, da mídia e de como a temática
reportagens e imagens de idosos dançando, estu- do idoso vem sendo refletida na sociedade.

Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 10 • n. 20 • Jan./Jun. 2011


263

METODOLOGIA Nesta população buscou-se analisar como os ido-


sos percebiam a visão retratada da velhice nas notí-
cias da imprensa e da televisão e pela sociedade em
A pesquisa, tipo descritiva, utilizou-se de uma
geral. Os resultados mostraram, em relação à mí-
metodologia quantitativa/qualitativa. A população em
dia, uma visão positiva em 46,7% da amostra, des-
estudo foi composta por pessoas de ambos os se-
tacando-se a opinião de que os meios de comunica-
xos, maiores de 60 anos, que frequentavam servi-
ção estão divulgando mais a temática do idoso, vei-
ços ligados à universidade e grupos de convivência
culando programas específicos e com maior partici-
para terceira idade nos quais à Universidade de Santa
pação de idosos, com destaque para a programação
Cruz do Sul/UNISC tem inserção. O projeto de pes-
televisiva que traz atividades físicas e de lazer para
quisa adotou e seguiu os princípios éticos dispostos
a terceira idade e notícias positivas sobre a temáti-
na Resolução do Conselho Nacional de Saúde
ca do envelhecimento.
(nº196/96), a qual obteve aprovação do Comitê de
Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UNISC Dentro dos meios publicitários a televisão é o
(Parecer CAAE– nº0023. 0.109.000-09). que possui maior divulgação na mídia e encontra-se
Durante os anos de 2009 e 2010 realizou-se a presente na maioria das residências. Os estudiosos
coleta de dados através de entrevistas estruturadas do envelhecimento concordam, juntamente com es-
aplicadas por alunos, professores e colaboradores. pecialistas em marketing, que o idoso ainda é des-
As entrevistas foram realizadas nos próprios gru- prezado do ponto de vista do consumo e que apenas
pos, gravadas e transcritas. Todos os sujeitos assi- terá um lugar de valor assegurado na publicidade
naram o Termo de Consentimento Livre e Esclare- quando houver a percepção de que a “Terceira Ida-
cido, sendo informados sobre o sigilo das informa- de” no Brasil é um fator econômico sério (DEBERT,
ções e da divulgação dos resultados obtidos. 2003).

Foram analisadas 280 entrevistas através da téc- Se os idosos consomem os produtos da mídia,
nica da análise de conteúdo (BARDIN, 1990). Os assim como os adolescentes e adultos, é necessária
resultados foram organizados em categorias de aná- a existência de programas que se destinem a esta
lise baseadas nas respostas dos idosos amostrados faixa etária. Conforme Campos (2010) há poucos
às seguintes questões: 1) Considera que a temática programas na televisão brasileira voltados para a
dos idosos está bem tratada nas notícias da impren- terceira idade, apesar das revistas, cadernos de jor-
sa e da televisão? e 2) Qual a percepção da velhice nais e a própria tv estarem bastante fragmentados
nestes meios e na sociedade em geral?. Dentro de por faixa etária, gênero e classe social.
uma proposta multidimensional, o grupo de pesquisa A visão negativa sobre o que é veiculado na im-
trabalhou em conjunto analisando, discutindo os re- prensa prevaleceu em 32,8% das respostas, desta-
sultados encontrados e realizando cruzamentos e cando-se as notícias sobre maus-tratos, baixos va-
análises entre as diversas áreas do conhecimento. lores das aposentadorias e a abordagem superficial
de temas relativos aos idosos. Os entrevistados re-
ferem que ainda há muito que melhorar, principal-
RESULTADOS E DISCUSSÃO mente na televisão, não havendo ainda uma progra-
mação específica para sua faixa etária.

O perfil das pessoas que participaram da amos- Percebe-se, na mídia brasileira, a veiculação de
tra caracteriza-se por ser em sua maioria feminina imagens antagônicas do idoso, hora se referindo a
(85%), com idades variando entre 60 e 89 anos. Os ele como dependente físico e afetivo, inseguro e iso-
sujeitos são moradores da região dos Vales do Rio lado e hora como estereótipo de poder. Comprova-
Pardo e Taquari, em municípios com forte influên- damente sabe-se que a população de idosos vem
cia da colonização alemã. A maioria é casada (51%) aumentando nos últimos anos e que estão cada vez
e o número de viúvas representa 37% da amostra. mais ativos, porém o preconceito ainda é grande,

Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 10 • n. 20 • Jan./Jun. 2011


264

tanto por parte dos mais jovens, como dos próprios A segunda categoria diz que a representação na
idosos que muitas vezes se consideram “inúteis”. mídia poderia ser melhor, como pode ser visto na
Situações de constrangimento, descaso e ofensas seguinte colocação: “Não considero suficiente,
ainda são enfrentadas pela grande maioria (DE- acredito que abrange coisas para pessoas que
BERT, 2002; CAMPOS, 2010). já participam de grupos/ atividades e, que deve-
Com relação à imagem do idoso ou imagem da riam incentivar aqueles que não praticam nada”
velhice mais propriamente dita, o que se verifica ain- (Mulher, 76anos; Casada). “Trazem algumas coi-
da é uma imagem muito ligada a aspectos negati- sas boas e ruins. Está melhorando, vai levar um
vos, tristezas, perdas físicas, visão de coisas feias e tempo” (Mulher, 66 anos; casada).
assustadoras, além da preocupação com a aparên- As imagens sobre a velhice, veiculadas nos mei-
cia (do envelhecer). Esta visão talvez se deva a os de comunicação, nem sempre correspondem à
excessiva preocupação que se tem atualmente com realidade vivenciada pelos idosos. Considerando a
a aparência e com a questão midiática da pessoa grande utilização das mídias impressa e televisiva
ter que ser jovem, magra, seguir um padrão de bele- especialmente, o desenvolvimento de programas
za. A beleza está associada à juventude; sendo o voltados para a terceira idade, que estimulem a par-
que coloca o Brasil na ponta dos países que mais ticipação do idoso em diferentes atividades e seg-
fazem cirurgias plásticas no mundo. mentos da sociedade contribuindo para a sua inclu-
O padrão da estética e da beleza baseado somente são social, deveriam ser pensados e utilizados.
na ótica do jovem e com a contribuição global da Surgiu, entre os entrevistados, uma terceira ca-
mídia que condena o envelhecimento, exalta a ju-
tegoria refletindo que a temática das pessoas idosas
ventude e negligencia a longevidade. O homem
repete suas ações ancestrais que não percebiam está sendo “mal apresentada” nas notícias da im-
sua finitude (LOPES; ARANTES e LOPES, 2007, prensa e da televisão porque não há valorização e
p. 50). respeito pela figura do idoso, como se pode obser-
var nas seguintes falas: “Infelizmente não, por-
A análise qualitativa das respostas à pergunta
que o idoso não é valorizado, ele não tem uma
“Considera que a temática das pessoas idosas está temática que faça com que as crianças, jovens e
bem refletida/apresentada nas notícias da impren- adultos de menos idades respeitem seus idosos.
sa e televisão?”, gerou três categorias analíticas: É muito baixo o índice de pessoas que valorizem
uma que reflete a visão positiva referente à mídia e dentro das próprias famílias a gente vê assim
ressalta a valorização do idoso, como se pode ob- barbaridades...” (Mulher, 69 anos; viúva). “De-
servar através das seguintes falas: “Hoje o idoso pois que fica idoso muito pouco valor se dão
já é bem respeitado, muitas coisas eles falam aos idosos, largam em um asilo” (Homem, 76 anos;
na TV, para que os jovens respeitem mais. Até viúvo). “Olha eu acho que devia ter uma melho-
nas novelas já são temas muitas vezes e, é mui- ra, tem horas que a gente houve em alguns pro-
to bom isso, acho que é a partir daí que muitos gramas que se referem ao idoso como se fosse
jovens vão começar a pensar, porque um dia um ser inútil. Eu acho que não é assim não, por-
eles também vão ser velhos” (Mulher, 62 anos; que eu estou com 61 anos e não sinto o peso da
divorciada). idade” (Mulher, 61 anos; casada).
A imagem estereotipada do idoso construída pela De acordo com Campos (2010), a cobertura da
mídia nas últimas décadas parece, finalmente, estar mídia sobre a temática do idoso ainda se fixa no
sendo diluída pelas conquistas desta geração de “ve- eixo saúde/doença/aposentadoria, sendo que o es-
lhos”, que fazem reivindicações sociais e políticas, paço de cobertura do assunto é muito pequeno quan-
se lançam em novos projetos, quebram paradigmas do comparado com o total de páginas e horas de
e lutam pelo reconhecimento e inclusão na socieda- programação destinadas ao jornalismo. Esta situa-
de como indivíduos perfeitamente capazes e úteis. ção, que ainda persiste na atualidade, se origina do

Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 10 • n. 20 • Jan./Jun. 2011


265

fato de que grande parte da sociedade considera Entre os entrevistados, apareceu também os que
que os idosos são inúteis e não contribuem positiva- “não souberam responder”, por não usar muito os ve-
mente para nada. ículos de comunicação, conforme a seguinte coloca-
ção: “Bom não sei, porque não olho muita televi-
Um fator crucial negligenciado pelas produções são, porque não tenho tempo” (Mulher, 80 anos;
televisivas é o lugar do idoso na família e no contex- viúva). Apesar de existirem indivíduos que alegam não
to social. Muitas vezes, depois de aposentado, o idoso acompanhar as notícias da imprensa e da televisão a
exerce a função de provedor parcial ou mesmo to- grande maioria faz uso de alguma destas mídias.
tal ou simplesmente de avós, faltando tempo ou re-
cursos para o lazer e a diversão. Aqueles que dis- No estudo sobre o uso dos meios de comunica-
ção por idosos participantes de um grupo de ativida-
põem destes benefícios representam apenas uma
des físicas na cidade de Santa Maria, RS, Rodri-
parcela da população, aos demais está reservado o
gues e Acosta (2009) concluíram que variados mei-
lugar de exclusão e abandono (BEZERRA, 2006)
os de comunicação são utilizados pelos idosos ao
Quanto à abordagem da questão relativa à visão longo do dia com diferentes objetivos e motivações,
que os meios de comunicação e a sociedade em no entanto a televisão obteve o maior destaque so-
geral têm sobre a etapa da velhice, surgiram duas bre as demais mídias. Segundo os autores, a exposi-
categorias. A primeira considera que está melho- ção intensiva a este meio pode limitar o contato com
rando, há maior valorização e respeito e um número o mundo externo, uma vez que veiculam conteúdos
maior de atividades voltadas à terceira idade: “Acho violentos (inclusive, contra os idosos) em quantida-
que estamos em uma fase de transição para in- de considerável, podendo contribuir para o confina-
cluir mais o idoso na sociedade, os jovens estão mento do idoso em casa.
respeitando mais e as novelas tratam isso tam- A mídia, em especial a televisão, tornou-se tão
bém. É mais valorizada a bagagem de experiên- inserida no cotidiano das pessoas, que acabou por
cias que o idoso tem e como ele tá se cuidando tornar-se como uma tarefa a ser realizada diaria-
mais, as doenças estão demorando mais para mente e não mais uma atividade feita no tempo livre
aparecer” (Mulher, 63 anos, casada). dos indivíduos, provavelmente porque assistir tv tor-
nou-se praticamente uma obrigação, com horários
Na segunda categoria estão incluídas as opini- previamente definidos. Talvez o ato de assistir tele-
ões que falam sobre discriminação, preconceito e a visão esteja internalizado nas pessoas, fazendo par-
falta de visibilidade do idoso: “Com bastante pre- te do seu cotidiano como, por exemplo, escovar os
conceito e desvalorização, né? isso tranquila- dentes ou alimentar-se (RUBERT, 2003).
mente! As pessoas, eu não diria nem o idoso,mas
a pessoa com 40 poucos anos já é vista como A mídia dá visibilidade aos diferentes segmentos
velha e parece que tem menos valor. A experiên- da população para reconhecerem seu papel social
no meio em que vivem, logo, é importante que en-
cia de vida das pessoas, o saber delas isso não
tenda seu papel transformador e educador. Ao vei-
conta na sociedade. Você vai, trabalha, você se
cular a notícia precisa certificar-se de não estar cri-
apresenta num grupo, o que se observa muito
ando estereótipos que induzam o idoso a negar a
hoje é a beleza exterior, é a idade, a forma de se
própria velhice ou retratando-os de uma maneira
vestir, de aparecer, e o que a pessoa é em si mes- negativa e desagradável com a qual eles não se iden-
mo não tem valor” (Mulher, 65 anos; separada). tificam (ARANTES, 2009).
Campos (2008) em seu estudo sobre a “Visibili-
dade do idoso nos meios de comunicação” sugere
que os idosos devem buscar ajuda externa para re-
afirmar sua boa imagem na sociedade, devem orga- CONSIDERAÇÕES FINAIS
nizar-se e condenar publicamente os meios de co-
municação que tratam inadequadamente a imagem Os resultados mostraram, em relação à mídia,
do idoso, além de cobrar dos poderes públicos e dos uma visão positiva em 46,7% dos participantes, des-
políticos tratamento justo e respeitoso. tacando-se a opinião de que os meios de comunica-

Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 10 • n. 20 • Jan./Jun. 2011


266

ção estão divulgando mais a temática do envelheci- CAMPOS, P C. A visibilidade do idoso nos meios
mento. Os idosos afirmaram que atualmente já exis- de comunicação. Estudo de caso: jornais El País e
tem programas específicos e que levam à maior ABC – 2007. Revista Kairós, São Paulo, 11(1), pp.
participação dos indivíduos, especialmente na pro- 105-142, 2008.
gramação televisiva que veicula atividades físicas e DEBERT, G.G. O velho na propaganda. Caderno.
de lazer para a terceira idade e notícias positivas Pagu, n.21 pp. 133 a 155, 2003.
sobre o envelhecimento. Com o crescimento do nú- DEBERT, G. G. O idoso na mídia. Com ciência,
mero de idosos no Brasil observa-se um aumento 2002. Disponível em www.comciencia.br. Acessa-
significativo na quantidade e na variedade de inicia- do em 24 de junho de 2011.
tivas voltadas à terceira idade que estão sendo di- ELIAS, Norbert A Solidão dos Moribundos. Rio
vulgadas pela mídia. Entretanto, ainda há muito a de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
melhorar, especialmente na abordagem dada pelas FERRETO, Lirane Elize. Representação social no
mídias à imagem do idoso como um indivíduo inte- envelhecimento humano. In: MALAGUTTI, Willi-
grado à sociedade, participativo e produtivo. A ve- am; BERGO, Ana Maria Amato. Abordagem In-
lhice deixou de ser uma questão a ser debatida ape- terdisciplinar do Idoso. Editora: Rubio Ltda – Rio
nas na esfera privada e da família e passou a ser de de Janeiro, 2010.
domínio público. LOPES, Andréa. Dependência, Contratos Sociais e
Qualidade de Vida na Velhice. IN: SIMSON, Olga
Rodrigues de Moraes Von; NERI, Anita Liberalesso;
CACHIONI, Meire. As Múltiplas Faces da Velhi-
REFERÊNCIAS ce no Brasil. Editora: Alínea, Campinas, SP, 2006.
LOPES, M. S.; ARANTES, R. C.; LOPÉS, R.G.C.
ARANTES, R.P.G. Imagem e ação: idoso e lazer Um breve ensaio sobre a aceitação da beleza na
na mídia. Revista Kairós, São Paulo, Caderno Te- enfermidade dos corpos. Revista Kairós. São Pau-
lo: EDUC, v.10, n 2, p. 45-61, 2007.
mático, n.6, pp. 88-101, 2009.
NERI, Anita Liberalesso. Atitudes e Crenças sobre
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edi-
Velhice: Análise de Conteúdo de Textos do Jornal O
ções 70, 1990. Estado de São Paulo Publicados entre 1995 e 2002.
BEAUVOIR, S. de. A Velhice. Rio de Janeiro: Nova IN: SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes Von;
Fronteira, 1990. NERI, Anita Liberalesso; CACHIONI, Meire. As
BEZERRA, A.K.G. A construção e reconstrução Múltiplas Faces da Velhice no Brasil. Editora:
Alínea, Campinas, SP, 2006.
da imagem do idoso pela mídia televisiva.PPGS/
UFCG, pp. 1-6, 2006. Disponível em RODRIGUES, F.A.S.; ACOSTA, M.A. A terceira
www.proec.ufg.r. Acessado em 25 de junho de 2011. idade e os meios de comunicação. Anais do XVI
Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e
BRUNO, Marta Regina P. Cidadania não tem ida- III Congresso Internacional de Ciências do Es-
de. Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cor- porte. Salvador, Bahia, 2009. Disponível em
tez, XXIV (75): 74-83, 2003. www.rbceonline.org.br. Acessado em 24 de junho
CAMPOS, P.C. et al. Jornalismo e Sociedade: Co- de 2011.
bertura sobre Terceira Idade na imprensa brasilei- RUBERT, V. Lazer e mídia na terceira idade: um
ra. Revista Kairós. Gerontologia, 13 (1), São Pau- estudo sobre representações sociais. Motrivivên-
lo, p.73-103, 2010 cia, n. 20-21, pp. 273-285, 2003.

Revista Contexto & Saúde, Ijuí • v. 10 • n. 20 • Jan./Jun. 2011

Você também pode gostar