Você está na página 1de 15

A POSIÇÃO HISTÓRICA A MULHER NAS ASSEMBLEIAS DE DEUS –

APOIOS E CONTROVERSAS - 1911 A 1930

Célio César de Aguiar Lima1

RESUMO
O texto se propõe a apresentar a história das mulheres dentro da instituição
religiosa denominada Assembleia de Deus, instituição de influência Americana no
Brasil. Influencia por seus fundadores serem suecos que passaram por movimentos
religiosos chamados de pentecostais na virada do século XX e então, seguindo o ciclo
da borracha que recebia trabalhadores migrantes de diversas localidades do mundo
especialmente suecos devido a crise financeira vivida na Suécia naquele momento, a
construção da Fordlândia. O Objetivo é apresentar a crise na américa latina, pelas lentes
da religiosidade, mostrando uma redução da mulher dentro da instituição.

PALAVRAS CHAVES
Pentecostalismo – Migração – Feminismo - Religiosidade

SUMMARY
The text proposes to present the history of women within the religious institution
called Assembly of God, an institution of American influence in Brazil. It is influenced
by the fact that its founders are Swedes who went through religious movements called
Pentecostals at the turn of the twentieth century and then, following the rubber cycle
that received migrant workers from different parts of the world, especially Swedes due
to the financial crisis experienced in Sweden at that time, of Fordlândia. The objective is
to present the crisis in Latin America, through the lens of religiosity, showing a
reduction of women within the institution.

KEYWORDS
Pentecostalism – Migration – Feminism – Religiosity

1
Doutorando em História Politica no PPGH-UERJ, Mestre em Historia Social, Graduado em
Ciências Sociais, História e Teologia.

1
Quando pesquisamos o tema em diversas fontes, sejam acadêmicas,
confessionais, ligados a história das Assembleias de Deus, vemos a atuação de
mulheres, mas, sempre em segundo plano. Será que sempre foram coadjuvantes nesse
cenário, nunca protagonizaram partes de um todo? Os homens são citados e colocados
em posição dianteira, sejam suecos, americanos, brasileiros, mas, se analisarmos o
Censo de 1900 no Brasil havia 17.371,069 sedo 8.855,237 homens e 8.515,832
mulheres mostrando um equilíbrio em seu quantitativo2. Dois missionários de origem
Sueca, em 1911, em relação à Suécia de 1910, como a grande maioria, pessoas
ruralistas, pobres e de igrejas congregacionais “livres”, com pouca escolaridade e com
isso, com a realidade muito próxima que encontram no Brasil. A nível de informação
conforme cita ALENCAR:
“Em 1910, a Suécia tem 5.522,403 habitantes, dos quais
4.154.803 são de zona rural, ou seja, 75% da população. [....] No
Brasil, em 1910, temos 23.414.177 habitantes, [...] no início do
Século XX a Suécia é um país agrícola falido, e mais de um milhão
de duzentos mil suecos ‘atenderam à voz do sangue ... e ouviu o
chamado da América’ dos quais dez mil vem para o Brasil”.3

Quando chegam ao Brasil encontram fartura, uma realidade totalmente diferente


da pobreza deixada na Suécia. Como veem da Europa, os brasileiros acreditavam
estarem vindos de um país rico, abastado, desenvolvido e que estariam chegando numa
localidade pobre, atrasada, sem recursos, muitas doenças tropicais, e calor descomunal.
Mal sabiam os brasileiros que eles estavam migrando devida a dura realidade vivida,
que sua população fugia da dura realidade. Uma questão que deve ser levantada seria:
“os Suecos encontraram sofrimento no Brasil ou encontravam no solo brasileiro
esperança de melhor vida e mais oportunidades?
Sendo assim esse artigo tem por objeto de pesquisa as Assembleias de Deus
Brasileiras, classificadas como igrejas Pentecostais, onde se crê que pessoas sobre
“êxtase espiritual” recebem a capacidade de falar em “outras línguas”, e essa era a
mensagem dos missionários pioneiros e fundadores dessa denominação, segundo relatos
a senhora Celina Martins Albuquerque (1876 – 1966) em uma reunião de oração passou
pela experiencia pessoal de “falar em outras línguas” também chamado de “batismo no

2
SYNOPSE DO RECENCEAMENTO – 13 DE DEZEMBRO DE 1900. DIRETORIA GERAL DE
ESTATISTICA – MINISTERIO DA INDUSTRIA, VIAÇÃO E OBRAS PUBLICAS – TOPOGRAPHIA
DA ESTATISTICA – 1905. APUD: www2.senado.leg.br
3
ALENCAR, Gedeon Freire de. Assembleias Brasileiras de Deus: Teorização, História e Tipologia –
1911 – 2011. Tese de Doutorado em Ciências da Religião. PUC/SP. 2012. Pág. 82

2
Espirito Santo”4. Como os missionários apregoavam que essa experiencia
fenomenológica poderia ocorrer com todos que cressem não ficando restrito a um grupo
ou gênero, confrontou-se com a forma do crer da Igreja Batista em Belém, culminando
na expulsão dos missionários e todos que aderissem aquele novo formato de fé em 13 de
junho de 19115. O destaque aí é que a mensagem fenomenológica apregoada a todos se
cumpre primeiro com uma mulher. A segunda pessoa a ter essa “experiencia” foi a
senhora Maria de Jesus Nazaré Araújo (1880 - ), em 1914, sendo destacada como a
pioneira pentecostal no Ceará, ou seja, mais uma mulher.6
Outro personagem emblemático envolvendo o sexo feminino é da missionaria
Frida Maria Strandberg Vingren (1891 – 1940) que chegou ao Brasil chegando a Belém
em 14 de julho de 1917 vivendo aproximadamente treze anos no Brasil sendo sete em
Belém e seis no rio de Janeiro, retornando para a Suécia em 1932 e falecendo em 1940
aos 49 anos. Embora sem reconhecimento e devido destaque, ela é um marco histórico
nas Assembleias de Deus. Cantava, pregava, orava, tocava instrumentos, compôs vinte e
quatro hinos do hinário oficial das Assembleias de Deus chamado de Harpa Cristã, se
colocava em praças cantando e pregando como na praça Onze no Rio de Janeiro,
presídios, casas e templos. Foi escritora no jornal oficial das Assembleias de Deus
chamado de Boa Semente7, fundado em Belém e do jornal Som Alegre do Rio de
Janeiro. Ambos mais tarde se fundiram nascendo então o Jornal Mensageiro da Paz 8,
existente até os dias de hoje editado pela CPAD – Casa Publicadora das Assembleias de
Deus9.
As Assembleias de Deus nascidas em 1914 nos Estados Unidos tinham pastoras e
missionarias. Em 1925 na Assembleia de Deus do Rio de Janeiro, Vingren consagra
uma mulher de nome Emília Costa10 ao diaconato e, consecutivamente, se tornaria um
padrão para as demais Assembleias de Deus brasileiras por se tratar de um ato realizado
pelo fundador da igreja que estava na capital do país, mas, foi massacrado e
exterminado na Convenção das Assembleias de Deus que aconteceram em 1930.
ALENCAR cita que:
4
FRESTON, Paul. Breve história da Assembleia de Deus. Revista Religião e Sociedade, 16/3, maio/94a,
Rio de Janeiro
5
ALENCAR, Gedeon Freire de. Assembleias Brasileiras de Deus: Teorização, História e Tipologia –
1911 – 2011. Tese de Doutorado em Ciências da Religião. PUC/SP. 2012. Pág 95
6
SANZANA, Elizabete Del C. Salazar - “Todas seriamos rainhas” - história do pentecostalismo chileno
na perspectiva da mulher 1099-1935, SB Campo, Dissertação de Mestrado-UMESP, 1995.
7
ANEXO 04
8
ANEXO 05
9
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
10
ANEXO 06

3
“Há registro de uma polemica atuação de algumas missionarias
solteiras, suecas, no Ceará na década de 20, com o missionário Bruno
Skolimowski (Rego, 1942); [...] há diferentes opiniões sobre os trabalhos
femininos na igreja, entre os próprios suecos. Além de Frida, Adina Nelson
(1889 – 1978) também se destacou como pregadora. Essa dificuldade de lidar
com o ministério feminino não é um “problema nordestino” exclusivamente,
mas também dos suecos, segundo a pesquisa de Gunilla N. Oskarsson
(2007)”

Segundo ARAUJO11, dos 64 missionários da STM, entre solteiras e casadas, 39


eram mulheres, ou seja, 56,3% da força missionaria, mas como ele admite, somente se
fala de Vingren e Berg.
Demonstrando qualquer oposição e preconceito, pelo contrário, incentivando,
reconhecendo e apoiando o trabalho das mulheres, após ouvir a pregação de André
Bernardino da Silva, fundador da Assembleia de Deus Catarinense, aos 22 anos de
idade, Élida Andrioli Vieira se converteu e passou a cooperar com o crescimento da
Assembleia de Deus na região litorânea de Santa Catarina. Élida Andrioli Vieira12 é
uma das primeiras crentes da Assembleia de Deus do estado de Santa Catarina. Seu
testemunho de conversão foi publicado no Mensageiro da Paz no ano de 1933. Segundo
Paulo Vieira Marques, filho de Élida, a mãe era uma jovem comunicativa, destacada e
dinâmica nas atividades da igreja. Por essas qualidades, Gunnar Vingren a separou para
o diaconato. Quanto a atuação da jovem Élida, o próprio fundador da AD em Santa
Catarina dá um relato no jornal Mensageiro da Paz sobre o assunto13.
André Bernardino conta que esteve 15 dias em Ilhota com um grupo de crentes.
Élida foi a responsável pela pregação, discipulado e orientação dos novos convertidos.
Bernardino relata em certo momento que, após voltar para casa depois de um batismo
em Ilhota, adoeceu ao voltar para casa, não podendo atender a Escola Dominical em
Itajaí, "mas a irmã Élida foi em meu lugar". Esta fala revela a importância e a
responsabilidade da jovem obreira. Provavelmente, existiam obreiros do sexo
masculino, mas a importância e a confiança depositada em Élida são evidentes. Ao
longo da vida, Élida continuou trabalhando dentro da AD durante toda a sua vida e
faleceu aos 82 anos de idade.
Fica claro e constatado que o missionário Gunnar Vingren foi incentivador do
ministério feminino, bem como do ensino teológico, mas, infelizmente, na convenção
da Assembleia de Deus em 1930, em Natal, ele e a esposa foram voto vencido na

11
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
12
ANEXO 07
13
Mensageiro da Paz no ano de 1933

4
maioria das propostas que sugeriram. Com os problemas de saúde que Gunnar adquiriu
não havia condições de continuar à frente da Assembleia de Deus no Brasil. Concluímos
e deduzimos que, se conclui que se Gunnar Vingren tivesse liderado a Assembleia de
Deus por mais tempo, o desenvolver e atuação dela não seria o que conhecemos hoje14.

A. ABRASILEIRANDO O MOVIMENTO DA RUA AZUZA


A Assembleia de Deus, de forma lenta e gradual, foi se tornando uma igreja
brasileira, com o crescente número de lideranças nacionais se constituindo e se
inserindo na administração que, foi ocupando os espaços até tomarem todos
dispensando os missionários americanos e suecos, em especial nortistas e nordestinos de
origem rural. As relações de poder existentes na Assembleia de Deus podem ser mais
bem analisadas a partir do coronelismo e militarismo, com sua hierarquia de obediência
irrestrita. Como o pentecostalismo ligado a esta igreja surgiu em meio ao ciclo da
borracha, incorporou uma versão do coronelismo presente nas fazendas de borracha no
Norte e de outros cultivos no nordeste brasileiro. Essa era a maneira utilizada pelos
coronéis para manter a obediência. Vemos claramente na retórica dos pastores
pentecostais o destaque da liderança como divinamente instituída, portanto, merecedora
de obediência e respeito. Esta autoridade é transferida também ao crente pela ênfase
pentecostal, uma vez que, no pentecostalismo todos têm “poder”. “Percebe-se então
uma linha muito tênue que separa o poder do Espírito para inclusão e afirmação social
e o poder pessoal para se sobressair ou manipular os demais”15.
O desenvolvimento institucional arraigado a cultura do Coronelismo, sendo esse
de influência nordestina, é um dos fatores que contribuiu para a consolidação de uma
organização marcada por forte autoritarismo, em que o poder se legitima pela tradição.
A tradição pentecostal de organizar-se de maneira carismática a partir dos dons que
emergem na comunidade vai adaptar-se à cultura brasileira tradicional. E, como observa
Freston, “o poder tradicional, fundado na autoridade patriarcal, vai raptar o poder
carismático fundado no dom pessoal que marcou as origens da AD”.16
Na primeira reunião em que os grupos/igrejas nacionais se unem num proposito
de manter/criar uma identidade e a unidade doutrinária da Assembleia de Deus, e
14
A Hora: 10 mulheres pregadoras da Assembleia de Deus (marllon221190.blogspot.com)
15
POMERENNIG, Claiton Ivan. Oralidade e escrita na teologia pentecostal: acertos, riscos e
possibilidades. 2008. 170 f. Dissertação (Mestrado em Teologia). Instituto Ecumênico de Pós-Graduação.
Escola Superior de Teologia. São Leopoldo. p. 71.
16
MENDONÇA, Antônio Gouvêa; VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao protestantismo no
Brasil. São Paulo: Loyola, 1990. p. 247.

5
resolver questões de ordem interna e externa se deu na capital potiguar, em caráter de
urgência aconteceu de 5 a 10 de setembro de 1930, reunindo a maioria dos pastores
nacionais e todos os missionários suecos com o objetivo de “resolverem certas questões
que se prendem ao progresso e harmonia da causa do Senhor”. Uma das questões era a
atuação feminino na igreja.
A pauta da primeira Convenção abordava quatro temas:
1. O relatório do trabalho realizado pelos missionários;
2. A nova direção do trabalho pentecostal do Norte e Nordeste;
3. A circulação dos jornais Boa Semente e O Som Alegre;
4. O trabalho feminino na igreja.

Existem duas fotos oficiais17 da histórica da Convenção de 1930, aparecem 35


rostos sendo 33 masculinos e 02 femininos. O de Beda Palm missionária sueca que
chegou ao Brasil em 1927, e trabalhou no evangelismo em Pernambuco e Rio Grande
do Norte durante seis anos e Frida Vingren, esposa do missionário Gunnar Vingren e,
possivelmente, o estopim18 para a discussão do trabalho feminino na igreja 19. Na
segunda Frida Vingren aparece como única mulher entre dez homens 20. Ela iniciou com
certeza vários projetos e como mulher naquele momento não teve apoio dos obreiros
nacionais e nem dos seus e suas compatriotas.
FRESTON21 em seu trabalho apresenta como característica fundamental nas
Assembleias de Deus o que denominou de “etos sueco-nordestino”. O machismo dos
líderes nordestinos associado ao reacionarismo sueco em que não aceitam dentro desse
meio religioso a mulher ter maior destaque que seu marido, ainda que na prática o seja,
seu cargo “precisa ser inferior” ao dele22. Precisamos destacar que esses
17
ANEXO 08
18
ALENCAR, pesquisador do pentecostalismo brasileiro, ao entrevistar um pastor com mais de oitenta
anos, lhe perguntou sobre o papel de Frida na Convenção de 30, o pastor teria respondido taxativo: “a
convenção aconteceu por causa dela!”. ALENCAR, Gedeon Freire de. Frida Vingren (1891-1940):
quando uma missão vale mais que a vida. In: OROZCO, Yuri Puello (Org.) Religiões em diálogo:
violência contra as mulheres. São Paulo: Católicas pelo direito de decidir, 2009. p. 74. (Informação
encontrada na nota de rodapé n. 12).
19
Embora não haja muitas informações a respeito de Beda Palm, ela é citada juntamente com os
“obreiros que muito contribuíram para o progresso da Obra Pentecostal em seus primórdios”, em
CONDE, Emílio. História das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2000. p. 44-45 e
ARAÚJO, 2007. p. 541. A foto histórica da Primeira Convenção Geral onde (embora não mencionada) o
seu rosto aparece, encontra-se em DANIEL, 2004, p. 21-22.
20
ANEXO 09
21
FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo. In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem
demônios; interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.
22
ARAGÃO, Laura Sá. Chamadas por Deus, ignoradas pelos homens. Reducionismo cultural em
relação ao trabalho missionário feminino. Dissertação de Mestrado. FABAPAR. 2010

6
acontecimentos de resistência a mulher acontecem num período em que a mulher não
votava23.
VINGREN deixa claro seu posicionamento favorável a atuação das mulheres se
manifestando oficialmente dizendo que:
“As irmãs têm todo o direito de participar na obra evangélica,
testificando de Jesus e a sua salvação, e também ensinando quando for
necessário. Mas não se considera justo que uma irmã tenha a função de
pastor de uma igreja ou de ensinadora, salvo em casos excepcionais
mencionados em Mateus 12.3-8. Assim deve ser somente quando não
existam na igreja irmãos capacitados para pastorear ou ensinar”24.

Seria pertinente avaliar o perfil de GUNNAR VINGREN. Um homem que


acredita ter recebido uma chamada divina para sua vida. É interessante aqui que ele
“recebe uma profecia” para vir ao Brasil em 1909 e se organiza, compra passagens e
vem em 1910, embora, na “história oficial25” seja descrito que ele não tinham noção de
onde era o Brasil e a profecia os dirigia a um lugar que nunca tinham ouvido falar
chamado “Pará”, e que teriam ido para uma biblioteca procurar no mapa onde ficava
esse local e ai souberam que ficava no Brasil. Questiono aqui a versão oficial, para
repensarmos o momento histórico em que é vivido.
Esse relato é questionável levando-se em consideração que:
“A Suécia no final do século XIX, significava para muitos
suecos a escolha entre a fome ou um trabalho quase escravo. Surgiu
uma terceira opção: a emigração. Nessa época, cerca de 1.200.000
suecos emigraram para a América do Norte. Essa emigração
correspondia a quase um terço da população sueca, marcou o país
profundamente.26”

Temos ainda a informação de que:


“Em 1980, aproximadamente 98 famílias deixaram a
Suécia rumo ao Rio de Janeiro. No mesmo ano tinham viajado

23
“A Assembleia de Deus é conhecida por ser uma igreja machista. É uma igreja feminina, mas
machista. Feminina porque o número de assembleianas é maior que o de assembleianos e machista
porque quem tem a palavra final são os homens. Estes mesmos homens limitam ao máximo o ministério
feminino. A mulher assembleiana só pode liderar conjunto infantil, dar aulas bíblicas para crianças,
limpar a igreja, cuidar da cantina, cuidar da obra social e dirigir os cultos de oração. Esta organização
é rígida, mas não inquebrável.” APUD: A Hora: 10 mulheres pregadoras da Assembleia de Deus
(marllon221190.blogspot.com)
24
VINGREN, Ivar. Diário do Pioneiro Gunnar Vingren. CPAD. RIO DE JANEIRO. Pág 168
25
Nos livros publicados pela editora da denominação sendo eles principalmente: BERG, David. Daniel
Berg - enviado por Deus. Versão Ampliada, Rio de Janeiro, CPAD, 1995; MORAES, Isael de Araújo de.
Dicionário do Movimento pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007; VINGREN, Ivar (org.)
Despertamento Apostólico no Brasil. Rio de Janeiro, CPAD,1987; VINGREN, Ivar. Gunnar Vingren, o
diário do pioneiro. Rio de Janeiro, CPAD,1997
26
VALERIO, Samuel Pereira. Uma nova origem do Pentecostalismo: A trajetória da Igreja Batista
Sueca no Brasil a partir de 1912. Editora Recriar. São Paulo. 2000.

7
cerca de 30 famílias para o Sul do Brasil, as quais foram para as
colônias de Caxias, Barão de Triunfo e Guarani.27”

Em 1894 foi enviado o primeiro missionário batista sueco chamado Adolf


Larsson, pela Örebre Missionsförening (Associação Missionaria de Örebre) fundada
em 1892 por Jonh Ongman (1845 – 1931) morrendo pouco tempo depois de malária.
Em junho de 1912 chega o missionário Erik Jansson em Juí – RS, e permanece até
1953, estabelecendo em 1915 a Igreja Batista Sueca e uma escola para crianças 28.
Em Belém antes da chegada de Berg e Vingren, já existia quatro igrejas
protestantes: batista, metodista, presbiteriana e luterana e, o pastor metodista era Justos
Nelson, que chegou em Belém em 1885 que também era sueco. Havia ainda o pastor
Erik Alfred Nilsson (1862 – 1939), migrante dos Estados Unidos, veio para o Brasil em
e chegou no Pará em novembro de 1891 e fundou a 1ª igreja Batista de Belém em 1896.
Das quatro igrejas protestantes em Belém, dois pastores eram suecos. Outra questão em
comum é que Vingren e Eric Nilssom estudaram no mesmo seminário, em épocas
distintas.
Outras questões que devem ser avaliadas é que O pastor Batista Eric Nilsson
havia retornado aos Estados Unidos em agosto de 1910 e Daniel Berg e Gunnar Vingren
chegam a Belém em novembro de 1910. O Pastor Eric Nilsson já havia oficializado
assumir a igreja Batista em Manaus após o retorno dos Estados Unidos, então, a Igreja
Batista em Belém está sem pastor, igreja que estava temporariamente sendo dirigida
pelo Diácono Raimundo Nobre. Na própria biografia 29 de Vingrem ele destaca que os
Batistas acreditavam que ele seria o pastor após aprender o português. Seria então o
motivo da expulsão dos missionários suecos apenas a pregação sobre o batismo no
Espírito Santo ou uma questão “política” de ser mais um estrangeiro a assumir a igreja e
que, seu líder nacional, mesmo sendo um diácono já vislumbrava assumir o pastorado
tendo esses missionários atrapalhado seu projeto pessoal?
Por último, no início do século XX Belém é chamada de “A Paris Tropical”
fornecendo borracha para diversas partes do mundo e postes para a iluminação de Los
Angeles, com a inscrição da Company of Pará, empresa curiosamente em que Daniel

27
JANZON, Göran. Denna avhandling ingar i Studia Missionalia Svecana – serien, som utges av
Svenska Institutet for Missionsforskning Örebro. Författarem och Libres förlag. Örebro Formgivning:
Omforma/Magnus Akerlund. 2008. APUD: VALERIO, Samuel Pereira. Uma nova origem do
Pentecostalismo: A trajetória da Igreja Batista Sueca no Brasil a partir de 1912. Editora Recriar. São
Paulo. 2000.
28
IDEM
29
VINGREN, Ivar. Gunnar Vingren, o diário do pioneiro. Rio de Janeiro, CPAD,1997

8
Berg vai trabalhar. Questões para refletir e contextualizar apenas 30 e repensar o “mito
fundante”. Gunnar Vingrem ao ler sua biografia, editada e escrita por seu filho, sempre
se revela como alguém que á sua época sabia ler e escrever, tinha participado de um
seminário teológico e já havia experiencia em pastorear. Isso é deixado muito claro nos
registros oficiais. Daniel Berg era cheio de entusiasmo, mas semianalfabeto, por isso se
propôs a trabalhar para sustentar ele e Vingren e pagar o curso de Português para
Vingren que lhe repassava os conhecimentos adquiridos.
Há um fator ainda que denota, fé, crença, inocência, ou um misto desses
sentimentos nos corações deles. Os primeiros pentecostais entendiam o fenômeno da
“glossolalia” como “xenolalia” que é a capacidade de falar uma língua humana
identificada sem havê-la estudado, sendo então um sinal de vocação missionaria. Essa
seria a convicção dos suecos ao virem ao Brasil sem nenhuma preocupação anterior de
estudar o português.
“... Seymor e os fiéis da Azusa seguiram um processo
simples de quatro etapas quando uma pessoa falava em línguas,
para determinar se elas eram chamadas ao campo missionário.
Primeiro, e mais importante, nesse programa de quatro estágios,
eles tentavam identificar o idioma. Em segundo lugar, eles tentavam
determinar se o orador acreditava ou não ter recebido um chamado
missionário. Em terceiro lugar, se a pessoa que falava em línguas
reivindicasse tal chamado, o departamento de missões procurava
determinar se a chamada era legitima e se a pessoa estava realmente
preparada para ir. Finalmente, se todos os requisitos estivessem
satisfeitos eles dariam ao candidato os recursos financeiros para
chegar ao seu campo missionário. Em geral, ao receber dinheiro, o
indivíduo deixava a cidade em poucos dias ou até em algumas
horas31.

O que mais se destaca na sua Biografia foi a fragilidade na saúde.


Constantemente acamado, cita em sua biografia “durante a minha enfermidade, a
minha esposa junto com os obreiros da Igreja, tem assumido a responsabilidade pela
obra”32. Podemos aqui então destacar suas múltiplas funções, Pastora (ainda que não
reconhecida), Teóloga, dando assim um suporte a igreja, mãe, esposa e enfermeira que
cuidava do marido acamado.
Somado a fragilidade da saúde, longe de casa, família, dificuldade de
comunicação, morando de aluguel e vivendo de poucos recursos vindos de fora como
oferta, uma vez que os recursos internos, gerados na igreja eram para as despesas da

30
ALENCAR, Gedeon Freire de. Assembleias Brasileiras de Deus: Teorização, História e Tipologia –
1911 – 2011. Tese de Doutorado em Ciências da Religião. PUC/SP. 2012. Pág 95
31
Doctrines and Discipline. APUD: FOX JR, Charles Ray. Willian Seymor: A Biografia. Natal/RN –
Carisma. 2017
32
VINGREN, Ivar. Op. Cit.

9
igreja, num momento de extrema pobreza e dificuldades a todos, tendo obreiros
nacionais, com base financeira, em sua própria pátria, ajuntados e alinhados
(influenciados) pelos companheiros nacionais, sempre desconfiavam do estrangeiro.
Estamos falando de um missionário sueco, vindo de um país tão pobre que um terço dos
habitantes estão migrando para não morrer de fome, que vai tentar a vida nos Estados
Unidos e de lá enviam ele ao Brasil. Está constantemente doente e acamado, precisando
de uma mulher para cumprir os compromissos eclesiásticos e ser a enfermeira dele. É
totalmente compreensível sua falta de voz ativa junto aos pastores nacionais e os
missionários americanos diante desse quadro.
As duas principais críticas feitas ao pentecostalismo no início do século se
devem a dois fatores principais sendo ele um movimento de liderança negra e
feminina33. O racismo norte-americano da época se tornava mais delicado por outra
questão, a participação das mulheres34. Aplicava-se a essa abertura e participação das
mulheres35 uma posição teológica de que a ação do Espírito Santo atingia a todos sem
distinção porém, essa “indistinção” de raças causou, e posteriormente no âmbito dos
direitos civis consequências sociais importantes. Se não havia distinção de raças não
deveria haver de gênero.
Numa época em que a sociedade ainda estava debatendo sobre a
questão do lugar legitimo de uma mulher, essas mulheres encontraram um
lugar na Rua Azuza. Enquanto a maioria das denominações não tinha
começado a ordenar mulheres ou permitir sua presença nos púlpitos, elas
reclamaram para si a ordenação divina e fizeram seu púlpito onde quer que
se encontrassem: na Missão da Rua Azuza, nas ruas e nos campos ao redor.
[...] Historicamente, a mulher sempre encontrou grande liberdade nos
movimentos cristãos de renovação caracterizados pela ação do Espirito
Santo, muito mais que nas instituições tradicionais. Nesses avivamentos, as
mulheres que alcançavam a experiencia e possuíam os dons do Espirito
eram reconhecidas como líderes mais que os ministros autorizados pela
instituição tradicional36.
33
Houve situações controversas ligados a essa abertura a mulher e ao racismo vindas do próprio Seymor.
Seymor declarou Doctrines and Discipline, escrita em 1915: “Esta Missão será composta por um bispo,
um vice-bispo, um secretário, um tesoureiro, cinco conselheiros, três diáconos, duas diaconisas, dois
presbíteros, um superintendente de escolas dominicais, um superintendente de empreendimento
apostólico. O bispo, o vice-bispo e os conselheiros devem ser pessoas de cor”. Willian J. Seymor.
Doctrines and Discipline. Pág. 49. APUD: FOX JR, Charles Ray. Willian Seymor: A Biografia.
Natal/RN – Carisma. 2017
34
HOLLENWEGER, W. El Pentecostalismo – historia y doctrinas. Buenos Aires. La Aurora. 1976.
35
Outra questão envolvendo as mulheres foi a divisão de pais dentro da Missão. Novamente dentro do
Doctrines and Discipline Seymor insiste que “toda ordenação deve ser feita por homens e não por
mulheres”. Seymor não permitia as mulheres batizarem e ordenarem novos obreiros. Posição totalmente
controversa ao início da Missão que era composta na sua organização por seis homens e seis mulheres.
Willian J. Seymor. Doctrines and Discipline. Pág. 49. APUD: FOX JR, Charles Ray. Willian Seymor: A
Biografia. Natal/RN – Carisma. 2017
36
ALEXANDER, Estrelda. The women off Azusa street. Pág 38. APUD: MILHER, Denzil R. The
women of Azusa street: our Spirit-anointend leaders of the Azusa Atreet Revival. Springfield: AIA
Publicatins. 2015.

10
As mulheres negras, tendo a voz no culto, falavam para as patroas brancas nas
casas onde trabalhavam e assim os brancos passavam a frequentar e ouvir mulheres e
negros, enquanto civilmente não tinham se quer o direito de votar. Dentro desse
posicionamento de igualdade entre homens e mulheres e considerando a ação do
“carisma” entre todos de forma igualitária, desde os primórdios na Missão de Fé
Apostólica todos, igualitariamente e sem distinção, incluindo mulheres, pregando e
exercendo o ministério pastoral37. Quem apoia essa visão de participação igualitária para
homens e mulheres era Jonh Ongman (1845-1931), ele era um dos líderes do
pentecostalismo sueco, quando escreveu um livreto em 1900 intitulado “O direito de a
mulher pregar o Evangelho”38.
Interessante destacar que nos primeiros anos das Assembleias de Deus no Brasil
a mulher tinha uma abertura no meio religioso que não havia na sociedade, a mulher
tinha voz nas igrejas enquanto na sociedade não havia voz e, entra numa contramão,
num retrocesso contrastante com a sociedade devido a em 1932 passar a constar no
Código Eleitoral Brasileiro assegurando o voto feminino e em 1934 passa a contar na
Constituição Federal39. Quando a sociedade cala a mulher a Assembleia de Deus
contrasta dando voz a mulher. Quando a sociedade reconhece e dá voz a mulher a
Assembleia de Deus resolve calar as vozes femininas. No mínimo, exótico e
contraditório40.
A mulher passa a ter um papel a partir de 1942 um momento de encontro,
conversas, momentos de cantar, isso em horário diurno para não atrapalhar os trabalhos
domésticos nem as atividades noturnas da igreja, chamado de CO (Círculo de Oração).
A mulher restrita a oração e o homem ao domínio da ação. Atividade mística e passiva,
portadora de uma conduta moralista, combinação de teologia do sofrimento e disciplina.
A atividade do Círculo de Oração no templo pode ser controlada e monitorada,

37
EKSTROM, Leif. Estudos sobre a História dos Batistas Independentes. Campinas. Editora Batista
Independente. 2008
38
APUD: ALENCAR. OP CIT. 2012
39
FAUSTO. Boris. História do Brasil. São Paulo. Edusp. 1999.
40
A título de informação para se contextualizar, as Assembleias de Deus Americanas (Assemblies of God
– EUA) eram igrejas de brancos, segregacionistas. Os estudiosos e comentaristas oficiais das Assembleias
de Deus pouco ou nada apresentam sobre isso. Mantiveram esse posicionamento de forma “oficial” até
1994 quando houve então um “pedido de perdão de ambas as partes” em uma solenidade de lava-pés em
que as lideranças das AGs (igrejas brancas) e líderes das Igrejas de Deus em Cristo (igrejas negras) se
reconciliaram, no ato que ficou conhecido como “Milagre de Menfis”. (necessário referência bibliográfica
desse episodio, e o nome da cidade esta errado)

11
mantendo o pastor alguém de confiança dele a frente desse trabalho, preferencialmente
sua esposa.
Porém, surgem grupos autônomos de oração lideradas por mulheres carismáticas
nas casas, montes, fora das “jurisdições masculinas”. A tentativa de controlar esses
grupos é marginalizar porem, quase sempre, o grupo marginal se fortalece. A verdade é
que lidar com essa explosão mística sagrada não é simples. Poucos ministérios aceitam
mulheres, principalmente por ser uma igreja originalmente periférica, de excluídos e
pobres, nas suas lideranças, mas, se ela possuir habilidades sobrenaturais de “profetisa”
ela acaba desenvolvendo respeito (medo) e exercendo um certo nível de poder
(liderança) sobre o grupo.
A grande verdade é que o exercício profético feminino, mesmo que oficioso
rivaliza com o exercício pastoral masculino oficial. Daí uma chave mestre é ter a esposa
do pastor a frente desses grupos. A junção das lideranças “oficiais” e “oficiosas”
culminam num domínio eclesiástico amplo. Um ministério feminino carismático pode
conduzir um grupo de insatisfeitos a derrubar o pastor (masculino) ou dividir o grupo
causando tensões.
Esse “poder paralelo” e indomável é caseiro, ou seja, realizado entre grupos nas
casas e não há meios de interferir. Elas são pessoas que se visitam e se reúnem para
orar. Orar, função dada as mulheres. Ali elas, cantam, oram, pregam, profetizam sem
nenhum tipo de regulamento ou liderança. São elas por elas. O Pastor tem o púlpito,
mas, quem dá vida orgânica são elas, visitando, assistindo nas necessidades.
“Uma mulher, semianalfabeta, anônima, negra, viúva ou solteirona, periférica,
consciente ou não do seu poder pode fazer um estrago ou trazer um benefício
infinitamente maior que a mulher letrada com sobrenome”41. Entre a primeira-dama e a
profeta há uma distância sempre é vista como a que segue o “modismo mundano” e a
outra a que “possui manifestações do Espírito Santo”. Podemos observar claramente
que a “Assembleia de Deus tem um ethos sueco- nordestino. Começou com os nórdicos
e passou para os nordestinos. Sem entender as marcas dessa trajetória, não se entende
a Assembleia de Deus”42.

41
ALENCAR, Gedeon Freire de. Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de
Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.
42
FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo. In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem
demônios; interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.

12
Como a “realidade é uma construção social”43 e a religião é nada mais do que
um dos principais fatores da preservação desta realidade, entendemos o porquê do
caudilhismo assembleiano e como ele se mantém em terreno tão fértil. Começamos
fazendo uma análise sobre as “afinidades eletivas” do pentecostalismo com o
coronelismo nordestino, sendo que o modelo coronelístico tem nuanças políticas e
econômicas imbricadas desde sua herança na implantação das capitanias hereditárias:
um grande chefe, com poderes absolutos e um exercício vitalício44.
Politicamente, numa época em que apenas os homens votavam e eram votados, a
Assembleia de Deus apenas seguiu o modelo de liderança masculina. Aliás, algo
comum em todas as demais igrejas protestante e católica. Apenas na Constituição de
1946 é que foi dada paridade eleitoral entre homens e mulheres, pois a Constituição de
1934 permitia o voto feminino apenas das mulheres que exercessem função pública
remunerada45. Com isso o assembleianismo brasileiro se distancia do pentecostalismo e
do assembleianismo norte-americano. Lá, desde o início, as mulheres exercem
liderança46.
Os pastores da Assembleia de Deus reivindicaram na Convenção em 1930 a
liderança da Assembleia de Deus Brasileira. Então, os novos líderes assembleianos, nos
primeiros anos, quase todos nordestinos, estão na “escola sueca de liderança”: a palavra
carismática47, ou, como alguns falam, “os suecos tinham a doutrina pentecostal48”, é
dada para ser seguida, cumprida e não questionada. Ressalvando-se às proporções, no
Brasil da época, ainda se tem a “inspiração” de Getúlio Vargas49.
Acompanhar os 90 anos da Assembleia de Deus é uma boa síntese da história do
Brasil. As mudanças ocorridas na igreja e/ou no país, apesar da correlação, não são
simultâneas, mas estão absolutamente implícitas umas nas outras. Nas igrejas às
mudanças talvez demorem um pouco mais, mas não há dúvida que igreja-sociedade,
querendo ou não, se alteram mutuamente.

43
BERGER, Peter Ludwig. O Dossel Sagrado: Elementos para uma teoria sociológica da Religião. São
Paulo. Paulinas. 1985.
44
BARBOSA, Francisco José. História e Magia no Cotidiano da Igreja Evangélica Assembleia de Deus
em São Mateus. Dissertação de Mestrado. Universidade Mackenzie. 2007.
45
FAUSTO. Boris. História do Brasil. São Paulo. Edusp. 1999.
46
ALENCAR, Gedeon Freire de. Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de
Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.
47
WEBER, Max - Economia e Sociedade. Brasília,4ª edição, Unb, 1998
48
ALENCAR, Gedeon Freire de. Op. Cit.
49
FAUSTO. Boris. Op. Cit.

13
A Suécia da época não era a próspera sociedade de bem-estar em que se
transformou, mas sim, um país estagnado com pouca diferenciação social, obrigando
mais de um milhão de suecos imigrarem para os Estados Unidos entre 1870 e 1920. O
governo implantou em 1864 uma série de reformas liberais que incluiu, formalmente, a
liberdade religiosa. Entretanto, apenas em 1905 é que houve o primeiro governo
realmente parlamentar, e somente em 1907 o sufrágio masculino universal. “O
princípio de sua virada econômica se deu no período da Primeira Guerra Mundial, o
qual criou a base econômica para as reformas dos governos social-democrata a partir
de 1932”50.
A Suécia da virada do século era muito diferente do denominacionalismo norte-
americano, sendo que as pequenas dissidências protestantes eram reprimidas e
marginalizadas. “Muitos batistas preferiam emigrar”51, foi no meio desses batistas, que
o pentecostalismo se firmou. E não demorou muito para sobrepujá-los, confirmando a
regra de Martin52 de que “em culturas luteranas, a dissidência explícita tende a chegar
tarde e a adquirir forte componente pentecostal”53.
Segundo o relato histórico dos missionários suecos, que tanto influenciaram os
primeiros quarenta anos da Assembleia de Deus no Brasil, eles vieram de um país
socialmente e culturalmente marginalizados, e pertenciam as minorias religiosas num
país onde vários trâmites burocráticos ainda passavam pelo clero luterano. Desprezavam
a Igreja estatal, com seu alto status social e político e seu clero culto e teologicamente
liberal. Havia experimentado um Estado unitário no qual uma cultura cosmopolita
homogênea não permitia a dissidência religiosa e à construção de uma base cultural
capaz de resistir à influência metropolitana. Por isso, eram portadores de uma religião
leiga e contra-cultural, resistentes à erudição teológica e modesta nas aspirações sociais.
Acostumados com a marginalização, não possuíam a preocupação com a ascensão
social tão típica dos missionários estadunidenses formados no denominacionalismo.
Tudo isso contribuiu para a maior liberdade da Assembleia de Deus, em
comparação com as igrejas históricas, de se desenvolver em mãos nacionais.
Forçosamente, suas vidas pessoais foram marcadas pela simplicidade, um exemplo que
ajudou à primeira geração de líderes brasileiros a ligar pouco para a ascensão
econômica. Assim, o ethos da Assembleia de Deus evitou um aburguesamento precoce

50
FRESTON, 1994. Op. Cit.
51
IDEM
52
MARTIN, David. The Dilemas of Contemporany Religion. Ox Ford. Blackwell. 1978
53
IDEM

14
que antecipasse às condições oferecidas pela própria sociedade brasileira aos membros
da igreja54. Portanto, o processo de nacionalização ocorreu quando à igreja era muito
nortista/nordestina, contribuindo muito para sedimentar uma característica que subsiste
até hoje. Assim sendo, a mentalidade da Assembleia de Deus carrega as marcas dessa
dupla origem: da experiência sueca das primeiras décadas do século, de marginalização
cultural; e da sociedade patriarcal e pré-industrial do Norte/Nordeste dos anos 30 a 60.

BIBLIOGRAFIA
ALENCAR, Gedeon Freire de. Assembleias Brasileiras de Deus: Teorização, História e
Tipologia – 1911 – 2011. Tese de Doutorado em Ciências da Religião. PUC/SP. 2012.
ALENCAR, Gedeon Freire de. Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011,
Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2015.
DUBY, Georges. A mulher, o amor e o cavaleiro. In: Amor e sexualidade no ocidente - Edição
especial da revista L’Histoire/Seuil. Porto Alegre: L&PM, 1992.
DUBY, Georges. Idade Média, Idade dos Homens: do amor e outros ensaios. São Paulo: Cia
das letras, 1989.
FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: a expansão das Assembleias de Deus no
Brasil urbano (1946-1980) - Assis, 2015.
FAUSTO. Boris. História do Brasil. São Paulo. Edusp. 1999.
FONSECA, Pedro Carlos Louzada. Vozes da misoginia medieval: Aristóteles disseminado em
Santo Isidoro de Sevilha, Santo Anselmo e São Tomás de. In: Notandum 21. Ano XII - N. 21,
2009.
LE GOFF, Jacques. O Imaginário Medieval. Coleção Nova História. Lisboa: Estampa, 1994.
PISSINATI, Laila Lua. O Corpo Feminina no Pensamento Cristão Medieval. Anais do VI
Congresso Internacional UFES/Paris-Est | 644
READ, Wilian R. Fermento religioso nas massas religiosas do Brasil. São Paulo, Imprensa
metodista, 1967.
SANTOS, Dulce Oliveira Amarante dos. O Corpo dos pecados: representações e práticas
socioculturais femininas nos reinos ibéricos de Leão, Castela e Portugal (1250-1350). Tese de
doutoramento (USP). São Paulo, 1997.

54
FRESTON, 1994. Op. Cit.

15

Você também pode gostar