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Cristianismo que mais cresce. Tem suas origens nos EUA do começo do
século XX, nos acontecimentos da escola bíblica de Charles Fox Parham, em
Topeka. Este foi o primeiro a teorizar que a fala em línguas sempre
acompanharia a experiência do Batismo no Espírito Santo. O avivamento se
expandiu ao redor do planeta a partir de dois centros de irradiação principais: a
Apostholic Faith Gospel Mission3 da Azuza Street, dirigida por William J.
Seymour, em Los Angeles, Califórnia, e o círculo eclesiástico protagonizado
por William H. Durham, em Chicago, Illinois.
No dia 19 do mês de novembro de 1910, Daniel Berg e Gunnar Vingren,
dois imigrados suecos nos EUA, onde foram influenciados pelas ideias de
Durham, desembarcaram em Belém, no Pará, para começar a obra missionária
da qual surgiriam as Assembleias de Deus no Brasil. Neste empreendimento,
foram ajudados inicialmente pelas igrejas norte-americanas de imigrados
escandinavos e, predominantemente a partir do ano de 1914, pelo Movimento
das igrejas livres da Suécia, através da mediação de Lewi Pethrus, pastor da
igreja Filadélfia de Estocolmo.
As Assembleias de Deus, durante mais de cem anos de sua história,
marcaram o panorama religioso brasileiro com sua peculiaridade teológica,
litúrgica e eclesiástica. À luz da presença, no ethos assembleiano, de traços de
duas matrizes estrangeiras, a escandinava e a norte-americana, esse labor se
propõe pesquisar qual das duas foi predominante na construção da identidade
da denominação. Na consideração de que as primeiras duas décadas de sua
existência foram cruciais para tal processo, a pesquisa foi limitada aos anos de
1910 a 1930.
No ano de 1930, de 5 a 10 de setembro, a conferência de Natal produziu
decisões fundamentais para o futuro desenvolvimento da denominação,
tornando-se um marco importante na história dessa igreja. A partir dessa
conferência e em força de suas decisões, os pastores nacionais que operavam,
sobretudo, no Norte e Nordeste do Brasil, assumiram a direção dos trabalhos
mais importantes e desenvolvidos do país. As hipóteses que dirigiram a
pesquisa foram três:
1) as primeiras duas décadas da missão pentecostal no Brasil, da
chegada dos pioneiros missionários suecos até a entrega da direção dos
trabalhos aos pastores nordestinos, do ano 1910 ao 1930, foram determinantes
e cruciais para a formação da identidade assembleiana;
2) entre as duas matrizes estrangeiras, a norte-americana e a
escandinava, uma das duas foi predominante para o estabelecimento do ethos
das Assembleias de Deus;
3) os elementos originários constitutivos da influência estrangeira foram
mediados e reelaborados pelo contexto social, cultural e econômico brasileiro.
Esse processo de adequação teve no corpo dos pastores nordestinos, que
cooperaram com os missionários estrangeiros desde o começo e assumiram a
direção a partir de 1930, seu agente privilegiado.
A metodologia empregada na pesquisa consta da utilização,
principalmente, de fontes originais em língua sueca, quais as cartas e relatórios
que os missionários enviaram a seu país e que foram publicados no órgão
oficial do Pingströrelse4, o Evangelii Härold5, fundado por Lewi Pethrus em
1915. Livros e obras literárias de autores contemporâneos suecos e norte-
americanos, pesquisadores sobre assuntos ligados ao Pentecostalismo
escandinavo, foram também utilizados, junto aos relatos dos pioneiros da obra,
Vingren e Berg, elaborados e publicados pelos respectivos filhos. Obviamente,
o acervo da historiografia oficial assembleiana e, parcialmente, batista entraram
no compêndio da pesquisa.
A pesquisa evidenciou a influência predominante, na construção da
identidade das Assembleias de Deus, do Movimento das igrejas livres da
Suécia, o Pingströrelse. Este nasceu da institucionalização do avivamento
pentecostal sueco, a partir da ação de Lewi Pethrus, pastor da igreja Filadélfia
de Estocolmo, a maior igreja livre daquele país. Pethrus foi, igualmente, o ator
principal nos bastidores da missão pentecostal da Suécia no Brasil, enviando e
sustentando muitos dos missionários que vieram do país nórdico, além de
ajudar os que procederam dos EUA e alguns dos obreiros nacionais. Ele foi,
também, o pregador da conferência de Natal 1930, durante a qual expressou
sua opinião favorável à entrega da direção dos trabalhos originados da missão
sueca aos líderes nordestinos.
Na consideração de todos estes fatores, pode-se afirmar que o ethos do
Pingströrelse6, o Movimento pentecostal da Suécia, moldado e dirigido por
Lewi Pethrus, forneceu, através da Missão pentecostal sueca no Brasil, muitos
dos elementos constitutivos presentes na maneira de ser das Assembleias de
Deus. Evidenciou-se, doutro lado, que houve uma amalgamação destes com
os elementos socioculturais nordestinos, trazidos pelos pastores nacionais.
Este processo está à base da construção da identidade teológica, litúrgica e
eclesiástica da denominação, permitindo que as Assembleias de Deus no
Brasil sejam definidas como uma igreja sueco-nordestina (FRESTON, 1992).
Essa monografia consta, junto com esta introdução e as considerações
finais, de três capítulos, nos quais os vários temas foram elaborados. No
capítulo dois, foi apresentada a história do avivamento pentecostal moderno, a
partir de suas origens nos EUA, no começo do século XX, sua chegada à
Escandinávia, o surgimento do Pingströrelse, o Movimento pentecostal da
Suécia, com suas características e peculiaridades, e uma descrição da
atividade da Filadelfiakyrkan i Stockholm, a igreja Filadélfia de Estocolmo, e de
seu pastor, Lewi Pethrus, a personalidade mais marcante do panorama
eclesiástico do Pentecostalismo sueco.
O capítulo três trata da atividade da missão pentecostal sueca no Brasil,
durante as décadas de 1910 e 1920. O operado dos pioneiros, Daniel Berg e
Gunnar Vingren, e dos primeiros missionários suecos que cooperaram com
eles no desenvolvimento da obra no Brasil, Otto Nelson, Samuel Nyström,
Frida Vingren, foi pesquisado e descrito, prestando particular atenção à história
não contada pela historiografia oficial: episódios e anedotas foram retirados,
sobretudo, das cartas pessoais enviadas pelos nórdicos para seu país. O
capítulo se conclui com uma lista das demais missionárias e missionários
suecos e sueco-americanos que chegaram ao Brasil nos anos de 1910 a 1930.
No quarto capítulo, foram individuados os traços da influência sueca na
construção da identidade assembleiana e analisado o processo de adequação
sócio-cultural operado pelos pastores nacionais, que deu origem ao ethos
sueco-nordestino das Assembleias de Deus no Brasil.
2 O PENTECOSTALISMO NA SUÉCIA
Djurfeldt (2007) afirma que o Pingströrelse, o Movimento pentecostal
sueco, não apareceu do nada, mas é parte de um avivamento espiritual
mundial, centrado na esperança de um novo Pentecostes. Não surgiu do vazio,
antes está correlato a outros avivamentos que aconteceram no seio da
Cristandade e que experimentaram o falar em línguas e o interesse por
milagres e sinais de cura, tendo contemporaneamente suas próprias
peculiaridades.
Uma onda proto-pentecostal já tinha acontecido, a começar da cidade de
Eskilstuna na Suécia, em volta do ano de 1890. Em sua autobiografia, Pethrus
relatou de manifestações carismáticas entre oficiais do Frälsningsarmé 1,
durante a última década do século XIX:
[...] John Brandéli, Gottfrid Leander, Aron
Eriksson, B. A. Bengtsson e Erik Jederblom [...]
haviam pertencido a um movimento chamado "O
Batalhão da Explosão", um rompimento do Exército
da Salvação que surgiu em 1890. Alguns oficiais do
Exército da Salvação foram batizados no Espírito
Santo, falaram em línguas e profetizaram
(PETHRUS, 2004, p. 108-109).
1
Exército da Salvação.
2
Batalhão da Explosão. Coloquialmente, conforme a gíria pentecostal, pode ser traduzido como
“Batalhão Pipoca”.
O Movimento pentecostal é geralmente datado de Janeiro de 1901,
quando Charles Fox Parham, o líder de uma pequena escola bíblica em
Topeka, afirmou que o falar em línguas sempre evidenciaria o autêntico
batismo com o Espírito Santo (BLUMHOFER, 1993, p. 2, tradução nossa).
A partir da experiência da escola bíblica de Charles Parham em 1900,
em Topeka, Arkansas, o avivamento percorreu os EUA e chegou à cidade de
Los Angeles, na Califórnia, através de William Joseph Seymour. Este foi o
agente mais conhecido de um avivamento de “mil dias”, entre os anos 1906 a
1909, que, sucessivamente, se expandiria às demais cidades norte-americanas
e ao redor do planeta. Três são as personalidades principais destes
acontecimentos nos EUA: Charles Fox Parham, William Joseph Seymour e
William H. Durham.
3
Escola Bíblica Bethel.
Charles Parham foi o primeiro a associar a glossolalia ao batismo no
Espírito, considerando aquela ser a evidência deste. Essa posição teológica
marcou a distinção do Pentecostalismo moderno dos precedentes avivamentos
carismáticos. Ele, também, em suas pregações encorajava os crentes a se
vestir elegantemente, para atrair as pessoas ao estilo de vida cristão. No ano
de 1905, mudou a escola bíblica para Houston, Texas, onde permitiu a diversos
Afro-americanos, entre os quais William J. Seymour e a pastora Lucy Farrow,
de participarem das aulas, ainda que do corredor. Apesar de ser
posteriormente acusado de racismo e simpatia ao Ku Klux Klan 4, Parham foi
um precursor nas críticas à separação racial. Nesse sentido, ele costumava
pregar em igrejas de negros e convidava pregadores negros nos seus cultos.
Hyatt escreve que:
Quando a vida de Parham é avaliada no
contexto social, jurídico e religioso de seu tempo, o
que emerge não é nem um santo cruzado pela
igualdade racial nem um racista fanático. O que
emerge é um indivíduo que, em muitas maneiras,
reflete os tempos nos quais vivia, em que a
segregação racial era geralmente aceita e praticada
pelo país afora. Mas o que também emerge é um
indivíduo que, em tempos críticos, tinha vontade de
romper com os padrões culturais e atravessar as
linhas raciais, quando isso não era a coisa mais
popular a fazer. [...] Charles Parham merece o
crédito por elevar o tom da abertura e harmonia
inter-racial que prevaleceu por um tempo no início
do Pentecostalismo (HYATT, 2004, tradução nossa).
8
Glossolália é a capacidade de falar ou emitir sons em um idioma ininteligível e desconhecido entre a
humanidade.
9
Xenolália é a capacidade de falar em uma língua estrangeira que o indivíduo desconhece, a qual não
aprendeu nem foi exposto. No grego, xenos significa "estranho" e lalia "linguagem".
10
Referente à pregação do Evangelho.
11
Movimento pentecostal da Suécia.
12
Pertencente ao Movimento da Santidade.
que ele visitou no ano de 1907. De retorno a Chicago, o avivamento se
expandiu na sua igreja, fazendo dele uma figura proeminente do
Pentecostalismo na cidade. Muitos pastores, ministros e pessoas comuns
vieram do país e do exterior para participar de seus cultos, experimentando o
batismo no Espírito Santo e as curas instantâneas, entre eles Aimee Semple 13.
A igreja de Durham se tornou um centro para a expansão do avivamento no
mundo. Daniel Berg, pioneiro ao Brasil, foi um dos membros da igreja de
Durham em Chicago (REILY, 1984) e foi por ele influenciado (CAUCHI, 2004).
Teologicamente, Durham defendia a doutrina do “Finished Work” 14, em
contraste com a doutrina da santificação defendida pelo Movimento Holiness e
pela maioria das igrejas protestantes da época. Ele declarava que o que o
crente precisava estava embutido na obra consumada por Cristo no Calvário,
no momento da justificação do pecador. Os benefícios do Calvário seriam
disponíveis aos fieis ao longo de toda sua vida cristã, ao contrário da crença
Holiness, de que a santificação era uma experiência instantânea subsequente
à conversão.
Em 1911, Durham mudou-se para a cidade de Los Angeles, na
Califórnia, por causa de atritos com as lideranças da denominação em Chicago
e por desejar se sediar na cidade que ele considerava ser o lugar de
nascimento do avivamento. Durante uma viagem de Seymour para fora da
cidade, Durham foi convidado para pregar na Missão da Azuza Street, onde
suas ideias tiveram grande consenso. Ao seu retorno, Seymour e Durham
discutiram sobre o assunto, sem chegar a um acordo sobre as diferenças
doutrinárias, e o segundo foi impedido de continuar as pregações na Missão
Apostólica. Ele, então, alugou um grande edifício nas vizinhanças, onde
conseguiu reunir, com suas pregações, milhares de crentes, com conversões e
batismos no Espírito. Contemporaneamente, a velha missão da Azuza Street ia
se definhando rapidamente. Acometido por uma pneumonia durante uma
viagem a Chicago, Durham veio a falecer no ano seguinte.
16
Segunda maior cidade da Suécia, ao sul do país, frente à Dinamarca.
17
Na província do Närke, Suécia central.
18
Associação Missionária da Suécia.
19
Folha Matutina Sueca.
20
Atualmente é conhecida com o nome de Oslo, a capital da Noruega.
nações européias, motivaram uma reportagem no Dagens Nyheter 21, jornal
cotidiano sueco de tiragem nacional. Esses acontecimentos fizeram de Anders
G. Johansson uma celebridade nacional, mas também lhe criaram um
problema, inclusive para os pesquisadores sobre o avivamento: sabendo de
sua origem sueca, a reportagem re-traduziu seu sobrenome americanizado
Johnson para Jansson, diferente do originário Johansson. Isso o levaria, alguns
anos depois, a mudar novamente seu sobrenome para Ek, como relata
Alvarsson: “O evangelista Andrew Jansson [Johnson]-Ek, que foi batizado no
Espírito durante o nascimento do moderno avivamento pentecostal em Los
Angeles no ano passado” (ALVARSSON, 2007, p. 24, tradução nossa).
Em Örebro, Johansson teve grande sucesso, e foi apoiado por John
Ongman e sua igreja, felizes por terem consigo uma testemunha ocular dos
acontecimentos de Azuza Street, a matéria de conversação mais atual daquele
momento nos ambientes eclesiásticos. Em seu testemunho, Johansson podia
livremente falar em línguas e interpretar para o sueco, sob a curiosidade do
povo. Ele considerava o falar em línguas como um sinal para os ímpios que
não davam crédito à Palavra de Deus em seu próprio idioma. Membros da
igreja de John Ongman experimentaram o batismo no Espírito e desviados se
reconciliaram, o que aumentou ainda mais o interesse das pessoas e
proporcionou que a atmosfera espiritual transformasse a cidade de Örebro na
“Los Angeles da Suécia”, um centro de difusão para o avivamento pentecostal
(ALVARSSON, 2007, p. 24, tradução nossa).
A aceitação irrestrita de John Ongman dos ideais do avivamento
produziu uma atividade a nível nacional. A Örebromissionen 22 era bem
reputada e tinha uma grande influência dentro da denominação batista. John
Ongman era pastor batista formado nos E.U.A, e valorizava muito a
participação das mulheres no trabalho de evangelização e liderança
eclesiástica, com presença feminina numerosa em suas escola bíblicas, o que
deu origem ao apelido “as irmãs de Ongman”, muito efetivas em várias obras e
na difusão da mensagem do avivamento. Um dos demais pastores que
primeiramente aceitaram o novo avivamento foi Olov Leonard Björk, pastor
batista de Stora Mellösa e reconhecido pregador e professor de Bíblia. Sua
21
Notícias do Dia.
22
Missão de Örebro. Posteriormente, se fundiu com outras duas organizações missionárias, dando
origem a InterAct, ainda em atividade.
igreja se tornou “uma igreja-mãe para o avivamento pentecostal na Suécia”
(Bundy 1997, p. 5, tradução nossa). Essa igreja foi uma das primeiras que
apoiaram os missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg, pioneiros no Brasil
(ALVARSSON, 2007). Björk foi também o fundador, com Lewi Pethrus e Carl
Hedeen, de um das mais importantes e influentes publicações do avivamento
na Suécia, o Brudgummens Röst23, publicado de 1911 a 1922.
Convidado por diversas igrejas do país, A. Johansson começou a viajar
e pregar pelo resto da Suécia e, nas primeiras semanas do ano de 1907,
chegou à Igreja Betânia em Estocolmo, convidado pelo pastor C. G. Lundin. A
liderança dessa igreja teria posteriormente uma posição contrária ao
avivamento pentecostal. Este fato proporcionou que, no ano de 1910, boa parte
dessa congregação, já fortemente permeada pelos ideais pentecostais, se
tornasse um dos maiores grupos iniciais (cerca de 30%) da Filadelfiakyrkan i
Stockholm24, a igreja que Lewi Pethrus dirigiu por cerca de quatro décadas.
Isso aconteceu devido ao ostracismo dos batistas, que começaram a se
posicionar contra os ideais pentecostais, excluindo as congregações e os
membros que não se alinhassem com a posição oficial da denominação.
Göteborg, no sul da Suécia, foi alcançada por alguns membros do
Movimento que se transferiram de Skövde, e pelo trabalho em cooperação
entre A. G. Johansson, que se estabeleceu na cidade por um tempo, e T.
Barratt, com o reforço de Eric Hollingsworth e esposa, vindos de Los Angeles.
A visão de Johansson, Barratt e Ongman era que o avivamento fosse um
movimento transversal para todas as denominações cristãs, e que os
pentecostais não devessem formar próprias igrejas, mas continuar como
membros “na posição em que Deus os tinha chamados”, conforme 1Co 7.1732.
Entre os metodistas, muitos pastores visitaram T. Barratt na Noruega e
permitiram uma abertura inicial ao avivamento, mas, quando Barratt saiu da
denominação por causa do conflito referente à sua compreensão missionária,
fecharam as portas, com o resultado que poucos metodistas se tornaram
pentecostais na Suécia. Fortemente divulgados pelo famoso jornalista Richard
Edhelberg, A. G. Johansson-Ek viu os ideais do avivamento rapidamente se
23
A Voz do Noivo.
24
Igreja Filadélfia de Estocolmo.
expandirem por todo o país escandinavo e a si mesmo reconhecido como o
que atiçou o fogo pentecostal na Suécia.
25
Bairro de Estocolmo.
26
Sala Filadélfia.
particularmente rígidas também era particularmente baixo, somente 7,5%,
mostrando que o movimento não era refúgio de disciplinados das demais
igrejas (GÄRESKOG; GÄRESKOG, 2010).
No ano de 1920, existiam ao menos 134 igrejas pentecostais na Suécia,
presentes em todas as mais importantes cidades do país. Apesar de o
avivamento pentecostal ser considerado supraconfessional, existiam muitos
Pentecostais que queriam maior liberdade e se sentiam desprezados e
oprimidos dentro da denominação batista, além de impedidos em suas
atividades. Em todo o território nacional, as congregações livres pentecostais
se multiplicavam e a liderança do Movimento ia agregando mais expoentes
insatisfeitos com as regras dos batistas. Esses sentimentos foram
amadurecendo até prepararem o terreno para a definitiva separação da
denominação.
Nesse aspecto, o episodio da exclusão da Igreja Filadélfia de Estocolmo
da denominação batista, graça ao espírito visionário de seu jovem pastor, Lewi
Pethrus, foi um marco central na história da passagem do avivamento
pentecostal sueco à condição de Pingströrelsen 27, como foi posteriormente
chamado. Paradoxalmente, esses acontecimentos proporcionaram a Pethrus
não somente liberdade, mas também a oportunidade de transformar essa igreja
na maior e mais influente e seu pastor no líder de facto do Movimento na
Suécia.
27
Movimento pentecostal da Suécia.
28
Desde 1814, em seguida ao resultado da guerra entre Dinamarca e Suécia, esta e a Noruega formaram
um único reino, governado pela monarquia sueca. A dissolução desta união política aconteceu de
maneira pacífica, em 26 de outubro de 1905. Esse período é chamado, em sueco, de Uniontiden.
29
Hoje, é chamada Oslo.
Holiness, William Taylor, o qual pensava que uma igreja, que se formasse
numa cultura diferente como resultado dos esforços missionários, deveria ser
permitida de desenvolver suas próprias formas, política e teologia, sendo
dirigida pelo Espírito Santo e não por um escritório missionário autoritário e
ausente. Isso requeria que a nacionalidade assumisse um papel central
(BUNDY, 1997). Essa teoria missionária foi adaptada pelos movimentos
pentecostais da Escandinávia e tem tido um papel fundamental em definir o
que significa, do ponto de vista missionário, estrutural e teológico, pertencer ao
Movimento Holiness ou ser Pentecostal, fora da América do Norte (BUNDY,
1989).
A experiência pentecostal e essa compreensão teórica missionária
levaram Barratt a deixar a cooperação com a Igreja Metodista e começar o
ministério Byposten na Noruega, com programas musicais, caritativos, sociais e
pregações dirigidas aos que não estivessem ligados a nenhuma denominação,
e ao trabalho de disseminação da mensagem pentecostal na Europa, inclusive
na Suécia. Ao longo de sua vida, Barratt trabalhou para combinar as demandas
éticas e humanitárias da tradição Holiness com o conceito de salvação pessoal.
Em maio de 1907, quando o avivamento estava já bem difundido na Suécia,
Barratt foi para a capital sueca, Estocolmo, para cultos ecumênicos que
reuniram cerca de 4000 pessoas em Djurgården 30. A seguir foi para a cidade de
Uppsala31, depois desceu para Göteborg, nos dias de 22 a 27 de maio, onde
ajudou Anders G. Johansson. Barratt voltou para a Suécia muitas vezes, e sua
contribuição principal não foi ganhar vidas, mas, por ele ser muito famoso, deu
legitimação ao avivamento, e isso através, sobretudo, de sua atividade literária.
Ele publicava o importante periódico Byposten e, posteriormente, o Korsets
Seier32 e apoiou outro, Glöd från Altaret 33, além de editar muitos escritos
menores. Essa atividade o levou a ser reconhecido como o primeiro teólogo e
apologista do avivamento pentecostal na Escandinávia. As ideias de Barratt
influenciaram grandemente a compreensão missionária de Lewi Pethrus.
30
Bairro da capital sueca.
31
Na Suécia central, é sede da mais antiga universidade do país nórdico.
32
A Vitória da Cruz, em língua norueguesa.
33
Brasa do Altar, em língua sueca.
Como em outros países, o avivamento do começo do século XX deu
origem, na Suécia, ao Movimento pentecostal, o Pingströrelse, que tem suas
próprias peculiaridades e características, descritas nos tópicos a seguir.
34
Missão de resgate.
35
Arauto do Evangelho.
começou a moderar o tom ou saísse até em defesa dos Pentecostais contra os
ataques dos jornais seculares.
Referentemente ao relacionamento com a Igreja Luterana oficial, apesar
de sua posição cessacionista36, esta abriu, por exemplo, as portas a Pethrus
em suas pregações no ano de 1928 na região do Värmland, e ajudou com
cartas de recomendação para as autoridades do Congo belga em favor dos
missionários pentecostais suecos. A denominação batista, diferentemente,
depois das afinidades dos primeiros anos, se fechou para o Movimento
pentecostal.
No ano de 1929, porém, o apoio das organizações missionárias
luteranas e batistas a A. P. Franklin, em ocasião de sua exclusão da Igreja
Filadélfia de Estocolmo, seguida à luta de poder entre ele e Pethrus em
referimento à política missionária, foi percebida pelos Pentecostais como uma
hostilidade ao Movimento, o que contribuiu a piorar as relações entre este e as
demais denominações religiosas.
36
Acredita que os dons do Espírito só estiverem presentes durante o primeiro século da história da
igreja Cristã, para depois “cessar”, desaparecer.
Pelo que me concerne, sou da opinião que isso é a coisa mais
importante para o presente tempo no nosso país. Quando se viaja pelo país
afora e se observam as inauditas necessidades nas igrejas, onde as vagas
estão vazias e onde grandes feitos poderiam ser realizados se existissem
testemunhas preparadas na Bíblia, então arde o coração da gente. Eu acredito
que a escola deveria ter maior alcance e que mais importância deveria ser
colocada na instrução dos pregadores do Evangelho para o campo doméstico
(PETHRUS, 1925, tradução nossa).
O próprio Rikard Fris era da opinião que, apesar dos conceitos negativos
dentro do Movimento a respeito deste assunto, a educação podia ser utilizada
conforme a graça de Deus. A Conferência missionária de Kölingared, de 1926,
aprovou o apoio à educação para o aprofundamento linguístico e bíblico dos
missionários, continuando, porém, com reservas para os pregadores formados
e as escolas denominacionais, onde se ensinavam disciplinas consideradas
profanas. Estas eram tidas responsáveis por impedir a originalidade do Espírito
Santo e por dar lugar ao conhecimento e dons meramente humanos. Entendia-
se que a liderança eclesiástica era construída sobre a vocação e a capacitação
divina do escolhido, o que implicava que ninguém se tornava líder espiritual
através da educação. Esse conceito favoreceu a aversão à educação, tanto
teológica como secular, dentro do Movimento, que teve seu ápice no embate
conhecido como “conflito Franklin”, entre este e Pethrus.
O debate em volta da educação no Movimento pentecostal era
influenciado pela convicção da iminente volta de Cristo, portanto os pregadores
eram incentivados a serem somente bons "ganhadores de almas". De qualquer
jeito, a formação de pastores para as igrejas era considerada mais e mais
necessária, e a Escola Bíblica de Fris conseguiu interessar, sobretudo,
presidentes de campo que freqüentassem o curso pastoral. No outono de 1929,
porém, Pethrus publicou o livro Predikanten och hans utbildning 37, no qual
propunha um retorno a modelos “apostólicos” e condenava abertamente as
escolas teológicas de longa durada para pregadores do Evangelho, como a de
Fris (PETHRUS, 1929).
37
O pregador e sua instrução.
Isso deve ser analisado, porém, à luz do contexto do conflito entre
Pethrus e a Igreja Filadélfia, de um lado, e Franklin e a Svenska Fria
Missionen38, apoiado por Fris, do outro, pelo controle da atividade missionária
do Movimento pentecostal no exterior, que teve seu clímax exatamente no ano
de 1929. De qualquer jeito, os reflexos negativos que foram lançados sobre a
educação teológica foram profundos dentro do Movimento, continuando
arraigados até a década de 1990.
42
Originados da atividade de Frank Sandford.
43
O Avivamento pentecostal e as curas divinas.
44
Sueco, imigrou nos EUA, onde colaborou com D. L. Moody em Chicago. Fundou várias organizações
missionárias na Europa, ativas até o dia de hoje, entre elas a Svenska Alliansmissionen.
marcar a volta de Jesus para o dia de Páscoa do ano de 1898) à Suécia
(DJURFELDT, 2007). Essa compreensão da certa e iminente volta de Cristo
motivou o desejo de alcançar o mundo com o Evangelho, “antes de tudo
acabar”. Não foi mera coincidência que o primeiro livro de Lewi Pethrus se
intitulasse Jesus kommer45. Ele, porém, sucessivamente assumiu uma posição
crítica e hilária a respeito da inquietude dos crentes no país frente a este
acontecimento.
Em vez da ênfase sobre a volta de Jesus como Juiz e Senhor, Pethrus e
o Movimento pentecostal sueco foram influenciados pelo darbynismo 46 e sua
ideia de que Cristo vem buscar sua noiva, a Igreja, ao que seguirá um período
de tribulação para o mundo que verá a ascensão ao poder do anticristo. Este
será destruído por Cristo na batalha do Armageddon, à qual seguirá o milênio
de paz e governo divino, até o juízo final que dará início a eternidade futura. A
fé na volta iminente de Jesus impulsionava os seguidores do Movimento
pentecostal a uma forte evangelização, com raízes principalmente entre pobres
e marginalizados, ficando, portanto, conhecido por suas contribuições sociais e
missionárias.
Josefsson (2007) define essa posição do Movimento na Suécia como
restauracionista, porque o movimento tinha um olhar, contemporaneamente,
voltado para trás e para frente: para trás para o ideal bíblico, e para frente para
o completo restabelecimento dos ideais e da volta de Cristo, o que bem é
expresso pela definição “adiante para o Cristianismo primitivo”.
47
Fontes de poder do Cristianismo primitivo.
para ser co-fundador de um novo jornal do movimento, o Brudgummens Röst 48.
Interessado em imprimir suas pregações e diante da falta de apoio das editoras
por um jovem pastor quase desconhecido, no ano seguinte Pethrus começou
sua própria casa editora, evidenciando a capacidade visionária que marcaria
profundamente seu ministério como futuro líder da Filadélfia e do Pingströrelse,
o Movimento pentecostal sueco.
Consciente da importância da musica para a evangelização, imprimiu o
hinário Segersånger49 adaptado para a igreja Filadélfia, seguido posteriormente
pelo Segertoner50, em colaboração com Ongman, da Filadélfia da cidade de
Örebro. Este foi um período de perseguição por parte da polícia e da imprensa
sueca hostil ao Movimento, que, porém, não impediu o trabalho social no qual a
Filadélfia e Pethrus estavam envolvidos. A igreja cresceu de 74 para 400
membros até o ano de 1913. Os sucessos procuraram-lhe a admiração e inveja
dos líderes batistas. Apesar de não existir na denominação regras oficiais
contra a ceia aberta, praticada pela Filadélfia, a então sétima igreja batista de
Estocolmo foi excluída da comunhão denominacional. O motivo real era,
todavia, o endereço pentecostal tomado pela Filadélfia. A exclusão se tornou
um sinal para que outros grupos pentecostais no país deixassem suas igrejas e
constituíssem as próprias (STRUBLE, 2009).
Pethrus nunca achou que a prova de força com os líderes batistas
pudesse terminar na exclusão. Percebeu, porém, que essa era uma
oportunidade para seu nascente papel de líder do Movimento pentecostal,
frente à maior igreja carismática da Suécia, inclusive rejeitando a proposta de
reintegração à denominação batista mediada por Paul Ongman 51. Com este,
Pethrus rompeu por causa da Escola Bíblica Batista dirigida pelo próprio
Ongman e que não aceitara membros da Filadélfia sem cartão da denominação
dos batistas. Foi mais uma ocasião para Pethrus demonstrar seu espírito de
iniciativa e visão, fundando uma escola bíblica da Filadélfia, com ele próprio
como principal professor.
A seguir, a próxima etapa em direção a uma definitiva independência foi
a constituição de um jornal da igreja. Apesar das reticências do ministério da
48
A Voz do Noivo.
49
Hinos de vitória.
50
Tons de vitória.
51
Filho de John Ongman.
igreja, Pethrus impôs sua ideia e, no final de 1915, começou a publicação do
Evangelii Härold, deixando, contemporaneamente, seu lugar na redação do
Brudgummens Röst. No mesmo período, Carl Widmark foi enviado por Pethrus
em missão pela Suécia afora para arregimentar evangelistas do Movimento
pentecostal. Apesar dos ideais do avivamento contrários à constituição de uma
estrutura supra-eclesiástica, era o começo de uma visão de Pethrus de uma
denominação de facto, ainda que oficialmente informal, do Movimento
pentecostal da Suécia.
O passo sucessivo foi a organização da primeira semana de estudos
bíblicos, uma conferência nacional, e de um anuário do Movimento, chamado
Julens Härold52, no ano de 1916, com a colaboração de Johansson, Barratt,
Hedeen, Björk, Hane, Gunnar Vingren e outros, e cujo sucesso colocou a
pessoa de Pethrus entre os maiores expoentes do avivamento. Dois anos
depois, porém, Pethrus tinha rompido com quase toda a velha guarda
pentecostal, de modo que na conferência nacional de Kölingared em 1919
todos eles tinham se afastado de Pethrus.
Isso lhe permitiu dar começo, sem inconvenientes e respeitados
opositores, a uma estrutura para o Movimento, uma rede informal mais
orgânica do que organizacional. Esta estava baseada em relacionamentos
pessoais e na escolha de pessoas ligadas ao próprio Pethrus ou à Igreja
Filadélfia de Estocolmo, e cuja identidade estrutural, de acordo com Alvarsson
(2007), viesse a ser construída de dentro para fora e não vice-versa. O modelo
encontrava-se no livro de Atos dos Apóstolos, a assim chamada “Igreja
primitiva”, em direta oposição com as estruturas das denominações
eclesiásticas modernas.
Durante a década de 1920, Pethrus conseguiu arregimentar no rol da
Igreja algumas influentes personalidades do mundo literário e artístico, como o
famoso escritor Sven Lidman, o cantor Einar Ekberg, o musicista Oswald Lenti.
Da Igreja do Estado, veio o pastor luterano Gustav E. Söderholm. Estes
personagens contribuíram a dar legitimação e aceitação ao Movimento
pentecostal, majoritariamente fincado na classe operária, diante da sociedade
sueca. No ano de 1923, Anders Petter Franklin aceitou o convite de Pethrus,
52
Arauto do Natal.
saiu da Alliansmissionen53 e se estabeleceu na Filadélfia de Estocolmo. Ele
assumiria a direção da futura Svenska Fria Missionen 54. À frente desta
organização, Franklin ficou responsável pela atividade missionária do
Movimento pentecostal, inclusive no Brasil, até seu fechamento no ano de
1929, em seguida às desavenças entre o próprio Franklin e o pastor da
Filadélfia.
No ano de 1924, Pethrus viajou para os EUA, onde obteve ligações com
as igrejas do país e com o Movimento pentecostal internacional.
Contemporaneamente, os evangelistas pentecostais corriam toda a Suécia,
impulsionados pelo fervor e pela crença de que a volta de Cristo fosse
iminente, e Pethrus e seus colaboradores tomavam rapidamente contato com
as novas igrejas que surgiam, através de viagens de pregação. O inóspito e
pouco povoado norte da Suécia era visto como um campo missionário, com
muitos esforços do Movimento para alcançar a população da Lapônia.
Durante essa década, o Movimento pentecostal sueco conseguiu
organizar cerca de 400 igrejas. Muitas congregações das denominações
tradicionais, sobretudo batistas, passaram para o Movimento. Em 1° de janeiro
de 1929, o Movimento contava com cerca de 26.000 membros em todo o país,
a grande maioria mulheres, mas as igrejas eram dirigidas por homens. O nível
de educação mais comum era o primário, fazendo com que “talvez, somente
uma dezena de membros tivesse curso superior entre os Pentecostais em todo
o país” (GÄRESKOG; GÄRESKOG, 2010, p. 24, tradução nossa).
Sob a direção de Pethrus, o crescimento da igreja Filadélfia também foi
extraordinário neste período. O local de culto na Sveavägen, projetado em
1918 para 1400 pessoas, foi substituído pelo Auditorium na Norra Bantorget,
capaz de 2000 pessoas, até a compra do imóvel na Rörstrandsgatan, onde, no
ano de 1928, começou a construção do atual templo com capacidade para
2500 assentos.
2.6 CONFLITOS NO MOVIMENTO
O Movimento pentecostal na Suécia não foi livre de conflitos internos
durante as primeiras duas décadas de sua existência. A ascendente posição de
Lewi Pethrus no Movimento provocou, sobretudo na segunda metade da
53
Aliança Missionária.
54
Missão Sueca Livre.
década de 1920, vários confrontos. Apesar de serem formalmente motivados
pelo conflito de valores fundamentais, especialmente na compreensão
eclesiástica e missionária do Movimento, foram fundamentalmente lutas de
poder entre Pethrus e a igreja Filadélfia de Estocolmo, dum lado, e demais
lideres nacionais do outro. Em particular, o ano de 1929 marcou o ápice desses
conflitos, levando certo numero de igrejas dentro do Movimento a experimentar
cismas e divisões (GÄRESKOG; GÄRESKOG, 2006).
O sucesso da atividade missionária e da evangelização da Filadélfia
ajudou a amenizar as tensões. Porém, para muitas igrejas do país, as marcas
provocadas pelos conflitos foram mais evidentes, sobretudo no caso dos
líderes terem tomado posição contrária a Pethrus, pelas vitórias que este teve
em todos esses confrontos. O mais importante desses conflitos ficou conhecido
como Franklinstriden55, e envolveu a Svenska Fria Missionen56 e seu dirigente,
A. P. Franklin, em oposição a Lewi Pethrus e à igreja Filadélfia de Estocolmo,
no ano de 1929. Este embate se concluiu com a exclusão de Franklin da igreja
e a liquidação de sua organização missionária, inclusive com repercussões na
atividade da missão sueca no Brasil.
Conforme Gäreskog e Gäreskog (2006, p. 23, tradução nossa), “em volta
do ano 1919, Pethrus era bem estabelecido como líder informal das igrejas
livres na Suécia por causa de sua capacidade de liderança e do fato de ser o
pastor da Filadélfia de Estocolmo, a maior do país”. Como outras igrejas
suecas, a Filadélfia começou cedo sua atividade missionária, com seu primeiro
casal enviado ao Brasil, Samuel e Lina Nyström, no ano de 1916. Os ideais de
atividade missionária de William Taylor, veiculadas por T. Barratt, tinham
influenciado Pethrus e o Movimento pentecostal na Suécia, com o resultado
deste se tornar fortemente contrário a qualquer organização que estivesse
acima das igrejas, por não existir modelo bíblico para tais organizações.
Essas posições ideológicas concordavam com o modelo congregacional
de liderança do Movimento pentecostal, que via as igrejas como
fundamentalmente independentes e autogovernadas, avessas a estruturas
eclesiásticas denominacionais. O fundamento ideológico dessa visão de
liderança foi a declaração final da conferência de Kölingared 1919, sob o titulo:
55
“O conflito Franklin”.
56
Missão Sueca Livre.
“Porque tomamos distancia das organizações denominacionais”, assinado por
todos os 103 participantes, a maioria pastores pentecostais. Em seguida à
proposta de Pethrus, o resultado da conferência foi a criação de uma estrutura
mais orgânica do que jurídica, encarregada somente de ajudar as igrejas na
obra missionária no exterior, sem poder efetivo sobre as igrejas. Tida como
mais bíblica pelos membros do Movimento, essa organização informal
forneceu, porém, apoio ao seu mentor, Lewi Pethrus, e aos colaboradores
deste, tornando essa conferência uma pedra milhar na história do jovem
Movimento pentecostal sueco.
Se, no começo do avivamento na Suécia e da Igreja Filadélfia de
Estocolmo, o patrimônio humano, tanto de base como efetivo na direção do
movimento, era preponderantemente composto de pessoas do sexo feminino,
Kölingared marcou uma profunda mudança na liderança. No final da
conferência, 98 das 103 pessoas que assinaram a declaração ideológica em
1919 eram homens. Surgia assim uma nova seara de líderes a partir do novo
endereço traçado por Pethrus e seus fieis cooperadores, a maioria destes
ligados à Igreja Filadélfia da capital sueca.
Nesse assunto, um parêntese faz-se necessário para uma visão geral do
Movimento. Alvarsson (2007) divide os primeiros 15 anos deste em época
pioneira, de 1906 a 1916, e época formativa, a partir da constituição da casa
editora Filadélfia até a conferência de Kölingared, de 1912 a 1919. Houve,
também, uma mudança significativa do caráter do Movimento: o primeiro
período, com ideias ecumênicas, pregava uma mensagem de boas novas e
batismo no Espírito, vida espiritual mais profunda e abertura teológica em
muitas questões secundárias; o segundo período foi caracterizado por maior
finalização e ênfase teológica em volta da salvação, do batismo nas águas, das
curas e da visão denominacional. Elementos em comum desses dois períodos
foram o Cristo-centrismo, o modelo espiritual da Azuza Street, a experiência do
batismo no Espírito Santo e a pregação das curas divinas.
As personalidades mais importantes do período pioneiro foram Anders
G. Johansson, John Ongman, Björk e, sobretudo, T. Barratt, por sua atuação
internacional. Somente o primeiro sobreviveu na liderança do segundo período,
em posição secundária como cooperador, com a ascendente liderança de Lewi
Pethrus, que dirigiu a saída do movimento da denominação batista e fundou o
Pingströrelsen57, no ano de 1919.
Referentemente ao assunto missionário, Pethrus encontrava apoio na
Bíblia para que a igreja local fosse a responsável para enviar e sustentar
missionários no exterior, sem a ajuda de uma organização centralizada, e essa
era, também, a opinião dos demais líderes do Movimento. Rapidamente,
porém, a missão não se mostrou fácil, sobretudo para as igrejas menores que
não podiam manter integralmente um missionário, e nem prepará-lo do ponto
de vista lingüístico, além de parecer estranho não ter colaboração com outros
missionários no campo.
Diante destas problemáticas, no ano de 1923, Pethrus contatou Franklin,
então responsável pela atividade missionária no exterior da Svenska
Alliansmissionen58 e o convidou para colaborar na Filadélfia de Estocolmo. No
janeiro de 1924 nasceu a Svenska Filadelfiamissionen 59, então conselho
missionário da igreja Filadélfia para a atividade no exterior, com o declarado
propósito futuro de “servir de boa vontade como diretório missionário para todo
o Movimento pentecostal, responsável por assumir os custos pelo local da sede
e dos funcionários dessa necessária secretária de missão” (Protocolo da
diretoria da Igreja Filadélfia, 8/1/1924, parágrafo 1 apud GÄRESKOG;
GÄRESKOG, 2006, tradução nossa). No mês de abril do mesmo ano, a
organização tomou, definitivamente, o nome de Svenka Fria Missionen 60.
Fica aqui evidente o conflito de valores fundamentais entre teoria e
prática da atividade missionária sueca daqueles anos. Carlsson (2008) afirma
que existia uma contradição entre a retórica das igrejas pentecostais suecas,
que repudiavam organizações, e as decisões de estruturas cuidadosamente
elaboradas em produzir processos que permitiam a atividade cooperativa a
respeito de uma multidão de questões.
Na verdade, a organização se tornou útil e necessária à atividade
missionária no exterior, sobretudo diante dos obstáculos colocados por
algumas administrações coloniais européias em seus territórios de
competência. No Congo belga, por exemplo, era requerida a responsabilidade
57
Movimento pentecostal da Suécia.
58
Aliança Missionária Sueca.
59
Missão Sueca Filadélfia.
60
Missão Sueca Livre.
de uma pessoa jurídica que assumisse a missão. Por muitas igrejas locais
menores, a Svenska Fria Missionen era, porém, percebida como uma
organização centralizadora anti-bíblica e autoritária, controlada
substancialmente por Pethrus e sua igreja. Já naquele mesmo ano, houve
tentativas de invalidar o plano de Pethrus de controle da atividade missionária
do Pingströrelse61. Para resolver esse impasse, Pethrus propôs a criação de
uma diretoria de três pessoas, diretamente “chamadas por Deus” e não pelas
igrejas, que assumiriam a responsabilidade e direção da organização, frisando
que, segundo o modelo dos Estados Unidos, de onde acabara de regressar de
uma viagem62:
Existe a possibilidade de conduzir a missão juntos, sem que as igrejas, a
qualquer título, precisem se fundir. A absoluta liberdade das igrejas é uma
condição vital indispensável para salvaguarda do glorioso avivamento
pentecostal (PETHRUS, 1924, p. tradução nossa).
Essa “escolha divina” garantia aos candidatos uma liberdade diante das
igrejas, pois eles ficariam responsáveis somente diante de Deus em sua
atividade na direção da Svenska Fria Missionen, evitando assim as críticas a
Pethrus e à Filadélfia. As igrejas aceitaram essa proposta e, numa oração
durante a conferência missionária convocada para escolha dos três membros
da diretoria:
O irmão Pethrus achou que o Espírito Santo
tivesse derramado uma unânime certeza sobre
quais irmãos o Senhor tinha escolhido, sendo do
aviso que agora se deveria proceder sem votação
ou outra intervenção de ordem meramente humana.
O irmão Lidman contou que ele ontem ficou
sabendo, através de uma revelação, quem deveriam
ser os três irmãos, cujos nomes ele recebeu. São:
Fris, Franklin e Claesson [...] e os participantes
reunidos deram um poderoso “amem”. [...] Uma
irmã presente no culto contou de uma visão que
recebeu a respeito desses irmãos. Ela viu, pelo
Espírito, uma capa carmesim sendo colocada sobre
o irmão Fris; um anjo avançou até o irmão Franklin
e o cobriu com uma de suas asas, e um ser divino
se chegou ao irmão Claesson com um pequeno
livro luminoso e lho entregou. Eles foram
circundados também por uma multidão de anjos,
que ela viu no começo do culto. [...] Foi uma geral
alegria e ação de graça a Deus
(REDOGÖRELSE...,1924, tradução nossa).
61
Movimento pentecostal da Suécia.
62
Era o ano de 1924.
Essa “intervenção divina” foi um sucesso para Pethrus e seu projeto de
liderança missionária do Movimento pentecostal sueco. Todavia, a atividade da
organização era dirigida por Franklin, o qual entendia que o conselho
missionário se colocava acima das igrejas e, portanto, podia rejeitar candidatos
propostos pelas mesmas. Bundy (1997) é da opinião que Franklin quisesse
repetir, na Svenska Fria Missionen 63, a tentativa de adquirir poder pessoal
através da organização, como anteriormente tentara, sem sucesso, na Svenska
Alliansmissionen64. A aquisição de alguns imóveis na Suécia da parte da
Svenka Fria Missionen acirrou ulteriormente os ânimos no Movimento, mas a
competência de Franklin e os resultados nos campos missionários permitiram-
lhe de transformar a Missão Sueca Livre em uma organização forte e com
ambições de independência.
A viagem de inspeção das missões na América do sul, começada em
1926, forneceu a Franklin ocasião para elogiar os missionários, que retribuíram
com artigos entusiásticos no Evangelii Härold 65 (que, lembra-se aqui, era
publicado pela Igreja Filadélfia de Pethrus) sobre o próprio Franklin e a
Svenska Fria Missionen66. Isso alertou o inteiro Movimento pentecostal sueco
sobre as mudanças na linha da igreja dirigida por Pethrus. Até então, este
defendia a organização de Franklin como parte do desenvolvimento missionário
do Movimento, afirmando que a Svenska Fria Missionen não era uma ameaça
aos valores tradicionais congregacionais.
A transferência do Fria Bibelinstitutet 67 de Rikard Fris do imóvel da
Filadélfia de Estocolmo para o imóvel da Svenska Fria Missionen, todavia,
deixou claro para os dirigentes pentecostais, inclusive Pethrus, que Franklin
estava instaurando um estilo burocrático independente, que refletia uma
profunda mudança respeito aos valores originais do Movimento pentecostal
escandinavo. Os dirigentes do Movimento, consequentemente, mudaram suas
decisões e motivações. Eles suspeitaram que os burocratas estavam se
substituindo ao poder e influência dos pastores e das congregações locais. A
63
Missão Sueca Livre.
64
Aliança Missionária Sueca.
65
Arauto do Evangelho.
66
Missão Sueca Livre.
67
Instituto Bíblico Livre (Pentecostal).
conferência missionária de Kölingared, em 1929, se tornou, na prática, um
referendum sobre a atividade da Svenska Fria Missionen (BUNDY, 1997).
Pethrus e os outros dirigentes ficaram, então, convencidos de que
Franklin estivesse repetindo sua anterior trajetória na Svenska
Alliansmissionen68 e tentasse influenciar o Pingströrelse69, na hipótese que a
Svenska Fria Missionen, no lugar de servir as igrejas, começasse a “não mais
ter responsabilidade diante delas e operasse para determinar as doutrinas e o
ethos do Movimento” (BUNDY, 1997, p. 22, tradução nossa). Aproveitando uma
falha de Franklin (ele fez traduções não autorizadas de obras de escritores
alemães e publicou para a venda na Suécia, sendo acusado de plágio),
Pethrus propôs a dissolução da Svenska Fria Missionen e a retomada, da parte
da Filadélfia de Estocolmo, de sua própria atividade missionária. Isso foi
definitivamente decidido na Conferência missionária de Estocolmo, nos dias 30
de julho a 1° de agosto de 1929. Franklin, em seguida à proposta de Pethrus
ao ministério, foi excluído da igreja Filadélfia.
Esses acontecimentos marcaram a volta aos valores precedentemente
propagados pelo Movimento pentecostal sueco, oriundos de W. Taylor e
dominados pela “compreensão da igreja como radicalmente congregacional,
autossustentável, autogovernada e autopropagadora” (BUNDY, 1997, p. 22,
tradução nossa) do Evangelho, mas, paradoxalmente, colocaram Lewi Pethrus
na posição de líder de facto do Movimento pentecostal na Suécia e no controle
de sua atividade missionária. O avivamento sueco encontrou, então, na pessoa
do jovem e visionário pastor de Vargön, seu primeiro e maior líder, cujo papel
foi fortalecido pelo desenvolvimento precoce da igreja Filadélfia de Estocolmo,
e pelo engajamento social, político e missionário desta igreja e de seu pastor.
68
Aliança Missionária Sueca.
69
Movimento pentecostal da Suécia.
70
Empresa multinacional sueca do setor elétrico e afins.
1909 foi criada a primeira linha de transporte marítimo regular entre os dois
países.
71
Arauto do Evangelho.
Foi, todavia, somente no dia 11 de janeiro de 1918, que Gunnar Vingren
registrou o Estatuto da Sociedade Evangélica Assembléia de Deus no Cartório
do primeiro ofício de Belém. No Estatuto são citados os nomes de dois
membros fundadores, Gunnar Vingren e Daniel Berg, que, junto com Samuel
Nyström, foram investidos da administração societária. Em caso de dissolução,
o patrimônio da associação seria destinado aos três gestores e seus
descendentes. Esse passo foi a necessária adequação jurídica aos artigos 16 e
18 do Código Civil Brasileiro de 1917 (ARAÚJO, 2007).
Depois da expulsão da igreja batista, Vingren e seu companheiro Berg
começaram o trabalho de evangelização em vários lugares, agregando mais
membros ao grupo inicial, tanto na cidade de Belém, como no interior do
Estado do Pará. Curas e batismo no Espírito, com evidencia de falar em
línguas, eram comuns durante esse período, conforme relata em seu diário
(VINGREN, I.,1973). O campo de ação de Vingren era, preferencialmente, na
cidade e seus arredores, no então que Berg evangelizava ao longo do rio
Amazonas e no interior do Pará.
No ano seguinte, Vingren começava uma viagem de volta à Suécia, via
EUA, que se fazia necessária pelo seu estado de saúde, debilitado pelas
condições climáticas e pelas doenças da região amazônica. A jornada
começou no dia 1 de agosto de 1915, de Belém, rumo a New York, aonde
chegou no dia 12 de agosto. Outro autor, o filho do pioneiro, relata que a
chegada à terra norte-americana foi no dia 8 de agosto, aniversário do próprio
Gunnar (VINGREN, I., 1973). Gunnar Vingren, em carta enviada a e publicada
pelo Evangelii Härold, escreve de seu próprio punho as palavras que podem
dirimir essa dúvida:
Querido irmão Lewi Pethrus! A paz de Deus! Quero agora para glória de
Jesus contar algo referente às minhas viagens na América e à obra do Senhor
no Brasil. Cheguei à América no dia 12 de agosto do ano passado e tive o
privilégio de visitar as diversas congregações pentecostais desde
Massachusetts até Minnesota e pude assim me alegrar em Jesus junto com
aqueles simples filhos de Deus que não se deixaram contagiar pela ilusão
russelliana (VINGREN, G., 1916b, p. 11, tradução nossa).
Percebe-se, a partir deste texto, a preocupação de Vingren com a
influência das ideias de Charles Taze Russell 72 sobre os rebanhos de seu
primeiro campo missionário, depois que saiu do seminário batista em Chicago.
Essas ideias eram veiculadas, entre as igrejas de imigrados nórdicos, pelo
pregador de origem sueca A. Ödman e outros. Mas já existiam apologistas,
entre a comunidade protestante sueca, que refutavam as ideias destes:
Um importante seguidor das doutrinas de Ödman, um irmão pregador,
me disse logo antes de eu deixar a América: “Agora não prego mais as
doutrinas de Ödman”. Agora, ele também, quer somente saber de Cristo, e Ele
crucificado. Aleluia! Alegrei-me, também, em ver a posição que o irmão A. A.
Holmgren, redator do jornal “A testemunha da verdade” na América, assumiu.
Ele tem claramente se colocado contra os erros de Ödman. Deus abençoe o ir.
Holmgren e seu jornal. A verdade sempre há de triunfar. Graça e louvor!
(VINGREN, G., 1916b, p. 11, tradução nossa).
Considerando que esta carta foi enviada a Lewi Pethrus, e aos leitores
do Evangelii Härold73, publicação oficial da igreja deste, transparece uma
consistente afinidade entre as igrejas na Suécia e as co-irmãs americanas. Isso
não pode ser dado como obvio, à luz de que o Pingströrelse 74 do país
escandinavo é posterior à aceitação dos ideais da Azuza Street pelas
comunidades de imigrados suecos na América, das e pelas quais os dois
pioneiros suecos no Brasil, Berg e Vingren, vieram, no ano de 1910, e foram
ajudados, ainda que não regularmente, em sua epopeia ao sul da linha do
equador, como pode-se argüir de carta enviada a A. P. Franklin, chefe da
Svenska Fria Missionen75, datada de 18 de junho de 1929:
[...] precisaríamos de cerca de 40.000 coroas para
poder comprar um terreno e começar a construir [...]
portanto, quero te perguntar se tu podes fazer algo por
essa questão. Envia-me ao menos uma resposta, porque
se os amigos em casa e na América não puderem nos
ajudar [...] (VINGREN, G., 1929a, p. 472, tradução nossa).
Em sua viagem de volta ao Brasil, Vingren passou por New York. A essa
altura, ele já tinha se naturalizado americano e estava esperando a emissão de
seu passaporte pelas autoridades dos EUA, como ele mesmo informa:
“Anteriormente, eu fui a uma conferencia pentecostal em Hartford, Connecticut,
no então que esperava o meu passaporte americano [...]” (VINGREN, G.,
1917a, p. 146, tradução nossa). Essa segunda nacionalidade pode ter tido uma
influência sobre Vingren, apontando para uma maior afinidade com o padrão
norte-americano de sua compreensão missionária, eclesiástica e ministerial,
diferente da do Movimento pentecostal sueco.
Sua noiva, Frida Strandberg, o precedeu na chegada ao Brasil, onde
desembarcou no dia 4 de julho, em Belém, Pará. Vingren chegou de volta ao
Brasil no dia 6 de agosto de 1917. No dia 16 de outubro daquele ano, Gunnar
Vingren e Frida Strandberg casaram-se em Belém. Em janeiro de 1919,
Gunnar fundou o jornal “Boa Semente”, tendo como um de seus colaboradores
Samuel Nyström. Araújo (2007) informa que foi fundado em dezembro de 1918.
A primeira viagem de Vingren ao sul do Brasil aconteceu no ano de 1920,
quando visitou alguns estados litorâneos, até Santa Catarina, onde participou
de cultos entre as comunidades de imigrados russos e lituanos. Em seu diário,
ele destaca o clima agradável para os europeus, e a liturgia dos imigrados, e
sua reprovação, porém, à prática da dança na adoração, ao que foi expulso de
entre os lituanos (VINGREN, I., 1973).
Na viagem de volta a Belém, conheceu a igreja pentecostal italiana de São
Bernardo, São Paulo, dirigida por Luigi Francescon. Vingren e Francescon
participaram, como também Berg, no ano de 1909, do avivamento na cidade de
Chicago, EUA, que tinha como maior protagonista o pastor William H. Durham
e seus conceitos do “Finished Work” 76 de Cristo e da “Terceira benção”77. A
respeito dessa igreja de São Paulo, escrevia Franklin alguns anos mais tarde,
no relatório de sua viagem ao Brasil de 1926:
O trem corria para São Paulo, atravessando
as grandes plantações de café, e na cidade tivemos
a ocasião de visitar uma igreja pentecostal italiana.
Cerca de doze anos atrás, um irmão italiano foi
enviado para São Paulo de Chicago e tem
experimentado o poder de Deus para salvação, e
uma igreja veio à existência, com mais de dois mil e
quinhentos membros (FRANKLIN, 1926b, p. 496,
tradução nossa).
76
“Obra Consumada”.
77
As três bênçãos eram consideradas ser: a salvação, a santificação e o batismo no Espírito Santo.
pensa alcançar a Califórnia” (NORDLUND, G.; NORDLUND, H., 1922, p. 187,
tradução nossa). A família Vingren chegou de volta ao Pará no dia 1 de
fevereiro de 1923.
Sua definitiva mudança para o Rio de Janeiro aconteceu no ano de
1924, substituído pelo casal missionário sueco Lina e Samuel Nyström na
direção do trabalho no Pará e do jornal pentecostal “Boa Semente”. Em carta
publicada no Evangelii Härold, assinada por Gunnar e Frida, o casal Vingren
deixou suas impressões sobre a “cidade maravilhosa”:
Deixamos o Pará no dia 21 de maio, e
chegamos aqui no dia 3 de junho. [...] Rio de
Janeiro, a cidade da luz, como é chamada, é
propriamente uma cidade dos vícios e da vaidade,
no mais alto grau. A natureza aqui é muito bonita, e
o clima bastante bom. A cidade é situada em parte
entre e em parte sobre os declives de altas
montanhas. Na cima de uma das montanhas mais
altas, os católicos planejam a construção de uma
imagem de Cristo, e para esse fim, eles têm juntado
mais de um milhão de milreis. Além dos católicos,
existe aqui um grande numero de igrejas
evangélicas, mas nenhuma que pregue o
Evangelho pleno, ao contrário: aqui, como nos
outros lugares do Brasil, elas, na grande totalidade,
são inimigas. O Exército da Salvação trabalha aqui
seguindo seus princípios costumeiros. Entre seus
oficiais existem suecos. Aqui nessa cidade, pode-
se ver que as pessoas em geral vivem para juntar
bens desse mundo, e para alcançar esse alvo, não
poupam nenhum meio. A falta de sinceridade e de
honestidade é aqui um traço característico, tão
forte que surpreende desde o primeiro instante
(VINGREN, F.; VINGREN, G., 1925c, p. 32, tradução
nossa).
78
Missão Sueca Livre.
cujo recurso agradecerá em carta seguinte (VINGREN, G., 1928a, p. 520).
Com a piora de suas condições de saúde, se tornaram frequentes as
reclamações do casal Vingren a respeito da alimentação, escassa e de má
qualidade, por causa dos recursos insuficientes, cuja maior parte era destinada
ao aluguel, muito elevado na capital federal do Brasil da época, e pela pressão
emocional e espiritual:
Seria uma grande economia, se conseguíssemos encontrar uma
pequena casa na periferia da cidade, com lugar para guardar o carro. Então,
poderíamos comprar uma alimentação melhor para podermos aguentar aqui
fora por mais tempo. Sentimo-nos bastante cansados e desgastados [...] Minha
esposa pede oração especial. Seu coração e seus nervos estão
sobrecarregados pela muitas campanhas de oração e pelo trabalho (VINGREN,
F.; VINGREN, G., 1929a, p. 166, tradução nossa).
Existem muitas suposições sobre o que Vingren pensava a respeito da
direção do trabalho missionário no Brasil, e sobre o que ele pensava a respeito
dos obreiros nacionais que colaboravam na obra, sobretudo no Nordeste. Vale
lembrar que ele era o único missionário pentecostal sueco, presente em terras
brasileiras, regularmente formado num curso de teologia de quatro anos, o que
determinava sua particular compreensão eclesiástica e ministerial. Foi ele,
também, que viajou para a Suécia, às vésperas da Conferência de Natal, em
1930, para trazer Lewi Pethrus, numa tentativa de mediação entre os pastores
nordestinos e os missionários suecos, com referimento à direção da obra. A
respeito de sua compreensão, podem ser esclarecedoras algumas palavras
que o casal Vingren escreveu numa carta enviada às igrejas na sua pátria,
publicada no Evangelii Härold79·, através da qual pede reforços para a missão
no Brasil:
Digam, eles não precisariam de novos
reforços para ajudar no trabalho? Mas vós, alguém
pode dizer, tendes os obreiros nativos. Mas o fato é
que eles não têm a maturidade e força necessárias
para esse trabalho. Em geral, eles são bons
evangelistas, mas os pastores são poucos
(VINGREN, F.; VINGREN, G., 1929b, p. 505-506,
tradução nossa).80
79
Arauto do Evangelho.
80
Deve-se ter alguma restrição sobre a atribuição desse pensamento a Gunnar Vingren, considerando
que essa carta foi assinada em conjunto com sua esposa Frida, cuja contribuição à escrita é patente na
frase: “Sim, o que direi mais, eu, uma humilde serva do Senhor?”, e no estilo literário presente no corpo
da carta.
Segundo Vingren, portanto, os obreiros nacionais, salvo poucas
exceções, não tinham maturidade e força necessária para o ministério pastoral.
Em outras palavras, não tinham capacidade de liderança.
No dia 22 do mês de maio do ano seguinte, Gunnar Vingren deixou a
família no Rio de Janeiro e viajou para a Suécia para se encontrar com Lewi
Pethrus e convencê-lo da necessidade de sua presença na Conferência
convocada pelos obreiros nacionais em Natal, no mês de setembro de 1930.
Vingren esperava que a mediação de Pethrus pudesse resolver o impasse
entre os missionários suecos e os pastores nativos, referentemente à questão
da liderança na obra no Norte e Nordeste.
Os dois desembarcaram no Rio de Janeiro no dia 12 de agosto. Pelo
relato de Pethrus (1930c), sabemos que a missão sueca dirigida por Vingren no
Estado fluminense contava com cerca de 1.500 crentes, divididos em doze
congregações pentecostais. Um grande avanço na capital do Brasil, num
tempo relativamente curto, como o próprio pastor da Filadélfia admitiu. Os
Vingren deixaram definitivamente o Brasil no ano de 1932, sendo sucedidos na
direção da obra pelo casal Samuel e Lina Nyström.
81
Movimento pentecostal da Suécia.
Agora, estamos sentindo que será
impossível ficar mais aqui em Vitória, porque o
povo não quer escutar a Palavra de Deus. Muitos
dos missionários nos têm visitado, e todos
sentiram a dificuldade. Não importa quem seja que
pregar, é igualmente difícil o povo chegar ao
auditório. Cremos, todavia, que a Palavra do
Senhor que tem sido exposta aqui não voltará
vazia, mas que operou não importa onde fosse
pregada (BERG, S.; BERG, Daniel, 1924, p. 235,
tradução nossa).
82
Movimento pentecostal da Suécia.
entre os missionários, que ficavam livres das exigências centralizadoras e
autoritárias da Svenska Fria Missionen83 e de seu chefe.
O próprio Berg escreveu mais de uma carta, parabenizando pelas
decisões tomadas na conferência missionária de Kölingared de 1929. Na
primeira carta, assinada em colaboração com Gunnar Vingren, comunica:
Como resposta à comunicação referente à
Missão Sueca Livre, queremos aqui em comum
exprimir nossa grande alegria pelas felizes
mudanças a respeito da questão missionária. Pela
nossa parte, nunca simpatizamos com os
princípios da Missão Sueca Livre, mas tínhamos
decidido que, até nenhum embaraço fosse
colocado sobre nossa liberdade pessoal, teríamos
aceitado as suas disposições, mas que, no
momento em que a liberdade de trabalhar na
direção do Espírito nos fosse impedida, então
protestaríamos, no nome de Jesus (VINGREN, G.;
BERG, Daniel, 1929, p. 682-683, tradução nossa).
84
Movimento pentecostal da Suécia.
“Chegamos e todos nós ocupamos nossa
pequena casa de barro, oito pessoas em tudo,
muitos espremidos até agora, mas o irmão Sjögren
e esposa e a irmã Nina Englund da América acabam
de alugar uma casa para eles e irão mudar”
(NELSON, A.; NELSON, O., 1922a, p. 99, tradução
nossa).
O texto sueco citado por Vingren (1994b, p. 28), porém, não concorda
com o texto sueco de Nyström, inserido numa carta de Pethrus, publicada no
jornal Evangelii Härold. Este último reporta:
No ano de 1907, passei no exame do
ensino secundário, depois do que a questão
da escolha de que carreira tomar na vida
ficou em primeiro plano. Comecei,
primeiramente, a carreira de engenheiro,
mas não demorou muito para eu me voltar
para a carreira de contabilista, que também
abandonei logo, e comecei a profissão na
área da paisagística de jardins, que,
posteriormente, pensei continuar a estudar
no exterior. Trabalhei nesse ramo durante
seis anos, e os meus planos eram bem
ambiciosos, mas, ao mesmo tempo,
mergulhei mais e mais no pecado
(NYSTROM, Samuel, 1916 in PETHRUS,
1916, n. 20, p. 81, tradução nossa)85.
A versão citada por Ivar Vingren parece ser um resumo do texto original,
com uma atualização linguística86. A discrepância entre os dois textos é
evidente, por o primeiro reproduzir, supostamente, o texto de Nyström extraído
do mesmo artigo de Lewi Pethrus publicado no Evangelii Härold, cujo texto
traduzido é reproduzido aqui acima. O autor dessa monografia não está em
posse de informações que possam explicar essas diferenças. Uma coisa,
todavia, parece certa, e é que se Nyström possuía alguma formação superior,
esta era de engenheiro ou arquiteto paisagista, nada que fosse relacionado
85
O texto de Nyström, inserido numa carta de Pethrus e publicada no jornal sueco Evangelii Härold (ano
1916, n. 20, p. 81), diz: “År 1907 tog jag realskolexamen, varefter frågan om val av livsbana kom i
förgrunden. Jag började först på ingeniörsbanan, men det dröjde ej länge, förrän jag var inne på
kontorsbanan och lämnade även den rätt snart och begynte i trädgårdsyrket, vilket jag sedan tänkte
fortsätta att studera i utlandet. Jag arbetade i detta fack i 6 år, och mina planer voro rätt höga, men på
samma gång gick jag även längre och längre bort i synden.”
86
Ivar Vingren cita que Nyström escreveu, no jornal sueco Evangelii Härold (ano 1916, n. 20, p. 81): “År
1907 tog jag realskolexamen. Jag beslöt att bli trädgårdsarkitekt och studerade för detta i 6 år. Samtidigt
kom jag allt längre bort från Herren.”
com a área teológica ou o ministério pastoral (ao menos conforme os padrões
hodiernos).
87
Arauto do Evangelho.
2000 coroas suecas (NYSTRÖM, L.; NYSTRÖM, S.,
1924, p. 340, tradução nossa).
88
Atual Oslo, capital da Noruega.
Sobre a relação social entre os dois sexos, escrevia:
Para uma mulher evangelizar, aqui
existe muito mais dificuldades do que ali na
Suécia. Aqui, uma irmã não pode sair em
uma assim chamada viagem missionária,
viajar sozinha no interior do país com um
irmão ainda muito menos. Só pode viajar
com um missionário casado se a esposa
dele estiver junta. Qualquer outra hipótese
despertaria reprovação e seria puramente
impossível. Aqui não existe a mesma
liberdade que temos em nosso país
(VINGREN, F., 1921, p. 89-90, tradução
nossa).
100 O casal Sjögren saiu para o Brasil no dia 24 de setembro de 1921, via New
York, acompanhando Otto e Adina Nelson e chegando ao Pará no dia 7 de
fevereiro de 1922 (NELSON, A.; NELSON, O.,1922, p. 99). Araújo (2007, p.
472) afirma que Simon e Agnes Sjögren chegaram ao Brasil no ano de 1921.
102Não são listados entre os missionários suecos por Araújo (2007, p. 472),
mas em carta publicada na Suécia, o casal Kastberg comunica sua separação
para a missão brasileira durante o culto da Filadélfia de Estocolmo do dia 20 de
maio de 1928 e sua viagem marítima para o Brasil, saindo de Amsterdã na
Holanda, que aconteceu no dia 23 de maio (KASTBERG, E.; KASTBERG, N.,
1928, p. 409). Em Paixão (2011, p. 10, negrito nosso), podemos ler: “Se
conferirmos uma fotografia do templo da AD de São Cristóvão no Rio de
Janeiro, construído pelo missionário Nils Kastberg e inaugurado em 1938 [...]”,
confirmando sua presença e atividade na missão sueca no Brasil.
89
Movimento pentecostal da Suécia.
90
Missão Sueca Livre.
dos assuntos da estrutura missionária no Brasil. A partir da analise das cartas
de Franklin e dos missionários que participaram, emerge uma substancial
convergência de ideias dos participantes. Duas foram as questões principais
tratadas:
• a relação entre os missionários que foram enviados pelas igrejas americanas
e os que vieram da Suécia, e sua respectiva posição ao interior da missão no
Brasil;
• a propriedade jurídica do patrimônio da missão.
Havia pastores que viam nos suecos uma ameaça à suas ambições de
liderança e queriam, radicalmente, que sumissem do Brasil. Essa consideração
pode explicar a necessidade de Gunnar Vingren e dos demais missionários de
buscar a ajuda de Pethrus, cuja igreja era a maior mantenedora da missão
sueca no Brasil. A radicalização foi confirmada pelo próprio Pethrus, que
considerava "que, se não houvesse um entendimento, todo o trabalho seria
dividido" (PETHRUS, 2004, p. 221).
Nesse sentido, pode-se entender, entre as linhas da ata final das
reuniões de Natal, a ênfase sobre o vínculo fraternal entre missionários e
pastores e o desejo destes que aqueles continuassem, ainda que em outras
regiões, no Brasil, num amoroso trabalho em conjunto. Foi uma obra prima de
mediação e costura de Pethrus, que conseguiu abafar a crise. Os termos e o
resultado do sigilo continuam ainda nos dias de hoje.
Naturalmente, a solução proposta pelo pastor da Filadélfia de Estocolmo
foi a esperada pelos obreiros nacionais, que recebiam em suas mãos a
liderança dos trabalhos mais desenvolvidos e antigos do país, como se pode
perceber entre as linhas do relatório de Pethrus:
Quando a questão foi
suficientemente exposta e ficou clara para
os obreiros locais de que se tratava, a
maioria deles foi tomada pela emoção. Eles
não podiam entender, disseram, como os
queridos missionários pudessem se separar
deles e deixar as igrejas organizadas, os
belos locais de culto e uma obra
estabelecida aos obreiros nativos para ir
para novos e não trabalhados campos. Mas
eles entenderam que os missionários
tomaram essa decisão por causa do amor a
Jesus e aos seus compatriotas, e que da
mesma maneira eles amariam os
missionários. Eles não colocaram objeções,
ao contrario, concordaram com o projeto
dos missionários (PETHRUS, 1930a, p. 708-
709, negrito nosso, tradução nossa).
92
Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, que reúne os ministérios ligados à e/ou
originados a partir da missão sueca.
congregacional, vital para o Pingströrelse 93, que aborrecia eventuais
organizações fiscalizadoras acima da igreja local. Nesse sentido:
O ministério pastoral relaciona-se ao
trabalho religioso prestado à comunidade. Por meio
da socialização, as crenças e as práticas sugeridas
pelo agente religioso ou sacerdote são
incorporadas pelo grupo. Tornar-se um agente
religioso é tornar-se dominante de um conjunto de
esquemas de pensamento e de ação referentes ao
sagrado (BANDINI, 2009, p. 14).
93
Movimento pentecostal da Suécia.
94
Testemunha da Verdade.
95
A Voz do Noivo.
96
O Escrito Mensal.
97
Arauto do Evangelho.
o Movimento pentecostal do país, e que já publicara diversas cartas e relatórios
dos missionários suecos do Brasil.
O “Boa Semente” e o “Som Alegre” foram publicados paralelamente até
a decisão tomada na conferência de Natal de 1930, quando foi decidida a
supressão de ambos e a constituição de um novo e único órgão oficial das
Assembleias de Deus no Brasil, o jornal “Mensageiro da Paz”, no Rio de
Janeiro, publicado até o dia de hoje. Envolvido no trabalho de redação do “Boa
Semente”, Nyström muito se esforçou, durante sua gestão em Belém, para
potenciar a abrangência e capacidade produtiva da tipografia que servia a
igreja do Pará, em colaboração com Nels J. Nelson. Em carta à Suécia,
comunicou:
114
115
94
100
Movimento pentecostal da Suécia.
Esse entendimento teológico foi ratificado pela conferencia de Berlim, no ano
de 1917, cujos ideais programáticos foram transcritos, na Suécia, no livro
Pingstväckelsens riktlinjer101. Suas diretrizes referentes à posição da mulher
seriam, sucessivamente, um dos modelos das decisões que foram tomadas
sobre o assunto em Natal, no ano de 1930. Para maior facilidade, são
reproduzidos aqui os parágrafos da obra acima citada que recitam a respeito
da questão feminina na igreja:
Aqui não é lugar para tratar principalmente
da questão do trabalho das irmãs. Desejamos
somente expressar nossa convicção que, para a
edificação da igreja, uma peculiar tarefa tem sido
destinada às irmãs, através das Escrituras que
tocam a respeito de seu gênero. Queremos lembrar
aqui, de muitas maneiras, a respeito dos falsos
entendimentos que penetraram no Cristianismo. De
um lado, os homens têm limitado, por muito tempo,
o serviço da mulher na igreja, restringindo sua
vocação somente ao ambiente familiar. Pois que
um excesso chama o outro, do outro lado não têm
faltado tentativas de equipar, dentro da igreja, o
trabalho das irmãs com o dos irmãos. Ambos esses
extremos são não naturais e antibíblicos. Possa,
portanto, o Espírito Santo nos dar as oportunas
diretrizes que foram propriamente definidas para o
sexo feminino e, contemporaneamente, deixar que
a multiforme vocação para o serviço no Evangelho,
“a obra do Senhor”, possa se tornar plenamente
em benção para o corpo de Cristo. De qualquer
jeito, não queremos errar a respeito do abençoado
trabalho feminino, que santas irmãs desempenham,
nesse tempo, entre nós. Nós, porém, refletimos
sobre as seguintes passagens bíblicas: Lc 8.1-3;
Mc 15.41; 16.7-11; Jo 26.17,18; Ap 1.14; 9.36-41;
18.26; 21.8-9; 1 Co 11.1a; 14.34, 35; Rm 16.1-4, 6, 12;
1 Tim. 2.8a; 5.3a; Tt 2.3-5; Êx 15: 20, 21; Jz 4 e 5.
Considerando esses textos, pode-se ver que
grande tarefa as nossas irmãs receberam para a
edificação da igreja de Deus na terra. De que forma
o trabalho das irmãs deva ser efetuado, em todas
as ocasiões, em referimento as diretrizes dadas,
uma vez por todas, pelo Espírito Santo, o Senhor
há de mostrar à sua igreja através da unção em
varias circunstâncias (PINGSTVÄCKELSENS
RIKTLINJER, 2009, p. 53-54, tradução nossa).
104
Movimento Pentecostal da Suécia.
A gráfica me dá um pouco de trabalho; tenho dois cooperadores fixos. O
jornal (o texto para a escola dominical está sendo autorizado agora para a
impressão, porque o tempo não permite fazer uma edição aprofundada dos
textos para a escola dominical, mas tenho que fazer uma forma mais fácil
desses textos, como fazemos na Suécia), a impressão de tratados e outros
escritos menores, tudo precisa ser lido por mim, para correção, porque não
tenho nenhuma pessoa competente à qual confiar esse trabalho. O cuidado
pastoral, numa igreja com cerca de 1.000 membros, fora as viagens e a
supervisão das muitas igrejas, cujos obreiros nativos esperam por conselhos e
direção. Além disso, a publicação de livros, bíblias, hinários e outros livros de
teor espiritual (NYSTRÖM, S., 1925a, p. 17, tradução nossa).
A ênfase pentecostal, importada do Movimento pentecostal da Suécia,
gira em volta da contemporaneidade dos dons do Espírito, do batismo no
Espírito Santo, com evidência do falar em línguas, das curas divinas
(VINGREN, F.; VINGREN, G., 1925c, p. 32). Vingren, que foi o único
missionário sueco das primeiras duas décadas a ter formal educação
ministerial de quatro anos, condensou sua compreensão teológica na
expressão “Evangelho pleno”, em carta à Suécia:
[...] pude assim me alegrar em Jesus junto
com aqueles simples filhos de Deus que não se
deixaram contagiar pela ilusão russelliana 105. Eu
acho que aqueles que têm vivido Jesus de perto
são os mesmos que creram nas velhas verdades
bíblicas: não somente na deidade de Cristo, mas
também no inferno eterno, não esquecendo o
batismo espiritual, o falar em línguas, a profecia e
sua expressão em línguas, e da cura física
mediante a oração, etc., em uma palavra o
Evangelho pleno. Vi mais que, onde a plena
verdade é exposta, lá opera Deus com os sinais
que acompanham. Sim, pelo poder de sinais e
maravilhas (VINGREN, 1916b, p. 11, tradução
nossa).
105
Charles Taze Russell, americano, foi o fundador das Testemunhas de Jeová. Sua doutrina apresenta a
Jesus Cristo como um ser criado, e não como o próprio Deus Eterno e Criador, e ao Espírito Santo como
uma força impessoal, e não como a terceira pessoa da Trindade.
O dispensacionalismo e o darbynismo pré-milenista 106 eram e ainda são
os paradigmas mais presentes na escatologia assembleiana brasileira 107. A
volta de Jesus era tida como iminente. Isso impulsionava os crentes
pentecostais à conquista das “almas 108”, antes da porta da graça se fechar.
Cristo não era visto, em sua volta, como Senhor e Juiz, implantador do reino de
Deus em sua definitiva plenitude, mas como o Noivo celestial que vem
arrebatar sua noiva, a Igreja, para levá-la às bodas do Cordeiro, no céu.
Escrevia o casal Vingren (1922, p. 138-139), aludindo ao arrebatamento da
igreja: “[...] a alegre mensagem de que Jesus morreu por causa de nossos
pecados e ressurgiu para nos justificar, e que Ele está voltando para levar os
que o amarem na hora de sua vinda.” Novamente, com alusão ao tribunal de
Cristo, depois do arrebatamento e antes das bodas do Cordeiro: “Logo, o dia
de trabalho se finda e Jesus volta para levar para casa os seus. Então, os
galardões serão distribuídos, segundo a fidelidade com a qual temos servido ao
Senhor Jesus” (VINGREN, F.: VINGREN, G., 1923, p. 285).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A maioria dos membros das Assembleias de Deus no Brasil não teria
alguma dificuldade a defender a idéia que o surgimento e a expansão da
denominação fora e está sendo uma obra de Deus. Estes crentes têm por
causa e matriz de sua identidade religiosa a vontade do Espírito Santo, e por
modelo a "igreja primitiva", como apresentada no livro de Atos dos Apóstolos.
Para muitos de fora da denominação, entre as igrejas tradicionais, ela foi e/ou é
uma obra do diabo. O mundo secular e relativista a vê, entretanto, como mais
um movimento de fanatismo religioso.
Deixando de lado as implicações espirituais, a análise científica da
questão mostra que as Assembleias de Deus têm apresentado, ao longo de
mais de cem anos de história, duas matrizes principais que influenciaram a
construção de sua identidade: a escandinava e a norte-americana. Essa
pesquisa socio-historiográfica evidenciou que, durante as duas primeiras e
cruciais décadas de existência da denominação, a influência escandinava,
particularmente a sueca, foi praticamente exclusiva e determinante na
formação do ethos das Assembleias de Deus no Brasil. Os paradigmas elitários
das missões protestantes estrangeiras presentes em solo brasileiro foram
substituídos pelo projeto simples e popular dos missionários pentecostais
suecos: viver e falar como o povo, para levar o Evangelho, sobretudo, aos
pobres do povo.
Nesse projeto, ou, como alguém afirmou, "acidente" (ALENCAR, 2010,
p. 156), os modelos nórdicos, presentes no Pingströrelse 113 da Suécia, foram
reproduzidos quase que integralmente na obra deste no Brasil, através da
missão pentecostal sueca. O corpo missionário sueco foi o veículo privilegiado
pelo qual o ethos do Movimento Pentecostal do Reino dos Sveas 114 foi
transmitido e reproduzido no produto de seu trabalho no maior país da América
Latina, as Assembleias de Deus no Brasil.
Evidenciou-se, também, que os ideais do ethos pentecostal sueco foram
mediados e, ao menos parcialmente, adaptados pelo contexto social, cultural,
religioso e econômico brasileiro. O agente mais importante dessa reformulação
foi o corpo dos obreiros nordestinos que foram preparados pelos suecos e
cooperaram com estes nos trabalhos nas regiões, sobretudo, do Norte e
Nordeste. Eles assumiram a direção da obra no ano de 1930, graças às
decisões tomadas na conferência de Natal, mas trabalharam lado a lado com
os escandinavos desde, praticamente, o começo da missão.
O resultado desse processo de construção da identidade assembleiana,
em parte forçoso e em parte forçado, talvez não tenha agradado inteiramente
aos missionários nórdicos. A síntese dos ideais suecos e nordestinos, todavia,
sinergizou os esforços missionários do Movimento das igrejas livres da Suécia.
Esse processo permitiu à obra missionária pentecostal no Brasil de se tornar o
maior e mais importante campo de atuação do Pingströrelse 115 fora de seu
país.
Pode-se afirmar, portanto, que a identidade assembleiana, peculiar e
persistente ao longo de um século de história, tem suas raízes no processo de
amalgamação da influência sueca e do ethos nordestino, que aconteceu
especialmente durante os anos de 1910 a 1930 (FRESTON, 1992). Essa
identidade hibrida permitiu às Assembleias de Deus de se tornar a maior
denominação pentecostal do planeta. Soli Deo gloria.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, Gedeon. Assembleias de Deus: origem, implantação e militância
(1911-1946). 1 ed. São Paulo: Arte Editorial, 2010.
113
Movimento pentecostal da Suécia.
114
Tradução literal de Sverige, Suécia em língua sueca.
115
Movimento pentecostal da Suécia.
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