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Unidade V
Pentecostalismo
Capítulo I
Quem são os Pentecostais?
Na antiguidade
Uma das primeiras heresias da Igreja Cristã, o Montanismo defendia um culto em
torno do Espírito Santo. Montano, originário da Ásia Menor, foi um sacerdote
convertido do culto pagão a Cibele. Ele rejeitava as autoridades eclesiásticas, a
hierarquia em torno dos bispos e as estruturas das paróquias. Esta atitude estava
ligada ao fato dele acreditar que a Igreja deveria ser dirigida pelo Espírito Santo
diretamente. Nos cultos promovidos pelo montanismo havia a manifestação do falar
em línguas estranhas.
Outras manifestações do culto ao Espírito Santo apareceram no século XII, XIII e
XIV. Numa Europa consumida pela fome e a guerra, surgiam grupos de peregrinos
penitenciais, conhecidos como “flagelantes”. A pé, quase nus, cantando e orando,
auto-flagelando-se com chicotadas nas costas, percorriam os locais de peregrinação
da Europa, Para eles quanto maior o sofrimento maior seria a chance de receber o
perdão dos pecados e de ser possuído pelo Espírito Santo. Os flagelantes tinham
visões, êxtases e falavam em línguas, que diziam ser dos anjos.
Devido aos abusos e violências que se seguiram a chegada às cidades, os adeptos
desse culto foram perseguidos e dados como extintos apenas no século XVIII.
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No Brasil
No Brasil o movimento pentecostal começou na cidade de Belém do Pará, no ano de
1911. Em abril daquele ano, Gunnar Vingren e Daniel Berg, dois crentes suecos,
chegaram a Belém, e se uniram à igreja Batista local. A igreja estava passando por
uma grave crise, com disputas internas e sem um ministério estável. O missionário
Eurico Nelson havia assumido o pastorado há pouco tempo e precisava viajar
constantemente para atender o campo de trabalho. Por isso os dois suecos lhe
pareceram uma boa ajuda para o ministério.
Nelson precisou viajar para o Piauí e os dois missionários suecos começaram a
ensinar o batismo com o Espírito Santo e o dom de línguas, durante a sua ausência.
Isso provou divisão da igreja e a maioria dos membros colocou-se ao lado das novas
idéias e práticas. Entretanto, mesmo sendo a minoria os batistas conseguir expulsar
da igreja a maioria pentecostalizada. O grupo dissidente deu origem a Igreja
“Assembléia de Deus”.
Na década de 1950 cresceu, no Brasil, o movimento pró-avivamento das igrejas que
se vinha esboçando entre as várias denominações. Apesar de ter um início com
bons propósitos, o movimento desviou-se do verdadeiro avivamento para adotar
práticas pentecostais, como se ambas realidades – avivamento espiritual e
pentecostalismo – fossem uma e a mesma coisa.
Entre os líderes deste movimento, destacara-se o pr. José Rego Nascimento,
conferencista de prestígio entre os batistas, e o pr. Enéias Tognini, que liderava a
igreja Batista de Perdizes e era diretor do Colégio Batista, em São Paulo.
Estes grupos, para distinguirem-se das igrejas tradicionais, adotaram a designação
de “renovado”.
Nos anos 1980, surgiram as igrejas neopentecostais: a Igreja Internacional da Graça
de Deus e a Igreja Universal do Reino de Deus. Os seus fundadores, o missionário
R. R. Soares e o pr. Edir Macedo, começaram o ministério juntos, mas logo cada um
abriu a sua própria igreja.
No rastro do sucesso deles, surgiu a Igreja Renascer em Cristo, Sara a Nossa Terra,
entre outras.
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Capítulo II
O batismo com o Espírito Santo
Capítulo III
Ocorrências de glossolalia no Novo Testamento
Durante a História da Igreja Cristã, nenhum outro dom tem causado maior polêmica
do que o de glossolalia – dom de falar em línguas desconhecidas (do grego glossa,
língua + lalia, ato de falar). O Movimento Pentecostal, que alega tê-lo restaurado em
nossos dias, acredita que a força da sua obra está no uso de todos os dons,
especialmente o de línguas. Além disso, diz que, se não aceitamos a manifestação
da glossolalia como legítima, estamos nos recusando a “voltar às origens do
cristianismo”. Mas esta afirmação leva-nos a um questionamento; é bíblico falar em
línguas estranhas? Que ensina o Novo testamento sobre este dom?
Analisemos as referências ao dom de línguas no texto sagrado:
1. Mc 16.17 e 18. Encontramos a primeira referência à manifestação do dom de
línguas no evangelho de Marcos. Esta passagem é usada para legitimar a prática
glossolálica atual. Alega-se que o dom seria um cumprimento das promessas de
Cristo à Sua Igreja. Deixando de lado as questões textuais e contextuais, basta
buscar no original a Expressão “novas línguas” para entender o que o Senhor queria
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dizer. No grego está glóssais laleosousi kanais, que aparece traduzida na Edição
Revista e Atualizada, de João Ferreira de Almeida, como “falarão novas línguas”.
Nessa passagem não foi usada a palavra néos, que apresenta o sentido de
“recente”, mas kainós, que se refere àquilo que já existe, porém é novo para quem o
tem. Ilustrando: se quiséssemos dizer que compramos um carro novo (0Km),
usaríamos o primeiro termo. Mas se fôssemos explicar que o carro foi comprado
recentemente, porém era velho, empregaríamos o segundo termo. Portanto, Jesus
está referindo-se ao falar em línguas já existentes, mas novas pra quem manifesta
possuir o dom de falá-las.
2. At 2.1-13. Este é um texto chave para entendermos as demais referências a esse
dom. Por ocasião da Festa do Pentecostes (do grego, cinqüenta, por que acontecia
cinqüenta dias depois da Páscoa). Lucas, nessa passagem, menciona dezessete
diferentes nacionalidades diferentes presentes à festa. Como muitos deles não
falavam a língua dos seus antepassados, isso se tornaria uma real dificuldade para
a pregação do Evangelho. O Espírito Santo solucionou este problema capacitado os
discípulos a falar nas línguas ali representadas, sem que eles as tivessem a
prendido previamente.
Alguns têm explicado essa manifestação como a capacidade dos estrangeiros
presentes de entender a pregação dos apóstolos. Mas esta interpretação esbarra
em dois problemas: em primeiro lugar, quem recebeu o Espírito Santo foram os
discípulos e não os estrangeiros. Portanto, quem deveria manifestar o dom eram os
primeiros e não os segundos. Por outro lado, esse não seria um dom de falar
línguas, mas de interpretar. Tal não é o caso. A confusão acontece porque Pedro
aparece discursando (versículo 14-34). Tem-se a impressão, com isso, de que
apenas ele está pregando. Porém, não aconteceu assim. Uma leitura atenta da
passagem em questão sugere um quadro em que cada um dos doze (caps. 1.267 a
2.14) recebeu a capacidade de falar em diferentes línguas (cap. 2.4). Ou seja, para
ilustrar, um apóstolo falou a um grupo de cretenses, outro a um grupo de árabes, e,
assim, todos ouviram, em suas próprias línguas, diferentes sermões sobre o mesmo
tema. Só depois da acusação, por parte dos que não entenderam o que estava
acontecendo, de que os discípulos estavam bêbados, foi que Pedro tomou a palavra
(versículo 14). Outros têm interpretado essa passagem como uma confirmação de
que o dom de línguas deve existir entre o povo de Deus. Entendemos que sim, mas
de que natureza deve ser esse dom? Falaram os apóstolos línguas estáticas, sem
sentido, ou elas eram semelhantes às faladas pelos homens, idiomas inteligíveis? A
simples leitura dessa passagem responde esta questão. Veja o versículo 6, em que
os perplexos estrangeiros comentam que “cada um os ouvia falar na sua própria
língua”, e o versículo 8, em que eles perguntaram de forma clara: “E como ouvimos
falar, cada um em nossa própria língua materna?” Veja também o versículo 11.
3. At 10.44-48. Nessa passagem há a descrição da experiência de Pedro com a
família de Cornélio. Antes de tudo, esse texto nega a tese básica dos carismáticos.
Conforme vimos, eles crêem ser o batismo com o Espírito Santo uma experiência
dada aos convertidos. Mas observe que, apesar de ser um prosélito piedoso e
temente a Deus (At 10.2), Cornélio não era salvo, pois o anjo disse-lhe que
procurasse Pedro, “o qual te dirá palavras mediante as quais será salvo” (cap.
11.14). Lucas conta que no meio da pregação “Pedro falava estas coisas quando
caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviram a Palavra” (cap. 10.44). Que
“coisas” eram essas? Segundo o versículo imediatamente anterior, “que por meio de
Seu nome, aquele que nEle crê recebe remissão de pecados” (versículo 43). Ou
seja, Cornélio e sua família receberam o Espírito Santo no momento da conversão.
Em segundo lugar, o “falar em línguas” (cap. 10.46) deve ser entendido como a
afirmação de que os gentios tinham direito aos privilégios da nova dispensação.
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Mesmo os que acompanhavam Pedro não acreditavam que “Deus não faz acepção
de pessoas” (cap.10.34), e esta experiência serviu para convencê-los do seu erro de
julgamento. Em terceiro lugar, o falar me línguas na casa de Cornélio em nada
diferiu do dom manifestado na Igreja, em At 2, pois Pedro, comentando sobre como
caiu o Espírito Santo sobre os gentios, disse que fora assim “como também sobre
nós, no princípio” (cap.11.15).
4. At 19.1-7. Paulo, em visita a Éfeso, encontrou um grupo de doze discípulos de
João (versículo 3), que não conheciam a cristo (versículo 4). Visto que Lucas usa a
mesma expressão de Atos 2 para classificar a manifestação que se deu de línguas
(versículo 6), devemos entender que ele está referindo-se ao dom idêntico ao de
Pentecostes.
Capítulo IV
Glossolalia em Corinto
Influência pagã
Para podermos entender a questão de línguas em Corinto precisamos estudar o
contexto cultural que a igreja vivia. Para Bittentcourt os corintos aprenderam línguas
estranhas no seu próprio meio entre os pagãos, não com os apóstolos. Primeiro
Corintios foi escrito antes do livro de Atos, portanto o que se sabia sobre o
pentecostes era a tradição oral. Isso podia criar vários maus entendidos.
O registro mais antigo não-cristão do falar em línguas remonta aos Oráculos de
Delfos. A cidade grega de Delfos ficava a menos de 80 km a noroeste do Corinto,
esses Oráculos floresceram no quinto século antes de Cristo e nos dias de Paulo
estavam em decadência. As pessoas tinham o costume de consultar os oráculos
para tomar decisões mais importantes. Os gregos acreditavam que o oráculo podia
saber a vontade dos deuses.
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O interessado nas predições deveria participar de um ritual de purificação e oferecia
sacrifícios. Depois era trazido para a presença de uma jovem mulher que era uma
sacerdotisa de Apolo. Ela dizia ser possuída por um espírito pitônico (nome de uma
serpente que tinha sido esmagada pelo deus Apolo). A jovem sacerdotisa sentia um
estado de frenesi emocional e começava a falar em línguas, pronunciando palavras
irreconhecíveis e estáticas. O sacerdote supostamente traduzia para um grego
inteligível e apresentava ao oráculo para que este respondesse ao interessado a
vontade dos deuses. A resposta era regularmente ambígua. O falar estático de
Delfos influenciou o falar em línguas na igreja em Corinto.
Nos templos pagãos, os gregos estavam acostumados a adorar os seus deuses na
forma de uma língua estranha, misteriosa, desconhecida e no momento em que eles
falavam eram dominados por suas emoções e um estado de euforia e alegria
tomava conta deles. Para ele esta era a forma mais elevada de adoração e ao
tornarem-se cristãos trouxeram esta prática para dentro da igreja.
“O apóstolo Paulo refere-se a dois tipos de línguas diferentes em 1 Corintios 14. Por
que ele cita dois tipos? A razão é porque um se referia à língua pagã e o outro ao
que foi falado no Pentecostes. Uma no singular e outra no plural. Ele escreveu para
a igreja de Corinto com o objetivo de orientá-los. A língua estática e misteriosa de 1
Coríntios 14 aparece no singular em contraste com línguas no plural no mesmo
capítulo. Este falar em língua no singular é a que tem origem pagã e está registrada
em 1 Coríntios 14 versos 2, 4, 13, 27 onde a versão King James Version (sic) traduz
por língua irreconhecível.... Assim ele expressa: ‘Vós bem sabeis que éreis gentios,
levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados’ (1Co 12.32). Paulo procurou
ordenar essa forma de adoração pagã que os coríntios, insistiam em continuar
praticando, mesmo após a conversão. No entanto, ele atribuiu primeiramente esses
costumes à ignorância dos que continuavam a praticá-los. ‘A respeito dos dons
espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes’ (1 Co 12.1). Podemos notar,
por esta declaração do apóstolo, que os cristãos da igreja de Corinto eram
totalmente ignorantes com respeito aos dons e entre eles estava incluindo o dom de
línguas. Qual é o sentido da palavra “ignorantes” usada nese texto? Significa que
eles não tinham conhecimento sobre o verdadeiro dom de línguas. Paulo queria
ajudá-los pois sabia que eles eram sinceros apesar dos seus erros. Por isso, a
seguir, em consideração à sinceridade dos que agiam desse modo, aplica-lhes os
princípios do amor descrito no capítulo 13: ‘O amor é paciente, é benigno..., tudo
sobre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta’ (1Co 13.4-7). Tudo espera. O quê? A
mudança de atitude dos coríntios.”2
Notamos claramente em 1 Coríntios 14 duas formas de falar em línguas:
A primeira expressão que aparece é falar em língua, no singular: 1Co 14.2, 4, 9, 13,
14, 19 e 27. Esta é a que era falada na igreja de Corinto e que Paulo
desaconselhou.
A segunda expressão é falar em línguas, no plural: 1 Co 14.5,6,18, 21, 22, 23, 39.
Foi aprovada por Paulo e também falada no dia de Pentecostes.
A única exceção, segundo MacArthur3, está em 1 Co 14.27, onde Paulo sem dúvida
fazia referência ao dom verdadeiro, mas mencionava um homem falando uma única
língua que demanda uma forma singular.