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História Eclesiástica 2

Heitor Belini

1. Introdução:

Conforme estudamos a respeito dos movimentos e denominações da história


cristã ao redor do mundo, percebemos que muitos deles se interligam. Já vimos
como a reforma está associada com o puritanismo, que está associado como o
movimento de santidade, que por sua vez originou outro movimento muito
importante na história, o pentecostalismo.

Este continua sendo o movimento religioso que mais cresce no Brasil. Mas
nem sempre seus membros são capazes de entender sua origem e
desenvolvimento. Verdade seja dita que os reformados e membros de outros
movimentos, em sua maioria, também não são capazes de fazê-lo.

O pentecostalismo chegou a ser visto como seita e muitas vezes as


experiencias vividas neste meio foram comparadas a algo demoníaco. Ainda
hoje há muita critica ao movimento, principalmente oriundas do meio reformado.
Mas, como ele responde a essas críticas, como surgiu e se desenvolveu ao longo
da história? É isso que veremos adiante.

2. A seita que nasceu em 1906

Acredito ser difícil algum cristão nunca ter ouvido falar sobre o movimento da
Rua Azusa, ocorrido no início do século passado. Isso acontece porque o
surgimento do pentecostalismo é associado a esse movimento que surgiu com
William Seymour em Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos. Não por
coincidência, a Igreja do Nazareno também foi fundada nesta cidade, no ano de
1895 por Phineas Bresee. A cidade era vista com um lar agradável para novas
ideias religiosas. Assim como a igreda fundada por Bresee, o pentecostalismo
também cresceu a partir da doutrina de santidade wesleyana. Ela era a posição
universal nos primeiros dias do pentecostalismo defendendo um triplo processo
de conversão, a santificação progressiva e batismo no Espírito Santo.
Antes de continuarmos, acredito ser importante falarmos sobre o uso do
termo “pentecostal” para descrever este movimento. Ele é derivado do episódio
ocorrido em Atos 2 durante a festa de Pentecostes, onde o Espírito Santo batizou
os apóstolos e todos aqueles que com eles estavam reunidos. Os pentecostais,
diferentemente dos carismáticos, acreditam que esse recebimento de poder do
Espírito Santo se dá em um momento posterior à conversão do indivíduo. Além
disso, uma das principais características da teologia pentecostal é a crença de
que o falar em línguas estranhas é a comprovação do batismo. Este último
aspecto, inclusive, foi um dos fatores que causou um distanciamento entre
pentecostalismo e o movimento de santidade, mas falaremos sobre isso mais
tarde.

William Saymour é reconhecidamente o “fundador” do movimento


pentecostal, mas antes dele alguns outros já haviam dado uma grande ênfase
na necessidade de um avivamento e também na questão das línguas estranhas.
Charles Fox Parham foi um avivalista que viajou os Estados Unidos propagando
sua visão teológica. Após um período dirigindo uma escola em Topeka, Kansas,
Parham se mudou para Hounston, Texas, e lá fundou uma escola bíblica para
propagar sua teologia. Foi nesta escola que William Saymour recebeu seu
treinamento teológico.

No Texas Saymour havia adotado as visões de santidade cristã e se juntado


a uma Igreja Episcopal Metodista Negra. Devido as leis vigentes quanto a
segregação racial nos Estados Unidos, Saymour não poderia ser aceito na
escola de Parham. Mas este o permitiu acompanhar as aulas do corredor,
deixando a porta da sala de aula aberta. Lá, Saymour foi ensinado por Parham
que, segundo sua compreensão, o movimento de santidade cometia um erro ao
afirmar que a santificação era também o batismo com o Espírito Santo. Que a
santificação limpa e purifica o crente, mas o batismo o empodera para o serviço.
Outro ponto importante pregado pela escola é de que qualquer batismo que não
for acompanhado do falar em línguas estranhas, não é o verdadeiro batismo do
Novo Testamento.

Como dissemos antes, anteriormente, este entendimento divergente a


respeito da evidência do batismo do Espírito Santo foi o ponto de ruptura entre
o pentecostalismo e o movimento de santidade. Inclusive o próprio Saymour
experimentou as consequências dessa divergência, ao ser impedido de
continuar pregando a respeito da evidência das línguas estranhas em igrejas de
santidade. Porém, é necessário ressaltar que tanto Parham como Seymour
mantiveram completamente a visão wesleyana da santificação ao longo das
suas vidas.

Conforme mencionado anteriormente, o pentecostalismo continua sendo o


que mais cresce no Brasil. Ele pode ser compreendido por aqui em três ondas.
A primeira onda se iniciou em um período relativamente próximo ao
pentecostalismo no cenário internacional. Em 1910 foi fundada a Congregação
Cristã e em 1911, em Belém do Pará, a Assembleia de Deus. Nos primeiros 40
anos, essas duas denominações dominaram o campo pentecostal brasileiro.

A segunda onda começos no início da década de 1950, em um momento em


que o pentecostalismo brasileiro era considerado o terceiro maior do mundo. As
principais igrejas deste período foram: a “Igreja do Evangelho Quadrangular”, em
1951, primeira de origem norte-americana, a “Igreja Pentecostal O Brasil para
Cristo”, em 1955, primeira igreja fundada por um brasileiro; e a “Igreja
Pentecostal Deus é Amor” em 1962, a qual trabalhou com as camadas mais
pobres da população. As características comuns a essas três igrejas são a “cura
divina”, a cura de enfermidades, como manifestação do “resultado da ação do
Espírito”, “libertação espiritual das forças malignas” (Dias, 2011: 379; Corten,
1996: 285), a apropriação das “mídias modernas”, a “benção por imposição das
mãos na cabeça”, a “unção de óleo” e a atenção voltada para as classes mais
baixas.

Já a terceira onda se deu no início dos anos 70 tendo como seu expoente a
Igreja Universal do Reino de Deus. Esse é o início daquilo que chamamos hoje
de neopentecostalismo, o qual é hoje a maior expressão do evangelismo no
Brasil e no mundo. Com certeza esse é o tipo mais “perigoso” de
pentecostalismo, uma vez que é expoente da teologia da prosperidade.

3. Considerações Finais:
Podemos concluir que o pentecostalismo é filho do movimento de santidade,
que por sua vez é filho do metodismo. Provando aquilo que dissemos na
introdução deste texto de que diversos movimentos cristãos que surgiram ao
longa da história surgiram de outros, para não dizer todos. Esse fato pode nos
ajudar a entender algumas semelhanças, mas além disso, deve nos servir de
alerta para que nos policiemos para tratar nossos irmãos de maneira digna,
independentemente de suas denominações.

É evidente que quando digo isso, me refiro aqueles que apresentem


divergências secundárias em relação uns aos outros. Há valores bíblicos que de
maneira alguma podem ser negociados por nós. É exatamente a respeito disso
que o apostolo Paulo fala em 1 Cor. 5.10-11: “Com isso não me refiro aos imorais
deste mundo, nem aos avarentos, aos ladrões ou aos idólatras. Se assim fosse,
vocês precisariam sair deste mundo. Mas agora estou lhes escrevendo que não
devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento,
idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem
comer.”

Infelizmente algumas denominações têm cada vez mais se afastado dos


princípios bíblicos. Cabe a nós pregar o verdadeiro evangelho, com amor e
entendendo que essas pessoas também são alvo do amor de Deus. Que o
Senhor nos capacite a cumprir nossa missão.

4. Bibliografia:

“O pentecostalismo no Brasil: uma reflexão sobre novas classificações” -


Mariana Reinisch Picolotto.

“A Jerusalém Americana - Rua Azusa”

Pentecostalismo - https://pt.wikipedia.org/wiki/Pentecostalismo

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