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“Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar.

De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual
estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram
sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras
línguas, conforme o Espírito os capacitava”.

Atos 2:1-4

Meu caro leitor, talvez você seja um reformado que veio de uma igreja pentecostal, ou
talvez você seja uma pentecostal “raiz”, mas que ainda não conhece as raízes e a história do
Movimento Pentecostal. O que se conhece do pentecostalismo muitas vezes é uma caricatura, ou
uma confusão com o movimento mais atual que é o Neopentecostalismo, esse que difere muito do
que realmente é o Pentecostalismo Clássico.

O presente artigo humilde e respeitosamente vem apresentar a você nuances das raízes de
um movimento fruto de um avivamento e de um zelo pela presença do Espirito Santo. O
pentecostalismo possui uma das histórias mais fascinantes dentro da história da igreja invisível de
Deus. Um movimento que dentre suas principais características pode-se citar o fervor
evangelístico, a busca pela santidade e a quebra de barreiras sociais. Meu objetivo é fazer você
conhecer a história do pentecostalismo e poder entender seu papel dentro da história da igreja.
Conhecer a gênese do Pentecostalismo Clássico nos faz valorizar a sua complexidade e dinamismo,
pois estamos diante de um fenômeno centenário e que deve ser visto em sua pluralidade, que
alcança hoje aproximadamente 500 milhões de seguidores em todo o mundo por conta de sua
multiplicidade e diálogo com culturas que condicionaram a sua origem e desenvolvimento em todo
o mundo.1

Para que você possa compreender como hoje o Pentecostalismo se tornou um dos
movimentos mais conhecidos dentre os protestantes, faz-se necessário conhecermos primeiramente
1) As origens do movimento pentecostal, como e porque esse movimento começou 2) O contexto
sociocultural, suas ênfases, controvérsias e 3) Sua importância no cenário evangélico
contemporâneo.

1- As origens do movimento pentecostal

Se fôssemos estabelecer, na história cultural do cristianismo, um ponto de partida para o estudo do


pentecostalismo, por onde começaríamos? Alguns atribuem a Montano, cristão do século II que
deu ênfase a recarismatização da cristandade. Segundo ele, por volta do ano 150, os cristãos já
haviam deixado de lado certos carismas, por exemplo: a glossolalia, que é o “falar em línguas”,
“receber revelações divinas” e os “sinais”, as “curas” e “maravilhas”. Para os que partem desse fato
acredita-se que as consequências da pregação de Montano influenciaram de forma intensa algumas
1
CAMPOS, Leonildo Silveira. As origens norte-americanas do pentecostalismo brasileiro: observações sobre
uma relação ainda pouco avaliada. Revista USP, n. 67, p. 100-115, 2005.
comunidades cristãs com um perfil semelhantes no decorrer do tempo. Em oposição a essa ideia
podemos ver que a história da igreja mostra nitidamente que Deus sempre avivou ou reavivou sua
Igreja, se manifestando de forma sobrenatural em várias ocasiões diferentes. Esses períodos da Era
Cristã foram marcados por reavivamentos maravilhosos, conversões muitas curas e sinais 2. O fato é
que quando se fala do movimento pentecostal temos que iniciar por outro lado. Para conhecermos
melhor e de fato a origem do pentecostalismo é necessário voltarmos até meados do século XIX e
início do século XX, quando o cenário da igreja mundial e o contexto norte-americano preparavam
o solo para o receber o avivamento que impactaria a vida de muitos naquele século e no seguinte.

O movimento pentecostal surgiu no contexto religioso norte-americano altamente


dinâmico. O cotidiano religioso das colônias inglesas da América do Norte havia sido
relativamente estável até meados do século XVIII, porém com o passar do tempo as influências do
puritanismo, pietismo alemão, do e do movimento metodista podese perceber ondas de mudanças
na cosmovisão religiosa. Durante as décadas de 1730 e 1740, quando aconteceu o Primeiro Grande
Despertamento trazendo revitalização às igrejas protestantes da época, passou-se a dar mais ênfase
ao aspecto emocional e independente das antigas estruturas e tradições, sendo motivados a
experimentar o sobrenatural. Essa ênfase foi se intensificando e com o surgimento do Segundo
Grande Despertamento, que ocorreu na região da fronteira oeste durante as primeiras décadas do
século XIX, as coisas foram ganhando contornos e temperaturas mais elevadas, se é que me
entendes.

Os historiadores apontam como responsável por esse aumento de temperatura as


pregações de Charles G. Finney (1792-1875) que influenciaram o aumento desse fervor, por seu
enfoque na soberania de Deus, e uma ênfase crescente na liberdade, iniciativa, capacidade de
decisão e experiência pessoal associada à sua sintonia com a nova cultura americana. Desde então,
o avivalismo, ou avivamentos3 dos séculos XIX e XX, atividades voltadas para a promoção de uma
vida espiritual mais intensa e fervorosa, se tornou uma característica permanente do cenário
religioso norte-americano. E é aqui que começamos a ver os primeiros passos rumo ao surgimento
do pentecostalismo. Essas experiências e buscas por mais de Deus e mais fervor ganharam os
“camp meetings” (conferências de avivamento) das zonas rurais e nas grandes campanhas
evangelísticas urbanas. E essa atitude como alguns historiadores defendem, vem dos irmãos
metodistas. Isso mesmo!

A maioria dos autores considera que a origem básica do movimento pentecostal


se encontra no metodismo wesleyano, e especificamente na doutrina mais característica de João

2
Disponível em : < http://iprb.org.br/_ANTIGO/artigos/textos/art101_150/art137.htm> acesso em: 10/11/20
3
A palavra “Avivamento” vem do verbo “avivar” que significa: tornar mais vivo, despertar, reanimar-se e
vivificar-se. John Stott conceitua avivamento como: “... uma visitação inteiramente sobrenatural do Espírito
soberano de Deus, pela qual uma comunidade inteira toma consciência de Sua santa presença e é
surpreendida por ela”. Ao longo da história da igreja muito desses momentos aconteceram e são
caracterizados segundo os historiadores por: arrependimentos de pecados, conversões, busca pela santidade e
impactos sociais.
Wesley: a “inteira santificação” ou “perfeição cristã”, que são conceitos que ele descrevia como
sendo para o cristão “a mente de Cristo”, ou a “plena devoção a Deus e amor a Deus e ao
próximo”. O teólogo entendia que essa era uma experiência que devia ser buscada com fervor pelo
cristão. Mas foi seu sucessor, John Fletcher que começou a descrever a plena santificação como um
batismo
do Espírito Santo em termos do Pentecoste do Novo Testamento, vemos esse termo dentre as
ênfases do movimento pentecostal. Fletcher apontava diferenças entre o seu entendimento e o de
seu antecessor, dizia que suas ideias podiam ser facilmente encontradas, sobre essa questão nos
sermões de Wesley sobre a Perfeição Cristã e sobre o Cristianismo Bíblico, mas com a seguinte
diferença; ele distinguia entre o crente batizado com o poder
pentecostal do Espírito Santo e o crente que, como os apóstolos após a ascensão
de nosso Senhor, ainda não está revestido desse poder. O pensamento de Fletcher também
contrastava com os pensamentos de Wesley em relação a divisão da história em três dispensações,
como por exemplo, ele acreditava que havia a dispensação do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
tendo essa última iniciado no advento do Pentecostes e se estendendo até a segunda vinda de
Cristo.

Nas primeiras décadas do século XIX, ainda durante o Segundo Grande Despertamento, o
metodismo experimentou um crescimento notório nos Estados Unidos. Os ideais metodistas e suas
práticas passaram a fazer presença no modo de viver dos cristãos de muitas outras denominações.
Entre essas ideias e práticas pode-se citar o estilo de pregação espontânea que vinha carregada de
forte conteúdo emocional, os pelos insistentes seguidos de assistência espiritual aos convertidos,
características presentes também no pentecostalismo clássico que bebeu dessa fonte que é o
metodismo americano. Aqui nesse momento já se pode notar a participação de mulheres falando e
orando em reuniões para ambos os sexos, (fato esse que se repetiria após Azusa) e também a forte
ênfase na teologia arminiana.

No Terceiro Grande Despertamento difundiu-se os ideais dos movimentos de santidade e


de perfeição cristã. Desse modo, o contexto avivamentista norteamericano moldou o pensamento
metodista em novas direções. Nas décadas posteriores à Guerra Civil (1861-1865), o ideal de
santificação dava às pessoas sofridas por uma guerra civil terrível e pela falta de um norte seguro,
uma grande oportunidade para o encontro de regras seguras, inflexíveis e indiscutíveis para a vida
cotidiana. Em outras palavras, enquanto a demanda por vida espiritual crescia, a população buscava
reconstruir a nação e o caminho da religião parecia o mais seguros para eles. Dessa forma a
santidade cristã passa a ser entendida em termos como batismo com o Espírito Santo, considerada
então uma “segunda bênção”, distinta da conversão. Nesse momento também deu-se ênfase
crescente ao Pentecoste como um padrão para os avivamentos e a importância de resgatar a
vitalidade e o poder do cristianismo primitivo.
Muitas igrejas metodistas e de outras denominações que abraçaram o movimento
“holiness” e sua teologia passaram a criar as suas próprias associações. A primeira foi a Associação
Nacional Holiness que com o passar do tempo, alguns líderes começaram a falar no “batismo com
o Espírito Santo e com fogo”, agora como sendo uma terceira experiência na vida cristã, distinta
tanto da conversão quanto da plena santificação. Esse movimento narrado até aqui valorizava a
experiência do batismo “com”, “do” ou “no” Espírito Santo, e o fato do Pentecoste em atos 2. Mas
ainda falta um ultimo acontecimento para que possamos ver onde realmente surgiu o que hoje
entende-se como pentecostalismo clássico.

Até que em 1900 o pregador metodista Charles Fox Parham criou um instituto bíblico na
cidade de Topeka, Estado do Kansas, lembrando que já havia ocorrido a manifestação de línguas
em anos anteriores nos Estados Unidos, assim como em outros períodos da história do cristianismo.
A novidade estava na teologia de Parham, pois ele foi o primeiro a considerar que o “falar em
línguas” era a evidência inicial do batismo no Espírito Santo. E essa foi um dos lemas que se
tornou a marca distintiva do movimento pentecostal. Foi na virada do século, em que Parham e
seus alunos realizaram um culto de vigília em seu instituto bíblico para aguardar a entrada do novo
século. Agnes Ozman, uma jovem evangelista de 30 anos, pediu que lhe impusessem as mãos para
que ela recebesse o Espírito Santo assim como em Atos, a fim de ser missionária fora de sua terra.
Quando lhes impuseram as mãos ela começou a falar em línguas, fenômeno esse que se repetiu nos
dias seguintes com outras pessoas da escola, inclusive Parham. O movimento de Parham recebeu
diferentes nomes, como: fé apostólica, movimento pentecostal ou chuva serôdia (ou “chuva tardia”
citada em Oséias 6:3) todos os quais apontavam para características marcantes da nova
cosmovisão.

A esse respeito podemos citar mais um dos personagens que marcam o inicio do
movimento pentecostal, a jovem Agnes e William Joseph Seymour, esses sempre são apresentados
como marcos inaugurais ou referências históricas do pentecostalismo, incluindo Charles Fox
Parham. Mas é com William Joseph Seymour que veremos o pontapé do movimento que
conhecemos hoje, o tão famoso Avivamneto de Azusa.

Em 1905, Charles Parham mudou-se para o Texas e iniciou uma escola bíblica em
Houston. Um de seus estudantes era um exgarçom negro, filho de ex-escravos e pregador holiness,
era William Joseph Seymour (1870-1922). Lembremos que Era um período marcado pela
discriminação racial no sul dos Estados Unidos e Parham como alguns historiadores afirmam era
racista por isso Seymour assistia às aulas sentado em uma cadeira no corredor ao lado da sala.
Algumas semanas mais tarde, ele recebeu o convite para visitar um pequeno grupo batista em Los
Angeles. Esse grupo de afroamericanos, pastoreado por uma mulher, Julia Hutchins, havia sido
expulso de sua igreja por esposar doutrinas holiness. Todavia, Seymour por ser filho de ex-
escravos, tinha pouca cultura, não possuía uma boa oratória e era cego de um olho. Escolheu o
texto de Atos 2,( sim, o texto que abre esse artigo) para ser base do seu primeiro sermão, embora
nunca tivesse falado em línguas antes. Com o tempo acompanhado por boa parte do grupo, passou
a fazer as reuniões periódicas na casa onde estava hospedado, mas o local foi se tornando pequeno,
mudaram-se então para outra um pouco maior, na Rua Bonnie Brae, onde o avivamento começou
no dia 9 de abril de 1906. Com o passar dos dias, várias pessoas começaram a falar em línguas,
primeiro negros, depois brancos, e finalmente o próprio Seymour teve essa tão sonhada
experiência. Nesse mesmo dia, a varanda da frente dessa residência desabou devido ao peso da
multidão. Com isso, os líderes alugaram um rústico edifício de madeira na Rua Azusa, perto do
centro de Los Angeles. Não havia hinários, liturgia ou ordem de culto. Os homens clamavam e
saltavam através do salão; as mulheres dançavam e cantavam. Há relatos que algumas pessoas
entravam em transe e caiam prostradas antes mesmo de chegarem à casa por uma verdadeira
convicção de pecado. Até setembro,13.000 pessoas passaram pelo local e ouviram a nova
mensagem pentecostal. A imprensa escrevia artigos ridicularizando os fenômenos presenciados.
Um dos artigos levava o seguinte título: “Estranha babel de línguas”. O artigo funcionou como
propaganda gratuita e logo em seguida ocorreu o Avivamento da Rua Azusa propriamente dito,
onde muitos americanos negros, brancos e classes sociais diferentes se renderam a Cristo e ao
mover do Espirito Santo.

O que se pode ver é que movimento pentecostal tem dois fundadores: Charles Parham e
William Seymour. Cabe a Parham umas das afirmações fundamentais do pentecostalismo, o
de que o falar em línguas como a evidência visível do batismo com o Espírito Santo. E a figura de
Seymour, o discípulo de Parham, que fez de Azusa o cenáculo de 1906, a ele se dá a liderança do
Avivamento da Rua Azusa, e ponto de onde o pentecostalismo se tornou um fenômeno
internacional. Nos Estados Unidos, as primeiras denominações pentecostais foram, entre outras: a
Igreja de Deus de Camp Creek (Carolina do Norte), a Igreja de Deus de Cleveland (Tennessee) e a
Igreja da Fé Apostólica (Portland, Oregon).

2) O contexto sociocultural do pentecostalismo e suas controvérsias.

A historiografia do movimento ressalta a liderança de Seymour, um negro, filho de ex-escravos,


que se tornou celebridade por causa dos eventos do avivamento Azusa. Mas também faz-se
necessário falar do teor sociocultural do pentecostalismo, que por vezes é pouco abordado, pois é
no contexto social e cultural das raízes dos sujeitos que protagonizaram o movimento que se pode
entender o porquê desse movimento se tornar a explosão do século e mais como sua propagação foi
rápida.
como não é impossível nesse breve artigo falar de todo o contexto social, cultural e
econômico da sociedade norte-americana, tanto da passagem do século XIX para o XX, o que se
pode dizer do do pentecostalismo, em uma breve análise de sua gênese é que o poder do Espírito
estava rompendo as barreiras de separação entre ricos e pobres, brancos e negros.

O Espírito de Deus, assim acreditavam os pioneiros do pentecostalismo, estava usando o filho de


ex-escravos, Willian Seymour, para romper como o que eles chamavam de “the color line”, a linha
de cor. E é necessário mencionar também o sentimento de desterro que tomava o peito de muitos
dos descendentes de africanos que foram trazidos para ser escravo na América, o sentimento de
sentir-se um estranho e não acolhido. Muitos tinham a ideia de que os crentes dessas igrejas
holiness-pentecostais combinavam bem o sentimento de “exílio” com a busca da “santidade”.
Sentiam que eles eram os “santos no exílio”, pois estavam no mundo, mas não se sentiam parte do
mundo segregacionista. Assim o pentecostalismo os ajudava na construção de um sentido para a
vida, a despeito de condições raciais extremante injustas.

Reside nessa característica de conversar diretamente com a cultura local em que está
inserido e na sua base dinâmica e de múltiplas interpretações as controvérsias que o movimento
pentecostal ao longo dos anos foi ganhando novas ramificações que fugiram das ênfases por
santidade e evangelismo e ganharam novas nuances, por isso se confunde muito o
neopentecostalismo, que dá ênfase aos bens e as bênçãos, a riqueza e a vitória do crente. Alguns
erroneamente tem associado e confundido o neopentecostalismo com o meio pentecostal clássico.
Segundo Leonildo Campos isso ocorre pelo fato que:

durante o seu processo de expansão e de institucionalização, esse


movimento religioso se fragmentou em inúmeras seitas, denominações
e igrejas em todo o mundo, assumindo características e fisionomias
locais, que hoje dão a ele a complexidade que chega às vezes a
confundir analistas menos cuidadosos desse fenômeno.

Aqui no Brasil o movimento pentecostal que chegou em 1910-11, vindo dos missionários
de Azusa dos Estados Unidos. 60 anos mais tarde, depois de se expandir à margem e dentro das
fronteiras do protestantismo tradicional, das práticas litúrgicas, das teologias e das formas
pentecostais de ver o mundo, o pensamento pentecostal chegou até Igreja Romana, por meio da
Renovação Carismática Católica.

Há também as controvérsias que marcaram e dividiram o movimento ao longo dos anos,


sejam por motivos teológicos, sejam por motivos sociais. Abaixo cito alguns deles, para vermos
que uma das características é sua pluralidade :

I- A “obra consumada”

Essa foi a primeira ruptura na família pentecostal. A controvérsia se dava porque em 1910, William
H. Durham, pastor da Missão da Avenida Norte, em Chicago, questionou algumas das ideia de
Wesley, insistindo no que ele denominou a “obra consumada no Calvário”, ou seja, o fato de que a
obra de Cristo na cruz era suficiente tanto para a salvação quanto para a santificação. Os
pentecostais da obra consumada passaram a entender a santificação como
um processo gradual. Ao contrário daqueles que seguiam a ideia de que existia uma experiência
instantânea de “inteira santificação” ou “perfeição cristã”, separada da experiência da conversão.
Hoje da maioria dos pentecostais clássicos acreditam na obra consumada.
II- A questão racial

Apesar de em sua gênese, o Avivamneto Azusa trazer um modelo de cooperação inter-racial e


alguns líderes pentecostais brancos e negros se esforçavam para tornar essa visão inter-racial um
elemento básico do pentecostalismo, muitos líderes brancos acharam difícil manter essa ligação.
Com as leis de segregação racial do sul dos Estados Unidos tudo se dificultou e muitas igrejas
negras começaram a se retirar de denominações multi-raciais já em 1908, por conta do racismo.

III- O movimento da unicidade

A controvérsia em questão estava pondoe m discussão o batismo, em que o pastor canadense


Robert Edward McAlister começou a dizer queo Novo Testamento mostrava
os apóstolos batizando apenas “em nome de Jesus”. Essa prática começou
a ser adotada por muitos pentecostais através do país. Para alguns no início parecia apenas uma
nova fórmula para o batismo, mas com o tempo verificou-se como uma rejeição da doutrina da
Trindade com sua tríplice distinção de pessoas.
Assim em 1916, as Assembléias de Deus condenaram oficialmente as posições do movimento de
unicidade ou “Jesus somente” e os adeptos desse pensamento se desligaram e formaram as suas
próprias denominações.

3) Conclusão: Sua importância no cenário evangélico contemporâneo.

Devemos entender que o Pentecostalismo brasileiro nunca foi homogêneo em razão de suas
diferenças internas. O sociólogo Ricardo Mariano classifica-o em três vertentes: Pentecostalismo
Clássico, Deuteropentecostalismo e Neopentecostalismo. A primeira vertente do Pentecostalismo
no Brasil provèm dessa gênese norte-Americana e é chamada de “Pentecostalismo Clássico”, que
abrange o período de 1910 a 1950. Aqui vemos surgir uma das denominações chaves, a Igreja
Assembleia de Deus, que se difundiu em todo território nacional. Caracterizada pelo
anticatolicismo, ênfase na crença no Espírito Santo e por rejeitar os valores do mundo e defender a
plenitude da vida moral. Essa vertente constitui a maior Igreja Evangélica brasileira representada
pela Assembleia de Deus atualmente.

Com as mudanças do cenário e evangélico brasileiro e mundial, vemos que por conta dos
excessos muitos dentro de igrejas pentecostais, buscando não cair no neopentecostalismo e também
confrontá-lo, alguns descobriram as doutrinas reformadas e outros tentam alinhar o continuísmo
dos dons do pentecostalismo, seu fervor com o zelo pela escrituras e pela tradição dos reformados.
Seria possível um pentecostal ser reformado? Não, a autora desse artigo não possui tanta
inteligência para argumentar tal assunto, mesmo sendo ele hoje um dos assuntos mais importantes
para se responder a outra pergunta do cenário evangélico ( eu sei que você está curioso).
Talvez por ser historiadora, eu costumo dizer aos meus irmãos e alunos que os
acontecimentos históricos eles não nascem da noite para o dia e sem um porquê. Assim como em
Eclesiastes o pregador deixa claro que tudo debaixo desse sol escaldante tem um propósito
( Ec.3.1) a narrativa histórica da humanidade é permeada por perguntas, assim os fatos históricos se
olhado com bastante atenção trazem as respostas para essas perguntas. Longe de mim tentar
entender a história da igreja apenas pelo viés do historicismo, até porque sabemos que Deus se
revela através de sua palavra e da história de/para com o seu povo, assim a história da igreja é mais
teólogica que histórica.

O que quero dizer é que assim como Paulo fala aos coríntios sobre a diversidade do corpo
de Cristo, ele ali não está falando para uma denominação específica, batista, presbiteriana, não! Ele
está falando da multiforme graça de Deus que atua em seus corpo, a noiva, a Igreja invisível, ligada
pelo Espirito a um só cabeça, Cristo. E a história do Movimento pentecostal, assim como todas as
outras aqui mostradas anteriormente só reforçam como essa igreja invisível funciona em tanta
diversidade, apesar de cada uma possuir suas controvérsias. O pé, a boca, as mãos e porque não
honrar os membros que achamos mais desonrosos ou que não efetuam ou por não possuírem as
mesmas funções características os descartamos?

Hoje, o pentecostalismo é um dos maiores movimentos evangélicos no mundo. E no Brasil,


a magnitude do pentecostalismo é evidente a todos os observadores. Há muitos anos esse segmento
congrega a maioria dos protestantes. De acordo com o Censo de 2000, dos 26,2 milhões de
evangélicos brasileiros, 17,7 milhões são pentecostais (67%). A Casa publicadora das Assembleia
de Deus ( CPAD ) é uma das maiores referencias para literatura cristã e nosso país, incluindo sim,
literatura reformada, alguns chegam a dizer que se uma reforma na igreja se iniciar, será de dentro
das igrejas pentecostais.

Espero meu amado irmão, que a jornada de artigos até aqui tenha lhe feito enxergar erros e
cada denominação, sim, pois é nas nossas imperfeições que vemos a graça a Deus atuando em seu
povo. Há acertos, á lutas, tradições, controvérsias e unidade. Que os artigos aqui expostos, apesar
de limitados, possam nos fazer pensar que há sempre um caminho mais excelente, o Amor !

Maely Mesquita

E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que
do alto sejais revestidos de poder. Lucas 24:49

 
CAMPOS, Leonildo Silveira. As origens norte-americanas do pentecostalismo brasileiro:
observações sobre uma relação ainda pouco avaliada. Revista USP, n. 67, p. 100-115,
2005.

DE MATOS, Alderi Souza. OMovimento PENTECOSTAL: REFLEXÕES A


PROPÓSITO DO SEU PRIMEIRO CENTENÁRIO. Fides Reformata, 2006.

SYNAN, Vinson. O século do Espírito Santo: 100 anos de avivamento pentecostal e


carismático. Editora Vida, 2009.
http://iprb.org.br/_ANTIGO/artigos/textos/art101_150/art137.htm

https://domtotal.com/noticia/1258786/2018/05/movimento-pentecostal-e-neopentecostal-
diferencas-e-semelhancas/

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