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Prova em processo penal

Constituem objeto da prova todos os factos


juridicamente relevantes para:

1.a existência ou inexistência do crime;


2. a punibilidade ou não punibilidade do arguido;
e
3.a determinação da pena ou da medida de
segurança aplicáveis.
- art.º 124º, n.º 1, do CPP

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Prova em processo penal

Se tiver lugar pedido civil, constituem igualmente


objeto da prova os factos relevantes para a
determinação da responsabilidade civil.

- art.º 124º, n.º 2, CPP

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Prova em processo penal

Em princípio, todas as provas são admissíveis,


desde que sejam relevantes para a decisão do
litígio e não estejam proibidas por qualquer
disposição legal.
Art.º 125º do CPP.

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Prova em processo penal
A lei portuguesa proíbe as provas fundadas na
violação da integridade física e moral do agente e
as provas que violem ilicitamente a privacidade –
art.º 126º do CPP.

Estamos perante dois graus de desvalor de provas


obtidas contra as cominações legais, sendo maior
o desvalor ético-jurídico das provas obtidas
mediante os processos referidos no n.º 1 e 2 do
art.º 126º CPP.
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Prova em processo penal
Esse diferente grau de desvalor tem reflexo nas nulidades
cominadas; «enquanto as provas obtidas pelos processos
referidos nos números 1 e 2 estão fulminados com uma
nulidade absoluta, insanável e de conhecimento oficioso»;

As provas obtidas mediante o processo descrito no n.º 3


são dependentes de arguição, e portanto sanáveis, pois
que não são apontadas como insanáveis no art. 119.º ou
em qualquer outra disposição da lei.

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Prova em processo penal
Métodos proibidos de prova – nulidade
absoluta:
• provas obtidas mediante tortura;
• Provas obtidas mediante coação;
• Provas obtidas mediante ofensa à integridade
física ou moral (maus tratos, ofensas corporais, hipnose,
meios cruéis, degradantes, enganadores, ou que perturbem a
liberdade de decisão, utilização de força, ameaças ou
promessa de vantagens inadmissíveis).

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Prova em processo penal

Métodos proibidos de prova – nulidade relativa


– sanável (proibidos se obtidos sem
consentimento):
Prova obtida mediante intromissão:
• Na vida privada;
• No domicílio;
• Na correspondência;
• Nas telecomunicações.
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Prova em processo penal

Princípio da livre apreciação da prova.


- art.º 127º CPP

Salvo disposição da lei em contrário, a prova é


apreciada segundo as regras da experiência e a
livre convicção.

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Prova em processo penal

I. Prova Testemunhal
II. Depoimento Indirecto
III. Prova por Acareação
IV. Declarações para Memória Futura
V. Protecção de Testemunhas
VI. Estatuto da Vítima

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I. PROVA TESTEMUNHAL
1. CONCEITO

– Meio de prova resultante de declarações de pessoas físicas


respeitantes a factos
• Meio de prova
• Declaração sobre factos (sem efeitos jurídicos)
• Pessoas colectivas?
– Não – apenas seus representantes/funcionários podem ter conhecimento a
transmitir

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I. PROVA TESTEMUNHAL
2. Objecto e limites do depoimento – artigo 128.º CPP

Artigo 128.º CPP - Objecto e limites do depoimento

2.1. Objecto do depoimento – factos juridicamente relevantes que


constituam objecto da prova, de que a testemunha tenha conhecimento
(quem? o quê? onde? com quê? como? quando?).

• Factos juridicamente relevantes:


– todos os que interessam à boa decisão da causa (com excepção dos factos
notórios, ou seja todos aqueles que são do conhecimento geral (guerra, ciclone,
terramoto, tornado, um determinado feriado, etc.), pois estes não necessitam de
prova – art. 412.º do CPC):

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I. PROVA TESTEMUNHAL
2. Objecto e limites do depoimento – artigo 128.º CPP

• Factos juridicamente relevantes:


– todos os que interessam à boa decisão da causa:

• Factos relativos à determinação da existência ou inexistência de um


determinado crime:
– Elementos objectivos constitutivos do tipo de crime
– Elementos subjectivos do tipo de ilícito
– A culpa; inimputabilidade por anomalia psíquica
– Causas de exclusão da ilicitude e da culpa
• Factos relativos à punibilidade ou não da conduta do arguido (isto é,
punibilidade do facto típico).

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I. PROVA TESTEMUNHAL
2. Objecto e limites do depoimento – artigo 128.º CPP

• Factos relativos à determinação da pena ou da medida de segurança aplicáveis


– os factos concretos relativos:
– Grau de ilicitude do facto, o modo de execução deste e a gravidade das suas
consequências; os sentimentos manifestados no cometimento do crime e os fins
ou os motivos que o determinaram, etc. – artigo 71º do Código Penal
– Atenuação especial da pena (circunstâncias relevantes para)
– Grau de perigosidade do agente, no caso de internamento de inimputáveis –
arts. 91.º e seg.; e de interdição de actividades – arts. 100.º e ss. do CP;
• Factos relativos à determinação da responsabilidade civil conexa com a
responsabilidade criminal. Os factos concretos que traduzam:
– Pressupostos da responsabilidade civil por factos ilícitos, e em especial os danos
patrimoniais e não patrimoniais sofridos pelo lesado – arts. 483.º, 496.º e 562.º
a 566.º do Código Civil;

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I. PROVA TESTEMUNHAL
2. Objecto e limites do depoimento – artigo 128.º CPP

• Factos necessários à decisão sobre determinados incidentes processuais (v.g.


aplicação de medidas de coacção ou de garantia patrimonial), de nulidades,
irregularidades e proibições de prova – Os factos concretos que permitam:
– Por exemplo, verificação em concreto do perigo de continuação da actividade
criminosa, tendo em vista a aplicação de uma determinada medida de coacção;
– A determinação da existência ou não de coacção ou de tortura na obtenção de
um determinado depoimento;
– Factos atinentes à credibilidade de uma testemunha ou à validade ou
idoneidade de um determinado meio de prova, etc..

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I. PROVA TESTEMUNHAL
2. Objecto e limites do depoimento – artigo 128.º CPP

2.2. Delimitação do objecto da prova


• O depoimento é delimitado pelo conhecimento directo da testemunha sobre os
factos que constituem objecto de prova no processo;
• Conhecimento - assente na sua percepção da realidade através dos seus sentidos
(visão, audição, olfacto, tacto e paladar);
– Importância da razão de ciência sobre os factos;

2.3. Limites do depoimento


• Factos relativos à personalidade e ao carácter do arguido, bem como às suas
condições pessoais e à sua conduta anterior (artigo 128/2 do CPP)
– Salvo na medida indispensável à prova de elementos constitutivos do crime
– Salvo no momento de determinação pena ou da medida de segurança (césure)
• Testemunhas abonatórias

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I. PROVA TESTEMUNHAL
2. Objecto e limites do depoimento – artigo 128.º CPP

Artigo 130.º CPP - Vozes públicas e convicções pessoais

• Inadmissibilidade legal dos depoimentos que se limitem a reproduzir vozes ou


rumores públicos
– Proibição de prova (de valoração)

• A proibição é relativa, pois tais depoimentos podem ser admitidos nos casos de ser incindíveis
da parte do depoimento sobre os factos concretos, ou por terem lugar em função de qualquer
ciência, técnica ou arte, ou quando ocorrerem no estádio de determinação da sanção.

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I. PROVA TESTEMUNHAL
3. Capacidade e dever de testemunhar – artigo 131.º CPP

IArtigo 131.º CPP - Capacidade e dever de testemunhar

este3.1. Regra
Qualquer pessoa tem capacidade e dever de testemunhar
– Recusa de testemunho – crime previsto e punido pelo
artigo 360.º, n.ºs 1 e 2, CP
munhar – artigo 131.º CPPI. PROVA TESTEMUNHAL
3. Capacidade e dever de testemunhar – artigo 131.º CPP

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I. PROVA TESTEMUNHAL
3. Capacidade e dever de testemunhar – artigo 131.º CPP

3.2. Excepção – interditos por anomalia psíquica (?)


• Não - vale a regra geral:
– Nem todas as pessoas que padecem de anomalia psíquica são
declaradas interditas. Mesmo uma pessoa com tais patologias, pode, em
concreto, ser capaz de depor sobre determinados factos;
– Nos casos em que o interdito por anomalia psíquica é ofendido, obstar a
que o mesmo possa prestar depoimento sobre os factos e deles dar a
sua versão, configura uma relevante restrição dos seus direitos,
incompatível com os princípios da dignidade da pessoa humana, da
igualdade e da não discriminação e do direito de acesso aos tribunais e
à tutela jurisdicional efectiva.

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I. PROVA TESTEMUNHAL
3. Capacidade e dever de testemunhar – artigo 131.º CPP

o Como proceder:
o Aplica-se regra geral do n.º 2 – A autoridade judiciária verifica a
aptidão física ou mental de qualquer pessoa para prestar
testemunho, quando isso for necessário para avaliar da sua
credibilidade e puder ser feito sem retardamento da marcha normal
do processo.
o Depois, livre apreciação;

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I. PROVA TESTEMUNHAL
3. Capacidade e dever de testemunhar – artigo 131.º CPP

3.3. Aptidão física e mental para prestar depoimento (artigo 131/2 CPP)

• Havendo dúvida sobre a aptidão física ou mental da pessoa para testemunhar, a


autoridade judiciária deve verificá-lo, utilizando os meios que entender por
convenientes, incluindo (artigos 131/2, 154.º, 269/1a), 270/2b) e 3, do CPP):

– Perícia física (INMLCF)


– Perícia psiquiátrica (INMLCF)
– Perícia psicológica (INMLCF ou DGRSP)
– Perícia sobre a personalidade, se se tratar de menor de 18 anos e estiver em causa
crime contra a liberdade ou autodeterminação sexual (artigo 131º, nº 3, do CPP) -
(INMLCF ou DGRSP)

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I. PROVA TESTEMUNHAL
3. Capacidade e dever de testemunhar – artigo 131.º CPP

• Estas perícias visam apenas apurar da capacidade para prestar depoimento – aferir
da sua credibilidade caberá sempre e apenas ao julgador (e para isso as perícias
poderão ter grande utilidade)
– O perito não se deve pronunciar sobre a veracidade de um testemunho, competência essa que
é do tribunal, e ainda que possa expor considerações sobre estrutura lógica, quantidade de
detalhes, contexto, elaboração e estrutura da narrativa, descrição de interacções, correcções
espontâneas, detalhes supérfluos, admissão de falhas de memória, que de algum modo ajudem
o Tribunal a ajuizar da credibilidade de um testemunho. Considera-se perigoso verter aos autos
matéria subjectiva, apresentada como científica, e que à partida se presume “subtraída à livre
apreciação do julgador” (artigo 163.º do CPP).
– Acórdão S.T.J. De 7/12/1999, Proc.530/99, 5ª secção - “com a perícia mencionada no art. 131º,
nº 3 do C.P.P., visa-se determinar o estado de desenvolvimento do menor, especialmente no
plano psíquico, o grau de maturidade, em ordem a detectar se possui ou não capacidade para
compreender, avaliar e relatar factos que digam respeito a si ou a outrem; elementos esses
coadjuvantes do tribunal, que lhe permitem avaliar da credibilidade que deve ser atribuída ao
testemunho prestado ou a prestar”.
• Testemunha alcoolizada?
– A circunstância de uma testemunha, à data da ocorrência dos factos, se encontrar alcoolizada, não
constitui impedimento legal para depor em julgamento. Ac. STJ de 27-01-2009, CJ (STJ), T1, pág.208
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I. PROVA TESTEMUNHAL
4. Direitos e deveres das testemunhas – artigo 132.º

Artigo 132.º CPP - Direitos e deveres da testemunha

4.1. Deveres
• Se apresentar, no tempo e no lugar devidos, à autoridade por quem tiver sido
legitimamente convocada ou notificada, mantendo-se à sua disposição até ser por
ela desobrigada;
– Independentemente de quem convoca (tribunal, MP, OPC, perito), do lugar onde resida,
de onde seja o local onde deve comparecer e da fase do processo;
– Falta injustificada de comparecimento – condenação em multa processual e eventual
ordem de detenção – artigo 116.º do CPP)
• A ausência de condições económicas / práticas para a viagem pode justificar a ausência;

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I. PROVA TESTEMUNHAL
4. Direitos e deveres das testemunhas – artigo 132.º

• Prestar juramento, quando ouvida por autoridade judiciária (artigo 91.º


CPP)
– Excepção – menores de 16 anos (artigo 91/6)
• Obedecer às indicações que legitimamente lhe forem dadas quanto à
forma de prestar depoimento;
• Responder com verdade às perguntas que lhe forem dirigidas
– Sob pena de incorrer em responsabilidade criminal
• Sem juramento – artigo 360/1 (6 meses a 3 anos ou multa não
inferior a 60 dias)
• Com juramento – artigo 360/2 (prisão até 5 anos ou de multa até
600 dias)

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I. PROVA TESTEMUNHAL
4. Direitos e deveres das testemunhas – artigo 132.º

4.2. Direitos
– NB: é recomendável que se informem as testemunhas dos seus direitos

• Direito à não auto-incriminação


– A testemunha não é obrigada a responder a perguntas quando alegar que das respostas
resulta a sua responsabilização penal – artigo 132/2 do CPP
– Apenas quanto a perguntas concretas - não pode recusar por completo o depoimento
• A recusa da testemunha a responder, enquanto expressão e garantia do seu privilégio
contra a sua auto-incriminação, não permite que ela se recuse a testemunhar na sua
totalidade, mas apenas e tão-só às perguntas de onde possa surgir o perigo da sua
responsabilização penal. Ac. STJ de 20-06-2012. CJ (STJ), 2012, T2, pág.206

• Direito a escolher morada para efeitos de notificação


– Para o efeito de ser notificada, a testemunha pode indicar a sua residência, o local de
trabalho ou outro domicílio à sua escolha - artigo 132/3 do CPP

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I. PROVA TESTEMUNHAL
4. Direitos e deveres das testemunhas – artigo 132.º

• Direito a fazer-se acompanhar por advogado


– O advogado não pode ser defensor do arguido
– O advogado informa a testemunha, quando entender necessário, dos direitos que lhe
assistem;
– Fora isso, não pode intervir na inquirição;
– Não há mandato - não há procuração no processo;
– Se a testemunha não se fizer acompanhar por advogado, mas disser que pretende ser
assistida por um e que não tem meios económicos de o suportar?
• Interrupção e “apoio judiciário”

• Direito a compensação pelas despesas suportadas


– artigo 317º do CPP, aplicável por analogia: a requerimento dos convocados, o juiz pode
arbitrar uma quantia calculada em função das tabelas aprovadas pelo Ministério da
Justiça, a título de compensação das despesas realizadas;
• Regulamento das Custas Processuais – artigo 17.º, n.º 5, e tabela IV (1/500 UC/km =
0,204€)

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I. PROVA TESTEMUNHAL
5. Impedimentos – artigo 133.º

Artigo 133.º CPP – Impedimentos

• Arguidos e co-arguidos no mesmo processo ou em processos conexos,


enquanto mantiverem aquela qualidade;
• Verdadeiro impedimento – não depende da vontade do arguido
• Tutela do direito à não auto-incriminação
• Conexões – artigo 24.º do CPP
• Só existe enquanto a pessoa mantiver a qualidade de arguido
– Cessa com o arquivamento (definitivo), a não pronúncia, a
absolvição
– Extinção da pena?

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I. PROVA TESTEMUNHAL
5. Impedimentos – artigo 133.º

– Em caso de separação de processos, os arguidos de um mesmo crime ou


de um crime conexo, mesmo que já condenados por sentença transitada
em julgado, só podem depor como testemunhas se nisso expressamente
consentirem – n.º 2
• Não é impedimento – é faculdade concedida ao arguido
• Tem de manter ainda a qualidade de arguido
– Vício?
• Proibição de prova (artigo 126/1d)?

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I. PROVA TESTEMUNHAL
5. Impedimentos – artigo 133.º

• As pessoas que se tiverem constituído assistentes, a partir do momento da


constituição (artigos 133/1b) e 145.º do CPP)
– A prestação de declarações pelo assistente e pelas partes civis fica sujeita ao regime de
prestação da prova testemunhal, salvo no que lhe for manifestamente inaplicável e no que
a lei dispuser diferentemente – artigo 145/3

• As partes civis (artigos 133/1b) e 145.º do CPP)


– A prestação de declarações pelo assistente e pelas partes civis fica sujeita ao regime de
prestação da prova testemunhal, salvo no que lhe for manifestamente inaplicável e no que
a lei dispuser diferentemente – artigo 145/3

• Os peritos, em relação às perícias que tiverem realizado (artigos 133/1b), 157.º e


158.º do CPP)
– Prestam esclarecimentos complementares – artigo 158.º, n.º 1, alínea a)

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I. PROVA TESTEMUNHAL
6. Recusa de depoimento – artigo 134.º

6.1. Quem tem o direito de recusa de depoimento?

 Podem recusar-se a depor como testemunhas os seguintes familiares e afins do


arguido (artigo 134.º CPP e artigos 1576.º e seguintes do CC):
o Descendentes até ao segundo grau (filha/filho, enteada/enteado, genro/nora e neta
e neto do próprio ou do cônjuge)
o Ascendentes até ao segundo grau (pai/mãe, madrasta/padrasto, sogro/sogra, avó e
avô do próprio ou do cônjuge)
o Irmão/irmã (cunhado/cunhada)
o Adoptantes
o Adoptados
o Cônjuge
o Quem tiver sido cônjuge do arguido ou quem, sendo de outro ou do mesmo sexo,
com ele conviver ou tiver mantido convivência em condições análogas às dos
cônjuges, relativamente a factos ocorridos durante o casamento ou a coabitação
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I. PROVA TESTEMUNHAL
6. Recusa de depoimento – artigo 134.º

 Co-arguidos?
 Apenas em caso de comparticipação
 A recusa a depor consagrada no artigo 134.º, n.º 1, als. a) e b), do CPP, apenas se
reporta a testemunha que com determinado arguido mantém um dos elos
expressamente descritos naquela norma, não abrangendo também testemunha
que, em relação a arguido, não se encontra numa das relações enunciadas no
mesmo artigo, se, nestes casos, inexistir qualquer forma de comparticipação entre
este arguido e o outro especialmente visado no dito preceito legal. A aceitação de
recusa de depoimento de testemunha fora dos domínios supra enunciados, também
consubstancia a nulidade acima descrita. Ac
. TRC de 3-06-2015, p. 9/12.1PELRA-G.C1, Jorge França

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I. PROVA TESTEMUNHAL
6. Recusa de depoimento – artigo 134.º

6.2. Advertência
 A entidade competente para receber o depoimento adverte, sob pena de
nulidade, as pessoas referidas da faculdade que lhes assiste de recusarem prestar
depoimento
 Se não advertir?
A omissão de advertência configura uma proibição de prova, resultante da
intromissão na vida privada (artigo 126º/3 do CPP) - Costa Andrade, PPA,
STJ 11.02.2015, 182/13.1PAVFX.S1

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I. PROVA TESTEMUNHAL
6. Recusa de depoimento – artigo 134.º

6.3. Depoimento
 A recusa em depor tem de respeitar a toda a matéria relacionada com o arguido
relativamente ao qual existem laços familiares, não podendo limitar-se a parte dessa
matéria, ou apenas a pontos de facto concretamente escolhidos pela testemunha –
Ac. TRL 05.04.2016, P. 181/13.3GCALM.L1-5, José Adriano.

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I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

7.1. Segredo profissional e religioso


Artigo 135.º CPP - Segredo profissional

 Sujeitos do direito/dever de segredo:


 Ministros de religião ou confissão religiosa (artigo 15.º da Lei 16/2001)
 Advogados (artigos 92.º do Estatuto da Ordem dos Advogados e Regulamento de
Dispensa de Segredo Profissional (n.º 94/2006 OA, de 25 de Maio de 2006)
 Médicos (artigos 13/c do Estatuto da Ordem dos Médicos e 67.º do Código Deontológico
da Ordem dos Médicos)
 Médicos dentistas (artigos 12/1c do Estatuto da Ordem dos Médicos Dentistas e 21.º do
Código Deontológico da Ordem dos Médicos)

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I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

 Enfermeiros (artigos 85.º do Estatuto da Ordem dos Enfermeiros)


 Farmacêuticos (artigos 101.º e seguintes do Estatuto da Ordem dos
Farmacêuticos)
 Terapeutas não convencionais - Acupunctura, homeopatia, osteopatia,
naturopatia, fitoterapia, quiropraxia (artigo 10.º da Lei 45/2003)
 Pessoal hospitalar (artigo 57.º do Estatuto Hospitalar)
 Responsáveis do tratamento de dados pessoais, bem como as pessoas
que, no exercício das suas funções, tenham conhecimento dos dados
pessoais tratados (artigo 17.º da Lei da Protecção de Dados Pessoais)
 Jornalistas (artigo 11.º do Estatuto do Jornalista) 34
I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

 Sujeitos do direito/dever de segredo:


 Solicitadores (artigo 110.º do Estatuto da Câmara dos Solicitadores)
 Instituições de crédito e sociedades financeiras (artigo 78.º e 79.º, n.º 2,
alínea d), do RGICSF, na redacção da Lei 36/2010)
 Administração Tributária (artigo 64.º da Lei Geral Tributária
 Operadoras de comunicações electrónicas (artigo 4.º da Lei 41/2004)

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I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

 Quebra do segredo:
o Se a escusa for ilegítima (facto não coberto pelo segredo ou autorização do seu
titular)
o O próprio tribunal ordena, oficiosamente ou a requerimento, a prestação do
depoimento ou da informação;
o Incidente em caso de dúvidas fundadas sobre a legitimidade ou justificação da
invocação do segredo profissional (artigo 135.º, n.ºs 2 a 4, do CPP):
 A autoridade judiciária perante a qual o incidente tiver sido suscitado procede
às averiguações necessárias (incluindo audição do organismo representativo da
profissão)
 Após, cabe ao Tribunal de 1.ª instancia decidir:
 Se concluir pela ilegitimidade da escusa, a autoridade judiciária ordena ou
requer ao tribunal que ordene a prestação de depoimento (despacho
recorrível)
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I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

 Se concluir pela legitimidade da escusa, o tribunal ordena oficiosamente a


subida ao tribunal de recurso, para decisão sobre a justificação da escusa
(despacho irrecorrível)
o Neste último caso, cabe ao tribunal superior decidir (despacho
recorrível):
 Declarar injustificada a escusa e ordenar a prestação do
depoimento
 Declarar justificada a escusa, pelo que não há lugar à prestação
de depoimento

– Fundamentos: Princípio da prevalência do interesse preponderante,


nomeadamente tendo em conta a imprescindibilidade do depoimento para a
descoberta da verdade, a gravidade do crime e a necessidade de protecção de bens
jurídicos (artigo 135/3 do CPP), devendo ser ouvido o organismo representativo da
profissão (artigo 135/4 do CPP)

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I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

 Segredo bancário:

– A Lei 36/2010, de 2 de Setembro, alterou o RJICSF no sentido de excepcionar


do regime de segredo bancário o fornecimento de elementos às autoridades
judiciárias, afastando a aplicação do regime geral de segredo profissional
constante do art. 135/3 do CPP;
– Desta forma, o Tribunal Superior deixa de ser a entidade competente para
decidir a prestação de depoimento abrangido por segredo bancário;
– Na fase de inquérito, as informações terão de ser prestadas à autoridade
judiciária competente - Ministério Público;
– A recusa da prestação de informação ao Ministério Público será ilegítima,
devendo aplicar-se o regime previsto no art. 135/2 do CPP.

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I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

 Segredo religioso – especificidades – art. 135/1 e 5, do CPP, arts. 15.º e


16/2 da Lei 16/2001 (Lei da Liberdade Religiosa):

 Sujeitos do direito/dever de segredo:


 Ministros de religião ou confissão religiosa (artigo 15.º da Lei 16/2001)
 Particularidades do segredo religioso:
 Neste caso todas as escusas legítimas são também justificadas, pelo que não
são aplicáveis os n.ºs e 4 do artigo 135.º do CPP, por força do disposto no seu
n.º 5.
 Há apenas lugar à certificação da qualidade de ministro de religião ou confissão
religiosa, pelos órgãos competentes das respectivas igrejas ou comunidades
religiosas (artigo 15.º da Lei 16/2001 e Parecer 119/90 de 10 de Janeiro do
CCPGR)

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I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

 Violação de segredo

 Não se prevê uma proibição de prova no caso de a testemunha obrigada a


segredo não ter invocado o seu direito de escusa. Assim, o depoimento é válido
e pode ser valorado no processo.

 O obrigado ao segredo que o não invoca pode cometer crime de violação de


segredo profissional (artigo 195.º do CP)

 O segredo profissional é estabelecido em benefício do “cliente”, pelo que este


pode renunciar a tal benefício (PPA, Ac STJ de 17/05/2007, CJSTJ, 2007, II, p.
191)

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I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

Artigo 136.º
Segredo de funcionários
1 - Os funcionários não podem ser inquiridos sobre factos que constituam segredo
e de que tiverem tido conhecimento no exercício das suas funções.
2 - É correspondentemente aplicável o disposto nos n.ºs 2 e 3 do artigo anterior.

 Conceito de funcionário (artigo 386.º do CP)


 Segredo
 Profissão-a-profissão…
 A testemunha deve escusar-se a depor sobre factos que estejam abrangidos pelo
segredo de funcionário
 Não o fazendo, pode cometer crime de violação de segredo por funcionário (artigo 383.º
do CP) ou de violação de segredo profissional (artigo 195.º do CP)
 Pode haver autorização do superior hierárquico
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I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

 Incidente em caso de dúvidas fundadas sobre a legitimidade ou justificação da


invocação do segredo (artigo 135/2 e 3, do CPP, por remissão do artigo 136.º do
CPP)
 Limites ao segredo: não há dever de segredo quando estejam em causa factos de
denúncia obrigatória;
 Os funcionários não podem ser inquiridos sobre factos que constituam segredo e
de que tiverem tido conhecimento no exercício das suas funções.
 Se forem, proibição de prova (proibição de produção e proibição de valoração)?
 Sim, Costa Andrade, PPA;
 Mas as proibições de prova não têm carácter absoluto?... (neste caso, pode haver
quebra do segredo)
 Proibição de prova por violação de regras procedimentais?

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I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

Artigo 137.º
Segredo de Estado
1 - As testemunhas não podem ser inquiridas sobre factos que constituam segredo de
Estado.
2 - O segredo de Estado a que se refere o presente artigo abrange, nomeadamente, os
factos cuja revelação, ainda que não constitua crime, possa causar dano à segurança,
interna ou externa, do Estado Português ou à defesa da ordem constitucional.
3 - A invocação de segredo de Estado por parte da testemunha é regulada nos termos
da lei que aprova o regime do segredo de Estado e da Lei-Quadro do Sistema de
Informações da República Portuguesa.
 Lei do Segredo de Estado - Lei n.º 6/94
 Regime do Segredo de Estado – Lei Orgânica n.º 2/2014
 Lei Quadro do Sistema de Informações da República Portuguesa – Lei n.º 30/84
 Regime especial para agentes dos serviços de informações

43
I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

 As testemunhas não podem ser inquiridas sobre factos que constituam segredo de
Estado.

 Âmbito subjectivo:
o funcionários (artigo 386.º do CP)
o qualquer outra pessoa que conheça factos que constituam segredo de Estado

 A testemunha deve escusar-se a depor sobre factos que constituam segredo de


estado
o Não o fazendo, pode cometer crime de violação de segredo de Estado (artigo
316/1 do CP)

44
I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

 Procedimento do incidente no caso de a testemunha invocar segredo de Estado


(artigo 137/3 do CPP):

o Regime geral:
 Se a autoridade judicial considerar injustificada a recusa em depor ou prestar
declarações, comunica o facto à entidade detentora do segredo, que justifica a
manutenção ou não da recusa.

o Regime especial dos serviços de informação:


 Se a autoridade judicial considerar injustificada a recusa do funcionário, agente
ou dirigente dos serviços de informações em depor ou prestar declarações
adoptada nos termos do número anterior, comunicará o facto ao Primeiro-
Ministro, que confirmará ou não tal recusa.

45
I. PROVA TESTEMUNHAL
7. Escusas de depoimento - Invocação de Segredos

 Limites ao segredo: não há dever de segredo quando estejam em causa factos de


denúncia obrigatória
 Artigo 7.º da LO 2/2014 - Os documentos e as informações que constituam ele-
mentos de prova respeitantes a factos indiciários da prática de crimes contra a
segurança do Estado devem ser comunicados às entidades competentes para a sua
investigação, não podendo ser mantidos sob segredo de Estado, salvo pela entidade
detentora do segredo e pelo tempo estritamente necessário à salvaguarda da
segurança interna e externa, bem como à independência nacional e à unidade e
integridade do Estado e à salvaguarda dos interesses fundamentais do Estado.
 Esta norma estabelece uma proibição de produção e de valoração de prova no caso
de a testemunha obrigada a segredo não se ter escusado quando devesse fazê-lo. O
depoimento só é válido se o Ministro da Justiça não confirmar o pedido de escusa.
(PPA)

46
I. PROVA TESTEMUNHAL
8. Imunidades e Prerrogativas

Artigo 139.º
Imunidades, prerrogativas e medidas especiais de protecção
1 - Têm aplicação em processo penal todas as imunidades e prerrogativas estabelecidas
na lei quanto ao dever de testemunhar e ao modo e local de prestação dos
depoimentos.
3 - Fica assegurada a possibilidade de realização do contraditório legalmente admissível
no caso.

 Especificidades:
o Circular da PGR 3/2011, de 11/10/2012 - Procedimentos a adoptar por todos os
órgãos e serviços do Ministério Público no relacionamento com os órgãos de
soberania e seus titulares:
 o respectivo expediente deverá ser encaminhado, via hierárquica, através da
Procuradoria-Geral da República;
 a inquirição não pode ser delegada em órgão de polícia criminal;
47
I. PROVA TESTEMUNHAL
8. Imunidades e Prerrogativas

 Deputados na Assembleia da República

 Não podem ser ouvidos como declarantes sem autorização da Assembleia -


artigo 157.º, n.º 2, da CRP, e artigo 11.º do Estatuto dos Deputados

 Circular da PGR n.º1/2003, de 29/04/2003 – Estatuto dos Deputados –


Inquirição ou interrogatório como arguido de deputados
 Quando, no decurso do inquérito, o magistrado do Ministério Público julgar
necessária a audição de um Deputado da Assembleia da República como
testemunha, ou na qualidade de assistente, ou ainda na de lesado não
constituído assistente, esse magistrado deverá dirigir ele mesmo ao
Senhor Presidente da Assembleia da República pedido de autorização
para esse efeito. De tal pedido deverá constar a subsunção jurídico-penal
dos factos indiciados, a respectiva moldura penal, e, sendo caso disso, a
alusão a eventual perigo de prescrição.

48
I. PROVA TESTEMUNHAL
8. Imunidades e Prerrogativas

 Deputados das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas

 Açores – artigo 14.º, n.º 1, do DECRETO LEGISLATIVO REGIONAL Nº. 19/90/A DE


20 DE NOVEMBRO (Os Deputados não podem, sem autorização da Assembleia
Legislativa Regional, no período de funcionamento efectivo do Plenário ou da
Comissão Permanente, nos restantes casos, ser jurados, peritos ou
testemunhas nem ser ouvidos como declarantes nem como arguidos)

 Madeira – artigo 23.º, n.º 2, do Estatuto Político-Administrativo da Região


Autónoma da Madeira (Os deputados não podem ser ouvidos como declarantes
sem autorização da Assembleia)

49
I. PROVA TESTEMUNHAL
8. Imunidades e Prerrogativas

 Prerrogativas de inquirição – Código de Processo Civil (aplicável por força


do artigo 139/1 CPP)
Artigo 503.º (art.º 624.º CPC 1961)
Prerrogativas de inquirição
1 - Gozam da prerrogativa de ser inquiridos na sua residência ou na sede dos respetivos
serviços:
a) O Presidente da República;
b) Os agentes diplomáticos estrangeiros que concedam idêntica regalia aos repre-
sentantes de Portugal.
2 - Gozam de prerrogativa de depor primeiro por escrito, se preferirem, além das
entidades previstas no número anterior:
a) Os membros do Conselho de Estado;
b) Os membros dos órgãos de soberania, com exclusão dos tribunais, e dos órgãos
equivalentes das Regiões Autónomas;
c) Os juízes dos tribunais superiores; 50
I. PROVA TESTEMUNHAL
8. Imunidades e Prerrogativas

d) O Provedor de Justiça;
e) O Procurador-Geral da República e o Vice-Procurador-Geral da República;
f) Os membros do Conselho Superior da Magistratura, do Conselho Superior dos
Tribunais Administrativos e Fiscais e do Conselho Superior do Ministério Público;
g) Os oficiais generais das Forças Armadas;
h) Os altos dignitários de confissões religiosas;
i) O bastonário da Ordem dos Advogados e o presidente da Câmara dos Solicitadores.
3 - Ao indicar como testemunha uma das entidades designadas nos números anteriores,
a parte deve especificar os factos sobre que pretende o depoimento.

51
I. PROVA TESTEMUNHAL
8. Imunidades e Prerrogativas

Artigo 504.º (art.º 625.º CPC 1961)


Inquirição do Presidente da República
1 - Quando se ofereça como testemunha o Presidente da República, o juiz faz a respetiva
comunicação ao Ministério da Justiça, que a transmite, por intermédio da Presidência do Conselho
de Ministros, à Presidência da República.
2 - Se o Presidente da República declarar que não tem conhecimento dos factos sobre que foi
pedido o seu depoimento, este não tem lugar.
3 - Se o Presidente da República preferir, relata por escrito o que souber sobre os factos; o tribunal
ou qualquer das partes, com o consentimento do tribunal, podem formular, também por escrito e
por uma só vez, os pedidos de esclarecimento que entenderem.
4 - Da recusa de consentimento prevista no número anterior não cabe recurso.
5 - Se o Presidente da República declarar que está pronto a depor, o juiz solicita à Secretaria-Geral
da Presidência da República a indicação do dia, hora e local em que deve ser prestado o
depoimento.
6 - O interrogatório é feito pelo juiz; as partes podem assistir à inquirição com os seus advogados,
mas não podem fazer perguntas ou instâncias, devendo dirigir-se ao juiz quando julguem
necessário algum esclarecimento ou aditamento.
52
I. PROVA TESTEMUNHAL
8. Imunidades e Prerrogativas

Artigo 505.º (art.º 626.º CPC 1961)


Inquirição de outras entidades
1 - Quando se ofereça como testemunha alguma pessoa das compreendidas na alínea b) do
n.º 1 do artigo 503.º, são observadas as normas de direito internacional; na falta destas, se a
pessoa preferir depor por escrito, aplica-se o regime dos números seguintes; se não, é
fixado, de acordo com essa pessoa, o dia, hora e local para a sua inquirição, prescindindo-se
da notificação e observando-se quanto ao mais as disposições comuns.
2 - Quando se ofereça como testemunha alguma pessoa das compreendidas no n.º 2 do
artigo 503.º, é-lhe dado conhecimento pelo tribunal do oferecimento, bem como dos factos
sobre que deve recair o seu depoimento.
3 - Se alguma dessas pessoas preferir depor por escrito, remete ao tribunal da causa, no
prazo de 10 dias a contar da data do conhecimento referido no número anterior, declaração,
sob compromisso de honra, relatando o que sabe quanto aos factos indicados; o tribunal e
qualquer das partes podem, uma única vez, solicitar esclarecimentos igualmente por escrito,
para a prestação dos quais se estabelece um prazo de 10 dias.

53
I. PROVA TESTEMUNHAL
8. Imunidades e Prerrogativas

4 - A parte que tiver indicado a testemunha pode solicitar a sua audiência em tribunal,
justificando devidamente a necessidade dessa audiência para completo esclarecimento do
caso; o juiz decide, sem recurso.
5 - Não tendo a testemunha remetido a declaração referida no n.º 3, não tendo respeitado
os prazos ali estabelecidos, ou decidindo o juiz que é necessária a sua presença, é a mesma
testemunha notificada para depor.

54
I. PROVA TESTEMUNHAL
9. Medidas especiais de protecção

Artigo 139.º
Imunidades, prerrogativas e medidas especiais de protecção
2 - A protecção das testemunhas e de outros intervenientes no processo contra formas
de ameaça, pressão ou intimidação, nomeadamente nos casos de terrorismo,
criminalidade violenta ou altamente organizada, é regulada em lei especial.
3 - Fica assegurada a possibilidade de realização do contraditório legalmente admissível
no caso.

55
I. PROVA TESTEMUNHAL
9. Medidas especiais de protecção

• Lei de protecção de testemunhas (Lei n.º 93/99)


– Âmbito subjectivo
• Testemunhas, seus familiares, pessoas que com elas vivam em condições análogas às
dos cônjuges e outras pessoas que lhes sejam próximas (quando a sua vida,
integridade física ou psíquica, liberdade ou bens patrimoniais de valor
consideravelmente elevado sejam postos em perigo por causa do seu contributo para
a prova dos factos que constituem objecto do processo)
• Pessoas especialmente vulneráveis (pode resultar, nomeadamente, da sua diminuta
ou avançada idade, do seu estado de saúde ou do facto de ter de depor ou prestar
declarações contra pessoa da própria família ou de grupo social fechado em que
esteja inserida numa condição de subordinação ou dependência), mesmo que se não
verifique o perigo
– Meios de protecção processual
• Ocultação - ocultação da imagem ou com distorção da voz, ou de ambas, de modo a
evitar-se o reconhecimento da testemunha.
• Teleconferência - pode ser efectuada com a distorção da imagem ou da voz, ou de
ambas, de modo a evitar-se o reconhecimento da testemunha.
• Reserva do conhecimento da identidade da testemunha 56
I. PROVA TESTEMUNHAL
9. Medidas especiais de protecção

– Medidas e programas especiais e segurança


– Medidas processuais especiais para testemunhas especialmente vulneráveis
• Deverá ser designado um técnico de serviço social ou outra pessoa
especialmente habilitada para o seu acompanhamento e, se for caso disso,
proporcionar à testemunha o apoio psicológico necessário por técnico
especializado.
• Afastamento temporário
• Inquirição durante o inquérito
– deverá ter lugar o mais brevemente possível após a ocorrência do crime
– deverá ser evitada a repetição da audição da testemunha especialmente
vulnerável durante o inquérito,
– poderá ser requerido o registo nos termos do artigo 271.º do Código de
Processo Penal

57
I. PROVA TESTEMUNHAL
9. Medidas especiais de protecção

• Inquirição após o inquérito - O juiz que presida a acto processual público ou


sujeito ao contraditório, com vista à obtenção de respostas livres, espontâneas
e verdadeiras, pode:
– a) Dirigir os trabalhos de modo que a testemunha especialmente vulnerável
nunca se encontre com certos intervenientes no mesmo acto, designadamente
com o arguido;
– b) Ouvir a testemunha com utilização de meios de ocultação ou de
teleconferência, nomeadamente a partir de outro local do edifício do tribunal;
– c) Proceder à inquirição da testemunha, podendo, depois disso, os outros
juízes, os jurados, o Ministério Público, o defensor e os advogados do assistente
e das partes civis pedir-lhe a formulação de questões adicionais.

• Regulamento da lei de protecção de testemunhas (Decreto-lei nº 190/2003)


• Regime jurídico aplicável à prevenção da violência doméstica, à protecção e à
assistência das suas vítimas (Lei n.º 112/2009)
58
I. PROVA TESTEMUNHAL
9. Medidas especiais de protecção

• Instrumentos internacionais relevantes nesta matéria:


• Nações Unidas:
– Declaração dos Princípios Básicos de Justiça para as Vítimas de Crime e Abuso de Poder,
adoptada pela Resolução da Assembleia Geral 40/34 de 29/11/1985
• Conselho da Europa:
– Convenção relativa à indemnização de vítimas de crimes violentos, celebrada em
Estrasburgo, em 24 de Novembro de 1983,
– Convenção sobre a prevenção e combate da violência contra as mulheres e a violência
doméstica, celebrada em Istambul em 11/05/2011
– Recomendação n°R (85) 11 sobre a posição da vítima no âmbito do direito penal e do
processo penal
– Recomendação n°R (87) 21 sobre assistência às vítimas e prevenção da vitimização
– Recomendação n°R (90) 2 sobre as medidas sociais respeitantes à violência na família
– Recomendação n°R (93) 2 sobre os aspectos médico-sociais dos maus tratos infligidos às
crianças
– Recomendação nºR (2002) 5 sobre a protecção das mulheres contra a violência
59
I. PROVA TESTEMUNHAL
10. Regras de Inquirição

Artigo 138.º
Regras da inquirição
1 - O depoimento é um acto pessoal que não pode, em caso algum, ser feito por intermédio
de procurador.
2 - Às testemunhas não devem ser feitas perguntas sugestivas ou impertinentes, nem
quaisquer outras que possam prejudicar a espontaneidade e a sinceridade das respostas.
3 - A inquirição deve incidir, primeiramente, sobre os elementos necessários à identificação
da testemunha, sobre as suas relações de parentesco e de interesse com o arguido, o
ofendido, o assistente, as partes civis e com outras testemunhas, bem como sobre quaisquer
circunstâncias relevantes para avaliação da credibilidade do depoimento. Seguidamente, se
for obrigada a juramento, deve prestá-lo, após o que depõe nos termos e dentro dos limites
legais.
4 - Quando for conveniente, podem ser mostradas às testemunhas quaisquer peças do
processo, documentos que a ele respeitem, instrumentos com que o crime foi cometido ou
quaisquer outros objectos apreendidos.
5 - Se a testemunha apresentar algum objecto ou documento que puder servir a prova, faz-
se menção da sua apresentação e junta-se ao processo ou guarda-se devidamente. 60
I. PROVA TESTEMUNHAL
10. Regras de Inquirição

• Estrutura da inquirição:
1) Identificação da testemunha, sendo proibido o depoimento por procuração.
2) Referência às relações familiares ou de amizade com os sujeitos processuais e
outras testemunhas, aos seus eventuais interesses na causa e outras circunstâncias
relevantes para a avaliação da credibilidade do depoimento
3) Advertência à testemunha em caso de faculdade de escusa (artigo 134.º do CPP)
4) Prestação do juramento, quando obrigatório (artigo 91.º)
5) Prestação do depoimento
• Não devem ser feitas perguntas sugestivas ou impertinentes, nem quaisquer outras
que possam prejudicar a espontaneidade e a sinceridade do depoimento
• Podem ser mostradas às testemunhas quaisquer peças do processo, documentos que
a ele respeitem, instrumentos com que o crime foi cometido ou quaisquer outros
objectos apreendidos.
• Se a testemunha apresentar algum objecto ou documento que puder servir a prova,
faz-se menção da sua apresentação e junta-se ao processo ou guarda-se
devidamente.
• A violação das regras da inquirição configura mera irregularidade (PPA e Ac TRP 61
de
08/09/2010, CJ, 2010, IV, p.207)
I. PROVA TESTEMUNHAL
11. Testemunhas menores de idade

• Convocatória
– Lacuna no CPP > aplicação do artigo 232/1 CPC: deve ser feita na pessoa dos seus
legais representantes. Quando a representação pertença a mais de uma pessoa,
basta que seja notificada uma delas (artigo 232/2 CPC).
• Comparência
– Legal representante tem o dever de fazer comparecer o menor;
– Se não comparecer, podem haver condenação em multa (para o legal
representante) e emissão de mandados de comparência (para o menos) – Ac. TRE
21.01.1992, CJ XVII, I, p. 290; Ac. TRL 06.051997, CJ XXII, III, p. 138.

• Depoimento
– Acto pessoal e intransmissível
– Acompanhamento pelo titular do poder parental?

62
I. PROVA TESTEMUNHAL
11. Testemunhas menores de idade

– Parecer do Conselho Consultivo da PGR n.º 17/2015:


• Tratando-se […] de testemunha menor […] poderá a mesma, em regra, ser acompanhada no
decurso da inquirição pelo titular do poder parental, seu representante legal, como
decorrência do insubstituível direito–dever fundamental consignado no artigo 36.º, n.º 5,
com referência aos artigos 68.º, n.º 1, e 69.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa.
• Tal direito de acompanhamento apenas deverá ser afastado quando o ordenamento
jurídico o exigir para salvaguarda de outros valores constitucionalmente tutelados, o que
ocorrerá, designadamente: nas situações em que o titular do poder parental tenha o
estatuto de arguido no processo; sempre que se verifique entre o mesmo e o menor o
condicionalismo previsto no artigo 1881.º, n.º 2, do Código Civil (conflito de interesses), e
em situações de perturbação ilegítima do ato processual por parte do referido titular que
justifiquem o seu afastamento pela autoridade que preside à diligência (artigo 85.º do CPP).
• Tal direito não corresponde, todavia, a uma imposição, pelo que não decorre do nosso
ordenamento jurídico qualquer obstáculo a que uma testemunha menor, desde que tenha a
necessária maturidade, preste depoimento em processo penal desacompanhada do titular
do poder parental. O que não poderá é obstar-se a tal acompanhamento fora dos casos
juridicamente admissíveis.
– A ele caberá, em princípio, o exercício dos direitos da testemunha (vg, artigos 132/2,
132/4)
• Artigo 134/1? Dependerá da sua maturidade (se for maior de 16 anos, até já é criminalmente
responsável pela recusa injustificada) 63
II. DEPOIMENTO INDIRECTO

Artigo 129.º
Depoimento indirecto
1 - Se o depoimento resultar do que se ouviu dizer a pessoas determinadas, o juiz pode
chamar estas a depor. Se o não fizer, o depoimento produzido não pode, naquela parte,
servir como meio de prova, salvo se a inquirição das pessoas indicadas não for possível
por morte, anomalia psíquica superveniente ou impossibilidade de serem encontradas.
2 - O disposto no número anterior aplica-se ao caso em que o depoimento resultar da
leitura de documento de autoria de pessoa diversa da testemunha.
3 - Não pode, em caso algum, servir como meio de prova o depoimento de quem
recusar ou não estiver em condições de indicar a pessoa ou a fonte através das quais
tomou conhecimento dos factos.

64
II. DEPOIMENTO INDIRECTO
1. DISTINÇÃO ENTRE DEPOIMENTO DIRECTO E INDIRECTO

• Depoimento directo – a testemunha tem conhecimento do facto probando através


dos seus sentidos;
• Depoimento indirecto – a testemunha não tem conhecimento do facto probando
através dos seus sentidos; a testemunha ouviu/viu/leu (n.º 2) pessoa determinada
falar sobre o mesmo;
– Depoimento resultante do que se ouviu dizer a outras pessoas. O conhecimento
indirecto forma-se por intermediação da percepção de outrem e transmitido
oralmente, por escrito ou por outros meios.
– O depoimento indirecto ocorre nos casos em que a testemunha não percepcionou
directa e imediatamente os factos, mas deles teve conhecimento por intermédio de
terceira pessoa.
– Verdadeiramente, não é depoimento sobre o facto probando, mas sobre um meio
de prova (o depoimento de outra pessoa).

65
II. DEPOIMENTO INDIRECTO
2. ÂMBITO

• Só na instrução ou julgamento? (“o juiz pode”…)


– Todas as fases do processo
• Só o que testemunha ouviu dizer a testemunha?
– E o depoimento de uma testemunha sobre o que ouviu dizer ao assistente, à parte civil ou
ao arguido?
• E se o depoimento for do assistente, da parte civil ou do arguido sobre o que
ouviram dizer a outras pessoas (testemunhas, arguidos, assistentes ou partes
cíveis)?
– PPA, Damião da Cunha e Costa Pinto entendem que não, porque se trata de uma norma
excepcional e, portanto, não é passível de aplicação analógica.
– Dá Mesquita, Carlos Adérito Teixeira entendem que sim. Também Ac. STJ 27.06.2012, p.
127/10.0JABRG.G2.S1 (Santos Cabral – idem no CPP Comentado)
• Ao assistente e à parte civil? Sim
– São pessoas determinadas;

66
II. DEPOIMENTO INDIRECTO
2. ÂMBITO

• Arguido deve ser retirado deste âmbito por não poder ser chamado a depor.
Mas é possível, em princípio, valorar o que se ouviu dizer ao arguido:
– Não é depoimento indirecto – é directo (sobre o facto de o arguido ter
declarado, não o facto probando) .

• Depoimentos indirectos em cadeia ou em mais do que um grau (ouvir-dizer de


alguém que ouviu dizer à fonte)?
– Não são verdadeiros depoimentos indirectos, porque não são depoimentos sobre meios de
prova
– Servem apenas para identificar testemunha que pode prestar depoimento indirecto

• Também está abrangido o caso do conhecimento de facto relatado pela testemunha


procedente da leitura de documento da autoria de pessoa diversa (artigo 129/1 e 2
do CPP)

67
II. DEPOIMENTO INDIRECTO
3. RELEVÂNCIA

1. Identificar pessoas com conhecimento directo dos factos (para que estas possam ser
chamadas a depor no processo)

2. Não sendo possível inquiri-las por terem morrido, sofrerem de anomalia psíquica
superveniente ou não ser possível encontra-las, permitir que, através do
“depoimento indirecto”, o conhecimento dessas possa ser valorado;

3. Aferir da credibilidade do depoimento de testemunhas, assistentes e partes civis;

68
II. DEPOIMENTO INDIRECTO
4. VALOR PROBATÓRIO

• Livre apreciação (do mesmo modo que sucede com o depoimento de qualquer
testemunha, designadamente a testemunha-fonte chamada a depor)

• Não confundir “admissibilidade de valoração” com “valor probatório” (sujeito à


livre apreciação)

• O depoimento indirecto tem valor probatório autónomo face ao depoimento da


testemunha-fonte
– E se o depoimento indirecto não é congruente com o da testemunha-fonte?
• Livre apreciação…
• Sentido contrário – Ac. RL de 05-04-2016 P. 181/13.3GCALM.L1-5, José Adriano
(A proibição de valoração do depoimento indirecto só ocorre quando a pessoa a
quem se ouviu dizer não for chamada a depor ou, depondo, não confirmar o
afirmado naquele depoimento)

69
II. DEPOIMENTO INDIRECTO
4. VALOR PROBATÓRIO

• Aspectos a considerar na valoração (CAT):


– Condições de idoneidade e fiabilidade material da testemunha de referência (condição
pessoal, razão de ciência, motivação, etc.)
– Condições de eficácia de valoração, designadamente, que opere a corroboração de teor
através da testemunha directa ou de outra(s) testemunha(s) ou de outro(s) elemento(s) de
prova, mesmo que de natureza indiciária, ou de declarações de leitura permitida, bem
como a sufragação pelas regras da racionalidade e da experiência que conferem
objectividade à livre convicção do julgador. (...)

– “Significa isso também que um depoimento indirecto isolado, ou mesmo a prova baseada
exclusivamente em testemunhos de ouvir dizer, sem suficiente corroboração, não podem,
em princípio, constituir prova bastante para ilidir a presunção de inocência de que o
arguido beneficia, mesmo nos casos de admissibilidade automática da testemunha de
referência. Importará, porém, ressalvar hipóteses estremadas de certos crimes (...)” (Carlos
Adérito Teixeira)

70
II. DEPOIMENTO INDIRECTO
4. VALOR PROBATÓRIO

• Requisito:
– Que seja chamada a depor a testemunha-fonte
– Excepções - se a inquirição da testemunha-fonte não for possível por:
• Morte
• Anomalia psíquica superveniente ou
• Impossibilidade de ser encontrada
• Coma?
– Pode considerar-se como anomalia psíquica superveniente (por maioria de razão
– o cérebro está mais do que anómalo, não está a funcionar);
• Alguns autores integram aqui ainda outras situações, como testemunhas
especialmente vulneráveis em que exista uma impossibilidade fáctica de prestar
depoimento por razões sérias - (Carlos Adérito Teixeira, Frederico Costa Pinto, Ac TRL
de 24/01/2011) - cfr. artigo 356/4 do CPP
– As medidas especiais de protecção terão de ser insuficientes… 71
II. DEPOIMENTO INDIRECTO
4. VALOR PROBATÓRIO

• O depoimento indirecto não pode servir como meio de prova:


– Se o depoente recusar ou não estiver em condições de indicar a pessoa ou a fonte
através das quais tomou conhecimento dos factos.
– Se o tribunal não chamar a pessoa ou a fonte através das quais a testemunha tomou
conhecimento dos factos.
• É suficiente a tentativa de realização do contraditório, e não se exige a efectivação
desse contraditório, para que o depoimento indirecto seja aproveitado –
Ac. STJ 13.11.2008, p. 08P2889, Souto de Moura
– “impossibilidade de ser encontrada”

72
II. DEPOIMENTO INDIRECTO
4. VALOR PROBATÓRIO

• E se a testemunha-fonte se recusar a depor, nos termos do art. 134.º do CPP, ou na


sequência da invocação de segredo profissional?
– Não obsta à valoração:
 A situação configurada nos autos [em que foi valorado depoimento prestado por testemunha,
que, além do mais, relatou conversa tida com a mulher do arguido, que se recusou a depor em
audiência], na perspectiva do depoimento indirecto (art. 129.º do CPP), não teria como
consequência que o depoimento produzido, na parte identificada, não pudesse valer como prova.
É que a recusa da mulher do arguido a depor, sendo embora legítima e impossibilitando o
confronto com o declarado pela testemunha que validamente depôs, cairia no âmbito da excepção
prevista na 2.ª parte do n.º 1 do art. 129.º: não ser possível a inquirição da pessoa indicada – Ac
. 23-10-2008 Processo nº 08P1212, Rodrigues da Costa
 I -Pode ser valorado um depoimento indireto quando a testemunha-fonte é chamada a depor, mas
não o faz, por fazer uso da faculdade que decorre do artigo 134º do Código de Processo Penal. II -
Para que um depoimento indireto possa ser valorado, o artigo 129º, nº 1, do Código de Processo
Penal exige que se diligencie no sentido da prestação de depoimento por parte da testemunha-
fonte, mas não que este seja efetivamente prestado.
AC. RP de 05-06-2015 Processo nº 138/14.7GCSTS.P1, Pedro Vaz Patto
 Sendo a testemunha fonte chamada a depor, o depoimento indireto pode ser valorado, mesmo
nos casos em que aquela se recusa, lícita ou ilicitamente, a prestar depoimento ou em que, por
exemplo, diz de nada se recordar.
AC RG de 03-02-2014 Processo nº 693/12.6JABRG.G1, Teresa Baltazar 73
II. DEPOIMENTO INDIRECTO
5. VALOR PROBATÓRIO

– Em sentido contrário:
 Não basta chamar a testemunha de que se ouviu dizer a depor para que o depoimento de ouvir
dizer possa ser valorado; necessário é também que a testemunha preste depoimento. […] haveria
que concluir pela impossibilidade de valoração do depoimento indirecto quando a pessoa de
quem se ouviu dizer se recusou a depor com o mencionado fundamento legal, sob pena de
flagrante conflito entre o disposto no artigo 134.º e o artigo 129.º, n.º 1, sendo suposto que as
normas são complementares e não conflituantes. Ac
. RC de 20-04-2016 Processo nº 39/14.9JACBR.C1, MARIA PILAR DE OLIVEIRA
 Ac. RC de 10-12-2014 Processo nº 155/13.4PBLMG.C1, Vasques Osório
 PPA
– Mas assim… apenas é relevante o depoimento da testemunha-fonte, ou seja, o
depoimento indirecto nunca seria meio de prova autónomo (sobre o facto probando),
servindo apenas para identificar outras testemunhas (directas)
– O facto de alguém recusar o depoimento não apaga tudo aquilo que ela disse antes; o
mesmo sucede com o arguido e o seu direito ao silêncio… (recorde-se Ac. TC 440/99: «O
artigo 129º, nº 1 (conjugado com o artigo 128º, nº 1), do Código de Processo Penal,
interpretado no sentido de que o tribunal pode valorar livremente os depoimentos
indiretos de testemunhas que relatem conversas tidas com um co-arguido que, chamado a
depor, se recuse a fazê-lo no exercício do seu direito ao silêncio, não atinge de forma
intolerável, desproporcionada ou manifestamente opressiva, o direito de defesa 74 do
arguido.»)
II. DEPOIMENTO INDIRECTO
6. VÍCIOS

 Inconstitucionalidade?
o O n.º 1 do artigo.º 129, conjugado com o n. 1 do artº 128, ambos do Código de Processo
Penal, interpretado no sentido de que o tribunal pode valorar livremente o depoimento
indirecto de testemunhas que relatam conversas tidas com outras que foram, entretanto,
assassinadas, não atinge, de forma intolerável, desproporcionada ou manifestamente
opressiva, o direito de defesa do arguido por forma a produzir um encurtamento
inadmissível de tal direito; logo, tal norma não é inconstitucional. Ac
. STJ de 15-11-2001 Processo nº 01P3258, Simas Santos
 Vícios
 Omissão injustificada de chamar a pessoa a quem se ouviu – nulidade dependente de
arguição – artigo 120.º, n.º 2, alínea d), segunda parte;
 “o juiz pode chamar estas a depor” – não é obrigatório, mas pode constituir “omissão
posterior de diligências que pudessem reputar-se essenciais para a descoberta da
verdade”
 Valoração do depoimento indirecto sem que tenha sido chamada a depor a pessoa a
quem se ouviu dizer
 Proibição de valoração (se o não fizer, o depoimento produzido não pode, naquela
parte, servir como meio de prova) – sanável com o trânsito em julgado (não 75 se
enquadra no artigo 126.º, n.ºs 1 a 3)
III. PROVA POR ACAREAÇÃO

Artigo 146.º
Pressupostos e procedimento
1 - É admissível acareação entre co-arguidos, entre o arguido e o assistente, entre
testemunhas ou entre estas, o arguido e o assistente sempre que houver contradição
entre as suas declarações e a diligência se afigurar útil à descoberta da verdade.
2 - O disposto no número anterior é correspondentemente aplicável às partes civis.
3 - A acareação tem lugar oficiosamente ou a requerimento.
4 - A entidade que presidir à diligência, após reproduzir as declarações, pede às pessoas
acareadas que as confirmem ou modifiquem e, quando necessário, que contestem as
das outras pessoas, formulando-lhes em seguida as perguntas que entender
convenientes para o esclarecimento da verdade.

76
III. PROVA POR ACAREAÇÃO

 Definição
• A acareação é um meio de prova por declaração que consiste no confronto directo
entre diferentes participantes processuais que prestaram declarações ou
depoimentos contraditórios, só devendo realizar-se se e quando se afigurar útil à
descoberta da verdade, no intuito de esclarecer as assinaladas contradições (artigo
146º do CPP)
 Pressupostos:
1. Existência de contradições
2. Utilidade para a descoberta da verdade
 A acareação é um meio de prova admissível que depende de duas condições: haver
contradição entre as declarações e a diligência afigurar-se útil à descoberta da
verdade. Este meio de prova é subsidiário dos meios de prova declaratórios e o seu
valor probatório é de apreciação livre pelo tribunal. A existência de contradição entre
depoimentos não determina, obrigatória e necessariamente, a realização de
acareação, impondo-se a necessidade da mediação de um juízo sobre a utilidade
dessa diligência probatória. Ac
77
. TRC de 2-06-2009, p. 9/05.8TAAND.C1, Jorge Gonçalves
III. PROVA POR ACAREAÇÃO

 Competência para determinar a sua realização


• Inquérito: MP ou OPC, por delegação de competência (neste último caso, não pode
haver testemunhas ajuramentadas)
• Instrução: juiz de instrução
• Julgamento: juiz
• Pode ser determinada oficiosamente ou a requerimento
 Tipos de acareação
Entre co-arguidos Entre assistente e partes civis
Entre arguido e assistente Entre as partes civis
Entre arguido e testemunha Entre lesado e testemunha
Entre testemunhas Entre responsável civil e testemunha
Entre testemunhas e assistente Entre partes civis e testemunha
Entre arguido, assistente e testemunha

 Não pode haver acareação entre peritos ou entre peritos e consultores técnicos ou
quaisquer outros intervenientes processuais

78
III. PROVA POR ACAREAÇÃO

 Tramitação
• O arguido tem obrigação de participar, mas só presta declarações se assim o
entender (artigo 272/2, 3 e 4 do CPP)
• Se presidência de autoridade judiciária – assistência obrigatória de defensor
• Não esquecer as advertências

• A autoridade judiciária ou o OPC que preside à diligência:


• Reproduz todas as declarações contraditórias
• Pede a cada uma das pessoas acareadas que confirmem ou modifiquem as suas
declarações e, quando necessário, que contestem as das outras pessoas
• Formula as perguntas que entender convenientes ao esclarecimento da verdade
• Elabora (ou manda elaborar) o auto de acareação.

79
III. PROVA POR ACAREAÇÃO

 Valor probatório da prova por acareação

• As declarações prestadas em acareação perante autoridade judiciária podem ser


utilizadas em julgamento – artigo 356.º, n.º 3, alínea b), e artigo 357.º, n.º 1,
alínea b).

• A acareação é apreciada segundo as regras da experiência e a livre convicção da


entidade competente (artigo 127.º do CPP)

• Utilidade prática?
• Usualmente, todos mantêm as declarações contraditórias;
• Mas, por vezes, é possível ter alguma convicção sobre quem está a mentir/falar
verdade;
• Em inquérito, só haverá interesse se a acareação for presidida pelo Ministério Público
e gravada (idealmente, em vídeo), tendo em vista a sua reprodução em julgamento;
80
IV. DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA

 Definição
• Antecipação parcial do julgamento, recolhendo previamente declarações a quem
previsivelmente não poderá comparecer no mesmo ou a quem está especialmente
vulnerável.
• Modo de produção de prova pessoal, submetido a regras específicas para acautelar
o respeito por princípios estruturantes do processo, nomeadamente o respeito pelo
princípio do contraditório.
 Finalidades e sua natureza excepcional
• Finalidades
• Meio preventivo de recolha de prova (que poderia perder-se ou não ser possível
produzir em julgamento por causa de doença grave de testemunha ou da sua
deslocação para o estrangeiro), ou
• Protecção da vítima
• Tem carácter excepcional, pois é um desvio ao princípio da imediação e o
contraditório então realizado não tem a mesma dimensão que aquele que pode ser
feito em julgamento (pode não haver ainda acusação, pode nem sequer haver
arguido) 81
IV. DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA

• Inconstitucionalidade?
• Não
– Ac. STJ de 17-05-2007, CJ (STJ), 2007, T2, pág.191.
– O modo de prestação de declarações para memória futura respeita os
elementos essenciais do contraditório, dadas as garantias que o n.º 2 do art.
271.º do CPP estabelece: o arguido pode estar presente na produção, e
assegura-se a possibilidade de confrontação em medida substancialmente
adequada ao exercício do contraditório (art. 271.º, n.º s 2 e 3, do CPP). Para
salvaguarda do exercício do contraditório também não é necessária a leitura
das declarações em audiência, nem dela depende a validade da prova para
memória futura. No caso das declarações para memória futura, o princípio da
imediação mostra-se respeitado sempre que a prova é apreciada pelo
conjunto e não elemento a elemento, pressupondo a conjugação sistémica
com todos os elementos de prova processualmente admissíveis e produzidos
nas condições da lei. Ac. STJ de 07.11.2007, p. 07P3630, Henriques Gaspar

82
IV. DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA

 Âmbito de aplicação (7)


1) Em caso de doença grave de uma testemunha, que previsivelmente a impeça de ser
ouvida em julgamento
• Facultativa
• A doença pode ter qualquer natureza, desde que, pela sua gravidade, previsivelmente
impeça a pessoa de ser ouvida em julgamento
2) Em caso de deslocação para o estrangeiro de uma testemunha, que previsivelmente
a impeça de ser ouvida em julgamento
• Facultativa
• A ausência terá de ser por tempo indeterminado ou, pelo menos, por tempo
previsivelmente superior àquele em que decorrerá o julgamento
3) Nos casos de vítima de crime de tráfico de pessoas
• Facultativa
• Não é necessário qualquer outro fundamento

83
IV. DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA

4) Nos casos de vítima de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual


• Se a vítima ainda for menor – obrigatória
• Omissão – nulidade dependente de arguição (artigo 120.º, n.º 2, alínea d))
• Se a vítima já foi maior – facultativa

5) Vítimas de violência doméstica (também declarações do assistente e das partes


civis, de peritos e de consultores técnicos e acareações) – artigo 33.º da Lei n.º
112/2009
• Facultativo
• Não é necessário qualquer outro

84
IV. DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA

6) Vítimas especialmente vulneráveis (vítima cuja especial fragilidade resulte,


nomeadamente, da sua idade, do seu estado de saúde ou de deficiência, bem
como do facto de o tipo, o grau e a duração da vitimização haver resultado em
lesões com consequências graves no seu equilíbrio psicológico ou nas condições da
sua integração social; as vítimas de criminalidade violenta e de criminalidade
especialmente violenta são sempre consideradas vítimas especialmente
vulneráveis - artigo 67.º-A do CPP;) – artigo 24.º do Estatuto da Vítima;
• Facultativo

7) Testemunhas especialmente vulneráveis (que pode resultar, nomeadamente, da


sua diminuta ou avançada idade, do seu estado de saúde ou do facto de ter de
depor ou prestar declarações contra pessoa da própria família ou de grupo social
fechado em que esteja inserida numa condição de subordinação ou dependência) -
artigo 28/1 da Lei de Protecção de Testemunhas
• Facultativo

85
IV. DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA

 Tramitação processual

• Como “antecipação do julgamento”, deve haver o máximo aproveitamento


possível das regras que o regulam:
• A designação de dia, hora e local da prestação do depoimento e sua notificação
ao Ministério Público, ao arguido, ao defensor e aos advogados do assistente e
das partes civis para que possam estar presentes;
• A necessidade da presença do Ministério Público e do defensor do arguido, sob
pena de nulidade insanável – arts 271/3 e 119/ b), e c), do CPP;
• A especificidade de a inquirição ser feita pelo juiz e a possibilidade de, em
seguida, o Ministério Público, os advogados do assistente e das partes civis e o
defensor, formularem perguntas adicionais – art. 271/5 do CPP;

• É admissível a diligência se ainda não existir arguido constituído?


• Sim - nesse caso, deverá ser-lhe nomeado defensor oficioso.
86
IV. DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA

• Afastamentos:
• Do arguido durante a prestação de declarações – arts. 271/6 e 352 do CPP;
• Existência de razões para crer que a presença do arguido inibiria o declarante de dizer
a verdade – art. 352/1a) do CPP;
• Ser o declarante menor de 16 anos e haver razões para crer que a sua audição na
presença do arguido poderia prejudicá-lo gravemente – art. 352/1b) do CPP;
• Quando haja de ser ouvido um perito e exista razão para crer que a sua audição na
presença do arguido poderia prejudicar gravemente a integridade física ou psíquica
deste – art. 352/1c) do CPP;
• Sob pena de nulidade, deve o arguido ser resumidamente instruído pelo presidente
do que se tiver passado na sua ausência, excepto quando o seu afastamento se tiver
devido à intervenção de perito cuja audição poderia prejudicar a sua saúde física ou
psíquica – arts 352/2 e 332/7 do CPP;
• Possibilidade de afastamento do arguido ou de outros intervenientes processuais
no caso de testemunhas especialmente vulneráveis e a utilização de meios de
ocultação ou de teleconferência, nomeadamente a partir do local do edifício do
tribunal; 87
IV. DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA

• A assistência ao declarante :
• Menor vítima de crime sexual - devendo o menor ser assistido no decurso do
acto processual por um técnico especialmente habilitado para o seu
acompanhamento, previamente designado para o efeito.
• VD - devendo a vítima ser assistida no decurso do ato processual pelo técnico de
apoio à vítima ou por outro profissional que lhe tenha vindo a prestar apoio
psicológico ou psiquiátrico, previamente autorizados pelo tribunal.
• VEV - devendo a vítima ser assistida no decurso do ato processual por um
técnico especialmente habilitado para o seu acompanhamento, previamente
designado pelo tribunal.
• Função: evitar que o contacto com o sistema de justiça seja potenciador de maior
desconforto e desequilíbrio emocional, possibilitando assim a optimização da
qualidade da narrativa do declarante; contribuindo para o apuramento dos factos,
de forma válida e efectiva; e, essencialmente, diminuir ao máximo o risco de
revitimização
• A nomeação deve ser feita em tempo útil e oportuno para que este reúna
informação sobre o caso, por forma a preparar a sua intervenção
88
IV. DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA

• Fases do acompanhamento (no caso de menores):


1. Pré-inquirição
• O técnico deverá encontrar-se com o menor e efectuar a avaliação do seu
desenvolvimento; depois, deve dar a conhecer ao tribunal informação relativa às
capacidades e competências do menor para testemunhar., permitindo ao juiz adaptar
a sua forma de inquirição;
• O técnico deverá ainda preparar o menor para a inquirição (explicação e
desmistificação de todo o processo judicial - direitos e deveres, como deve comportar-
se em tribunal, o significado de determinados termos, explicar os intervenientes e
respectivas funções).
• Poderá ser efectuada visita guiada ao espaço, por forma a familiarizar o menor com o
espaço.

89
IV. DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA

2. Inquirição
• Durante a realização da inquirição deve ter-se cuidados com o setting, isto é, ter um
local que garanta a sua reserva pessoal. Se necessário usar equipamentos lúdicos,
deve levar-se apenas os estritamente necessários a utilizar na sessão. Quanto ao
setting aconselha-se que deva ser o mais informal possível, devendo ainda serem
diminuídos os formalismos, tal como por exemplo, o uso da beca e toga.
• Para que se obtenha um relato com sucesso é ainda aconselhável que seja apenas um
adulto a questionar o menor.
• Durante a inquirição, é esperado que o técnico monitorize o comportamento do
menor e a forma como o menor é inquirido. É também esperado que o técnico faça
uma gestão equilibrada do tempo de inquirição (solicitando paragens quando
necessário).

3. Pós-inquirição
• É muito importante reforçar o seu desempenho, responder a eventuais questões e
diminuir a tonalidade emocional do acontecimento. O técnico que acompanhou o
menor deve, ainda, contactar com os cuidadores/progenitores e aconselhá-los a que
não pressionar o menor para falar sobre o momento da inquirição.
90
IV. DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA

• A inquirição é feita pelo juiz, podendo em seguida o Ministério Público, os


advogados do assistente e das partes civis e o defensor, por esta ordem, formular
perguntas adicionais.
• Os depoimentos são documentados através de registo áudio ou audiovisual.
• É possível a tomada de declarações para memória futura também ao assistente, às
partes civis, aos peritos, aos consultores técnicos;
• Também é possível em acareações (em qualquer das suas possíveis formas).

91
IV. DECLARAÇÕES PARA MEMÓRIA FUTURA

• Valoração das declarações para memória futura


– Os princípios da imediação e do contraditório obrigam à renovação da prestação em
audiência de julgamento das declarações anteriormente realizadas, quando possível
e desde que a mesma não ponha em causa a saúde física ou psíquica da pessoa que as
deva prestar.
– A valoração em julgamento não depende da sua prévia leitura ou reprodução.
– As declarações para memória futura, prestadas nos termos do artigo 271.º do Código
de Processo Penal, não têm de ser obrigatoriamente lidas em audiência de julgamento
para que possam ser tomadas em conta e constituir prova validamente utilizável para a
formação da convicção do tribunal, nos termos das disposições conjugadas dos artigos
355.º e 356.º, n.º 2, alínea a), do mesmo Código.
Ac. STJ de Fixação de Jurisprudência n.º 8/2017
– Ac. STJ de 07.11.2007, p. 07P3630, Henriques Gaspar
– Ac. TRC de 17-10-2012, 58/09.7GFCVL.C1, Paulo Valério
– Não é inconstitucional tal interpretação – Ac. TC n.º 367/2014.
• Valor probatório das declarações para memória futura
– Como se fosse em julgamento
92
V. ESTATUTO DA VÍTIMA

• CÓDIGO DE PROCESSO PENAL


– Definição de vítima e de vítima especialmente vulnerável – artigo 67.º-A/1 a 3
– Enunciação dos direitos da vítima – artigo 67.º-A/4 e 5
– Direitos de audição
• Artigo 212/4 (antes da revogação ou substituição de medidas de coacção, sempre
que necessário)
• Artigo 292/2 (pelo JI, se requerido)
• Artigo 495/2 (antes da revogação da suspensão de execução da pena de prisão,
sempre que necessário)
– Direitos de informação
• Artigo 247/3 (sobre indemnização)

93
V. ESTATUTO DA VÍTIMA

• ESTATUTO DA VÍTIMA – aprovado pela Lei n.º 130/2015


– Princípios – artigos 3.º a 10.º
– Direitos das vítimas de criminalidade – artigos 11.º a 19.º
– Estatuto de vítima especialmente vulnerável – artigos 20.º a 27.º

94
PROVA POR RECONHECIMENTO

Art.º 147º
Reconhecimento de pessoas

1. Quando houver necessidade de proceder ao reconhecimento de qualquer


pessoa, solicita-se à pessoa que deva fazer a identificação que a descreva,
com indicação de todos os pormenores de que se recorda.

Em seguida, é-lhe perguntado se já a tinha visto antes e em que condições.

Por último, é interrogada sobre outras circunstâncias que possam influir na


credibilidade da identificação.

95
PROVA POR RECONHECIMENTO

Art.º 147º
Reconhecimento de pessoas

2. Se a identificação não for cabal, afasta-se quem dever proceder a ela e


chamam-se pelo menos duas pessoas que apresentem as maiores semelhanças
possíveis, inclusive de vestuário, com a pessoa a identificar.
Esta última é colocada ao lado delas, devendo, se possível, apresentar-se nas
mesmas condições em que poderia ter sido vista pela pessoa que procede ao
reconhecimento.
Esta é então chamada e perguntada sobre se reconhece algum dos presentes
e, em caso afirmativo, qual.

96
PROVA POR RECONHECIMENTO

Art.º 147º
Reconhecimento de pessoas

3. Se houver razão para crer que a pessoa chamada a fazer


a identificação pode ser intimidada ou perturbada pela
efetivação do reconhecimento e este não tiver lugar em
audiência, deve o mesmo efetuar-se, se possível, sem que
aquela pessoa seja vista pelo identificando.

97
PROVA POR RECONHECIMENTO

Art.º 147º
Reconhecimento de pessoas

4. As pessoas que intervierem no processo de


reconhecimento previsto no n.º 2 são, se nisso
consentirem, fotografadas, sendo as fotografias juntas ao
auto.

98
PROVA POR RECONHECIMENTO

Art.º 147º
Reconhecimento de pessoas

5. O reconhecimento por fotografia, filme ou gravação


realizado no âmbito da investigação criminal só pode valer
como meio de prova quando for seguido de
reconhecimento efectuado nos termos do n.º 2.

99
PROVA POR RECONHECIMENTO

Art.º 147º
Reconhecimento de pessoas

6 - As fotografias, filmes ou gravações que se refiram apenas a pessoas que


não tiverem sido reconhecidas podem ser juntas ao auto, mediante o
respectivo consentimento.

7 - O reconhecimento que não obedecer ao disposto neste artigo não tem


valor como meio de prova, seja qual for a fase do processo em que ocorrer.

100
PROVA POR RECONHECIMENTO

A atual redação do n.º 7 do art. 147.º do CPP, admite que


o reconhecimento possa ter lugar em audiência de
julgamento, mas tem de obedecer ao formalismo
estabelecido naquele preceito legal.

Daí resulta claro que só pode valer como um 'verdadeiro'


reconhecimento aquele que, realizado em audiência,
obedeça ao formalismo estabelecido naquele art. 147.º.
Se não obedecer a esse formalismo, o reconhecimento não
pode valer como meio de prova.

101
PROVA POR RECONHECIMENTO

Porém, estamos perante um ?reconhecimento? quando se pergunta à


testemunha, em audiência, durante o seu depoimento, se reconhece
aquele arguido presente na audiência como sendo o agente ou autor
dos factos que lhe eram imputados (na acusação ou na pronúncia).

Não se trata de um reconhecimento em sentido próprio, formal, a


que alude o art. 147.º do CPP e que devesse obedecer às
formalidades ali estabelecidas mas, antes, de uma mera identificação
do arguido (pessoalmente porque todos presentes na audiência) ou
vendo a sua fotografia que lhe foi exibida (uma vez que depunha por
videoconferência) reconhece aquele como o autor dos factos que lhe
são imputados.

102
PROVA POR RECONHECIMENTO

Sendo assim, esta 'identificação' do arguido insere-se no depoimento


da testemunha e segue o regime estabelecido no CPP para esse
depoimento, podendo, por isso, ser valorado de acordo com o
princípio da livre apreciação da prova, estabelecido no art. 127.º do
CPP.

A diligência realizada é, pois, legal, sendo em sede de valoração de


prova que cabe apreciar o maior ou menor valor probatório da
identificação do arguido, feito pela testemunha, pois trata-se de um
elemento do respectivo depoimento testemunhal, que teve lugar em
audiência de julgamento e ao qual não pode atribuir-se-lhe o especial
valor que é inerente ao 'reconhecimento próprio'.
Ac. STJ de 15-09-2010

103
RECONHECIMENTO DE OBJETOS

Artigo 148.º
Reconhecimento de objetos

1 - Quando houver necessidade de proceder ao reconhecimento de qualquer


objecto relacionado com o crime, procede-se de harmonia com o disposto no
n.º 1 do artigo anterior, em tudo quanto for correspondentemente aplicável.

2 - Se o reconhecimento deixar dúvidas, junta-se o objecto a reconhecer com


pelo menos dois outros semelhantes e pergunta-se à pessoa se reconhece
algum de entre eles e, em caso afirmativo, qual.

3 - É correspondentemente aplicável o disposto no n.º 7 do artigo anterior.


RECONHECIMENTO DE OBJETOS

Artigo 149.º
Pluralidade de reconhecimento

1 - Quando houver necessidade de proceder ao reconhecimento da mesma


pessoa ou do mesmo objeto por mais de uma pessoa, cada uma delas fá-lo
separadamente, impedindo-se a comunicação entre elas
.
2 - Quando houver necessidade de a mesma pessoa reconhecer várias pessoas
ou vários objetos, o reconhecimento é feito separadamente para cada pessoa
ou cada objeto.

3 - É correspondentemente aplicável o disposto nos artigos 147.º e 148.º

105
RECONHECIMENTO DE OBJETOS

Quando o reconhecimento é plural, devido ao número de


pessoas ou de objetos a identificar ou a reconhecer, estatui-se
aqui a disciplina a observar em tais situações, .com a
consagração de que em ambas as hipóteses se deverá proceder
de uma forma individualizada, separadamente, isto é: um
sujeito, um objeto.

No mais tem plena aplicação estabelecido quanto ao


reconhecimento de pessoas e de objetos.

106
RECONSTITUIÇÃO DO FACTO

Artigo 150.º
Pressupostos e procedimento

1 - Quando houver necessidade de determinar se um facto poderia ter


ocorrido de certa forma, é admissível a sua reconstituição. Esta consiste na
reprodução, tão fiel quanto possível, das condições em que se afirma ou se
supõe ter ocorrido o facto e na repetição do modo de realização do mesmo.

2 - O despacho que ordenar a reconstituição do facto deve conter uma


indicação sucinta do seu objeto, do dia, hora e local em que ocorrerão as
diligências e da forma da sua efetivação, eventualmente com recurso a meios
audiovisuais. No mesmo despacho pode ser designado perito para execução
de operações determinadas.

3 - A publicidade da diligência deve, na medida do possível, ser evitada.

107
RECONSTITUIÇÃO DO FACTO

Este meio de prova previne as dificuldades de prova que, em


cisca vantagem de materializar unstâncias específicas, se possam
levantar na audiência de julgamento.

É particularmente importante nas situações em que o simples


exame ou inspeção dos vestígios deixados no local do crime não
sejam esclarecedores ou não tenham sido tempestivamente
recolhidos.

108
ÓBITOS
Normativos
• Código do Registo Civil (artigos 192.º a 209.º-A)
• Lei 45/2004 (regime jurídico das perícias médico-legais e forenses)
• DL 166/2012 (Aprova a orgânica do INMLCF)
• DL 11/98 (Procede à reorganização do sistema médico-legal)
• DL 411/98 (regime jurídico da remoção, transporte, inumação, exumação,
trasladação e cremação de cadáveres)
• Lei 141/99 (Estabelece os princípios em que se baseia a verificação da morte)
• Código Deontológico dos Médicos - Diário da República, 2.ª série — N.º 139 — 21 de
julho de 2016 (artigo 96.º - Declaração, verificação e certificado de óbito)
• NP-INMLCF-008 (recomendações quanto aos procedimentos gerais de realização de
autópsia)
• Portaria 162-A/2015 (condições de acesso e de exercício da atividade de
reconstrução, conservação e preparação de cadáveres, a tanatopraxia)

109
ÓBITOS

SICO - Sistema de Informação dos Certificados de Óbito

• Lei 15/2012 (Institui o SICO)


• Portaria 329/2012 (Cria uma plataforma disponível na Internet para o
acesso ao SICO)
• Portaria 330/2012 (Aprova o modelo de guia de transporte remoção e
transporte do cadáver e modelo de boletim de óbito)
• Portaria 331/2012 (Define os termos de transmissão eletrónica de dados ao
Ministério Público através de mecanismos automáticos de
interoperabilidade das informações registadas no SICO)
• Portaria 334/2012 (modelos de certificado de óbito, etc.)

110
ÓBITOS

• A morte corresponde à cessação irreversível das funções do tronco


cerebral – artigo 2.º da Lei n.º 141/99

• Cabe à Ordem dos Médicos definir, manter atualizados e divulgar os


critérios médicos, técnicos e científicos de verificação da morte – artigo
3/2 da Lei n.º 141/99

• Despacho n.º 14341/2013, de 06 de Novembro - requisitos necessários


para a colheita de órgãos em dadores falecidos em paragem
cardiocirculatória (diagnóstico e certificação da morte por paragem
cardiocirculatória)

111
ÓBITOS

• Tem como objectivo estabelecer com segurança que um determinado indivíduo se


encontra morto (cessação irreversível das funções do tronco cerebral).
• A verificação da morte é da competência dos médicos, nos termos da lei - artigo
3.º da Lei n.º 141/99 e artigo 14.º da Lei n.º 45/2004
• A verificação do óbito não é feita através do SICO (não houve desmaterialização)
• Processo de verificação – artigo 4.º da Lei n.º 141/99
1 - A verificação da morte compete ao médico a quem, no momento, está cometida a
responsabilidade pelo doente ou que em primeiro lugar compareça, cabendo-lhe
lavrar um registo sumário de que conste:
a) A identificação possível da pessoa falecida, indicando se foi feita por conferência de
documento de identificação ou informação verbal;
b) A identificação do médico pelo nome e pelo número de cédula da Ordem dos
Médicos;
c) O local, a data e a hora da verificação;
d) Informação clínica ou observações eventualmente úteis.

112
ÓBITOS

Artigo 96.º do Código Deontológico dos Médicos


Declaração, verificação e certificado de óbito
1 — A declaração de óbito deve ser confirmada pelo certificado de óbito,
emitido pelo médico que o verifique, em suporte oficialmente aprovado.
2 — No certificado de óbito de pessoa a quem o médico tenha prestado
assistência, este deve indicar a doença causadora da morte, se dela tiver
conhecimento. Para este efeito, considerar-se-á como assistente o médico
que tenha preceituado ou dirigido o tratamento da doença até à morte,
ou que tenha visitado ou dado consulta extra-hospitalar ao doente dentro
da semana que tiver precedido o óbito. Exclui -se desta obrigação o
médico que tenha prestado assistência trabalhando em instituições
oficiais de saúde, as quais devem fornecer ao médico assistente ou à
autoridade de saúde as informações necessárias.

113
ÓBITOS

3 — Havendo indícios de morte violenta ou se o médico ignorar a causa da


morte, este deve comunicar imediatamente o fato às autoridades competentes, a
fim de estas promoverem as diligências necessárias à averiguação da causa da
morte e das circunstâncias em que esta tenha ocorrido.
4 — O médico deve participar à autoridade competente todos os casos de
falecimento do indivíduo a quem não tenha prestado assistência médica nos
termos do n.º 2 e cujo óbito tenha verificado.
5 — O médico deve participar à autoridade de saúde local os casos de óbito por
doenças contagiosas consideradas graves ou de fácil difusão.
6 — O médico deve indicar no certificado de óbito a necessidade de inumação
fora do prazo legal, nomeadamente de inumação urgente, em caso de epidemia
ou doença contagiosa que assim o exija, ou de qualquer outra circunstância que
interesse à saúde pública, devendo preceituar, em caso de ausência da respetiva
autoridade de saúde, as condições de isolamento, transporte e inumação do
cadáver.

114
ÓBITOS

CAUSA DA MORTE:

• causa directa – entende-se por causa direta o estado patológico ou a lesão


traumática que provocou diretamente a morte. Constitui a última
consequência ou efeito da causa básica;

• causa intermédia – entende-se por causa intermédia o estado patológico


que relaciona a causa básica com a direta, quando existe; quando não
existe, apenas há lugar à descriminação das outras duas;

• causa básica – entende-se por causa básica o estado patológico


responsável pelo desencadeamento de outros estados patológicos
classificáveis como causa direta.

115
ÓBITOS

Exemplo 1:
Causa directa – lesões traumáticas crânio-meningo-encefálicas
Causa intermédia – queda de andaime

Exemplo 2:
Causa direta – peritonite
Causa intermédia – rutura do apêndice
Causa básica – apendicite

116
ÓBITOS

AUTÓPSIA MÉDICO-LEGAL:

• Finalidade
– recolha de prova (vestígios, etc.)
– sua apreciação (determinação da causa da morte e dos seus processos)

• Fases NP- INMLCF:


1. Exame do corpo no local. Sempre que adequado, em casos de crimes
dolosos ou suspeita de crimes dolosos, deverá um médico legista integrar a
equipa multidisciplinar que procede ao exame do corpo no local (onde a morte
ocorreu e/ou onde o corpo foi encontrado) e elaborar o respetivo relatório.
2. Colheita de informação (policial, clínica, social ou outra) sobre as
circunstâncias da morte – deve ser transmitido ao perito médico toda a
informação existente;

117
ÓBITOS

3. Identificação do cadáver (se não estiver identificado ou existam


dúvidas) - reconhecimento visual do cadáver, reconhecimento pelos
adereços pessoais, reconhecimento pelas características físicas,
reconhecimento pelo exame dentário, identificação antropológica
(quando o material humano a investigar se encontrar esqueletizado ou
num estado de decomposição avançada), reconhecimento pelas
impressões digitais, identificação genética;
4. Exame do hábito externo (incluindo exame do vestuário e de
outros objetos);
5. Exame do hábito interno;
6. Solicitação de exames complementares de diagnóstico;
7. Elaboração do relatório de autópsia.

118
ÓBITOS

Artigo 18.º
Autópsia médico-legal

1 - A autópsia médico-legal tem lugar em situações de morte violenta ou de causa


ignorada, salvo se existirem informações clínicas suficientes que associadas aos
demais elementos permitam concluir, com segurança, pela inexistência de suspeita de
crime, admitindo-se, neste caso, a possibilidade da dispensa de autópsia.
2 - Tal dispensa nunca se poderá verificar em situações de morte violenta atribuível a
acidente de trabalho ou acidente de viação dos quais tenha resultado morte
imediata.
3 - A autópsia médico-legal pode, ainda, ser dispensada nos casos em que a sua
realização pressupõe o contacto com fatores de risco particularmente significativo
susceptíveis de comprometer de forma grave as condições de salubridade ou afectar a
saúde pública.

119
ÓBITOS

4 - Compete ao presidente do conselho diretivo do Instituto autorizar a dispensa da


realização de autópsia médico-legal nos casos previstos no número anterior, mediante
comunicação escrita do facto, no mais curto prazo, à entidade judiciária competente.
5 - A autópsia médico-legal pode ser realizada após a constatação de sinais de certeza
de morte, competindo a sua marcação, com a possível brevidade, ao serviço médico-
legal ou à autoridade judiciária nas comarcas não compreendidas na área de actuação
das delegações do Instituto ou de gabinetes médico-legais em funcionamento, de
acordo com a capacidade do serviço.
6 - Compete à autoridade judiciária autorizar a remoção dos corpos com vista à
realização da autópsia médico-legal, bem como assegurar a sua adequada
preservação nos casos em que os mesmos não sejam removidos para as delegações
ou gabinetes médico-legais.
7 - As remoções efetuadas nas condições previstas no número anterior não estão
sujeitas a averbamento nos assentos de óbito nem a licenças ou a taxas especiais.

120
REVISTAS

Pressupostos - art.º 174 do C.P.P..


É meio de obtenção de prova

Tem como fundamento a existência de indícios de que alguém


oculta na sua pessoa quaisquer objetos relacionados com um
crime ou que possam servir de prova
Consiste em inspecionar uma pessoa, com o intuito de
verificar se oculta na sua pessoa quaisquer objetos
relacionados com um crime ou que possam servir de prova
A competência para determinar a realização de revistas cabe
às Autoridades Judiciárias (OPC’s – medidas cautelares – infra).

121
REVISTAS

• Formalidades – art.º 175º do CPP.


 Formalidades das revistas autorizadas pelas AJ:

 Despacho fundamentado (artigo 174/3 do CPP) » mandado (art.º 113/3a).

 Prazo de validade máxima de 30 dias, sob pena de nulidade (artigo 174/4 do


CPP).
 A AJ, sempre que possível, deve presidir à diligência (artigo 174/3 do CPP).

 Antes de se proceder à revista, é entregue ao visado cópia do despacho que a


determinou, com menção de que aquele pode indicar, para presenciar a
diligência, pessoa da sua confiança e que se apresente sem delonga (artigo
175/1 do CPP).
 A revista deve respeitar a dignidade pessoal e, na medida do possível, o pudor
do visado (artigo 175/2 do CPP).

122
REVISTAS

– Os OPC's podem realizar revistas, enquanto medida cautelar ou de polícia nos seguintes
casos:
1. Terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada, quando haja
fundados indícios da prática iminente de crime que ponha em grave risco a vida
ou integridade de qualquer pessoa (artigo 174/5a) do CPP)
2. Consentimento documentado do visado (artigo 174/5b) do CPP)
3. Aquando de detenção em flagrante por crime a que corresponda pena de prisão
(artigo 174/5c) do CPP)
Ac. TRP 21/01/2015, 27/14.5PEVNG-A.P1, Maria Dos Prazeres Silva: No artº 174º
5 al. c) CPP o flagrante delito antecede lógica e casualmente a revista e a busca.
II – Quando seja eminente a fuga e haja fundada razão para crer que o agente
oculta objectos relacionados com o crime ou susceptíveis de servirem de prova e
que de outra forma poderiam perder-se a autoridade de polícia criminal pode
procede a busca e revista no âmbito das medidas cautelares do artº 251º nº1 al.
A) CPP sem mandado prévio da autoridade judiciária competente.

123
REVISTAS

4. De suspeitos em caso de fuga iminente ou de detenção [fora de flagrante], sempre


que tiver fundada razão para crer que neles se ocultam objectos relacionados com o
crime, susceptíveis de servirem a prova e que de outra forma poderiam perder-se
(artigo 251/1a) do CPP).
• Ac. TRL 06/11/2007, 4746/2007-5, Emídio Santos: 1. Para procederem a revistas a
coberto da alínea a), do n.º 1, do artigo 251º, do Código de Processo Penal, é
necessário que os órgãos de polícia criminal disponham previamente de factos que
indiciem que a pessoa a revistar cometeu ou se preparava para cometer um crime,
ou que nele participou ou se preparava para participar. 2. Um suspeito só pode ser
revistado por órgãos de polícia criminal, sem prévia autorização da autoridade
judiciária, ao abrigo da alínea a), do n.º 1, do artigo 251º, do Código de Processo
Penal, em caso de fuga iminente ou de detenção.
5. De pessoas que tenham de participar ou pretendam assistir a qualquer acto
processual ou que, na qualidade de suspeitos, devam ser conduzidos a posto policial,
sempre que houver razões para crer que ocultam armas ou outros objectos com os
quais possam praticar actos de violência (artigo 251/1b) do CPP).

124
REVISTA

• Validação (artigos 251/2 e 174/6) - A realização de revista prevista no artigo


251/1 (excepto se consentida ou em caso de flagrante delito) deve, sob pena de
nulidade, ser imediatamente comunicada ao MP e por este apreciada em ordem à
sua validação - artigos 251/2 e 174/6 do CPP .
– Ac. TRP 21/01/2015, 27/14.5PEVNG-A.P1, Maria Dos Prazeres Silva: A revista e ou
busca sem mandada prévio deve ser de imediato comunicada à autoridade
judiciária competente (JIC ou MºPº) a quem competiria a fiscalização do
procedimento, sob pena de nulidade. Tal nulidade é sanável estando sujeita ao
regime dos artºs 120º e 121º CPP.

125
REVISTA

Artigo 53.º DL 15/93


Revista e perícia
1 - Quando houver indícios de que alguém oculta ou transporta no seu corpo estupefacientes ou
substâncias psicotrópicas, é ordenada revista e, se necessário, procede-se a perícia.
2 - O visado pode ser conduzido a unidade hospitalar ou a outro estabelecimento adequado e aí
permanecer pelo tempo estritamente necessário à realização da perícia.
3 - Na falta de consentimento do visado, mas sem prejuízo do que se refere no n.º 1 do artigo
anterior, a realização da revista ou perícia depende de prévia autorização da autoridade
judiciária competente, devendo esta, sempre que possível, presidir à diligência.
4 - Quem, depois de devidamente advertido das consequências penais do seu acto, se recusar a
ser submetido a revista ou a perícia autorizada nos termos do número anterior é punido com
pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias.
Autoridade Judiciária – juiz (artigo 154/3 e 172/2).

126
BUSCAS

Pressupostos da busca – art.º176º do CPP.


 É meio de obtenção de prova
 Consiste em inspeccionar um lugar reservado ou não livremente acessível ao
público, com o intuito de verificar se aí se encontram quaisquer objetos
relacionados com um crime ou que possam servir de prova, ou se aí se encontra o
arguido ou outra pessoa que deva ser detida.
 Tem como fundamento a existência de indícios de que quaisquer objetos
relacionados com um crime ou que possam servir de prova se encontram em lugar
reservado ou não livremente acessível ao público, ou de que aí se encontra o
arguido ou outra pessoa que deva ser detida.

127
BUSCAS

Ac. TRC de 18-11-2009, 329/09.2JALRA.C1CJ, JOSÉ EDUARDO MARTINS: “Para a


realização de uma busca a lei processual penal exige a existência de «meros indícios»,
contrariamente com o que acontece para efeitos de acusação ou de pronúncia, em
que são exigidos indícios suficientes, ou para aplicação de certas medidas de coacção
em que é necessária a existência de «fortes indícios».

Regra: a competência para ordenar ou autorizar a realização de buscas cabe à


Autoridade Judiciária (MP ou JI).

Excepção: pelos OPC’s (medidas cautelares).

Centro de Estudos Judiciários 128


REVISTA

Constituição da República Portuguesa


Artigo 34.º
(Inviolabilidade do domicílio e da correspondência)

 A competência para autorizar ou ordenar buscas domiciliárias cabe, em


princípio, exclusivamente ao Juiz de Instrução (artigos 177/1 e 269/1c) do
CPP).

Centro de Estudos Judiciários 129


BUSCAS

• REGRA: Só podem realizar-se entre as 7 e as 21 horas (DIURNAS), sob pena de


nulidade (artigo 177/1 do CPP).

 EXCEPÇÃO: Podem realizar-se entre as 21 e as 7 horas (NOCTURNAS) nos


seguintes casos:
 Terrorismo, criminalidade especialmente violenta ou altamente organizada
(artigo 177/2a) do CPP).
 Consentimento documentado do visado (artigo 174/5b) e 177/2b) e 3b) do
CPP)
 Flagrante delito pela prática de crime punível com pena de prisão superior,
no seu máximo, a 3 anos (artigo 177/2b) do CPP).

130
BUSCAS

 Buscas domiciliárias ordenadas pelo MP


 O MP pode determinar a realização de buscas domiciliárias, entre as 7 e as 21 horas, nos
seguintes casos:
 Terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada, quando haja fundados
indícios da prática iminente de crime que ponha em grave risco a vida ou a integridade de
qualquer pessoa (artigo 174/5a) e 177/3a) do CPP).
 Consentimento documentado do visado (artigo 174/5b) e 177/3a) do CPP).

 Aquando de detenção em flagrante por crime a que corresponda pena de prisão (artigo
174/5c) e 177/3a) do CPP).
 O MP pode determinar a realização de buscas domiciliárias, entre as 21 e as 7 horas, nos
seguintes casos:
 Consentimento documentado do visado (artigo 177/2b) e 3b) do CPP)

 Flagrante delito pela prática de crime punível com pena de prisão superior, no seu
máximo, a 3 anos (artigo 177/2b) e 3b) do CPP).

131
BUSCAS

• Órgãos de polícia criminal


Os OPCs podem realizar buscas domiciliárias, enquanto medida cautelar ou de
polícia, nos seguintes casos:
– Entre as 7 e as 21 horas:
• Terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada, quando haja
fundados indícios da prática iminente de crime que ponha em grave risco a
vida ou a integridade de qualquer pessoa (artigo 174/5a) e 177/3a) do CPP)
• Consentimento documentado do visado (artigo 174/5b) e 177/3a) do CPP)
• Aquando de detenção em flagrante por crime a que corresponda pena de
prisão (artigo 174/5c) e 177/3a) do CPP).

132
BUSCAS

– Entre as 21 e as 7 horas:
• Consentimento documentado do visado (artigo 174/5b) e 177/2b) e 3b) do
CPP).
• Flagrante delito pela prática de crime punível com pena de prisão superior, no
seu máximo, a 3 anos (artigo 174/5c) e 177/2b) e 3b) do CPP).

• Validação (artigos 174/6 e 177/4 do CPP) - A realização de busca domiciliária


efectuada sem consentimento do visado e fora de flagrante delito deve ser
imediatamente comunicada ao JI e por este apreciada em ordem à sua validação.

133
BUSCAS

• BUSCAS NÃO DOMICILIÁRIAS


 REGRA – No inquérito, competência é do Ministério Público (artigo 174/3)
 EXCEPÇÃO – Sempre obrigatoriamente determinadas e presididas pelo JI (artigo
268/1c))
 Escritório de Advogado (artigos 177/5, do CPP e 75.º do Estatuto da Ordem dos
Advogados).
 Consultório médico (artigo 177/5 do CPP).
 Estabelecimento oficial de saúde (artigo 177/6 do CPP).
 Estabelecimento bancário (artigo 181/1 do CPP).
 Domicílio pessoal ou profissional de Magistrados Judiciais e do Ministério Público
(Estatutos respetivos).
 Escritório ou local de arquivo de solicitador (artigo 105.º do Estatuto dos Solicitadores)
 Órgão de comunicação social (artigo 11/6 do Estatuto dos Jornalistas).
 Escritório de Revisores Oficiais de Contas (artigo 72º-A e 72º-B do Estatuto dos ROCS).

134
BUSCAS

Formalidades das Buscas – art.º 176º CPP.

 Despacho fundamentado (artigo 174/3 do CPP).

 Prazo de validade máxima de 30 dias, sob pena de nulidade (artigo 174/4 do CPP)

 A AJ, sempre que possível, deve presidir à diligência (artigo 174/3 do CPP).

 Desde logo fazer constar do despacho eventual impossibilidade de presidir


(fundamentada).
 Antes de se proceder à busca, é entregue a quem tiver a disponibilidade do lugar,
cópia do despacho que a determinou, com menção de que pode assistir à diligência
e fazer-se acompanhar de pessoa da sua confiança e que se apresente sem delonga
(artigo 176/1 do CPP).

135
BUSCAS

Faltando a pessoa que tiver a disponibilidade do lugar ou a pessoa por aquele


indicada, a cópia é, sempre que possível, entregue a parente, vizinho, porteiro ou a
alguém que o substitua (artigo 176/2 do CPP).
Quem tiver a disponibilidade do lugar ≠ visado, suspeito ou arguido.
Fazer constar do despacho que deverá ser cumprida esta formalidade).
Juntamente com a busca ou durante ela pode proceder-se a revista de pessoas que se
encontrem no lugar, se quem ordenar ou efecuar a busca tiver razões para presumir
que oculta na sua pessoa quaisquer objetos relacionados com um crime ou que
possam servir de prova (artigo 176/3 e 174/1 do CPP).

Normalmente, quem ordena, no momento em que ordena, não conhece razões para
presumir que oculta na sua pessoa quaisquer objectos relacionados com um crime ou
que possam servir de prova – só quem efectua a busca é que o pode fazer.

136
BUSCAS

Para garantir a realização de tal revista, quem ordenar ou efetuar a busca


pode determinar que alguma ou algumas pessoas se não afastem do local da
busca e obrigar, com o auxílio da força pública, se necessário, as que
pretenderem afastar-se a que nele se conservem enquanto a revista não
terminar e a sua presença for indispensável (artigos 176/3 e 173 do CPP) .

137
BUSCAS

 “Visado” – legitimidade para o consentimento:

 Visado ≠ suspeito/arguido (pode ser um terceiro)

 Entendimento maioritário na jurisprudência: “A pessoa que deve dar


consentimento à realização da busca é a titular do direito à inviolabilidade do
domicílio, ou seja, a pessoa que tiver a disponibilidade do lugar onde a
diligência se realize” (CPP Comentado por Conselheiros do STJ - Santos Cabral)
 Entendimento mais restritivo: É sempre necessário o consentimento do titular
do domicílio que seja visado pela diligência processual, não bastando o
consentimento de quem tem a disponibilidade do local (Ac TC 507/94 e Ac
TC 126/2013)
O consentimento tem de ser prévio ao acto – Assim,
TRE 14.07.2015, P. 266/15.1PAOLH-B.E1, CLEMENTE LIMA
 O consentimento tem de ser expresso (não pode ser tácito nem presumido)

138
BUSCAS

O consentimento tem de ficar documentado (não se exige forma especial, mas


deve recolher-se a assinatura ou impressão digital do visado ou gravação de voz).
Não se exige um esclarecimento exaustivo, mas quem consente deve perceber o
que está em causa.
Cego, surdo, mudo, analfabeto, desconhecedor da língua portuguesa, menor de
21 anos, ou se suscitar a questão da sua inimputabilidade ou da sua
imputabilidade diminuída?
Assistência por advogado? E se (ainda) não for arguido nem sequer suspeito?...
 Sim
 MP Porto (CPP Comentado)
 Ac. TRL 22.10.2008, P. 6945/2008, Carlos Almeida
 Ac TRL 14/01/2016, P. 360/15.9PBLRS-A.L1-9, MARIA GUILHERMINA FREITAS
 Não:
 Santos Cabral (CPP Comentado)
 Ac TRL de 17-10-2007, Processo 7198/03, Rui Gonçalves
 Ac TRL 03-05-2007, processo 10042/06-5, ANA SEBASTIÃO.

139
BUSCAS

DOMICÍLIO:
 Casa habitada ou sua dependência fechada, incluindo:

 Edifício, parte de edifício ou equivalente (um veículo, uma roulotte, uma tenda
ou uma barraca, um quarto num estabelecimento hoteleiro, hospitalar ou
prisional, uma camarata num quartel - o que importa é que sirva de habitação)
 Habitação permanente ou temporária

 Habitação principal ou secundária

 Domicílio profissional?

 Não é domicílio para este efeito, salvo se servir simultaneamente de habitação


– cfr. TC 192/2001
 Sede e instalações de entes colectivos?

 Não se enquadra na protecção conferida ao domicílio no artigo 34.º da CRP – Acs.


TC 452/89 e 278/2007.
140
BUSCAS

Flagrante Delito –

 Quando é que ainda se está no âmbito do flagrante delito?


 É acto subsequente à detenção (PPA; “acto cautelar de prova subsequente à
privação da liberdade” - lei de autorização legislativa do CPP, L 43/86).
 Deve ser o mais rapidamente possível.
 A apreciar caso a caso.

141

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