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Direito Processual Penal I – 2021/2

Prof. Rogério Cézar Soehn

3 PRINCÍPIOS E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO


PENAL

Introdução:
- princípios: mandamentos nucleares de um sistema
- filtragem constitucional do CPP e do processo penal
- Brasil deve obediência aos Tratados Internacionais dos quais faz parte
* Convenção Americana Sobre Direitos Humanos – CADH (Pacto de
São José da Costa Rica)
* Corte Interamericana de Direitos Humanos – CIDH

a) Jurisdicionalidade:
Introdução:
- ter um juiz
- nova posição do juiz: proteção das garantias
- quem é (deve ser) esse juiz?
* Juiz Natural (CF 5º, XXXVII):
I) só órgãos instituídos pela CF podem exercer jurisdição
II) não é possível instituir órgão julgador após o fato
III) há uma ordem taxativa de competência pré-definida
- a serviço de quem está esse juiz?
* precisa de independência, pressuposto da imparcialidade
- independência: necessária para a livre formação do convencimento
* liberdade em relação a fatores externos
- não precisa decidir conforme deseja a maioria
- não deve ceder a pressões políticas

A garantia da imparcialidade do julgador:


- imparcialidade é o princípio supremo do processo
* decorre da heterocomposição

- PROBLEMA: poderes instrutórios do juiz


* característica do sistema inquisitório (juiz-ator)
* quebra da imparcialidade e do contraditório
* CPP 156, 209

* figura do juiz-espectador:

O direito de ser julgado num prazo razoável:


- CF 5º, LXXVIII

- Estado  poder de punir: apossa-se do tempo do homem


* quando o processo supera o limite da duração razoável, esse
apossamento é ilegal, desumano

- PROBLEMA: garantias fundamentais X tempo razoável


* processo demorado viola diversas garantias
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- o processo deve ser conduzido sem protelações


* e sem atropelações

- no Brasil: CF 5º, LXXVIII


* CPP prevê prazos, mas não sanções

- Critérios:
I) complexidade do caso
II) atividade processual do interessado (imputado)
III) conduta das autoridades judiciárias
IV) princípio da razoabilidade

b) Princípio Acusatório:
- CF: adoção do sistema acusatório
- consequência de uma interpretação sistemática
* CF 129, I + contraditório + presunção de inocência
- exigência de um juiz-espectador
* gestão da prova nas mãos das partes

c) Presunção de Inocência:
- Direito Romano
- consagrada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)
- Declaração Universal de Direitos Humanos – 1948
- no Brasil: art. 5º, LVII, CF
* “ninguém será considerado culpado”
- presunção de não culpabilidade
- decorre do princípio da jurisdicionalidade;
* processo serve para a obtenção da prova da culpabilidade de alguém
- derivam duas regras fundamentais:
a) regra probatória (in dubio pro reo)
- a parte acusadora precisa provar a culpabilidade do acusado
- exige a necessidade da certeza sobre a culpa
- in dubio pro reo só vigora até o trânsito em julgado da sentença
b) regra de tratamento
- quanto à carga probatória, limitações à publicidade e às prisões

- inconstitucionalidade da execução provisória da pena


* até 2009:
- execução provisória da pena
* em 2009 – HC 84.078 (7 votos a 4)
- execução só após o trânsito em julgado
* em 2016 – HC 126.292 (7 votos a 4)
- execução provisória após decisão de segunda instância
- fundamentos:
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 precisa de equilíbrio entre o princípio da presunção de


inocência e a efetividade da função jurisdicional penal
 o exame dos fatos e provas (a própria responsabilização
criminal) se exaure nas instâncias ordinárias
 a possibilidade não foi revogada pela Lei n. 12.403/2011, que
deu nova redação ao art. 283
 em nenhum outro país do mundo, após duplo grau de
jurisdição, a execução de uma condenação fica suspensa
aguardando a decisão da Corte Suprema
 há uma indevida e sucessiva interposição de recursos, a fim de
obter a prescrição
 em caso de flagrante violação de direitos do condenado
provisório, há ferramentas disponíveis para o acusado, como o
HC
* em 07/11/2019 – ADCs 43, 44 e 54
- execução provisória é vedada (6 votos a 5)
- art. 283, CPP é constitucional
- Pacote Anticrime mudou o art. 116 do CP (introduziu o inc. III).

d) Contraditório e Ampla Defesa:


- art. 5º, inc. LV, CF

Direito ao contraditório:
- confrontação da prova e comprovação da verdade

- audiência + participação

- contraditório ≠ direito de defesa


- é do contraditório que brota a defesa

Direito de Defesa: técnica e pessoal:


Defesa técnica:
- art. 261 do CPP
- supõe a assistência por advogado
* paridade de armas
- é indisponível
- IP: defesa técnica?

Defesa Pessoal: Positiva e Negativa:


I) Defesa Pessoal Positiva:
- maior relevância: interrogatório
- praticar atos, declarar, constituir defensor
- é renunciável

II) Defesa Pessoal Negativa (Nemo tenetur se detegere):


- CF, art. 5º, inc. LXIII
- direito ao silêncio
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- necessidade de advertência pelo interrogante

e) Motivação das decisões:


- controle da eficácia do contraditório e ampla defesa + queda do estado de inocência:
* necessidade de motivação das decisões judiciais
- análise do predomínio da racionalidade sobre o poder

- não significa que o juiz não deva assumir a subjetividade do ato de julgar
* espaço de interpretação
* fundamentação da decisão sobre a prova produzida

f) Princípio da não autoincriminação ou do nemo tenetur se detegere:

a) Titular do direito de não produzir prova contra si mesmo:


- testemunha

b) Advertência quanto ao direito de não produzir prova contra si mesmo:


- gravação clandestina
- aviso de Miranda (Miranda rights)
I) que tem o direito de não responder;
II) que tudo o que disser pode ser usado contra ela;
III) que tem o direito à assistência de defensor.

c) Desdobramentos do nemo tenetur se detegere


I) direito ao silêncio
II) inexigibilidade de dizer a verdade
III) direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa
incriminá-lo
* reconstituição de crime?
* reconhecimento do acusado?
IV) direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva

g) Princípio da publicidade
- afastar a desconfiança da população na administração da Justiça
- art. 93, IX, CF
- art. 792 do CPP
- regra:
* publicidade ampla
- exceção: art. 5º, XXXIII e LX, c/c art. 93, IX, CF; art. 792, § 1º, CPP
* publicidade restrita
- “segredo de justiça”
- ex.:
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