Você está na página 1de 10

Memoriais ou alegações finais por memoriais

Para identificar a peça: observem que já foi declarada encerrada a instrução e,


estando no momento dos debates orais, eles poderão ser convertidos em
memoriais escritos, nas seguintes hipóteses:
a) diante da complexidade do caso; (art. 403, § 3º, do CPP).
b) diante de vários acusados (excessivo número de réus); (art. 403, § 3º, do
CPP).
c) quando na audiência foi necessária a realização de alguma diligência (art.
404, § único, do CPP).

Prazo: 5 dias (e em 10 dias o Juiz proferirá sentença).


Para o Defensor Público o prazo é contado em dobro.
Contagem de prazo: art. 798 do CPP – Súmula 710 do STF.

Base legal: (art. 403, § 3º, do CPP) e (art. 404, § único, do CPP).

Observações:
Sempre que forem elaborar a peça prática correspondente, identifiquem:
Nome do cliente – para que saibam se vocês atuarão em favor do acusado ou
da vítima.
O crime que foi imputado – isso importa para saber qual a pena prevista e, por
conseguinte, o procedimento a ser seguido.
O tipo de ação penal prevista para aquele crime: lembrem-se: a regra é ação
penal pública incondicionada. Nesse caso aqui, não existe problema na
identificação.
Verifique a possibilidade de ser apresentada proposta de suspensão
condicional do processo – art. 89 da Lei nº 9.099/95.
Momento processual: Não existe processo ainda? Houve denúncia? Já foi
recebida e o acusado citado? Já houve audiência de instrução? (...).
Lembrando: hipóteses possíveis: não existe processo ainda; existe processo
em andamento; já existiu processo.
Competência: a quem será endereçada.

1º - Identificar a peça: Denúncia – resposta à acusação – Audiência de


Instrução (AIJ).
AIJ – art. 400 do CPP – ordinário (Júri – art. 411 do CPP).
Observar a ordem – “nesta ordem” - inquirição
Declarações vítima, se possível.
Testemunhas de acusação.
Testemunhas de defesa.
Esclarecimento de perito – se houve requerimento.
Acareações e reconhecimentos.
Interrogatório do acusado
Diligência ------------ realizada -------------------- Art. 404, § único do CPP.
Debates orais – alegações orais
Caso complexo ou com mais acusados ----------------------Art. 403, § 3º, do CPP
(c/c art. 394, § 5º, do CPP para o Júri)
Estrutura da peça:

 Endereçamento: Juiz da causa

 Preâmbulo: parte qualificada; representação por advogado; fundamento


legal; nome da peça

 Fatos: breve relato dos fatos

 Direito: teses: preliminares, mérito, subsidiárias.

 Pedidos: conforme o que foi alegado no Direito.

 Encerramento – autenticação final

 
Do Direito – conteúdo da peça – teses a serem apresentadas:

Preliminares

A serem alegadas primeiro – procurem observar a formalidade na realização do


procedimento – levando a uma nulidade – não observância das formas legais –
art. 564 do CPP.

Por exemplo: durante a audiência de instrução e julgamento:


Não observar a ordem de inquirição
Não cientificar o acusado sobre seu direito a ficar em silêncio
Ausência do defensor
Não oportunizar ao acusado conversa prévia e reservada com seu defensor
Não intimação do acusado para a audiência

Causas extintivas de punibilidade – art. 107 e ss. Do CP

Mérito

Procurem analisar a partir das hipóteses que ensejam absolvição, previstas no


art. 386 do CPP, para o procedimento comum.
(isso porque, no procedimento do júri, as decisões possíveis nessa fase são:
pronúncia, impronúncia, absolvição sumária e desclassificação).

Art. 386 do CPP: O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte


dispositiva, desde que reconheça: (ou seja, julgou improcedente a
acusação)
I - estar provada a inexistência do fato;(MATERIALIDADE) – precisa haver
prova da inexistência da materialidade – prova, de fato, demonstrada.
II - não haver prova da existência do fato; (MATERIALIDADE) – existe dúvida
acerca de sua existência, faltaram provas robustas – por ex.: ausência de
corpo de delito em crime que deixa vestígios.
III - não constituir o fato infração penal;(TIPICIDADE) -
IV –  estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; (AUTORIA)
– existiu o fato, mas restou comprovado que o acusado não concorreu
para tal.
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; (AUTORIA)
– não há prova para se comprovar com segurança -  
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena
(arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se
houver fundada dúvida sobre sua existência; (ILICITUDE E
CULPABILIDADE) – excludentes de ilicitude (arts. 23, 24 e 25 do CP) e de
culpabilidade (art. 21; 22; 26, caput; 28, §1º, do CP) .
VII – não existir prova suficiente para a condenação. (fórmula genérica –
decide a favor do réu).     

Teses subsidiárias (diante da impossibilidade de absolvição, busca-se


amenizar a situação do acusado).

Aplicação da pena (analisar em conjunto os arts. 59 e 68 do CPP).


Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste
Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e
agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento.
Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição
previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só
diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social,


à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do
crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: 
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de
pena, se cabível. 

O Juiz decide qual pena será aplicada e determina seu quantum – (art. 59,
incisos I e II do CP).

Art.68 do CP – sistema trifásico de aplicação de pena.


 Fixar a pena base (analisa o art. 59 do CP – se as circunstâncias
judiciais são favoráveis, a pena será fixada no mínimo legal.
 Afastar agravantes (art. 61 e 62 do CP) e fazer incidir atenuantes
(art. 65 do CP) – fica atrelado ao mínimo e ao máximo legalmente
previstos.
 Apontar causas de diminuição de pena e afastar causas de
aumento de pena.

Regime inicial de cumprimento de pena; (art. 59, III, do CP).


Substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos; (art.
59, IV, do CP).
Sursis – suspensão condicional da pena – art. 77 do CP.

Possibilidade de desclassificação para um delito menos grave – caso isso


ocorra, analise a falta de justa causa, de nulidade e de extinção da punibilidade
em relação ao delito menos grave.
Fixar valor reduzido para reparação do dano.
Demonstrar a não necessidade de decreto de prisão preventiva para que
possa recorrer em liberdade.

Dosimetria da pena:

O Juiz decidiu sobre a pena – pena privativa de liberdade


Para determinar a quantidade de pena, começa com a pena base –
Se as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP forem favoráveis, deverá ser ele
fixada no mínimo legal.
Afastamento de agravantes e a incidência de atenuantes;
Circunstâncias agravantes: arts. 61 e 62 do CP:
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não
constituem ou qualificam o crime:
I - a reincidência
II - ter o agente cometido o crime: 
a) por motivo fútil ou torpe;
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime;
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que
dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido;
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que podia resultar perigo comum;
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da
lei específica;
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério
ou profissão;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade
pública, ou de desgraça particular do ofendido;
l) em estado de embriaguez preordenada.

Art. 62 - Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: 


I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos
demais agentes;
II - coage ou induz outrem à execução material do crime; 
III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou
não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal;
IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de
recompensa.
Circunstâncias atenuantes: arts. 65 do CP:
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: 
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70
(setenta) anos, na data da sentença;
II - o desconhecimento da lei; 
III - ter o agente:
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime,
evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento,
reparado o dano;
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de
ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção,
provocada por ato injusto da vítima;
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o
provocou.

Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância


relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente
em lei.

Depois busca-se pela existência de causa de diminuição de pena para que seja
aplicada, buscando afastar as causas de aumento de pena.

Regime adequado, de acordo com o que se pede (art. 33, § 2º, CP)

Dentre as penas privativas de liberdade, segundo o art. 33 do CP:


Reclusão: a pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado,
semiaberto ou aberto.
Detenção: a de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo
necessidade de transferência a regime fechado.
 
§ 1º - Considera-se: 
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança
máxima ou média;
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou
estabelecimento adequado.
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma
progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes
critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: 
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em
regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e
não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-
aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro)
anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
§ 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com
observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código.

Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (art. 44 do


CP).
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as
privativas de liberdade, quando: 
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime
não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que
seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente. 

Se não for possível a substituição, pedir a suspensão da pena (art. 77 do CP).


Ainda existe a possibilidade de se haver a SUSPENSÃO CONDICIONAL
DA PENA – SURSIS – Art. 77 do CP.
Requisitos da suspensão da pena
Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois)
anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do
benefício;
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste
Código. § 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão
do benefício.
§ 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos,
poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja
maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão. 

XXXII EXAME DE ORDEM UNIFICADO (2021.1)


Prova aplicada em 08/08/2021

Na madrugada do dia 1º de janeiro de 2020, Luiz, nascido em 24 de abril de


1948, estava em sua residência, em Porto Alegre, na companhia de seus três
filhos e do irmão Igor, nascido em 29 de novembro de 1965, que também
morava há dois anos no mesmo imóvel. Em determinado momento, um dos
filhos de Luiz acionou fogos de artifício, no quintal do imóvel, para comemorar a
chegada do novo ano. Ocorre que as faíscas atingiram o telhado da casa, que
começou a pegar fogo. Todos correram para sair pela única e pequena porta
da casa, mas Luiz, em razão de sua idade e pela dificuldade de locomoção,
acabou ficando por último na fila para saída da residência. Percebendo que o
fogo estava dele se aproximando e que iria atingi-lo em segundos, Luiz desferiu
um forte soco na cabeça do irmão, que estava em sua frente, conseguindo
deixar o imóvel. Igor ficou caído por alguns momentos, mas conseguiu sair da
casa da família, sangrando em razão do golpe recebido. Policiais chegaram ao
local do ocorrido, sendo instaurado procedimento para investigar a autoria do
crime de incêndio e outro procedimento para apurar o crime de lesão corporal.
Luiz, verificando as consequências de seus atos, imediatamente levou o irmão
para unidade de saúde e pagou pelo tratamento médico necessário. Igor
compareceu em sede policial após ser intimado, narrando o ocorrido, apesar de
destacar não ter interesse em ver o autor do fato responsabilizado
criminalmente. Concluídas as investigações em relação ao crime de lesão, os
autos foram encaminhados ao Ministério Público, que, com base no laudo
prévio de lesão corporal de Igor atestando a existência de lesão de natureza
leve na cabeça, ofereceu denúncia, perante a 5ª Vara Criminal de Porto
Alegre/RS, órgão competente, em face de Luiz como incurso nas sanções
penais do Art. 129, § 9º, do Código Penal. Deixou o órgão acusador de
oferecer proposta de suspensão condicional do processo com fundamento no
Art. 41 da Lei nº 11.340/06, que veda a aplicação dos institutos da Lei nº
9.099/95, tendo em vista que aquela lei (Lei nº 11.340/06) estabeleceu nova
pena para o delito imputado. Após citação e apresentação de resposta à
acusação, na qual Luiz demonstrou interesse na aplicação do Art. 89 da Lei nº
9.099/95, os fatos foram integralmente confirmados durante a instrução
probatória. Igor confirmou a agressão, a ajuda posterior do irmão e o
desinteresse em responsabilizá-lo. O réu permaneceu em silêncio durante seu
interrogatório. Em seguida, foi acostado ao procedimento o laudo definitivo de
lesão corporal da vítima atestando a existência de lesões de natureza leve,
assim como a Folha de Antecedentes Criminais de Luiz, que registrava uma
única condenação, com trânsito em julgado em 10 de dezembro de 2019, pela
prática de contravenção penal. O Ministério Público apresentou a manifestação
cabível requerendo a condenação do réu nos termos da denúncia, destacando,
ainda, a incidência do Art. 61, inciso I, do CP. Em seguida, a defesa técnica de
Luiz foi intimada, em 19 de janeiro de 2021, terça-feira, para apresentação da
medida cabível. Considerando apenas as informações expostas,
apresente, na condição de advogado(a) de Luiz, a peça jurídica cabível,
diferente do habeas corpus e embargos de declaração, expondo todas as
teses cabíveis de direito material e processual. A peça deverá ser datada
no último dia do prazo para apresentação, devendo segunda a sexta-feira
serem considerados dias úteis em todo o país.
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 5ª Vara Criminal da Comarca
de Porto Alegre/RS.

Processo n.º...

Luiz, já qualificado nos autos em epígrafe, vem, à presença de


Vossa Excelência, por seu advogado infra-assinado, procuração em anexo,
com fundamento no art. 403, § 3º, do Código de Processo Penal, apresentar
MEMORIAIS (ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS), pelos motivos de fato
e de direito a seguir expostos:
DOS FATOS

Em data de 1º de janeiro de 2020, Luiz, ora acusado, em


companhia de seus três filhos e de seu irmão, Igor, ora vítima, comemoravam a
virada do ano, quando um de seus filhos, ao manusear fogos de artifício,
acabou por provocar um incêndio.
O acusado, então com 73 anos e apresentando dificuldade
para locomover-se, na tentativa de deixar o imóvel, acabou por desferir um
soco em Igor. Embora machucado, Igor conseguiu deixar o local. Verificando
as consequências de seus atos, o acusado socorreu a vítima, arcando com os
custos de seu tratamento.
Importa destacar que a vítima, em sede de inquérito policial,
deixou de representar. Foi juntado aos autos laudo prévio de lesão corporal de
Igor atestando a existência de lesão de natureza leve na cabeça.
Em decorrência do ocorrido, foi o acusado denunciado pela
prática do crime previsto no Art. 129, § 9º, do Código Penal, deixando o
Ministério Público de oferecer proposta de suspensão condicional do processo
com fundamento no art. 41, da Lei nº 11.340/06.
Recebida a denúncia e devidamente citado, em resposta à
acusação Luiz demonstrou interesse na aplicação do Art. 89 da Lei nº
9.099/95.
Em sede de instrução, foram os fatos integralmente
confirmados, inclusive pela vítima, que também confirmou a posterior ajuda
dada pelo irmão e o desinteresse em responsabilizá-lo criminalmente. O réu
permaneceu em silêncio durante seu interrogatório. Em seguida, foram
acostados ao procedimento o laudo definitivo de lesão corporal da vítima,
atestando a existência de lesões de natureza leve, assim como a Folha de
Antecedentes Criminais de Luiz, que registrava uma única condenação, com
trânsito em julgado em 10 de dezembro de 2019, pela prática de contravenção
penal.
O Ministério Público apresentou a manifestação cabível
requerendo a condenação do réu nos termos da denúncia, destacando, ainda,
a incidência do Art. 61, inciso I, do Código Penal; sendo a defesa intimada em
19 de janeiro de 2021, terça-feira, para apresentação da medida cabível

DO DIREITO

Preliminarmente, considerando que o delito em tela se traduz


em crime de lesão corporal leve, conforme demonstrado pelo laudo pericial
juntado, nos termos do art. 88, da Lei nº 9.099/95, é ele de ação penal pública
condicionada à representação. Há que se destacar que a vítima deixou de
representar, não demonstrando interesse em ver o acusado responsabilizado
criminalmente, tanto em fase de investigação preliminar, quando em sede de
instrução criminal. A ausência de representação importa em nulidade, nos
termos do art. 564, III, alínea a, do Código de Processo Penal, devendo, pois,
ser declarada.
Ademais, conforme se extrai dos autos, os fatos se deram em
1º de janeiro de 2020, tendo decorrido até o momento atual mais de um ano.
Considerando que a representação deve ser oferecida em um prazo de seis
meses, conforme art. 38 do Código de Processo Penal, evidencia-se assim,
que já decorreu tal prazo, impondo-se o reconhecimento da causa extintiva da
punibilidade do acusado, nos termos do art. 107, IV, do Código Penal.
Ainda em preliminar, deve ser reconhecida a nulidade pela
ausência de proposta de suspensão condicional do processo, prevista no art.
89 da Lei nº 9.099/95, uma vez que atende seus requisitos objetivos e
subjetivos. O crime não foi praticado em contexto de violência doméstica ou
familiar, ressaltando a não incidência da vedação à aplicação de institutos
despenalizadores da Lei nº 9.099/95, nos termos do art. 41 da Lei nº 11.340/06,
considerando ser a vítima homem, não alcançado pela mencionada lei.
Ultrapassadas as preliminares, no mérito, impõe-se a
absolvição do acusado, uma vez que sua conduta está amparada pela causa
excludente de ilicitude, estado de necessidade, nos termos do art. 23, I e art.
24, ambos do Código Penal. Isto porque o acusado praticou o fato para salvar-
se de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro
modo evitar; uma vez que já idoso e com dificuldade para locomover-se, sendo
certo que nessa circunstância, não lhe era razoável exigir tal sacrifício, como
garantia à sua integridade física.
Caso Vossa Excelência assim não entenda, o que não se
espera, em caso de condenação, deve a pena ser aplicada em seu mínimo
legal, uma vez que as circunstâncias judiciais, previstas no art. 59 do Código
Penal são favoráveis.
Também não há que se falar na incidência da agravante de
reincidência, prevista no art. 61, I, do Código Penal, devendo, pois, ser
afastada. Considerando haver uma condenação prévia por contravenção penal,
não resta configurada a reincidência, posto que o art. 63 do Código Penal,
sinaliza para a existência de condenação transitada em julgado para a prática
de crime.
Também há que ser considerada a incidência da circunstância
atenuante, disposta no art. 65, I, do Código Penal, uma vez que o acusado é
maior de setenta anos à data da sentença. Impõe-se ainda, o reconhecimento
da atenuante disposta no art. 65, III, alínea b, do Código Penal, posto que o
acusado procurou, por sua espontânea vontade e com eficácia, logo após o
crime, minorar as suas consequências, levando a vítima à unidade de saúde,
arcando com as despesas decorrentes do tratamento dispensado.
Considerando a pena imposta, deve ser fixado o regime aberto
para cumprimento de pena, nos termos do art. 33, caput e § 2º, alínea c, do
Código Penal, ressaltando que é prevista pena de detenção para tal crime.
Uma vez não ser possível a substituição da pena privativa de
liberdade pela restritiva de direitos, conforme art. 44 do Código Penal, deve ser
concedida a suspensão condicional da pena, nos termos do art. 77 do Código
Penal.
Por fim, que seja fixado o valor a ser indenizado, disposto no
art. 387, IV, do Código de Processo Penal, em seu patamar mínimo.

DO PEDIDO

Pelo exposto, requer-se a anulação do processo, pela ausência


de representação; ou ainda, o reconhecimento da causa extintiva de
punibilidade pela decadência, quanto ao prazo para representação.
Requer-se também seja declarada a nulidade pela ausência de
proposta de suspensão condicional do processo.
Requer-se ainda, seja o acusado absolvido, nos termos do art.
386, VI, do Código de Processo Penal.
Em caso de condenação, requer seja a pena aplicada em seu
mínimo legal, sendo reconhecidas as atenuantes dispostas no art. 65, incisos I
e III, a, do Código Penal, bem como afastada a agravante disposta no art. 61, I,
do Código Penal.
Requer ainda, a fixação do regime inicial aberto para
cumprimento de pena ou que lhe seja concedida a suspensão condicional da
pena.
Outrossim, requer-se a fixação do valor indenizatório em seu
patamar mínimo, nos termos do art. 387, IC, do Código de Processo Penal.

Termos em que,
Pede deferimento.

Local, 25 de janeiro de 2021.

Advogado
OAB n º

Você também pode gostar