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Processo Penal III

Sentença Penal Condenatória

A atuação do juiz consiste em: atos I - Limitar-se à indicação, à


decisórios não decisórios (despachos) reprodução ou à paráfrase de ato
e atos decisórios (decisões normativo, sem explicar sua relação
interlocutórias e sentenças). com a causa ou a questão decidida;

Princípio do livre convencimento II - Empregar conceitos jurídicos


motivado amparado nos fatos e indeterminados, sem explicar o
provas (art. 155 do CPP). motivo concreto de sua incidência no

Art. 315. A decisão que decretar, caso;

substituir ou denegar a prisão III - Invocar motivos que se


preventiva será sempre motivada e prestariam a justificar qualquer outra
fundamentada. decisão;

§ 1º Na motivação da decretação da IV - Não enfrentar todos os


prisão preventiva ou de qualquer argumentos deduzidos no processo
outra cautelar, o juiz deverá indicar capazes de, em tese, infirmar a
concretamente a existência de fatos conclusão adotada pelo julgador;
novos ou contemporâneos que V - Limitar-se a invocar precedente
justifiquem a aplicação da medida ou enunciado de súmula, sem
adotada. identificar seus fundamentos
§ 2º Não se considera determinantes nem demonstrar que o
fundamentada qualquer decisão caso sob julgamento se ajusta àqueles
judicial, seja ela interlocutória, fundamentos;
sentença ou acórdão, que:
VI - Deixar de seguir enunciado de  Fundamentação (incisos III e
súmula, jurisprudência ou precedente IV) – enfretamento de questões
invocado pela parte, sem demonstrar preliminares e prejudiciais ao
a existência de distinção no caso em mérito.
julgamento ou a superação do Após isso o juiz passa a análise do
entendimento. mérito (materialidade + autoria +
O paragrafo 2º do art. 315 influencia tipicidade + ilicitude +
na sentença penal condenatória. culpabilidade).

É essencial conter fundamentação.  Dispositivo (inciso V) –


O art. 381 do CPP elenca os conclusão do raciocínio, com
requisitos essenciais da sentença. julgamento da procedência ou
não da denúncia do MP.
 Relatório (inciso I e II) – as
*sentença suicida – é aquela
partes são qualificadas; se
que a fundamentação não se
houve incidentes processuais; se
coaduna com o dispositivo.
houve interrogatório, isto é,
 Autenticação (inciso VI) –
tudo o que aconteceu no
consiste na data e na assinatura
processo.
do juiz.
Demonstra que o juiz está ciente do
Art. 383. O juiz, sem modificar a
que ocorreu no processo.
descrição do fato contida na denúncia
Quando o juiz verifica no relatório
ou queixa, poderá atribuir-lhe
que houve algum vício ele baixa os
definição jurídica diversa, ainda que,
autos em diligência para que aquilo
em consequência, tenha de aplicar
possa ser resolvido.
pena mais grave.
A sentença que não contém relatório
O réu se defende dos fatos, portanto,
é considerada NULA, exceto no caso
a mudança da tipicidade, em tese, não
da Lei 9.099/95.
o afeta. Entretanto, é necessário que a
defesa possa enfrentar tudo o que lhe as causas de diminuição e de
possa prejudicar. aumento.

Havendo fato novo:

Art. 384. Encerrada a instrução 1ª fase – pena-base (circunstâncias


probatória, se entender cabível nova judiciais):
definição jurídica do fato, em Art. 59 - O juiz, atendendo à
consequência de prova existente nos culpabilidade, aos antecedentes, à
autos de elemento ou circunstância da conduta social, à personalidade do
infração penal não contida na agente, aos motivos, às circunstâncias
acusação, o Ministério Público deverá e consequências do crime, bem como
aditar a denúncia ou queixa, no prazo ao comportamento da vítima,
de 5 (cinco) dias, se em virtude desta estabelecerá, conforme seja
houver sido instaurado o processo em necessário e suficiente para
crime de ação pública, reduzindo-se a reprovação e prevenção do crime:
termo o aditamento, quando feito
I - As penas aplicáveis dentre as
oralmente.
cominadas;
Oportunidade de aditamento.
II - A quantidade de pena aplicável,
Dosimetria da pena dentro dos limites previstos;
Obedece ao critério trifásico III - O regime inicial de cumprimento
(comando do art. 68 do CP). da pena privativa de liberdade;
Art. 68 - A pena-base será fixada IV - A substituição da pena privativa
atendendo-se ao critério do art. 59 da liberdade aplicada, por outra
deste Código; em seguida serão espécie de pena, se cabível.
consideradas as circunstâncias
No início deve ser observada a
atenuantes e agravantes; por último,
qualificadora, já que ela muda a pena-
base – não se pode ficar aquém do No entanto, as circunstâncias podem
mínimo e além do máximo. levar o julgador a conferir ao caso

As circunstâncias utilizadas na uma reprovabilidade muito maior.

primeira fase não podem ser usadas Ex. crime praticado por Promotor de

na segunda, pois se estará cometendo Justiça.

BIS IN IDEM. “Longe de ser elemento genérico e

A análise geral é feita de baixo para que não faz parte do tipo penal.”

cima (3ª, 2ª, 1ª). O mesmo ocorre com o estupro de

Julgado do STJ: não configura BIN vulnerável contra criança, por

IN IDEM se presente mais de uma exemplo.

circunstância.  Antecedentes

Na hipótese, por se tratar de Diz respeito a fatos praticados antes


homicídio triplamente qualificado, do que está sendo julgado, isto é,
remanescem duas qualificadoras a analisar se o réu é primário ou não
serem sopesadas na primeira fase da (reincidência) – sentença penal
dosimetria, de modo a justificar a condenatória transitada em julgado.
fixação da pena-base acima do Como é verificado? Através da folha
mínimo legal. de antecedentes.
 Culpabilidade MAUS ANTECEDENTES X
Não se confunde como elemento do REINCIDÊNCIA
crime. Nessa fase se refere ao grau de Reincidência: fato anterior com
reprovabilidade da conduta. trânsito em julgado também anterior
A própria Lei já diz em vários (no dia que pratica o novo crime).
momentos o grau de reprovabilidade. Período depurador – art. 64 do
Ex. crime praticado por agente Código Penal – não prevalece a
público. condenação anterior se entre a data
do cumprimento ou extinção da pena Resulta da análise do perfil objetivo
e a infração posterior tiver decorrido no que se refere a aspectos morais e
tempo superior a 5 anos. psicológicos, para que se afira a

Não é contado da data do TJ, existência de caráter voltado à pratica

mas sim da extinção da pena. de infrações penais – com base nos


elementos probatórios dos autos,
UTILIZADA NA 2ª FASE.
aptos a inferir o desvio de
Maus antecedentes: condenação
personalidade de acordo com o livre
anterior, mas com trânsito em julgado
convencimento motivado,
posterior ao crime em apreciação.
independente de perícia.
Tese fixada: não se aplica para o
O laudo psicossocial não é
reconhecimento dos maus
necessário.
antecedentes o prazo quinquenal de
Há um diferencial no caso que
prescrição da reincidência.
possibilita entender que a
UTILIZADA NA1ª FASE. pessoa pode ter personalidade
 Conduta social voltada a prática criminosa.

Não se relaciona com a prática de Ex. pessoa que foge do


crimes. O uso de drogas por si só estabelecimento prisional e continua
também não, bem como estar praticando crimes.
desempregado. Jurisprudência: condenações
Exemplo de conduta social ruim: réu anteriores só podem ser utilizadas na
que foge do estabelecimento primeira fase para os antecedentes,
prisional. NÃO PODE para a conduta social e
para a personalidade.
A conduta social geralmente é
apurada mediante testemunho. *Há entendimento diverso sobre o
uso no caso de crimes sequenciais*.
 Personalidade do agente
O mais comum de acontecer é o No caso de “ciúme” há entendimento
julgador entender que não há de que possa aparecer como fator
elementos para entender sobre a para aumento da pena-base, no caso
personalidade. de violência contra a mulher.

 Motivos  Circunstâncias

Se refere a que motivo o agente Geralmente se refere ao modus


praticou aquele fato. No entanto, nem operandi.
sempre o juiz tem acesso a essa Além de tempo, local, desde que não
informação. inerentes ao tipo penal.
O motivo aqui só pode ser Situações diferenciadas
considerado como tal se ele for atestadas no caso concreto.
diferente do motivo que normalmente
Ex. vítima era pessoa idosa e
leva o individuo a praticar aquele tipo
cadeirante e ainda sofreu golpes de
de crime.
faca em seu abdômen.
Ex. indivíduo que pratica o crime de
No caso de tráfico de drogas, por
roubo para adquirir patrimônio – isso
exemplo, a pessoa que transporta a
é o óbvio.
droga a escondendo dentro das partes
A lei por diversas vezes diz que internas de um carro pode receber
determinado motivo será considerado uma pena-base mais gravosa como
como agravante ou aumento de pena, consequência.
o que dificulta a análise da aplicação
 Consequências
do motivo para aumento da pena-
base. Todo crime possui consequências,
sendo algumas esperadas em razão do
Pode deixar para aplicar na fase
próprio tipo penal e outras não.
seguinte, ex. motivo fútil.
A consequência, nesse caso, é
superior àquela esperada no tipo No caso da Lei de Drogas é
penal. fundamental analisar o que o art. 42
Ex. vítima que deixa seu emprego (11.343/2006) diz – não significa que
(depois do crime de roubo) ou que por conta da especialidade o art. 59
não consegue mais se relacionar com do CP não será considerado – os dois
ninguém (depois de ter sido artigos são levados em consideração
estuprada). (incremento).

Ou pessoa que perde a economia de


uma vida inteira em um crime de Cálculo:
estelionato.
Existe jurisprudência que diz que a
 Comportamento da vítima exasperação deve ser 1/6 para cada
Trata-se da análise do circunstância negativa (STJ).
comportamento da vítima para a 1/6 = 6 meses de pena.
realização do crime – se ela
2 circunstâncias = 12 meses (1 ano).
contribuiu ou não.
Não é técnico deixar expressa a
Não raro a vítima, por seu
fração utilizada na primeira fase.
comportamento temerário ou
Há um outro entendimento de que o
descuidado, facilita ou até estimula a
critério de exasperação deve ser de
atuação do criminoso. Ex. a) vítima
1/8.
de furto que não toma os devidos
cuidados na guarda da coisa; b) órgão
público vítima de estelionato que 2ª fase – pena intermediária
apresenta desídia administrativa ou (circunstâncias legais):
problemas estruturais (...) ou falta de Também considerada como pena
controles efetivos que possam evitar intermediária ou provisória.
ou minimizar as fraudes etc.
A presença de atenuantes não pode Para o cálculo o STJ também entende
diminuir a pena abaixo do mínimo que a fração a ser utilizada é de 1/6.
legal, bem como a presença de Concurso de circunstâncias
agravantes não pode elevar a pena agravantes e atenuantes:
acima do máximo legal.
Art. 67 - No concurso de agravantes e
Portanto, em um caso de na 2ª fase atenuantes, a pena deve aproximar-se
haver a confissão espontânea do limite indicado pelas
(atenuante) e a pena-base estiver circunstâncias preponderantes,
fixada no mínimo, a pena entendendo-se como tais as que
intermediária deverá ser mantida no resultam dos motivos determinantes
mesmo patamar. do crime, da personalidade do agente
Arts. 61 e 62 – 65 e 66. e da reincidência.

As agravantes possuem rol taxativo, Ordem:


enquanto as atenuantes rol 1. Motivos do crime;
exemplificativo. 2. Personalidade do agente;
Apenas a reincidência incide sobre 3. Reincidência do agente;
crimes dolosos e culposos, as demais Atenuante que mais prepondera:
agravantes apenas incidem sobre
Menoridade relativa (menor de 21
crimes dolosos.
anos) ou senilidade (maior de 70 anos
Art. 385 do CPP - Nos crimes de ação na data na sentença).
pública, o juiz poderá proferir
 A menoridade relativa
sentença condenatória, ainda que o
prepondera sobre as agravantes,
Ministério Público tenha opinado
em caso de existir uma
pela absolvição, bem como
agravante a ser aplicada, pode-
reconhecer agravantes, embora
se usar a fração de 1/12.
nenhuma tenha sido alegada.
Nessa fase ainda incide a SUM. 231 A unificação do concurso de
do STJ. crimes não faz parte dessa fase.

O STJ vem realizando a compensação Como pode haver concurso de


entre a agravante da reincidência e a crimes, a 3ª fase não consiste na pena
atenuante da confissão espontânea. definitiva do réu, mas sim do crime

Nesse caso não há analisado.

preponderância. Essas causas de aumento e


Uma anula a outra. diminuição dependem da previsão do

Exceção: multi-reincidência – nesse legislador – a fração é dita por ele,

caso, acaba agravando. em patamares fixos ou intervalos de


valores.
Exemplo de circunstância inominada
– rol exemplificativo das atenuantes: Ex. art. 14, II do CP – crime tentado:

Lei Maria da Penha. Tentativa

II - Tentado, quando, iniciada a

ROTEIRO: execução, não se consuma por


circunstâncias alheias à vontade do
1. Elementar;
agente.
2. Qualificadora;
3. Causa de aumento/diminuição; Pena de tentativa

4. Agravante/atenuante; Parágrafo único - Salvo disposição


5. Circunstância judicial; em contrário, pune-se a tentativa com
a pena correspondente ao crime

3ª fase – pena definitiva do crime: consumado, diminuída de um a dois


terços.
As causas de aumento também são
chamadas de majorantes. Nesse caso a Lei oferece um
intervalo, e para saber a fração a ser
As causas de diminuição são
aplicada deve-se analisar o iter
chamadas de minorantes.
criminis, isto é, o quanto o agente se Súmula 443 STJ: o aumento na
aproximou de consumar o crime. terceira fase da pena do crime de
Quanto mais perto tiver chegado, roubo circunstanciado exige
menor a diminuição, portanto, 1/3. fundamentação concreta, não sendo

Art. 157 § 2º A pena aumenta-se de suficiente para a sua exasperação a

1/3 (um terço) até metade (1/2): mera indicação do número de


majorantes.
II - Se há o concurso de duas ou mais
pessoas; Enquanto no §2º-A a fração é fixa:

III - Se a vítima está em serviço de § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3

transporte de valores e o agente (dois terços): I – Se a violência ou

conhece tal circunstância; ameaça é exercida com emprego de


arma de fogo;
IV - Se a subtração for de veículo
automotor que venha a ser II – Se há destruição ou rompimento

transportado para outro Estado ou de obstáculo mediante o emprego de

para o exterior; explosivo ou de artefato análogo que


cause perigo comum.
V - Se o agente mantém a vítima em
seu poder, restringindo sua liberdade; Na terceira fase não há a aplicação da
SUM. 231 STJ – ou seja, a pena pode
VI – Se a subtração for de substâncias
ficar aquém do mínimo ou além do
explosivas ou de acessórios que,
máximo legal.
conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, Art. 40 da Lei de Drogas – 1/6 a 2/3.

montagem ou emprego; Havendo pluralidade de causas de

VII - Se a violência ou grave ameaça aumento de pena e sendo apenas uma

é exercida com emprego de arma delas empregada na terceira fase, as

branca. demais podem ser utilizadas nas


demais etapas da dosimetria.
O deslocamento da majorante jurisprudência entende que é
sobejante para outra fase da obrigatório.
dosimetria, além de não
contrariar o sistema trifásico, é
a que melhor se coaduna com o
principio da individualização da
pena.

O que ocorre quando há mais de


uma causa de aumento (majorante)
e de diminuição (minorante)?

Art. 68 - Parágrafo único - No


concurso de causas de aumento ou de
diminuição previstas na parte
especial, pode o juiz limitar-se a um
só aumento ou a uma só diminuição,
prevalecendo, todavia, a causa que
mais aumente ou diminua.

Não se aplica se no caso


concreto há causa de aumento E
diminuição.
Se aplica para a pena prevista
na parte especial.

“PODE” – discricionariedade
limitada que deve ser controlada pela
fundamentação adotada. Tratando-se
norma mais benéfica para o réu a

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