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Direito Civil

Prof. André Barros/Cristiano Cassettari/Murilo Sechieri

Pessoas Naturais

1. Conceito: é todo ser humano. É a mesma coisa que pessoa física.

a) Atributos: personalidade jurídica é a aptidão genérica para ser titular de direitos e deveres (art.
1º do CC). É um atributo inseparável de todo ser humano e não depende de qualquer requisito.
As pessoas têm personalidade jurídica e são sujeitos de direitos. Os bens não tem personalidade e
são apenas objetos de direito.
Os animais são bem semoventes, ou seja, movem-se por conta própria - são bens de proteção, mas
não são sujeitos de direito. Coisas, bens, consistem em tudo que existe na natureza com exceção
das pessoas. O animal é coisa não podendo ser beneficiado por herança, doação, etc. O animal pode
ser beneficiado como, por exemplo, deixa um bem para alguém sob o encargo de cuidar dele.
Nunca pode tratar pessoa como se fosse coisa (isso se chama coisificação), pois isso feriria a
dignidade da pessoa humana.

2. Início da personalidade jurídica: o art. 2º do CC adotou a teoria natalista. O início da


personalidade, segundo esta corrente, ocorre no momento do nascimento com vida.
- Nascituro: tem simples expectativa de direitos ou direitos sob condição suspensiva, não são
direitos adquiridos. Ficam suspensos o exercício e aquisição do direito - existe a condição de que
a criança nasça com vida para que tenha seus direitos como, por exemplo, receber herança e
aceitar doação.
A doutrina prefere a teoria concepcionista que defende que o nascituro tem direitos adquiridos
desde sua concepção e não caso nasça com vida.

3. Capacidade Civil/Jurídica: é o exercício da personalidade jurídica.


a) Capacidade de direito/gozo: é aptidão em concreto para ser titular de direitos e deveres - para
Pontes de Miranda é a mesma coisa que personalidade jurídica. Para parte da doutrina, é o
exercício mínimo da personalidade jurídica - toda pessoa, por ter aptidão genérica, pode vestir
sua personalidade jurídica para ser proprietária de algo em concreto. Toda pessoa tem
capacidade de direito/gozo. Não existe incapacidade de direito/gozo.

b) Capacidade de fato, exercício ou ação: é a aptidão para exercer pessoalmente os atos da vida
civil. Nem toda pessoa tem capacidade. Aqui, a incapacidade pode ser absoluta ou relativa.
- Incapacidade absoluta: a vontade do incapaz não importa para o direito devendo ser
representado nos atos da vida civil sob pena de nulidade. No rol do art. 3º do CC, restou apenas
o menor de 16 anos, devido à aprovação e vigência do Estatuto do Deficiente.

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- Incapacidade relativa: a vontade do incapaz importa para o direito, porém é insuficiente,
devendo ser assistido nos atos da vida civil sob pena de anulabilidade. No do art. 4º do CC, os
relativamente incapazes são:
* Maior de 16 anos é menor de 18;
* Ébrios habituais e viciados;
* Aqueles que não puderem exprimir a vontade por causa transitória ou definitiva;
* Pródigos.

ATENÇÃO: Pelo Estatuto da Deficiência, todos os deficientes mentais passaram a ser tratados
como plenamente capazes.

4. Emancipação: é a antecipação da capacidade civil a um menor de idade.


a) Emancipação voluntária: aquela em que os pais manifestam sua vontade para emancipar os
filhos menores com 16 ou 17 anos. Por ser simples ato de vontade dos pais, a emancipação é
feita por escritura pública e NÃO precisa ser homologada judicialmente, mas deve ser levada à
registro.
Não é necessária a anuência do menor. É um direito dos pais.
*NENHUM negócio jurídico feito por escritura pública precisa ser homologada judicialmente.

b) Emancipação judicial: é feita pelo Juiz que profere sentença, sendo necessário seu registro. O
juiz pode emancipar o menor tutelado que tenha 16 ou 17 anos. Neste caso, a oitiva do tutor é
indispensável. O menor pode requerer a emancipação judicial.
A divergência entre os pais vivos e em exercício do poder familiar (apenas um quer emancipar),
será tratada na via judicial.

c) Emancipação Legal: é aquela que corre de forma automática quando presente uma das
hipóteses do art. 5º, II a V, CC. Não depende de escritura pública, sentença ou registro.
Somente na hipótese do inciso V (emancipar pelo trabalho) é exigida idade mínima (16 anos) e
economia própria (o menor se sustentar).

Pessoa Jurídica

1. Conceito: todo ente formado pela coletividade de pessoas ou de bens que adquire personalidade
jurídica própria por força de lei (conceito tradicional pautada na coletividade).
Exceção: EIRELI - pois nunca é formada por uma coletividade, apenas por uma pessoa natural.

2. Início da personalidade jurídica (art. 45, CC): a partir da inscrição do ato constitutivo. O ato
constitutivo não constitui, o que constitui é o registro. O registro é de natureza constitutiva. A
eficácia é ex nunc (não retroage)
Inscrição é o ato inaugural da pessoa jurídica (registro).

3. Pessoas jurídicas de direito privado:


a) Originalmente: sociedade, associação e fundação;
b) Acrescido: partido político, entidades religiosas e EIRELI

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Associação é formada pela coletividade de pessoas.
Fundação é formada pela coletividade de bens.
Ambas não podem ter fins lucrativos. A ideia é que a fundação tenha sobrevida, pois ela se
mantém já que se mantém por seus bens (os bens geram lucros que mantém a fundação). Já as
associações são mantidas pelos associados.

Bens Jurídicos

1. Conceito: bens são coisas dotadas de valor econômico.


Todo bem é coisa, mas nem toda coisa é bem.

2. Modalidade
a) Bem imóvel/raiz: tudo aquilo que adere ao solo, por vontade humano ou por força da natureza;
• Bem imóvel por natureza: adere ao solo por força natural (ex: árvore);
• Bem imóvel por acessão física ou artificial: adere ao solo artificialmente, ou seja, por
interferência humana (ex: construções em geral);
• Bem imóvel por determinação de lei: é assim considerado por força de lei (art. 80, CC);
• Direitos reais recaem sobre bem imóvel. Direito real é bem móvel por tem valor econômico.
• As ações que asseguram direitos reais são consideradas imóveis;
• Direito à sucessão aberta é bem imóvel (herança);
• Art. 1966, CC: pode haver hipoteca de navio e aeronave, mas são bens móveis - mesmo que
hipoteca seja direito reais - trata-se de EXCEÇÃO. Isso ocorre pois são bens que devem ser
registrados
• Art. 81, CC: edificações que se separa do solo e transportando sua estrutura, não perde caráter de
bem imóvel. Materiais separados provisoriamente de um prédio para nele se reempregarem, não
perde o caráter de bem imóvel (ex: azuleijos retirados para restauração e depois reimplantamos
no imóvel);

b) Bem móvel: é aquele que pode ser transportado sem alteração de sua essência
❖ Bem móvel por natureza: é aquele que pode se locomover por força própria ou alheia (ex de

locomoção por força própria: semoventes - animais; ex de locomoção de força alheia: mesa,
cadeira);
❖ Bem móvel por antecipação: é aquele colocado no solo para ser necessariamente retirado

futuramente (ex: árvore plantado para produção de móveis);


❖ Bem móvel por determinação legal (art. 83, CC): energias com valor econômico (ex: energia

elétrica), direitos reais sobre bens móveis e as ações que os asseguram e direitos pessoais de
caráter patrimonial (ex: fiança - é o patrimonio inteiro que é dado em garantia).
❖ Art. 84, CC: o material de construção, enquanto não aplicado, é bem móvel. Depois de aplicado,

torna-se imóvel. No caso de demolição, os restantes voltam a ser bem móvel.

c) Bem fungível: é o bem móvel que pode ser substituído por outro (todo bem fungível é móvel,
mas nem todo bem móvel é fungível); todo imóvel é infungível, mas tem todo bem infungível
é imóvel.

d) Bens consumíveis: são divididos em duas espécies

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• Bem consumível fisicamente (consuntibilidade física): é aquele que com o primeiro uso de
destrói (ex: palito de fósforo); bem inconsumível fisicamente, é aquele que permite um uso
reiterado (ex: tênis). Todo bem consumível é móvel
• Bem consumível juridicamente (consuntibilidade jurídica): bem que pode ser objeto de
alienação; bem inconsumível fisicamente é aquele que não pode ser alienado.
Todo bem consumível é móvel. O termo consumível é usado apenas para bens móveis. No caso do
bem que não pode ser alienado, o termo usado é inalienabilidade e não inconsumível.

e) Bens divisíveis: são aqueles que podem ser divididos sem a alteração de sua essência (ex:
bolo);
Bem indivisível é aquele que não pode ser dividido sem alterar a essência.
❖ Indivisibilidade natural: o próprio bem impõe a indivisibilidade (ex: cavalo);
❖ Indivisibilidade legal: imposta pela lei (ex: herança - é indivisível até a partilha);
❖ Indivisibilidade convencional (art. 1.320, parágrafos 1º e 2º, CC): autoriza convencionar

indivisibilidade do bem divisível. O bem divisível não poderá ser objeto de divisão (ex: doa um
terreno para os 03 filhos e coloca a cláusula da indivisibilidade para que eles não possam
dividir).

f) Bem singular: é aquele considerado individualmente (ex: livro)

g) Bem coletivo: subdividido em dois:


• Universalidade de fato: vários bens singulares unidos por vontade humana (ex: biblioteca)
• Universalidade de direito: dá-se com a união de vários bens por força de lei (ex: herança)

h) Bem principal: é aquele que existe por si só - independe de outro bem;

i) Bem acessório: é aquele que supõe a existência do bem principal :


• frutos - são acréscimos renováveis (ex: juros que depende do capital, aluguel que depende do
imóvel, maçã que depende da macieira).

• Produto é o acréscimo não renovável (ex: carvão);

• Benfeitorias:
- Necessária: ligada à conservação do bem
- Útil: facilita o uso do bem
- Voluptuária: ligada à lazer, recreação, embelezamento;

• Pertenças: são bens que se destinam de modo duradouro a uso, serviço, aformoseamento, e que,
em regra, não segue o principal, mas, excepcionalmente, pode seguir: quando as partes
desejarem, quando a lei determinar ou em razão das circunstâncias.

j) Bem particular: é aquele que pertence a pessoa natural ou a pessoa jurídica de direito privado;

k) Bem público: é aquele que pertence a pessoa jurídica de direito público. São imprescritíveis
(não podem ser objeto de usucapião), são impenhoraveis e inalienaveis (relativa, pois o bem
público de uso dominical pode ser alienado). Podem ser:
• Uso comum do povo (ex: praia, ruas, praças, avenidas);

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• Uso especial: é aquele que tem destinação específica (ex: prédio do fórum);
• Dominical: não tem destinação específica (ex: é aquele que está fechado) - pode ser alienado.

Validade do Negócio Jurídico

Negócio jurídico é ato humano lícito cujas consequências são estabelecidas pelas partes (ex:
contrato - é negócio jurídico por excelência);

Requisitos

1. Agente capaz;
2. Objeto lícito, possível e determinável ou determinado;
3. Forma prevista e não defesa em lei: Conforme art. 107 do CC, o negócio jurídico é, em regra,
não solene. Solenidade significa a obrigatoriedade ou não de praticar o ato por escritura
pública. Deverá ser feito por escritura pública quando a lei exigir (art. 108, CC);
4. Inexistência de vicio ou defeito.

A inobservância de algum requisito de validade torna o ato inválido.

Sanções aplicadas ao negócio inválido

Nulo Anulável

Incapacidade absoluta Incapacidade relativa (prazo: 04 anos de quando


cessada a incapacidade )

Objeto ilícito

Nulo (art. 166, CC)

Vício no negócio jurídico (prazo: 04 anos


contados a partir da celebração, exceto na
coação - neste caso inicia-se a contagem a
partir da cessação da coação)
❖ Ato nulo é imprescritível
❖ Ato anulável (arts. 171 e 178, CC) é prescritível;

Características

Ato Nulo Ato Anulável

Fere preceito de ordem pública Fere preceito de ordem privada

Juiz age de ofício Juiz não age de ofício

Ação declaratória de nulidade Ação anulatória

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Ato Nulo Ato Anulável

É proposta por qualquer interessado e o MP Somente os interessados

Imprescritível Está sujeita a um prazo decadencial (arts. 178 e


179, CC)

Ex tunc (retroage) Ex nunc (não retroage )

Não admite confirmação Admite confirmação (consertar o problema)

Vícios do Negócio Jurídico


Vício da Vontade

Prejudicam o consentimento. O ato é anulável, no prazo de 04 anos contados da celebração.


Exceção: o prazo de 04 anos, no caso da coação, é contado no momento em que ela cessar.

1. Erro: erro é a noção falsa sobre uma coisa ou pessoa. É um engano espontâneo.
a) Erro substancial: é o que recai sobre qualidade essencial da pessoa ou coisa (art. 139, CC).
Somente o erro substancial gera anulabilidade;
b) Erro acidental: é o que recai sobre qualidade secundária (art. 138, CC). Não gera
anulabilidade, pois não contamina vontade, pois recai sobre qualidade secundária (ex: compra
uma casa achando que tem 07 janelas, mas tem somente 06 - não há contaminação da vontade).
É resolvido em perdas e danos;

2. Dolo: é um artifício astucioso usado para enganar a vítima. É um engano induzido.


a) Dolo principal (causam): é aquele que é causa determinante da celebração do negócio.
Somente o dolo principal anula o negócio;
b) Dolo acidental (incidens): é aquele usado para que o negócio seja celebrado em condição
desfavorável (mais onerosa e menos vantajosa) - ex: quer comprar uma casa e o vendedor
aumenta o valor mentindo sobre benefícios, não para convencer a comprar, mas sim para
convencer a pagar mais, o dolo é acidental. Não anula o negócio. Resolve-se em perdas e
danos.
c) Dolo enantiomórfico (recíproco ou bilateral): é o dolo de ambas as partes (art. 150, CC). Não é
anulável, nem resolve-se em perdas e danos.

3. Coação: é a pressão física ou moral que impede a real manifestação de vontade. Tem que gerar
medo. Na coação, deve-se levar em conta sexo, idade, saúde, temperamento, condição.
a) Vis absoluta: violência física;
b) Vis compulsiva: violência moral (chantagem).

* Vis é violência

Não confundir coação com exercício regular de direito e com temor reverencial (respeito).

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Se a coação disser respeito a pessoa não pertencente à família, o juiz decidirá se houve ou não
coação, pois, em regra, ela se dá quanto a pessoa, sua família ou seus bens.

4. Estado de Perigo (art. 156, CC): ocorre quando assume obrigação excessivamente onerosa
para salvar a si ou alguém de sua família de um grave dano conhecido pela outra parte (ex:
centro cirúrgico).

5. Lesão (art. 157, CC): ocorre quando alguém se obriga a uma prestação manifestamente
desproporcional em razão da necessidade ou inexperiência (ex: dependente químico que pega
TV de 50 polegadas e vende por 10 reais - totalmente desproporcional).
• Princípio da conservação do negócio jurídico: antes de anular, o juiz precisa perguntar se a outra
parte quer pagar a diferença.

Vício social

Prejudicam a sociedade. O ato é anulável, no prazo de 04 anos contados da celebração.


1. Fraude contra credores: é uma prática maliciosa para tornar o devedor insolvente (ter mais
dívida do que bens - art. 955, CC). Insolvência: a preferência é dada para quem tem garantia
real (penhor, hipoteca, anticrese) - não confundir com falência.
Ação para anular o negócio jurídico chama-se ação pauliana.

Simulação é uma causa invalidante prevista no art. 167, CC. Gera nulidade.

Eficácia do Negócio Jurídico


Elementos acidentais do negócio jurídico

1. Condição: é a cláusula que subordina o efeito do negócio jurídico a um evento futuro e incerto
(ex: dará um fogão quando casar - o casamento dá efeito ao casamento)
a) Condição suspensiva: é aquela que subordina a eficácia do negócio (dá efeito ao negócio
jurídico - exemplo acima);
b) Condição resolutiva: é aquela que subordina a ineficácia do negócio (ex: empresta a casa na
praia até casar - o casamento encerra a eficácia do negócio);

2. Termo: cláusula que subordina o efeito do negócio jurídico a um evento futuro e certo.
a) Termo suspensivo: é aquele que subordina a eficácia (ex: dará um fogão em agosto de 2016 -
dá eficácia ao negócio);
b) Termo resolutivo: é aquele que subordina a ineficácia (ex: empresta a casa até o Natal - tira a
eficácia - depois do Natal, acaba o efeito);

3. Encargo: é uma ônus, uma obrigação, imposta uma das partes (ex: dará uma casa se cuidar do
irmão até ser aprovado no vestibular - doação modal ou com encargo).

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Prescrição e Decadência
• Prescrição: é a perda da pretensão. Extingue a possibilidade de exigir o cumprimento de uma
obrigação (art. 189, CC). O juiz pode conhecer de ofício.
- Pretensão: é a possibilidade de se exigir o cumprimento de uma obrigação de dar, fazer ou não
fazer.

• Decadência: é a perda do direito potestivo. O juiz pode conhecer de ofício.


- Direito potestivo: é aquele que permite o titular ao exercê-lo atingir outra pessoa que nada
poderá fazer (ex: empregador tem direito potestivo de dispensar o empregado).

Prescrição Decadência

Art. 205: não havendo prazo menor, a prescrição


se dá em 10 anos (prazo geral);

Art. 206: prevê prazos específicos (ex: 05 anos


para cobrar honorários advocatícios; 03 anos
para propor ação civil reparatória).

Os prazos específicos estão previstos nos Os prazos de 06, 07, 08 ou 09 anos, bem como
parágrafos do art. 206: 01 ano, 02 anos, 03 anos, os prazos acima de 11 anos, são decadenciais.
04 anos e 05 anos.

Só existe prazo de prescrição em anos. Existe prazo em meses, dias ou anos.

Se o prazo de 01, 02, 03, 04 ou 05 anos estiver Se o prazo de 01, 02, 03, 04 ou 05 anos estiver
atrelada a uma ação condenatória, o prazo será atrelada a uma ação constitutivo ou
prescriocionário. desconstitutiva, o prazo será decadencial (ex:
ação anulatória, exclusão de herdeiro).

Direito das Obrigações

1. Conceito: é a relação jurídica pessoal e transitória que confere ao credor o direito de exigir do
devedor o cumprimento de determinada prestação.

• Direitos reais: coisa e é perpetuidade;


• Direitos pessoais: pessoas e é transitório;

2. Elementos:
a. Elementos jurídicos:
i. Sujeitos: qualquer pessoa física ou jurídica e o nascituro;
1. Sujeito ativo: credor;
2. Sujeito passivo: devedor;
3. Poderá ser credor e devedor: nascituro; condomínio edilício; entes despersonalizado – mesmo
sem ser sujeito.

b. Elemento objetivo:

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i. Prestação:
1. Dar;
2. Fazer;
3. Não fazer.

c. Elemento imaterial/virtual/espiritual: é o vinculo existente entre credor e devedor.


i. Teorias admitidas:
1. Teoria dualista/binária: por ela, a obrigação civil é formada por:
a. Débito (1ª parte da obrigação): é o dever jurídico de cumprir espontaneamente uma prestação;

b. Responsabilidade Civil (2ª parte da obrigação): é a consequência jurídica e patrimonial do


descumprimento do débito. O que a pessoa não faz espontaneamente, faço-a cumprir forçadamente
ou faço-a reparar os danos.

3. Classificação da Obrigação de acordo com a sua natureza:


a. Obrigação Civil: é aquela que pode ser cobrada judicialmente (ex.: dívida de aluguel vencida,
mas não prescrita).
i. Características: ela gera debito e responsabilidade civil;

b. Obrigação Natural: é aquela que não pode ser cobrada em juízo (ex.: dívida prescrita, divida de
jogo – não podem ser cobrados judicialmente, porque na obrigação natural ela gera o debito, mas
não gera responsabilidade civil).

ATENÇÃO!!! Se a obrigação natural for cumprida espontaneamente o devedor não poderá cobrar
de volta aquilo que foi pago. Ocorre o fenômeno do soluti retentio, o credor pode reter o que foi
pago.

c. Obrigação moral: é aquela que é fruto de nossa consciência (ex.: ser educado com as pessoas,
que é obrigação moral, não trair o namorado, é uma obrigação moral). Não tenho o dever jurídico,
mas tenho dever moral.
i. Características: não gera debito, nem responsabilidade civil.

4. Classificação da Obrigação de Acordo com a Prestação:


a. Dar: aquela que consiste a estrega de uma coisa determinada, ou determinável;
i. Transfere a propriedade?

1. Titulo + Modo:
a. Titulo: o que transfere a propriedade é o registro
b. Modo
i. Bem imóvel: é o registro (bem imóvel);
i. Bem Móvel: tradição – entrega da coisa (bem móvel);

ATENÇÃO!!! o que transfere a propriedade do automóvel é a tradição. O registro no Detran é


mera formalidade administrativa, que te tira de vários enroscos.

ii. Obrigação de dar coisa certa: é aquela em que o objeto está completamente individualizado –
está determinado, ex.: está vendendo uma casa x, na rua x, cor x, é este e não outro.

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1. Regrinhas:
a. Principio da gravitação Jurídica/Principio da acessoriedade: o acessório segue a sorte do
principal (ex.: em uma caneta, o bem principal é a caneta, todo bem acessório tem sua razão em
função do principal).
• Isso aqui vale quando o contrato é omisso.
b. Coisa-devida: Art. 313, CC – o credor não pode ser forçado a receber prestação diversa da que
era devida ainda que muito mais valiosa.
i. Se aceitar, podemos ter uma dação em pagamento.

"Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que
mais valiosa."

iii. Obrigação de dar coisa incerta: é aquela que o objeto é determinável, onde precisarei que seja
identificado gênero e quantidade (ex.: um automóvel; se faltar qualquer um desses dois requisitos o
ato será nulo).
• Pode faltar a indicação da qualidade.
1. Escolha do objeto:
a. O objeto deve ser escolhido;
b. No silêncio do contrato a escolha competirá ao devedor;
c. O devedor está proibido de entregar o da pior qualidade, mas não está obrigado a entregar o da
melhor (princípio do meio termo, ou da qualidade média);

ATENÇÃO: A partir do momento que é realizada a escolha e comunicada à outra parte, a


obrigação se transforma em dar coisa certa.

b. Fazer: é aquela que consiste em uma atividade (ação) que não seja a entrega de um objeto.
i. A atividade pode ser física ou intelectual;

ii. Fungível ou Infungível:


1. Fungível: é aquela substituível, outras palavras, outra pessoa pode cumprir a obrigação no lugar
do devedor, ex.: atividade simples – pintar um muro de branco;
2. Infungível: é aquela insubstituível, é aquela personalíssima, intuito persona, ou seja, é aquela
contratada em atenção a determinadas características qualidades ou atributos do devedor, ex.:
artista famoso - contratei Ivete e veio Oasis. O credor não pode ser compelido a aceitar o
cumprimento da prestação por terceiro, se aceitar depois não poderá reclamar indenização pela
substituição.

EXCEÇÃO: se foi compelido a aceitar em razão de urgência/emergência depois poderá cobrar


indenização.

c. Não Fazer: é a única espécie de obrigação negativa que existe. É aquela em que o devedor
assume a obrigação de abstenção (ex.: clausula de exclusividade, clausula de não concorrência);

5. Transmissão das Obrigações


a. Cessão de Crédito - é um negocio jurídico em que o credor de uma obrigação (cedente) transfere
a outra pessoa (cessionária) um crédito existente perante o devedor (cedido);
Apenas comunica o Cedido!

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b. Assunção de Dívida: é o mesmo que cessão de débito – é o negocio jurídico pelo qual, o devedor
de uma obrigação (cedente) transfere a sua divida a uma outra pessoa (cessionário) com o
consentimento expresso do credo (cessionário). Aqui eu preciso de expressa autorização, não posso
sair por ai transferir as minhas dividas.

6. Pagamento/Adimplemento obrigacional
a. Requisito de validade:
i. Existência de uma obrigação anterior: sob pena de caracterizar pagamento indevido ->
repetição de indébito;
ii. Cumprimento de uma prestação: quando tenho um cumprimento exato de uma obrigação,
tenho um pagamento direto; se ocorreu de forma diversa posso ter aqui uma modalidade de
pagamento indireto, que nem na dação.
iii. Animus Solvendi: intenção de pagar;
iiii. Sujeitos do pagamento:
1. Sujeito ativo: é quem paga – não necessariamente o devedor, este é o solvens (ou pagador);
2. Sujeito passivo: é quem recebe – é o accipiens (ou recebedor).

Pagamento
Adimplemento; cumprimento efetivo da prestação.

Para o pagamento extinguir a dívida:


❖ Quem deve (pode) pagar? O devedor, pelo terceiro interessado (aquele que pode ser atingido em
seu patrimônio caso a dívida não seja paga - ex: fiador, sublocatário) e o terceiro não interessado
(interesse afetivo, moral, ético - ex: pai que paga uma dívida do filho).

Obs.: quando o pagamento é feito pelo terceiro interessado, ele fica sub rogado dos direitos do
credor satisfeito.

Obs.: se o terceiro não interessado pagar em nome do devedor presumi-se que tenha feito uma
liberalidade, ou seja, ele me deu e não tem direito a restituição do que foi pago. Se ele pagou em
nome próprio, terá o direito de regresso contra o devedor.

❖ A quem se deve pagar? Para o credor ou seus sucessores e para o representante legal (menor) ou
convencional (procuração) do credor.

Hipóteses em que é válido o pagamento feito a terceiros:


- quando for confirmado/ratificado o pagamento pelo credor - a pessoa confirma que recebeu o
pagamento feito.
- quando o objeto do pagamento houver revertido em proveito do credor - ex: a pessoa que
recebeu paga uma dívida do credor com o dinheiro pago.
- quando feito de boa fé ao credor putativo/aparente, ou seja, aquele que aos olhos de todos parecia
ser o credor (ex: o credor morre, e não tinha ninguém, apenas a mãe, e todos achavam que ela
seria a sucessora. Depois que eu pago a ela, aparece um filho que era quem deveria ter recebido).

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Hipóteses em que não vale o pagamento feito ao próprio credor:
- quando o devedor sabia que o credor era incapaz, salvo se houver prova de que reverteu em
proveito dele (benefício ao incapaz) - ex: eu paguei para uma criança de 5 anos, quando deveria
ter sido pago aos representantes.
- quando o crédito já estava penhorado e o devedor já havia sido intimado da penhora. O
pagamento é feito em juízo.
❖ Objeto do pagamento - pagamento direto: o que deve ser pago? A prestação, e o credor não é

obrigado a receber coisa diversa ainda que mais valiosa. Deve pagar o que foi combinado.

Pagamento em consignação

Art. 334/335, CC.


Pagar não é apenas um dever, é também um direito. A dívida é um "peso". Aqui são casos que a
pessoa quer pagar, mas encontra obstáculos.

Conceito: é o depósito feito pelo devedor ou por terceiro, judicial ou em estabelecimento bancário,
da coisa devida a fim de extinguir a obrigação.

Hipótese de cabimento para a consignação:


1. Quando houver mora do credor (ex: não vem receber quando deveria ter vindo; recusa receber
ou de dar o recibo da quitação).
2. Impossibilidade física de efetuar o pagamento (ex: quando o credor é desconhecido, causas
naturais que impossibilitem de fazer o pagamento - chuva).
3. Dúvida sobre quem é o credor (ex: a pessoa morreu e tem dúvida de quem é o credor, o filho
que não foi reconhecido ou a mãe).

Deposito extrajudicial - estabelecimento bancário


Quando se tratar de obrigação em dinheiro, o devedor poderá efetuar o depósito em banco oficial,
se houver, ou qualquer outro banco privado caso não tenha os estatais. O credor será cientificado
pelo banco por carta com AR e poderá apresentar recusa por escrito em até 10 dias (se não o fizer,
considera-se extinta a dívida).
Apresentada a recusa, o devedor terá o prazo de 30 dias para ajuizar a ação consignatária.
Obs.: se a recusa for válida a dúvida continua e se a recusa for invalida, a dívida está quitada.

Pagamento com sub-rogação

Art. 346/351, CC.


Conceito: é a operação pela qual o crédito e todos os seus acessórios se transmitem ao terceiro que
pagou a dívida. Quando uma pessoa alheia que pagou a dívida, há hipóteses em que ela estará sub
rogada.

1. Sub rogação legal ou automática: quando há o pagamento pelo terceiro interessado.


2. Sub rogação convencional: é um tipo de contrato; quando o credor recebe de terceiro não
interessado, é expressamente transfere a ele todos os seus direitos na relação obrigacional (ex:
eu devia pro banco, meu pai paga, e ele e o banco combinam de fazer a sub rogação).

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Dação em pagamento

Art. 356/359, CC
Conceito: é o negócio jurídico pelo qual o credor concorda em receber coisa diversa da que lhe é
devida.
Obs.: se for estipulado valor a coisa dada, aplicam-se as regras da compra e venda, logo o devedor
responde pelos vícios redibitório da coisa.

Obs.: se o credor sofrer evicção da coisa dada (perder a coisa para um terceiro), a quitação fica sem
efeito e a dívida se restabelece, se restaura.

Novação

Conceito: é a criação de uma dívida nova, com o objetivo específico de extinguir uma anterior. Ex:
renegociação de uma dívida bancária.

Requisitos:
1. Que a dívida antiga exista e não seja nula (ex: eu fui fazer uma novação no banco de uma
dívida X, e antes de eu ir ao banco meu pai já tinha pago. Neste caso a dívida nova não existe,
por que foi feita em relação a uma dívida que não existia mais).
2. Que seja criada uma dívida substancialmente nova, diferente. Para ser novação deve ser nova, e
não modificar a primeira dívida.
3. "Animus novandi" - inequívoca intenção do credor em aceitar a dívida nova, no lugar da antiga
- dever ter uma cláusula expressa da intenção em novar.

Compensação

Conceito: é a extinção das obrigações que ocorre quando duas pessoas forem credora e devedora
uma da outra - "eu devo pra ele porque me emprestou dinheiro, e ele me deve porque quebrou meu
celular", nesse caso as dívidas se neutralizam. Pode ser total ou parcial, compensa uma parte e o
resto continua devendo.

Requisitos:
1. Reciprocidade dos créditos: só pode compensar o que eu devo pra voce, com o que você deve
pra mim. Não pode ser compensado com um terceiro.
2. Co-fungibilidade das prestações: o objeto deve ser igual, devem ser fungíveis entre si. Ex:
dinheiro com um cavalo não pode, a não ser que haja contrato entre as partes, pela lei devem
ser objetos iguais.
3. Ambas sejam líquidas e vencidas.

Impedimentos a compensação - a compensação pode ser proibida se diante de uma dessas


hipóteses
1. Quando uma das dúvidas for proveniente de alimentos: os alimentos se destinam à
sobrevivência, portanto não pode compensar.
2. Quando for proveniente de roubo, furto ou esbulho (ex: não pode furtar dinheiro da pessoa que
te deve, para fazer a compensação).

ROBERTA FERNEDA ESCRIMIM 13


3. Quando for proveniente de coisa impenhorável (ex: salários, o empregador deve pagar o salário
e não pode não pagar para compensar um dano que o empregado causou).

Contratos

1. Conceito: é a celebração de um negócio jurídico que requer a junção de vontade de duas


vontades. É negócio jurídico bilateral ou plurilateral.
Bilateral é quando há uma parte de um lado e outra parte de outro lado, ainda que haja várias
pessoas dentro de um dos lados.
Plurilateral é quando cada uma das pessoas têm lados diversos

2. Princípios: fundamentos/normas básicas


a) Autonomia privada ou liberdade de contratar: é a prerrogativa que os particulares têm de
criar para si normas juridicas especificas, através dos contratos. A liberdade pode se manifestar
de várias formas:
• Liberdade de contratar ou não: ninguém pode impor o contrato.
• Liberdade de escolha do outro contrante: escolhe com quem quer contratar.
• Liberdade para definição do conteúdo do contrato: As partes estabelecem o teor das cláusulas do
contrato.
A liberdade não é absoluta.

❖ Limites a este princípio:


- O contrato não pode ofender as normas de ordem pública (cláusula que contrarie isso é nula de
pleno direito);
- Não podem contrariar os bons costumes (ex: art. 426, CC - não pode ser objeto de contrato
herança de pessoa viva);
- Proteção ao contratante vulnerável: um dos contratantes, se comparado ao outro, é mais fraco,
vulnerável (princípio da isonomia). Com isso, a lei limita a liberdade de fixar o conteúdo.
Tentativa de reequilíbrio da relação.

b) Principio do Consensualismo: em regra, o vínculo contratual se considera formado com o


simples encontro das vontades dos contratante, pelo simples consenso.

❖ Exceções:
- Contratos solenes ou formais: são aqueles que dependem de uma forma específica para a
celebração (ex: art. 108, CC - compra e venda ou doação de imóvel de valor acima de 30 salários
mínimos, só se faz por escritura pública).
- Contratos reais: são aqueles que só existem no momento em que é entregue para uma das partes
a coisa ("res") objeto do contrato (ex: comodato que é entrega da coisa infungível - só existe
contrato quando entrega o objeto. Enquanto não houver a entrega da coisa, não há contrato -, e o
mútuo - mesma coisa que o comodato, porém a coisa é fungível, dinheiro).

c) Princípio da Relatividade: os direitos e obrigações decorrentes de um contrato só pode ser


exigidos daqueles que são os próprios contratantes e não de terceiros. Os contratos são

ROBERTA FERNEDA ESCRIMIM 14


oponíveis entre as partes, entre os contratantes. Somente quem contratou é quem está
vinculado.

❖ Exceções:
- Estipulação em favor de terceiros: por exemplo, seguro de vida, doação com encargo de
alimentos em favor de terceiro (ex: doa uma fazenda com o encargo de cuidar de um parente). O
terceiro tem direito de cobrar o benefício.
- Contratos com eficácia real: é aquele que deve ser respeitado por todos e tem eficácia "erga
omnes" (ex: o contrato de locação registrado em cartório de registro de imóveis onde o imóvel
está matriculado - se o locador vender para terceiro, e não estiver registrado em terceiro, o novo
proprietário pode retirar o locatário do imóvel. Se tiver registrado, o novo proprietário terá que
respeitar o contrato até o fim. Para o inquilino, neste caso com o registro, não muda nada - deve
respeitar o contrato até o fim).

d) Princípio da força obrigatória ou "pacta sunt servanda": o contrato faz lei entre as partes e,
por isso, em regra, não se admite:

• Retratação unilateral: uma das partes não pode se retratar unilateralmente


❖ Exceções a retrataçã unilateral:
- Direito de arrependimento previsto no contrato: há uma cláusula no contrato que determina que
até o fim dele, uma das partes pode se arrepender.
- Direito de arrependimento do art. 49, CDC: quando o consumidor compra fora do
estabelecimento.

• Não se admite revisão judicial do conteúdo do contrato, em regra.


❖ Exceto:
- Revisão dos contratos de consumo quando injustos para o consumidor;

• O descumprimento autoriza a execução forçada: se uma das partes se recusa a cumprir, pode
ingressar com ação de execução para obrigar a outra parte a cumprir o contrato.

e) Princípio da função social (art. 421, CC): o contrato deve ser utilizado como instrumento do
bem comum o que gera duas consequências:
• Contrato deve ser justo: quando o contrato é muito bom para um, é péssimo para o outro (ex: art.
156, CC - estado de perigo; art. 157, CC - lesão. Esses contratos ofendem a função social);
• Não pode ofender direitos transindividuais: o contrato faz bem para as partes, mas é péssimo
para a coletividade, esse contrato é contrário a função social.

f) Princípio da boa-fé objetiva (art. 422, CC): é obrigação de que os contratantes observem uma
regra de comportamento coerente com a ética, lealdade, honestidade, solidariedade, etc. As
partes devem agir com o que é virtuoso.

Vícios Redibitórios

1. Conceito: são defeitos ocultos que se apresentam em coisa que foi recebida em decorrência de
contrato comutativo (não gratuito - sempre oneroso - nem aleatório). Exemplo: compra e venda

ROBERTA FERNEDA ESCRIMIM 15


2. Requisitos:
a) Contrato não pode ser gratuito nem aleatório: deve ser sempre oneroso. Não pode reclamar
no caso da doação.
b) Vicio não pode ser aparente: se compra sabendo do vício, não gera direito para quem
comprou, pois presume-se que comprou assumindo o risco.
c) Grave: torne a coisa imprópria para o uso ou diminua consideravelmente seu valor.
d) O vicio já existia no momento do contrato: se o vazamento surge uma semana depois, o dono
deve arcar com os prejuízos. Não gera dano.

3. Efeitos: o adquirente pode optar por uma das ações edilicias, que são:
a) Ação redibitória: tem por objetivo o desfazimento do contrato com a devolução das quantias
pagas;
b) Ação estimatório ou "quanti minori": tem por objetivo o abatimento proporcional do preço.

4. Prazos de decadência para propositura da ação:


a) Bem móvel: quando se tratar de bem móvel, o prazo para propositura da ação é de 30 dias a
contar da entrega do bem;
b) Bem imóvel: quando se tratar de bem imóvel, o prazo para propositura da ação é de 01 ano a
contar da tradição.

Evicção

1. Conceito: é a perda da coisa que foi adquirida por contrato oneroso por sentença ou ato
administrativo que atribui a um terceiro por uma causa jurídica anterior à aquisição. Ex:
aquisição "a non domino" - quem vendeu parecia o dono, mas não era - A compra um imóvel de
B, ocorre que C está exercendo domínio há anos, inclusive, com ação de usucapião. B nunca se
tornou proprietário, uma vez que C é dono. B sofre evicção.

Obs.: o alienante responde por todos os prejuízos causados pela evicção, inclusive devolução do
preço, custas processuais, honorários de advogado e indenização por danos materiais e/ou morais
(todos os prejuízos)

Obs.: pelo novo CPC, a denunciação da lide feita pelo adquirente ao alienante é facultativa. Se ele
preferir, pode ajuizar ação autônoma de regresso.

Compra e Venda

art. 481 a 532, CC.


• Conceito: é o contrato pelo qual o vendedor se obriga a transferir o domínio sobre certa coisa ao
comprador mediante o pagamento do preço em dinheiro. No nosso ordenamento não transfere a
propriedade, o contrato cria apenas uma obrigação.
A transferência da propriedade não é automática; ela decorre da tradição ou entrega se a coisa for
móvel ou o registro do título se for imóvel.

ROBERTA FERNEDA ESCRIMIM 16


Para ser compra e venda, a maior parte do pagamento deve ser em dinheiro. Se mais da metade for
por outra coisa, já se configura permuta, não compra e venda.

• Elementos:
1. Consentimento;

2. Coisa ou res (objeto); a coisa deve possuir três características:


- disponibilidade: a coisa deve ser alienável (não podem ser vendidos os bens inapropriáveis,
bens públicos de uso comum do povo, e os bens gravados com cláusula de inalienabilidade);
- individuação: a coisa deve ser definida, identificada, discriminada
- existência da coisa: pode ser atual (existe no momento do contrato), ou futura (apartamento na
planta, por ex). Se a coisa futura não vier a existir o contrato fica sem efeito.

3. Preço:
a) sério: não fictício ou irrisório (proporcional à coisa)
b) em moeda corrente nacional - dinheiro
c) certeza ou determinação: o preço deve ser definido, conhecido pelas partes.
Obs.: é nulo o contrato quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes a fixação do preço
(art. 489, CC).

Limitações (restrições a compra e venda)

- Art. 496: é anulável a venda de ascendente para descendente, quando não há a concordância dos
demais ascendentes e do cônjuge do alienante, salvo se o regime de bens for da separação
obrigatória. O prazo para propositura da ação anulatória é de dois anos a contar da celebração do
negócio.

- Art. 497: certas pessoas que têm influência sobre os bens do vendedor não podem comprar tais
bens, nem mesmo em hasta pública, sob pena de nulidade. Por exemplo: tutor ou curador,
servidores públicos em geral em relação aos bens das PJ (?) a quem servem, juízes e
serventuários em relação aos processos que atuam.

- Art. 499: não se admite a compra e venda entre cônjuges de bens que enterrem a comunhão.

- Art. 504: quando um dos condôminos pretender alienar a terceiro a sua quota deverá respeitar o
direito de preferência dos demais; se não fizer, o condômino preterido poderá exigir a quota para
si se depositar o valor pago pelo terceiro em até 180 dias da celebração do negócio.

Regras especiais

1. Art. 490: salvo em disposição em contrário, as despesas de escritura é registro cabem ao


comprador. As despesas com a tradição são do vendedor.

2. Art. 500: venda ad mensuram; quando o preço for fixado por extensão ou medida e a área não
corresponder ao previsto, o comprador poderá escolher entre:
a) complementação da área, se possível;

ROBERTA FERNEDA ESCRIMIM 17


b) abatimento proporcional do preço;
c) resolução do contrato;

• Observações:
Se ao invés de falta houver excesso de área e o vendedor provar que não sabia disso, caberá ao
comprador escolher entre a devolução do excesso ou complementação do preço. O prazo de
decadência para a propositura da ação cabível será de um ano a contar do registro do título.
A diferença da área será irrelevante em dois casos:

• Arts. 505 a 508, CC: é possível o pacto de retrovenda, retrato ou resgate. É a cláusula pela qual
o vendedor de um imóvel reserva-se ao direito de exigir a coisa de volta mediante a devolução
do preço.
- quando não exceder 5%, ou seja, 1/20 (um vigésimo) da área descrita.
- quando a coisa vendida tiver sido descrita como corpo certo e descriminado; é a chamada venda
ad corpus ( a medida não importa).

• Observações:
As partes podem estabelecer o prazo para o exercício do resgate até o limite máximo de 3 anos.
O direito de resgate pode ser exercido contra terceiros adquirentes do imóvel ; o direito de resgate é
transmissível por ato inter vivos ou causa mortis.

4. Arts. 513 a 520, CC: cláusula de preferência, preempção ou prelação; é a cláusula pela qual o
comprador se compromete a oferecer a coisa ao vendedor caso queira vendê-la a terceiros, sob pena
de perdas e danos.

Observações:
• A cláusula de preferência pode valer no máximo por dois anos, quando o bem for imóvel ou 180
dias quando for móvel (vigência máxima). O exercício do direito de preferência fica sujeito ao
prazo de 60 dias se o bem for imóvel, ou 3 dias se for móvel (é o tempo de resposta);
• Também existe o direito de preferência em favor do inquilino do imóvel, nesse caso ela tem 30
dias para manifestar a diferença;
• O direito de preferência é personalíssimo (só do vendedor), não se transmite para terceiros nem
mesmo por morte.

Doação
arts. 538 a 564, CC.
1. Conceito: é o contrato pelo qual uma pessoa por liberalidade transfere a outra bens ou
vantagens.

2. Aceitação: a doação é contrato e por isso só se perfaz com a aceitação do donatário que pode
ser:
a) expressa;
b) tácita: é a que decorre do comportamento típico de quem aceitou (comportamento típico de
dono)

ROBERTA FERNEDA ESCRIMIM 18


c) presumida: é a que ocorre nos seguintes casos quando o doador fixa prazo para o donatário se
manifestar, o silêncio dele faz presumir a aceitação, desde que se trate de doação pura e simples
quando feita em comtemplação de casamento futuro e este se realizar (se o casamento não se
realiza a doação fica sem efeito).
Obs: a lei só dispensa a aceitação em um caso, na doação pura feita a absolutamente incapaz.

Limitações ao direito de doar

1. É nula a doação universal, ou seja, quando o doador não reserva para si o suficiente para a sua
subsistência
2. Doação inoficiosa: é aquela que excede o que o doador poderia naquele momento dispor
através de testamento; é nula quanto ao excesso da parte disponível. Só pode doar até 50%
3. É anulável a doação feita pelo cônjuge adúltero ao seu cúmplice, é a doação feita à amante. O
prazo para a propositura da ação é de 2 anos a contar do fim do casamento.
4. A doação feita pelo ascendente ao descendente presume-se antecipação da legítima, salvo se o
doador determinar expressamente que o bem saia de sua parte disponível.

• Observações finais
- Cláusula de reversão: é a que prevê que o bem doado volta para o patrimônio do doador caso o
donatária morra antes dele.
- Doação conjuntiva: é a que é feita em favor de duas ou mais pessoas; salvo disposição em
contrário, presume-se que as cotas sejam iguais. Se os donatários forem cônjuges com a morte de
um, a sua quota acresce ao outro
- A doação pode ser revogada por dois motivos: inexecução do encargo e quando o donatário
praticar algum ato de ingratidão contra o doador (o prazo é de 1 ano a contar da ciência do fato
pelo doador - art. 557, CC).

Empréstimo

1. Mútuo: é um empréstimo de bem fungível. É contrato gratuito - excepcionalmente oneroso


(somente em caso de dinheiro);
2. Comodato (arts. 579 a 585, CC): é o empréstimo do bem infungível. Ad pompam bem e vel
ostentationem - bem fungível que se torna infungível por disposição das partes.

Posse

1. Conceito: é o exercício aparente de um dos atributos da propriedade.


Posse Propriedade

Exercício aparente de qualquer um dos atributos da direito que uma pessoa tem de usar, fruir, dispor ou
propriedade alienar a coisa

Todas as vezes que alguém utiliza um dos atributos Não basta aparência. Deve comprovar a
(usar, fruir, dispor ou alienar) ela tem posse. Age propriedade.
como se fosse proprietário

ROBERTA FERNEDA ESCRIMIM 19


Posse Propriedade

Existe no mundo da aparência Existe no mundo da realidade

É possível ter os dois. Os conceitos não se contrapõem, eles coexistem.


A noção de propriedade sempre é mais aprofundada. Não basta a aparência de proprietário, é
necessário a comprovação.
Antigamente, o direito de propriedade era considerado mais forte que o direito de posse, ele
prevalecia quando em conflito. Atualmente, deve ser gabaritado que um não prevalece sobre o
outro.

2. Teorias explicativas da posse:


a) Teoria objetiva - teoria de Ihering: defende que a posse é corpus (corpus é a visibilidade dos
atributos da propriedade/agir como dono). Basta agir como dono. É adotada como regra no
Código Civil.

b) Teoria subjetiva - teoria de Savigny: defende que a posse é corpus + animus domini (animus
domini é a intenção de ser dono). Não basta apenas agir como dono. O Código Civil adota
como exceção a teoria subjetiva em um único instituto, o usucapião.

3. Classificação da posse (cisão da posse): existe essa classificação para que ambos possam
exercer a proteção possessória.
a) Posse direta/imediata: é aquela exercida por quem está utilizando o bem (ex: no contrato de
locação, o locatário é quem tem a posse direta do imóvel - a mesma coisa se aplica ao
comodatário).

b) Posse indireta/mediata: é aquela exercida a distância por quem cedeu a posse do bem a outro a
título de direito obrigacional ou real (ex: no contrato de locação, o locador cede a posse do bem
ao locatário - a mesma coisa se aplica ao comandante).

4. Classificado da posse de acordo com seu fundamento:


a) Posse justa: é aquela que não é injusta

b) Posse injusta: é aquela adquirida de forma violenta, clandestina ou precária.


• Posse violenta: é aquela adquirida mediante algum tipo de violência, seja física ou moral. Essa
situação SEMPRE é aparente (ex: MST).
• Posse clandestina: é uma posse oculta (ex: ingressar em uma fazenda durante a noite).
• Posse precária: é aquela na qual existe algum abuso de confiança (ex: caseiro que resolve agir
como dono. Ex 2: contrato de comodato por prazo indeterminado - ação de reintegração proposta
pelo comandante - quem vence é o comodatário, uma vez que era posse justa - para que o
comodante vença, é necessário que antes de ingressar com ação, notifique o comodatário via
notificação para desocupação do bem, para que saia com prazo razoável - o prazo não é previsto
em lei - com o fim do prazo para desocupar e a pessoa não desocupa, a posse para a ser injusta/
precária - com isso, o comodante venceria) *** a notificação pode ser judicial ou extrajudicial.

5. Posse de boa-fé e de má-fé:

ROBERTA FERNEDA ESCRIMIM 20


a) Posse de boa-fé: é aquela exercida por quem tem a firma crença de ser o verdadeiro possuidor.
Ele ignora a existência de qualquer vício, obstáculo ou impedimento ao exercício do direito.
Esta boa-fé é subjetiva, sempre um estado psicológico. A pessoa tem certeza de que é o
verdadeiro possuidor.

b) Posse de má-fé: é aquela exercida por quem tem ciência dos vícios que contaminam o direito
(ex: invasor do imóvel - tem consciência que está invadindo).

• Frutos: tudo o que sai, o que se retira da coisa.

• Benfeitoria: melhoria da coisa.

Frutos Benfeitorias

Posse de boa-fé Direito a indenização pelos frutos Tem direito de indenização e


percebidos, consumidos, colhidos retenção pelas benfeitorias:
Ex: aluga um imóvel de quem - Necessária: é o essencial,
acha ser o dono. É possuidora de indispensável à conservação
boa fé e não terá que ressarcir o da coisa (ex: problema
verdadeiro proprietário e terá estrutural casa, telhado, muro);
direito a indenização pelos frutos - Útil: aumenta o uso da coisa
que viria a colher (ex: puxadinho, aumentar a
garagem, fazer segundo
andar).
Pela benfeitoria voluptuárias, tem
o direito de levantar
- Voluptuárias: são de lazer (ex:
piscina, churrasqueira);
- Direito de levantar: tirar as
benfeitorias (ex: tirar a piscina)
pode tentar negociar o valor a
ser pago

Posse de má-fé Não tem direito a indenização Direito de indenização somente


pelos frutos. pelas benfeitorias necessárias.
Obs.: poderá ser indenizado
apenas pelas despesas de
produção dos frutos

Propriedade
1. Conceito: direito que uma pessoa tem de utilizar, fruir, reinvidicar e dispor de uma coisa móvel
ou imóvel, corpórea ou incorpórea.
G ozar/fruir - retirar os frutos que a coisa produz
R eaver a coisa - direito de buscar a coisa onde quer que esteja mediante ação reinvidicatória
U sar/utilizar - sofre diversas limitações (ex: direito de vizinhança, lei de zoneamento)
D ispor/alienar - pode ocorrer de forma gratuita ou onerosa e pode ser feita em vida (mediante
contato) ou após a morte (sucessão e testamento)

GRUD - quando a pessoa reúne todas essas características/elementos tem a propriedade plena.

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Propriedade plena: reúne todos os atributos da propriedade
Propriedade limitada: sofre alguma restrição, não exerce todos os atributos (ex: usufruto -
proprietário reunia o GRUD, porém cedeu ao usufruturário o direito de gozar/fruir e de usar)

Direito de gozar: abrange os frutos e os produtos. Frutos são renováveis (ex: maçã). Produtos não
são renováveis (ex: areia, pedra, água - mina)

Ação reinvidicatória: a causa de pedir é SEMPRE o direito de propriedade, enquanto na ação


possessória, a causa de pedir é SEMPRE o direito de posse.

Direito de Família
Casamento

1. Conceito: é a união civil entre duas pessoas com o objetivo de estabelecer plena comunhão de
vida. Casamento é um contrato formal. O objetivo do casamento não é mais a procriação.
Não confundir com casamento religioso, pois este somente terá efeitos civis se levado a registro. Se
não levar a registro, será apenas religioso e não terá efeitos civis - aplicará as regras da união
estável.
O casamento pode ser entre 02 pessoas de sexos diferentes ou do mesmo sexo. A decisão do STF é
de 2011 e tem resolução do CNJ regulando - aplica-se à união estável também.
O objetivo do casamento é estabelece plena comunhão de vida. É mais importante para o
casamento o sexo, não filhos.
- Impotência coeundi é o defeito físico irremediável. Não há conjunção carnal. Quando se casa
com alguém nessa condição, o casamento é anulável. Para poder anular, a situação tem que ser
desconhecida, pois se souber, não poderá anular.
- Esterilidade generandi (é do homem) - o casamento não é anulável.
- Esterilidade concidiendi (é da mulher) - o casamento não é anulável.

2. Procedimento de habilitação: é o procedimento administrativo que verifica a regularidade de


um casamento pretendido. Quem quiser casar, terá que fazer esse procedimento.
É feito perante o Cartório de Registo de Pessoas Naturais - pode ser no domicílio de qualquer um
dos nubentes.
Será assinado um requerimento, juntando documentos e declaração de duas testemunhas atestando
que não têm nenhum impedimento.
Será publicado o edital (proclamas), em seguinte, dando ciência da intenção de casamento de
ambas as pessoas.
Estando tudo certo, será expedida a certidão de habilitação que tem prazo de validade de 90 dias.
Este prazo é improrrogável. Se não se casar dentro deste prazo, a certidão expirará e terá que fazer
o processo de habilitação novamente.

- O casamento é gratuito para todos.

Obs.: apenas a celebração é gratuita, ou seja, a habilitação, o registro e a primeira certidão, em


regra, são pagos.

ROBERTA FERNEDA ESCRIMIM 22


• Exceção: declaração de pobreza.

a) Objetivos da habilitação:
- Verificar a capacidade matrimonial: verificar a idade núbil (16 anos);
Menores de 16 anos: em regra, não podem casar. Exceção: gravidez - qualquer um pode ser menor
(tanto o homem quanto a mulher). Não tem limite de idade, mas certa idade terá que ter autorização
judicial.
Não se aplica mais o inciso sobre pena criminal, pois houve mudança no Código Penal, já que o
estupro deixou de ser ação penal privada para ser ação penal pública incondicionada. Não extingue
mais a punibilidade.
Com 16 ou 17 anos pode casar, desde que tenha autorização dos pais, pois tem capacidade
matrimonial limitada. No caso de divergência ou recusa, será analisado pelo juiz que somente
autorizará se entender que não houve motivo justo. Os pais podem mudar de ideia até o momento
do casamento.
Com 18 anos ou mais independe de qualquer autorização.

** CUIDADO! Estatuto da Pessoa Deficiente - com relação aos doente e deficientes mentais.
Antes do EPD: se a pessoa fosse declarado como absolutamente incapaz (sem qualquer
discernimento), o casamento era proibido e, se celebrado, era nulo. Se fosse relativamente
incapaz (discernimento reduzido), era permitido.
Com o EPD: podem praticar qualquer ato, inclusive o absolutamente incapaz. Assim, qualquer
deficiente ou doente mental poderá praticar todos os atos da vida civil, inclusive casar.

- Verificar inexistência de impedimento (art. 1521, CC): hipóteses em que o casamento é proibido.
Casamento proibido que for realizado é nulo.

*** Parentesco:
Em linha reta (pais, avós, filhos, netos) - consanguíneo - é proibido o casamento. Os parentes do
cônjuge (parentesco por afinidade em linha colateral ou transversal - avós, pais, filhos, netos do
cônjuge) em linha reta também em se incluem na proibição.
Irmãos, tios, primos, sobrinhos são parentes consanguíneos na linha colateral ou transversal.
Segundo o Código Civil, somente será parente até o quarto grau consanguíneo na linha colateral.
Em linha reta, não tem final ("vai do céu ao inferno").

Parentesco por afinidade é o grau de parentesco do seu cônjuge (ex: sogra é parente de primeiro
grau, pois é mãe da esposa). É como se fosse um reflexo: seus pais são seus parentes de primeiro
grau, assim, sua sogra, por ser mãe da sua esposa, é sua parente de primeiro grau, sua cunhada é
sua parente de segundo grau. Porém, o limite aqui é o segundo grau, ou seja, termina na cunhada.

Em linha reta, todos estão proibidos, mas no momento em que rompe o vínculo matrimonial,
cunhado deixa de ser parente, mas não termina com os sogros. Casamento entre irmãos também é
proibido.
Casamento com parentes de quarto grau (tio avô, primos e sobrinho neto) é sempre permitido.
Casamento entre tios e sobrinhos, em regra, é proibido. Excepcionalmente, podem casar (provando
que não vão nascer filhos defeituosos) e depende de autorização judicial.

ROBERTA FERNEDA ESCRIMIM 23


- Verificar inexistência de causas suspensivas (art. 1523, CC): não proíbem o casamento. Se casar,
é válido, mas o regime da separação obrigatória de bens é imposto, ou seja, se casar, TEM que
ser por esse regime.

União Estável

1. Conceito: é a relação pública, contínua e duradoura entre duas pessoas com o objetivo de
constituir família. Podem ser pessoas do mesmo sexo.
Pública: a relação não pode ser escondida, tem que ter aparência de serem casados.
Contínua: não pode ser intercalada com outras relações, senão não é estável.
Duradoura: não existe prazo mínimo previsto na lei - quem analisa é o juiz.
Objetivo de constituir família: é o que separa o namoro prolongado de uma união estável. No
namoro, sonha em constituir família. Na união estável, já constituem uma família, já se consideram
família - não tem nada a ver com ter filhos.

Obs.: coabitação e procriação não são requisitos indispensáveis, mas são fortes indícios.

Sucessão
Sucessão Legítima

1. Conceito: é aquela que segue a ordem de vocação hereditária determinada pelo legislador. É
subsidiária se compara testamentária, pois só terá sucessão legítima na ausência de testamento,
ou problema com o testamento (caduco ou revogado), ou, ainda, o testamento não contempla a
totalidade de bens.

2. Vocação hereditária:
a) Art. 1.829, CC - quando não se tratar de união estável:
1 - Desdendentes em concorrência com cônjuge sobrevivente. A regra é concorrer, exceto
quando:
- Casado em regime da comunhão universal (cônjuge meeiro e não herdeiro);
- Separação obrigatória de bens (STJ - também na hipótese da separa convencional - o cônjuge
não é meeiro nem herdeiro de bens, ou seja, não concorre. Súmula 377, STF: cônjuge meeiro e
não herdeiro - iguala o regime obrigatório de bens em regime de comunhão parcial, não se aplica
a separação convencional);

ATENÇÃO!!! A Súmula 377, STF, diz respeito ao regime de bens e consequentemente ao direito à
meação. Para evitar enriquecimento sem causa, ela determina a meação de bens adquiridos
onerosamente durante o casamento no regime de separação obrigatória de bens. Quando o regime é
o da separação convencional, os Tribunais afastam a incidência da Súmula 377, STF.

Quando ao direito sucessório, o STJ equiparou a separação obrigatória à convencional: o cônjuge


não concorre com os descendentes.

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Obs: mesmo na comunhão universal, se as doações vierem com cláusula de incomunicabilidade, o
bem não fará parte do patrimônio universal.
- Comunhão parcial sem bens particulares: o cônjuge sobrevivente será meeiro e não poderá
concorrer. Se deixou bens particulares, o cônjuge será meeiro e herdeiro.
Quando concorrer, será sobre os bens particulares, havendo divergência doutrinária já que parte
entende que pode concorrer também nos bens comuns.

2 - Ascendentes em concorrência com cônjuge sobrevivente: o cônjuge sempre concorre com os


ascendentes não importando para sucessão o regime de bens.

Obs: o regime de bens terá importância apenas na determinação da meação. Havendo ou não
meação, o cônjuge SEMPRE será herdeiro.

3 - Cônjuge sobrevivente: o cônjuge é sempre herdeiro só importa para meação.

ATENÇÃO!!! Como meação não é direito hereditário não incide ITBI.

4 - Colaterais: até o 4 grau (= parentesco). Dentro deles existem uma ordem:


4.1. Colaterais de 2 grau;
4.2. Colaterais de 3 grau, sendo primeiro os sobrinhos e segundo os tios;
4.3. Colaterais de 4 grau (primos, tios-avós e sobrinhos-netos) - não há preferência entre eles

ATENÇÃO!!! Na ausência de todos e também de herdeiro nomeado em testamento, a herança será


declarada jacente e posteriormente vacante.

b) Art. 1.790, CC - quando a pessoa que faleceu deixou companheiro que vivia em união
estável:
Deverá verificar o regime de bens e separar a herança da meação (devendo a meação ser entregue
ao companheiro). Depois, deverá dividir a herança em duas "sub-heranças"":
1 - composta por bens adquiridos onerosamente durante a união estável (aplica-se o art. 1.790,
CC, nessa primeira composição);

2 - composta pelos demais bens (adquiridos antes ou durante gratuitamente) - nessa composição, o
companheiro não tem direito hereditário:
I. Se concorrer com os filhos comuns terá direito a uma cota equivalente a que por lei for
atribuída ao filho (ex: 02 filhos, 1/3 para cada filho e 1/3 para o companheiro);
II. Se concorrer com filhos só do autor da herança, tocar-lhe-á metade do que couber a cada um
deles (ex: 02 filhos, 2/5 para cada filho e 1/5 para o companheiro)

Obs: o Código Civil é omisso quanto à possibilidade do falecido deixar filhos comuns e filhos
particulares. Quando houver situação de filiação híbrida, o melhor a aplicação do inciso I, que o
companheiro tenha cota igual aos concorrentes.

III. Se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a 1/3 da herança (ex: ascendentes,
colaterais);
IV. Não havendo parentes sucessíveis, o companheiro terá direito a totalidade da herança.

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Sucessão Testamentária

Embora incomum, é a principal forma de sucessão, pois prevalece a vontade do testador sobre a do
legislador. Isto não significa que o legislador não possa estabelecer limites (ex: o princípio da
limitada liberdade de testar que determina que, havendo herdeiros necessários, o testador só poderá
dispor livremente da metade de herança).

• São herdeiros necessários:


I. Descendentes;
II. Ascendentes;
III. Cônjuge.

ATENÇÃO!!! Companheiro não é herdeiro necessário.

• Herança:
1. Parte disponível (50%) - livre indicação. Pode ser destinada integralmente a um dos filhos.
Isto ocorre, pois o direito de igualdade entre os filhos é princípio do direito de família, e no
direito sucessório, tem aplicação restrita à parte legítima. A amante não tem direito nem a parte
disponível.
2. Parte legítima (50%) - destinada aos herdeiros necessários, observada rigorosamente a ordem
de vocacao hereditária.

Testamento

1. Conceito: é um negócio jurídico pelo qual alguém dispõe do seu patrimônio para depois da
morte.

2. Capacidade para testar: em regra, qualquer pessoa a partir de 16 anos (exceto incapazes,
hébrio habitual, viciado em tóxico é aquele que não puder exprimir sua vontade ainda que por
motivos transitórios ou passageiros).

ATENÇÃO!!! O que importa é verificar a capacidade no momento em que o testamento foi feito,
ou seja, o testamento do incapaz não fica convalidado pela capacidade superveniente.

3. Características do testamento:
a) Negócio jurídico personalíssimo: só pode ser celebrado pelo testador em pessoa. Não admite
representação.

b) Negócio jurídico unilateral: significa que não se admite o chamado testamento conjuntivo
(especiais) ou mancomunado ou mão comum (aquele que é feito por duas ou mais pessoas).
Assim, são proibidos os testamentos:
- Simultâneos;
- Recíproco;
- Correspectivo.

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c) Negócio jurídico gratuito: uma vez que nunca gera vantagem para o próprio testador.

d) Negócio jurídico revogável: pode o testador a qualquer momento voltar atrás e modificar a
disposição testamentária.
Em regra, o testamento só pode ser revogado através de outro ts\estamento, ainda que se trata de
outro tipo (público, cerrado, particular).
A revogação do testamento pode ser total ou parcial, pode ser expressa ou tácita (quando o
testamento posterior contiver disposição incompatíveis com a anterior).

ATENÇÃO!!! Caso o testamento revogador for nulo, será mantido o anterior.

• Exceção: o testamento cerrado será considerado revogado se for aberto ou rasgado (dilacerado)
pelo próprio testador ou por alguém sob ordens dele.

A ruptura do testamento ou rompimento do testamento é o que se verifica quando alguém faz


testamento sem ter ou sem saber que possui herdeiro necessário, mas que surge algum que
sobrevive ao testador. Nesse caso, o testamento considera-se integralmente revogado.

e) Negócio ou mortis causa ou causa mortis: só gera efeitos depois da morte, ou seja, sua eficácia
depende da morte do testador.

• Exceção: cláusula de reconhecimento de paternidade

f) Negócio solene/formal: uma vez que só se considera válido se respeitadas as exigências de


forma apontada pela lei.

4. Modalidade de testamento: são os testamentos ordinários e os testamentos especiais:


a) Testamento ordinário:
- Público: é lavrado pelo tabelião no livro de notas, de acordo com as declarações do testador.
Qualquer pessoa capaz pode comparecer ao cartório. Deverá ser lido em voz alta na presença do
testador e de duas testemunhas, sendo assinado por todos.

Obs: se for feito por testador deficiente visual, será lido em voz alta duas vezes, sendo um pelo
tabelião e um por quem o testador indicar.

ATENÇÃO!!! É o único que pode ser feito por analfabeto.

- Cerrado: é elaborado em duas partes:


Primeira fase - fase particular: o testador elabora e assina a cédula testamentária;
Segunda fase - fase pública: o tabelião lavra o auto de registro do testamento que deve ser lido em
voz alta na presença do testador e de duas testemunhas (todos devem assinar).

- Particular: é aquele escrito e assinado pelo testador e por pelo menos 03 testemunhas (deve lido
na presença delas)
A vantagem desse testamento é que pode ser feito em casa, mas há um inconveniente: quando o
testador morrer, é necessário que as testemunhas confirmem perante o juiz.

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Quando o testador morrer, o testamento deverá ser confirmado em juízo pelas testemunhas, o juiz
pode se considerar satisfeito com a confirmação de pelo menos uma testemunha.

Obs: testamento de urgência/emergencial: admite-se que o testamento particular seja feito sem
testemunhas, desde que seja escrito a mão (de próprio punho) e indique expressamente a
circunstância de impediu a presença das testemunhas.

Obs: Codicila: é o escrito particular assinado e datado pelo qual alguém faz disposição sobre o
funeral, sobre roupas, joias e bens de pequeno valor, o que não excede 10% da herança (não é
testamento).

b) Testamento especial:
- Marítimo ou Aeronáutico: é aquele feito por quem se encontra a bordo de navio ou aeronave
perante o comandante ou pessoa por ela indicada. Deverá ser registrado no diário de bordo e
entregue à autoridade competente no primeiro porto ou aeroporto nacional.

Obs: caduca se o testador não morrer em até 90 dias a contar de quando poderia testar pela forma
ordinária. Essa éuma particulidade - ter validade curta.

- Militar: é feito por quem se encontra nas forças armadas no período de guerra e também caduca
no prazo de 90 dias após o fim da guerra.

Obs: o único testamento verbal ou não escrito é aquele que é feito por militar que se encontre
ferido em campo de batalha. Consistente declaração feita perante duas testemunhas. É o chamado
testamento nuncupativo - é o único verbal, todos os outros devem ser de forma escrita.

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