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DUMPING AMBIENTAL : QUAIS ALTERNATIVAS PARA PAISES DO SUL?

Artigo escrito por: Amade Casimiro Nacir1*

França, Dezembro de 2017,

O presente texto visualiza compreender em que consiste o dumping ambiental ao mesmo tempo
que oferecer possibilidades de melhor adressar este problema que afeta muitos paises do sul,
incluindo Moçambique. Primeiramente vai se evidenciar o dumping ambiental e seu impacto.
De seguida, assumindo o conceito de dumping ambiental como negativo, i.e. com impactos
negativos, o argumento vai direcionar-se a diligência sobre como enfrentar essa prática. Importa
desconceptualizar resumidamente o conceito de “países do sul”, visto que é um conceito
polarizado. Mesmo sabendo que tais paiíses não são homogénios embora partilhem alguma
história e consequentemente problemas, neste texto, países do sul serão tidos como aqueles que
se encontram em estágio de desenvolvimento.

Globalmente, considera-se dumping ambiental o facto de transferir deliberadamente ou não


uma empresa de um local para outro objectivando a redução de custos de produção em função
do fraco controle ambiental – no local onde vai receber a empresa. O principal aspecto do
dumping ambiental é a gestão de resídios sólidos da indústria extractiva aliada a fraca legislação
ambiental (OSPAR Commission, 2009). Neste texto compreende-se dumping ambiental como
a implantação de empresas provenientes de países desenvolvidos em países em
desenvolvimento com o principal objectivo de obter vantagens à custa da fraca legislação
ambiental em países do sul.

Dumping Ambiental e tentativas de resposta internacional

Esse fenomeno verifica-se por complacência do sistema legislativo ambiental nos países do sul,
mas também pela astúcia das empresas multinacionais que instalam-se nos primeiros. Veja-se
que por um lado, a legislação ambiental em Moçambique, por exemplo, é fragil; essa fragilidade
pode ser interpretada comulativamente, incluindo além da legislação o fraco controle, ou
isolando cada um desses aspectos. Estes são apenas alguns dos factores dentre vários que

* Licenciado em Relações Internacionais e Diplomacia, pelo Instituto Superior de Relaçoes Internacionais, ISRI-
Maputo, Moçambique e mestrando de Ciências Socias – Transição Para Sustentabilidade – em Université Paris
Saclay, Francça.
possam existir; tomaresmos estes factores para o presente ensaio, de contrário séria necessário
um ensaio mais longo.

Hipoteticamente, assumindo todos factores que influenciam a escolha dos agentes económicos
como constantes e iguais ou aproximados, excepto a legislação ambiental, se uma empresa
extractiva proveniente da Austrália tiver de esolher entre Moçambique e Estados Unidos da
América para implantar-se, irá certamente implantar-se em Moçambique; pois, terá custos
reduzidos no âmbito do tratamento do lixo indústrial (armazenamento, transporte, reciclagem,
etc.). As exigências impostas em Moçambique são relativamente fracas comparadas às impostas
nos EUA em matéria de gestão de lixo industrial e as empresas buscam a maximizaçao de
ganhos e minimizaçao de perdas.

Por outro lado, é compreensivel que determinado país aceite por exemplo, a implantação de
uma indústria eventualmente prejudicial2 em funçao da sua gestao de lixo industrial, no seu
territorio perspectivando a criacao de postos de trabalho, aumento da produçao nacional, etc. O
imperativo de crescimento económico é inerente as economias do sul, mesmo que nalgum
momento comprometam a sustentabilidade ambiental. Essa aceitação surge muitas vezes como
resultado das condições postas à mesa de negociação pela empresas multinacionais3 que,
nalguns casos são mais experimentadas em negociação que alguns países do sul.

Todavia existem internacionalmente regimes e instituições criadas especificamente para lutar


contra o duping ambiental, exemplificadamente as Normas Internacionais Contra o Dumping4,
de forma particular e a Organização das Nações Unidas (ONU), de forma ampla (Yale Law &
Policy Review, 2006). O problema das normas internacionais é que dependem da “boa vontade”
dos estados a lhes cumprirem em virtude da característica anárquica do Sistema Internacional
(SI). No entanto, nao quer isso significar que reduz-se a necessidade dos regimes ou instituições
internacionais que lutam contra o dumping internacional.

Dualidade de responsabilidade

Os dois efeitos identificados merecem tratamento distinto. Um inerente aos países


desenvolvidos mais com consequências para os países du sul – exportação das empresas dos

2
Neste texto considera-se uma industria como prejudicial, se ela for a efectuar o dumping ambiental no territorio
do Estado receptor.
3
Tais empresas têm apois dos seus países.
4
International Norm Against Dumping.
primeiros aos segundos. Outro, no entanto, próprio dos paises em desenvolvimento e também
com impactos negativos nesses.

Primeiramente, importa lembrar que o dumping ambiental é um facto resultante da fraca


legislaçao ambiental em muitos países do sul. Em consequência, as empresas multinacionais
provenientes dos países desenvolvidos observam uma oportunidade nos países do sul, pois
minimizam os gastos financeiros de gestão de lixo industrial. Quando as multinacionais
instalam-se em países do sul, além das vantagens intrisicamente económicas (economia de
escala, expansão, ect.) existe a componente ambiental – o facto da legislação local não ser
exigente permitindo que tais empresas não invistam imenso capital em acções visando reduzir
danos ambientais causado pelo lixo industrial.

Segundamente, é a fraca legislaçao mencionda acima que propaga o dumping ambiental. O


continente africano em particular enfrenta dificuldades no âmbito da gestão de residios solidos
industriais, aspecto inseparavel da imigração de empresas multinacionais intensa que se regista
em África (United Nations Economic and Social Council, 2009). Assim, evidente a fraca
capacidade legislativa nessa esfera, as empresas mulinacionais visualisam os países do sul como
um campo fértil para minimizar seus gastos comparando aos paises do norte ou os poucos países
do sul com um sistema legislativo ambiental mais forte e capaz.

Reduzindos os impactos negativos do dumping ambiental

Ementes os países do sul podem mudar esse cenário negativo, mesmo que gradualmente.
Melhor, gradualmente. O aspecto fulcral aqui é sempre a legislação, no sentido amplo da
palavra. Isso é, para que os países do sul ofereçam dignidade à seus cidadãos, tornem-se
resilientes na luta contra as mudanças climáticas, existe a necessidade de fortalecer o quadro
legislativo relativo a gestão do lixo industrial. Com uma legislação forte os benefícios poderão
não ser imediatos, no entanto vai se asseverar uma sustentabilidade forte ao contrário da
sustentabilidade fraca que encontra suas caracteristicas na fraca legislação que actualmente
existe.

Referência bibliográfica

1. OSPAR COMMISSION, (2009), JAMP Assessment of The Environmental Impact of


Dumping of Wastes at Sea, Biodiversity series.
2. YALE LAW & POLICY REVIEW, (2006), International Environmental Law Gets Its
Sea Legs: Hazardous Waste Dumping Claims Under the ATCA, Issue 1 Volume 6.
3. UNITED NATIONS ECONOMIC AND SOCIAL COUNCIL – Economic Commission
for Africa, (2009), Committee on Food Security and Sustainable Development Regional
Implementation Meeting for CSD-18, Adis Abeba, Ethiophia.

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