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CADERNO DE DIREITO PRIVADO GERAL (P2) - GLADSTONE

DOMICÍLIO

Domicílio: ​segundo o ​art. 70º do Código Civil​, o domicílio da pessoa natural é o lugar onde
ela ​estabelece a sua residência com ânimo definitivo​. Ou seja, é o local onde se fixa uma
residência com intencionalidade de fixação ou permanência.

Morada: lugar onde a pessoa física se estabelece temporariamente (sem deslocar o


domicílio)

Residência: local onde a pessoa física se estabelece com habitualidade (Exemplo: casa de
praia).
Obs) Há a possibilidade de residências, podendo qualquer uma delas ser o domicílio do
indivíduo.
Exemplo: Jovens que estudam em Niterói durante a semana em mas que retornam às suas
casas, Em Friburgo, nos fins de semana.

TIPOS DE DOMICÍLIOS

● Voluntário: domicílio comum, estabelecido pela simples manifestação de vontade


das partes;

● Por eleição: ​domicílio estipulado pelas partes no contrato (art. 78 do Código Civil:
“Nos contratos escritos, poderão os contratante especificar domicílio onde se
exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes”).
Obs) O princípio de autonomia de vontade não é absoluta, pois está submetida a
função social, boa fé, etc;

● Legal​: domicílio determinado por lei (​art. 76º do Código Civil: “​Têm domicílio
necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso - onde se
cumpre a pena​”​).

BENS DE FAMÍLIA

São os imóveis utilizado como residência da entidade familiar, decorrente de casamento,


união estável, entidade monoparental, ou entidade de outra origem, protegido por previsão
legal específica

Bem de família voluntário (art. 1711 do Código Civil) / imóvel residencial próprio: é
instituído pelo ato de vontade dos cônjuges (ou da entidade familiar) com o registro no
cartório de imóveis; ​ou seja precisa de uma manifestação de vontade +
testamento/registro/escritura pública. ​Não há a possibilidade de ser penhorado (regras da
impenhorabilidade e da inalienabilidade).

Obs) As regras da impenhorabilidade e da inalienabilidade ​NÃO são absolutas​! Para vender


o bem de família voluntário, é preciso coletar a manifestação de todos os interessados,
pessoas envolvidas, etc. Além disso, o art. 1715º do CC prevê situações de possível
penhorabilidade de um bem: “isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição,
salvo por despesas de condomínio”.

Características: o bem de família voluntário não pode ultrapassar o teto de ⅓ do patrimônio


líquido de quem o instituiu (para evitar fraudes contra credores) e ele pode abranger valores
mobiliários, inclusive renda.
Obs) O STJ já pacificou o entendimento da renda dos cônjuges como impenhorável, pois ela
não pode servir para pagar dívidas caso o casal precise a alugar seu único imóvel residencial.

Bem de família legal (Lei nº 8009/1990): protege a todos, independentemente do registro


cartorial. O STJ admite seu desmembramento para efeitos de penhora (ex: vaga de garagem,
desde com registro próprio).

- Art. 1º: “​O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é


impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos
que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.”
- Art. 2º: ​“Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e
adornos suntuosos.”

Há exceções!
- Art. 3º (casos em que não há impenhorabilidade; ou seja, os bens podem ser
penhorados).
- inciso II:​ não se pode aplicar a regra da impenhorabilidade contra o agente financeiro;
- inciso III: não se pode aplicar a regra da impenhorabilidade contra o credor da pensão
alimentícia;
- inciso IV: não se pode aplicar a regra da impenhorabilidade contra o cobrador de
impostos ou das taxas de condomínio;
- inciso V: não se pode aplicar a regra da impenhorabilidade em casos de contrato de
empréstimo voluntário com hipoteca;
- inciso VI: não se pode aplicar a regra da impenhorabilidade em casos de efeito civil
de uma sentença penal condenatória (indenização);
- inciso VII​: não se pode aplicar a regra da impenhorabilidade em casos de fiança
concedida em contrato de locação (fiador de contrato locatício).
BEM JURÍDICO

É um bem imóvel, por força de lei, que possui utilidade física ou ideal; são ​os valores
materiais ou imateriais que podem ser objetos de uma relação de direito subjetivo
(propriedade intelectual,, direito autoral, etc).

BEM x COISA

- Orlando Gomes (mais usado pela doutrina): ​bem pode ser considerado um
gênero, no qual a coisa é a sua espécie.
- W. Barros Monteiro:​ bem e coisa são sinônimos, a mesma coisa/genérica.
- M.H. Diniz:​ a noção de coisa é mais abrangente que a noção de bem.
- Bem jurídico:​ genérico (caráter mais amplo)
- Coisa: ​específico (caráter mais restrito)

Bem imóvel por força de lei (Art. 80º do Còdigo Civil): ​todo direito real incidente pelo
imóvel, por lei, possui uma natureza imobiliária. Consideram-se imóveis para os efeitos
legais: os direitos reais sobre imóveis, as ações que os asseguram e o direito à sucessão
aberta.
Exemplo:​ Hipoteca - direito real sobre o imóvel

Bem móvel por força de lei (Art. 83º do Código Civil): ​energia tem valor econômico é
considerado bem móvel (ela pode sofrer gato; caráter móvel do bem), direitos reais sobre
bens móveis, direitos pessoais de caráter patrimonial.
Obs) ​Navios e aeronaves são bens móveis especiais pois admitem hipoteca sobre eles,
a qual é direcionada a bens imóveis.
Obs²) Art. 84º: materiais destinados à construção são móveis enquanto não forem
empregados. Se forem demolidos, voltam a ser móveis, mas serão imóveis se forem
reutilizados.

Bem Principal: ​existe por si mesmo, não decorre de outro bem.


X
Bem Acessório: ​pressupõe a existência do principal; princípio da gravitação jurídica (o bem
acessório gravita em torno do bem principal).
Exemplo: ​o aluguel é um fruto civil (acessório) do apartamento (principal), o rádio é um
pertence (acessório) do carro (principal).

Bem Corpóreo:​ algo concreto; material; palpável e perceptível pelos sentidos.


X
Bem Incorpóreo:​ abstrato, visualização ideal, sem materialidade por si só.
Exemplo: ​músicas, direitos sobre o produto do intelecto.
Bem Fungível: ​pode ser substituído por outros da mesma espécie, quantidade, qualidade.
X
Bem Infungível:​ natureza insubstituível ou de difícil substituição.
Exemplo: queimou uma obra original de Van Gogh.

Bem Consumível: ​bens móveis que comportam sua destruição imediata ou em curto prazo.
​X
Bem Inconsumível:​ bens que suportam o uso continuado.

Bem Divisível: ​possível de ser repartido e formar um todo perfeito com cada fragmento.
X
Bem Indivisível: ​quando não se forma um todo perfeito com os fragmentos.
● Considerados indivisíveis pela sua própria natureza: ​seres vivos (cachorro);
● Considerados indivisíveis por sua determinação legal, ​ou seja ​determinados por lei
(terra rural);
● Bem por convenção: ​estabelecido pelas partes.

Bem Singular: ​considerado na sua individualidade, unidade autônoma; bens singulares


simples (partes componentes ligadas naturalmente, como a árvore) e bens singulares
compostos (partes componentes resultantes da ação humana, como o relógio e o avião).
X
Bem Coletivo: ​compostos por vários bens singulares que consideram um todo (biblioteca,
composta por um conjunto de livros).

Bem Particular:​ definem-se por exclusão; os que não pertencem ao domínio público.
​X
Bem Público:​ pertencentes à União, à municípios, etc
A. uso comum do povo, como praça, sua, estrada, praia, etc
B. de uso especial (como os prédios, nos quais funcionam escolas públicas, que não
podem ser alienados)
C. bens dominicais pertencentes ao poder público que não foram afetados pelo uso do
povo (terras devolutas)
FATO JURÍDICO

É o acontecimento humano ou natural que possui repercussão jurídica


Exemplo​: Jogar uma caneta no chão não gera efeito na ordem jurídica, mas jogar no rosto de
alguém, gera.
Em geral, o fato jurídico é dividido em três esferas:

● Fato Jurídico em sentido estrito: todo acontecimento natural que for relevante para
o direito; fatos da natureza que independem da vontade do homem.
A) Ordinários: comuns; fazem parte da natureza do homem e da mulher como
decursos de tempo, o nascimento, a morte natural etc
B) Extraordinários: carregam aspectos relacionados à ​imprevisibilidade (ligada
ao caso fortuito*) e a ​inevitabilidade (ligada a força maior); como um furacão,
que independe da vontade humana.
*caso fortuito: evento proveniente de ato humano, imprevisível e inevitável que
impede o cumprimento de uma obrigação.
*força maior: p​ revisível mas ainda inevitável, geralmente associada a forças
naturais.

● Ato-Fato Jurídico: não importa para a norma se houve ou não manifestação de


vontade, é algo irrelevante. Mesmo assim, gera efeitos na esfera jurídica,
independentemente da vontade de quem produziu (as consequências do ato jurídico
que importam).
Exemplo: ​Se um deficiente mental pinta um quadro, este passa a ser sua propriedade
mesmo que ele não tivesse vontade de pintá-lo ou de possuí-lo.

● Ações Humanas: ​partem das pessoas e se dividem em duas.


A) Lícita: ​está dentro do que o direito prevê e permite (​ato jurídico em sentido
estrito​ e ​negócio jurídico​);
a) Ato Jurídico em sentido amplo: ato lícito e comporta toda ação
humana lícita; reflete efeitos na ordem jurídica.
b) Ato Jurídico em sentido estrito: t​ raduz um simples comportamento
humano voluntário que está previamente determinado em lei; não há
autonomia para escolher os efeitos jurídicos do ato que realiza.
Exemplo: Um homem reconhece sua paternidade mas quer se redimir
de suas obrigações. Ele não pode fazer isso, pois a partir do momento
que reconheceu a sua paternidade, ele deve cumprir com o que está
prescrito em lei.
c) Negócio Jurídico: ​pressupõe-se que não é todo mundo que pode
realizar um negócio jurídico, pois as partes precisam ser totalmente
capacitadas para tal. Ele pode deter conteúdo comercial e é dotado de
liberdade de escolha dos efeitos jurídicos (fruto da autonomia
privada/autonomia da vontade e da capacidade).
Exemplo: c​ ontrato de adesão - uma das partes apresenta as cláusulas
do contrato e você pode aceitar/assinar ou não; não cabe negociamento
depois do contrato ser assinado. -> autonomia privada é presente pois
há a opção de assinar ou não.
B) Ilícita: ​vai contra ao direito.

TEORIA DO NEGÓCIO JURÍDICO

É necessário estudar três planos de análise para entender o que é o negócio jurídico: plano da
existência, de validade e de eficácia.

1. PLANO DE EXISTÊNCIA: ​mais concreto/perceptível. Plano substantivo, ou seja,


traz a substância do negócio jurídico (se não trouxer, o negócio é ​inexistente ou ​nulo /
termos diferentes).

Possui alguns pressupostos (termos que conferem a substância do negócio


jurídico), tais como:
Manifestação de vontade: ​livre, espontânea e de boa fé ​vontade interna +
externa;
Agente: ​quem emite essa vontade (vontade declarada);
Objeto: ​fundamental para a verificação do negócio jurídico;
Forma: ​de manifestação do negócio
Exemplo: ​um homem fala para uma senhora assinar o contrato mas ela não
demonstra vontade e isso o leva a segurá-la a força e assinar o contrato enquanto a
segura pela mão => ​NEGÓCIO JURÍDICO INEXISTENTE, pois não houve
manifestação de livre vontade por parte da idosa.

2. PLANO DE VALIDADE: ​determina a qualificação dos pressupostos de existência


do negócio jurídico e requer três princípios:
A) Invalidade
a) Anulabilidade: n​ egócio jurídico anulável (mas ainda pode ser
consertado);
b) Nulidade:​ ​negócio jurídico nulo.
B) Pressupostos
- A manifestação livre e de boa fé;
- O agente tem que ser civilmente capaz e legitimado;
- O objeto tem que ser lícito, possível e determinável (ou determinado/
específico);
- A forma tem que ser livre e prescrita em lei (desde que não seja
proibida).
Obs) ​Defeitos do Negócio Jurídico => vícios de consentimento e vícios sociais
(simulação e fraude contra credores) - ambos interferem no ​plano de validade​ do N.J.
Exemplo: Se o homem voltar a ameaçar a idosa a assinar o contrato, sob possível
punição física, e ela assinar, houve uma manifestação de vontade por parte dela,
portanto o negócio é EXISTENTE. No entanto, por não ter sido uma manifestação
livre e de boa fé, ele é um ​NEGÓCIO JURÍDICO INVÁLIDO​, pois houve uma
coação moral/psicológica por parte do homem.

DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

● Vícios de Consentimento: onde a vontade não é expressa de maneira completamente


livre.

● Vícios Sociais​: vontade manifestada sem intenção pura ou de boa fé


Exemplo​: simulação e fraude contra credores

Obs) ​Erro = ​deformação do conhecimento relativamente às circunstâncias que revestem a


manifestação de vontade.
​ Ignorância =​ desconhecimento do que determina a declaração de vontade.

VÍCIOS DE CONSENTIMENTO

● Erro (ou ignorância): atua de forma propositiva e equivocada; falsa percepção da


realidade; para ser considerado um defeito e invalidar o negócio jurídico, o erro deve
ser essencial, ou seja, afetar a sua substância.

1.1. Erro sobre o objeto: ​o indivíduo compra algo de marfim mas, na verdade, era de
osso.
1.2. Erro sobre o negócio: ​o indivíduo empresta um bem mas a pessoa que o recebeu
entende que foi doação.
1.3. Erro sobre a pessoa: ​o indivíduo quer estabelecer um contrato com outro
indivíduo mas, na verdade, estabelece com o gêmeo dele.
Obs) ​O art. 144º do Código Civil prevê a possibilidade de convalescimento do ato
(consertar o erro) a partir do momento que o erro é identificado.

Obs²) ​Erro de direito: desde que não implique em um descumprimento proposital da


lei, é possível a alegação de erro de direito.
Exemplo​: A lei brasileira proibiu a importação do produto X, mas se alguém o
importou antes da lei ser vigente, tem-se um erro de direito pois a pessoa não agiu de
má fé.
Obs³) Vício Redibitório: vício oculto devido a uma falsa percepção da realidade;
situação em que a pessoa não comete o erro, ela é enganada. Nesse caso, há a
anulação do contrato/negócio jurídico.
Exemplo: ​Alguém compra um celular em um site mas ele vem com defeito ou realiza
a troca da tela de um smartphone e, cinco dias depois, ela volta a parar de funcionar.
Ocorre o abatimento do preço.

● Dolo: ​é ardiloso e intencional, ou seja, um erro espontâneo. É dividido em duas


partes.
a) Dolus Malus: ​vício do dolo, isto é, a intencionalidade de praticá-lo
constantemente.
b) Dolus Bonus: ​refere-se a algo aceito socialmente e que não representa o vício
(defeito/erro) intencional logo, não invalida o negócio jurídico.
Exemplo: uso de palavras ambíguas no contrato; propaganda de creme dental
que mostra um sorriso 100% branco e iluminado quando, na verdade, é
impossível atingir isso.

Os efeitos do dolo podem ser estendidos em:


- Principal: ​ataca o negócio jurídico por estar ligado a sua causa.
- Acidental: ​não impede a realização do negócio. Há a possibilidade de
mantê-lo, desde que a parte prejudicada seja indenizada.

Classificações de dolo:
- Dolo Negativo (art. 147º CC): incide na queixa de boa fé pelo
descumprimento do dever anexo de informar; omite uma informação essencial
para a realização do negócio jurídico;
- Dolo Bilateral (art. 150º CC): ​havendo dolo recíproco (bilateral), o negócio
jurídico permanece em seu atual estado pois não há como alegar dolo do outro
sendo que o primeiro também cometeu. O contrato não é anulável;
- Dolo de Terceiro (art. 148º CC): ​um terceiro engana as partes envolvidas no
negócio jurídico. Nesse caso, o contrato do negócio jurídico precisa ser
anulado.
Exemplo: ​um corretor de imóveis engana o vendedor e o comprador.

● Coação: ​não se trata da física, pois esta interfere no pressuposto de existência. É a


coação moral e psicológica que invalida o negócio jurídico; por mais que exista
vontade da parte, é uma vontade viciada/defeituosa, já que não é livre e espontânea.
Exemplo: você está parado com o seu carro no semáforo e alguém começa a lavá-lo
mesmo com você dizendo que não precisa; no final, você é coagido a pagar pois corre
o risco de ser agredido ou ter seu veículo danificado pela pessoa que prestou o
serviço. ​Há a possibilidade de invalidar o negócio jurídico.

Obs) É necessário regular o exercício do direito efetivando um que não seja


considerado coação.
Exemplo: (​CHAVES​) você precisa cobrar o aluguel do residente em sua propriedade.
Ele não pode alegar coação da sua parte; cobrar é o seu dever e o seu direito prescrito
em lei.
Coação X Temor Reverencial​, no qual este último significa o respeito a uma
autoridade instituída (filho obedecendo a mãe, por exemplo).

● Lesão: possui maior conexão com o abuso do poder econômico - quando uma das
partes impõe uma obrigação excessivamente onerosa e ​desequilibra a balança
contratual.
Exemplo: quando um vendedor realiza um negócio com um deficiente mental, por
exemplo, e cobra mais que o devido por um determinado produto.

Os elementos de uma lesão podem ser:


- Materiais: ​desproporção entre as prestações do negócio, desequilíbrio;
- Imateriais: ​necessidade de inexperiência da parte que assumiu a obrigação
excessiva.

Lesão: desproporção nasce com o próprio negócio que foi estabelecido; ​ele é
invalidado logo no seu surgimento.

Teoria da Imprevisão: ​o negócio nasce válido mas ele se desequilibra depois devido
a um acontecimento superveniente (que não era esperado). Além disso, não se
invalida, há a possibilidade de revisar o negócio ou encerrá-lo ali.
Exemplo: celebra um contrato e estabelece o pagamento em dez prestações em dólar,
mas, nesse período, ocorre uma crise que aumenta o valor da moeda. Dessa forma,
como não era uma situação prevista, este contrato pode ser desfeito, finalizado
(resolver a situação) ou revisado.

● Estado de Perigo: ​semelhante com o estado de necessidade, no qual é gerada a


exclusão da ilicitude no Direito Penal. O agente, diante da situação de perigo da parte,
exige uma obrigação excessivamente onerosa.
Exemplo: uma pessoa está se afogando e passa um bote avisando que a salvaria por
R$4000,00. No momento, a pessoa aceita, mas ela assumiu uma obrigação em estado
de perigo, então ela pode recorrer a uma invalidação dessa obrigação e,
consequentemente, desse negócio.
VÍCIOS SOCIAIS

Simulação: ​negócio jurídico aparentemente normal, mas não produz o efeito que deveria
produzir. Nesse caso, duas partes se unem para prejudicar outra parte ou para burlar a lei
(conchavo/conluio das partes). Gera nulidade do negócio jurídico, segundo o art. 167º do
Código Civil.

● Absoluta: ​o negócio celebrado é destinado a não gerar efeito algum. É como se ele
não tivesse sido celebrado.
Exemplo: ​em um divórcio, um deles pode simular que tem uma dívida com um
amigo só para não dividir certa parte do patrimônio durante a separação.

● Relativa: ​chamada também de dissimulação - nesse caso, é como se houvesse uma


“máscara”. O negócio jurídico é criado porém para encobrir outro negócio proibido
por lei.
Exemplo: passar a escritura de um imóvel abaixo do valor dela para que os impostos
sejam menores - burlar o fisco.

- A partir do novo Código Civil, independente se for absoluta ou relativa, o negócio é


considerado ​nulo​. O juiz pode perceber e reconhecer de ofício que houve simulação,
fato que gera nulidade absoluta​.

Fraudes contra credores: ​possibilidade normativa de instrumento de proteger o crédito de


quem tenta fraudar. Quem comete a fraude, se tem patrimônio suficiente para pagar o que
deve, a princípio não comete a fraude.

- Requisitos que caracterizam a fraude contra credores


● Consilium Fraudis: ​má fé presente no ato da fraude
● Eventus Damni:​ prejuízo causado a esse credor pré-existente

- Hipóteses legais
● (​Art. 158º) Negócio de transição gratuita de bens: é​ o mais grave de todos,
pois a pessoa devedora insolvente (que não tem condições de pagar) está
devendo 50 mil (por exemplo) para a pessoa X mas começa a passar bens para
a pessoa Y.
● (Art. 158º) Perdão fraudulento de dívidas: s​ ituação de remissão, na qual uma
pessoa está devendo a X mas nega o pagamento (perdoa) de Y - quando, na
verdade, esse dinheiro que Y pagaria a primeira pessoa, deveria ser repassado
para X.
● Negócio oneroso fraudulento: é mais difícil de ser provado. ​É aquele em que
há ônus para ambas as partes, ou seja, há uma prestação e uma
contraprestação; ou seja, é o fraude ao credor em uma compra e venda. Vão
existir custos, taxas, abertura de crédito, não vai ser gratuito.

- Ação Pauliana: ​ação pessoal movida por credores ​com intenção de anular negócio
jurídico feito por devedores insolventes com bens que seriam usados para pagamento
da dívida numa ação de execução (fraudes). A ação pauliana pode ser ajuizada sem a
necessidade de uma ação de execução anterior. Possui prazo decadencial para a
identificação e evidência da fraude de 4 anos; findo esse tempo, não há como entrar
com tal ação.
Obs) Na fraude execução é mais grave, pois ela viola normas de ordem pública
(sistema de justiça), pois já há um processo ocorrendo contra o fraudador.

Fraude à execução X Fraude contra credores

Instituto do Direito Processual Instituto do Direito Material

Má fé presumida Ônus (local de cobrança) do credor

Interesse do credor e do Estado Interesse apenas do credor

Atos declarados ineficazes Atos anuláveis (são inválidos)

Declarada incidentalmente (dentro do Objeto de ação anulatória, autônoma e só


próprio processo em andamento) tipifica um atinge interesse particular
ilícito penal

Não há relação contratual entre as partes ​Há relação contratual entre as partes

3. PLANO DE EFICÁCIA

● Condição: ​“Trata-se de um elemento acidental do negócio jurídico consistente em um


acontecimento futuro e incerto que subordina a sua eficácia jurídica.”
Exemplo: ​Afirmar que quando Juliana casar, eu lhe darei um carro > não há data para
casamento e nem sabe-se se de fato terá um; logo, evento futuro e incerto.

A) Condição suspensiva (suspende): ​enquanto o evento não acontecer (ou não for
verificado), o início da eficácia do negócio jurídico é suspendido.
Exemplo: No caso do casamento acima, assim que Juliana casar, a eficácia do
negócio jurídico terá início; ou seja, ela ganhará o carro.
Obs) Se a condição suspensiva for impossível de acontecer, o negócio jurídico será
invalidado.

B) Condição resolutiva (resolve): quando o evento futuro e incerto acontecer (for


verificado), o negócio jurídico é resolvido. É um contraponto a condição anterior pois
se encerra o negócio jurídico​.
Exemplo: ​Suspensão de privilégios de filhos de militares depois da aposentadoria dos
pais / Parar de dar R$10 mil para Victor assim que ele passar no concurso público.
Obs) Se a condição resolutiva for impossível de acontecer, tal condição será
invalidada, mas o negócio jurídico continua sendo válido.

● Termo: ​diferentemente da condição, é um acontecimento futuro e certo que interfere


na eficácia do negócio. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do
direito.
Exemplo: ​O prazo de início do contrato é de 30 dias; ou seja, é um contrato com um
prazo futuro e certo.
Exemplo²: Na compra de um carro, você tem o direito de parcelar seu pagamento e,
de acordo com os termos estabelecidos no contrato, o pagamento só poderá ser
efetuado nos dias X, Y e Z. Nesse caso, o negócio jurídico já está em andamento,
então não se pode exigir a eficácia inteira do contrato, uma vez que foi estipulado o
parcelamento. A eficácia plena é suspensa!

● Modo ou encargo: ​é a determinação acessória acidental do negócio jurídico que


impõe ao beneficiário um ônus a ser cumprido, em prol de uma ​liberalidade maior.
Não possui o peso e não exige uma contraprestação.
Exemplo: Decido repassar a minha fazenda ao Felipe com o encargo de ele construir
uma Capela no Centro da Cidade - ele terá um ônus.
Art. 137º do Código Civil: se o encargo for ilícito, ele será desconsiderado do
negócio jurídico e a pessoa receberá o que lhe for prometido.
Obs) O encargo ​não suspende a eficácia do ato​, então o descumprimento do encargo
não afeta nem o exercício nem a aquisição de direitos. (​pois ele não é uma condição).

O descumprimeno do encargo impede a aquisição de direito em apenas uma


possibilidade: eu decido doar um carro para Daniel se ele prestar serviços voluntários
em um hospital por, no mínimo, dois anos (condição, o que impede a aquisição de
direitos). Caso ele não cumpra, não receberá o carrro e isso demonstra a suspensão da
eficácia do negócio jurídico celebrado.
Obs) O encargo é desconsiderado (invalidado) caso sejam cometidos atos ilícito; o
praticante é responsabilizado.
Obs²) O negócio jurídico é absolutamente anulado quando ele apresenta condições
física ou juridicamente impossíveis.
Exemplo:​ Determinar que alguém beba 5l de água em 5 segundos.

TEORIA DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO


OU
TEORIA DA NULIDADE

Há duas espécies de invalidade...

● Nulidade Absoluta: negócio jurídico nulo pois viola norma de ordem pública
cogente, isto é, ​aquela que constrange à quem se aplica, tornando seu cumprimento
obrigatório de maneira coercitiva.
● Nulidade Relativa (Anulabilidade): ​viola norma meramente dispositiva, ou seja, que
interfere no interesse particular das partes.

Obs) ​Em razão do princípio de conservação do negócio jurídico, o juiz deve tentar ao
máximo preservá-lo.

Art. 184. “Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não
o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal
implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal.” =>
Ou seja, não é necessário invalidar todo o negócio jurídico, apenas a parte problemática ou
prejudicial para consertá-lo.

Nulidade Absoluta (art 166º do CC): ​é nulo o negócio jurídico quando...

- Celebrado por pessoa absolutamente incapaz


- For ilícito, impossível ou indeterminado o seu objeto (ex: tráfico de entorpecentes)
- O motivo determinante (finalidade), comum a ambas as partes, for ilícito
- Não revestir forma prescrita em lei e se não seguir um procedimento considerado
válido
- For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade (ex:
testamento cerrado​, no qual só quem o escreve possui acesso ao seu conteúdo - se,
quando ele for aberto, descobre-se que ele não estava lacrado, ele se torna inválido
pois sua lacração é uma solenidade legal (absolutamente nulo).
- tiver por objetivo fraudar a lei imperativa
- a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a prática sem cominar sanção
● Características da nulidade absoluta:
A) Por ser mais grave, ela só pode ser arguida (questionada/alegada) por qualquer
interessado, pelo Ministério Público, ou até mesmo ser reconhecida de ofício pelo
juiz, quando este alega sem ter necessariamente uma alegação.
B) Ela não admite confirmação de convalescimento pelo decurso do tempo (art. 169º)
C) A sentença declaratória de nulidade absoluta produz efeito ​ex tunc, ​ou seja, produz
efeitos retroativos; a sentença retroage seus efeitos para atacar o negócio no início
(ab-ovo) => entendimento pacificado pela doutrina, mas não se encontra no Código.

Nulidade Relativa ou anulabilidade (art. 171º do Código Civil): ​é nulo o negócio


jurídico…

- Por meio de incapacidade relativa do agente


- Por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra
credores (defeitos do negócio jurídico)
Obs) A simulação (também um defeito do negócio jurídico) gera nulidade absoluta,
não relativa.
Obs²) ​essa nulidade não vai exaurir outras possibilidades.

● Características da nulidade absoluta:


A) Art. 177 do Código Civil - ​esse negócio anulável só pode ser impugnado/questionado
por quem tenha interesse jurídico legítimo, ou seja, uma das partes envolvidas no
negócio. O juiz não pode impugnar o ofício sem ser provocado.
B) Art. 178 e 179 do Código Civil - a anulabilidade (nulidade relativa) deve ser
impugnada dentro dos prazos decadenciais apontados pela lei.
Exemplo: se alguém for vítima de um erro X, o qual, segundo a lei, possui um prazo
decadencial de 4 anos para ser impugnado, esse alguém possui quatro anos para
impugnar a anulabilidade do negócio jurídico a partir do momento que ele foi
estabelecido
Obs)​ Em casos de coação, quando ela acabar.
Obs²) ​Se o prazo não for prescrito em lei ou definido pelo legislador, ele será
estabelecido pelo prazo legal de 2 anos.
C) Diferentemente do negócio nulo, ​o anulável é menos grave​; logo, ele admite
confirmação/correção expressa em lei ou tácita (permanece como está).
Exemplo: ​sé acordado com uma empresa de festas realizar uma do homem aranha
mas os materiais que chegam são da liga da justiça; caso o aniversariante também
goste da liga da justiça, é um problema menos grave, então pode confirmar o negócio
jurídico pois ele foi corrigido de forma tácita.
D) A sentença anulatória desconstitui/desfaz o ato, fato que faz com que ela tenha
eficácia​ ex tunc,​ a qual apresenta os efeitos retroativos.
Obs) ​Nessa sentença, para que se tenha efeito ex tunc, é necessária uma determinação
expressa da retroação dos efeitos. Se não retroage, é efeito ​ex nunc, o qual passa a
valer no momento da sentença.

● Conversão do negócio jurídico inválido: aproveitar os elementos materiais desse


negócio mesmo que ele seja anulável.
Exemplo: ​A compra e venda de um imóvel em um valor superior a 30 salários
mínimos deve ser prevista em escritura pública. Mas, se converter essa relação para
uma promessa de compra e venda para manter a autonomia privada das partes, tal
negócio não necessitaria de um registro público e poderia ser resolvido pelo contrato
entre as partes.

● Instrumento Particular: ​feito e assinado, ou somente assinado por quem esteja na


livre disposição e administração de seus bens, prova as obrigações convencionais de
qualquer valor; mas os seus efeitos, bem como os da cessão, não se operam, a respeito
de terceiros, antes de registrado no registro público.

FORMA E PROVA DO NEGÓCIO JURÍDICO

● Forma: ​modo como a vontade se expressa (palavra, gesto, silêncio) confere


segurança ao negócio. Serve como prova do negócio jurídico (ex: forma escrita).

Segundo Clóvis Beviláqua, “é o conjunto de solenidades que devem observar para


que a declaração de vontade tenha eficácia jurídica.

Forma escrita e forma não proibida em lei.


Regra: ​Forma livre / ​Forma específica: a lei tem que dispor
(casamento/testamento). Se exige forma escrita, não pode ter prova testemunhal.

Forma X Prova

Reveste a manifestação da vontade; Demonstra a existência do ato;


Estático Didático
Escritura pública: ​a prova respeita a forma, dotada da fé pública.

● Prova: ​Segundo Clóvis Beviláqua, é o conjunto de os meios empregados para


demonstrar legalmente a existência de um ato jurídico. É essencial para o Direito, pois
relaciona o fato com o direito reivindicado.
Exemplo: se uma lei exige somente forma escrita, como o casamento, não se prova
que ele aconteceu sem a certidão matrimonial
Obs) art 374º do CPC: ​determinados fatos não dependem de provas, tais como:
notórios (todos sabem), quando uma parte afirma e a t=outra confessa, tido como
incontroverso.

● Meios de Provas (art 212 do Código Civil)


A) Confissão: ​pronunciamento contra o próprio manifestante da vontade. Quem
confessa é sempre uma das partes e não um terceiro, pois este é apenas uma
testemunha. Admite-se que a confissão seja feita por um representante
instituído. O mais mais oportuno para realizá-la é o durante o depoimento
pessoal da parte. A confissão pode ser ​expressa ​(voluntária e evidente) ou
presumida (voluntária mas não evidente; ex: não nega a acusação /
presume-se uma confissão).

B) Documento: papel útil que prova o ato jurídico (traz a prova, não é um papel
em branco).
Exemplo: Pedro escreve, em um guardanapo, que 20% dos lucros de sua
empresa seriam destinados a Paulo e isso de fato ocorreu -> o guardanapo
serve como prova do negócio jurídico.
Obs) documentos escritos em língua estrangeira devem ser traduzidos por um
tradutor público juramentado para que eles tenham efeito legal.

C) Testemunha: ​resulta do depoimento oral de pessoas que souberam de fatos


relacionados a uma causa.
Obs) ​Retirou-se a proibição de tirar como testemunhas os deficientes.
Obs²) Não se exige mais a prova testemunhal em negócios acima de dez
salários mínimos.

D) Presunção: ​conclusão que se extrai de fato conhecido para provar a existência


de fato desconhecido.
1. Iure et de iuri: ​presunção absoluta que não admite prova em contrário.
2. Iuris Tantum: a​ quela que a lei admite prova em contrário.
Exemplo: comoriência - duas pessoas morrem ao mesmo tempo mas
não se sabe quem morreu primeiro e não há como provar, presume-se,
então, que morreram ao mesmo tempo.
Obs)​ a presunção relativa forma uma regra e as absolutas são exceção.

E) Perícia: ​apreciação técnica de algo para esclarecimento em juízo. Ela é feita


por um especialista em alguma área e o perito auxilia a construir a prova.
Obs)​ O juiz não se prende a perícia para formar seu julgamento.
Exemplo: quem recusa a fazer o exame de DNA (perícia), pode ter contra si a
presunção de paternidade.
ILICITUDE CIVIL

Código Civil de 2002: nem toda responsabilidade civil (objetiva) é decorrente de um ato
ilícito, pois é impossível identificá-la mesmo sem culpa ou dolo.
Obs)​ A teoria do ato ilícito e abuso de direito é abordada quando se fala de ilicitude civil.

● Conceito de Ato Ilícito: ideia de antijuridicidade, ou seja, um ato


antijurídico/contrário a norma jurídica estabelecida. Eles não precisam violar apenas
leis, também podem transgredir regras de conduta de um condomínio, por exemplo, e
podem gerar a inviabilidade de um negócio jurídico.
Obs)​ Ele vai de encontro à norma jurídica, a qual busca controlar seus efeitos.

● Efeitos: podem ter variadas dimensões; geralmente são indicados na própria norma
jurídica.
A) Efeito indenizante: ​obrigação de reparar um dano.
Exemplo: carro causa acidente na contramão; o motorista causador do
acidente deve indenizar os prejuízos nos demais veículos.

B) Efeito caducificante: o ato não está necessariamente ligado a indenização e


há a possibilidade de perda ou restrição de direitos.
Exemplo: o pai tira o filho da escola como punição/castigo e decide mantê-lo
sem estudos; o pai não é obrigado a reparar o dano, mas pode sofrer
destituição ou restrição de poder familiar. (como perda de guarda).

C) Efeito Invalidante: ​decorrente de negócio jurídico nulo ou anulável.


Exemplo: as partes firmam um contrato no qual o objeto é a entrega de um
caminhão de cocaína. Como o objeto é ilícito, o negócio é invalidado e, assim,
a outra parte não pode reclamar prejuízo caso o caminhão não chegue ao
destino.

D) Efeito outorgante:​ permite o exercício de direitos pela contra parte.


Exemplo: ​uma doação seguida de tentativa de assassinato em em situação de
sequestro permite que o doador exerça o direito de revogar a doação.

● Espécies
A) Ato ilícito subjetivo: ​nasce e morre ilícito, traz o conceito amplo de culpa e
possui quatro pressupostos: dano, nexo causal, conduta comissiva ou omissiva,
noção ampla de culpa e dolo.
Obs) Apesar de dano ser pressuposto de ilicitude, nem todo dano é
indenizável.
Exemplo: ​dano afetivo, como quando o pai ou a mãe abandona seu filho.
B) Ato ilícito objetivo: ​nasce lícito e morre ilícito; corresponde ao novo modelo
de ilicitude, sendo um modelo comportamental desatrelado do sentido de
culpa ​lato sensu.​ Ocorre quando o exercício do direito excede os seus limites
(abuso de direito)

● Excludentes de ilicitude civil, seja ela subjetiva ou objetiva


A) Exercício regular do Direito: não é considerado abusivo; caso seja irregular,
é abuso de direito.
B) Legítima defesa própria: ​em situação de perigo, não admite defesa de
terceiros ou putativa, somente a sua.
C) Estado de necessidade: atos praticados em estado de necessidade são
considerados lícitos, mas podem gerar responsabilidade civil.
Obs) Se o bem jurídico sacrificado pertencer a quem causou o perigo não há
ato ilícito nem responsabilidade civil. Mas, se for de um terceiro, pode gerar
responsabilidade civil.
Exemplo: ​você bate o carrono muro deuma casa para fugir de um carro na
contramão e evitar um acidente. Se o muro pertencer ao motorista que estava
na contramão, não há ato ilícito nem responsabilidade civil. Se o muro
pertencer a um terceiro, não há ato ilícito mas há responsabilidade civil para a
pessoa que o danificou. *NO ENTANTO*, ESSA PESSOA QUE
DANIFICOU PODE RECORRER AO SEU DIREITO DE REGRESSO e,
assim, transferir a responsabilidade civil para o motorista que estava na
contramão e ele deverá ressarcir a dona do muro.

Culpa exclusiva da vítima ​é diferente de excludentes de ilicitude civil pois


ela não está ligada a antijuridicidade e falta um nexo de causalidade, então
exclui-se a responsabilidade civil.

● Submodalidades do abuso de direito e aumento da indenização


A) Venire contra factum proprium: p​ roibição de comportamento contraditório
para que não se configure abuso de direito, o qual é caracterizado pela prática
do exercício de um direito que afronta a uma expectativa criada de que ele não
seria exercido. (decorre da boa fé objetiva). É diferente de proibição de
alegação da própria torpeza pois esta se funda na boa fé subjetiva enquanto
que o ​venire contra factum proprium se funda n a boa fé objetiva. Não está no
campo de descumprimento contratual
Exemplo: ​uma mulher se casou com um homem mais novo sob regime de
separação total de bens no Uruguai (pois, na época, não era permitido no
Brasil). Quando eles retornam ao Brasil, eles mudam tal regime para
comunhão pois ele precisa ter direito ao patrimônio da esposa para abrir uma
empresa. O marido, então, abre uma empresa mas logo declara falência. Os
credores cobram o prejuízo desejando adquirir os bens deles (casal), mas eles
alegam separação total de bens (fraude). A esposa, então, permanece com seus
bens e seu marido perde tudo. No entanto, ele decide se divorciar e deseja
abrir um processo para ter direito ao patrimônio da esposa, pois, quando
retornaram ao Brasil, antes da empresa falir, eles mudaram o regime do
casamento. No entanto, ele não poderá ter esse direito pois, ao ser cobrado
pelos credores, ele alegou separação total de bens.

B) Substantial performance: ​abuso de direito do credor ao requerer a rescisão


do contrato quando com descumprimento da obrigação pelo devedor foi
mínimo (inadimplemento mínimo ou adimplemento substancial- “não
pagamento”). Se alguém não cumpre o contrato, em regra, deve-se rescindir o
contrato, mas, nesse caso, a parte descumprida é irrisória (mínima) e o
ressarcimento pode ser ainda mais prejudicial do que tal descumprimento.
Exemplo: ​um cliente decide pagar um carro em dez parcelas mas, ao chegar
na 8ª, ele fica desempregado e alega não ter condições de continuar pagando.
O financiador, então, decide pegar o carro de volta e, vendo isso, o cliente
solicita a devolução das parcelas - já que ele não terá mais a posse do carro.
Como seriam abatidas muitas taxas e impostos, o banco não lhe devolveria
anda (tendo a possibilidade de ainda ficar devendo ao banco). Portanto, pagar
as 2 parcelas restantes seria a melhor opção.

C) Violação positiva do contrato (ou inadimplemento fraco): além de cumprir


as obrigações do contrato, as partes devem agir de acordo com a boa fé
objetiva e ​cumprir os deveres anexos​, não só as cláusulas contratuais.
*direitos anexos:​ informação, segurança, etc
Exemplo: uma empresa alugou 22 outdoors para serem instalados em SP, mas
o serviço foi mal feito e não correspondeu aos objetivos da empresa expressos
no contrato.

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