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Resumo – Civil I (1º estágio)

BENS

Os bens jurídicos podem ser definidos como toda a utilidade, física ou


imaterial, que seja objeto de uma relação jurídica (ou direito subjetivo)
(Pablo Stolze) → assim, todo bem econômico é bem jurídico, mas a
recíproca não é verdadeira

A todo direito subjetivo corresponde um determinado bem jurídico (ex.: um


terreno é objeto de meu direito de propriedade; a honra é objeto de meu
direito de personalidade) → prestações também podem ser objetos de
direitos (o direito subjetivo de crédito, por exemplo, tem por objeto não o
dinheiro devido em si, mas sim a prestação positiva do devedor em pagá-lo)

BEM x COISA1

Não há consenso doutrinário quanto a tal distinção

o Maria Helena Diniz, Sílvio Venosa → consideram os bens como


espécies das coisas; Venosa diz que coisa tem um sentido mais
extenso, compreendendo tanto bens que podem ser apropriados
quanto aqueles que não podem
o Pablo Stolze → considera as coisas como espécies dos bens.
Orientado na linha do Direito Alemão, identifica a coisa sob o aspecto
da materialidade, de modo que esta designa os objetos corpóreos.
Os bens, por outro lado, compreenderiam tanto os objetos corpóreos
e materiais (coisas) quanto os ideais (bens imateriais). Por isso há
bens jurídicos que não são coisas (a liberdade, a honra, a integridade
moral, a imagem, a vida)

Caracteres → para que o bem seja objeto de uma relação jurídica privada,
é preciso que ele apresente as seguintes características:

1) idoneidade para satisfazer um interesse econômico (o que exclui os bens


inapreciáveis economicamente)

2) gestão econômica autônoma (o bem deve possuir uma autonomia


econômica, constituindo uma entidade econômica particular2) e
1
O CC/16 não fazia tal distinção, referindo-se ora a um, ora a outro como objeto de direito
2
EX.: a energia, que, uma vez produzida, se separa da fonte e constitui bem jurídico aut.
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3) subordinação jurídica ao seu titular (deve ser suscetíveis de apropriação


ao domínio da pessoa)

Propriedade x Domínio → Enquanto a propriedade é o mais amplo direito


real, abrangendo bens corpóreos e incorpóreos, o domínio é um vínculo
jurídico que liga o titular ao objeto da relação jurídica, só podendo ser
exercido sobre bens corpóreos

Patrimônio jurídico

Compreende o complexo de direitos reais e obrigacionais de uma


pessoa3, ficando de lado todos os outros que não tem valor pecuniário nem
podem ser cedidos → não é o conjunto de bens corpóreos, mas sim toda a
gama de relações jurídica valoráveis economicamente de uma pessoa (ou
seja, constitui uma universalidade de direito, e não de fato)

Pode ser líquido (conjunto de bens e créditos, deduzidos os débitos) ou


bruto (conjunto de relações jurídicas sem essa dedução), compreendendo-
se o ativo (conjunto de direitos) e o passivo (as obrigações)

O patrimônio relaciona-se ao princípio que norteia todo o Direito das


Obrigações: “O patrimônio do devedor responde por suas dívidas”; de modo
que o patrimônio é a garantia dos credores

A doutrina tradicional considera que não há pluralidade de patrimônios: uma


vez que este é decorrência da personalidade, a pessoa não poderia ter
mais de um → no caso, por exemplo, da comunhão parcial de bens, não
haveria uma divisibilidade do patrimônio, apenas a individualização de parte
dos bens componentes dele

CLASSIFICAÇÃO

Com base no NCC, a classificação


dos bens apresenta-se da
seguinte forma:

1. Dos bens considerados em si


mesmos

1.1. Bens corpóreos e incorpóreos

3
Outro conceito é o conjunto de direitos e obrigações pecuniariamente apreciáveis
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Apesar de não fazerem parte da classificação formal, essa é uma distinção


muito importante feita por Stolze. Os bens corpóreos são aqueles que têm
existência material, sendo perceptíveis pelos sentidos (como os bens
móveis e imóveis, no geral), enquanto os incorpóreos são abstratos, de
existência não tangível, meramente jurídica (como o direito autoral, por
exemplo).

Há algumas diferenças da disciplina jurídica entre eles, como o fato de que


somente os bens corpóreos podem ser objeto de contrato de compra e
venda, enquanto os bens incorpóreos só são transferidos por contrato de
cessão. Outra diferença é que os primeiros podem ser adquiridos por
usucapião e serem objetos de tradição, enquanto os segundos não podem.

1.2. Bens imóveis e móveis (art. 79-84)

1.2.1. Bens imóveis4

- São aqueles que não podem ser transportados de um lugar para outro
sem alteração de sua substância. A alienação de bens imóveis reverte-se
de formalidades não exigidas para os móveis → a aquisição de um imóvel,
por exemplo, só se concretiza com o registro, enquanto que, para os bens
móveis, dispensa-se tal formalidade, bastando a tradição da coisa

- Classificação

o Bens imóveis por sua própria natureza → o solo e tudo que for
incorporado a ele, natural ou artificialmente
- Limitação: Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço
aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao
seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que
sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais,
que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las.
Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e
demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os
monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis
especiais.
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os
recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde
que não submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto
em lei especial.
o Bens imóveis por acessão5 física (natural ou artificia) → tudo aquilo
que é incorporado permanentemente ao solo e não pode ser retirado
sem destruição/dano do mesmo (árvore, semente lançada à terra,
4
Os cônjuges só podem alienar (ou gravar de ônus real) os bens imóveis com a
autorização do outro, salvo os cônjuges casados sob regime de separação absoluta (art.
1647)
5
Incorporação, união física com aumento de volume da coisa principal
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edifícios, construções); os bens móveis incorporados


intencionalmente ao solo adquirem a sua natureza imobiliária
o Bens imóveis por acessão intelectual → bens mantidos no imóvel e
intencionalmente destinados pelo proprietário para exploração
industrial, aformoseamento ou comodidade (aparelhos de ar
condicionado, escadas de emergência, máquinas, etc.) → essa
categoria foi suprimida pelo NCC → são tratados atualmente como
pertenças (art. 93 e 94)

ADENDO: sobre os bens imóveis por acessão intelectual

Essa categoria tornava-se muito subjetiva e aberta por ter como elemento
essencial o elemento intelectual (a intenção do proprietário). O CC/16
permitia a “mobilização” do bem, ou seja, ele poderia, por vontade do
proprietário, voltar à natureza de móvel. Em questão tributária, essa
categoria ia ganhando cada vez mais relevância, pois o proprietário optava
por considerar determinado bem como móvel apenas para ter o imposto
menos oneroso incidido sobre ele. Como afirma Orlando Gomes, a
categoria “introduz um elemento subjetivo - a intenção do dono - que torna
extremamente maleável o conceito de imobilização, favorecendo
conversões fraudulentas”

o Bens imóveis por determinação legal → são os direitos reais sobre


imóveis e as ações que os asseguram, bem como o direito à
sucessão aberta; nessa categoria, não prevalece o aspecto
naturalístico do bem, mas sim a vontade do legislador.
- Considerando o caráter de bem imóvel do direito à sucessão
aberta, tem-se que caso um herdeiro, durante o inventário, queira
ceder sua quota hereditária (seu direito à sucessão aberta) a outro
sucessor ou terceiro, seria necessário, além de sua capacidade
jurídica, a autorização do cônjuge do cedente6, uma vez que se
trata de uma espécie de alienação de direito imobiliário 7 → a
ausência do consentimento torna o ato anulável → incidirão, então,
dois tributos distintos: o imposto de transmissão mortis causa (em
face da transferência dos direitos do falecido para o
herdeiro/cedente) e o imposto de transmissão inter vivos (em face da
transferência dos direitos do herdeiro/cedente para outro herdeiro ou
terceiro/cessionário)

1.2.2. Bens móveis

6
Outorga uxória ou autorização marital
7
Esse posicionamento, porém, não é pacífico. MHD, por exemplo, defende que não há
necessidade do prévio consentimento do cônjuge para tal
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- São os bens passíveis de deslocamento, sem quebra ou fratura; os bens


suscetíveis de movimento próprio são chamados de semoventes

- Classificação

o Bens móveis por sua própria natureza → os bens que, sem


deterioração de sua substância, podem ser transportados de um
local para outro, mediante o emprego de força alheia
o Bens móveis por antecipação → são os bens que, incorporados ao
solo, podem ser destacados e, assim, convertidos em móveis (ex.:
árvores, quando destinadas ao corte)
o Bens móveis por determinação legal → são as energias que tenham
valor econômico, os direitos reais sobre objetos móveis e as ações
correspondentes, os direitos pessoais de caráter patrimonial e
respectivas ações (art. 83); são bens imateriais que adquirem tal
qualidade jurídica por disposição legal
o Bens semoventes → são aqueles que se movem de um lugar para
outro por movimento próprio (ex.: animais); sua disciplina jurídica é a
mesma dos bens móveis por sua própria natureza

Importância da distinção entre bens móveis e imóveis

o Modo de aquisição
- Imóveis: registro de título, acessão, usucapião e direito hereditário
- Móveis: tradição, usucapião, achado de tesouro, caça, pesca,
invenção, etc.
o Alienação → necessidade ou não de outorga uxória
o Contratos translativos
- Imóveis: necessidade de escritura pública
- Moveis: dispensa formalidades
o Sucessão provisória do ausente
- Imóveis: só podem ser alienados por desapropriação ou por ordem
judicial
- Móveis: podem ser alienados
o Furto → só se qualifica quando é de coisa alheia móvel
o Direitos reais de garantia
- Imóveis: hipoteca
- Móveis: penhor (≠ penhora)
o Imposto de transmissão inter vivos → só incide sobre bens imóveis
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o Apenas os imóveis estão sujeitos a registro e à enfiteuse8, enquanto


apenas os móveis podem ser objeto de contrato de mútuo9

CASOS

1) O imposto que incide sobre bens imóveis é o ITBI (Imposto de


Transmissão de Bens Imóveis), enquanto que sobre os bens móveis é o
ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços); assim,
caso um sobrado (bem imóvel) fosse ser transportado entre estados, o
imposto a ser incidido sobre ele seria o ITBI, pois continuam sendo
imóveis os bens separados para serem reempregados
2) No caso de telhas que fossem retiradas do teto do CCJ (bem imóvel),
caso houvesse intenção de recolocá-las, seriam consideradas ainda
bens imóveis (por fazerem parte do CCJ), porém, se não houvesse mais
essa intenção, seriam consideradas bens móveis → um furto só poderia
se qualificar se não houvesse mais essa intenção, pois só se configura
em caso de “coisa alheia móvel”
3) Uma pessoa morre e deixa um bem móvel de herança, porém, durante a
sucessão aberta, esse bem é tido como imóvel; caso um dos herdeiros
seja casado (sem ser em regime de separação total de bens) e queira
alienar esse bem (durante a sucessão aberta), precisará de autorização
marital, pois o bem é tido como imóvel
4) Embarcações e aeronaves são bens móveis, porém, o direito de
garantia aplicado a eles é a hipoteca (típico de bens imóveis), e não o
penhor
5) Uma pessoa casada (em comunhão de bens) não precisa de
autorização de seu cônjuge para vender uma árvore, por exemplo, pois
esta é móvel por antecipação, e, consequentemente, é tratada como
móvel

1.3. Bens fungíveis e infungíveis (arts. 50 e 85)

Os bens fungíveis são aqueles que podem ser substituídos por outros da
mesma espécie, qualidade e quantidade. Normalmente é uma classificação
típica dos bens móveis (ex: alimentos em geral, e o dinheiro, que é um bem
fungível por excelência)

Os bens infungíveis, por outro lado, são aqueles de natureza insubstituível

8
É um direito real sobre coisa alheia pelo qual o enfiteuta possui a posse direta da coisa,
podendo usá-la de forma completa, bem como aliená-la e transmiti-la por herança,
enquanto o senhorio direto, que é o proprietário do bem, apenas o conserva em seu nome;
o CC/02 não mais permite a constituição de enfiteuse
9
Empréstimo de coisa fungível e consumível ao mutuário, que por sua vez deverá restituir
ao mutuante coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade
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Geralmente, o atributo da fungibilidade decorre da natureza do bem, mas


também pode advir: 1) da vontade das partes e 2) do valor histórico do
bem10

OBS.: O contrato de mútuo é o empréstimo de consumo, enquanto o


comodato se configura como empréstimo de uso. Dessa forma: o mútuo
alcança apenas bens fungíveis, e, o comodato bens infungíveis

1.4. Bens consumíveis e inconsumíveis (art. 86)

Os bens consumíveis são aqueles destinados à alienação, ou os bens


móveis cujo uso leva à destruição imediata da própria substância (ex.:
alimento)

Os bens inconsumíveis são aqueles que suportam o uso continuado, sem


prejuízo do seu perecimento progressivo e natural (ex.: o automóvel)

→ na linguagem jurídica, consumível é apenas a que se destrói com o


primeiro uso; não é, por exemplo, juridicamente consumível a roupa, que
lentamente se desgasta com o uso ordinário

Quanto à alienação, Pablo Stolze ainda destaca:

Bens destinados à alienação, como um aparelho celular vendido em


uma loja especializada, adquirem, por força de lei, a natureza de
consumíveis. Por outro lado, nada impede seja considerado
inconsumível, pela vontade das partes, um determinado bem
naturalmente consumível: uma garrafa rara de licor, apenas exposta à
apreciação pública

1.5. Bens divisíveis e indivisíveis (arts. 87 e 88)

Bens indivisíveis são os que podem ser repartidos em porções reais e


distintas, formando cada uma delas um todo perfeito. Caso isso não
aconteça, são bens indivisíveis

Na definição do CC, destaca-se, ainda, a questão econômica: não pode


haver diminuição considerável de valor, nem prejuízo do uso a que se
destina

Os bens podem ser divisíveis: 1) por determinação legal (ex.: o módulo


rural), 2) por convenção (ex.: em uma obrigação de dinheiro que deva ser
satisfeita por vários devedores, estipula-se a indivisibilidade do pagamento)
ou 3) por sua própria natureza (ex.: um animal)

Cabe ainda a observação de Orlando Gomes sobre o tema:

10
Um vaso da dinastia Ming, por exemplo, atualmente é um bem infungível enquanto
registro de uma época remota, mas em seu próprio tempo, provavelmente não era nada
mais que um utensílio doméstico normal
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A distinção entre bens divisíveis e indivisíveis aplica-se às obrigações


e aos direitos. A regra dominante para as obrigações é que, mesmo
quando a prestação é divisível, o credor não pode ser compelido a
receber por partes, se assim não convencionou. Se a prestação for
indivisível e houver pluralidade de devedores, cada qual será
obrigado pela dívida toda

1.6. Bens singulares e coletivos (arts. 89-91)

Os bens singulares são considerados em sua individualidade,


representadas por uma unidade autônoma e, por isso, distintas de
quaisquer outras → podem ser simples, quando as suas partes
componentes são naturalmente ligadas (ex.: árvore, cavalo) ou compostas,
quando a coesão de seus componentes decorre do engenho humano (ex.:
avião, relógio)

Os bens coletivos são aqueles compostos de várias coisas singulares e,


assim, considerados em conjunto, formando um todo homogêneo (ex.:
floresta, biblioteca)

Os bens coletivos podem formar universalidade de fato ou de direito

o Universalidade de fato → a pluralidade de bens singulares que,


pertinentes à mesma pessoa e por sua vontade, tenham destinação
comum; a universalidade de fato permite sua desconstituição pela vontade
do seu titular → ex.: biblioteca, rebanho
o Universalidade de direito → complexo de direitos e obrigações a que a
ordem jurídica atribui caráter unitário; a universalidade direito decorre da
lei → ex.: dote, herança, patrimônio, espólio, massa falida

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