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Bens e sua classificação

Conceito de bens e sua classificação: bens considerados em si mesmos; bens reciprocamente considerados; bens quanto
ao titular do domínio e bens quanto a possibilidade de serem ou não comercializados.
Direito Civil 02/08/2021
[...]
Conforme leciona Carlos Roberto Gonçalves, "bens são coisas materiais ou concretas, úteis aos homens e de
expressão econômica, suscetíveis de apropriação". Portanto, os bens que podem ser objetos de direito são os
corpóreos (que possuem existência física, sendo passíveis de alienação), os incorpóreos (de existência
abstrata, que somente podem ser objetos de cessão), determinados atos humanos (prestações), e até mesmo
outros direitos (usufruto de crédito, por exemplo) e atributos da personalidade (direito a imagem, por exemplo).

Ao conjunto de bens pertencentes à um particular dá-se o nome de patrimônio. Neste, não estão abrangidas
as qualidade pessoais do proprietário, embora por vezes a lesão a esses bens possa acarretar em direito à
indenização.

As coisas comuns são os bens insuscetíveis de apropriação pelo homem, razão pela qual não podem ser objeto
de relações jurídicas, salvo se for possível sua apropriação em porções limitadas. As coisas sem dono podem
ser apropriadas livremente pelas pessoas, bem como as coisas abandonadas.

Classificação

Veremos a classificação com base em critérios de importância científica sendo que, segundo o critério de
classificação adotado, o bem possuirá regras próprias. Vejamos as principais classificações:

a) Bens considerados em si mesmos

- Móveis ou Imóveis:é a principal classificação. Conforme seja um ou outro o regime jurídico a ser adotado será
diverso. Veremos cada uma dessas espécies e suas peculiaridades:

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Os bens móveis podem ser classificados em:

Móveis por natureza: são aqueles que possuem movimento próprio. Eles subdividem-se em semoventes (que
se movem por força própria, como um animal, por exemplo) e propriamente ditos (se movem por força alheia,
como uma cadeira, por exemplo);

Móveis por determinação legal: estão regulamentados no artigo 83 do CC, que considera móveis, para efeitos
legais, as energias com valor econômico; os direitos reais sobre móveis, com as ações correspondentes; e os
direitos pessoais de caráter patrimonial com suas respectivas ações. Observa-se, portanto, que o Código Civil
confere natureza de bem móvel a bens imateriais visando facilitar a proteção jurídica destes. Como exemplo
podemos citar o fundo de comércio; as cotas das sociedades; os créditos; os direitos autorais etc;

Móveis por antecipação: são os bens que se incorporam ao solo com a intenção de futuramente separar-se
deste, convertendo-se em móvel. Como exemplo podemos citar as árvores que são plantadas justamente para
serem cortadas posteriormente.
Bens imóveis: são bens insuscetíveis de movimento, que não podem ser transportados de um lugar para o
outro sem serem destruídos. Podem, ainda, ser considerados imóveis por determinação legal, conforme
estabelece o artigo 79 do CC, o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente. Dentre suas
principais características podemos citar que são adquiridos por escritura pública devidamente registrada no
Cartório de Registro de Imóveis, com exigência de outorga uxória;

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Como os bens móveis, eles também podem ser classificados como:

Imóveis por natureza: somente o solo, com sua superfície, subsolo e espaço aéreo;

Imóveis por acessão natural: tudo que se adere naturalmente ao solo, como as árvores, os frutos pendentes,
os acessórios etc. Como visto acima, as árvores se destinadas ao corte, serão móveis por antecipação, e, se
plantadas em vasos, também serão móveis, pois serão removíveis;

Imóveis por acessão artificial ou industrial: é a aderência de um bem ao solo por força humana, como as
construções e as plantações, que não podem ser retiradas sem destruição, modificação, fratura ou dano ao
bem. Tendo em vista o conceito, nele não se abrange as construções provisórias, como as barracas de feira,
por exemplo. Nestas hipóteses, não perderá o caráter de imóvel as edificações que separadas do solo não
perderem sua unidade, e os materiais separados provisoriamente do prédio que voltarão a integrá-lo
futuramente;

Imóveis por determinação legal: são bens que são considerados imóveis por força de lei para dar maior
segurança a determinadas relações jurídicas. Eles estão previstos no artigo 80 do Código Civil, dentre os quais
podemos citar os direitos reais sobre os bens imóveis e suas respectivas ações e o direito a sucessão aberta
(razão pela qual, inclusive, a renúncia da herança deve ser dar por escritura pública devidamente registrada no
Cartório de Registro de Imóveis).

[...]

Fungíveis: são bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade,
ou seja, podem ser determinados por peso, número ou medida. O Código Civil os define em seu artigo 85,
como sendo "fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, quantidade e
qualidade", como dinheiro, ovos etc. Seu empréstimo chama-se mútuo. Em regra, ele somente abrange bens
móveis, porém, excepcionalmente podem englobar imóveis.

Infungíveis: são bens que não podem ser substituídas por outros em virtude de uma característica própria que
tenham, que o torne individual, como um quadro, por exemplo. Seu empréstimo chama-se comodato.

A fungibilidade pode existir tanto nas obrigações de dar como nas de fazer. Assim, se um serviço puder ser
realizado por qualquer pessoa ele será fungível, como, por exemplo, a lavagem de um carro - não importa quem
vá fazer o serviço, o importante é que o carro seja lavado, não importando a pessoa do lavador, posto que esse
pode ser substituído a qualquer momento. Porém, se um pintor é contratado para pintar uma tela pelas suas
características pessoais como artista, ele não poderá ser substituído por outra pessoa, ainda que este venha a
ser um artista melhor do que ele. Isso se dá porque essa obrigação é infungível, também chamada de intuitu
personae, ou seja, aquele pintor somente foi contratado em virtude das qualidades pessoais que possui.
Bens Consumíveis: o Código Civil, em seu artigo 86, afirma que "são consumíveis os bens móveis cujo uso
importa a destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados a
alienação". Assim, bens consumíveis são bens que são destruídos após serem utilizados, como o dinheiro, a
comida, o livro para o vendedor etc. Nos bens consumíveis por natureza o seu simples consumo implica em
sua destruição. Porém, também será considerada consumível a coisa destinada à alienação, como, por
exemplo, um rádio: para o vendedor da loja ele é considerado um bem consumível, tendo em vista que, com a
venda, ele se desfará dele, porém, para o comprador, ele será um bem inconsumível, uma vez que, ao adquirir
sua propriedade irá usá-lo sem destruí-lo.

Os bens consumíveis podem tornar-se inconsumíveis pela vontade das partes, como uma garrafa de um vinho
raro que foi emprestada para uma exposição, por exemplo.

- Divisíveis e Indivisíveis:

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Bens divisíveis: a priori, todos os bens são divisíveis, como, por exemplo, um carro, que pode ser desmontado.
Porém, para o Direito Civil, o conceito de divisibilidade está relacionado com a perda ou não da propriedade da
coisa, pois, no exemplo acima, se desmontado um carro suas partes não terão mais a mesma utilidade, pois o
carro, em si, não terá mais utilidade. Neste sentido, proclama o CC em seu artigo 87, que "bens divisíveis são
os que podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso
a que se destinam". Assim, o bem será divisível quando, ao ser partido, formar partes reais distintas, mantendo
sua substância e formando cada qual um todo perfeito. Ex.: água, ouro.

Bens indivisíveis: são bens que não podem ser fracionados sem que percam suas propriedades, suas
características, sua substância. Ao serem partidos deixam de ser o que era, como ocorre, por exemplo, com a
divisão de um relógio, de um carro etc.

- Singulares e Coletivos:

Singulares: são bens que, embora reunidos, são considerados distintos, isolados uns dos outros. São
considerados em sua individualidade, como, por exemplo, um caderno. Podem ser:

Simples: bens formados por partes de uma mesma espécie, homogêneas, como, por exemplo, um animal, uma
pedra, um vegetal;

Compostos: bens formados por partes distintas, heterogêneas, como, por exemplo, um automóvel, um edifício,
um eletrodoméstico;

Materiais: bens concretos, corpóreos, como, por exemplo, uma cadeira, um avião, uma bicicleta;

Imateriais: bens incorpóreos, abstratos, como, por exemplo, um crédito, uma dívida, um direito.
b) Bens reciprocamente considerados

- Principais: são os bens que existem sobre si mesmos, abstrata e concretamente, não dependendo de nenhum
outro. Ex.: o solo.

- Acessórios: bens cuja existência supõe a existência de um principal. Ex.: a cláusula penal, que é acessório
de obrigação principal; a árvore, que é acessório do solo; a fiança, que é acessória da locação etc. A regra
geral é de que o principal é superior ao acessório, razão pela qual este segue o destino daquele (accessorium
sequitur suum principale), salvo disposição expressa em sentido contrário. O contrário, porém, não é
verdadeiro. O acessório assume a mesma natureza jurídica do principal. Em regra, o proprietário do principal é
também do acessório, salvo exceção legal ou convencional. A classe dos acessórios compreende:

Frutos: são utilidades que a coisa principal produz periodicamente, cuja colheita não diminui o valor nem a
substância da fonte. Eles nascem e renascem periodicamente da coisa. Possuem três requisitos: a
periodicidade; inalterabilidade da substância do bem principal; e possibilidade de separação desta. Os frutos
podem ser naturais (surgem da força orgânica da própria natureza – maçã); industriais (surgem da força
humana – produtos); civis (surgem dos rendimentos produzidos por uma coisa em virtude da utilização por
outrem que não o proprietário do bem – aluguel); pendentes (enquanto unidos à coisa que o produziu – maçã
no pé ou aluguel não recebido); percebidos ou colhidos (separados da coisa que o produziu – maçã colhida,
aluguel recebido); estantes (separados do principal e armazenados para venda – maçã na caixa); percipiendos
(deveriam ser colhidos mas não foram – maçã estragada no pé ou direito prescrito); consumidos (não existem
mais porque foram consumidos – maçã comida);

Produtos: são as utilidades que a coisa produz, porém não periodicamente, diminuindo-lhe a quantidade e
alterando sua substância até que ele se esgote, como, por exemplo, a extração de carvão em uma mina;

Pertenças: são móveis que não constituem parte integrante do bem, porém se destinam, de forma duradoura,
ao uso, serviço ou aformoseamento de outro. Por exemplo: um trator de uma fazenda; os bens de decoração
de uma residência; etc. O artigo 94 do CC diferencia as pertenças das partes integrantes do bem ao afirmar
que "negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário
resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso". Pode-se concluir, portanto, que a
regra de que o acessório segue o principal não se aplica as pertenças.

Rendimentos: são espécies do gênero frutos, não constituindo uma categoria autônoma. São os frutos civis
consistentes em prestações pecuniárias periódicas provenientes do uso da coisa principal, como aluguel, juros
etc.

Benfeitorias: são acessórios incorporados ao bem principal pelo homem, visando conservar, melhorar ou
embelezar algo. Nos termos do artigo 96 do CC e parágrafos elas podem ser necessárias (visam conservar a
coisa, evitar que ela se deteriore, ou permitir sua exploração econômica); útil (visam facilitar ou melhorar o uso
do bem – garagem); voluptuária (visam embelezar a coisa sem aumentar sua utilidade – jardim). Referida
classificação não é absoluta tendo em vista que, uma mesma benfeitoria pode enquadrar-se em diferentes
espécies conforme as circunstâncias. Assim, uma piscina em uma escola de natação será uma benfeitoria
necessária; em um colégio será útil; e, em uma residência, será voluptuária. Elas não devem se confundir com
acessões, tendo em vista que são feitas sobre bens já existentes.

Por fim, cumpre afirmar que não constituem bens acessórios a pintura em relação a uma tela; a escultura em
relação a uma matéria prima; e um escrito em relação ao material onde é feito, tendo em vista que, nesses
casos, o trabalho acessório terá maior valor em relação ao principal.

c) Bens considerados em relação ao titular do domínio

- Públicos: nos termos do artigo 98 do CC, são os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas
de direito público interno, como a União, os Estados ou os Municípios. Segundo sua destinação podem ser:

Bem de uso comum: são os bens de domínio público do próprio Estado que podem ser usados por qualquer
um do povo, sem exigência de qualquer formalidade, como, por exemplo, o mar, os rios, as estradas, ruas e
praças. Caso o Poder Público regulamente o uso desses bens, eles não perderão seu caráter de uso comum,
como ocorre, por exemplo, com a cobrança de pedágio nas rodovias. Ainda, seu uso pode ser restrito ou vedado
por questões de ordem pública. Caso não seja vedado o uso, a população poderá livremente ter acesso a eles,
porém seu domínio continuará pertencendo a pessoa jurídica de direito público, que terá poder para guarda,
administração e fiscalização deles.

Bem de uso especial: assim como os primeiros, também são bens de domínio público do Estado, porém
possuem uma destinação especial visando a execução de serviços públicos. Exemplos disso, são os edifícios
e terrenos aplicados em serviço ou estabelecimento federal, estadual ou municipal, utilizados exclusivamente
pelo Poder Público.

- Particulares: são os bens que não são de domínio nacional, como a casa de alguém, por exemplo.

d) Bens considerados quanto a possibilidade de serem ou não negociados

- No comércio: são os bens negociáveis.

- Fora do comércio (extra commercium): são bens insuscetíveis de apropriação (por sua própria natureza) e
legalmente inalienáveis (não passíveis de alienação por disposição legal). São bens naturalmente indisponíveis
(ar, água do mar etc); legalmente indisponíveis (bens de uso comum do povo; bens de uso especial; bens dos
incapazes; valores e direitos da personalidade, como a dignidade, liberdade, honra; e órgãos do corpo humano);
ou indisponíveis pela vontade humana (bens com cláusula de inalienabilidade - o que implicará na
impenhorabilidade e incomunicabilidade dos bens nos termos da Súmula 49 do STF). Assim podem ser:

Insuscetíveis de apropriação: podem ser tanto os bens não econômicos (valores personalíssimos, como vida,
honra etc., e as coisas inúteis ou abundantes, como o ar, água), como as coisas da sociedade, de interesse
coletivo (gás, água, energia);

Inalienáveis: por lei (bem de família) ou por vontade (testamento, doação).

Fonte: https://www.direitonet.com.br/resumos/exibir/156/Bens-e-sua-classificacao acesso em 02_ago_2023

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