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Direito das Coisas/ Teoria Geral do Bens/

Patrimônio/ Classificação dos Bens

Os bens constituem o objeto da relação jurídica.

CONCEITO DE BENS:

Maria Helena Diniz, Francisco Amaral definem bens


como: as coisas que podem ser objeto de relação
jurídica por terem valor econômico.

Caio Mário da Silva Pereira define como: Tudo aquilo


que tem utilidade para a pessoa. Nessa concepção, a
utilidade seria utilidade econômica.

Gustavo Tepedino aprimorou as definições e trouxe


um conceito mais condizente com os novos
paradigmas do direito. Segundo o autor, existem os
BENS DA VIDA, que são tudo aquilo que existe e
pode, de alguma forma, ser útil à pessoa e aí o valor
desse bem da vida não é necesariamente econômico,
pode ser também personalíssimo.

DENTRO DOS BENS DA VIDA (gênero) estão os


bens jurídicos (espécie), que são os bens da vida
tutelados pelo direito em razão de seu valor para a
pessoa. Esse valor pode ser patrimonial ou
extrapatrimonial.

Observe-se que, a honra, que é um direito da


personalidade e, portanto, não tem valor econômico,
é um bem jurídico, e também seu direito de crédito de
receber o valor que fulano te deve e tem valor
econômico é um bem jurídico, pois ambos têm
VALOR para você.

Obs: possibilidade que a lesão à honra seja


indenizada civilmente, ou seja, seja convertida em
valor àquele que se sentiu lesado.

Bens na legislação

No Código Civil, o art 391 estabelece que:

Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações


respondem todos os bens do devedor.

Que BENS são esses?

Nesse caso, esses bens são os do patrimônio do


devedor, que compreende suas COISAS (físicas) e
seus CRÉDITOS (valores que ele eventualmente tiver
de receber de alguém).

Observação:

Se a pessoa tiver mais crédito que débitos, ou seja,


se ela tiver um “saldo positivo”, ela será solvente.

Se a pessoa tiver mais débitos (dívidas) que créditos,


ela será insolvente e, se for pessoa jurídica, falamos
em falência (que é decretada judicialmente).
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS:

Os Bens considerados em si mesmos são os bens


analisados isoladamente, sem relação com outros.

Dentro deste contexto, temos o BEM MATERIAL, que


é aquele que tem existência física, corpórea (ex:
carro, casa, caneta), e o BEM IMATERIAL, que não
tem existência física (ex: ações de uma empresa,
músicas, formas de expressão, ofícios).

Conforme a classificação do Código Civil, os bens


considerados em si mesmos podem ser:

→ Móveis e imóveis – arts. 79 a 84 CC

Móveis: aqueles que podem ser movidos sem


alteração de sua substância ou redução de seu valor
ou utilidade (ex: cadeira, eletrodomésticos,
automóvel, máquinas)

Obs: semoventes: são bens móveis com movimento


próprio: basicamente os animais. Rebanhos, etc.

Imóveis: aqueles que não podem ser movidos sem


alteração ou destruição de sua estrutura. “Bens de
raiz”: aderem ao solo, ex: árvore, casa, o próprio solo,
edificios, construções, terrenos.

Eles podem imóveis por sua própria natureza (solo,


subsolo), por acessão natural (florestas, aluviões,
ilhas >> ou seja, que aderem naturalmente ao solo),
por acessão artificial ou industrial (que é aquilo que o
ser humano faz aderir ao solo, como os prédios,
plantações, as ilhas artificiais e construções em geral)
ou por disposição legal (são aqueles que a lei disse
que serão imóveis, art 80 CC).

Obs: Art. 80. CC Consideram-se imóveis para os


efeitos legais:
I - os direitos reais (ex: usufruto, hipoteca) sobre
imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta (herança).

No CC anterior, que é de 1916, existiam os bens


móveis por disposição voluntária, da seguinte forma:
a pessoa ia ao cartório e declarava que uma coisa (ex:
uma jóia), era bem imóvel e a partir daí, só se vendia
por escritura pública. Essa figura foi extinta.

Observação:

Art 81: o fato de transportar um bem imóvel não o


torna móvel, desde que o transporte preserve sua
integridade. Então as casas premoldadas, por
exemplo, são bens imóveis.

Navios e aeronaves são BENS IMÓVEIS POR


DISPOSIÇÃO LEGAL, ou seja, porque a lei afirma
que são imóveis. Em que momento a lei fixou isso?
Quando afirmou que eles podem ser objeto de
hipoteca, lá no art. 1473, nos incisos VI e VII.

O direito à herança (direito sucessório) também é bem


imóvel por disposição legal, ou seja, porque a lei
assim dispõe, no art. 80, II do CC. Logo, se você
quiser “vender” sua herança, tem que ser por
escritura pública.

→ Fungíveis e infungíveis – art. 85 do CC

Fungíveis: são os que apresentam fungibilidade, ou


seja, que podem ser substituídos por outro igual.
Podem ser substituídos por outros de mesma
espécie, quantidade e qualidade.
Ex: mútuo (empréstimo de cédulas de dinheiro, trocar
por cheques ou notas promissórias), safra/produção
(café por laranja).

Infungíveis: aqueles que não podem ser


substituídos. Bem único, para o qual não se aplica a
fungibilidade porque é impossível substituí-lo por
outro. Ex: comodato de carro - se você empresta seu
carro para seu cunhado, você quer que ele te devolva
O SEU CARRO e não um que valha o mesmo preço.

Observação: essa infungibilidade decorre da própria


natureza do bem (ex: obras de arte, objetos raros) ou
da vontade das partes.

→ Consumíveis e inconsumíveis

Consuntibilidade: circunstância de a utilização do


bem levar a sua destruição. Isso ocorre quando a
utilidade é obtida a partir da destruição imediata do
bem – Art. 86. Ex: fósforo.
Os consumíveis apresentam consuntibilidade, os
inconsumíveis não.

Observação: mesmo o bem inconsumível, quando


posto à venda, é tido como “consumível”, pois vai para
o “mercado de consumo” e aí, a única forma de obtê-
lo é comprando, ou seja, retirando do mercado,
destruindo a possibilidade de outra venda. Ex:
geladeira, na sua casa é inconsumível, nas Casas
Bahia é consumível.

→ Divisíveis e indivisíveis

Divisibilidade: fracionamento do bem em partes


menos SEM REDUÇÃO DE SEU VALOR, substância
ou utilidade.
Aqui é importante ter em mente a divisibilidade
jurídica. A chave é: vai conservar a substância, o valor
e a utilidade?
Então, os bens divisíveis, se fracionados, NÃO
perdem valor, substância ou utilidade e os indivisíveis
perdem.
OU SEJA, são divisíveis os bens que puderem ser
fracionados em partes homogêneas e distintas sem
perder a identidade ao ser fracionado pq serão
mantidas as principais características que o bem
inteiro tinha.
Por exemplo, uma fatia de pizza, apesar de menor,
mantém a mesma qualidade da pizza inteira, então
pizza é bem divisível.

Ex. de bens indivisíveis: animal, anel, etc


Outros exemplos:

Safra de café: é divisível porque se eu combinar de te


pagar em sacas de café, posso pagar uma saca hoje
e outra daqui a um mês. Carro NÃO, se eu combinar
de te pagar com um carro, não posso te pagar em
partes dele!

Importância da indivisibilidade é saber se a


prestação é indivisível ou não.

→ Singulares e Coletivos

Os singulares são em sua individualidade, são


representados por uma unidade autônoma.

Os bens coletivos são os compostos de vários bens


singulares que, juntos, formam um todo homogêneo.

Ex. de bem coletivo: biblioteca, edifício


Ex. de ben singular: livro, apartamento

Os bens reciprocamente considerados podem ser:

→ Principais

Não dependem de outro bem para ser utilizado e


tampouco para existir. Art 93. Ex: casa, carro

→ Acessórios
Existem em razão de um bem principal. Art 96. Ex:
móvel embutido na parede, textura da parede. Se a
casa for destruída, o móvel e a textura da parede
também serão.

Regra: “o acessório segue o principal”, mas o


principal não segue o acessório. Isso se aplica não só
para essa disciplina, mas para diversas situações no
Direito (ex: valor fixado em ação indenizatória –
principal) / multa em caso de atraso no pagamento –
acessória).

Tipos de bens acessórios:

FRUTOS: utilidades geradas por uma coisa principal.

Frutos materiais: safra de produção agrícola


Frutos civis: dinheiro de um aluguel, rendimento da
poupança.

PRODUTOS: utilidades que, quando retiradas,


diminuem o valor do bem principal.

Ex: pedras preciosas - Você pode vender as pedras,


mas com a extração, a mina vai perdendo o valor,
uma vez que as pedras são o produto da mina.

BENFEITORIAS – art. 96: destinadas a melhor


utilização do bem principal. Essa melhor utilização
pode ser de 3 tipos: necessárias (está no § 3º:
recuperação/conservação, se não fizer, o bem pode
perecer); úteis (está no § 2º: melhoramento, ex: trocar
janelas para melhorar a luminosidade e economizar
energia) ou voluptuárias (§1º:
aformoseamento/embelezamento ex: lustre
decorativo de ouro). Dependendo do tipo de
benfeitoria, haverá uma repercussão jurídica
diferente. Obs: cláusula contrato de locação – prevê
que as benfeitorias realizadas pelo inquilino não
serão indenizadas pelo locador ao final da locação.

E, finalmente, quanto ao ao titular, os bens podem


ser

→ Particulares: art. 41 do CC

São aqueles bens que não pertencem a nenhum


órgão ou entidade de domínio público (pessoas
jurídicas de direito público interno). Ou seja, aqueles
bens que não pertencem à União, Estados,
Municípios, DF, às autarquias, às fundações públicas
de direito público, etc.

→ Públicos: art. 98 do CC

São públicos os bens do domínio nacional


pertencentes às pessoas jurídicas de direito público
interno. Todos os outros são particulares, seja qual for
a pessoa a que pertencerem. Ex: ruas, estradas,
praças, praias.

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