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UNISUAM

PROFESSORA LIDIA CALDEIRA


Relações jurídicas do direito civil II

6ª aula

BENS

1 - Conceito:
Bem é tudo quanto corresponde à solicitação de nossos desejos.
Porém, sob o enfoque jurídico: são seres susceptíveis de valoração jurídica. São aqueles
que podem servir de objeto ás relações jurídicas.
São as utilidades materiais e imateriais que podem ser objetos de direitos subjetivos.

“Coisa é tudo o que existe , objetivamente, com exclusão do homem. Bens são as coisas
que, por serem úteis e raras , são susceptíveis de apropriação e contém valor econômico.”
Sílvio Rodrigues.

Os bens podem ser materiais , bens tangíveis, ou imateriais como as manifestações da


personalidade e atividades de natureza intelectual ou técnica – propriedade intelectual.

2 – Bem e coisa
A distinção não é pacífica. Para alguns, coisa é uma categoria mais ampla que contém os
bens, outros dizem exatamente o oposto.
Melhor considerarmos que coisa é gênero e bem é espécie.
Ou seja: coisa = tudo que não é humano.
Bem = coisas com interesse econômico e/ou jurídico.

3 – Classificação de bens:

DOS BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS

Bens corpóreos e incorpóreos – embora não contemplada a terminologia, no Código, é de


grande importância prática.
Corpóreos são os bens que têm existência material, perceptível pelos sentidos humanos,
como uma casa, um livro, um relógio.
Incorpóreos têm existência imaterial, são abstratos, a visualização é ideal. Ex (Caio Mario):
quotas de capital ou ações que possua o indivíduo numa sociedade empresarial.

Importância da diferenciação: os bens incorpóreos não contam com a tutela possessória.


Súmula 228 STJ: “É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.”
Sua proteção se dá por meio da ação indenizatória, multa, etc.
Não admitindo apreensão material (posse) , não são susceptíveis de aquisição pela
usucapião, nem tradição, posto que não admitem apreensão material.
Bens móveis e imóveis

Art. 79 CC “Bens imóveis, ou bens de raiz, são aqueles que não se podem transportar, sem
destruição, de um lugar para outro, ou seja, são os que não podem ser removidos sem
alteração de sua substância.” Mª Helena Diniz
Este conceito não engloba os imóveis por disposição legal (previsão legislativa) que
surgirão a partir de verdadeira criação jurídica, para que possam receber melhor proteção.
Ver art. 80 CC.
O artigo 81 trata de duas situações específicas:
a. Edificações que separadas do solo , mas conservando a sua unidade, forem
removidas para outro local.
Ex. Casas pré-moldadas diante das modernas técnicas de engenharia.
b. Os materiais provisoriamente separados do prédio para nele se reempregarem.

Art. 82 CC. Definição de bens móveis.


Segundo a Profª Maria Helena Diniz, há 3 modalidades de bens móveis:
1. móveis por natureza: “são as coisas corpóreas susceptíveis de movimento próprio,
ou de remoção por força alheia sem alteração da substância ou da destinação econômico
-social deles.” Os que se movem por força própria são chamados semoventes. Os materiais
destinados à alguma construção são móveis enquanto não lhes agregar ao prédio. Art.84. E
retomam esta natureza ao serem separados dos imóveis, destinados à venda em
demolição.

2. Móveis por antecipação: são bens originalmente imóveis, que separados do solo em
virtude de destinação econômica, passam a categoria de móveis. Ex. árvores abatidas para
serem convertidas em lenha, frutos para a alienação, pedras extraídas de uma pedreira, etc.

3. Móveis por determinação da lei: art. 83, I, II, III CC).: Os direitos de autor são
considerados bens móveis.

Bens fungíveis e infungíveis art. 85

A distinção diz respeito à possibilidade de sua substituição.


Fungíveis são os bens susceptíveis de substituição por outro de mesma espécie, qualidade
e quantidade, determinados por número, peso ou medidas. Ex. dinheiro. A fungibilidade é
própria dos móveis, sendo resultado de comparação entre coisas equivalentes.

São infungíveis os bens insusceptíveis de substituição por outro de igual qualidade,


quantidade e espécie, como num quadro de Portinari.
Possuem valor especial, inadmitindo substituição que não modifique seu conteúdo.
A fungibilidade ou não de um bem resulta de sua individuação.
A vontade humana pode ser critério determinante na classificação dos bens, tornando
coisas fungíveis em infungíveis. Ex. um livro autografado pelo autor.

Bens consumíveis e não consumíveis art. 86


São bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância.
Consumibilidade natural ou de fato.
Os inconsumíveis, por seu turno, admitem uso constante, possibilitando que se retirem
todas as suas utilidades sem atingir sua integridade. Ex. a minha cadeira.

A alienação de um bem é forma de consumibilidade. O bem que pode ser alienado torna-se,
por este fato, consumível.
A consumibilidade jurídica decorre da destinação jurídica e econômica do bem.
Embora os bens fungíveis sejam , normalmente, consumíveis, os conceitos de fungibilidade
e consumibilidade não se confundem. A fungibilidade leva em conta a relação entre bens, a
consumibilidade diz respeito à sua destinação.

Bens divisíveis e indivisíveis art.87/88

A divisibilidade é própria de todos os corpos, até atingir o átomo.


Juridicamente, no entanto, decorre de um critério utilitarista, ou seja, a manutenção do seu
valor econômico proporcionalmente às coisas divididas.
Segundo Mª Helena Diniz, são divisíveis os bens passíveis de fracionamento “em partes
homogêneas e distintas, sem alteração das qualidades essenciais do todo, sem
desvalorização, e sem prejuízo do uso a que se destinam, formando um todo perfeito.”
A desvalorização econômica obsta a divisibilidade da coisa.
São indivisíveis as coisas que não se pode fracionar sem alterar a substância ou
diminuir-lhe , consideravelmente, o valor, como um livro.
As partes podem pactuar a indivisibilidade, como quando combinam o pagamento numa
única parcela.
Exemplos do artigo 88 CC: indivisíveis por força da lei. Ex. módulo rural. Servidão.
A importância do conceito se traduz na possibilidade do cumprimento parcial de uma
obrigação divisível.

Bens singulares e coletivos arts. 89 a 91.

São singulares as coisas que, embora reunidas, devem ser consideradas individualmente,
independente das demais que a compõem.

Bens coletivos ou universais são aqueles agregados a um conjunto , constituído por várias
coisas singulares, passando a formar um todo único, possuidor de individualidade própria,
distinta de seus componentes (art.90).
Ex. árvore (singular), floresta (coletivo).

Os bens coletivos se dividem em:


· universalidade de fato – referindo-se ao conjunto de bens singulares, corpóreos e
homogêneos, ligados pela vontade humana para a consecução de um fim, como uma
biblioteca ou galeria de quadros. Não há que se confundir com bens singulares compostos,
pois mantém sua autonomia.
· Universalidade de direito – relativamente aos bens singulares corpóreos ou
incorpóreos, aos quais a norma jurídica dá unidade. Ex. patrimônio, a herança, a massa
falida.
DOS BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS

Bem principal é aquele que tem existência própria, concreta ou abstrata (art.92 CC).Existe
por si, exercendo sua função e finalidade, independendo de outro, como o solo e o crédito.
Já o bem acessório não tem existência própria, dependendo de um outro bem que é o
principal. A árvore depende do solo, os juros estão subordinados ao crédito.
Nos imóveis, o solo é o bem principal, sendo acessórios tudo o que lhes se incorporar.
Nos móveis, principal é aquela para a qual as outras se destinam, para fins de uso,
complemento ou enfeite.
Ex: numa joia, a pedra é acessório do colar.

Aplica-se aqui como regra geral o princípio da gravitação jurídica: “o acessório segue a
sorte do principal.”
Exceções:
1. Acessão invertida. Ver art. 1255 CC, § único. O caput segue a gravitação jurídica, o
parágrafo único inverte a posição.
2. Superfície. Direito real. Art. 1375 CC. As construções integrarão o solo no momento
da devolução, se o contrário não se estipulou. Durante o contrato, há um dono para o solo,
e outro para as construções e plantações.
3. Pertenças. Discussão doutrinária.

Novidade no CC: conceito de pertenças art. 93 – não se confundem com acessórios. São
bens que não constituem parte integrante , destinam-se de modo duradouro ao uso, serviço
ou aformoseamento do bem principal. Ex. ar condicionado, máquinas numa fábrica. Estão a
serviço da finalidade econômica de outro bem.
Por não serem acessórias ou partes integrantes, as pertenças não incluem-se nos negócios
jurídicos relativos ao bem principal, exceto se houver declaração de vontade neste sentido.

Importância da distinção entre bens principais e acessórios:


1. A natureza do acessório será a mesma da do principal.
2. A coisa acessória pertence ao titular da coisa principal.
Vale dizer: no silêncio das partes, ou da lei, a natureza do principal predominará sobre a do
acessório. Art. 94, 233, 287, 364, 1209 e 1255 CC).

Espécies de bens acessórios:


1. Frutos. São as utilidades que a coisa produz periodicamente, sem desfalque da sua
substância.
Os frutos podem ser:
· Naturais: produzidos pela coisa sem o esforço do homem, que pode, inclusive,
utilizar-se de processos técnicos para melhorar sua qualidade e quantidade. Ex. cria de
animais.
· Industriais: utilidades da coisa com a contribuição do trabalho humano. Ex. pneus.
· Civis: são os rendimentos e benefícios retirados da coisa. Ex. aluguéis, juros,
dividendos.
Quanto à vinculação com a coisa principal:
Os frutos podem ser:
● Pendentes – não separados da coisa principal.
● Percebidos ou colhidos – já separados da coisa principal.
● Percipiendos – deveriam ter sido colhidos, mas não foram.

Quanto ao estado:
Os frutos podem ser:
· Estantes – armazenados, guardados.
· Consumíveis – não mais existem porque foram consumidos.

2. Produtos: são utilidades que se podem retirar da coisa, alterando sua substância,
com a diminuição da quantidade, até o esgotamento, porque não se reproduzem
periodicamente. Ex. pedras de uma pedreira.
3. Pertenças – art. 93 CC. Há dúvida na doutrina em se definir as pertenças como bem
acessório.
Requisitos para que se possa considerar um bem como pertença:
· Não ser parte integrante do bem principal.
· A pertença deve servir de forma duradoura ou permanente a outro bem.
· A pertença deve servir ao bem , e não ao seu titular.
· O art. 94 estabelece que os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal
não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de
vontade, ou das circunstâncias do caso.

Benfeitorias – voluptuárias, úteis e necessárias. Ver art. 96.

Bens públicos ou privados art. 98/103

Conceito art.98

Bens públicos são aqueles , materiais ou imateriais, cujo titular é uma pessoa jurídica de
direito público, ou uma pessoa jurídica de direito privado, prestadora de serviço público
quando o referido bem estiver destinado ao serviço público.

Tipos de bens públicos:


· Os de uso comum do povo. Ex. rios, mares, estradas, praças. Admite utilização
indiscriminada por qualquer pessoa.
· Bens de uso especial – bens utilizados pelo próprio poder público para instalações
do serviço público.
· Bens dominiais ou dominicais – englobam os bens que integram o patrimônio
disponível estatal, compondo as relações apreciáveis economicamente, dos entes
federativos. Podem ser alienados, segundo as exigências legais. Ex. títulos de dívidas, dos
créditos, das ações, dos terrenos de marinha, faixas de fronteira, etc.

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