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Direito Civil - Obrigações

Aula 17/06 - O Direito das Obrigações


➢ O direito das obrigações trata das normas reguladoras de relações
patrimoniais entre um credor (sujeito ativo) e um devedor (sujeito
passivo), que deve cumprir a obrigação de dar, de fazer ou não fazer.

➢ As obrigações vinculam sempre um sujeito ativo (credor) e um sujeito passivo


(devedor) a uma prestação/objeto, que será uma obrigação de dar, fazer ou
não fazer.

➢ O devedor não tem relação com prestações pecuniárias, mas com quem
deverá prestar um serviço ou entregar um objeto. Devedor dá o objeto ou
presta o serviço e o credor recebe o objeto/serviço.

➢ As obrigações sempre contarão com um credor, um devedor e uma obrigação


de dar/fazer ou não fazer. O credor é o sujeito ativo e o devedor é o sujeito
passivo. Em uma relação de compra e venda de um livro, por exemplo, a
pessoa que entrega o livro é o devedor, e, portanto, o sujeito passivo, a
pessoa que recebe o livro é o credor, e, portanto, o sujeito ativo. Aqui, não
deve-se confundir a ideia de devedor com a pessoa que deve pagar uma
prestação pecuniária, mas a pessoa que deve realizar a prestação de dar/
fazer ou não fazer.

Distinção entre direitos obrigacionais e reais


➢ Direitos obrigacionais:

○ Tratam das relações interpessoais, entre os credores e os devedores.

○ Em um contrato de compra e venda, por exemplo, os direitos


obrigacionais referem-se aos momentos anteriores à entrega do bem,
são as negociações.

○ Durante as negociações, existe uma obrigação passiva unilateral por


parte do devedor. Ou seja, se houver algum problema, o credor pode
reportar somente ao devedor

○ A eficácia é interpessoal, ou seja, as obrigações referem-se apenas ao


credor e ao devedor, o convencionado só produz efeitos entre as
partes, não vinculando outras partes.
○ Os direitos obrigacionais são ilimitados, não sendo taxativos ao
expresso em lei. As partes podem convencionar direitos obrigacionais
entre si.

➢ Direitos reais:

○ Tratam da relação entre pessoa e coisa.

○ É o caso, por exemplo, da compra de um apartamento, em que os


direitos reais passam a atuar a partir do momento de registro do
imóvel no cartório.

○ Após a entrega do bem móvel ou o registro do bem imóvel, há um


dever passivo universal, ou seja, há um dever geral de abstenção. Por
exemplo, após o registro de um apartamento, qualquer problema
gerado a esse imóvel por um terceiro poderá ser exigido o reparo por
parte do possuidor.

○ A eficácia é erga-omnes, ou seja, é oponível a todos, pois todos


devem respeitar a propriedade.

○ Os direitos reais são taxativos e estão previstos em lei (art. 1.225), não
sendo possível que as partes os criem.

○ Um dos requisitos dos direitos reais, especialmente dos bens imóveis,


é a publicidade, adquirida com o registro.

○ Direito real de garantia:

■ Existem três tipos de garantia: o penhor, a hipoteca e a


anticrese. O penhor é uma forma de garantia sobre bens
móveis e a hipoteca é uma forma de garantia sobre bens
imóveis.

■ Requisitos dos direitos reais de garantia

● Aderência: os direitos reais de garantia aderem a coisa,


acompanhando-a. Exemplo: se para fazer a compra de
um carro eu dou como hipoteca um terreno e,
posteriormente decido vender esse terreno, o terreno
continuará ligado a hipoteca e a pessoa que o comprar
estará ligada a ele também, não podendo alegar boa-fé e
desconhecimento pois o direito real é público.

● Sequela: a garantia oferecida a um bem pode ser


perseguida pela pessoa que a exigiu. Exemplo: se em
um contrato de compra e venda, exigiu-se uma terreno
como garantia real, e o terreno foi vendido para um
terceiro, como a garantia adere, segue o bem, a pessoa
que exigiu a garantia pode continuar a exigi-la como
pagamento, independentemente de com quem ela esteja.

● Direito de preferência: quando um devedor se torna


insolvente e se faz a lista dos pagamentos, os credores
que tiverem uma hipoteca atrelada à dívida terão
preferência sobre aqueles que tiverem apenas garantias
pessoais, sem hipoteca.

Aula 18/06 - O Direito das Obrigações

Transição Histórica
➢ Passagem da responsabilidade pessoal para a responsabilidade patrimonial:

○ Inicialmente, o direito penal e o direito civil eram tratados como uma


única coisa, de forma que, se alguém inadimplisse uma obrigação,
deveria pagar com a restrição da liberdade, se tornando escravo do
credor ou com punições físicas, como é o caso da Lei de Talião.

○ Com a Revolução Francesa, apenas, é que se passou a separar as


responsabilidades pessoais das patrimoniais.

○ No Brasil, a CF/88 previu duas hipóteses em que o inadimplemento de


uma dívida pode levar à restrição da liberdade: no caso de
inadimplemento de fiança alimentícia e no caso do depositário infiel.
No entanto, a restrição da liberdade do depositário infiel não é mais
aceita, pois foi revogada pelo Pacto de San José da Costa Rica,
assinado pela Brasil em 2008.

○ As medidas atípicas previstas no Código 139, IV do CPC causam uma


divergência atualmente, onde questiona-se se elas representariam
uma regressão, por se enquadrarem como restrições às liberdades
individuais.

○ Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste


Código, incumbindo-lhe:

○ IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais


ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de
ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação
pecuniária;
○ Tais medidas mencionadas pelo artigo incluem: proibição de realizar
viagens internacionais, de frequentar determinados lugares,
suspensão da CNH, bloqueio de cartão de crédito, entre outras.

➢ Vinculação de todo o patrimônio para a proteção do patrimônio mínimo:

○ De acordo com o art. 391 do CC: "pelo inadimplemento das obrigações


respondem todos os bens do devedor"

○ Porém, atualmente, com a vigência da lei da impenhorabilidade do


bem de família, privilegia-se o patrimônio mínimo. Desse modo,
valoriza-se o bem estar do indivíduo, para garantir sua subsistência.

○ Bem de família: subdivide-se em:

■ Bem de família instituído: estão previstos no Código Civil, nos


artigos 1.711 a 1.722. O bem de família instituído não pode
ultrapassar ⅓ do patrimônio líquido da família, que poderá
escolher qual imóvel desejará constituir como bem de família,
desde que o institua no cartório.

■ Bem de família legal: previsto na lei 8.009/90. O bem de família


é entendido como o imóvel em que a família reside, sendo
impenhorável. Caso a família haja mais do que um imóvel,
considerar-se-á o imóvel de menor valor (caso não tenham
instituído outro no cartório)

● Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da


entidade familiar, é impenhorável e não responderá por
qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus
proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses
previstas nesta lei.

● Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata


esta lei, considera-se residência um único imóvel
utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para
moradia permanente.

● Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade


familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como
residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de
menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para
esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do
Código Civil.
● Exceção de impenhorabilidade: devedor de alimentos. O
devedor de alimentos não possui o direito de se opor à
penhora do bem de família.

Fonte das obrigações


➢ Fonte é o fato que dá origem a uma obrigação, ou seja, a realidade jurídica
que fez brotar a obrigação.

➢ Fernando de Noronha divide as obrigações a partir de suas funções, que são:

○ Obrigações negociais: é um ato de autonomia privada, que, quando


violado, gera responsabilidade negocial e contratual;

○ Responsabilidade civil: não esta expressamente previsto no código,


sendo um dever genérico de não lesar. Quando esse dever é
descumprido por um ato ilícito (art. 186 e 187) surge o dever de
indenizar

○ Enriquecimento sem causa: é o acréscimo patrimonial indevido, que


gera a obrigação de restituir. (art. 884)

Elementos da relação obrigacional


➢ Sujeitos: em uma relação obrigacional, há sempre a presença do sujeito ativo
(credor) e do sujeito passivo (devedor). Os sujeitos devem ser capazes e
legitimados.

➢ Objeto: deve-se haver uma prestação ser cumprida, que pode ser de dar, de
fazer ou de não fazer

➢ Vínculo: é o elemento abstrato, imaterial, que vincula as partes às


obrigações.

Conceito de obrigação
➢ A obrigação é a cooperação entre o credor e o devedor, que buscam o
adimplemento da obrigação da forma mais proveitosa ao credor e menos
onerosa ao devedor.

➢ Os deveres da obrigação vão além do adimplemento, incluindo deveres


anexos como o dever de probidade, informação, proteção, lealdade, etc.
mantendo as expectativas e a confiança entre as partes.
Aula 24/06 - Obrigação propter rem e
Modalidades das obrigações
Obrigação propter rem:
➢ A obrigação propter rem é considerada uma obrigação mista, pois vincula
uma pessoa à uma obrigação de dar, fazer ou não fazer (direito obrigacional),
por ser esta titular de um direito real

➢ Exemplo: a obrigação de não fazer barulho após às 9h em condomínio,


vincula o morador a uma obrigação, por este ser titular do apartamento.

➢ Outro exemplo é o pagamento das despesas condominiais ou a recuperação


ambiental de área preservada.

➢ Dívidas de água, esgoto, etc. não são consideradas obrigações propter rem,
são obrigações pessoais do usuário do serviço

➢ A principal distinção entre a obrigação pessoal e propter rem esta na


responsabilidade de quem tem que efetuar o pagamento. Na obrigação
comum, a dívida é pessoal e não se transmite com a venda (ex. água, luz,
energia). Na obrigação propter rem, a dívida é da coisa e se transmite com a
venda (divida de condominio)

Obrigação com eficácia real:


➢ As obrigações com eficácia real são obrigações pessoais que obtêm eficácia
perante terceiros, obtendo a característica de direito real.

➢ Exemplo: quando se realiza a compra de um imóvel com valor acima de 30


salários mínimos, é comum que o comprador não possua todos os requisitos
necessários para realizar a escritura pública em seguida. Dessa forma, a
saída é pactuar um contrato de promessa de compra e venda, esse contrato
é um direito obrigacional, ou seja, que vincula apenas as partes pactuantes.
Assim, caso o vendedor de má-fé deseje vender esse imóvel para um terceiro
de boa-fé, que pode realizar a escritura pública, o imóvel pode ser registrado
no cartório e a única solução que o primeiro comprador pode pleitear é a
indenização por perdas e danos, já que o contrato de promessa de compra e
venda não era público e não vinculava terceiros. A fim de evitar tal problema,
é possível que esse primeiro comprador registre o contrato de promessa de
compra e venda no cartório, atrelando-o à matrícula do imóvel e tornando-o
público, como forma de vincular terceiros. Por conta dessa vinculação erga
omnes, o contrato que era inicialmente obrigacional e pessoal passa a ter
eficácia real.

Obrigação civil:
➢ A obrigação civil é aquela que esta de acordo com os requisitos legais de
validade (agente capaz, objeto lícito, possível e determinado/determinável,
forma prevista ou não proibida em lei e vínculo)

➢ São as obrigações que possuem respaldo legal

➢ A obrigação civil é exigível judicialmente caso descumprida

Obrigação natural:
➢ As obrigações naturais não possuem respaldo legal, e, por conta disso, não
podem ser exigidas judicialmente.

➢ As duas principais características das obrigações legais são:

○ Inexigibilidade: não é possível exigir judicialmente que essa obrigação


seja cumprida

○ Irrepetibilidade: caso alguém pague uma obrigação natural, essa


pessoa não poderá exigir o pagamento de volta

○ Reversibilidade: há divisão doutrinária em relação à possibilidade ou


não de uma obrigação natural se tornar uma obrigação civil
novamente. As situações em que essa reversibilidade poderia
acontecer são: i) alteração legislativa (ex. lei que torne o jogo do bicho
legal) ii) renúncia do prazo prescricional (ex. após o fim do prazo
prescricional quem deveria pagar a dívida o renúncia e a paga)

➢ Exemplo de obrigação natural: prescrição de uma dívida. Quando a dívida


prescreve ela se torna uma obrigação natural, não sendo mais exigível
judicialmente. No entanto, se o devedor pagar essa prestação, ele não
poderá exigir que quem recebeu o devolva.
Aula 24/06 - Modalidade das
obrigações
Classificação das obrigações
➢ A fim de facilitar a compreensão, a doutrina divide as obrigações,
classificando-as conforme:

○ Em função do seu objeto: as obrigações de fazer, dar ou não fazer são


consideradas obrigações simples

○ Quanto aos seus elementos: além das obrigações simples, há também


as obrigações complexas, que são dívidas conforme a multiplicidade
de objetos ( cumulativas e alternativas) e pela multiplicidade de
sujeitos (divisíveis, indivisíveis e solidárias)

○ Quanto sua exigibilidade: obrigações civis e naturais

○ Quanto aos elementos acidentais: obrigações condicionadas, com


termo ou encargos

○ Quanto ao momento de seu cumprimento: obrigações de execução


instantânea, diferida e periódica ou de trato sucessivo

○ Quanto ao fim: obrigações de meio, de resultado ou de garantia

○ Quanto à liquidez: obrigações líquidas (já há um quantum apurado) e


ilíquidas.

Em função do objeto:
➢ As obrigações em função do objeto dividem-se em: obrigação de dar,
obrigação de fazer e obrigação de não fazer

I. Obrigação de dar:

➢ A obrigação de dar remete tanto à entrega (art. 233 a 237) quanto à


restituição de algo (art. 238 a 242).

➢ A obrigação de dar coisa subdivide-se em: obrigação de dar coisa certa e


obrigação de dar coisa incerta.

a. Obrigação de dar coisa certa


○ A obrigação de dar coisa certa faz com que o objeto da entrega deva
estar bem detalhado, especificando características que o
individualizam.

○ O devedor deve entregar exatamente o que foi pactuado, não podendo


entregar outro bem, mesmo que este seja de valor superior. (art. 313).

○ A obrigação de dar coisa certa abrange tanto o bem principal quanto


os bens acessórios

■ Bens acessórios:

● Frutos: utilidades produzidas periodicamente pela coisa.


Podem ser: naturais, industrializados e civis

● Produtos: utilidades que se extraem da coisa, diminuindo


sua qualidade

● Benfeitorias: obras feitas na estrutura da coisa

● Pertença: coisas destinadas a facilitar ou melhorar o uso


da coisa

● Partes integrantes: partes que se unem ao bem principal,


formando um todo. (ex. lâmpada em relação ao lustre)

○ Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não
abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da
manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.

○ Dessa forma, ao se vender uma casa, seus objetos decorativos não


estão inclusos, por exemplo.

○ Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus


melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no
preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação.

○ Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao


credor os pendentes.

■ De acordo com esse artigo, no caso de uma obrigação não


instantânea, ou seja, uma obrigação em que a entrega da coisa
não se dará de imediato, caso seja feita alguma melhoria no
bem, enquanto ainda na posse do devedor, este poderá exigir o
aumento do preço.

■ Fruto percebido: frutos já colhidos

■ Fruto pendente: frutos que ainda não devem ser colhidos


Inadimplemento da obrigação de dar coisa certa
➢ É obrigação do devedor zelar pela coisa até o momento da entrega. No
entanto, caso haja perecimento ou deterioração do bem entre o momento do
negócio e o da entrega, deve-se analisar a culpa do devedor para avaliar as
consequências do inadimplemento

I. Perecimento:

➢ O perecimento é a perda da coisa caracterizada pelo desaparecimento, pela


perda de suas características essenciais ou de seu valor econômico.

➢ Se ocorrer o perecimento da coisa sem culpa do devedor, a obrigação é


resolvida para ambas as partes. Exemplo: em um contrato de compra e
venda em combinou-se a entrega de uma bicicleta em 3 dias, mas nesse
meio tempo a bicicleta foi roubada, o devedor não será responsabilizado,
devendo apenas devolver o valor.

➢ Se ocorrer o perecimento com culpa do devedor, este deverá responder por


perdas e danos.

II. Deterioração:

➢ A deterioração ocorre quando há uma perda parcial da coisa.

➢ Quando a deterioração ocorre sem culpa do devedor, o credor poderá


escolher pela: i) resolução do contrato ou ii) manutenção do contrato com o
abatimento do preço

➢ Quando a deterioração ocorrer por culpa do devedor, o credor poderá


escolher entre i) resolver a obrigação exigindo o equivalente mais perdas e
danos (se for o caso), ii) aceitar a coisa com abatimento do preço e perdas e
danos.

Aula 01/07 - Obrigação de restituir


➢ A obrigação de restituir assemelha-se à obrigação de entregar, uma vez que
tem como objeto algo certo. Porém, na restituição, o devedor deve entregar
coisa alheia, que não lhe pertence.
➢ Exemplos de obrigação de restituir: contrato de locação, em que o locatário
deve restituir o imóvel, contrato de comodato, entre outros.

○ Observação: no caso dos contratos de locação de imóvel urbano, não


se aplicam as disposições do código civil, pois há lei específica para
esses casos.

Inadimplemento da obrigação de restituir:


I. Perecimento:

➢ Sem culpa:

○ Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa
do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a
obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da
perda.

○ Caso haja inadimplemento da obrigação de restituir sem culpa do


devedor, o negócio é resolvido. No entanto, o credor possui direito até
o momento do perecimento.

○ Por exemplo, no caso de aluguel de 5 dias de uma prancha, caso o


devedor perca a prancha depois de 2 dias de uso, o credor possui o
direito de cobrar pelos dois dias de uso.

○ Observação: caso esteja estipulado no contrato que em caso de


perecimento, o devedor deve restituir a coisa, o código civil não se
aplicará.

➢ Com culpa:

○ Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este


pelo equivalente, mais perdas e danos.

○ Caso haja culpa, o devedor deverá restituir coisa equivalente a que


pereceu mais perdas e danos.

II. Deterioração

➢ Sem culpa:

○ Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor,


recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se
por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239 .

○ Caso o objeto se deteriore sem culpa do devedor, este deverá restituir


a coisa ao credor na forma em que se encontrar.
➢ Com culpa:

○ Art. 241. Se, no caso do art. 238 , sobrevier melhoramento ou


acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o
credor, desobrigado de indenização.

○ Caso a coisa se deteriore com culpa do devedor, este deverá restituir


coisa equivalente ao credor e pagar pelas perdas e danos.

III. Melhoramentos e acrescidos:

➢ Sem trabalho do devedor:

○ Art. 241. Se, no caso do art. 238 , sobrevier melhoramento ou


acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor, lucrará o
credor, desobrigado de indenização.

■ Caso haja melhoramento ou acréscimo à coisa, sem trabalho do


devedor, este apenas deverá devolver a coisa, sendo o credor
quem se beneficiará

■ Exemplo: no caso de locação de um terreno, caso haja um


aumento por aluvião, o devedor apenas deverá devolver o
terreno, sendo o credor que se beneficiará por esse acréscimo.

➢ Com trabalho do devedor:

○ Caso o melhoramento seja decorrente do trabalho do devedor, segue


a regra das benfeitorias (art. 1.219)

○ Possuidor de boa-fé é aquele que possui a coisa com a autorização do


proprietário. O possuidor de má-fé é aquele que o faz sem
autorização, por exemplo, invadindo a casa de alguém.

○ Possuidor de boa-fé

Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor


trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código
atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de
má-fé.

Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do


mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé
ou de má-fé.

Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das


benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se
não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da
coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das
benfeitorias necessárias e úteis.

○ Exemplo: em um contrato de locação, caso o telhado de uma casa se


desfaça devido a uma tempestade e o devedor reforme o telhado
(benfeitoria necessária), ele poderá ser ressarcido por isso. Caso não
seja indenizado, o devedor poderá permanecer no imóvel até ser
indenizado. Caso o devedor construa uma piscina na casa (benfeitoria
voluptuária) ele poderá ou levantar essa benfeitoria (retirar a piscina e
cobrir o buraco) caso não seja restituído o valor.

○ Possuidor de má-fé:

Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as


benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela
importância destas, nem o de levantar as voluptuárias

○ O possuidor de má-fé só pode ser indenizado pelas benfeitorias


necessárias. Porém, ele não pode permanecer no local caso não
sejam pagas.

IV. Benfeitorias em imóveis alugados

➢ No caso da locação de imóveis urbanos, não se aplica o art. 1.219, mas a lei
de locação

➢ De acordo com a lei, as benfeitorias necessárias podem ser indenizadas pelo


locatário, e, o locador possui o direito de retê-las

➢ Já as benfeitorias úteis precisam do consentimento do locador para que


possam ser indenizadas/retidas.

➢ É possível que nos contratos de locação haja cláusulas que impeçam a


retenção/indenização por benfeitorias.

➢ Súmula 335 STJ

Aula 01/07 - Obrigação de dar coisa incerta


➢ Para que se estabeleça uma obrigação de dar coisa incerta, se faz
necessário que ao menos dois critérios estejam especificados: o gênero e a
quantidade.
➢ Exemplo: obrigação de dar 50 sacas de feijão. Não se especifica que tipo de
feijão, como por exemplo se faria na obrigação de dar coisa certa,
mencionando apenas a quantidade e o gênero

➢ No entanto, apesar de a obrigação ser de dar coisa incerta, essa incerteza só


pode se verificar no momento da avença do negócio, devendo então, haver
um ponto de mutação em que a coisa se tornará certa.

➢ Ponto de mutação:

○ No ponto de mutação ocorre a transformação da obrigação, antes de


dar coisa incerta, para uma obrigação de dar coisa certa. Essa
transformação ocorre com a escolha e com a cientificação do credor.
Nesse momento a obrigação se converte

Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a


escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da
obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a
prestar a melhor.

Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na


Seção antecedente.

○ De acordo com o artigo 244, a escolha cabe ao devedor, exceto que


tenha sido pactuado o contrário. O devedor não pode entregar coisa
pior e nem esta obrigado a entregar coisa melhor.

Inadimplemento da obrigação de dar coisa incerta:


➢ Inadimplemento antes da escolha:

○ Caso haja perecimento ou deterioração antes do ponto de mutação, o


devedor deve cumprir com a obrigação, independente do motivo que
causou o perecimento (mesmo se for caso fortuito ou força maior).
Isso ocorre pois, de acordo com Gonçalves: "gênero não perece".

○ Dívida genérica restrita: caso haja um obrigação incerta, mas esteja


especificado o local de entrega da coisa e, por algum motivo a coisa
tenha perecido, a obrigação se extingue. Exemplo: obrigação de
entregar 10 cabeças de gado na Fazenda X, mas por motivos de força
maior todo o gado se perdeu, a obrigação se extingue.

➢ Inadimplemento depois da escolha:

○ Caso o inadimplemento ocorra depois do ponto de mutação, ou seja,


após o devedor escolher e o credor ser cientificado, aplicam-se as
regras do inadimplemento de dar coisa certa. Dessa forma, caso haja
i) perecimento sem culpa = a obrigação se extingue; ii) perecimento
com culpa = devedor deve entregar equivalente + perdas e danos; iii)
deterioração sem culpa = extinção da obrigação ou aceitação da coisa
com abatimento do preço; iv) deterioração com culpa = entrega de
equivalente + perdas e danos ou aceitação da coisa deteriorada com
abatimento do preço + perdas e danos.

Aula 07/07 - Obrigação de fazer e de


não fazer
Obrigação de fazer
➢ A obrigação de fazer é caracterizada pela contratação de um serviço. Nas
obrigações de fazer o interesse principal do credor no negócio esta na atitude
do devedor e não em algo que este possui.

➢ As obrigações de fazer podem ser intelectuais, físicas ou jurídicas

➢ Exemplos de obrigação de fazer: a contratação de um pintor para pintar uma


casa, artista para confeccionar um quadro, arquiteto para fazer um projeto,
advogado para defender uma ação, etc.

➢ Questões polêmicas: antes do advento do novo CPC havia uma grande


discussão em torno da caracterização da obrigação de pagar o FGTS como
sendo uma obrigação de dar ou de fazer, devido à possibilidade de cobrança
de multas diárias (astreintes) apenas na obrigação de fazer. O enunciado 160
da CFJ decidiu pelo enquadramento dessa obrigação como sendo obrigação
de dar. No entanto, com o novo CPC, ambas as obrigações são passíveis de
exigência de multa diária, fazendo com que essa discussão não seja mais
cabível.

Classificação:
➢ Infungível:

○ A obrigação de fazer será infungível quando o interesse principal do


credor esta na habilidade do devedor, em suas características
pessoais e na qualidade do seu serviço em específico. Exemplo:
contratação de arquiteto renomado para projetar uma casa. Nesse
caso, não bastaria apenas o projeto da casa pois o credor esta
interessado no estilo, na habilidade daquele arquiteto em específico
➢ Fungível:

○ Nesse caso, o interesse principal do credor com a obrigação é a


prestação do serviço em si, independentemente de quem irá realizá-lo.
Exemplo: contratação de alguém para cortar a grama. Não interessa
quem será contratado, apenas que o serviço seja prestado.

Inadimplemento
I. Inadimplemento da obrigação infungível:

➢ No caso de recusa:

○ Caso o devedor se recuse a cumprir com a obrigação, o credor poderá


exigir que a prestação seja feita ou pedir perdas e danos.

○ No caso de recusa ao cumprimento, as consequências do


inadimplemento assemelham-se às do inadimplemento da obrigação
de dar por culpa

Art. 816. Se o executado não satisfizer a obrigação no prazo


designado, é lícito ao exequente, nos próprios autos do processo,
requerer a satisfação da obrigação à custa do executado ou perdas e
danos, hipótese em que se converterá em indenização.

Parágrafo único. O valor das perdas e danos será apurado em


liquidação, seguindo-se a execução para cobrança de quantia certa.

Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor


que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.

➢ No caso de impossibilidade:

○ Caso haja impossibilidade no cumprimento da obrigação sem culpa do


devedor, o negócio se extingue. Mas, caso haja culpa do devedor, ele
responderá por perdas e danos.

Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do


devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por
perdas e danos.

II. Inadimplemento da obrigação infungível

➢ No caso de recusa ou atraso:

○ Caso haja recusa por parte do devedor em cumprir com a obrigação, o


credor poderá exigir judicialmente que o devedor contrate terceiro para
a realização da prestação. Caso haja urgência, o credor poderá exigir
do credor sem haver autorização judicial.

○ Caso o juiz autorize a exigência de contratação de terceiro, o credor


deverá adiantar o pagamento, para depois ser ressarcido pelo
devedor.

Art. 249 CC Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao
credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou
mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.

Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor,


independentemente de autorização judicial, executar ou mandar
executar o fato, sendo depois ressarcido.

Art. 817 CPC Se a obrigação puder ser satisfeita por terceiro, é lícito
ao juiz autorizar, a requerimento do exequente, que aquele a satisfaça
à custa do executado.

Parágrafo único. O exequente adiantará as quantias previstas na


proposta que, ouvidas as partes, o juiz houver aprovado.

Obrigação de não fazer


➢ As obrigações de não fazer obrigam o devedor a se omitir, não realizando
determinada atividade.

➢ As obrigações de fazer não podem ser genéricas, elas devem ser restritas a
determinada atividade. Exemplo: obrigação de não comprar na loja X - não é
uma obrigação de não comprar em nenhuma loja, apenas naquela específica;
ou obrigação de não compartilhar um segredo industrial - não é a obrigação
de não compartilhar nada, apenas a fórmula específica.

Inadimplemento
➢ Sem culpa do devedor: caso a obrigação de não fazer seja descumprida sem
culpa do devedor, a obrigação se extingue. Art. 250 CC

Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do
devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não
praticar.

➢ Com culpa do devedor: caso haja culpa do devedor, o credor poderá exigir
que seja desfeita a obrigação que o credor havia se obrigado a não fazer com
direito a indenização por perdas e danos. Caso haja urgência, o credor
poderá por conta própria desfazer
Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor
pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa,
ressarcindo o culpado perdas e danos.

Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar


desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do
ressarcimento devido.

Aula 08/07 - Obrigações complexas


➢ As obrigações complexas são aquelas que possuem mais do que um sujeito
ou mais do que um objeto

➢ As obrigações com mais do que um objeto se subdividem em: cumulativas e


alternativas

➢ As obrigações com mais do que um sujeito se subdividem em: divisíveis,


indivisíveis e solidárias

Obrigações cumulativas
➢ A característica principal das obrigações cumulativas é a adição de
prestações, ou seja, o devedor tem o dever de prestar mais do que uma
obrigação.

➢ As obrigações cumulativas podem ser tanto uma junção de duas obrigações


de dar (obrigação de dar uma moto e um carro), como obrigações de fazer
(obrigação de construir uma casa e pintá-la); quanto uma obrigação de dar e
de fazer conjuntamente (obrigação de entregar um carro e repará-lo)

➢ Para que o devedor não reste inadimplente, ele deve cumprir com ambas as
obrigações com as quais se comprometeu.

➢ As obrigações cumulativas não estão previstas no código civil.

Obrigações alternativas
➢ As obrigações alternativas consistem em uma junção de prestações, pelas
quais esta obrigado o devedor a apenas uma delas.

➢ Nas obrigações alternativas, há opção de escolher entre as obrigações


estipuladas.
➢ Exemplo: obrigação de entregar um carro ou uma moto; de realizar o serviço
ou contratar terceiro.

➢ Art. 252 código civil

○ Nas obrigações alternativas, cabe ao devedor realizar a escolha, caso


não esteja disposto o contrário no contrato.

○ O devedor não poderá obrigar o credor a receber parte de uma


prestação e parte da outra

○ Quando a opção for realizada de forma periódica, a escolha se


realizará a cada novo período.

○ Estando estabelecido no contrato uma pluralidade de escolha ou


cabendo a escolha a um terceiro que não a realiza, caberá ao juiz
determinar quem deverá escolher (crítica)

Inadimplemento:
➢ No caso de inadimplemento de obrigação variável, distingue-se entre:

I. Inadimplemento de uma das obrigações

➢ Sem culpa do devedor: não havendo culpa do devedor, este deve


entregar/fazer a obrigação restante, que não pereceu, extinguindo a outra

➢ Com culpa do devedor: caso haja culpa do devedor e não haja estipulação no
contrato sobre quem deveria realizar a escolha, o devedor deve apenas
entregar/fazer a obrigação restante, além das perdas e danos. No entanto,
caso coubesse ao credor fazer a escolha, este pode optar por receber a
obrigação restante ou exigir o equivalente pela obrigação que pereceu, além
de perdas e danos, se houver dano emergente/lucro cessante.

II. Inadimplemento de ambas as obrigações

➢ Sem culpa do devedor: a obrigação se extingue

➢ Com culpa do devedor: caso a escolha fosse do credor, este poderá optar
pelo valor equivalente a qualquer das obrigações, além de perdas e danos.
Caso a escolha fosse do devedor, este deverá ressarcir o valor da obrigação
que se perdeu por último, além de perdas e danos. No entanto, caso as duas
se percam ao mesmo tempo e o devedor fosse responsável pela escolha,
não há previsão no código civil.
Aula 14/07 - Obrigações divisíveis e
indivisíveis
➢ As obrigações divisíveis e indivisíveis possuem como característica comum a
multiplicidade de sujeitos, seja no polo passivo seja no polo ativo da ação, ou
ainda em ambos

➢ As obrigações divisíveis são aquelas cuja prestação é passível de divisão, já


as obrigações indivisíveis não podem ser divididas, devido a sua natureza,
pela razão determinante do negócio ou por motivos de ordem econômica (art.
258)

➢ Natureza:

○ As prestações podem ser divisíveis ou indivisíveis conforme sua


natureza. Prestações naturalmente divisíveis são as frutas, por
exemplo. Já as prestações naturalmente indivisíveis são os
computadores, livros, etc.

○ É importante ressaltar que uma obrigação naturalmente indivisível


pode se tornar divisível quando houver mais do que um devedor. Por
exemplo: se a obrigação é de entregar 4 livros e existem 2 devedores,
a prestação pode ser dividida entre eles

➢ Ordem econômica:

○ Algumas prestações não fazem sentido de serem divididas em razão


da perda de sentido econômico.

○ Exemplo: venda de um clips - a compra de clips não é uma prestação


divisível pois não faria sentido economicamente vendê-los
separadamente, já que seu valor isolado é ínfimo.

○ Outro exemplo é a divisão de pedras preciosas, que, apesar de ser


possível realizar a divisão, não faria sentido economicamente, pois
haveria a perda significativa de valor do objeto.

➢ Razão determinante negócio

○ Alguns negócios têm como razão determinante a prestação da


obrigação de forma indivisível, como é o caso da contratação de
banda de música, já que o objetivo da contratação é a apresentação
do grupo por completo, não fazendo sentido separá-los.
Obrigação divisível
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação
divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas,
quantos os credores ou devedores.

➢ Havendo mais do que uma obrigação e mais do que um devedor, presume-se


(presunção iuris tantum) dividida em partes iguais as obrigações entre os
devedores.

➢ Por exemplo, caso haja a obrigação de entregar 3 livros e haja 3 devedores,


presume-se que cada um estará responsável pela entrega de um livro

➢ Exemplos de obrigação divisível:

Art. 776. O segurador é obrigado a pagar em dinheiro o prejuízo resultante do


risco assumido, salvo se convencionada a reposição da coisa.

Art. 830. Cada fiador pode fixar no contrato a parte da dívida que toma sob
sua responsabilidade, caso em que não será por mais obrigado.

Art. 1.326. Os frutos da coisa comum, não havendo em contrário estipulação


ou disposição de última vontade, serão partilhados na proporção dos
quinhões

Regras da obrigação divisível


I. Pluralidade de credores

○ Havendo pluralidade de credores, o devedor deverá entregar a


prestação de forma equivalente entre os credores.

○ Exemplo: obrigação de pagar R$ 3.000 a três credores - o devedor


deverá entregar R$ 1.000 a cada um dos credores

○ Caso um dos credores não aceite receber sua parte de forma dividida,
exigindo recebê-la integralmente, o devedor não tem o dever de
entregá-lo no todo, pois caso o fizesse não estaria se desobrigando
em relação aos demais credores. Nesse caso, se o credor não aceitar,
ele será responsável pela mora na prestação

○ A interrupção da prescrição em relação a um dos credores não


beneficia aos outros. Ou seja, se houver a interrupção da prescrição
para um dos credores, a prescrição continuará correndo para os
outros. Exemplo: se o juiz citar apenas um dos credores e não os
outros, a prescrição só é interrompida em relação ao primeiro.
II. Pluralidade de devedores

○ Cada devedor responde apenas por sua parte da obrigação, não


ficando responsável pelo todo

○ Ex: caso haja 3 devedores e a obrigação seja de entregar 6 laranjas,


cada devedor deve entregar 2 laranjas.

○ A interrupção da obrigação em relação a um dos devedores não


aproveita aos demais (art. 204). Assim como a suspensão especial
também não se aproveita aos demais (art. 199)

○ Ex: caso um pai seja o credor de seu filho, menor de idade e de três
de seus amigos, a suspensão da prescrição por conta do poder
familiar só beneficia o filho e não seus amigos.

Obrigação indivisível
➢ A obrigação indivisível ocorre quando a prestação negociada não pode ser
dividida, seja por motivos naturais, seja por motivos de ordem econômica ou
pela razão determinante do negócio (art. 258)

➢ Além disso, a indivisibilidade pode ser decorrente da lei ou convencionada


pelas partes.

Regras da obrigação indivisível


I. Pluralidade de devedores

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível,
cada um será obrigado pela dívida toda.

➢ Na obrigação indivisível, justamente pelo fato de a prestação não poder ser


dividida, o credor poderá solicitar a qualquer um dos devedores (havendo
mais de um) a prestação da obrigação.

➢ Exemplo: caso haja uma prestação de entregar um carro com dois devedores
e um credor, o credor poderá exigir que qualquer um dos devedores entregue
o carro

Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do


credor em relação aos outros coobrigados.

➢ Caso o credor cobre a prestação apenas de um dos devedores, este pode


exigir dos demais devedores que paguem o restante do valor que lhes era
devido. Nesse caso, a prestação que era indivisível se torna divisível, pois
vira uma dívida pecuniária. Se os demais devedores não consentirem com o
pagamento das suas partes, o devedor pode ajuizar ação contra eles, onde
irá assumir o papel de credor.

➢ Exemplo: 3 devedores (X,Y,Z) tinham a obrigação de entregar um barco no


valor de R$ 90.000 para o credor. O credor cobrou a obrigação apenas do
devedor X, que entregou o barco. Após a entrega, X pode pedir de Y e Z que
paguem suas partes da obrigação, no caso R$ 30.000 de cada. Caso eles
não paguem, X pode ajuizar uma ação, assumindo então a posição de
credor.

➢ A sub rogação pode ser implícita.

○ Sub rogação = ocupar o lugar do outro.

II. Pluralidade de credores

Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a
dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando:

I - a todos conjuntamente;

II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.

Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um


dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe cabia
no total.

➢ 260 = relação externa e 261 = relação interna.

➢ Quando há pluralidade de credores, todos podem exigir a prestação integral


da coisa, porém, o devedor apenas cumprirá a obrigação quando adimpli-la
em relação a todos os credores ou quando entregar a coisa a um dos
credores, com a aprovação dos outros.

➢ Caso apenas um dos credores receba a coisa, os outros credores poderão


exigir deste a remuneração pela obrigação.

➢ Exemplo: caso haja três credores que iriam receber um carro no valor de R$
90.000 de um devedor. Se o credor X receber o carro sozinho, ele deverá
pagar R$ 30.000 para cada um dos outros dois devedores.

Remissão de dívida
Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta
para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do
credor remitente.
Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação,
novação, compensação ou confusão.

➢ Remissão de dívida = perdão da dívida

➢ No caso de haver pluralidade de credores e um deles perdoar a dívida, os


outros credores ainda poderão exigir o cumprimento da obrigação. No
entanto, deverão reembolsar ao devedor o valor referente à remissão.

➢ Exemplo: C deve um carro no valor de R $100.000 para A e B. B perdoa a


dívida. A pode então, exigir que C entregue o carro, mas deverá reembolsar
R$ 50.000 para C

Perda da indivisibilidade
Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em
perdas e danos.

§ 1º Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os


devedores, responderão todos por partes iguais.

§ 2º Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só


esse pelas perdas e danos.

➢ Caso haja o perecimento da coisa e o negócio se resolva em perdas e danos,


a obrigação deixa de ser indivisível, pois se torna uma obrigação pecuniária

➢ Se todos os devedores tiverem culpa pelo perecimento, todos devem


responder pelo pagamento das perdas e danos.

➢ Se apenas um dos devedores teve culpa pelo perecimento, apenas este


deverá arcar com as perdas e danos.

➢ No caso da deterioração, o código civil traz a possibilidade de o credor exigir


a coisa no estado em que se encontra, com redução do valor ou a devolução
do dinheiro com perdas e danos, somente no último caso, há a perda da
indivisibilidade.

➢ Divergência doutrinária: o devedor com culpa deverá pagar pelo equivalente


+ perdas e danos ou apenas pelas perdas e danos.
Aula 23/07 - Obrigações solidárias
Definição
Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de
um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à
dívida toda

➢ As obrigações solidárias se caracterizam pela pluralidade de credores, em


que todos têm o direito de exigir a prestação integral ou pela pluralidade de
devedores, sendo que todos se responsabilizam pelo cumprimento da
prestação.

➢ As obrigações solidárias podem ser divisíveis ou indivisíveis.

○ Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das


partes.

➢ Caracteriza-se a obrigação solidária apenas quando decorrente da lei ou


quando expresso pela vontade das partes.

○ Art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos
co-credores ou co-devedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar
diferente, para o outro.

➢ É possível que as partes estabeleçam entre si condições diferentes de


prestação das obrigações, de forma que um devedor tenha uma obrigação
simples e o outro uma obrigação condicionada, por exemplo.
➢ Nesse caso, o credor pode exigir a obrigação dos dois devedores, no
entanto, se apenas um tem uma obrigação condicionada, ele só poderá exigir
deste a condição.

Características
➢ Pluralidade de sujeitos: mais do que um devedor ou mais do que um credor

➢ Unidade da prestação: cada credor pode exigir a prestação inteira, assim


como cada devedor deve responder pela dívida total

➢ Multiplicidade de vínculos ou vínculo único: devido ao artigo 266, há


divergência na doutrina, que entende por um lado que há apenas um vínculo,
independente da divergência de prestações e, por outro lado, que há vínculos
distintos.

➢ Corresponsabilidade: todos os devedores são responsáveis pela obrigação,


apesar de ela poder ser exigida apenas de um.

➢ Importante ressaltar a diferença entre a relação externa e a relação interna


da obrigação. A relação externa é aquela entre os credores e os devedores.
Já a relação interna é aquela entre os devedores ou entre os credores. Nesse
caso, quando apenas um dos credores receber o pagamento, os outros
participantes da relação interna, ou seja, os outros credores podem exigir a
divisão da prestação. O mesmo acontece com a relação interna entre
devedores.

Solidariedade ativa
Art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o
cumprimento da prestação por inteiro.

➢ Cada credor poderá exigir o cumprimento por inteiro da prestação. Porém, a


partir do seu recebimento, o credor deverá restaurar a cota parte de cada um
dos outros credores. Porém, o devedor se desobriga pagando a qualquer
co-credor.

Características
○ Art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o
devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar.

➢ O devedor tem a escolha de pagar a qualquer um dos credores solidários,


assim como o credor tem o direito de cobrar de qualquer um dos devedores
solidários. No entanto, esse direito não é absoluto pois após o ajuizamento
de uma ação de execução ou de cobrança por um dos credores, o devedor
só poderá pagar para o credor que ajuizou a ação.

○ Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida


até o montante do que foi pago.

➢ Quando há pagamento parcial de uma obrigação, o devedor extingue sua


dívida apenas na medida do montante pago. Dessa forma, se há uma dívida
de 30.000 que deve ser paga a três credores, se o devedor pagar 10.000
para um dos credores ainda sim este possui o direito de lhe cobrar 20.000,
pois a dívida foi extinta apenas em relação aos 10.000

○ Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um


destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder
ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.

➢ Os herdeiros dos credores após sua morte podem cobrar a dívida apenas no
montante que lhes diz respeito. Exemplo: se três credores tinham uma dívida
de 30.000 a receber de um devedor, enquanto estiverem vivos, todos podem
cobrar os 30.000. No entanto, após a morte, os herdeiros que quiserem
cobrar a dívida somente poderão cobrar 10.000, pois este é o valor referente
a cada credor.

○ Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento


responderá aos outros pela parte que lhes caiba.

➢ Caso um dos credores perdoe a dívida, o devedor deverá pagar ao credor


que não remitiu apenas o montante que lhe era devido, descontando a parte
do credor que remitiu.

➢ Direito de regresso: é o direito de cobrança existente dentro da relação


interna entre credores. Se apenas um dos credores receber a prestação, este
deve entregar aos outros os montantes que lhe são devidos. Se um credor
remitir a dívida toda, deverá pagar sua parte aos demais.

○ Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções
pessoais oponíveis aos outros.

➢ As exceções pessoais de um credor não podem ser utilizadas pelo devedor


contra os outros credores. Exemplo: se um dos credores é menor de idade e
o credor maior de idade entrar com uma ação, o devedor não pode alegar
que o credor deveria estar assistido, pois isso é uma exceção pessoal de
apenas um dos credores.

○ Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os


demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção
pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles.
➢ Caso um dos credores solidários entre com ação de cobrança/execução e
tenha seu pedido indeferido, os outros credores não perdem o direito de
cobrar a dívida. Se o pedido for deferido, todos serão beneficiados pela
cobrança, devendo receber sua parcela da prestação.

Obrigação solidária Obrigação indivisível

Advém da lei ou da vontade das Advém da natureza do objeto


partes

O devedor solidário esta obrigado O devedor solidário esta obrigado


ao pagamento integral da prestação. ao pagamento de sua quota parte.
No entanto, devido à indivisibilidade
da prestação, pode ser compelido a
pagá-lo integralmente.

Não se converte em divisível Se converte em divisível quando há


quando há perdas e danos perdas e danos

Solidariedade passiva
○ Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos
devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido
parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo
resto.

➢ O credor poderá cobrar a dívida integral de qualquer dos devedores


solidários. Se a dívida for paga de maneira parcial por um dos credores, ele
não estará desobrigado, podendo ser cobrado ainda o pagamento do
restante.

Ação solidária não importa renúncia


○ Art. 275 Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a
propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores.

➢ O ajuizamento de ação de execução contra apenas um dos devedores


solidários não extingue a solidariedade, sendo esta possibilidade uma das
características essenciais da solidariedade, ou seja, a escolha de quem ele
poderá cobrar.

➢ O devedor solidário que foi escolhido para integrar o polo passivo da ação
poderá ou aguardar a sentença, para então entrar com ação regressiva em
face dos outros devedores, caso o pedido seja deferido, ou utilizar do instituto
processual do chamamento, ou seja, poderá chamar os outros devedores
para integrar o processo.

Falecimento do devedor solidário


○ Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum
destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu
quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos
serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais
devedores.

➢ No caso de um dos devedores solidários falecer, seus herdeiros só poderão


ser cobrados na medida da quota parte do devedor. Os herdeiros serão
considerados como apenas um devedor solidário. Dessa forma, se dois
devedores deviam 10.000 para um credor e um desses devedores morre,
deixando dois filhos, os filhos poderão ser cobrados 10.000 reais, sendo
considerados como um único devedor.

Pagamento parcial e remissão


○ Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por
ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da
quantia paga ou relevada.

➢ No caso de remissão ou pagamento parcial, desconta-se a parcela do


devedor perdoado ou do pagamento feito, devendo-se cobrar apenas o
restante.

➢ Se um dos devedores for perdoado, os outros devem pagar apenas pelo


montante inicial subtraído do valor referente à quota parte do perdoado

➢ Se um dos devedores realizar o pagamento parcial, ele ainda poderá ser


cobrado o restante, assim como poderão ser os outros devedores

Aditamentos
○ Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada
entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição
dos outros sem consentimento destes

➢ Se for feito algum aditamente, ou seja, se for adicionada alguma cláusula,


condição, termo, encargo, etc. à obrigação entre o credor e um dos
devedores solidários, essa alteração não afetará os demais devedores,
sendo estes responsáveis apenas pelo estipulado no contrato inicial.
Renúncia da solidariedade
○ Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns
ou de todos os devedores.

○ Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais


devedores, subsistirá a dos demais.

➢ O credor pode renunciar (=exonerar) a solidariedade de um ou mais dos


devedores. Nesse caso, a solidariedade dos demais subsistirá.

➢ Exemplo: se três devedores solidários devem 30.000 reais e o credor


renunciar a solidariedade de um deles, este que teve a solidariedade
renunciada será cobrado apenas pela sua quota parte (10.000), não
respondendo mais pelo todo e os demais responderão pelos 20.000
restantes, de forma solidária.

Inadimplemento
○ Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores
solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas
perdas e danos só responde o culpado.

➢ Caso um dos devedores seja culpado pelo inadimplemento, o credor poderá


exigir o pagamento de todos, porém poderá exigir o pagamento por perdas e
danos apenas do culpado.

○ Art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a
ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos
outros pela obrigação acrescida.

➢ No caso de juros de mora, todos os devedores respondem igualitariamente


frente o credor (relação interna), porém o culpado deverá responder aos
outros na relação interna pelos juros acrescidos.

Relação interna e insolvência


○ Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de
cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a
do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de
todos os co-devedores.

➢ Quando um dos devedores quitar a dívida integralmente, nasce a relação


interna, na qual ele se sub rogará, ou seja, tomará o lugar do credor, e
poderá exigir o pagamento dos demais devedores, que serão responsáveis
então apenas pelas suas quotas partes, caso não haja disposição contrária
estipulada.

➢ Caso um dos co-devedores se torne insolvente, a sua quota parte será


repartida entre os demais devedores, que deverão arcar com seus custos.
Exemplo: se havia 3 devedores que deviam 30.000, sendo um deles
insolvente e um dos outros dois devedores arca com a dívida inteira, ele
deverá pagar os 30.000 e exigir do outro devedor solidário 30.000 também.
Caso não houvesse insolvente ele deveria exigir 20.000 de cada.

➢ O devedor que se tornou insolvente não se exige da dívida pois os


co-devedores que arcaram com os custos podem, no mesmo prazo
prescricional ajuizar ação para exigir o pagamento do reembolso da sua
quota parte paga pelos outros devedores.

Exonerados da solidariedade
○ Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os
exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação
incumbia ao insolvente.

➢ No caso de haver exoneração de um dos co-devedores e insolvência de


outro, o exonerado deverá pagar a sua quota parte mais a fração
correspondente ao insolvente.

➢ Exemplo: caso haja 4 devedores que devem 120.000 para um credor. O


credor exonerou (renunciou a solidariedade) o devedor A. B pagou os
120.0000 para o credor. Porém, na relação interna, quando foi cobrar as
quotas partes referentes aos outros devedores descobriu que um dos
co-devedores estava insolvente. Dessa forma, sua quota parte (30.000) será
dividida igualmente entre os devedores, incluindo o exonerado, de forma que
todos deverão pagar 40.000 ao devedor que quitou a dívida.

Dívida de interesse exclusivo


➢ Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos
devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar

➢ No caso em que há garantia real (fiador) e a cobrança seja feita do devedor


subsidiário e não do principal, o fiador tem o direito de exigir o reembolso
integral da prestação, sem retirar a sua quota parte, pois não há obrigação
solidária.
Aula 06/08 - Transmissão das
obrigações
➢ A transmissão das obrigações consiste na transferência de direitos ou
obrigações de forma gratuita ou onerosa Aquele que adquirir a obrigação
cedida não sofrerá com mudanças na obrigação em si, que permanece
inalterada.

➢ Espécies de transmissão:

○ Cessão de crédito;

○ Cessão de débito - assunção de dívida;

○ Cessão de contrato

Cessão de crédito
➢ A cessão de crédito consiste na transmissão dos direitos do credor a um
terceiro. Não há nenhuma alteração na obrigação em si, apenas o sujeito que
poderá cobrar a prestação que mudará

➢ Os sujeitos da cessão de crédito são:

○ Cedente: é o credor que transfere seus direitos a um terceiro

○ Cessionário: é o terceiro que recebe os direitos do credor inicial

○ Cedido: é o devedor. Para ele, o que mudará na obrigação é tão


somente a quem ele irá realizar o pagamento da prestação

➢ Exemplo: ao comprar um imóvel, muitas vezes as pessoas realizam


parcelamentos de longo prazo. Porém, as construtoras precisam de caixa
para que possam construir os imóveis. Para que tanto o devedor (comprador)
quanto o credor (construtora) consigam realizar o negócio da forma que
almejam, a construtora (credora) transfere seus direitos de cobrança a um
banco, que passará a ser o cessionário da obrigação. A partir dessa
transmissão, o banco paga a prestação integral à vista para a construtora e
passa a ser a credora para quem o devedor deverá quitar a dívida. Para o
devedor, não haverá alteração na dívida, ele pagará o mesmo montante. No
entanto, para que o negócio seja benéfico ao banco, ele geralmente paga
menos à construtora, recebendo do devedor um valor "com juros".
Notificação do devedor
Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão
quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em
escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita.

➢ O código civil não exige a anuência do devedor para que haja a cessão do
crédito. No entanto, ele deverá ser cientificado sobre a transferência para que
ela seja eficaz. A necessidade de notificação se faz necessária até mesmo
para que o devedor saiba a quem pagar.

Transmissões sucessivas
Art. 291. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se
completar com a tradição do título do crédito cedido.

➢ Ocorrendo múltiplas transmissões de um título de crédito, o devedor pagará


bem para quem estiver munido do título, mesmo que este já tenha sido
transferido para outro credor (que não possui o título em mãos)

➢ No entanto, caso o devedor não tenha sido notificado sobre as transmissões,


ele poderá pagar o credor original, pagando-o bem.

Objeto
Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a
natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula
proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não
constar do instrumento da obrigação

Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito


abrangem-se todos os seus acessórios.

Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se


não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular
revestido das solenidades do § 1 o do art. 654 .

➢ Qualquer obrigação pode ser objeto de cessão, exceto aquelas que, por
motivos de natureza, lei ou convenção expressão não o puderem ser.

➢ Natureza: direitos personalíssimos não podem ser cedidos. Ex. direito à


remuneração, direito à imagem.

➢ Lei: art. 520

➢ Convenção: caso as partes expressem no contrato firmado a impossibilidade


de cessão, ela não poderá ocorrer. No entanto, caso não expressem de
forma pública, o cessionário de boa-fé que não tinha conhecimento dessa
impossibilidade não poderá ser prejudicado.

➢ Na cessão transmitem-se os bens acessórios, a menos que haja disposição


em contrário. Exemplo: se houver a cessão de uma dívida, os juros vão junto

Crédito objeto de penhora


○ Art. 298. O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo
credor que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não
tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor
os direitos de terceiro.

➢ No caso de ajuizamento de uma ação contra um devedor que não possui


condições de pagar, mas possui crédito com terceiro, o devedor não poderá
ceder esse crédito para outro pois ele não pertence mais a ele, devendo ser
depositado em juízo.

➢ Porém, se o devedor pagar ao credor pois não possuía conhecimento dessa


penhora, ele não pagará mal.

Forma
○ Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se
não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular
revestido das solenidades do § 1 o do art. 654 .

➢ Para que a cessão possua eficácia em relação a terceiros ela deve se dar
através de instrumento público ou particular, desde que siga o disposto no
art. 654, parágrafo 1.

○ Art. 654 § 1º O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde


foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo
da outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos.

Modalidades da cessão
Total ou parcial

➢ A cessão pode transferir o direito em sua integralidade ou apenas parte dele,


de forma que o credor originário terá direito a certa porcao.

Gratuita ou onerosa

➢ Onerosa
○ A cessão onerosa é aquela que ocorre por exemplo quando uma
construtora "compra" o crédito de um comprador, pagando um valor
inferior ao que será pago pelo comprador, mas fazendo-o à vista.
Assim, a construtora obtêm certo lucro, sendo então onerosa a cessão
para a cessionária.

○ Na cessão onerosa, a cedente responde apenas pela existência do


crédito, ou seja, ela deve garantir que esse crédito existe e é válido.
No entanto, ela não tem responsabilidade sobre o que ocorrer após a
cessão. Se o devedor não pagar, etc. quem tem responsabilidade de
cobrar é o cessionário.

➢ Gratuita

○ A cessão gratuita ocorre quando, por exemplo, um pai recebe de um


contrato de locação, mensalmente um valor referente aos aluguéis
pagos e, quando seu filho se muda de cidade, passa a transferir esse
crédito ao filho para que ele o receba. Nesse exemplo, não há
qualquer tipo de custo para o pai.

○ Na cessão gratuita, a cedente não responde nem pela existência do


crédito, exceto ela esteja de má fé (ex. conluio entre a cedida e a
cedente para prejudicar a cessionária. Caso haja má fé ela deve ser
provada)

➢ Pro soluto e pro solvendo

○ Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela


solvência do devedor.

○ Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do


devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os
respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e
as que o cessionário houver feito com a cobrança.

○ Em regra, a cedente não responde pelo estado de solvência da


devedora - cessão pro soluto

○ Porém, caso haja previsão expressa no contrato, será pro solvendo,


ou seja, a cedente será responsável por investigar o estado de
solvência. Nesse caso, se a devedora é insolvente, a cedente terá que
pagar à cessionária o valor.

○ Caso seja uma cessão onerosa, a cedente responde apenas pela


parcela do crédito que ela cedeu. Ex. se havia um crédito de 20.000 e
a credora cedeu 15.000 para uma cessionária, colocando
expressamente no contrato a responsabilidade pela solvência da
devedora, a cedente se responsabiliza apenas pelo 15.000 e não
pelos 20.000.

➢ Contratual, legal ou judicial

○ Pode ocorrer devido a uma convenção contratual, a uma previsão


legal ou a uma ordem judicial.

Cessão de débito
➢ Na cessão de débito há a transferência de uma obrigação de um devedor
para outro. Nesse caso, apesar de a pessoa ter que cumprir com a
prestação, ela não tem direito à contraprestação, ou seja, ela só assume o
ônus.

➢ Na cessão de débito é necessário que o credor consinta com a transferência


do débito, uma vez que ele tem que checar quem será a pessoa que passará
a cumprir a obrigação.

➢ Há uma exceção para esse consentimento, que é o caso das hipotecas.


Quando um devedor vende o imóvel que possui hipoteca para outra pessoa,
ele não precisa do consentimento do credor para tanto, uma vez que, mesmo
pertencendo a outra pessoa, a garantia real se mantêm, graças à aderência
dos bens reais ao patrimônio.

Modalidades
➢ Delegação: quando o devedor, com o consentimento do credor, transfere a
obrigação para terceiro

➢ Expropriação: quando o credor transfere a dívida do devedor para um


terceiro.

Responsabilidade do devedor solidário


➢ Em regra, o devedor solidário não se responsabiliza pela dívida a partir do
momento em que a transfere para terceiro. No entanto, caso o terceiro, já no
momento da transferência, estava insolvente, e o credor não possuía
conhecimento sobre isso, o devedor primitivo não será exonerado da dívida,
mantendo-se responsável pelo seu pagamento.
Garantias
➢ Quando ocorre a cessão de débito, as garantias que foram dadas junto com a
dívida se extinguem, caso não haja expressa anuência do devedor ou de
terceiros que assumiram a posição de garantidor. (Art. 300)

Anulação da cessão de débito


➢ Caso haja a anulação da cessão de débito, a dívida retorna para o devedor
primitivo, juntamente às garantias dadas por ele inicialmente. Caso haja a
anulação e a dívida inicialmente estava garantida por terceiro, essa garantia
continua extinta, a menos que o terceiro tivesse consentimento sobre o vício
no momento em que consentiu em ser garantidor (Art. 301)

Cessão de contrato
➢ Na cessão de contrato, a parte que recebe o contrato assume não somente a
dívida ou o crédito, mas ambas as partes.

➢ Exemplo: eu negocio um carro com a pessoa X, no entanto percebo que não


vou conseguir pagar esse carro. Se eu não achar ninguém para assumir a
minha dívida para que eu fique com o carro eu posso simplesmente "vender"
o contrato para outra pessoa, que assumirá o dever de pagar a pessoa X e o
direito de receber o carro.

➢ A cessão de contrato não esta prevista no código civil, no entanto,


entende-se que as regras aplicadas a esse tipo de transferência são as
mesmas da cessão de débito.

Aula 11/08 - Adimplemento das


obrigações
➢ As obrigações possuem três ciclos, que são: o nascimento, o
desenvolvimento e a extinção

➢ Atualmente, as obrigações são vistas como um processo, no qual ao longo


de toda a relação, deve-se manter a boa-fé e os deveres laterais de conduta
Pagamento e extinção
➢ O adimplemento é uma das causas de extinção das obrigações, existindo
outras.

➢ Para Jorge Cesa Ferreira da Silva (2002, p. 69) o adimplemento ocorre


“quando se realizar o conjunto de interesses envolvidos na relação”.

➢ Para Clóvis do Couto e Silva (1996, p. 5) “O adimplemento atrai e polariza a


obrigação. É o seu fim”.

➢ O cumprimento poderá ser realizado de modo voluntário, abrangendo ainda


as formas especiais de pagamento, também chamado de pagamento indireto
(consignação, sub-rogação, imputação e dação).

➢ Há também as formas extintivas não satisfativas, caso da novação,


compensação, confusão e remissão.

Pagamento
➢ O pagamento da obrigação não possui sentido apenas pecuniário, incluindo
qualquer tipo de adimplemento da obrigação.

➢ O objetivo final de toda obrigação estabelecida é o adimplemento da


prestação.

➢ O Código Civil trata do adimplemento, no título III, do livro das obrigações,


referindo-se ao adimplemento como pagamento (em sentido lato),
contemplando a execução de todas as espécies de obrigações.

➢ O adimplemento contratual era entendido pela visão clássica sobre duas


vertentes - a subjetivista e a objetivista.

○ A teoria subjetivista, desenvolvida a partir do Código Napoleônico,


entendia o adimplemento contratual através da satisfação do devedor.
Ou seja, a partir do momento em que o devedor cumpria sua
prestação, a obrigação estava extinta

○ A teoria objetivista, por outro lado, entendia a obrigação através da


satisfação do credor, ou seja, a prestação só estava adimplida quando
o credor estivesse satisfeito. Tal teoria prezava pelo cumprimento da
boa-fé e dos deveres laterais.

➢ Atualmente, a ciência contemporânea entende o adimplemento das


obrigações através da junção dessas duas teorias, sendo de extrema
importância tanto o cumprimento pelo devedor quanto a satisfação pelo
credor.
➢ Dois princípios do adimplemento das obrigações: pontualidade (recebimento
da obrigação dentro do prazo) e boa-fé.

Sobre quem deve pagar


Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando,
se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.

Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em


nome e à conta do devedor, salvo oposição de

➢ Em regra, quem tem o dever de pagar é o devedor, no entanto, o código civil


permite que terceiros interessados ou não interessados possam adimplir a
prestação em nome do devedor.

➢ Os terceiros interessados são aqueles a quem interessa juridicamente que a


obrigação seja cumprida, podendo ser afetados negativamente com o
inadimplemento (ex. fiador, sócio da empresa, adquirente de imóvel
hipoteca).

➢ Os terceiros não interessados são aqueles que, mesmo que desejem que a
obrigação seja adimplida, o fazem meramente por uma questão sentimental,
não possuindo interesses jurídicos.

➢ Nem todas as obrigações podem ser adimplidas por terceiro interessado,


visto que as obrigações personalíssimas não podem (art. 247)

Regras para o pagamento efetuado por terceiro


➢ Pagamento efetuado por terceiro interessado

○ Ocorre a sub rogação dos direitos do devedor. Ou seja, se o terceiro


interessado pagar a dívida do devedor inicial, ele obtém o direito de
cobrar dele a prestação que pagou.

○ Art. 346, III, CC. Sub-rogar significa ocupar o lugar do outro. Por isso,
a sub-rogação transfere todos os direitos, ações, privilégios, e
garantias do primitivo credor, em relação à dívida, contra o devedor
principal e fiadores (art. 349, CC)

○ Por exemplo, se o fiador pagar a dívida do devedor, ele poderá,


posteriormente, exigir deste a totalidade do pagamento, ocupando o
lugar do credor, com todos os privilégios porventura existentes.

➢ Pagamento efetuado por terceiro não interessado


○ Deve-se, primeiramente, saber se o terceiro não interessado realizou o
pagamento em seu nome ou em nome do devedor - a forma como o
terceiro negociar com o credor demonstrará o meio utilizado.

Art. 304, Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não


interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição
deste.

○ Aqui o código civil permite que a pessoa que paga em nome do


devedor tenha direito de utilizar essa forma de pagamento forçado,
através da ação de consignação em pagamento.

Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio
nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga
nos direitos do credor.

○ Já o terceiro que pagar em seu próprio nome, tem direito a reembolso,


porém não se sub-roga. Ele tem o direito de cobrar do devedor, mas
não tem as mesmas garantias, uma vez que não passa a tomar o lugar
do credor.

Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou


oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o
devedor tinha meios para ilidir a ação.

○ Aquele que paga em nome do devedor tem o direito ao reembolso,


mas apenas se não tiver oposição por parte do credor.

○ O terceiro não interessado não pode obrigar o credor a receber o


pagamento.

○ Se o devedor não souber do pagamento do terceiro, ele não tem a


obrigação de reembolsar o terceiro.

○ O terceiro deve autorizar ou não se opor ao pagamento.

A quem se deve pagar


Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o
represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto
reverter em seu proveito.

➢ O devedor pode pagar ao credor ou a algum de seus representantes.

Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda que
provado depois que não era credor.
➢ Credor putativo é o credor aparente, é quem o devedor acredita ser o credor.
Pode ser que o devedor não conheça a pessoa com a qual ele negociou.
Nesse caso, o pagamento é válido, mesmo que a pessoa não seja a credora.

Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da


quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante.

➢ Documento comprobatório da quitação - recibo, declaração, certidão, etc.


Qualquer documento que tenha a finalidade de declarar que o devedor pagou
a dívida.

➢ Presunção de quem esta com a quitação é o credor. Essa presunção não é


absoluta pois admite prova em contrário.

Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de


quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu.

➢ Considera-se inválido o pagamento feito ao incapaz, se o devedor conhecia a


incapacidade, a não ser que prove de que o pagamento reverteu em
benefício do incapaz (por exemplo, que a quantia chegou às mãos do
representante, ou que serviu para aumentar o patrimônio do incapaz).

➢ Se o devedor, todavia, não tinha conhecimento da incapacidade, o


pagamento será considerado válido.

Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita


sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento
não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de
novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor

➢ Para entender o artigo, imagine uma negociação entre A (credor) e B


(devedor). A tem a receber de B um crédito de R$ 20.000,00. Todavia, A é
devedor de C do valor de R$ 20.000,00. Como A não quitou a sua dívida com
C, C executou A judicialmente. No pedido de penhora, C indicou o crédito de
R$ 20.000,00 que A tem a receber de B. Com efeito, após a penhora do
crédito, B não mais poderá pagar para A, sob pena de ser constrangido a
pagar novamente para C.

➢ Além de uma penhora oficial, às vezes o devedor é notificado por um terceiro


de que não deve pagar para tal credor (pois, por exemplo, há uma ação
provando que o credor estava vendendo coisa que não era dele). Na dúvida,
o mais seguro é não pagar nenhum dos dois, mas depositar o valor em juízo
(consignação em pagamento) e pleitear a citação dos dois credores.
Do objeto do pagamento e sua prova
➢ Preconiza o artigo 313 do CC “o credor não é obrigado a receber prestação
diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.” Cumpre, portanto, ao
devedor entregar a prestação a que se obrigou, não podendo forçar o credor
a receber outra coisa que não o convencionado.

➢ Também a regra é de cumprimento integral da prestação e no vencimento,


não sendo o credor obrigado a receber, nem o devedor a pagar por partes
(arts. 314/315, CC).

Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em


moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos
subseqüentes. (Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou
em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor
desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação
especial)

➢ Artigo 315 trata das obrigações pecuniárias. As obrigações pecuniárias


devem ser pagas na moeda nacional. O código civil exige o valor nominal
porque, quando há contratos de execução diferida ou continuada, é possível
que haja uma desvalorização da moeda. Por conta disso, existe o artigo 316.

Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações


sucessivas.

➢ O art. 316 do CC prevê ser “lícito convencionar o aumento progressivo das


prestações sucessivas.” Isto é, nos contratos de prestação continuada, em
razão de se estenderem no tempo, é permitido estabelecer aumento,
baseado em índices previstos pelas partes. A doutrina denomina essa
permissibilidade de cláusula de escala móvel.

➢ Art. 316 trata de cláusulas de escala móvel, que podem ter prestações
maiores ou que aumentam conforme certo índice.

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção


manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua
execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure,
quanto possível, o valor real da prestação.

➢ O art. 317 é conhecido como teoria da imprevisão. Só poderá ser aplicado a


contratos de execução continuada ou diferida. Fundamentação jurídica da
revisão - revisão do contrato com base na teoria da imprevisão.
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação
de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema
vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da
sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

➢ Art. 317 trata de cláusula geral, devendo ser analisada caso a caso.

➢ O art. 318. alude à nulidade das convenções de pagamento em moeda


estrangeira ou em ouro, exceto legislação especial, caso dos contratos
internacionais. Desse modo, não está autorizado utilizar moeda estrangeira
ou ouro para valorar a prestação, nem como indexador de correção.

➢ O devedor que paga a sua dívida, tem direito a exigir do credor a quitação
(prova do pagamento), estando autorizado a reter o pagamento, em caso de
recusa (art. 319, CC).

➢ O Código Civil estabelece 3 presunções que dispensam a quitação de


pagamento:

○ a) quando a dívida é representada por título de crédito, que se


encontra na posse do devedor (art. 324, do CC);

○ b) quando o pagamento é realizado em quotas periódicas, existindo


quitação da última (art. 322, do CC);

○ c) quando há quitação do capital, sem reserva de juros, que se


presumem pagos (art. 323, CC)

➢ Porém, nos casos exigidos, que são a regra, a quitação deve conter os
requisitos dispostos no art. 320 do CC.

○ A quitação deve ser dada pelo credor por escrito, por meio de
documento público ou particular.

○ Também será válida a quitação tácita, se de seus termos e


circunstâncias resultar haver sido paga a dívida (art. 320, parágrafo
único do CC)

➢ Se nada estiver previsto no contrato, presumem-se a cargo do devedor as


despesas com o pagamento e a quitação.

Do lugar do pagamento
Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes
convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da
obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre
eles

Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações


relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem

Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar
determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor

Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do
credor relativamente ao previsto no contrato.

➢ A regra geral - se o contrário não tiver sido estipulado no contrato (obrigação


portável –domicílio do credor - é de que o cumprimento da obrigação será
feita no domicílio do devedor (obrigação quesível).

➢ Se a obrigação consistir na entrega de um imóvel, o cumprimento se dará no


local do imóvel.

➢ Por derradeiro, prevê o art. 329 do CC que no caso de ocorrer motivo grave,
poderá o devedor efetuar o pagamento em outro local, sem prejuízo para o
credor. Se o motivo de descumprimento ocorrer sem culpa, não cabe perdas
e danos.

Do tempo do pagamento
➢ Se nada foi convencionado, a obrigação deve ser cumprida na data de
vencimento.

➢ Não é demais lembrar que as obrigações quanto ao tempo são classificadas


em:

○ Obrigações instantâneas (cumpridas de imediato, num único ato),

○ Obrigações diferidas (pagamento de uma só vez, no futuro) e

○ Obrigações de execução periódica (pagamento de trato sucessivo).

➢ Pelo artigo 331 do CC, pode o credor cobrar de imediato a dívida, salvo se
outra coisa tiver sido estipulada no contrato.

➢ Não é permitida a cobrança da dívida, antes do seu vencimento, exceto, nas


situações previstas pelo art. 333, CC (hipóteses de vencimento antecipado):

○ I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;


○ II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em
execução por outro credor;

○ III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do


débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a
reforçá-las.

➢ O inciso primeiro justifica-se pois se o credor aguardar o vencimento, correrá


o risco de não encontrar mais nenhum bem que satisfaça seu crédito.

➢ O segundo, em razão de não ter mais os bens garantidores destinados


exclusivamente ao pagamento da sua dívida.

➢ O último inciso, em razão de ter ficado sem garantia ou a garantia ter


passado a ser insuficiente para cobrir o montante da dívida.

Aula 20/08 - Formas Especiais de


Pagamento
Consignação
➢ Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial
ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais.

➢ Caso haja impossibilidade ou extrema onerosidade por parte do credor para


que o devedor realize o pagamento, é possível a realização da consignação
em pagamento, que é o depósito de quantia certa judicial ou
extrajudicialmente.

➢ A consignação é um meio indireto de adimplemento, que pode ser realizada


para que o devedor se liberte da obrigação, ou quando requerida pelo credor.

➢ O credor pode se recusar a receber o pagamento devido ao estado em que o


bem se encontra ou devido a divergências relacionadas a valores, etc. Já o
devedor tem interesse em pagar através da consignação pois assim ele se
livra dos juros e responsabilidades advindas do inadimplemento.

➢ CPC arts. 539 a 549 tratam das questões procedimentais da consignação em


pagamento. O CC trata das hipóteses que permitem a realização desse
método de adimplemento nos artigos 334 a 345.
Objeto de consignação
➢ Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue
no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou
mandar recebê-la, sob pena de ser depositada.

➢ Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele


citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a
coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á
como no artigo antecedente.

➢ Podem ser consignados tanto quantias pecuniárias quanto bens móveis e


imóveis (com a consignação das chaves)

Dívidas de dinheiro
Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer,
com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida.

§ 1º Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em


estabelecimento bancário, oficial onde houver, situado no lugar do pagamento,
cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento, assinado o prazo de
10 (dez) dias para a manifestação de recusa.

§ 2º Decorrido o prazo do § 1º, contado do retorno do aviso de recebimento,


sem a manifestação de recusa, considerar-se-á o devedor liberado da obrigação,
ficando à disposição do credor a quantia depositada.

§ 3º Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário,


poderá ser proposta, dentro de 1 (um) mês, a ação de consignação, instruindo-se a
inicial com a prova do depósito e da recusa.

§ 4º Não proposta a ação no prazo do § 3º, ficará sem efeito o depósito,


podendo levantá-lo o depositante.

➢ Para que o devedor realize o pagamento através da consignação, ele deve


depositar o dinheiro no banco, notificando o credor através de carta com
aviso. Após a assinatura do credor, ou seja, após ele ser notificado sobre o
depósito, ele tem 10 dias para se manifestar recusando o pagamento. Caso
ele não se manifeste, o devedor é liberado da obrigação. Se o credor se
manifestar recusando, o devedor tem um mês para propor ação judicial ou
para realizar o pagamento em dinheiro, se não fizer nenhuma das duas
opções, o depósito será ineficaz e ele continuará inadimplente.
Hipóteses de consignação em pagamento
➢ Art. 335. A consignação tem lugar:

I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou
dar quitação na devida forma;

II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição
devidos;

➢ Nesse caso, trata-se de convenção entre as partes na qual se estabelece que


o credor será quem estará responsável por ir até o devedor para que o
pagamento seja realizado (dívida quesível)

III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou


residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;

IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do


pagamento;

V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

Requisitos de validade
➢ Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister
concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os
requisitos sem os quais não é válido o pagamento.

➢ Para que a consignação seja considerada válida é necessário que haja

○ Legitimidade: tanto o devedor/terceiros interessados quanto o credor


podem realizar ou requerer o pagamento por consignação. No caso
dos credores, o CPC permite que, havendo multiplicidade de credores,
um deles pode exigir que o devedor o pague através de consignação

➢ Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto


que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for
julgado improcedente.

○ O pagamento deve ser realizado em sua integralidade, ou seja, devem


ser pagos os valores inteiros, acrescidos de juros de mora caso a
dívida já tenha vencido e corrigidos.

➢ Art. 545. Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em


10 (dez) dias, salvo se corresponder a prestação cujo inadimplemento
acarrete a rescisão do contrato.
○ Art. 545 CPC permite que, caso não haja o pagamento integral, o juiz
determine um prazo para que o devedor complemente o valor que esta
faltando.

➢ A mora não impede a consignação.

Competência
➢ A consignação deve ser realizada no local onde a obrigação deveria ser
cumprida. Se for uma obrigação portável, ocorrerá na sede do devedor e se
for quesível, na sede do credor.

Levantamento
Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o
impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas
despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de direito.

Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo,


embora o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores.

Art. 340. O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito,


aquiescer no levantamento, perderá a preferência e a garantia que lhe competiam
com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados os co-devedores e
fiadores que não tenham anuído.

➢ O levantamento é o "arrependimento" do devedor, que deseja recuperar os


valores pagos em consignação

➢ O levantamento é possível quando ele ocorre antes de o devedor se


manifestar. Porém, o devedor deve arcar com os custos bancários e continua
inadimplente.

➢ Caso o credor já tenha se manifestado e recuse o levantamento, ele aceita a


dívida e a obrigação se extingue.

➢ Caso o credor se manifeste concordando com o levantamento, ele perde a


preferência e garantia que possuía, surgindo uma nova dívida chamada de
novação, que libera os credores e fiadores anteriores.

Revisão contratual
➢ É possível que se revise os valores do contrato na ação consignatória? De
acordo com o atual entendimento do STJ é possível a revisão quando
presentes as hipóteses materiais de revisão. Ex. nulidade de uma cláusula.
Pagamento com sub rogação
Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:

I - do credor que paga a dívida do devedor comum;

II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem


como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre
imóvel;

III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser
obrigado, no todo ou em parte.

➢ O pagamento com sub rogação é uma forma de pagamento que extingue a


dívida em relação ao credor inicial, porém mantém a obrigação do devedor
pagar essa dívida à terceiro. Dessa forma, há extinção da dívida apenas em
relação ao credor.

Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios
e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os
fiadores.

➢ O terceiro que pagar a dívida assume o lugar do credor, podendo cobrar do


devedor inicial a dívida e os seus acessórios (caso haja garantias, elas
permanecem)

➢ A sub rogação possui dois efeitos:

○ Satisfativo, se dá com o adimplemento, ou seja, há o pagamento da


dívida para o credor inicial

○ Translativo, que ocorre quando há a ocupação do cargo de credor pelo


terceiro que pagou a dívida.

➢ Art. 351. O credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência ao


sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens do devedor não
chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever.

➢ Caso o pagamento seja parcial, o credor original tem preferência sobre o


terceiro que pagou a dívida.

Sub rogação e cessão


➢ A sub rogação distingue-se da cessão pois a sub rogação é uma forma de
adimplemento da obrigação, enquanto a cessão é uma forma de
transferência, circulação do crédito. A sub rogação tem como objetivo garantir
a recuperação da dívida paga, enquanto a cessão tem como objetivo a
circulação de crédito.

➢ Na cessão há sub rogação dos direitos, porém são institutos distintos.

Classificação da sub rogação


➢ Real x Pessoal

○ Real: é aquela em que há alteração na coisa da obrigação. Ex. a


obrigação era de entregar a propriedade X e entrega-se a Y

○ Pessoal: é aquela em que há a alteração do sujeito da obrigação, que


deixa de ser o devedor para se tornar o credor.

➢ Legal x Convencional

○ Legal: sub rogação que decorre da lei. As hipóteses de sub-rogação


legais estão previstas no art. 346

■ Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:

I - do credor que paga a dívida do devedor comum;

● Esse é o caso em que, havendo múltiplos credores, o


credor que não possui preferência, paga a dívida ao que
possui preferência para assumir seu lugar.

II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor


hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o pagamento
para não ser privado de direito sobre imóvel;

● Quando alguém adquire um imóvel com hipoteca, mas


não deseja manter essa possibilidade de perder o imóvel
caso o devedor não pague a dívida, ele pode pagar a
dívida pelo devedor, podendo então, cobrá-lo.

● A segunda parte trata, por exemplo, do locatário que


paga a dívida do locador para poder se manter no
imóvel.

III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou


podia ser obrigado, no todo ou em parte.

● Ex. de terceiro interessado = fiador.

○ Convencional: expressamente estabelecida entre credor e sub-rogado


ou entre devedor e sub-rogado. As hipóteses de sub-rogação
convencional estão previstas no art. 347. Nesses casos, a
sub-rogação não é automática, devendo estar expressamente prevista
entre credor ou devedor e sub-rogatário.

■ Art. 347. A sub-rogação é convencional:

I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e


expressamente lhe transfere todos os seus direitos;

II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia


precisa para solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o
mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.

Tutela processual
➢ Para que o terceiro que pagou a dívida possa cobrá-la, ele pode ingressar
com uma nova ação de regresso (art. 130 CPC) ou pode utilizar dos institutos
do chamamento ao processo ou denunciação à lide. (art. 125, II CPC)

Aula dia 26/08


Imputação em pagamento
➢ A imputação em pagamento ocorre quando o devedor possui mais do que
uma dívida com o credor. Porém, por não poder pagar todas elas, escolhe
uma das dívidas para pagar, indicando ao credor qual estará sendo paga.

Requisitos
➢ Pluralidade de dívidas

➢ Identidade de partes - a pluralidade de dívidas deve-se dar entre o mesmo


credor e o mesmo devedor. No entanto, é possível que haja pluralidade de
partes na obrigação geral.

➢ Natureza idêntica das dívidas - caso haja dívidas distintas (ex. obrigação de
entregar bois e obrigação pecuniária), não será necessário indicar qual delas
estará sendo paga

➢ Possibilidade de adimplemento integral da obrigação - ninguém é obrigado a


receber valor inferior ao contratado. (art. 314)

➢ Dívida líquida (certa e quantificada) e exigível (vencida)


Modalidades de imputação
➢ Feita pelo devedor

Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma


natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece
pagamento, se todos forem líquidos e vencidos.

○ A imputação, via de regra, é feita pelo devedor

○ A imputação feita pelo devedor é um direito que ele possui e que


coloca o credor em situação de sujeição, uma vez que não pode negar
a escolha sem motivo. Caso negue sem apresentar um motivo, o
credor ficará em mora.

➢ Feita pelo credor

Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas
e vencidas quer imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma
delas, não terá direito a reclamar contra a imputação feita pelo credor,
salvo provando haver ele cometido violência ou dolo

○ Caso o devedor não se manifeste, o credor poderá fazer a imputação


no momento de quitação. O devedor não pode recusar a escolha feita
pelo credor, a menos que ele consiga comprovar que o credor utilizou
de violência ou dolo. Nesse caso, há um prazo decadencial de 4 anos
para que o devedor busque a nulidade do pagamento.

➢ Imputação legal

Art. 355. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352 , e a quitação


for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e
vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e
vencidas ao mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.

➢ É possível ainda que a imputação se dê por motivos legais. Isso ocorre


quando nem o devedor indica a dívida que será paga e nem o credor escolhe
a dívida. Nesse caso, a lei traz que será paga a dívida vencida primeiro. Caso
todas vençam ao mesmo tempo, será paga a mais onerosa (onerosidade
nesse caso não significa maior valor pecuniário, se a dívida tiver uma
garantia, por exemplo, o devedor poderá considerá-la mais onerosa). Caso
todas as dívidas sejam igualmente onerosas, o código não traz nenhuma
solução, mas adota-se o previsto no cc/1916, que falava na divisão parcial do
pagamento entre todas as dívidas.
Art. 354. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro
nos juros vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário,
ou se o credor passar a quitação por conta do capital.

➢ Havendo juros, o pagamento será feito primeiro sobre os juros vencidos.

Aula 27/08
Dação em pagamento
➢ A dação em pagamento ocorre quando as partes, de livre e espontânea
vontade, decidem pela entrega de coisa diversa da acordada para adimplir a
obrigação.

➢ O credor deve concordar com a dação pois não é obrigado a receber coisa
diversa do que foi acordado.

➢ Exemplo: cliente não possui dinheiro para pagar os honorários do advogado


e como forma de adimplir a obrigação lhe entrega um carro.

➢ Parte da doutrina entende que, caso a obrigação fosse de entregar coisa


material e haja troca para prestação pecuniária, não há dação, mas
indenização. Porém, entende-se (prof. Dóris) que só há indenização se houve
perecimento da coisa.

Requisitos
➢ Existência de uma dívida (vínculo preexistente)

➢ Concordância por parte do credor em receber coisa diversa

➢ Entrega de coisa diversa da pactuada - natureza distinta das coisas.

➢ O credor pode receber coisa de valor inferior, ficando a dívida parcialmente


adimplida ou extinta caso ele a perdoe.

Novação
➢ A novação é a extinção de uma obrigação com a subsequente criação de
uma nova dívida. Dessa forma, a novação é uma forma extintiva não
satisfativa.
➢ Aplicação nas relações entre clientes e banco, quando, devido à incidência
de multas e juros, o cliente não tem como pagar a dívida, ela é extinta e
cria-se uma nova obrigação.

➢ Conteúdo dúplice:

○ Extingue uma dívida

○ Cria outra obrigação

○ A nova obrigação criada pode possuir cláusulas completamente


diferentes, mudando a forma, o valor, as garantias, etc.

Requisitos
➢ Existência de dívida anterior

➢ Concordância expressa ou tácita. Deve ser inequívoca a vontade de novar.


(Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a
segunda obrigação confirma simplesmente a primeira.)

➢ A dívida deve ser substancialmente nova, não bastando que haja a alteração
do prazo, por exemplo.

➢ Não pode ser objeto de novação as obrigações extintas ou nulas (ex.


obrigação realizada com incapaz ou obrigação que pereceu)

Espécies de novação
➢ Objetiva: ocorre a novação objetiva quando há a alteração do objeto do
contrato. Exemplo: a obrigação era uma obrigação de fazer e transforma-se
em uma obrigação de dar. Se diferencia da dação, porque nesta a entrega
quita a dívida.

➢ Subjetiva: há alteração dos credor/devedor. Nesse caso, não basta que haja
alteração dos sujeitos, deve-se haver também substancial alteração
contratual, caso contrário seria apenas uma cessão.

➢ Mista: alteração do objeto e do sujeito.

Novação subjetiva
➢ Alteração da figura do devedor.

➢ Expromissão: quando há a alteração do devedor da dívida sem o seu


consentimento. Ex. pai que assume a dívida do filho sem ele saber
➢ Delegação: quando há a alteração do devedor com o seu consentimento.

➢ A novação subjetiva diferencia-se da cessão pois há a alteração substancial


da obrigação.

Novação ativa:
➢ Alteração do credor com alteração contratual

➢ Na novação todas as garantias e privilégios se extinguem, enquanto na


cessão elas se mantêm.

Novação passiva
➢ Caso o devedor original passe a nova obrigação para um devedor insolvente,
ele ficará responsável? Não. Nesse caso, o credor que aceitou não tem
direito a ação regressiva perante o primeiro devedor, salvo se eles tiverem
estipulado o contrário.

Aula 02/09
Compensação
Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da
outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.

➢ A compensação é uma forma de extinção de obrigações recíprocas. Ocorre


quando duas pessoas são credoras e devedoras entre si de obrigações
distintas.

➢ Os efeitos extintivos da compensação abarcam os juros e efeitos de mora em


geral.

Modalidades
➢ Total ou parcial:

○ A compensação total ocorre quando ambas as prestações se


"anulam".

○ A compensação parcial ocorre quando alguma das obrigações não é


completamente extinta.

➢ Legal, convencional ou judicial


○ A compensação legal é aquela prevista na lei

○ A obrigação convencional é aquela estabelecida entre as partes

○ A compensação judicial é aquela em que, dentro de um processo, a


contraparte, ao invés de se defender demonstra que também possui
prestações que devem ser quitadas.

Requisitos compensação legal


➢ Para que seja possível a compensação, alguns requisitos devem estar
presentes, sendo eles:

○ Reciprocidade das obrigações

■ É necessário haver reciprocidade entre os credores/devedores.

■ Não pode ser compensado por terceiro, exceto seja um fiador


(art. 371)

○ Liquidez do crédito

■ A dívida deve possuir valor certo e determinado.

○ Exigibilidade da dívida

■ A dívida deve estar vencida.

○ Fungibilidade

■ As dívidas devem ser da mesma natureza, para que possam


ser substituídas. (art. 370)

Dívidas não compensáveis


➢ As dívidas podem não ser compensáveis em razão da vontade das partes ou
de previsão legal.

➢ As partes podem expressamente prever a impossibilidade de compensação,


fazendo com que não seja possível realizá-la.

➢ A impossibilidade de compensação legal ocorre quando o objeto da


compensação decorre de:

○ Roubo, furto, esbulho

○ A natureza do objeto não é suscetível de penhora

○ Se uma das coisas se originar de comodato, penhora ou alimentos


Confusão
➢ Ocorre a confusão quando há a união do credor e do devedor na mesma
pessoa.

➢ Isso ocorre, por exemplo, quando uma grande empresa possuía uma dívida
com uma empresa menor e, posteriormente, a empresa maior adquire a
empresa menor, de forma que o crédito que lhe era devido é extinto.

Espécies
➢ A confusão pode ser total ou parcial. Exemplo: filho que tinha uma dívida do
pai e, quando ele morre, recebe a herança que paga em parte a obrigação.
Não há, nesse caso, extinção total, apenas parcial.

Efeitos
➢ A confusão extingue a obrigação principal e seus acessórios

Cessação da obrigação
➢ Caso haja apenas uma confusão aparente, no momento em que ela deixar de
existir, a dívida deixa de estar extinta, restabelecendo-se a dívida anterior
com todos os seus acessórios.

➢ Exemplo: abertura da herança devido ao sumiço de alguém que depois


reaparece.

Remissão das dívidas


➢ A remissão consiste no perdão da dívida feita pelo devedor. Para que a
dívida seja extinta, o devedor deve consentir com o perdão.

➢ Não pode haver prejuízo para terceiro com a remissão da dívida (ex. fraude
contra credores)

➢ Se o perdoado não aceitar a remissão, pode realizar o pagamento em


consignação.

Espécies
➢ A remissão pode ser total ou parcial

➢ A remissão pode se dar de forma expressa ou presumida.


➢ De acordo com a lei, a dívida pode ser considerada remitida presumidamente
quando:

○ Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por


escrito particular, prova desoneração do devedor e seus co-obrigados,
se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir.

○ Art. 387. A restituição voluntária do objeto empenhado prova a


renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida.

Aula 10/09 - Inadimplemento das


obrigações
Conceito
➢ O inadimplemento é o não cumprimento de uma obrigação pactuada

Classificação
➢ Classificação clássica: divide a classificação do inadimplemento conforme
suas causas e efeitos:

○ Efeitos: podem ser absolutos ou relativos

○ Causa: pode ser imputável ou não imputável ao devedor

➢ Classificação moderna: divide a classificação do inadimplemento de forma


distinta, juntando a divisão anteriormente feita pela visão clássica:

○ Inadimplemento absoluta - não imputável e imputável ao devedor

○ Inadimplemento relativo - não imputável e imputável ao devedor


(mora)

○ Violação positiva do contrato - é o cumprimento defeituoso


Inadimplemento absoluto

Inimputável ao devedor
➢ Quando ocorre o inadimplemento inimputável ao devedor, a obrigação é
extinta e o devedor não responde pelas perdas e danos.

➢ O inadimplemento absoluto não imputável ao devedor ocorre quando há:

○ Impossibilidade absoluta no cumprimento da obrigação, que pode ser


de origem natural ou jurídica.

■ Exemplo: terremotos, tsunamis, perecimento, tombamentos,


etc.

○ Quando há a perda do interesse na prestação por parte do credor.

■ Exemplo: banda é contratada para tocar em uma festa de


formatura, mas não comparece no dia e propõe tocar em outro
final de semana. Não há mais interesse do credor nessa
contratação.

■ O desinteresse do credor deve ser justificado, não basta ele


alegar que não possui mais interesse.

Imputável ao devedor
➢ Quando há o inadimplemento absoluto por culpa do devedor, este deve pagar
pelo valor da prestação e pelas perdas e danos.

➢ Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do


contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos
casos, indenização por perdas e danos.

➢ Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos,
mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos, e honorários de advogado.

Inadimplemento relativo
Decorre em mora o devedor que não cumprir a obrigação no tempo e forma devidos
e o credor que não aceitar receber a obrigação conforme pactuado
Requisitos:
➢ Atraso do pagamento ou pagamento imperfeito

➢ Ação culposa

➢ Existência de interesse por parte do credor em receber a obrigação (caso não


haja mais interesse é um inadimplemento absoluto)

Espécies da mora
➢ Mora do credor (mora creditoris ou accipiendi):

○ Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o


pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e
forma que a lei ou a convenção estabelecer.

○ Quando o credor se recusa a receber a prestação sem motivo

➢ Mora do devedor (mora debitoris ou solvendi)

○ Ex re: ocorre automaticamente a partir do momento do


inadimplemento. Ex: a partir do momento em que há o vencimento de
um boleto já passa a incidir os prejuízos decorrentes da mora.

○ Ex persona: ocorre quando não há um termo estabelecido, não há


uma data de vencimento. Nesse caso, o credor deve notificar o
devedor para que cumpra a obrigação em determinado tempo. Se ele
não cumprir nesse tempo começa a incidir a mora.

Consequência da mora
➢ Quando há mora o credor pode:

○ Exigir o cumprimento do contrato cumulado com perdas e danos

○ Resolver o contrato e exigir perdas e danos

Purgação da mora
➢ A purgacao da mora é a neutralização de seus efeitos diante do
adimplemento da obrigação.

➢ Ocorre a purgacao quando

○ O devedor paga as parcelas vencidas + perdas e danos

○ O credor aceita o cumprimento da obrigação + perdas e danos

➢ Há uma divergência na doutrina em relação ao momento em que é possível a


purgação da mora. Há quem entende que somente até o ajuizamento da
ação, quem acredita que é possível até a apresentação de defesa pela parte
e quem acredita que é possível a qualquer momento do processo.

➢ Nos contratos de locação há uma previsão expressa de que a mora pode ser
purgada até 15 dias após a citação (prazo comum para a apresentação de
defesa), desde que a parte não tenha utilizado desse pedido nos últimos 24
meses. Essa previsão surgiu pois, na década de 80, muitos locadores
perceberam que valia mais a pena pagar o locatário com mora e investir o
dinheiro do que pagar no prazo devido. Assim, o locador não podia nem
cobrar a mora e nem despejar o devedor.

Efeitos da mora do devedor


➢ Quando o devedor esta em mora, ele responde pelos prejuízos a que sua
mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado. (art.
395)

➢ Caso o devedor já esteja em mora e ocorre um evento de força maior ele


contínua obrigado a pagar pelos prejuízos causados. Isso só não acontece
quando ele consegue comprovar que não houve culpa para que ele estivesse
em mora inicialmente e que, mesmo que não estivesse em mora, os danos
ainda teriam acontecido.

Impossibilidade temporária
➢ Inimputável ao devedor.

➢ A impossibilidade temporária ocorre quando, momentaneamente, não é


possível que o devedor cumpra a obrigação.

➢ Nesse caso, deve-se analisar se há a manutenção do interesse da prestação,


se não houver mais interesse a obrigação se torna absolutamente
inadimplente.

Violação positiva do contrato


➢ A violação positiva do contrato ocorre quando não se observa os deveres
laterais de conduta, decorrentes da boa-fé.

➢ Enunciado da CJF - o inadimplemento da boa-fé desecandeia o


inadimplemento da obrigação.

➢ Há divergência doutrinária em relação à necessidade de se haver ou não


culpa.
Configuração da violação positiva
➢ Existem duas hipóteses de ocorrência de violação positiva do contrato

○ Adimplemento da obrigação principal e inadimplemento da obrigação


de conduta. Ex. um pintor realiza a pintura de uma casa mas oportuna
as adolescentes que ali moram

○ Inadimplemento da obrigação principal e do dever de conduta.


Exemplo: entrega atrasada de maçãs e entrega de maçã podre que
contamina as demais.

➢ Jurisprudência: dever de informação.

Aula 17/09 - Consequências do


Inadimplemento
Perdas e danos
➢ As perdas e danos abrangem tanto os danos emergentes quanto os lucros
cessantes

Danos emergentes:
➢ São os prejuízos decorrentes de algum acontecimento.

○ Ex. em um acidente de carro os danos emergentes seriam aqueles


decorrentes do conserto do veículo.

Lucros cessantes:
➢ Correspondem aos valores razoáveis que a pessoa deixou de ganhar em
decorrência de algum acontecimento.

○ Exemplo: taxista que teve seu carro prejudicado por uma batida de
trânsito e não conseguiu utilizá-lo para trabalhar por 3 dias. Nesse
caso, além dos custos com o conserto, a parte que causou o dano
deve pagar também os valores que o motorista deixou de ganhar por
conta desse acidente. Esses lucros podem ser comprovados através
das anotações diárias, do imposto de renda ou da média dos
profissionais do setor.
○ De acordo com o STJ, os lucros cessantes são medidos através do
bom senso, ou seja, são aquilo que o bom senso diz que lucraria -
presunção de que os fatos se desenrolariam dentro de um curso
normal.

○ Quando o prejuízo observado se der em razão de uma quebra


contratual é possível que haja previsão no instrumento firmado, que
antecipa a indenização.

➢ Artigo 403. Somente é cabível o reparo de perdas e danos que decorreram


diretamente do evento em questão.

○ Exemplo: se um carro já estava com o pneu estragado e sofre um


acidente que danifica o parabrisa, não há por que o lesado pedir o
reparo do pneu.

➢ Art. 404. Aplica-se às perdas e danos correção monetária a partir do


momento de citação da outra parte. Cabe ainda juros, custas e honorários de
advogado.

Caso os juros e a correção não sejam suficientes para cobrir os prejuízos


sofridos pela parte, o juiz pode indicar valor adicional

Atualização monetária
➢ A atualização monetária tem como objetivo garantir que não haja perda de
valor do dinheiro. Para se assegurar a manutenção dos valores, utiliza-se de
índices que medem a inflação e a desvalorização da moeda.

➢ Alguns desses índices são:

○ IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo): leva em conta as


alterações que afetam famílias entre 1 e 40 salários mínimos.

○ INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor): leva em conta as


famílias que recebem entre 1 a 5 salários mínimos. É mais sensível à
alterações nos produtos mais consumidos por elas (ex. cesta básica).
Índice utilizado pelo TJSC.

○ IGP (Índice Geral de Preços): Não leva em conta nenhuma base


salarial fixa, mas se baseia em um conjunto de índices.

○ INCC (Índice Nacional de Custos de Construção): utilizado para medir


a desvalorização dos produtos, serviços, etc. na área da construção
civil.
○ IPA (Índice de Preços por Atacado): mede a variação de preços no
mercado atacadista.

Juros

Definição
➢ Os juros são o preço de uso do capital, considerados como frutos
(rendimentos)

Espécies
➢ Podem ser:

○ Juros compensatórios ou moratórios;

○ Convencionais ou legais e

○ Simples ou compostos

Juros compensatórios
➢ Os juros compensatórios são aqueles decorrentes do uso de dinheiro alheio -
do empréstimo

➢ O código civil não estabeleceu nenhum artigo que trata sobre juros
compensatórios, de forma que geralmente são previstos contratualmente.

➢ No caso de mútuo que se destinam a fins econômicos, seus juros


compensatórios observam o artigo 406 (que tratam sobre juros moratórios)

Juros moratórios
➢ Os juros moratórios são aqueles que incidem sobre o atraso no pagamento
das prestações. São um ressarcimento pelo atraso.

➢ Os juros moratórios podem ser convencionados entre as partes ou


decorrerem de lei.

➢ Caso não haja previsão em contrário, aplica-se o artigo 406, que limita a
cobrança de juros moratórios não convencionados à 1% ao mês (art. 161,
parágrafo primeiro - CTN)

➢ Há algum limite para os juros moratórios? O decreto de lei n. 22.626/33 (lei


da usura) limita a cobrança de juros moratórios ao dobro do estipulado pela
lei, ou seja, 2%. No entanto, a jurisprudência tende a fixar no 1% determinado
pelo art. 406.
➢ As partes podem convencionar valor superior, correndo o risco de terem que
pagá-lo.

➢ Mesmo que as partes não peçam pela aplicação dos juros moratórios,
considera-se esse pedido como implícito, de forma que o juiz deverá aplicá-lo
mesmo sem pedido.

Juros bancários
➢ As regras aplicadas aos juros estabelecidos entre pessoas comuns não são
as mesmas daquelas aplicadas às instituições financeiras.

➢ Há uma divergência entre as súmulas que regulam essa matéria, de forma


que, parte delas trata da aplicação do CDC às instituições bancárias e parte
permite uma cobrança considerada abusiva

➢ Súmula 297. O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições


financeiras.

➢ Súmula 283. As empresas administradoras de cartão de crédito são


instituições financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados
não sofrem as limitações da Lei de Usura.

➢ Súmula 530. Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a


taxa de juros efetivamente contratada - por ausência de pactuação ou pela
falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa média de
mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie,
salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor.

➢ O entendimento do STJ é no sentido de que os juros bancários não são


excessivos desde que respeitem a taxa média de juros do mercado.

Cálculo de Juros
➢ Juros simples: o cálculo é realizado incidindo a taxa de juros sobre o valor
inicialmente devido.

➢ Juros compostos: são os juros que incidem sobre os juros - capitalização.

○ Em contratos entre particulares, a incidência de juros compostos


somente pode ocorrer anualmente.

○ Nos contratos com instituições financeiras, é permitida a capitalização


de juros mensalmente

○ Súmula 539 STJ - É permitida a capitalização de juros com


periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições
integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP
n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170-36/2001), desde que
expressamente pactuada. (SÚMULA 539, SEGUNDA SEÇÃO, julgado
em 10/06/2015, DJe 15/06/2015)

Aula 18/09 - Cláusula Penal e Arras

Cláusula penal
➢ A cláusula penal consiste em um pacto acessório em que se estipulam penas
ou multas contra aquele que deixar de cumprir uma obrigação de forma
culposa.

➢ A cláusula penal deve ser convencionada entre as partes juntamente com a


obrigação principal ou através de adendo.

Funções da cláusula penal


➢ A cláusula penal possui uma função dupla de prefixar perdas e danos
(cláusula penal compensatória) e de coagir o devedor a cumprir a obrigação
no tempo e pela forma devida (cláusula penal moratória)

➢ As partes podem estabelecer uma cláusula penal compensatória e uma


moratória no mesmo contrato.

Cláusula penal moratória


➢ Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em
segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de
exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da
obrigação principal.

➢ A cláusula penal moratória tem como objetivo incentivar o cumprimento de


outra obrigação. Ela incide sobre o atraso no adimplemento da obrigação
principal.
Cláusula penal compensatória
➢ Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total
inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício
do credor.

➢ Tem como objetivo compensar o credor pelo inadimplemento absoluto da


obrigação.

Efeitos
➢ Quando há o inadimplemento absoluto da obrigação, o credor pode escolher
entre:

○ Cobrar o valor da cláusula compensatória

○ Cobrar o valor das perdas e danos, havendo nesse caso o ônus de


comprovar as perdas

➢ Quando há mora, o credor poderá cobrar o valor da obrigação principal mais


os valores decorrentes do atraso. Não é possível nesse caso a cumulação
com lucros cessantes.

Valor da cláusula penal


➢ O valor da cláusula penal compensatória não pode exceder o valor da
obrigação principal, caso isso ocorra a cláusula será considerada nula

➢ Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder
o da obrigação principal.

➢ É possível que as partes estabeleçam contratualmente a possibilidade de


combinação da cláusula penal compensatória com perdas e danos. Nesse
caso, a cláusula penal funciona como cobrança mínima. Mas para isso ser
possível deve haver previsão contratual.

➢ Em relação às cláusulas moratórias, não há disposição legal, mas entende-se


jurisprudencialmente que há um limite de cobrança de 10% mensais.

➢ Situações específicas:

○ Art. 1336, par. 1 do Código Civil - 2% (condomínio edilício)

○ Art. 52, par. 1 do CDC (contratos que envolvam outorga de crédito ou


concessão de financiamento ao consumidor)
○ Dec. lei 58//37 e lei 6.766/79 - 10% (compromisso de compra e venda
de imóveis loteados)

○ Contratos civis - até 10% (lei da usura, art. 8 e 9)

Redução da cláusula penal


➢ Art. 413. A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a
obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da
penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a
finalidade do negócio.

➢ De acordo com o artigo 413, é possível que o juíz reduza equitativamente o


valor da cláusula penal se ele a considerar excessiva ou se, em uma
obrigação de trato sucessiva, a obrigação já tiver sido cumprida em parte.

➢ Para a redução, o juiz deve analisar a natureza e a finalidade do negócio.

➢ Lei 13.786 de 2018 trouxe novas regras para o desfazimento de contratos de


alienação de imóveis celebrados em regime de incorporação imobiliária ou de
loteamento. O novo dispositivo estabelece os limites da cláusula penal
aplicável às hipóteses de resolução contratual por inadimplemento do
adquirente: até 25% dos valores pagos para os casos em geral (inciso II) e
até 50% nas incorporações submetidas ao patrimônio de afetação (parágrafo
5)

Arras
➢ As arras são valores em dinheiro ou bens que são dados pelo devedor no
momento de conclusão do contrato (assinatura) como forma de i) prefixar
perdas e danos (arras penitenciais) ou como forma de ii) garantir o
adimplemento da obrigação (arras confirmatórias).

Arras confirmatórias
➢ Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a
título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de
execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo
gênero da principal.

➢ Caso haja execução e as arras dadas forem do mesmo gênero da obrigação


principal (ex. dinheiro), elas serão computadas na prestação devida, se não
forem do mesmo gênero serão restituídas.
➢ As arras confirmatórias funcionam como garantia.

➢ Não há direito ao arrependimento

Descumprimento contratual
➢ Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra
tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras,
poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução
mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado.

➢ Se a parte inocente for quem:

i. Recebeu a arras: poderá reter o valor/objeto como indenização

ii. Pagou as arras: poderá exigir o retorno do valor/objeto +


descumprimento do contrato.

Possibilidade de cumulação com indenização


➢ Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar
maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte
inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as
arras como o mínimo da indenização.

➢ Caso seja comprovado prejuízo excedente, é possível a cobrança de


indenização suplementar, servindo as arras como valor mínimo de
indenização.

Arras penitenciais
➢ As arras penitenciais surgem quando as partes estipulam o direito de
arrependimento, nesse caso, as arras funcionam como indenização

➢ Caso a parte inocente seja:

i. Quem recebeu as arras, poderá mantê-la como indenização

ii. Quem pagou as arras, deverá recebê-las de volta + o valor do contrato

➢ Nesse caso não é possível a combinação com indenização.

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