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DO CONTRATO DE EMPRÉSTIMO:

MÚTUO E COMODATO
• Noções Introdutórias
– O contrato de empréstimo é aquele em que uma
pessoa disponibiliza algo para outra, aguardando a
devida devolução. Na percepção de Cristiano Chaves e
Nelson Rosenvald:
– “ De fato, a natural impossibilidade de uma pessoa
obter todas as satisfações materiais que pretende
justificar, de certo modo, o empréstimo, como um
mecanismo de permitir o acesso a bens que,
ordinariamente, não se poderia ter”.
• Espécies de Contrato de Empréstimo

– A depender do que será emprestado, o contrato de


empréstimo poderá ser considerado de comodato ou de
mútuo.

– Contrato de comodato é o empréstimo de um bem


infungível, também denominado empréstimo de uso, já
que o bem a ser devolvido será exatamente o bem
emprestado.
– Já o contrato de mútuo se trata do empréstimo de um
bem fungível, sendo também chamado de empréstimo de
consumo, uma vez que o bem a ser desenvolvido não
precisará ser exatamente o bem emprestado. A análise de
cada um deles, será detalhada a seguir.
Do Contrato de Comodato
– Etimologicamente, comodato vem do latim commodum
datum, que quer dizer dar comodidade a alguém. Com o
aperfeiçoamentos jurídicos inevitáveis, por comodato hoje
se tem o negócio pelo qual se empresta um bem infungível,
seja móvel ou imóvel, a outrem para que seja devolvido
exatamente o mesmo bem àquele que o emprestou.
– Excepcionalmente, é possível enquadrar na figura contratual
o empréstimo de um bem infungível em que as partes por
força da convenção estipularão exatamente a devolução
daquele mesmo bem. A esse comodato dá-se o nome de
comodato ad pompae vel ostentationes causa. Ex: o
empréstimo de objetos para ornamentação ou enfeite.
• As partes no Contrato de Comodato
– As partes em um contrato de comodato são o COMODANTE e o
COMODATÁRIO. O comodante é aquele que disponibiliza o bem a outrem, é
aquele que empresta. O comodatário é aquele que recebe o bem com a
obrigação de restituí-lo.
• Natureza Jurídica
– O contrato de comodato deve ser considerado um contrato UNILATERAL,
uma vez que apenas uma das partes arcará com a obrigação. GRATUITO, já
que apenas uma das partes sofrerá sacrifício patrimonial. REAL, uma vez que
se perfaz com a entrega da coisa. TÍPICO, porque é disciplinado pelo CC (arts.
579 a 585,CC). INFORMAL, já que não há imposição legal de forma para a
realização do contrato.
• Aspectos subjetivos relevantes no contrato de comodato
– O comodante não precisa necessariamente ser o proprietário, basta que
tenha a posse direta da coisa. Tanto é assim que o usufrutuário e
superficiário podem dar bens em comodato a terceira pessoa.
– O Código Civil em seu art. 580 estabelece a impossibilidade de concessão de
um bem em comodato pelos tutores, curadores e administradores em geral.
• Obrigações do comodatário e efeitos do contrato de
comodato
– O comodatário, já que tem a posse direta da coisa, deverá
conservá-la como se sua fosse. Desse modo, deverá
empregar a diligência que o próprio proprietário emprega na
administração e conservação de seus bens. Ademais, o
comodatário deverá utilizar a coisa dando a ela a finalidade
compatível com a sua natureza ou convencionada no
contrato, sob pena de responder por perdas e danos.
–  O comodatário não poderá cobrar do comodante as
despesas feitas com o uso e gozo da coisa, podendo exigir
apenas as despesas extraordinárias porventura necessárias.
Ex: A deu em comodato sua casa de praia a B. As despesas
que B tiver com a casa, não poderão ser cobradas de A,
porém, B pode cobrar benfeitorias necessárias.
– Se o contrato estipular prazo, em havendo seu término, o
comodatário deverá restituir a coisa. Ao contrário, se o
contrato for por prazo indeterminado, a devolução da coisa
será imperiosa após o curso do lapso temporal previsto na
notificação feita pelo comodante ao comodatário para a
devolução da coisa. Caso não haja a devolução, o art. 582
do CC estabelece que o comodatário deverá arcar com o
pagamento de um aluguel. Há manifestação doutrinária
criticando a nomenclatura “aluguel”. O entendimento
adequado, é que a palavra “aluguel” deve se referir a uma
multa que será fixada tendo por base o valor de um
aluguel, caso se tratasse de contrato de locação (art. 582,
CC, e enunciado 180 do CJF). Caso não haja devolução do
bem, caberá, em se tratando de bem imóvel, o manejo de
ação de reintegração de posse, e em se tratando de bem
móvel, caberá ação de busca e apreensão.
– Em regra, se a coisa dado em comodato vier a se perder,
aplica-se a regra res perit domino, isto é, a coisa se perde para
o seu dono (o comodante, salvo na hipótese da coisa vir a se
perder por culpa do comodatário, deverá pagar ao comodante
o equivalente ao valor da coisa, e ainda, indenizá-lo por
perdas e danos arts. 138, 239, CC).
– Se a coisa dada em comodato correr o risco de se perder ou
deteriorar, o comodatário deverá protegê-la e salvá-la como
prioridade. Assim, ainda que o risco envolva bens próprios do
comodatário e o objeto do comodato, caso contrário
responderá o comodatário, ainda que a coisa tenha se
perdido por caso fortuito ou força maior (art. 583, CC).
– Sendo duas ou mais pessoas comodatárias de um bem, todas
serão consideradas responsáveis solidariamente pelo bem,
conforme disposição expressa do art. 585, CC. Trata-se
claramente de hipótese de solidariedade por imposição de lei.
• Comodato com prazo determinado e indeterminado
– Como já dito anteriormente, o comodato poderá ser realizado com prazo
determinado e indeterminado. No primeiro caso, observar-se-á o prazo
previamente estipulado para que após o seu transcurso surja para o
comodante o direito de exigir a coisa de volta. Exceção aventa-se no caso de
necessidade imprevista e urgente por parte do comodante que poderá exigir a
coisa antes do término do prazo estabelecido no contrato. Ex: A empresta uma
casa a B, por um prazo de 8 meses. Porém, 3 meses após a celebração do
contrato a outra casa que A possuía e residia com sua família é tomada por um
incêndio, vindo a se destruir totalmente. A agora sem lugar para sua família,
pode pretender a devolução da casa que havia dado em comodato a B.
– Em se tratando de contrato por prazo indeterminado, devem ser observados 2
aspectos: primeiro o cumprimento da finalidade a que a coisa se destinava (ex:
se empresto uma casa a A para que se realize nela um festival de inverno, findo
o inverno, já poderei exigir a casa de volta; e segundo, se a coisa não foi
emprestada com finalidade; premente se torna a necessidade de notificação
judicial ou extrajudicial ao comodatário, manifestando o desejo de retomar a
coisa. Caso o prazo dado na notificação tenha corrido e não tenha havido a
devolução da coisa, adentrará o comodatário aos efeitos da mora, com
imposição de indenização pela não devolução da coisa.
Do contrato de Mútuo
– Contrato de mú tuo é a figura negocial por meio da qual alguém
transfere a propriedade de uma coisa fungível e consumível a outra, e
esta se obriga a devolver outra da mesma espécie, qualidade e
quantidade.
– Por fungível tem-se o bem mó vel que pode ser substituído por outro
da mesma espécie, qualidade e quantidade (art. 85, CC). Quando, além
de fungível, menciona-se que o bem deverá ser consumível, deve ser
percebido que a noçã o de fungibilidade é mais ampla do que a de
consuntibilidade, isto é, a definiçã o do bem fungível abarcaria a de
bem consumível. Muitas vezes, exatamente porque o bem se destruiu,
impõ e-se a necessidade de sua substituiçã o por outro da mesma
espécie, qualidade e quantidade.
– Ressalte-se que, embora o contrato de mú tuo
também seja uma modalidade de contrato de
empréstimo, nã o se pode confundi-lo com o
comodato, pois nesse ú ltimo o que se empresta é
bem infungível e inconsumível.
MÚTUO COMODATO
Objeto: bem fungível e Objeto: bem infungível e
consumível inconsumível
Transfere-se a propriedade do Transfere a posse direta do
bem bem
Empréstimo de Consumo Empréstimo de Uso
• As partes no contrato de mútuo
– As partes no contrato de mú tuo sã o: MUTUANTE E
MUTUÁ RIO. Mutuante é aquele que empresta a coisa,
transferindo a propriedade do bem fungível a outrem.
Mutuá rio é aquele que recebe a coisa e assume a obrigaçã o
de devolver outra da mesma espécie, qualidade e
quantidade. Havendo falecimento do mutuá rio, essa
obrigaçã o será transmitida aos herdeiros deste, dentro das
formas da herança.

• Natureza Jurídica
– O contrato de mú tuo se manifesta como TÍPICO, é
disciplinado no Có digo Civil em seus arts. 586 ao 592, CC.
UNILATERAL, vez que apenas o mutuá rio tem obrigaçã o de
devolver a coisa. GRATUITO, posto sacrifício patrimonial de
apenas uma das partes.
• Da Restituibilidade
– No contrato de mú tuo há a translatividade do domínio da
coisa para o mutuá rio, ou seja, há a transferência da
propriedade da coisa ao mutuá rio. Porém, nã o é de todo
definitiva, já que deverá ser restituída.
– Conforme disposto no art. 590, CC o mutuante pode exigir
garantia da restituiçã o, se antes do vencimento o mutuá rio
sofrer notó ria mudança em sua situaçã o econô mica. A
restituiçã o se dará no prazo convencionado no contrato,
todavia, se for silente, deverã o ser observadas as seguintes
regras:
I. Até a pró xima colheita, se o mú tuo for de produtos agrícolas, assim
para o consumo, como para a semeadura;
II. De 30 dias, pelo menos, se for de dinheiro;
III. Do período de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer
outra coisa fungível.
• O Mútuo feito a menor
– A pessoa do mutuá rio deverá apresentar capacidade
de fato para contrair algo a título de empréstimo.
Caso contrá rio, deverá estar devidamente
representado ou assistido quando da celebraçã o do
contrato.
– Estreitando a perspectiva, nã o poderá ser exigida a
restituiçã o do que se deu a título de empréstimo
quando a pessoa a quem se deu o bem for um menor,
sem a autorizaçã o de quem lhe tem a guarda (pais
ou tutor). A regra esta prevista no art. 588, CC: “o
mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização
daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido
do mutuário, nem de seus fiadores”.
– Contudo, há algumas exceçõ es previstas no art. 589 do
CC, que autorizarã o a cobrança por parte do mutuante.
Sã o elas:
 Se a pessoa, de cuja autorizaçã o necessitava o mutuá rio
para contrair o empréstimo, ratificá -lo posteriormente.
A lei aqui aventa a possibilidade de ratificaçã o
superveniente.
 Se o menor, estando ausente o guardiã o, viu-se
obrigado a contrair o empréstimo para os seus
alimentos habituais. Nessa hipó tese, a lei nã o pode
deixar a deriva o mutuante, que diante do seu cará ter
emergencial, forneceu-lhe o necessá rio.
 Se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas,
em tal caso, a execuçã o do credor nã o lhes poderá
ultrapassar as forças. Essa hipó tese nem merecia ser
cogitada pelo legislador. A verdade, é que será
emancipado legalmente com essa possibilidade.
Se o empréstimo se reverteu em benefício do menor.
A possibilidade retromencionada se refere à situaçã o
em que, em virtude do mú tuo, o menor obteve algum
ganho patrimonial. Assim, protege-se o mutuante
que pode exigir o equivalente que emprestou de
volta, pois, caso contrá rio, ocorreria enriquecimento
ilícito em favor do menor, o que é vedado por lei
(arts. 884 a 886, CC).
Se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.
Essa ú ltima hipó tese reporta ao menor que oculta
sua idade ou se declara maior, para fins de enganar o
contratante. Como ninguém pode se beneficiar de
sua pró pria torpeza, a restituiçã o poderá se exigida
pelo mutuante. (art. 180, CC, com respaldo na boa fé
objetiva).
• O Mútuo Feneratício
– Mú tuo feneratício é a denominaçã o que se emprega para o
empréstimo de dinheiro a juros. Quando o mutuante
empresta dinheiro ao mutuá rio, há presunçã o de que os
juros terã o incidência automaticamente.
– Para que se compreenda como esses juros se manifestam é
importante notar a seguinte classificaçã o dos juros quanto à
sua finalidade:
a) Juros Compensató rios ou Remunerató rios: sã o aqueles que têm por
finalidade recompensar o uso do capital alheio, isto é , sã o devidos
em razã o da utilizaçã o de capital a outrem, como ocorre, por
exemplo, no mú tuo feneratício. Portanto, ainda que se pague em
dia, sã o devidos juros compensató rios ou remunerató rios. (art. 591,
CC).
b) Juros Morató rios: sã o aqueles que têm por finalidade indenizató ria
e terã o incidência na hipó tese de atraso no cumprimento da
obrigaçã o. Essa espécie de juros incide desde a constituiçã o em
mora da parte e independe de alegaçã o de prova de qualquer
prejuízo sofrido.
– Assim, tem-se a redaçã o do art. 591, CC:
– “Destinando-se o mútuo para fins econômicos, presumem-se devidos os
juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que
se refere o art. 406, permitida a capitalização anual”.
– Extrai-se do referido artigo, o seguinte:
– Os juros ali mencionados sã o compensató rios. Há presunçã o de
incidê ncia de tais juros, pois eles terã o cabimento independente da
previsã o contratual. O dispositivo legal admite a cobrança de juros
compostos, prá tica chamada anatocismo. A prá tica de anatocismo,
vedada em nosso ordenamento, pode ser admitida
excepcionalmente, quando há previsã o legal, como é o caso do artigo
mencionado. No silê ncio do contrato, os juros compensató rios serã o
calculados em seu limite má ximo, considerando a taxa já prevista no
art. 406, que se refere a juros morató rios. Art. 406, CC:
– “ Quando os juros moratórios na forem convencionados, ou o forem
sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei,
serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do
pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional”.
– Se houver dú vida em relaçã o à taxa a que se refere o art. 406, sabe-se
que pode ser a SELIC (Sistema Especial de Liquidaçã o e Custó dia) ou
ainda a taxa de 1% ao mês, estipulada no art. 161, § 1º do CTN. Há
posicionamentos do STF em relaçã o a ambas taxas.

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