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MÚTUO E COMODATO
• Noções Introdutórias
– O contrato de empréstimo é aquele em que uma
pessoa disponibiliza algo para outra, aguardando a
devida devolução. Na percepção de Cristiano Chaves e
Nelson Rosenvald:
– “ De fato, a natural impossibilidade de uma pessoa
obter todas as satisfações materiais que pretende
justificar, de certo modo, o empréstimo, como um
mecanismo de permitir o acesso a bens que,
ordinariamente, não se poderia ter”.
• Espécies de Contrato de Empréstimo
• Natureza Jurídica
– O contrato de mú tuo se manifesta como TÍPICO, é
disciplinado no Có digo Civil em seus arts. 586 ao 592, CC.
UNILATERAL, vez que apenas o mutuá rio tem obrigaçã o de
devolver a coisa. GRATUITO, posto sacrifício patrimonial de
apenas uma das partes.
• Da Restituibilidade
– No contrato de mú tuo há a translatividade do domínio da
coisa para o mutuá rio, ou seja, há a transferência da
propriedade da coisa ao mutuá rio. Porém, nã o é de todo
definitiva, já que deverá ser restituída.
– Conforme disposto no art. 590, CC o mutuante pode exigir
garantia da restituiçã o, se antes do vencimento o mutuá rio
sofrer notó ria mudança em sua situaçã o econô mica. A
restituiçã o se dará no prazo convencionado no contrato,
todavia, se for silente, deverã o ser observadas as seguintes
regras:
I. Até a pró xima colheita, se o mú tuo for de produtos agrícolas, assim
para o consumo, como para a semeadura;
II. De 30 dias, pelo menos, se for de dinheiro;
III. Do período de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer
outra coisa fungível.
• O Mútuo feito a menor
– A pessoa do mutuá rio deverá apresentar capacidade
de fato para contrair algo a título de empréstimo.
Caso contrá rio, deverá estar devidamente
representado ou assistido quando da celebraçã o do
contrato.
– Estreitando a perspectiva, nã o poderá ser exigida a
restituiçã o do que se deu a título de empréstimo
quando a pessoa a quem se deu o bem for um menor,
sem a autorizaçã o de quem lhe tem a guarda (pais
ou tutor). A regra esta prevista no art. 588, CC: “o
mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização
daquele sob cuja guarda estiver, não pode ser reavido
do mutuário, nem de seus fiadores”.
– Contudo, há algumas exceçõ es previstas no art. 589 do
CC, que autorizarã o a cobrança por parte do mutuante.
Sã o elas:
Se a pessoa, de cuja autorizaçã o necessitava o mutuá rio
para contrair o empréstimo, ratificá -lo posteriormente.
A lei aqui aventa a possibilidade de ratificaçã o
superveniente.
Se o menor, estando ausente o guardiã o, viu-se
obrigado a contrair o empréstimo para os seus
alimentos habituais. Nessa hipó tese, a lei nã o pode
deixar a deriva o mutuante, que diante do seu cará ter
emergencial, forneceu-lhe o necessá rio.
Se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas,
em tal caso, a execuçã o do credor nã o lhes poderá
ultrapassar as forças. Essa hipó tese nem merecia ser
cogitada pelo legislador. A verdade, é que será
emancipado legalmente com essa possibilidade.
Se o empréstimo se reverteu em benefício do menor.
A possibilidade retromencionada se refere à situaçã o
em que, em virtude do mú tuo, o menor obteve algum
ganho patrimonial. Assim, protege-se o mutuante
que pode exigir o equivalente que emprestou de
volta, pois, caso contrá rio, ocorreria enriquecimento
ilícito em favor do menor, o que é vedado por lei
(arts. 884 a 886, CC).
Se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.
Essa ú ltima hipó tese reporta ao menor que oculta
sua idade ou se declara maior, para fins de enganar o
contratante. Como ninguém pode se beneficiar de
sua pró pria torpeza, a restituiçã o poderá se exigida
pelo mutuante. (art. 180, CC, com respaldo na boa fé
objetiva).
• O Mútuo Feneratício
– Mú tuo feneratício é a denominaçã o que se emprega para o
empréstimo de dinheiro a juros. Quando o mutuante
empresta dinheiro ao mutuá rio, há presunçã o de que os
juros terã o incidência automaticamente.
– Para que se compreenda como esses juros se manifestam é
importante notar a seguinte classificaçã o dos juros quanto à
sua finalidade:
a) Juros Compensató rios ou Remunerató rios: sã o aqueles que têm por
finalidade recompensar o uso do capital alheio, isto é , sã o devidos
em razã o da utilizaçã o de capital a outrem, como ocorre, por
exemplo, no mú tuo feneratício. Portanto, ainda que se pague em
dia, sã o devidos juros compensató rios ou remunerató rios. (art. 591,
CC).
b) Juros Morató rios: sã o aqueles que têm por finalidade indenizató ria
e terã o incidência na hipó tese de atraso no cumprimento da
obrigaçã o. Essa espécie de juros incide desde a constituiçã o em
mora da parte e independe de alegaçã o de prova de qualquer
prejuízo sofrido.
– Assim, tem-se a redaçã o do art. 591, CC:
– “Destinando-se o mútuo para fins econômicos, presumem-se devidos os
juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que
se refere o art. 406, permitida a capitalização anual”.
– Extrai-se do referido artigo, o seguinte:
– Os juros ali mencionados sã o compensató rios. Há presunçã o de
incidê ncia de tais juros, pois eles terã o cabimento independente da
previsã o contratual. O dispositivo legal admite a cobrança de juros
compostos, prá tica chamada anatocismo. A prá tica de anatocismo,
vedada em nosso ordenamento, pode ser admitida
excepcionalmente, quando há previsã o legal, como é o caso do artigo
mencionado. No silê ncio do contrato, os juros compensató rios serã o
calculados em seu limite má ximo, considerando a taxa já prevista no
art. 406, que se refere a juros morató rios. Art. 406, CC:
– “ Quando os juros moratórios na forem convencionados, ou o forem
sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei,
serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do
pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional”.
– Se houver dú vida em relaçã o à taxa a que se refere o art. 406, sabe-se
que pode ser a SELIC (Sistema Especial de Liquidaçã o e Custó dia) ou
ainda a taxa de 1% ao mês, estipulada no art. 161, § 1º do CTN. Há
posicionamentos do STF em relaçã o a ambas taxas.