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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como finalidade abordar dois tipos de contrato: locação de coisas e
empréstimo.
A utilização do contrato nas questões que envolvem relações sociais é desde os tempos
mais antigo, nasceu a partir do momento em que as pessoas passaram a se relacionar e a viver
em sociedade. Com a evolução da sociedade, não há como desvincular o contrato, surgindo a
necessidade de conduzir os acordos para a obtenção de finalidades que atendam aos interesses
dos contratantes e da própria sociedade.
O ato de ceder algo a alguém para uso, mediante pagamento ou mesmo de emprestar
algo com fito de reaver o objeto, sempre foi utilizado ao longos dos anos e é possível verificar
a existência desse tipo contrato na história. Tal situação ocorria mediante as condições que o
homem se deparava.
O Código Civil de 2002 tratou por definir locação como sendo o contrato pelo qual
uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo da coisa
não fungível, mediante certa retribuição.
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CONCEITO
Segundo Tartuce (2014)
O contrato é um ato jurídico bilateral, dependente de pelo menos duas declarações de vontade, cujo
objetivo é a criação, a alteração ou até mesmo a extinção de direitos e deveres de conteúdo
patrimonial. Os contratos são, em suma, todos os tipos de convenções ou estipulações que possam ser
criadas pelo acordo de vontades e por outros fatores acessórios.

Dentre os vários tipos, o contrato a ser estudado, o contrato de locação de coisa é um


dos mais utilizados no cotidiano das relações sociais.
O contrato de locação está presente desde a procura por moradia, por negócios ou por
lazer. O código civil/2002, trata da locação de bens móveis e imóveis, este último (locações
imobiliárias) estão sujeitas a lei 8.245/1991 (lei de locações), que trata de imóveis urbanos,
levando em conta a sua destinação. Portanto, em relação ao imóveis, o CC/2002 tem aplicação
bem reduzida.
Sobre o conceito de locação de coisas, o art. 565 do Código Civil de 2002, “define
como, uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo
de coisa não fungível, mediante certa retribuição.”
Dessa forma temos a figura de um locador sendo proprietário de um bem ou mesmo
não sendo proprietário de um bem, mas tendo autorização para sublocar, resolve usufruir
economicamente deste bem, dando a posse direta do bem para outra pessoa, o chamado
locatário, e, esse locatário é quem vai utilizar a coisa como se fosse sua, mediante o
pagamento de uma remuneração (aluguel), dependendo de tipo de locação essa remuneração
pode ser em valor único (locação de um terno, única parcela) ou em parcelas dependendo da
quantidade do tempo (cem reais por dia aluguel de uma caçamba por exemplo) .

NATUREZA JURIDICA DO CONTRATO DE LOCAÇÃO


O contrato é bilateral, de um lado temos a pessoa do locador que tem a obrigação de
entregar a coisa e do outro lado tem o locatário que tem a obrigação de pagar a remuneração
chamada, aluguel, implicando assim, direitos e obrigações para ambos os contratantes.
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O contrato é oneroso, para que o locador receba o aluguel ele vai ter que abrir mão do
seu direito de usar a coisa, enquanto o locatário para poder usar a coisa vai ter que dá um
certo valor em dinheiro em favor do locador. Aqui ambas as partes obtêm proveito que advém
de um sacrifício.
O contrato é comutativo, pois no momento da formação do contrato as partes já sabem
quais são as prestações e os benefícios do contrato.
O contrato é consensual, basta o acordo de vontades para gerar efeito.
O contrato é informal e não solene, uma vez que se concretiza com a simples
declaração de vontade, nesse tipo de contrato, a lei não exige um instrumento especifico.
E o contrato é de execução continuada ou de trato sucessivo, geralmente pago
mensalmente.
ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA LOCAÇÃO
São três os elementos fundamentais para a locação de coisas: o objeto, o preço e o
consentimento.
O objeto de locação pode ser coisa móvel ou imóvel, destacando que na hipótese de
coisa móvel, esta deverá ser infungível (bens não substituíveis), pois para as coisas fungíveis,
aplica-se o contrato de mútuo.
Nos contratos de locação é possível que o objeto seja coisa por inteiro ou em frações,
bem como, se no contrato nada estiver estipulado em contrário, a abrangência dos acessórios
da coisa.
O preço deve ser real, determinado ou ao menos determinável. O preço poderá ser
fixado pelas partes, podendo sofrer reajuste de acordo com índices estabelecidos em lei. A
falta de pagamento do aluguel permite ao locador o direito de cobrar sob a forma de execução.
De regra, o pagamento do aluguel, bem como dos encargos da locação, deverá ser efetuado no
domicílio do locatário, no entanto, é comum ser convencionado outro lugar para o pagamento
(art. 327 do CC/2002).
O consentimento pode ser expresso ou tácito, não se exige, necessariamente, que seja
proprietário da coisa alugada, podendo a simples posse jurídica habilitar o possuidor a alugar.

OBRIGAÇÕES DO LOCADOR
As obrigações do locador estão nos artigos 566, 567 e 568 do código civil:
Art. 566. O locador é obrigado:

I - a entregar ao locatário a coisa alugada, com suas pertenças, em estado de servir ao uso a que se
destina, e a mantê-la nesse estado, pelo tempo do contrato, salvo cláusula expressa em contrário;
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II - a garantir-lhe, durante o tempo do contrato, o uso pacífico da coisa.


Art. 567. Se, durante a locação, se deteriorar a coisa alugada, sem culpa do locatário, a este caberá
pedir redução proporcional do aluguel, ou resolver o contrato, caso já não sirva a coisa para o fim a
que se destinava.

Art. 568. O locador resguardará o locatário dos embaraços e turbações de terceiros, que tenham ou
pretendam ter direitos sobre a coisa alugada, e responderá pelos seus vícios, ou defeitos, anteriores à
locação.

O locador assume a obrigação de entregar determinada coisa, com os acessórios, em


estado de servir ao uso a que se destina e assim mantê-la. Se não houver cumprimento de tais
deveres, o locatário poderá rescindir a locação, sem prejuízo das perdas e danos
Além disso, o locador é responsável pela manutenção da coisa, no sentido de que, ela
possa continuar exercendo a sua função para que não inviabilize a utilização dela pelo
locatário. Ocorrendo deterioração, e sem culpa do locatário, poderá este pleitear a redução do
valor ou encerrar o contrato.
O locador precisa garantir ao locatário o uso pacífico da coisa, resguardando o
locatário dos embaraços e turbações de terceiros.
A entrega da coisa ao locatário, não transfere a propriedade e sim a posse direta, ao
ponto que no final do contrato essa precisa ser devolvida.

OBRIGAÇÕES DO LOCATÁRIO

As obrigações do locatário estão no artigo 569 do código civil:


Art. 569. O locatário é obrigado:

I - a servir-se da coisa alugada para os usos convencionados ou presumidos, conforme a natureza dela
e as circunstâncias, bem como tratá-la com o mesmo cuidado como se sua fosse;

II - a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de ajuste, segundo o costume do
lugar;

III - a levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros, que se pretendam fundadas em


direito;

IV - a restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu, salvas as deteriorações naturais ao
uso regular.

A primeira obrigação do locatário é utilizar a coisa para uso convencionado e como se


fosse sua, inclusive pequenos reparos que são decorrentes da sua própria utilização.
Outra obrigação, é o pagamento do aluguel no prazo ajustado entre as partes, o não
pagamento caracteriza infração legal da locação, autorizando a rescisão e a retomada da coisa,
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e além disso, o locatário tem a obrigação de avisar e proteger o bem contra qualquer tentativa
de terceiro e ao final da locação, devolver a coisa no estado em que a recebeu, sem avaria,
salvo as deteriorações naturais do uso.

DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES DO CÓDIGO CIVIL


Empregando o locatário a coisa em uso diverso do acordado, poderá o locador
rescindir o contrato e exigir perdas e danos (art. 570 do CC).
O art. 571, CC/2002, trás dois pontos importante, havendo prazo fixo no contrato, o
locador não pode antes do vencimento reaver a coisa alugada, salvo, indenize o locatário pelas
perdas e danos resultantes da quebra do contrato. O outro ponto, o locatário somente poderá
devolver a coisa antes do prazo legal, pagando multa prevista no contrato proporcional ao
tempo que resta para o seu término.
Ao contratar por prazo determinado, havendo indenização excessiva, pelo tempo que
falta de pagar o aluguel, é atribuído ao juiz a faculdade de fixar em bases razoáveis. Art. 572,
CC/2002.
Ao término do prazo do contrato, extingue-se a locação, independente de notificação
ou aviso (art. 573, CC/2002) salvo se houver prorrogação tácita (art. 574, CC/2002).
Se locatário não devolver a coisa, a qualquer tempo e desde que vencido o prazo do
contrato, poderá o locador notifica-lo a restituir, aquele pagará enquanto estiver na sua posse,
o aluguel que o locador arbitrar na notificação, respondendo também por eventuais danos que
a coisa venha a sofrer, mesmo em decorrência de caso fortuito e força maior (art. 575 do CC).
Se o aluguel for excessivo, poderá o juiz reduzi-lo (parágrafo único).
Sendo alienada a coisa, o novo proprietário não será obrigado a respeitar o contrato, a
não ser que o contrato contenha cláusula de sua vigência (art. 576 do CC).
Morrendo o locador ou o locatário, os seus herdeiro assumem a posição contratual (art.
577 do CC).
Por fim, quanto às benfeitorias, o locatário tem direito de retenção quanto às
necessárias. Em relação às benfeitorias úteis, o locatário só terá direito de retenção se forem
autorizadas (art. 578 do CC).

LOCAÇÃO DE PRÉDIOS - LEI 8.245/1991 (LEI DO INQUILINATO)


Como já citado anteriormente, o código civil/2002, tem aplicação bem reduzida em se
tratado de locação de bens imóveis. Portanto, é a Lei 8.245/1991 que regula as locações dos
imóveis urbanos.
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A lei diz que quando não for estipulado de forma diversa, serão presumidamente
solidários os locadores ou os locatários (art. 2º).
Outro ponto é que as partes poderão estabelecer qualquer prazo para a locação, mas
caso estabeleçam prazo igual ou superior a 10 (dez) anos, o contrato dependerá de vênia
conjugal (art. 3º).
A lei estabelece inicialmente que o locador não tem direito de reaver o imóvel durante
o prazo estipulado entre as partes. Isto não acontece com o locatário, que pode desistir do
contrato caso atendidos os requisitos do art. 4º e do § 2º do art. 54-A.
Não pode o locatário, mesmo que de forma parcial, ceder, sublocar ou emprestar o
imóvel sem autorização prévia e escrita do locador (art. 13).
Morrendo o locador, o contrato passa para os herdeiros (art. 10). Morrendo locatário
ficarão sub - rogados nos seus direitos e obrigações (art. 11).
É livre a convenção do aluguel (art. 17). É lícito às partes fixar (art. 18). Tanto
locador quanto locatário tem deveres e obrigações (art. 22).
Locatário tem preferência no caso de venda, promessa de venda, cessão ou promessa
de cessão de direitos ou dação em pagamento para adquirir o imóvel locado (Art. 27).
Quanto as benfeitorias feita pelo locatário, seja elas necessárias bem como as úteis,
desde que autorizadas, serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção (Art.
35).
O locador no contrato de locação, pode exigir garantias (art. 37).

EMPRÉSTIMO
O empréstimo possui duas modalidades de contratos: o comodato (arts. 579 a 585 do
CC/2002) e o mútuo (arts. 586 a 592 do CC/2002).

COMODATO
Segundo o art. 579 do CC. “O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não
fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto”.

Segundo Gagliano (2021)


O comodato é um negócio jurídico unilateral e gratuito, por meio do qual uma pessoa transfere à outra
a posse de um determinado bem (móvel ou imóvel), com a obrigação de o restituir. É o empréstimo
gratuito de um bem infungível, ou seja, insubstituível.
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É dar a uma pessoa o uso de algo sem receber uma contraprestação. Pode usá-la e
mais tarde restituí-la.

CARACTERISTICAS DO COMODATO
É um contrato unilateral apenas uma parte obriga-se em relação à outra.
É gratuito, pois carreta ônus para o comodante e vantagem para o comodatário. É um
contrato benéfico.
O comodato é real só se completa com a tradição do objeto (Art 579). Com a
entrega do bem.
É infungível, pois a coisa emprestada deverá ser restituída.
É para uso temporário, podendo o prazo ser determinado ou indeterminado, nesse
caso, o tempo necessário para o uso concedido (art. 581, CC). Não existe comodato perpétuo,
pois tal implicaria doação.
O contrato é não solene, a lei não exige forma especial.
O administrador, quando na guarda do bem, não poderá ceder a um terceiro sem
autorização do juiz (art. 580, CC).

OBRIGAÇÕES DO COMODATÁRIO
Segundo o art. 582, CC o comodatário, a quem fora confiado o bem emprestado,
deverá conservá-lo como se seu próprio fosse, e usá-lo para o fim de acordo com o contrato
ou a natureza dele, sob pena de responder por perdas e danos. E em caso de mora, responde
pela perda e deterioração da coisa emprestada, sendo obrigado a pagar um aluguel até a sua
devolução.
Correndo eventual risco o objeto, responderá pelo dano ocorrido, ainda que pela
ocorrência de caso fortuito ou de força maior (art. 583 do CC/2002).
Outra obrigação é usar a coisa de forma adequada, não podendo ser usado para um
outro fim, se não de acordo com o contrato ou a natureza dele (art. 582, CC).
E por último, restituir a coisa ao comodato no prazo convencionado ou findo o
necessário uso concedido (art. 581, CC).
Uma observação ao artigo 584 do código civil, caso comodatário pretenda melhorar a
coisa para uso e gozo, este não poderá exigir nada, não terá direito a idenização.

EXTINÇÃO DO COMODATO
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Extingue-se o contrato de comodato pelo fim do prazo convencionado, se


indeterminado, esgotada a finalidade de sua utilização; em caso de descumprimento pelo
comodatário por resolução; por sentença do juiz a pedido do comodato por necessidade
imprevista e urgente e pela morte do comodatário, salvo, se o contrato for celebrado intuitu
personae.

MÚTUO
Segundo o art. 586 do CC/2002. “O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O
mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero,
qualidade e quantidade”.

Para Tartuce (2021)


O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis, sendo partes do contrato o mutuante (aquele que cede a
coisa) e o mutuário (aquele que a recebe). Em regra, trata-se de contrato unilateral e gratuito, exceção
feita para o mútuo oneroso. Além disso, o contrato é comutativo, real, temporário e informal.
No empréstimo mútuo, há a transferência do domínio da coisa emprestada para o
mutuário, e, este se torna proprietário, devido todos os risco dela desde a tradição (art. 587,
CC).
Como a coisa é transferida ao mutuário, trata-se de empréstimo de consumo, o que fica
obrigado a devolver não a mesma coisa, mas, outro do mesmo gênero, qualidade e
quantidade.

CARACTERISTICAS DO MÚTUO
Assim como no comodato, o mútuo é um contrato unilateral, entregue a coisa apenas o
mutuário assume obrigações.
É gratuito e oneroso. Gratuito quando não for fixada remuneração e oneroso se fixado
juros.
Real, pois, só se completa com a entrega da coisa a outra parte.
É fungível, empréstimo para consumo.
Uso temporário, não sendo convencionado terá prazos, conforme art. 592, e se
pérpetuo, será doação.
O contrato é não solene, forma é livre.

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Tartuce, Flávio,Manual de Direito Civil: volume único / Flávio Tartuce. – 11. ed. –
Rio de Janeiro, Forense; METODO, 2021

Gagliano, Pablo Stolze ; Pamplona Filho, Rodolfo Manual de direito civil: volume único /
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. – 5. ed. – São Paulo : Saraiva Educação,
2021.

Gonçalves, Carlos Roberto. Direito das obrigações, parte especial: tomo I, contratos/

Carlos Roberto Gonçalves. – 13. ed. – São Paulo : Saraiva, 2011

Gonçalves, Carlos Roberto Direito civil : direito das obrigações - volume 6 - tomo I :

parte especial : contratos / Carlos Roberto Gonçalves. – 20. ed. – São Paulo : Saraiva

Educação, 2018. – (Coleção sinopses jurídicas; v. 6, t. 1)

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