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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

APOSTILA DE DIREITO CIVIL

CONTRATOS EM ESPÉCIE

PROFESSORA CRISTIANE GRIBEL

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

DIREITO CIVIL – CONTRATOS EM ESPÉCIE

PROGRAMA DA DISCIPLINA E PROGRAMAÇÃO DAS AULAS:

Das Várias Espécies de Contratos – Contratos em Espécie


Artigos 565 ao 853 do Código Civil
Do Contrato de Locação até o contrato de Compromisso, último contrato típico tratado
pelo Código Civil

1. LOCAÇÃO DE COISA.
2. LOCAÇÃO PREDIAL URBANA. Análise dos dispositivos materiais da Lei n.º
8.245/91.
3. LOCAÇÃO PREDIAL RURAL.
4. EMPRÉSTIMO:
4.1. Comodato;
4.2. Mútuo.
5. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO.
6. EMPREITADA.
7. DEPÓSITO.
8. MANDATO.
9. COMISSÃO.
10. AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO.
11. CORRETAGEM.
12. TRANSPORTE.
13. SEGURO.
14. CONSTITUIÇÃO DE RENDA
15. JOGO E APOSTA.
16. FIANÇA.
17. TRANSAÇÃO.
18. COMPROMISSO.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: Os pontos mais importantes de cada contrato serão


distribuídos ao longo das aulas previstas para o nosso período letivo, já que no
programa não constam quais pontos de cada contrato devem ser abordados. No
entanto, e como forma de contribuição da professora para o estudo dos alunos,
constam na apostila todos os pontos considerados importantes para a compreensão
dos contratos.

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BIBLIOGRAFIA (ALGUNS EXCELENTE AUTORES PARA APROFUNDAMENTO


NOS ESTUDOS DA DISCIPLINA):

Carlos Roberto Gonçalves


Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho
Flávio Tartuce
Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves
Sílvio de Salvo Venosa
Caio Mário da Silva Pereira
Orlando Gomes
Marco Aurélio Bezerra de Melo
Sylvio Capanema de Souza (Doutrina Específica sobre a Lei do Inquilinato)

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LOCAÇÃO DE COISA

BASE LEGAL

Arts 565 a 578 CC – Capítulo V – Da Locação de Coisas


Lei 8.245/91 – Lei do Inquilinato (Dispõe sobre as locações dos imóveis urbanos e os
procedimentos a ela pertinentes).
Lei 4.504/64 – Estatuto da Terra (Arrendamento rural).

CONCEITO (art. 565 CC)

Contrato através do qual uma das partes se obriga a ceder a outra, por tempo
determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição.

DENOMINAÇÕES OU NOMENCLATURAS

III.1) Locador; senhorio e arrendador – Parte que se obriga a ceder o uso e gozo da
coisa, sendo que locador pode ser usado para qualquer modalidade de locação.
III.2) Locatário; inquilino e arrendatário – Parte que recebe o uso e gozo da coisa
cedida pelo locador, sendo que locatário pode ser usado para qualquer modalidade
de locação.
III.3) Aluguel; aluguer ou renda – Valor da retribuição pela locação.

NATUREZA JURÍDICA

Bilateral – Porque envolve prestações (obrigações) recíprocas para cada uma das
partes.
Comutativo – Há uma certeza de que haverá prestação e contraprestação.
Oneroso – Importa em vantagem e sacrifício para as partes. Existe uma remuneração
a ser paga pelo locatário.
Consensual – Se aperfeiçoa por simples consenso, não sendo necessária a tradição
como elemento constitutivo do contrato.
Não solene – A Lei não exige forma especial para o seu aperfeiçoamento e validade.

OBJETO

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Coisa móvel ou imóvel não fungível ou infungível (pela disciplina do Código Civil).
Imóvel urbano (Lei do Inquilinato), levando-se em consideração a destinação da
locação, ou seja, a sua finalidade, e não a localização geográfica do imóvel.
Imóvel rural (Estatuto da Terra), levando-se em consideração a destinação, e não a
localização geográfica.

PRAZO (arts. 570 a 575 CC)

A locação cessa ou termina, quando findo o prazo estabelecido, independente de


notificação ou aviso por parte do locador.
Findo o prazo, sem oposição do locador, prorroga-se por prazo indeterminado (se o
locatário continuar na posse por mais de 30 dias, por analogia a Lei do Inquilinato,
que prevê expressamente este prazo de inércia para que possa presumir-se esta
prorrogação – artigo 46 da Lei 8.245/91).
Se notificado, não restituir, pagará o aluguel arbitrado pelo locador:
aluguel pena  pela retenção indevida da coisa.
Se coisa móvel  não pagamento  rescisão do contrato c/c ação de reintegração
de posse, diante da não previsão expressa no CC em relação qual a medida cabível
para a retomada da coisa locada. Como o locador tem posse indireta, e o locatário
posse direta, em conformidade com o art. 1.197 do CC, esta recusa em entregar a
coisa configura esbulho, por privar o locador da posse efetiva sobre a coisa, razão
pela qual a ação de reintegração de posse tem cabimento, na forma do art. 1.210 do
CC.

2. LOCAÇÃO PREDIAL URBANA

I) OBJETO DA LEI 8.245/91 – ART. 1º

Lei do Inquilinato – imóvel urbano.


Não significa os imóveis localizados dentro de perímetro urbano, mas sim a
destinação econômica (moradia ou para a instalação de indústria ou comércio)

II) PRAZO DA LOCAÇÃO E VÊNIA CONJUGAL (ARTS. 3 e 4)

O contrato de locação pode ser celebrado por qualquer prazo, sendo desnecessária a
vênia conjugal.

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A vênia conjugal só é necessária na locação celebrada por prazo igual ou superior a


dez anos, como proteção a família, já que a locação por um período muito grande de
tempo, significa um verdadeiro ônus ao imóvel (art. 3º). Se não houver a concordância
do outro cônjuge, este só precisará respeitar o prazo de dez anos, podendo exigir a
extinção da locação com relação ao prazo excedente (denúncia do contrato no prazo
exorbitante aos dez anos, ajuizando a competente ação do despejo).
Durante o prazo de vigência da locação, o locador não poderá reaver o imóvel
locado, somente sendo possível (exceção à regra) nas causas do art. 9º da Lei (por
mútuo acordo, em decorrência de prática de infração legal ou contratual; em
decorrência da falta de pagamento do aluguel e demais encargos; para a realização
de reparações urgentes determinadas pelo Poder Público, que não possam ser
normalmente executadas com a permanência do locatário no imóvel, ou podendo, ele
se recuse a consenti-las). O locatário, porém, poderá devolvê-lo, pagando a multa
contratual segundo a regra estabelecida no art. 413 do CC (redução proporcional se a
obrigação tiver sido cumprida em parte), e na falta de convenção, a multa que for
judicialmente arbitrada (art. 4º).
A cláusula penal compensatória proporcional aos termos do contrato devida pelo
locatário somente será dispensada se a devolução do imóvel decorrer de
transferência determinada pelo seu empregador, privado ou público, para prestar
serviço em local diverso do imóvel locado, devendo notificar o locador com prazo de
30 dias, no mínimo, de antecedência (art. 4º - parágrafo único).
O locatário poderá denunciar a locação celebrada por prazo indeterminado mediante
aviso prévio e por escrito ao locador, com antecedência mínima de 30 dias, sendo
que na ausência do aviso, o locador poderá exigir a quantia correspondente a um
mês de aluguel e encargos, vigentes quando da resilição (art. 6º e parágrafo único).

III) AÇÃO CABÍVEL PARA RETOMADA: DESPEJO (ART 5)

Seja qual for o fundamento para o término da locação, a ação do locador para reaver
o imóvel locado é a de despejo.
A regra geral é de que não pode o locador reaver o imóvel durante o prazo
determinado no contrato; somente podendo fazê-lo nas exceções previstas no art. 9º
da Lei, que são hipóteses de retomada do imóvel motivadas (mútuo acordo; prática
de infração legal ou contratual pelo locatário; falta de pagamento do aluguel e
encargos e realizações de obras urgentes pelo Poder Público).
Por sua vez, o locatário pode devolver o imóvel antes do prazo ajustado no contrato,
pagando a multa proporcional (cláusula penal compensatória), prevista no contrato.
Estará, no entanto, dispensado do pagamento da multa se a restituição antecipada
decorre da transferência de emprego, devendo notificar o locador com antecedência
mínima de 30 dias.

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IV) TRANSMISSÃO DA LOCAÇÃO (ARTS 10 ao 13)

A morte do locador acarreta a transmissão da locação aos herdeiros (art. 10).


A morte do locatário acarreta a sub-rogação dos seus direitos e deveres ao cônjuge
ou companheiro sobrevivente, e sucessivamente aos herdeiros necessários e as
pessoas que viviam na dependência econômica do de cujus, desde que residentes no
imóvel (art. 11).
Em caso de separação, a locação prosseguirá com o cônjuge ou companheiro que
permanecer no imóvel (art. 12).
A cessão da locação, sublocação e o empréstimo do imóvel, total ou parcial,
dependem do consentimento prévio e por escrito do locador (art. 13).

V) DO DIREITO DE PREFERÊNCIA (ARTS 27 ao 33)

Manifestação em 30 dias;
Condômino tem privilégio em relação ao locatário;
Se preterido poderá reclamar do alienante as perdas e danos, ou;
Depositando o preço, haver para si o imóvel, desde que:
 requerer no prazo de 6 meses a contar do registro, e
 contrato de locação averbado pelo menos 30 dias antes da alienação.
Possibilidade de denúncia do contrato por prazo determinado em virtude da alienação
(art. 8º). A alienação confere direito ao novo proprietário (adquirente do imóvel locado)
de denunciar o contrato concedendo 90 dias para a desocupação pelo inquilino. A
denúncia deve ser feita, também, no prazo de 90 dias, contado do registro da venda
no Cartório de Imóveis. Se decorrer o prazo, sem a denúncia, presume-se que o novo
proprietário concorda com a manutenção da locação. Vale ressaltar a exceção a esta
regra: Se a locação for por prazo DETERMINADO e o contrato contiver cláusula DE
VIGÊNCIA (cláusula que prevê a continuidade da locação em caso de alienação),
estando registrado junto à matrícula do imóvel, deve o adquirente respeitar a locação
em todos os seus termos.

VI) BENFEITORIAS (ARTS. 35 e 36)

Só serão indenizadas as necessárias, em regra, e as úteis, se expressamente


autorizadas pelo locador, cabendo ainda o direito de retenção pelos seus valores;
As voluptuárias não são indenizáveis, podendo ser levantadas e retiradas do imóvel
pelo locatário ao término da locação, desde que não afete a coisa, alterando-lhe a
substância.
Validade da cláusula celebrada no contrato na qual o locatário renuncia,
expressamente, ao direito de indenização e/ou retenção das benfeitorias, conforme

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súmula 335 do STJ, cabendo discussão sobre ela se o contrato for configurado como
de adesão, o que não é fácil nas locações em geral.

VII) GARANTIAS LOCATÍCIAS (ART. 37 ao 42)

Caução, fiança, seguro-fiança e cessão fiduciária de quotas de fundo de investimento,


sendo que esta última foi incluída entre as modalidades de garantias locatícias pela
Lei 11.196 de 2005.
Caução: de bem imóvel (garantia real e deve ser registrada no REGISTRO DE
IMÓVEIS); de bem móvel (registro junto ao Cartório de Título e Documentos); de
títulos e ações (garantia que se equipara ao penhor) e em dinheiro (valor que
corresponda até 03 ALUGUÉIS depositados em caderneta de poupança);
Fiança: alguém assume a obrigação de pagar a dívida caso o devedor não efetue o
pagamento. Como regra, esta responsabilidade é subsidiária, salvo na hipótese de ter
renunciado ao benefício de ordem, ou ter se obrigado solidariamente com o locatário
nesta obrigação;
Seguro fiança: o locatário paga o prêmio do seguro. Esse seguro abrange todas as
obrigações do locatário, em caso de inadimplemento;
Cessão Fiduciária sobre cotas de fundos de investimentos, última espécie prevista na
Lei com base em alteração legislativa, cuja garantia recairá sobre estes
investimentos.
É vedado cumular mais de uma das modalidades das garantias num mesmo contrato
de locação (caso de nulidade do contrato), sendo lícito, entretanto, exigir o reforço da
mesma garantia, como pluralidade de fiadores, por exemplo;
Se a locação não estiver garantida por qualquer uma das garantias previstas em lei, o
locador poderá exigir do locatário o pagamento antecipado do aluguel, até o sexto dia
útil do mês vincendo, sendo esta uma das exceções em que pode ser cobrado o
aluguel antecipado (o que também é possível na locação por temporada).

VIII) LOCAÇÃO RESIDENCIAL (ART. 46 e 47)

Contrato escrito, com prazo igual ou superior a 30 meses. (Art. 46)


Termina (resolução) findo o prazo estipulado; independentemente de qualquer
notificação prévia;
Prorroga-se por prazo indeterminado, automaticamente, se o locatário permanecer na
posse do imóvel sem oposição do locador por mais de 30 dias;
Cabe denúncia vazia ou imotivada, podendo o locador denunciar o contrato a
qualquer tempo, concedendo o prazo de 30 dias para a desocupação.

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A denúncia vazia é uma forma de resilição do contrato do contrato, pois se trata de


uma forma de extinção do contrato por prazo indeterminado por vontade de uma das
partes (resilição unilateral).
Contrato verbal ou escrito, com prazo inferior a 30 meses. (Art. 47)
Findo o prazo do contrato, a locação prorroga-se por prazo indeterminado;
A locação verbal presume-se celebrada por prazo indeterminado;
Só cabe a retomada (denúncia cheia ou motivada):
I – nos casos do artigo 9º (por mútuo acordo, em decorrência de prática de infração
legal ou contratual; em decorrência da falta de pagamento do aluguel e demais
encargos; para a realização de reparações urgentes determinadas pelo Poder
Público, que não possam ser normalmente executadas com a permanência do
locatário no imóvel, ou podendo, ele se recuse a consenti-las);
II – extinção do contrato de trabalho;
III – se pedido para uso próprio, cônjuge ou companheiro, para ascendente ou
descendente;
IV – para demolição e edificação licenciada; obras que aumente 20% - Hotel – 50%;
V – vigência ininterrupta da locação ultrapassar cinco anos (podendo ser considerada
a única hipótese de “denúncia vazia” ou imotivada, com base em parte da doutrina, ou
denúncia cheia).

IX) LOCAÇÃO POR TEMPORADA (ARTS. 48 a 50)

Aquela destinada à residência temporária do locatário, destinada para a prática de


lazer, realização de cursos, tratamento de saúde, feitura de obras no seu imóvel.
Prazo não superior a NOVENTA DIAS (art. 48).
O Locador pode receber de uma só vez e antecipadamente o aluguel. Nessa
modalidade de locação a lei permite o pagamento antecipado de aluguéis (art. 20).
Se decorrer TRINTA DIAS, após findo o prazo ajustado, sem oposição do locador, a
locação presume-se prorrogada por PRAZO INDETERMINADO. Nessa hipótese, não
poderá o locador exigir o pagamento antecipado dos encargos e do aluguel.
Após a prorrogação, a denúncia vazia só poderá ocorrer após TRINTA MESES. Já
denúncia cheia, poderá ocorrer nos termos do art. 47 (hipóteses do art. 9º, uso
próprio, extinção do contrato de trabalho, demolição para a realização de obras
aprovadas pelo Poder Público, etc.).

X) LOCAÇÃO NÃO RESIDENCIAL (ARTS. 51 a 57)

Termina (resolução) findo o prazo estipulado, independentemente de qualquer


notificação prévia;

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Prorroga-se por prazo indeterminado, automaticamente, se o locatário permanecer na


posse do imóvel sem oposição do locador por mais de 30 dias;
O locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que,
cumulativamente, o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo
determinado; o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos
ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos e o locatário esteja explorando
seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos.
O prazo para a propositura da ação renovatória é de 1 ano (no máximo) e 6 meses
(no mínimo) anteriores a data da extinção do contrato em vigor.
Não caberá a renovação do contrato nas hipóteses do art. 52.

7. LOCAÇÃO PREDIAL RURAL

I) BASE LEGAL: Lei 4.504/64 (ESTATUTO DA TERRA)


Dec. 59.566/1966
Lei nº 4.504/64 (Estatuto da Terra)
 Está sujeita aos princípios especiais, além das normas aplicáveis a toda locação,
em razão da finalidade que se destina.
 Quem aluga uma propriedade rural, tem em vista agricultura ou pecuária ou
ambos, e a presença deste objetivo não pode faltar.
 Neste contrato há relevâncias de ordem social ou econômico-social, constantes no
Estatuto da Terra.

II) OBJETO:

Prédio rústico ou rural.


Não leva em consideração o critério topográfico, ou seja, que esteja situado em área
rural.
O que importa é a utilização econômica, a sua destinação, ou seja, prédio rústico é
aquele que se destina a uma atividade rural, seja na lavoura (agricultura) ou na
pecuária (pastoreiro).
A locação do imóvel urbano não se destina a essas atividades (agricultura ou
pecuária).

III) CONCEITO

Imóvel rural – prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua localização,
que se destina à exploração extrativa, agrícola, pecuária ou agro-industrial, quer
através de planos públicos de valorização, quer através de iniciativa privada.
Arrendamento Rural – é o contrato agrário pelo qual uma pessoa obriga-se a ceder à
outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural, parte ou partes do

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mesmo, incluindo, ou não, outros bens, benfeitorias e/ou facilidades, com o objetivo
de nele ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária, agro-industrial,
extrativa ou mista, mediante certa retribuição ou aluguel, observados os limites da lei.

IV) PRAZO DA LOCAÇÃO: determinado ou indeterminado

Se determinado o prazo, ele somente pode ser estabelecido para terminar depois de
ultimada a colheita, prorrogando-se inclusive o prazo caso haja retardamento da
colheita por motivo de força maior (art. 95, I, Lei 4.504/64).
Celebrado por prazo indeterminado, com duração incerta, ou na falta de estipulação,
presume-se contratado por um prazo mínimo de três anos, observada a regra do
tempo indispensável a uma colheita (art. 95, II, Lei 4.504/64). Essa regra se dá em
benefício do arrendatário, que é quem tem interesse na retenção da coisa em função
do aproveitamento da terra (as culturas variam e não teria sentido privar o
arrendatário das mesmas, deixando-o no prejuízo).

8. EMPRÉSTIMO

8.1. COMODATO (Art. 579 ao 585 do CC)

I) CONCEITO

Empréstimo gratuito de coisa não fungível.

II) PARTES

Comodante – o que empresta


Comodatário – o que pega emprestado

III) OBJETO

Bem móvel ou imóvel não fungível.


Bens incorpóreos.

IV) FORMA

Escrita ou verbal.

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V) PRAZO
Determinado ou indeterminado ou até a finalidade a que se destina.

VI) NATUREZA JURIDICA

Real: depende da entrega, tradição.


Unilateral: impõe deveres para apenas uma das partes.
Gratuito
Não- solene
Temporário
Intuito personae: favorecimento pessoal do comodatário, baseado na confiança nele
depositada.

VII) PRAZO E RESTITUIÇÃO

A posse do comodatário traz em si a obrigação de restituir, que configura posse


injusta pelo vício da precariedade quando o mesmo se recusa a restituir a coisa;
Havendo recusa, cabe ação de reintegração de posse, pois nesta situação o
comodatário comente esbulho em face do comodante. Não está prevista a referida
ação nas disposições deste contrato, mas temos por base como fundamentação os
artigos 1.197 e 1.210 do CC;
Versando sobre a existência, validade e eficácia, serão derivadas do contrato, não
possessórias;
Na hipótese de grande necessidade, comprovada judicialmente, também pode
extinguir-se o contrato antecipadamente, ou seja, antes do vencimento do prazo.

8.2. MÚTUO (Art. 586 ao 592 do CC)

I – CONCEITO

É o empréstimo de coisas fungíveis, no qual o mutuário é obrigado a restituir ao


mutuante o que dele recebeu, em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade.
Em razão do objeto do mútuo, o mutuante transfere o domínio (propriedade) da coisa
emprestada ao mutuário. Assim, o mutuante tem que ser o proprietário da coisa
emprestada.

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II – PARTES

MUTUANTE – o contratante que empresta


MUTUÁRIO – o contratante que recebe emprestado

III – OBJETO

Qualquer bem fungível que o mutuante seja dono. OBS.: o mais comum é ter
por objeto dinheiro, mas nada impede que recaia sobre qualquer bem fungível, como
frutas em geral por exemplo.
Bem fungível é aquele que pode ser substituída por outra do mesmo gênero,
qualidade e quantidade.

IV – FORMA

Escrita ou verbal.

V – NATUREZA JURÍDICA

Real, pois se aperfeiçoa somente com a tradição, ou seja, entrega do bem pelo
mutuante ao mutuário.
Unilateral – para alguns doutrinadores, como Pontes de Miranda, quando o mútuo é
oneroso, teria natureza bilateral.
Gratuito – posicionamento tradicional
Oneroso – com base no art. 591, CC, quando o mútuo é destinado a fins econômicos,
sendo presumidos os juros devidos.
Para o prof. Venosa, a regra geral, no novo código civil é que o mútuo é contrato
oneroso, remunerado, sendo os juros presumidos neste empréstimo, quando
destinados a fins econômicos.
OBS.: assim, o mútuo será gratuito quando tiver caráter de pura liberalidade, sem
destinação econômica ressaltada ou acentuada.
Temporário – com a finalidade de consumo da coisa emprestada e obrigação de
restituição (sem esta, seria doação).
Não solene e informal – pois a lei não exige forma em regra
Translatício do domínio – pois transfere a propriedade dos bens infungíveis para o
mutuário, que fica obrigado a restitui-los no mesmo gênero, qualidade e quantidade
no termo final do contrato.

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VI – EMPRÉSTIMO DE DINHEIRO – JUROS

Mútuo que estabelece o pagamento de juros é feneratício;


São presumidos, se tiver o mútuo destinação econômica, com base no novo Código.
No Código anterior, deveria ser expressamente convencionado (a exceção, agora, é
que os juros não são devidos, como regra geral, salvo neste caso de mútuo
feneratício).

VII – CAPACIDADE

Empréstimo feito a menor (Art. 588 e 589, CC)


A regra é que o empréstimo feito a menor, sem prévia autorização do responsável
pela sua guarda, não pode ser reavido nem do mutuário, nem dos fiadores (Art. 588,
CC).
O Art. 589, CC dispõe sobre as exceções a essa regra:
Se a pessoa que deveria ter autorizado o mútuo ratificar posteriormente;
Estando ausente o representante, o menor contraiu o mútuo para os seus alimentos
habituais (naturais = alimentação; civis = despesas com vestuário, colégio, etc);
Se o menor tiver bens ganhos com seu trabalho (no limite desses bens);
O mútuo se reverteu em benefício do menor (em atendimento à proibição do
enriquecimento sem causa);
Se o menor obteve o mútuo maliciosamente (age dolosamente, ocultando sua idade e
declarando ser maior para contrair o empréstimo).

VIII - EXTINÇÃO/REGRAS PARA A RESTITUIÇÃO

Pelo cumprimento (modo normal) – Art. 592, CC;


Até a próxima colheita (se mútuo for de produtos agrícolas);
Se for dinheiro, até 30 dias, pelo menos;
Do espaço de tempo que declarar o mutuante;
Descumprimento de cláusula;
Não cabe pedido antecipado em caso de necessidade;
Sem prazo, depende de denúncia vazia ou imotivada.

9. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO (ART. 593 A 609 DO CC

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CONCEITO E NOÇÕES GERAIS

É o contrato pelo qual uma das partes obriga-se a prestar serviços a outra, mediante
remuneração;
É contrato mediante o qual uma pessoa se obriga a prestar um serviço à outra,
eventualmente, em troca de determinada remuneração, executando-os com
independência técnica e sem subordinação.
Ao contrário da empreitada, a prestação de serviços não destaca o fim da obra, mas a
atividade do obreiro, em favor do dono do serviço, durante certo lapso de tempo.
Na prestação de serviços, cada parcela ou fração da atividade do agente constitui
cumprimento da obrigação, ao contrário da empreitada, cuja obrigação, em regra, é a
entrega da obra devidamente acabada.
Constituir-se-á prestação de serviços (e não empreitada) quando o obreiro executar
trabalho sob dependência e fiscalização do outro contratante, ao contrário da
empreitada, que em regra, atua com certa independência em relação ao dono da
obra.
Assim, enquanto a empreitada se constitui numa obrigação de resultado, trata-se, a
prestação de serviços, de uma obrigação de meio.

OBJETO – Prestação de fazer lícita

É uma obrigação de fazer de natureza eventual ou esporádica, é a prestação de uma


atividade material ou imaterial, e que não estiver sujeita às leis trabalhistas ou a lei
especial.
OBS.:
Contrato de trabalho – CLT  Direito do Trabalho.
Servidores públicos – (natureza estatutária não contratual) – disciplinado na Lei 8.112
de 21/12/90 – Estatuto dos funcionários públicos e legislação complementar  Direito
Administrativo.

PARTES

Prestador de serviço  aquele que efetua a atividade; aquele que desempenha o


contrato; é o “empregado” (termo não muito técnico, devido a sua relação com a
relação empregatícia – CLT).
Dono do serviço ou tomador  aquele que contratou o serviço; aquele para quem o
serviço será prestado; é o “empregador” (termo não muito técnico, devido a sua
relação com a relação empregatícia – CLT).

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NATUREZA JURÍDICA

Bilateral – gera obrigações para ambos os contratantes (remuneração para o


empregador e prestação de atividade para o empregado).
Oneroso – origina benefício ou vantagem para um e outro contratante.
Consensual – considerado perfeito mediante acordo de vontades.
Comutativo – envolve prestação e contraprestação equivalentes.
Não solene – a lei não exige forma especial para o reconhecimento de sua validade e
eficácia (pode ser escrito ou verbal).

ALICIAMENTO DE MÃO DE OBRA ALHEIA (ART. 608, CC)

O dono do negócio que perdeu seu prestador em favor de outro poderá ser
indenizado;
Pagará ao dono do serviço, por dois anos o que era devido ao prestador do serviço;
Será punível, desde que haja contrato escrito, exclusividade da prestação e
especialização do prestador.
Assim, presentes essas premissas, o dono do negócio que perdeu seu prestador de
serviço em favor de outro poderá ser indenizado, por parte do aliciador, com o valor
de dois anos da remuneração paga ao prestador. Há, no entanto, aspectos que
devem ser considerados no caso concreto: a especialidade ou não da prestação; o
grau de especialização do sujeito; a exclusividade nessa prestação de serviço etc. Se
não há cláusula de exclusividade e o prestador continua a atender eficazmente a
ambos os contratantes, por exemplo, não haverá, em tese, possibilidade de
indenização, uma vez que há prestadores de serviços cuja atividade permite atender
a vários clientes. No entanto, em se tratando de um técnico de alta especialização,
que se vincula com exclusividade para a manutenção de um equipamento perante um
dono do serviço, por exemplo; o aliciamento por terceiro, concorrente no mesmo
mercado, gerará dever de indenizar.

AUSÊNCIA DE HABILITAÇÃO PARA A PRESTAÇÃO DO SERVIÇO (ART. 606, CC)

Não será paga a remuneração normal do trabalho a quem o realizou sem a devida
habilitação, levando-se em consideração que o art. 606 do CC estabelece que o
prestador não poderá cobrar a retribuição normalmente correspondente ao trabalho
executado;
Porém, se resultar em benefício para outra parte, o Juiz fixará o valor do serviço.
Assim, se houver benefício para o contratante e boa fé do prestador, o Juiz poderá
atribuir uma compensação pelos serviços prestados, chegando parte da doutrina a

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mencionar que, se o benefício for o mesmo do que o prestado por profissional


habilitado, a remuneração poderá ser fixada no mesmo valor ao cobrado pelo mesmo.
Não cabe remuneração quando a prestação do serviço, sem a devida habilitação, for
proibida por lei de ordem pública (depender de profissão regulamentada).
Assim, conforme dispõe o Artigo 606 do Código Civil, a ausência de habilitação para a
prestação do serviço compreende situações comuns de prestação de serviço
irregular, por aqueles que não tenham habilitação legal ou regularização para exercer
a atividade. Tal disposição visa evitar o enriquecimento injusto. Assim, por exemplo,
pode ocorrer com corretores não credenciados, agentes não autorizados, técnicos,
etc., cujas atividades são regulamentadas ou possuem credenciamento em órgãos
específicos. A lei não quer que esses serviços sejam remunerados tal qual o seriam
se o agente fosse devidamente habilitado ou credenciado; mas, ao mesmo tempo, se
da atividade do prestador de serviços houve resultado útil para o dono do serviço,
deverá haver remuneração razoável segundo especifica a lei, se tiver agido o agente
com boa-fé.
Por outro lado, como enfatiza o Parágrafo Único do Artigo em questão, quando a
proibição resulta de lei de ordem pública, a remuneração razoável é obstada. Não se
aplica a segunda parte desse Artigo. Assim, não pode ser remunerado quem exerce
indevidamente, por exemplo, a medicina ou a advocacia. Para Venosa, cujo
posicionamento ouso discordar, a lei diz que a segunda parte do Artigo não é
aplicada, ou seja, nesses casos não há que se atribuir remuneração razoável. No
entanto, pela dicção legal, e com base no ilustre doutrinador, a primeira parte do
artigo tem aplicação, ainda que haja proibição legal de ordem pública para a
atividade. Nessa primeira parte diz-se que não pode ser atribuída a retribuição
normalmente correspondente ao trabalho executado, o que implicaria, para Venosa,
em interpretarmos que até nestes casos de proibição de ordem pública, se houve boa
fé e benefício para o tomador, deverá ser arbitrada uma remuneração para o
prestador.
Em suma, não será paga a remuneração normal do trabalho a quem o realizou sem a
devida habilitação. Caso o trabalho realizado resultar em benefício para a outra parte,
o Juiz fixará o valor do serviço (havendo benefício para o contraente e boa-fé do
prestador, o Juiz poderá atribuir uma compensação). Não caberá remuneração
quando a prestação do serviço, sem a devida habilitação, for proibida por lei de ordem
pública (depender de profissão regulamentada), sendo esta, apesar do
posicionamento acima citado, a melhor interpretação.

10. EMPREITADA (ART. 610 AO 626 DO CC)

CONCEITO

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É o contrato pelo qual uma das partes se propõe a executar uma atividade do início
ao fim, mediante remuneração. É uma obrigação de resultado. Na empreitada é
considerado o resultado final, e não a atividade a ser desenvolvida Exs.: escrever um
livro ou confeccionar um software.
Segundo Caio Mário da Silva Pereira, empreitada é o contrato em que uma das
partes se obriga, sem subordinação ou dependência, a realizar certo trabalho para a
outra, com material próprio ou por ele fornecido, mediante remuneração global ou
proporcional ao trabalho executado.

PARTES

Empreiteiro, empresário ou locador – aquele que executa o trabalho, com autonomia


devido sua especialização e habilidade técnica.
Dono da obra, comitente, locatário ou tomador – aquele que contrata o empreiteiro.

OBJETO

É a obrigação de fazer, cabendo bem material ou imaterial – como realizar uma obra,
pintar uma casa, pintar um quadro ou escrever um livro, com o compromisso do
resultado. Pode ser intuito personae, mas para que seja, dependerá neste caso de
convenção das partes, já que a regra geral é de que o contrato de empreitada não é
personalíssimo, já que tanto o empreiteiro como o dono da obra poderão transferir
para terceiros os direitos e deveres resultantes do contrato celerado. Confirma esta
regra o disposto no art. 626 do CC: “Art. 626. Não se extingue o contrato de
empreitada pela morte de qualquer das partes, salvo se ajustado em consideração às
qualidades pessoais do empreiteiro.”
O contrato de empreitada tem por objeto a execução de obras corpóreas
(materiais) e incorpóreas (imateriais). Funda-se, primeiramente, numa obrigação
precisa e determinada de fazer e, secundariamente, numa obrigação de dar coisa
certa. Tal contrato pode recair, por exemplo, sobre a realização de uma determinada
obra, a pintura de uma casa, a pintura de um quadro, o escrever de um livro etc... em
que se conta com o compromisso de seus resultados. Insta aqui ressaltar que nada
impede que este contrato possua natureza intuitu personae, mas depende de cláusula
expressa neste sentido.

NATUREZA JURÍDICA

Não solene – porque não é daqueles contratos a que a lei impõe forma determinada;
pode ser convencionado na forma escrita ou verbal;

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

Bilateral – gera direitos e obrigações para ambas às partes; envolve prestação de


ambas as partes, sendo certo que a prestação de um contratante tem por causa a
prestação que lhe fornece o outro. O empreiteiro deve entregar a obra; o dono do
negócio, o preço. E mais: o empreiteiro entrega a coisa para receber o preço e o dono
entrega o preço para receber a obra. Assim, a prestação de uma parte é a razão de
ser da prestação da outra;
Oneroso – possui remuneração; assim, em virtude do seu propósito especulativo,
envolvendo um sacrifício patrimonial para ambas as partes: do empreiteiro, que deve
desincumbir-se de sua tarefa, e do dono da obra, que deve fornecer o preço;
Comutativo - é a regra, mas pode haver consentimento contratual de aumento de
obra ou preço durante o serviço; assim, é comutativo em regra porque, pelo menos
subjetivamente, os contratantes crêem na relativa equivalência das prestações, como
também porque qualquer deles tem elementos, desde logo, para antever o montante
da prestação que receberá. Cumpre ressaltar que nada impede, porém, que as partes
estabeleçam o contrato sob a modalidade aleatória, uma vez a possibilidade de haver
consentimento contratual de aumento de obra ou preço durante o serviço;
Consensual – por se aperfeiçoar com o simples acordo de vontades, sendo
desnecessária a tradição da coisa.

REVISÃO DO PREÇO (Art. 619 e 620, CC)

Regra Geral: não cabe revisão do preço.


Sem permissão: o preço não pode ser alterado (atenção ao entendimento
jurisprudencial acima citado).
Com permissão escrita: o preço pode ser alterado
Permissão tácita - § único do art. 619 – poderá ser alterado se houver fato concreto
que justifique e o dono da obra não se opôs a tempo.
Não sendo admitida variação de preço, não caberá nenhum acréscimo. A regra geral
de proibição de reajuste de preços com relação a salários ou material é expressa no
Artigo 619 do Código Civil. O preço fixo é garantia originária do dono da obra. Sendo
o arquiteto ou construtor, ou equiparados, referidos no dispositivo, especialistas no
mais alto teor da palavra, presume-se que estes estipulem preço inalterável pelas
instabilidades do mercado, pois delas são conhecedores. A teoria da imprevisão, tão-
só sob fundamento da inflação por si só, não terá o condão de variar o preço.
No entanto, as partes podem estipular que o valor sofrerá aumento conforme a
oscilação dos preços de material e mão-de-obra, fixando-se assim a escala móvel do
contrato. Assim sendo, como exceção, o Código Civil permite o aumento de preço
unicamente se decorrente de aumento, ou alteração na obra mediante instruções
escritas do outro contratante. Trata-se de garantia que a lei concede ao dono da obra
de não sofrer reajuste, salvo sua autorização expressa (a jurisprudência abrandou o
alcance da norma, para evitar o injusto enriquecimento, dependendo de

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circunstâncias no caso concreto. Poderá, ser dispensada a autorização escrita,


quando o dono da obra não contesta a execução da alteração ou aumento, aceitando-
a tacitamente).

SUBEMPREITADA

É permitida quando o empreiteiro não possui habilidade técnica para a execução


parcial da obra, responsabilizando-se pelo serviço do subempreiteiro.
A subempreitada é negócio derivado do contrato principal, no qual o empreiteiro
assume o papel de dono da obra, ou comitente, em relação ao subempreiteiro;
No silêncio do contrato, nada impede que ocorra a subempreitada, uma vez que, com
freqüência, há a necessidade da realização de serviços que fogem à especialidade e
capacidade técnica do empreiteiro. Entretanto, caso haja proibição no contrato,
obviamente, não poderá haver subempreitada;
Assim, salvo ressalva expressa, perante o dono da obra responderá sempre o
empreiteiro que, por sua vez, poderá entrar com Ação de Regresso em face do
subempreiteiro. Em outras palavras, o dono da obra pode entrar com Ação em face
do empreiteiro, com base na responsabilidade contratual, sendo assegurado ao
segundo o direito a uma Ação judicial para tentar reaver os prejuízos advindos do
pagamento da indenização do dono da obra por um erro do subempreiteiro;
Embora, como visto nas linhas acima, o subempreiteiro não assuma responsabilidade
alguma perante o comitente, se aquele lhe vier a causar prejuízos, este poderá optar
por acioná-lo com base na responsabilidade extracontratual, dentro dos princípios
gerais doa Artigos 927 e 186 do Código Civil, e principalmente, com base no Código
de Defesa do Consumidor, pois o cliente, como destinatário final, pode entrar com
Ação em face do subempreiteiro diretamente, com base nos seus dispositivos legais.

RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR

Perante terceiros: o empreiteiro responde por danos causados a terceiros durante a


execução da obra ou atividade.
Perante o dono da obra (art. 618, CC): nas construções pelo prazo de cinco anos pela
solidez e segurança do trabalho, pelos materiais e quanto ao solo.
O empreiteiro responde, independentemente de culpa, durante o prazo de cinco anos,
pela solidez e segurança da obra, tanto em razão dos materiais quanto do solo, na
empreitada de edifícios ou outras construções, como pontes, viadutos, etc (art. 618,
CC).
Este prazo não pode ser renunciado e nem diminuído.
Quando o contrato de empreitada configurar uma relação de consumo, também
poderá ser observado o prazo estabelecido no art. 27 da Lei n. 8.078/90.

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

Sendo a empreitada de lavor, e a construção perecer antes de sua entrega sem que o
tomador esteja em mora ou o empreiteiro tenha tido culpa no seu perecimento, este
perderá a retribuição, exceto se provar que a perda da construção se deu em virtude
dos materiais fornecidos pelo tomador, em relação aos quais já havia reclamado (em
relação à qualidade ou quantidade) (art. 613, CC).
Na empreitada de material (fornecidos pelo empreiteiro), os riscos correm por sua
conta até o momento da entrega da obra. Se o tomador estiver em mora (recusa em
receber), os riscos se transferem para ele, passando a ele a assumir o ônus
decorrente de sua mora (art. 611, CC).
Se a empreitada for de mão de obra, os riscos correm por conta do tomador, exceto
na hipótese de o empreiteiro agir com culpa na execução do trabalho (art. 612, CC).

11. DEPÓSITO (ARTS. 627 AO 652 DO CC)

CONCEITO – art. 627, CC

É o contrato pelo qual uma pessoa (depositária) recebe um objeto móvel para
guardar, até que uma outra (depositante) o reclame. É inerente ao contrato, portanto,
a obrigação de restituir a coisa pelo depositário, quando solicitado pelo depositante.
Depósito é o ato pelo qual uma pessoa recebe, temporariamente, um bem móvel
alheio com obrigação de guardá-lo e restituí-lo. Trata-se de uma obrigação de
custódia e se perfaz com a entrega da coisa.
Segundo José Carlos Moreira Alves, "O depósito é o contrato pelo qual uma pessoa
(deponens — depositante) entrega a outra (depositarius — depositário) coisa móvel
infungível para que esta, gratuitamente, a guarde e a restitua quando solicitada pela
primeira".
No contrato de depósito a guarda da coisa é essencial. A custódia intervém no
contrato como fim primacial e nunca em caráter subsidiário como ocorre, por exemplo,
no mandato, no comodato, na locação, etc. Em todas essas hipóteses a guarda da
coisa simplesmente decorre de outro contrato perfeito e acabado que não o de
depósito. No comodato, por exemplo, o comodatário recebe a coisa para seu uso e
não para guardá-la, como acontece no depósito. A restituição da coisa se constitui
como elemento crucial do contrato, cuja inobservância pode acarretar sanções civis e
penais ao depositário.

PARTES

- Depositante: o que entrega o bem para ser guardado.

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- Depositário: o que recebe o bem para guardar.

OBJETO

- Bem móvel corpóreo ou que se corporifique, como os valores incorpóreos


representados por títulos;
- Bem imóvel nos casos de depósito judicial.
Assim, é requisito essencial do contrato de depósito que o seu objeto seja bem móvel.
Não temos na legislação previsão de contrato de depósito de bem imóvel, como
ocorre em algumas legislações estrangeiras; porém, excepcionada está a hipótese
quando se tratar de ato processual de depósito, o que se dá quando bem imóvel é
penhorado, sendo nomeado um depositário (depósito judicial), dentre outras
situações.

NATUREZA JURÍDICA

O depósito tem natureza contratual, em regra, porque se consubstancia na


convenção mediante a qual uma pessoa entrega bem móvel a outrem, que se obriga
a guardá-lo, temporária e gratuitamente, para devolvê-lo quando lhe for pedido.

Real, o contrato de depósito só se completa com a efetiva entrega da coisa; exige-se


a tradição para o seu aperfeiçoamento.
Em se tratando de Depósito Voluntário, é gratuito (como presunção) ou oneroso (por
convenção ou quando resultar de atividade negocial ou se o depositário o praticar por
profissão). Em se tratando de Depósito Necessário, é oneroso (como presunção, pois
não se presume gratuito) ou gratuito (por convenção)
Temporário, porque o depositário deverá devolver a coisa depositada, permanecendo
a mesma sob sua guarda "até que o depositante o reclame" (art. 627), sob pena de se
descaracterizar como contrato de depósito. Assim, a devolução do objeto se impõe,
seja no vencimento do termo contratual ou a qualquer tempo, isto é, quando o
depositante o exigir. Não pode haver perpetuidade no depósito, o que
descaracterizaria a sua natureza temporária.
Unilateral (quando gratuito), porque, em regra, gera obrigações apenas para o
depositário; e bilateral (quando oneroso), quando gerar obrigações para ambas as
partes (havendo prestação e contraprestação).
Não Solene,

ESPÉCIES

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

- Voluntário ou Necessário
Voluntário ou convencional (arts. 627 ao 646, CC)
- É o contrato típico de depósito, resultante do acordo livre de vontade das partes.
Assim, caracteriza-se o depósito voluntário, também denominado ordinário ou
tradicional, por se formar pela vontade das partes, derivando de livre ajuste dos
contratantes. Parte da doutrina subdivide a espécie depósito voluntário em duas
subespécies: regular ou irregular, analisados abaixo.
Necessário (art. 647 ao 652, CC)
Esta modalidade independe da vontade das partes, por ser resultante de lei, de fatos
alheios e/ou extraordinários. Assim, a segunda espécie de contrato de depósito
regulada pelo Código Civil, denominada necessário, é diferente do primeiro
(voluntário), porque se conclui independente da vontade das partes e pode ter origem
em fatos imprevisíveis ou gerados por situação de urgência, os quais impedem o
depositante de escolher o depositário de sua confiança para a guarda da coisa.
Subdivide-se em:
b.1) Legal – resultante da lei, decorrente de obrigação legal (art. 647, I, CC)
Ex.: art. 1233, § único: descobridor de coisa perdida.
b.2) Miserável – Ocorre em virtude de alguma calamidade pública, como incêndio,
inundação, naufrágio ou saque (art. 647, II, CC).
b.3) de Hospedeiro ou hoteleiro – Ocorre depósito em relação a bagagem dos
viajantes, hóspedes ou fregueses nas hospedarias, hotéis ou casas de pensão (art.
649, CC).
- Respondem por furtos e roubos (art. 649, § único, CC);
- Cabe penhor legal, pelas despesas inadimplidas pelos viajantes, hóspedes ou
fregueses (art. 1467, CC).

- Regular ou Irregular
Regular – Tem por objeto coisas infungíveis, devendo ser restituída a própria coisa
depositada. Assim, conceitua-se o contrato de depósito voluntário regular como
aquele que tem por objeto coisas infungíveis, isto é, aquelas que permitem a
individualização do bem depositado, que deverá ser restituído quando vencido o
termo do contrato ou solicitado pelo depositante. Contudo, parte da doutrina não vê
óbice que mediante prévio ajuste das partes se convencione, desde que
expressamente, que as coisas fungíveis ou consumíveis venham a ser objeto de
depósito regular (fazendo com que um bem fungível, por sua natureza, torne-se
infungível pela convenção das partes).
Irregular – Tem por objeto coisas fungíveis, devendo ser restituído objetos do mesmo
gênero, qualidade e quantidade (regula-se pelas disposições do mútuo – art. 645,
CC). Assim, o contrato de depósito voluntário irregular se opera quando a coisa
depositada for de natureza fungível, possibilitando ao depositário dispor da mesma,
isto é, ficando liberado de devolver a exata coisa depositada. Contudo, deverá
restituir, quando solicitado ou no termo avençado, coisa equivalente em espécie,

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

qualidade e quantidade. A maioria da doutrina, como Sílvio de Salvo Venosa, Maria


Helena Diniz, César Fiuza, dentre outros, admite a existência do depósito irregular.
Conforme aduz VENOSA: “No depósito irregular [...] aquele que tem por objeto coisas
fungíveis ou substituíveis, o depositário pode alienar o que recebeu, desde que
restitua, quando solicitado, igual quantidade e qualidade. [...] Não existe perfeita
identificação entre o depósito irregular e o mútuo, porque o fim econômico é diverso.
O depósito é ultimado no interesse do depositante, enquanto no mútuo o interesse é
do mutuário”. Diante da semelhança com o contrato de mútuo, estabelece o art. 645
do Código Civil que o depósito irregular (de coisas fungíveis) regula-se pelas
disposições do mútuo.

- Depósito judicial
- É o depósito decorrente de providência judicial determinada em autos de processo.
Depende de ordem judicial. Ex.: Em caso de concessão de medida cautelar de
arresto e seqüestro, bem como quando ocorre a penhora de um bem, será nomeado
um depositário judicial a quem compete a guarda e a conservação do bem, sob pena
de responsabilidade como depositário infiel.

PRISÃO DO DEPOSITÁRIO (art. 652, CC)

Era exigível, conforme determinado pelo art. 652 do Código Civil, quando o
depositário não restituía o bem quando exigido pelo depositante;
Depositário infiel é aquele que, recebendo para guarda e conservação determinado
bem, acaba por deixar de restituir, sem justo motivo, o depósito reclamado pelo
depositante ou ordenado pelo Juiz de Direito;
A infidelidade do depósito de coisas fungíveis não autoriza a prisão civil;
Mesmo com o disposto no referido dispositivo legal, já se encontra consolidado o
entendimento de que não caberia a prisão civil de devedor que descumpria contrato
garantido por alienação fiduciária;
Além disso, a Excelsa Corte tinha fixado o entendimento de que “a prisão do
depositário infiel poderia ser decretada no próprio processo em que se constituiu o
encargo, independentemente da propositura de ação de depósito." (Súmula 619 do
STF);
Independentemente da prisão que era prevista no Código Civil, o depositário poderá
ser obrigado a ressarcir os prejuízos causados ao depositante pela não restituição da
coisa.
Mesmo com o disposto no Código Civil (art. 652), e no Código de Processo Civil (art
904, parágrafo único e art. 905 do CPC), havia muita controvérsia doutrinária quanto
a possibilidade de prisão civil do depositário infiel, tendo em vista o Brasil ser
signatário do Pacto de São José de Costa Rica sobre Direitos Humanos.

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

Tal controvérsia hoje se encontra superada pela edição da Súmula Vinculante 25 do


STF, que firmou o entendimento que: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel,
qualquer que seja a modalidade de depósito.” (PSV 31 - DJe nº 27/2010 - Tribunal
Pleno de 16/12/2009 - DJe nº 238, p. 1, em 23/12/2009 - DOU de 23/12/2009, p. 1).
Diante de tal entendimento, não é mais possível a prisão civil de depositário infiel,
permanecendo como a única possibilidade de prisão civil em nosso ordenamento
jurídico a cabível em relação ao devedor de pensão alimentícia.)

12. MANDATO (ARTS. 653 AO 692 DO CC)


OBS: Contrato do Programa de Direito Civil III – Não será dado este período, mas
deixeis os pontos para reverem o conteúdo já estudado no período passado

CONCEITO

É o contrato pelo qual uma das partes, denominada mandatário, recebe poderes de
outrem, denominado mandante, para em nome deste, praticar atos jurídicos, negócios
jurídicos ou administrar interesses.

MANDATO  PROCURAÇÃO  REPRESENTAÇÃO

Mandato é o contrato em exame que aperfeiçoa pelo encontro de vontades. Como


todo e qualquer contrato requer manifestação de vontade de ambas as partes:
mandante e mandatário. Somente haverá mandato se o mandatário aceitar os
poderes conferidos pelo mandante.
Procuração é o instrumento do mandato. A procuração outorgada é o instrumento que
materializa o contrato de mandato. É manifestação unilateral de vontade daquele que
pretende ser mandante. Enquanto não houver a aceitação, a procuração é mera
oferta de contratar. Na procuração ocorre a outorga de poderes ao outorgado. Se este
aceitar os poderes conferidos, haverá mandato.
Representação é a investidura concedida pelo mandante ao mandatário em virtude da
existência de contrato, na maioria das vezes, o instrumento de mandato. O
representante atua em nome do representado, substituindo a sua manifestação de
vontade.
Pelo mandato e pela representação, o mandatário e o representante praticam atos em
nome e no interesse do mandante. Com base no novo Código Civil, que suprimiu o
antigo art. 1307, que cuidava de hipótese de mandato sem representação, a regra é
que no contrato de mandato deve haver necessariamente representação, sendo que

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este já era o posicionamento de Caio Mário, mesmo antes da vigência do novo


código.
- Espécies de representantes:
Legal – determinados por lei. Ex.: pais, tutores.
Judicial – Ex.: inventariante, depositário.
Convencional – Ex.: constituído mediante contrato de mandato.
- Relação interna: vinculação entre mandante e mandatário, disciplinando os limites
de atuação, reportando aos poderes de representação.
- Relação externa: referente aos atos que o mandatário pratica com terceiros em
nome do mandante, através do poder de representação.

PARTES

Mandante: o que outorga poderes.


Mandatário: o que recebe poderes para agir.
OBS.: CDC, art. 2º e 3º:
Mandante = consumidor.
Mandatário = fornecedor de serviço.

OBJETO

Tem por objeto a prática de atos ou negócios jurídicos em favor do mandante, como
regra. Nada impede que atos materiais possam integrar o círculo de atração. Trata-se
de obrigação de meio.

NATUREZA JURÍDICA

Unilateral (salvo disposição expressa em contrário, somente atribui obrigações ao


mandatário), sendo este o entendimento do Silvio de Salvo Venosa; ou
Bilateral imperfeito (com base na vontade das partes ou da natureza profissional do
outorgado ou quando for oneroso), sendo este o entendimento do Silvio de Salvo
Venosa;
Bilateral, com obrigações tanto para o mandatário (art. 667 do CC), como para o
mandante (art. 675 do CC), cabendo no caso distinguir o mandato oneroso, que é
sempre bilateral, do mandato gratuito, que é normalmente unilateral, sendo este o
posicionamento de Caio Mário da Silva Pereira, com o qual me filio;
Gratuito (presume-se quando for mandato civil – art. 658, CC – mas a gratuidade não
é essencial, porque na prática é muitas vezes oneroso, decorrente, na maioria das
vezes da atividade profissional e usual do mandatário – art. 658, § único).

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

Oneroso – mandato mercantil e na hipótese do mandato civil acima mencionado.


OBS.: em ambas as situações, admite-se prova em sentido contrário.
Consensual – depende de acordo de vontades.
Intuito personae – baseado na confiança no mandatário.
Não solene – independe de forma expressa ou prescrita em lei, podendo ser tácito,
verbal ou escrito (art. 656, CC); por instrumento público ou particular (art. 657, CC).
O mandato deve obedecer a mesma forma exigida pela lei para o ato a ser praticado
(se o ato exige escritura pública, o mandato deve ser feito por procuração por
instrumento público).
Preparatório – serve sempre como base para a prática de outros atos ou negócios
jurídicos, unilaterais ou bilaterais.
Comutativo – pois as partes já sabem, no momento da celebração do contrato, quais
são as suas incumbências, deveres e direitos, prestação e contraprestação.

ACEITAÇÃO DO MANDATO (art. 653 e 659, CC)

A aceitação do mandato pode ser tácita (se resulta do começo da execução do


contrato), ou expressa.
A aceitação escrita é mais rara, pois dificilmente o mandatário assina o instrumento.
Quando o mandatário começa a agir na esfera dos poderes concedidos pelo
mandante, tem-se por aceito o mandato.
Enquanto não houver aceitação inexiste contrato de mandato.

ESPÉCIES OU MODALIDADES

ESPECIAL OU GERAL (ART. 660, CC)


ESPECIAL = mandato conferido para um ou mais negócios determinados.
GERAL = relativo a todos os negócios do mandante.
OBS.: Só confere poderes de administração em geral.
o mandato geral confere poderes de administração, em termos gerais (art. 661, CC);
vale ressaltar, portanto, que para os atos além da administração ordinária, como
alienar, hipotecar ou gravar patrimônio, há necessidade de mandato com poderes
especiais e expressos (art. 661, § 1º, CC). Assim, não basta que sejam outorgados
poderes para efetuar doações em geral. O correto é que devem ser especificados no
instrumento do mandato, por exemplo, o objeto e o donatário.

SINGULAR (SIMPLES) OU PLURAL


- SINGULAR OU SIMPLES = é o contrato em que existe apenas um mandatário.
- PLURAL = é o contrato em que existem vários mandatários, podendo assumir
diferentes formas (art. 672, CC), conforme o âmbito de atuação dos mandatários,

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

podendo ser sucessivo ou substitutivo, solidário, conjunto ou simultâneo e fracionário,


conforme abaixo discriminado.

SUCESSIVO OU SOLIDÁRIO OU CONJUNTO OU FRACIONÁRIO


Esta classificação se verifica quando o mandato é conferido a mais de um mandatário
(mandato plural).
Pelo CC/1916, entendia-se que era, como regra, sucessivo (salvo se fossem
declarados expressamente conjuntos ou solidários).
Pelo novo Código (art. 672), a regra é que o mandato é solidário, quando conferido a
dois ou mais mandatários nomeados no mesmo instrumento (salvo disposição em
sentido contrário, para atribuir que sejam conjuntos ou sucessivos).
SOLIDÁRIO = é o mandato pelo qual os diversos mandatários nomeados podem agir
de forma isolada, independentemente de qualquer ordem de nomeação. Assim
qualquer um dos mandatários poderá exercer os poderes outorgados. Em regra, não
havendo disposição em sentido contrário no instrumento, presume-se que o mandato
assumiu esta forma (art. 672, caput, CC).
CONJUNTO = é o mandato cujos poderes são outorgados aos mandatários para que
estes atuem de forma conjunta; assim, todos os mandatários terão que exercer os
poderes outorgados, conjuntamente, simultaneamente. Desta forma, se nomeados
dois ou mais mandatários, para a validade do ato nenhum dos mandatários poderá
agir em separado, ou seja, sem a presença dos demais.
SUCESSIVO OU SUBSTITUTIVO = os mandatários agirão respectivamente, um na
falta do outro nomeado, sendo designado de acordo com a ordem prevista no
contrato.
FRACIONÁRIO = é o mandato em que a ação de cada mandatário está delimitada no
instrumento, devendo cada mandatário agir nos limites dos seus poderes, no seu
setor de atuação.
OBS.: quando são atribuídas atividades distintas a vários mandatários, existem na
verdade vários mandatos em um único instrumento.

ONEROSO OU GRATUITO
ONEROSO = é aquele no qual a atividade do mandatário é remunerada, nos termos
do art. 658, parágrafo único, do CC.
GRATUITO = é aquele em que não há qualquer remuneração a ser paga ao
mandatário, sendo a forma presumida pela lei como regra, conforme art. 658, caput,
do CC.

VERBAL OU ESCRITO
VERBAL = o mandato constituído verbalmente é permitido em todos os casos em que
não se exige a forma escrita para a prática do ato, podendo ser provado por
testemunhas.

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

ESCRITO = é aquele elaborado por escrito, por meio de instrumento público ou


particular.

PROCURAÇÃO

Conceito: procuração é o instrumento do mandato.


A procuração comprova o mandato escrito, porém a outorga de poderes pode ser
feita em outros atos, sem ser especificamente na procuração. Ex.: muitas vezes o
mandatário é nomeado no ato da realização de negócio jurídico.
Requisitos da procuração (art. 654, § 1º, CC):
designação do estado, cidade ou circunscrição em que foi passada;
data;
nome do outorgante e outorgado;
objeto da outorga;
a natureza;
designação e extensão dos poderes conferidos.
O reconhecimento de firma é uma formalidade que pode ser exigida por terceiro (art.
654, § 2º, CC), para conferir a sua autenticidade, porém, independe para a eficácia ou
validade do contrato de mandato.
Artigo 37 e 38 do CPC.
O mandatário que comparece a ato processual sem procuração pode comprometer-se
a apresentá-la em certo prazo (art. 37 do CPC): 15 dias, prorrogáveis por mais 15
dias.

MANDATO JUDICIAL

Conceito: É o mandato destinado à atuação dos advogados em juízo.


Apenas o advogado regularmente inscrito na OAB pode postular em juízo e exercer
atividades extrajudiciais privativas do advogado.
É presumidamente oneroso, pois se confunde com a própria atividade do advogado
(prestação de serviços).
Disposto no art. 692, CC que está subordinado às normas ao seu respeito, constantes
na legislação processual, às do Código e ao Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/94).

SUBSTABELECIMENTO

Conceito: é o ato unilateral pelo qual o mandatário, como substabelecente, transfere


os poderes recebidos pelo mandante a outrem, denominado substabelecido.

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

O mandatário pode transferir a outra pessoa os poderes conferidos pelo mandante,


através do substabelecimento;
Essa transferência efetuada pelo mandatário pode ser de todos ou de alguns dos
poderes recebidos pelo mandante;
O substabelecimento pode ser feito com reserva de poderes, hipótese no qual o
substabelecente mantém os poderes recebidos para atuar juntamente com o
substabelecido, ou sem reserva de poderes, quando então será desvinculado do
contrato como mandatário, assumindo todos os poderes conferidos pelo mandante, o
substabelecido;
A transferência pelo substabelecimento, sem reserva, é definitiva, sendo equivalente
à renúncia pelo mandatário / substabelecente ao poder de representação, apesar de
suas naturezas distintas;
Havendo poderes de substabelecer conferidos no mandato, só serão imputáveis ao
mandatário os danos causados pelo substabelecido, se tiver agido com culpa na
escolha deste ou nas instruções dadas a ele (CC, art. 667, § 2º). Se, não obstante
proibição do mandante, o mandatário se fizer substituir na execução do mandato,
responderá ao seu constituinte pelos prejuízos ocorridos sob a gerência do substituto,
embora provenientes de caso fortuito, salvo provando que o caso teria sobrevindo,
ainda que não tivesse havido substabelecimento (CC, art. 667, § 1º). Se a proibição
de substabelecer constar da procuração, os atos praticados pelo substabelecido não
obrigam o mandante, salvo ratificação expressa, que retroagirá à data do ato (CC, art.
667, § 3º). Sendo omissa a procuração quanto ao substabelecimento, o procurador
será responsável se o substabelecido proceder culposamente (CC, art. 667, § 4º). A
omissão do poder de substabelecer não importa a proibição de tal ato. O
substabelecimento sempre é possível, mas o mandatário assume a inteira
responsabilidade por sua deliberação;

PROCURAÇÃO EM CAUSA PRÓPRIA (ART. 685, CC)

Contrato consigo mesmo ou autocontrato.


Trata-se de contrato preliminar para transmissão de direitos (geralmente imobiliários);
Ele autoriza ao mandatário a adquirir para si mesmo um bem pertencente ao
mandante;
Sua irrevogabilidade é justificada pelo fato de ser ato jurídico que implica
transferência de direitos;
Não extingue pela morte;
Não tem o mandatário o dever de prestar contas.

13. COMISSÃO (ART. 693 AO 709 DO CC)

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

CONCEITO E DISPOSIÇÕES GERAIS (ART. 693, CC)


É o contrato que tem por objeto a aquisição ou a venda de bens pelo comissário, em
seu próprio nome, à conta do comitente (art. 693, CC).

PARTES
Comitente: quem delega as instruções.
Comissário: quem recebe instruções para realizar o ato ou o negócio jurídico.

NATUREZA JURÍDICA
Consensual.
Oneroso.
Não solene.
Bilateral.
Intuito personae.

14. AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO (ARTS. 710 AO 721 DO CC)

14.1. AGÊNCIA
CONCEITO (ART. 710, CC)
É o contrato pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição, sem vínculo
empregatício, a praticar negócios à conta e ordem de outrem, em caráter não
eventual (art. 710, CC).

PARTES
Agente: quem pratica os negócios à conta e ordem do agenciado.
Agenciado (ou preponente ou dono do negócio): quem ordena a prática dos negócios
à sua conta (do agenciado).

NATUREZA JURÍDICA
Consensual.
Oneroso.
Não solene.
Bilateral (quando gratuito) e bilateral (quando oneroso).
Intuito personae.
De duração.

14.2. DISTRIBUIÇÃO

I) CONCEITO

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

É o contrato pelo qual uma das partes, denominada distribuidor, se obriga a receber
da outra parte, denominado distribuído, mercadorias geralmente de consumo, para
sua colocação no mercado, estipulando-se, como contraprestação, um valor ou
margem de lucro pela distribuição.
Segundo os ensinamentos de Humberto Theodoro Júnior, com a aprovação de Carlos
Roberto Gonçalves, “a teor do mencionado dispositivo legal (art. 710, que menciona
que se caracteriza a distribuição quando o agente tiver a sua disposição a coisa a ser
negociada), a distribuição não é revenda feita pelo agente. Este nunca compra
mercadorias do preponente. Ele age como depositário apenas da mercadoria a este
pertencente, de maneira que, ao concluir a compra e venda e promover a entrega de
produtos ao comprador, não age em nome próprio, mas o faz em nome e por conta
da empresa que representa. Em vez de atuar como vendedor, atua como mandatário
do vendedor. Tal contrato diferencia do contrato de concessão comercial, este, sim,
baseado na revenda de mercadorias e sujeito a princípios que nem sequer foram
reduzidos a contrato típico pelo Código Civil.”

II) PARTES
Distribuidor: quem se obriga a receber da outra parte mercadorias geralmente de
consumo, para sua colocação no mercado, por conta e risco próprio.
Distribuído: quem disponibiliza, fornece as mercadorias para distribuição, obrigando-
se a uma contraprestação.

III) NATUREZA JURÍDICA


a) Consensual.
Oneroso.
Não solene.
Unilateral (quando gratuito) e bilateral (quando oneroso).
Intuito personae.
De duração.

15. CORRETAGEM (ARTS. 722 AO 729 DO CC)

I) CONCEITO (ART. 722, CC)


A partir do advento do novo código civil, a corretagem passou a ser tratada como
contrato típico, nominado. Assim, com base no artigo 722 do novo diploma civil
brasileiro, corretagem é o contrato pelo qual uma pessoa, não vinculada a outra, quer
seja em virtude de mandato, de prestação de serviços ou por qualquer relação de
dependência, obriga-se a obter para o contratante um ou mais negócios, em
consonância com as instruções dele recebidas.

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

Desta forma, é o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a obter para outra um ou
mais negócios, mediante retribuição e as instruções recebidas.
É a convenção pela qual uma pessoa, sem qualquer relação de dependência, obriga-
se, mediante remuneração, a obter para outrem um ou mais negócios, conforme as
instruções recebidas, ou a fornecer-lhes as informações necessárias para a
celebração do contrato.
O corretor se compromete para com a outra parte do contrato a obtenção de um
resultado útil, através da possibilidade de celebração de certo negócio ou negócios a
favor deste (comitente ou dono do negócio). A conduta esperada é no sentido de que
o corretor faça aproximação entre um terceiro e o comitente.

II) PARTES
Comitente ou Dono do Negócio: pessoa para quem o corretor se obriga a obter um ou
mais negócios.
Corretor (ou preponente ou dono do negócio): quem se obriga a obter para outra
parte (comitente ou dono do negócio) um ou mais negócios. Aquele que se propõe a
realizar o serviço de corretagem.

III) NATUREZA JURÍDICA


a) Consensual, pois basta o consenso das partes para a conclusão do contrato.
b) Oneroso, na medida em que assiste ao corretor direito ao recebimento de
remuneração, se alcançado o resultado útil para o comitente.
c) Não solene, independe de forma expressa ou prescrita em lei, pois o código
seguindo a posição jurisprudencial existente, não exigiu nenhuma forma especial.
Bilateral, na medida em que gera obrigações para ambas as partes.
Aleatório, porque depende de acontecimento futuro para que essa remuneração seja
exigível, ou seja, a concretização do negócio principal.

16. TRANSPORTE (ARTS. 730 AO 756 DO CC)

I) CONCEITO – CARACTERÍSTICAS – DISPOSIÇÕES GERAIS NO CÓDIGO


CIVIL (ARTS. 730 A 733, CC)

Preceitua o art. 730 do Código Civil: “Pelo contrato de transporte alguém se obriga,
mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas”.
Elemento essencial é a transladação, ou trasladação. Quer dizer, é preciso que haja
transferência de um lugar para outro, ainda que não se exija o percurso entre dois
pontos geográficos, como adverte Pontes de Miranda, porque posso transportar de

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

um andar para outro, da rua para dentro da casa, da base para o cume, e assim por
diante. O que deve haver sempre é a transladação.
O contrato de transporte gera, para o transportador, obrigação de resultado, ou seja,
a de transportar o passageiro são e salvo, e a mercadoria, sem avarias, ao seu
destino. A não-obtenção desse resultado importa o inadimplemento das obrigações
assumidas e a responsabilidade pelo dano ocasionado. Não se eximirá da
responsabilidade provando apenas ausência de culpa. Incumbe-lhe o ônus de
demonstrar que o evento dano se verificou por culpa exclusiva da vítima ou força
maior. Denomina-se cláusula de incolumidade a obrigação tacitamente assumida pelo
transportador de conduzir o passageiro ileso ao local do destino.
Nos contratos de transporte cumulativo, cada transportador se obriga a cumprir o
contrato relativamente ao respectivo percurso, respondendo pelos danos nele
causados a pessoas e coisas (art. 733, CC). O dano, resultante do atraso ou da
interrupção da viagem, será determinado em razão da totalidade do percurso (§ 1º,
art. 733). Se houver substituição de algum dos transportadores no decorrer do
percurso, a responsabilidade solidária estender-se-á ao substituto (§ 2º, art. 733).
No caso de transporte cumulativo, todos os transportadores respondem
solidariamente pelo dano causado perante o remetente, ressalvada a apuração final
da responsabilidade entre eles, de modo que o ressarcimento recaia, por inteiro, ou
proporcionalmente, naquele ou naqueles em cujo percurso houver ocorrido o dano
(art. 756 do CC).
No transporte cumulativo ou combinado vários transportadores realizam o transporte,
por trechos, mediante um único bilhete que estabelece a unidade, como se a
obrigação estivesse sendo cumprida por uma única empresa. Sem essa unidade de
contrato com vinculação de pluralidade de transportadores inexiste transporte
cumulativo, mas sim transporte sucessivo, que se caracteriza por uma cadeia de
contratos, cada um com empresa independente das demais. Ocorre esta modalidade
quando uma agência de viagem, por exemplo, vende duas passagens para duas
transportadoras distintas, prevendo apenas a possível conexão dos trechos.

II) PARTES

No transporte de pessoas as partes são transportador e passageiro ou transportado.


No transporte de coisas as partes são remetente ou expedidor (quem entrega a coisa
ao transportador para ser deslocada, transportada) e transportador ou condutor
(quem se obriga a entregar a coisa ao destinatário). Existe ainda a pessoa destinada
a receber a coisa, denominada destinatário ou consignatário, que não é parte no
contrato.
Temos ainda a figura do comissário de transporte, que é quem se obriga, mediante
remuneração, a transportar a coisa, sem efetuá-lo pessoalmente, já que o faz por
intermédio do transportador, um terceiro. Como exemplo, temos as empresas de

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

transporte que, não possuindo veículos próprios, celebram acordos com seus
proprietários, que lhes prestam serviços. Da remuneração devida, é deduzida uma
parte para a empresa comissária, que assume a responsabilidade do transporte
perante o remetente.

III) OBJETO

Pessoas ou coisas serão objetos do contrato de transporte.

IV) ESPÉCIES

Em relação ao que é transportado (objeto), pode ser:


- Transporte de pessoas;
- Transporte de coisas.
Em relação ao meio empregado, pode ser:
- Transporte Terrestre;
- Transporte Marítimo ou Fluvial;
- Transporte Aéreo.

V) NATUREZA JURÍDICA

a) Consensual, pois basta o consenso das partes para a conclusão do contrato.


Ele se estabelece mediante o simples acordo de vontades, o que significa que para o
aperfeiçoamento do contrato tem que haver a manifestação do transportador no
sentido de aceitar transportar a passoa ou a coisa, da mesma forma em que deve
haver a manifestação de vontade da pessoa ou do remetente da coisa, na celebração
do contrato de transporte. b) Oneroso, na medida em que assiste ao transportador
direito ao recebimento de remuneração, conforme estabelece o art. 730 do CC. Há
muito a maioria dos juristas no Brasil, entre eles Orlando Gomes, sustenta que
realmente a onerosidade é da essencialidade do contrato de transporte, ou seja,
sempre deverá haver a retribuição.
c) Não solene, independe de forma expressa ou prescrita em lei, pois o código
não exigiu nenhuma forma especial.
b) Bilateral, na medida em que gera obrigações para ambas as partes, porque as
prestações e as contraprestações são dadas em co-respectividade, isto é, umas em
função das outras, havendo reciprocidade entre a prestação e a contraprestação.
Sendo um contrato bilateral permite, portanto, a resolução pelo descumprimento do
contrato e também exige a equivalência entre as prestações.

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

e) Comutativo, isto é, desde logo se sabe, no momento da celebração, qual a


atribuição que se dá a um e a outro dos participantes do contrato: da parte do
transportador, a obrigação de prestar o serviço da trasladação e o direito de receber o
preço; do lado do transportado, no transporte de pessoas, o direito de ser
transportado e o dever de pagar o preço, e do lado do remetente, no transporte de
coisas, o direito de ser indenizado em caso de acidente com a coisa transportada
imputada ao transportador e o dever de pagar o frete.
f) De adesão, isto é, as cláusulas gerais referentes ao contrato, as condições do
negócio, geralmente são impostas para a outra parte, que na maioria das vezes não
tem possibilidade de discutí-las.
g) De resultado, pois o seu objeto, pessoas ou coisas, devem ser transportados
até o seu destino.
h) De garantia, diante da cláusula de incolumidade inerente ao contrato de
transporte.

VI) REMUNERAÇÃO

No transporte de pessoas, a remuneração é denominada como passagem.


No transporte de coisas, a remuneração é denominada frete.

VII) TRANSPORTE DE PESSOAS (ARTS. 734 A 742, CC)

A obrigação do transportador é de resultado. Está ele sujeito a horários, itinerários,


não pode recusar passageiros, etc. Tem de transportar o passageiro e sua bagagem
de um lugar para outro, no tempo e no modo convencionados, responsabiliza-se
pelos atrasos, e deve levá-lo até o destino.
E tanto é de resultado essa sua obrigação, que no caso de haver uma interrupção
nesse transporte, ele é obrigado a completar o transcurso com outro veículo, que há
de ser colocado à disposição do transportado. Fica, assim, bem caracterizada a
obrigação de resultado.
E além de uma obrigação de resultado, há também uma obrigação de garantia. Isto é,
o transportador responde pela incolumidade do transportado.
Como já exposto, o contrato de transporte se consuma pelo acordo de vontade entre
as partes, apesar de entendimentos que de que sua natureza seja real.
O pagamento da passagem não é necessário para a celebração do contrato de
transporte, tendo em vista que, em muitos casos, o pagamento somente se realiza no
curso ou no final da viagem, ou até mesmo depois, como no caso do pagamento da
passagem em prestações. Assim, o pagamento da passagem já é fase de execução
da obrigação assumida pelo passageiro.

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

Com base nos ensinamentos do Mestre Sergio Cavalieri Filho, o início do contrato de
transporte, principalmente no tocante à obrigação do transportador, “tem lugar quando
se inicia a viagem”. Para o Mestre “a aprtir daí, torna-se operante a cláusula de
incolumidade, que persiste até o final da viagem”. Assim, mesmo que consideremos
que basta o consenso entre as partes para a efetivação do contrato entre as partes, é
imprescindível que a execução do contrato já tenha se iniciado para que possa ser
imputada a responsabilidade do transportador por acidente com o passageiro.
Cumpre ressaltar, com base nos ensinamentos de Segio Cavalieri Filho que, “ a
responsabilidade contratual decorre da inexecução, da quebra do contrato, do
inadimplemento. O indivíduo pode ter adquirido uma passagem de ônibus, digamos,
para São Paulo, e morrer quando ia para a estação rodoviária. A toda evidência, a
empresa de ônibus que haveria de transportá-lo para São Paulo nada terá a
indenizar, porque o acidente ocorreu antes de ser iniciar a execução do contrato”.
As regras dispostas no código civil disciplinam, principalmente, a responsabilidade do
transportador em relação aos seus passageiros, sendo certo que tais questões serão
abordadas com maior profundidade no tópico referente a responsabilidade do
transportador.
O art. 734 do novo diploma manteve a responsabilidade objetiva do transportador
“pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de
força maior”, proibindo qualquer cláusula de não indenizar. Considerando que, em
outros dispositivos, o Código refere-se conjuntamente ao caso fortuito e à força maior,
pode-se inferir, da leitura do aludido dispositivo, que o fato de ter sido mencionada
somente a força maior revelaria a intenção do legislador de considerar excludentes da
responsabilidade do transportador somente os acontecimentos naturais, como raio,
inundação, terremoto, etc., e não os fatos decorrentes da conduta humana, alheios à
vontade das partes, como greve, motim, guerra, etc.
Vale ressaltar que a jurisprudência e a doutrina moderna têm considerado com base
na lição de Agostinho Alvim, a distinção entre “fortuito interno” (ligado à pessoa, ou à
coisa, ou à empresa do agente) e “fortuito externo” (força maior). Somente o fortuito
externo, isto é, a causa ligada à natureza, ou qualquer outra estranha à pessoa do
agente e à máquina, excluirá a responsabilidade deste em acidente de veículos. O
fortuito interno, não. Prescreve o art. 735 do novo Código: “A responsabilidade
contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de
terceiro, contra a qual tem ação regressiva”. O novo Código Civil reproduz, no aludido
art. 735, o texto da Súmula 187 do Supremo Tribunal Federal, com a mesma redação.
Por outro lado, prescreve o art. 738 do novo Código: “A pessoa transportada deve
sujeitar-se às normas estabelecidas pelo transportador, constantes no bilhete ou
afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo
ou prejuízo aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a
execução normal do serviço”. Não se pode, assim, considerar que o usuário é
dispensado de velar pela própria segurança. A responsabilidade do transportador
pode ser ilidida se o acidente proveio de culpa do usuário. Assim, o passageiro deve

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

atender às determinações do transportador. Tem de se sujeitar às normas e


regulamentos do transporte, pagar o preço, apresentar-se no momento da partida,
não assumir conduta que prejudique os demais passageiros, ou que afete a boa
execução do serviço.
Aduz o parágrafo único do aludido art. 738: “Se o prejuízo sofrido pela pessoa
transportada for atribuível à transgressão de normas e instruções regulamentares, o
juiz reduzirá eqüitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver
concorrido para a ocorrência do dano”. Verifica-se, assim, que a culpa concorrente da
vítima constitui causa de redução do montante da indenização pleiteada, em
proporção ao grau de culpa comprovado nos autos.
O passageiro tem o direito de rescindir o contrato antes do início da viagem, desde
que avise o transportador em tempo para que este possa vender a passagem a um
terceiro, ou seja, renegociar o mesmo bilhete, e uma vez feito esse comunicado a
tempo, ele tem o direito de obter a restituição do valor da passagem. O passageiro
poderá ainda desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, e se provar
que outra pessoa foi transportada em seu lugar após a sua desistência, terá direito a
restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado. Quando ele não avisa e
não comparece antes de iniciada a viagem, poderá obter a restituição do valor pago,
desde que demonstre que houve o repasse desse lugar para um terceiro, isto é, se o
transportador recuperou a perda decorrente da desistência. Em todos estes casos,
sendo cabível a restituição do valor, até 5% (cinco por cento) deste há de ser retido a
título de multa compensatória devida ao transportador (art. 740, CC)
Por último, devemos fazer um exame da relação que se estabelece quando o
transporte se dá por meio de táxi, apesar da dificuldade em encontrar
posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais a esse respeito. As características do
contrato de transporte coletivo se ajustam bem à situação do transporte coletivo
urbano efetuado por companhias de transporte. O difícil é definir essa situação
quando se trata de táxi. Muitos dizem que não há contrato de transporte, apenas uma
prestação de serviço, porque a determinação direta de como deve ser feito o trajeto, a
velocidade, as paradas, etc., tudo isso é ditado pelo próprio conduzido, pelo
transportado, o que não acontece no contrato de transporte propriamente dito, pois é
de adesão. Em recente artigo sobre o contrato de transporte no novo código civil, o
Ministro Ruy Rosado de Aguiar se posicionou, de acordo com a maioria, que também
há contrato de transporte com táxi, ainda que seja táxi individual, porque
fundamentalmente o que há ali é um contrato feito para o traslado da pessoa de um
ponto para outro, havendo um contrato individual de transporte de pessoa por táxi.

VIII) TRANSPORTE GRATUITO E APARENTEMENTE GRATUITO

O atual Código Civil define o contrato de transporte como aquele pelo qual “alguém se
obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

coisas” (art. 730, CC). Logo adiante, preceitua: “Não se subordina às normas do
contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia”. E o parágrafo
único complementa: “Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito
sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas” (art. 736, CC).
Assim, o Código, depois de definir o contrato de transporte como sendo aquele feito
mediante retribuição, mais adiante, no art. 736, exclui do âmbito de sua regulação
apenas o transporte feito por amizade, o chamado contrato benévolo. Daí por que é
possível estabelecer uma diferença.
Há o transporte mediante retribuição, que corresponde a um contrato oneroso, e há o
transporte gratuito, que se dá quando o transportado não tem nenhuma obrigação de
satisfazer pagamento de preço ou de passagem. No gênero “transporte gratuito”,
podemos ver duas espécies e distingui-las: aquele no qual o transportador não tem
nenhum interesse, não aufere benefício algum, que é o prestado por amizade, ou
meramente para favorecer o transportado, de um lado, e aquele outro que, embora
sendo gratuito, isto é, sem cobrança de passagem, de algum modo interessa ao
transportador.
No primeiro tipo de transporte gratuito (transporte tipicamente gratuito), desse que é
feito por simples amizade, e para benefício exclusivo do transportado, chamado de
transporte benévolo, esse não configura um contrato de transporte.
No segundo tipo de transporte gratuito (transporte aparentemente gratuito), embora
feito sem contraprestação direta, nele existe, de algum modo, interesse do
transportador: neste caso há contrato de transporte, e aplicamos a ele a legislação
própria do contrato de transporte. Isso acontece, por exemplo, quando uma
companhia de turismo põe gratuitamente um ônibus à disposição dos turistas, o que
também é feito no interesse dela, em manter, ampliar e aperfeiçoar os seus serviços,
angariando clientela. Nesse caso, há também o contrato de transporte, embora seja
um contrato gratuito. O STJ julgou um processo em que uma companhia de petróleo
transportava para uma plataforma alguns jornalistas, e o transporte era gratuito. Era
gratuito porque os jornalistas não pagaram a passagem, mas havia interesse em
fazer esse transporte, por parte da companhia, porque visava à divulgação das
notícias que seriam editadas por tais jornalistas. O transporte era gratuito, mas havia
um contrato de transporte, e a responsabilidade de quem presta o transporte gratuito
é a mesma da de quem fornece transporte oneroso.
No transporte benévolo, há, de qualquer modo, uma relação entre o transportador e o
transportado, e com base no posicionamento majoritário, não há contrato, e a ele não
se aplicam as regras da responsabilidade contratual. Incidem as disposições da
responsabilidade extracontratual, com uma importante limitação: somente se
reconhece a responsabilidade do transportador quando agir com culpa grave ou dolo,
conforme a Súmula 145 do STJ que estabelece que: “No transporte desinteressado,
de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos
causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.” Vale ressaltar
que este é o posicionamento majoritário adotado tanto pela doutrina como pela

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

jurisprudência, inclusive com base em recente artigo doutrinário sobre o contrato de


transporte no novo código civil de autoria do Ministro Ruy Rosado de Aguiar.
Porém, existe uma outra corrente, apesar de minoritária, mais defendida por
respeitáveis doutrinadores, dentre estes Sérgio Cavalieri Filho, que por achar que
seria injusto que o transportado gratuitamente somente seja indenizado em caso de
dolo ou culpa grave do transportador, deveria ser aplicada a regra geral da
responsabilidade extracontratual prevista no art. 186 c/c com o caput do art. 927 do
CC, ou seja, que o transportador deve ser responsabilizado independetemente do
grau de culpa, ou no caso de dolo.
E por que o transporte benévolo não é considerado contrato de transporte? Antunes
Varela procura explicar essa relação, dizendo que seria uma grave injustiça para com
o transportador, que o faz por benemerência em favor do transportado, submetê-lo
aos rigores de um contrato de transporte com aquelas características que nós vimos.
Então, fundamentalmente, seria uma questão de justiça.

IX) RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR

O art. 734 trata da responsabilidade pelos danos causados às pessoas transportadas,


e a regra principal é a de que a transportadora responde pelos danos sofridos pelo
transportado desde que se inicia o transporte, até o seu destino, a se entender como
início do transporte terrestre o momento em que a pessoa se faz passageiro, não
aquele em que compra a passagem, nem quando está na parada do ônibus, mas sim
quando ingressa no ônibus, e termina quando desce do veículo, sendo este o melhor
posicionamento, apesar de entendimentos em sentido contrário. Quando a estação de
embarque faz parte da empresa de transporte, como no caso do metrô, pode ser
considerada a estação como início do contrato de tranporte. Assim, em certos meios
de transporte distinguem-se perfeitamente o momento da celebração do contrato e o
de sua execução. Nas viagens aéreas, por exemplo, é comum a passagem ser
comprada com antecedência. Nestes casos, a responsabilidade do transportador só
terá início com a execução da avença. No transporte rodoviário, tendo em vista que a
estação não pertence à transportadora, a execução se inicia somente com o
embarque do passageiro, e só termina com o desembarque. Se o passageiro vem a
se ferir em razão de queda ocorrida durante o embarque, porque o ônibus
movimentou-se abruptamente, por exemplo, configura-se responsabilidade do
transportador, porque já se iniciara a execução do contrato, e do mesmo modo se a
queda ocorrer por ocasião do desembarque. No caso das estradas de ferro, a
responsabilidade do transportador tem início quando o passageiro passa pela roleta e
ingressa na estação de embarque. Daí por diante, estará sob a proteção da cláusula
de incolumidade, também atribuída pela responsabilidade decorrente do vício ou
defeito do serviço, respondendo a ferrovia pelos acidentes ocorridos com o
passageiro durante a vigência do contrato. Remetemos ainda o leitor aos pontos

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Direito Civil – Contratos em Espécie - Professora Cristiane Gribel

referentes ao transporte de pessoas e coisas como complementação do estudo sobre


a responsabilidade do transportador.
A obrigação do transportador é de resultado. Está ele sujeito a horários, itinerários,
não pode recusar passageiros, etc. Tem de transportar o passageiro e sua bagagem
de um lugar para outro, no tempo e no modo convencionados, responsabiliza-se
pelos atrasos, e deve levá-lo até o destino.
A única exclusão permitida no Código é a da força maior. A lei não mais faz referência
a caso fortuito, nem à culpa da vítima, mas à força maior, isto é, àquele fato inevitável,
que se reconhece quando o transportador demonstrar que tudo fez para evitar o
acidente e o conseqüente dano. Se for assim, o fato era inevitável, e por esse é que
haverá a exclusão da responsabilidade. Fora daí, o transportador deve responder.
Há uma regra que permite a redução dessa indenização por culpa da vítima (art. 738,
parágrafo único), quando esta age contra o regulamento. Demonstrado que a vítima
concorreu para o resultado, nas hipóteses enunciadas no parágrafo único, a
indenização será eqüitativamente reduzida. Vale ressaltar que a previsão do Código é
apenas para reduzir a indenização. É de se perguntar: se, porventura, a culpa for
exclusiva da vítima, é possível excluir, também, a responsabilidade? Essa situação
não está prevista no código. Porém, tanto a doutrina como a jurisprudência têm
entendido que, se o fato acontece por culpa exclusiva da vítima, falta a relação causal
entre o dano e a ação da transportadora, pelo que o resultado somente pode ser
atribuído a quem lhe deu causa, isto é, à própria vítima. Portanto, a culpa concorrente
da vítima pode determinar a redução da indenização, e a culpa exclusiva dela, a
exclusão da responsabilidade do transportador por falta de nexo de causalidade entre
a conduta do transportador e o dano. Por essa razão, por exemplo, o Superior
Tribunal de Justiça vem decidindo, em caso de queda de trem por praticante de
“surfismo ferroviário”, que descaracteriza o contrato de transporte a atitude da vítima,
que, podendo viajar no interior do trem, se expõe voluntariamente a grave risco,
optando injustificadamente por viajar no teto.
A responsabilidade por acidente não se exclui por culpa de terceiro (art. 735, CC),
situação que ordinariamente ocorre quando o descuido causador do dano é do outro
motorista, caso em que a transportadora responde pela reparação do dano sofrido
pelo seu passageiro. Neste caso o transportador indeniza o passageiro e move,
depois, ação regressiva contra o terceiro culpado pelo acidente. Porém, quando há
uma situação de dolo, como acontece no assalto ou outros atos de violência, temos
de nos remeter para a situação geral da força maior, do fato inevitável, e
pesquisarmos se essa ação do terceiro se inclui ou não na situação da força maior.
Conforme já esclarecido anteriormente, a doutrina moderna denomina-o como fortuito
externo o fato que não guarda nenhuma relação com a atividade do transportador,
com a organização da empresa, e que por esta razão exclui a sua responsabilidade,
pois não tem meios de evitar ou impedir o acontecimento, equiparando-se a força
maior. Já o fortuito interno, ou seja, aquele fato que tem alguma relação com a
atividade exercida pelo transportador, com a organização de sua impresa, sendo uma

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situação que pode evitar, não terá o condão de excluir a sua responsabilidade. Assim,
na hipótese do assalto, a regra de que o transportador responde, mesmo por culpa de
terceiro, não servirá para resolver o caso em que o terceiro assaltante agiu com dolo,
devendo ser a questão solucionada à luz da possibilidade da exclusão pela ‘força
maior’, ou fortuito externo, e não propriamente pela culpa do terceiro. Vale ressaltar,
entretanto, que apesar deste ser o posicionamento majoritário tanto da doutrina como
da jurisprudência, inclusive do STJ, existem posicionamentos (minoritários) de que o
assalto poderia ser evitado pelas empresas de tranporte com a instalação de
câmeras, detector de metais, seguranças, etc., sendo uma hipótes de fortuito externo,
e que por esta razão não exclui a responsabilidade do transportador. Assim, apesar
da existência de divergência, o assalto à mão armada em interior de ônibus, embora
se pudesse ter hipoteticamente meios de evitá-lo, constitui, segundo o
posicionamento dominante, causa estranha ao transporte, que isenta de
responsabilidade o transportador, ao fundamento, especialmente, de que o dever de
prestar segurança pública, inclusive aos passageiros, é do Estado, conforme art. 144
da Constituição Federal, não se podendo transferi-lo ao transportador.
Observa-se que a responsabilidade contratual do transportador pressupõe a formação
de um contrato de transporte, de modo que afasta essa responsabilidade quando se
trata de um passageiro clandestino
A responsabilidade pelo dano causado a um terceiro que não seja passageiro, como
no caso de atropelamento de pedestre, é extracontratual e objetiva, podendo ser
aplicado o art. 17 do CDC para esta definição, pois equipara-se a consumidor para
efeitos de aplicação do referido código todas as vítimas do acidente de consumo,
sendo este o posicionamento defendido por Sergio Cavalieri Filho em seu
imprescindível livro “Programa de Responsabilidade Civil”.
Em relação aos seus funcionários, como por exemplo o cobrador ou o motorista, a
sua responsabilidade será baseada no art. 7, inc. XXVIII, da CF, já que estaremos
diante de um acidente de trabalho, sendo cabível ação de reparação de danos em
face do empregador (empresa de transporte), quando este incorrer em dolo ou culpa,
independetemente da indenização cabível junto ao INSS decorrente do acidente, por
força do seguro contratado para esta cobertura.

17. SEGURO (ARTS. 757 AO 802 DO CC)

I) CONCEITO

É o contrato pelo qual uma das partes, denominada segurador, se obriga,


mediante o recebimento de um prêmio, a garantir interesse legítimo de outra,

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denominada segurado, relativo a pessoa ou coisa, contra riscos predeterminados no


contrato, conforme art. 757 do Código Civil.

II) PARTES

Segurador e Segurado

III) NATUREZA JURÍDICA

Bilateral, oneroso, aleatório, consensual, não solene (com posições de que


seria solene, por causa da apólice). Muitas vezes configura contrato de adesão, e
exige-se a boa fé.

IV) OBJETO

Interesse legítimo relacionado à pessoa ou coisa.

V) RISCO (ART. 760, CC) E SINISTRO

O risco é a cobertura assumida pela segurador no contrato de seguro, e sinsitro


é o acontecimento futuro e incerto, que obriga a seguradora o pagamento da
indenização.

VI) PRÊMIO (ART. 764, CC) E MORA (ART. 763, CC)

O prêmio é o valor que o segurado paga à seguradora para obter o direito a


uma indenização, se ocorrer o sinistro oriundo do risco garantido e previsto no
contrato.
Pelo disposto no art. 763do CC, o segurado que estiver em mora no momento
da ocorrência do sinistro, perde o direito a indenização. No entanto, este dispositivo
tem sido relativizado pela doutrina e pela jurisprudência. O mesmo dispões os
ENUNCIADOS N.º 371 E 376 DA IV JORNADA DE DIREITO CIVIL DO CJF.

VII) INDENIZAÇÃO E O SEU VALOR

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Indenização é o valor pago pela seguradora ao segurado, compensando-lhe o


prejuízo econômico decorrente do risco assumido na apólice. No seguro de pessoa,
será o exato valor convencionado, sem limitação (ART. 889, CC); e no seguro de
coisas, o limite é o seu valor (ART. 778, CC).

VIII) RATEIO (ARTS. 781 e 783, CC)

Quando se realiza seguro por valor inferior ao objeto segurado. Neste caso,
indenização será proporcional se o sinistro for parcial.

IX) AGRAVAMENTO DE RISCO E SUA REDUÇÃO (ART. 768 ao 770, CC)

O segurado que agravar intencionalmente o risco assumido pela seguradora,


perde o direito ao pagamento da indenização, conforme estabelece o ar. 768 do CC.
A diminuição do risco na vigência do contrato não acarreta, salvo disposição em
contrário, a redução proporcional do prêmio pago pelo segurado, só sendo possível
se a diminuição for considerável. Nesta hipótese, o segurado pelo requerer a revisão
do prêmio ou a resolução do contrato.

X) ATO DOLOSO DO SEGURADO OU DE SEU BENEFICÁRIO OU PREPOSTOS


(ART. 762, CC)

Nulo será o contrato de seguro para garantir risco decorrente de ato doloso
praticado pelo segurado, pelo seu beneficiário, ou por seus prepostos

XI) SUICÍDIO (ART. 798, CC)

O beneficiário, no seguro de vida, não terá direito ao pagamento do capital


estipulado, se o segurado cometer suicídio nos primeiros dois anos de vigência inicial
do contrato. Tal “carência” estabelecida pelo legislador visa afastar as hipóteses
amplamente discutidas na doutrina do suicídio premeditado do segurado.

XII) SUB-ROGAÇÃO (ART. 786, CC)


A seguradora goza da sub-rogação prevista em lei, no artigo 786 do Código
Civil. Ao efetuar o pagamento da indenização, passa a ter os mesmos direitos e ação
que o segurado tinha perante o autor do dano, responsável pelo sinistro. Só não terá

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este direito se o dano foi causado pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou
ascendentes.

18. CONSTITUIÇÃO DE RENDA (ARTS. 803 AO 813 DO CC)

I) CONCEITO E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS


Pelo contrato de constituição de renda, uma pessoa (o instituidor) entrega a o
utrem (rendeiro ou censuário) um capital, que pode consistir em bens móveis ou
imóveis, obrigando-se este a pagar àquela ou a terceiro por ela indicado,
periodicamente, uma determinada prestação (CC, arts. 803 e 804). Essa renda pode
ser constituída por ato inter vivos ou por testamento. Pode ser a título gratuito
(quando há o propósito de fazer liberalidade em favor de terceiro beneficiário, sem
exigência de contraprestação, equiparando-se a uma doação), ou a título oneroso,
quando são entregues bens móveis ou imóveis ao censuário, pagando este uma certa
renda ao instituidor

19. JOGO E APOSTA (ARTS. 814 AO 817 DO CC)

I) CONCEITO E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

No primeiro o resultado decorre da participação dos contratantes. O êxito ou o


insucesso dependem da atuação de cada jogador. O vencedor fará jus a uma certa
soma, previamente estipulada. Na aposta o resultado não depende das partes, mas
de um ato ou fato alheio e incerto. Vence a aposta aquele cujo ponto de vista a
respeito de fato praticado por outrem se verifique ser o verdadeiro. O tratamento legal
dado aos dois institutos é o mesmo. Classificam-se os jogos em ilícitos (ou proibidos)
e lícitos (ou tolerados), ou seja, aqueles que apesar de não autorizados por lei, não
existe também proibição, por isso são tolerados. Os jogos legalmente permitidos são
exigíveis. Dispõe o art. 814 do Código Civil que “As dívidas de jogo ou de aposta não
obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se
pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito”.
Igualmente nio se pode exigir reembolso do que se emprestou para jogo. ou aposta.
no ato de apostar ou jogar (art. 815 do Código Civil). Para que a dívida se torne
incobrável é necessário que o empréstimo tenha ocorrido no momento da aposta ou
do jogo. como o efetuado pelo dono do cassino para que o mutuário continue a jogar.

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20. FIANÇA (ARTS. 818 AO 839 DO CC)

I) CONCEITO (ART. 818, CC)

Ao atribuirmos um conceito do que venha a ser a fiança, importante mencionar


inicialmente o que venha a ser o conceito de garantia, que objetiva dar ao credor uma
maior segurança de pagamento, ou seja, de recebimento do seu crédito.
No direito brasileiro temos duas espécies de contratos de caução ou garantia:
Garantia Real, na qual uma coisa garante a dívida, como ocorrem no penhor, na
hipoteca, na anticrese; e Garantia Pessoal, onde uma pessoa garante a dívida, como
ocorre no caso da fiança e do aval. A distinção, neste caso, opera-se na situação em
que o aval se aplica nas dívidas submetidas aos princípios de cunho cambiário,
estipulando uma responsabilidade solidária, formal, autônoma e principalmente
independente. A fiança, em sentido diverso, tem por prerrogativa a criação de deveres
acessórios ao contrato principal anteriormente firmado, possibilitando inclusive o
benefício de ordem, não presente nos casos envolvendo o aval.
Assim, vale ressaltar que as garantias reais são muito mais seguras que as pessoais,
pois aquelas vinculam um bem ao cumprimento da obrigação, possibilitando ao
credor o exercício do direito de seqüela, que é a possibilidade de reaver a coisa, em
princípio, onde quer que ela se encontre, na hipótese de inadimplemento de devedor,
o que não acontece nas garantias pessoais, pois neste caso é uma pessoa, com todo
o seu patrimônio, que garante o cumprimento da obrigação, e não um bem (s)
individualizado (s).
Assim, fiança é o contrato pelo qual uma das partes, denominada fiador, obriga-se a
pagar a outra parte, o credor, a importância devida a este pelo devedor (afiançado),
caso este não a cumpra.
Conforme definição emanada pela professora Maria Helena Diniz: “A fiança ou
caução fidejussória vem a ser a promessa, feita por uma ou mais pessoas, de garantir
ou satisfazer a obrigação de um devedor, se este não a cumprir, assegurando ao
credor o seu efetivo cumprimento”. Esta definição, oriunda da hermenêutica do artigo
818, do Código Civil de 2002, proporciona ao operador do direito um entendimento
amplo, uma vez que o negócio jurídico nesta situação se concretiza entre o credor e o
próprio fiador, não ocorrendo a presença do devedor, cuja manifestação de vontade
mostra-se dispensável.
Na fiança, uma pessoa garante a satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo
devedor, caso este não cumpra. Assim, com já afirmado, o contrato de fiança é
celebrado entre o credor e o fiador, sendo esta a relação interna do contrato em
análise. Existe ainda uma relação externa importante, estabelecida entre o fiador e o
devedor (afiançado), mesmo este último não fazendo parte do contrato de fiança. A
primeira relação (credor e fiador) é considerada como essencial ao contrato, tanto é

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verdade que o art. 820, do CC prevê que a fiança pode ser estipulada ainda que sem
o consentimento do devedor, ou até mesmo contra a sua vontade.
A fiança é a promessa feita por uma ou mais pessoas, de garantir ou satisfazer a
obrigação de um devedor, se este não a cumprir, assegurando ao credor o seu efetivo
cumprimento (art. 818, CC).
A fiança é contrato acessório em relação ao principal, haja vista que para a sua
existência pressupõe-se a existência de um contrato principal. Neste contexto, em
regra, o fiador sempre responde subsidiariamente, isto é, somente quando o devedor
principal não cumpre a prestação, possibilitando ao credor demandá-lo. Entretanto, se
o fiador cumprir a obrigação que garante, tem a seu favor a possibilidade de ajuizar
uma ação contra o devedor principal, chamada ação de regresso, pois na qualidade
de terceiro interessado, sub-roga-se nos direitos que tinha o credor perante o devedor
principal.
Importante ainda ressaltar que a fiança pode ser celebrada antes, concomitantemente
ou após o contrato principal que ela garante, podendo ainda ser prestada no próprio
instrumento do contrato principal, ou em documento à parte.
Outra questão presente no contrato de fiança, diz respeito à forma, em que, como se
perceber na maioria dos institutos, admite uma forma convencional (decorrente de
vontade espontânea do devedor ou do credor); legal (oriundo principalmente de
dispositivo de lei, como decorre dos artigos 1.280, 260, Inciso II e 495, do Código
Civil); judicial (quando demanda a exigência de um processo judicial, configurando na
imposição da fiança, diante de determinação da mesma natureza).

II) PARTES

Fiador: quem se obriga a pagar a importância devida pelo devedor (afiançado), caso
ele não cumpra. É um exemplo de responsabilidade sem débito (haftung sem schuld).
Credor: sujeito ativo da relação obrigacional estabelecida com o devedor, e parte no
contrato estabelecido com o fiador, é legitimado a cobrança da dívida do fiador na
hipótese de inadimplemento do devedor, em regra.

III) NATUREZA JURÍDICA

a) Consensual, pois conclui-se pela manifestação de vontade das partes,


independentemente da entrega da coisa.
b) Gratuito, pois como regra, o fiador não recebe remuneração, sendo um contrato
benéfico, no qual o fiador pretende apenas ajuda o devedor, garantido ao credor o
pagamento da dívida. Entretanto, nada obsta que se pactue certa remuneração
devida ao fiador, muito comum em fianças prestadas por instituições bancárias, que
são remuneradas pelo devedor para garantirem dívidas frente a determinados

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credores, sendo que o valor da remuneração, na maioria das vezes, constitui uma
porcentagem sobre o valor garantido. Assim, nas fianças bancárias, os bancos
assinam termos de responsabilidade em favor de seus clientes, em troca, geralmente,
de uma porcentagem sobre o montante garantido. Assim, se a remuneração é paga
pelo devedor, que não é parte no contrato de fiança, e não pelo credor, o melhor
entendimento é de que nestes casos a natureza do contrato continua sendo gratuita,
apesar de respeitáveis posicionamentos em sentido contrário, que entendem pela
onerosidade, quando existe remuneração, independentemente de quem a satisfaça.
Porém, se a remuneração for satisfeita pelo credor, dúvidas não restam que
estaremos diante de um contrato de natureza onerosa, restando saber se permanece
com contrato típico de fiança.
c) Solene ou formal, pois em conformidade com o art. 819 do CC, o contrato de
fiança somente pode ser celebrado por escrito. A lei exige que a manifestação de
vontade do fiador seja expressa e inequívoca. Desta forma, a forma da fiança é
obrigatoriamente escrita, seja por instrumento público ou particular, não se admitindo
a fiança verbal, ainda que com testemunhas (fiança não se presume). Pode ela ser
realizada no próprio instrumento do contrato principal.
d) Unilateral, pois gera obrigação apenas para o fiador que se obriga para com o
credor, mas este não assume nenhum compromisso ou contraprestação em relação
àquele. Parte da doutrina entende que seja contrato bilateral imperfeito, tendo em
vista que, como efeito do pagamento efetuado pelo fiador, na qualidade de terceiro
interessado na solução da dívida, ele se sub-roga nos direitos do credor, sendo
permitida a cobrança da dívida em face do devedor, em ação de regresso.
f) Intuito personae, baseado na confiança entre os contratantes.
g) Acessório, não existe fiança sem um contrato principal, onde se encontra a
obrigação que está sendo garantida pela fiança. Desse modo, tudo o que ocorre na
obrigação principal (contrato principal) repercute na fiança. Exemplificando, José
contrata um mútuo de dinheiro com um Banco (contrato principal). Pedro, seu fiador,
assume obrigação acessória de quitar a dívida, caso José não pague (fiança –
contrato acessório). Como o acessório segue o principal (“accessorium sequitur
principale”), se o contrato principal for nulo, nula será a fiança (art. 824, CC), a não
ser que a nulidade seja oriunda da incapacidade pessoal do devedor, caso este em
que a fiança pode ser aperfeiçoada com seus regulares efeitos a critério do
magistrado mediante análise do caso concreto. No entanto a recíproca não é
verdadeira, ou seja, sendo nula a fiança, como contrato acessório, permanecerá
válido o contrato principal. Vale ainda ressaltar que a fiança abrange todos os
acessórios da dívida principal (juros, cláusula penal ou despesas judiciais). A fiança
pode ser total ou parcial, inclusive de valor inferior da obrigação principal; no entanto
nunca poderá ser superior ao valor do débito principal, nem ser mais onerosa do que
ele, sob pena de ser reduzida ao nível da dívida afiançada (art. 823, CC).
h) Subsidiariedade, pois o surgimento da responsabilidade do fiador mostra-se
presente quando o devedor principal ou afiançado não cumprir a prestação devida, ou

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for insolvente, a não ser que se tenha estipulado a solidariedade, situação esta em
que o fiador assume a posição de codevedor. sem descaracterizar as disciplinas que
abrangem o contrato de fiança.

IV) EXTENSÃO DA FIANÇA

O Contrato de fiança não admite interpretação extensiva. Assim, a fiança sempre será
interpretada restritivamente, pois o fiador, quando assume a obrigação de garantir um
contrato, será responsável nos exatos termos em que se obrigou. Desta forma, o
fiador responde por aquilo que efetiva e expressamente consignou no instrumento. Se
alguma dúvida surgir, deve ser interpretado favoravelmente ao fiador. Exemplificando,
se concedida para garantir aluguel, não se estende a danos causados no prédio por
incêndio, da mesma forma que não se estende aos pagamentos de impostos, etc.
Porém, se a fiança for estabelecida sem qualquer restrição compreenderá todos os
acessórios da dívida principal, inclusive as despesas processuais. Assim, em contrato
de locação e fiança, celebrado sem qualquer restrição em relação à responsabilidade
do fiador, este garantirá os aluguéis, condomínio, acessórios da locação, etc.
Assim, a fiança será limitada quando estabelecida à extensão da garantia, em sua
qualidade e quantidade, podendo não abranger todos os acessórios da obrigação
principal, e será ilimitada quando não apresentar qualquer restrição, ou quando
ajustada de forma ilimitada pelas partes, como no caso do fiador de contrato de
locação que se responsabiliza por todos os encargos oriundos do imóvel.
O limite da garantia do fiador é o valor da obrigação principal, já que dela é acessória,
pois o fiador não pode ser obrigado a pagar além do que foi estipulado na obrigação
principal, podendo, porém, ser parcial, como esclarecido acima, figurando como
garantidor até um limite, ou seja, um valor inferior ao da obrigação principal.
Se for estabelecida em valor superior ao da obrigação principal, bem como em
condições

V) REQUISITOS SUBJETIVOS. LEGITIMIDADE E OUTORGA CONJUGAL

Podem ser fiadores todos aqueles que são maiores ou emancipados e com
direito à livre disposição dos seus bens. O cônjuge, sem outorga uxória (anuência
expressa), não poderá assumir esta responsabilidade, exceto no regime da
separação absoluta de bens, conforme artigo 1.647, inc. III, do código civil atual. A
ausência da outorga uxória, não suprida pelo juiz (pois pode haver o suprimento da
outorga judicialmente), torna o ato anulável.
Somente o cônjuge interessado pode argüir a falta de outorga. A nulidade não
pode ser requerida pelo cônjuge que anuiu e nem mesmo ser decretada “ex officio”
pelo juiz. O prazo para requerer a nulidade da fiança, que antes era de quatro anos,

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contados a partir da dissolução da sociedade conjugal, agora, com a entrada em vigor


do novo Código, foi reduzido para até dois anos depois de terminada a sociedade
conjugal (art. 1.649, CC), prazo este decadencial. Anulada a fiança, a pecha macula
todo o negócio, e não somente o quinhão do cônjuge interessado.

VI) EFEITOS DA FIANÇA – BENFÍCIO DE ORDEM – SUB-ROGAÇÃO

O credor não é obrigado a aceitar o fiador apresentado pelo devedor


(afiançado), como no caso do mesmo não for idôneo, domiciliado no mesmo
município onde prestará a fiança o não possua bens. Porém, no caso de haver recusa
injustificável pelo credor, tal questão poderá se levada em Juízo, submetendo-a a
decisão judicial.
Pode ainda o credor exigir a substituição do fiador ou seu reforço em caso de
insolvência ou incapacidade superveniente, sendo certo que se tal providência não for
cumprida, caberá a rescisão do contrato.
O benefício de ordem é um direito que tem o fiador de só responder pela dívida
se, primeiramente, for acionado o devedor principal e este não cumprir a obrigação de
pagar. Segundo as disposições do atual Código Civil, constantes no artigo 827, que
manteve a mesma redação do artigo 1.491 do Código antigo, o devedor tem direito a
exigir, até a contestação da lide, que primeiro sejam executados os bens do devedor.
E o parágrafo único do mencionado artigo diz que: “O fiador que alegar o benefício de
ordem a que se refere este artigo, deve nomear bens do devedor, sitos no mesmo
município, livres e desembargados, quantos bastem para solver o débito”.
Mesmo sendo a responsabilidade do fiador subsidiária, em regra, se o devedor
for insolvente, nada impede que o credor acione diretamente o fiador.
Nesse contexto, caso o devedor principal não cumpra a obrigação, e o fiador
venha a ser acionado para responder pela dívida, sem que antes tenha sido acionado
aquele, poderá alegar o benefício de ordem para que os bens do devedor sejam
excutidos em primeiro lugar. Mas, é importante ressaltar que se foi estipulada
solidariedade entre devedor e fiador, esta situação permite ao credor cobrar a dívida
tanto do devedor principal como do fiador. O mesmo se verifica se o fiador tiver
renunciado ao benefício de ordem.
Vale ainda ressalta que o fiador, na qualidade de terceiro interessado, quando a
paga a dívida pela qual poderia ser obrigada, se sub-roga nos direitos do credor
perante o devedor, dispondo de ação regressiva quanto ao mesmo, sendo um caso
de sub-rogação legal, conforme art. 831 c/c 346 a 351 do Código Civil. Sub-rogar
significa estar no lugar de. Sub-rogação nos direitos do credor significa que o fiador
que paga passa a ocupar o lugar do credor, assumindo-lhe todos seus direitos,
inclusive o de executar o devedor, ou os outros fiadores.

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VII) FIANÇA – RESPONSABILIDADE DOS HERDEIROS

A obrigação do fiador se transmite aos herdeiros, limitando-se até as dívidas


existentes até a sua morte e no limite das forças da herança. Assim, os herdeiros do
fiador respondem quanto às obrigações assumidas pelo “de cujus” em razão de
fiança. Mas a responsabilidade da fiança não pode ultrapassar as forças da herança e
se limitará até a data da morte do fiador.

VIII) FIANÇA COLETIVA - PLURALIDADE DE FIADORES (ART. 829 E 830, CC)

Havendo pluralidade de fiadores há responsabilidade solidária entre os


cofiadores, salvo se declararam o benefício de divisão (art. 829, CC), caso em que
cada um dos fiadores responderá pela sua parte no pagamento, sendo cabível o
chamamento ao processo em caso de demanda proposta somente em face de um
deles. Assim, a responsabilidade de cada fiador poderá ser limitada, não sendo
responsável se não pela sua parte (art. 830 CC). Porém, havendo obrigação solidária
em relação ao pagamento da dívida, o benefício de ordem é inaplicável aos fiadores,
visto que ao credor é lícito escolher qual devedor deverá ser acionado para
cumprimento da obrigação.

X) EXONERAÇÃO DA FIANÇA (ART. 835, CC)

No que diz respeito à exoneração da fiança, primeiramente, deve-se analisar se


o contrato foi assinado por tempo determinado ou indeterminado, pois no primeiro
caso a fiança se extingue no momento em que se dá por encerrado o prazo
contratado. No segundo caso, o fiador permanecerá responsável enquanto o contrato
estiver vigorando, e no segundo o fiador pode dela se exonerar a qualquer tempo.

21. TRANSAÇÃO (ARTS. 840 AO 850 DO CC)

I) CONCEITO E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

É o negócio jurídico bilateral, por meio do qual as partes, mediante concessões


mútuas, previnem ou terminam litígio. Tal conceito está previsto no art. 840 do Código
Civil. Somente pode ter por objeto direitos patrimoniais de caráter privado com base
na lei (art. 841 do Código Civil. Conforme o 842 do Código Civil, a transação será
celebrada por escritura pública “nas obrigações em que a lei o exige”. É o que ocorre,

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por exemplo, com transações para prevenir ou extinguir litígio que envolva discussão
sobre direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário-
mínimo vigente no País (art. 108 do Código Civil). Nas relações jurídicas em que não
é exigida a escritura pública, ela pode ser celebrada por instrumento particular. Caso
o direito objeto da transação já esteja sendo disputado em juízo, as partes deverão
transacionar por escritura pública ou por termo nos autos, assinado por elas (partes
ou transigentes e devidamente homologado pelo juiz.

22. COMPROMISSO (ARTS. 851 AO 853 DO CC)

I) CONCEITO E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

É acordo bilateral em que partes que podem contratar submetem seus litígios
ou controvérsias à decisão de árbitros, obrigando-se, naturalmente, a acatá-la. Pode
ser judicial ou extrajudicial, conforme estabelece o art. 851 do Código Civil. Assim
como na transação, não é possível firmar compromisso para a solução de questões
de estado, de direito pessoal de família e de outras que não tenham caráter
estritamente patrimonial (art. 852 do Código Civil).
Ao celebrarem qualquer contrato, que tenha por objeto direitos patrimoniais
disponíveis, podem as partes estipular, preventil’amente, que eventual dúvida ou
conflito de interesses que venha a surgir durante a sua execução seja submetida à
decisão do juízo arbitral. Tal deliberação denomina-se Cláusula Compromissória, e é
simultânea à formação da obrigação. Nasce junto com o contrato principal, do qual é
parte acessória. Pode estar nele inserto ou em documento apartado que a ela se
refira. Assim dispõe o § 1 do art. 42 da Lei da Arbitragem. cujo caput estabelece: “A
cláusula compromissória é a convenção através da qual as partes em um contrato
comprometem-se a submeter à arbitragem os litígios que possam vir a surgir,
relativamente a tal contrato”. O Compromisso Arbitral constitui “convenção através da
qual as partes submetem um litígio à arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo
ser judicial ou extrajudicial” (art. 92). Só será firmado se, durante a execução do
contrato, surgir algum conflito de interesses entre os contratantes.

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