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ART. 1022º: locação é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o
gozo temporário de uma coisa, mediante retribuição.
• Contrato com prestação especifica: proporcionar a outrem o gozo de uma coisa
corpórea;
• Caracter transitório de celebração por período transitório;
• Contrapartida pecuniária pelo gozo da coisa.
A lei, atualmente, regula o contrato de locação em geral do CC, sendo também aí que
encontramos o essencial do regime do Arrendamento Urbano, mas, fora do CC estão outros
regimes, como diplomas relativos a aspetos do arrendamento urbano e todo o regime do
Arrendamento Rural.
Doutrina discute: se existe uma prestação de facere e uma prestação de non facere.
• Prestação devida pelo locador é apenas omissiva, no sentido que ele apenas tem de
tolerar e não perturbar o gozo do locatário.
• ML, RM: prestação positiva, que se concretiza em várias ações. Por exemplo: o locador
é obrigado, no arrendamento urbano, a fazer obras de conservação- artigo 1074º.
MLP: vai ganhando algum corpo a ideia de que os contratos, de que a locação é exemplo,
podem não criar obrigações, mas sim outras atribuições patrimoniais que não revistam a
forma de obrigações.
• Ex. compra e venda de direito não reveste forma obrigacional.
• Não negue que o locador esteja obrigado a algumas ações que sejam configuráveis
como prestações, mas contesta que a qualificação daquilo que o locador dá a título
principal é uma obrigação.
• Ex: coisa móvel furtada, no caso do aluguer. A lei diz que o locador não tem de
assegurar o gozo contra atos de terceiro, pelo que podem-se fazer diligencias para se
se encontra o carro, mas não há responsabilidade do locador. Assim, não há prestação
do locador que é incumprida, mas o locatário tem direito a deixar de pagar o aluguer
(1040º CC). Como conseguimos explicar isto se nos mantivermos fiéis à ideia de que eu
o contrato institui em consideração que o locador não dá uma prestação, mas o gozo
da coisa.
• Aquilo que o locador dá não é uma prestação, mas sim o gozo da coisa, que não é
configurável como uma prestação ou como um comportamento do locador.
o Se o gozo for perturbado, então a outra parte pode não fazer a
contraprestação, porque não obteve o gozo.
o Existem sempre algumas prestações que estão incumbidas sobre o locador,
contudo estas não são a sua atribuição principal, mas sim prestações
instrumentais.
Posição do Locador, no contrato de locação, é que ele faculta o gozo da coisa, em si, pelo qual
recebe dinheiro.
Posição do locatário, no contrato de locação, não é qualificada como um direito de crédito.
• Mas tal não obriga a qualificar o direito do locatário como direito real;
• A única consequência necessária desta tese é desqualificar o direito do locatário
como direito de crédito- o direito do locatário não é uma prestação.
o O que recebe a título principal não é uma prestação, é o gozo;
o Há de facto prestações, mas o que se recebe é o gozo e não um crédito ao gozo.
Art. 1023º
• Arrendamento- locação que recai sobre coisa imóvel.
o Pode ser Urbano (para fins habitacionais ou fins não habitacionais) ou Rústico
(pode ser rural, se tiver fins agrícolas, florestais ou outras atividades desse estilo).
o Aluguer- locação que recai sobre coisa móvel.
Legitimidade para celebrar contratos de locação não se cinge ao proprietário e são válidos e
eficazes.
o problema é que o contrato caduca no termo do direito que está na sua base. Ex:
usufruto foi celebrado por 10 anos e co contrato de locação de tempo indeterminado,
caduca no fim desse usufruto.
E se alguém sem legitimidade celebra um contrato de locação?
Seria nulo.
o Mas a lei vem dizer que o contrato é válido, mas poderá considerar-se não
cumprido (art. 1034º). Considera-se não cumprido quando numa locação de bens
alheios o proprietário vem reivindicar.
o Não se aplica a lógica da nulidade de compra e venda de bens alheios;
o Contrato não se considera incumprido se locatário conseguir aproveitar o gozo do
bem sem ser perturbado- não pode invocar que locador não tem legitimidade,
para evitar pagar a renda, se conseguir gozar do apartamento;
Contrato é válido e eficaz inter partes, mas isso não afeta o direito real do proprietário
(terceiro contrato).
Efeitos da locação
Obrigações do locador
I. Obrigação de entrega- art. 1031º/a
Lei não concretiza o regime da obrigação da entrega no âmbito da locação pois não se justifica
instituir uma obrigação de custódia do locador em relação à coisa após a celebração do
contrato, uma vez que o locador responde sempre por vícios da coisa locada que datem do
momento da entrega, se não provar que os desconhecia sem culpa (art. 1032º/b) ou que os
defeitos eram conhecidos ou cognoscíveis pelo locatário (art. 1033º/a, b).
Pode ser material ou simbólica;
Existe se o bem não estiver em poder do locatário.
II. Obrigação de assegurar ao locatário o gozo da coisa os fins a que se destina- art.
1031º/b
Sendo o principal direito do locatário o gozo da coisa locada- como direito pessoal de gozo que
se estrutura com base numa obrigação do senhorio.
• Mas o locatário tem posse sobre a coisa locada e pode utilizar as ações possessórias
dos art. 1276º e ss. CC, ainda que contra o próprio dono.
• Esta obrigação pode implicar a necessidade de locador fazer reparações e outras
despesas necessárias à conservação da coisa locada (art. 1036º)
o MLP: na obrigação de facultar o gozo tem de estar implícita a manutenção da
coisa.
Locador não é obrigado a assegurar o gozo contra atos de terceiro- limite para o locador.
Se terceiro se instalar e etc., senhorio não é responsável por isso.
Este exemplo mostra que não há nenhum incumprimento das obrigações do senhorio.
Romano Martinez:
Obrigação da entrega da coisa locada está associada com o dever de assegurar o gozo da
coisa- destas obrigações que impendem sobre o locador advêm, em especial, 3 deveres
principais:
1. Entregar o bem sem vícios de direito nem defeitos que obstem à realização cabal do
fim a que a coisa se destina (art. 1032º e 1034º),
2. Locador deve abster-se de atos que impeçam ou diminuam o gozo da coisa;
3. Locador está adstrito a realizar as reparações necessárias e pagar as despesas
imprescindíveis à boa conservação da coisa.
V. Obrigação de preferência
Na venda ou dação em cumprimento do prédio arrendado deve dar-se preferência ao
arrendatário- obrigação estabelecida em todas as modalidades de arrendamento.
Arrendamento Urbano: art. 1091º
o Direito que beneficia de um modo de defesa especial- art. 1410º- ação de
preferência (pode afastar o comprador do imóvel e tornar-se ele o
proprietário).
Obrigações do Locatário
I. Obrigação de Pagamento da Renda ou Aluguer- art. 1038º/a
Obrigação principal e cujo regime geral se encontra nos art. 1039º e ss. e em relação ao
Arrendamento urbano se encontra nos art. 1075º e ss.
Fixação e alteração da renda e Aluguer: são as partes que convencionam o montante, com
algumas restrições legais no âmbito dos regimes especiais de arrendamento.
Arrendamento Urbano
Questiona-se até se o arrendamento se pode considerar validamente celebrado se as
partes nada estipularem sobre o montante da renda.
ML: renda não tem de estar determinada, no momento da celebração do contrato,
bastando que seja determinável.
Objeto da renda- art. 1075º/1 exige que seja prestação pecuniária periódica (art. 550º e ss.)
Montante pode ser objeto de alteração- art. 1077º - permite-se a convenção de
rendas escalonadas em que as partes determinam previamente um incremento do
valor da renda, ao longo da vigência do contrato.
Na ausência de estipulação a lei determina a atualização anual da renda (art. 1077º/2)
Tempo de cumprimento: como a renda nunca constitui uma obrigação pura (art. 777º/1) e sim
uma obrigação periódica, haverá sempre que estipular o momento do seu vencimento,
podendo este resultar das disposições supletivas da lei.
• Geral- art. 1039º/1
• Arrendamento Urbano- art. 1075º/2- estipula-se supletivamente, contrariamente ao
regime geral da locação, uma antecipação de renda.
o Ex: em fevereiro paga-se a renda de março.
o Renda destina-se a remunerar certo período no tempo. Mas partes podem
convencionar que essa renda somente é paga, relativamente a esse período,
muito mais tarde.
Art. 1076º- antecipando em que sentido? Em relação ao momento de vencimento ou de
remuneração?
Partes podem convencionar num contrato que a renda de maio de 2018 é
paga em janeiro de 2018? Convenção relativa ao vencimento da renda e
antecipa-se muito o momento desse vencimento.
Lei intenta que as partes não possam convencionar uma grande dilação entre
o momento do pagamento e o momento que se visa remunerar.
▪ Se superior pode arguir-se a nulidade
MLP: este artigo visa proteger o arrendatário de cláusulas que possam
prejudicar.
Lugar do cumprimento
Art. 1039º/1- domicílio do locatário à data do vencimento (obrigação de
colocação, que derroga o disposto no art. 774º)
o Esta regra não costuma ser observada quanto ao arrendamento
onde, por força de estipulação ou dos usos, é comum estabelecer
que o lugar do pagamento seja no domicílio do senhorio.
Mora do locatário: art. 1041º prevê regime específico
Nada impede as partes de estabelecerem uma cláusula penal moratória
para cobrir o atraso no pagamento das rendas, mesmo em caso de
resolução do contrato.
Arrendamento urbano- art. 1067º/1 distingue apenas o arrendamento para fim habitacional
(art. 1092º e ss.) e o arrendamento para fim não habitacional (art. 1108º e ss.- onde também
se distinguem especificidades quanto ao comércio e às profissões liberais).
IV. Obrigação de não fazer da coisa locada uma utilização imprudente- art. 1038º/ d
É um dever de manutenção da coisa no meso estado em que foi recebida, ressalvando-se a
normal deterioração- art1043º/1
o Utilização prudente da coisa importa necessariamente a deterioração da mesma- é
normal algum desgaste da coisa ligada ao uso da coisa.
o É inerente ao próprio uso da coisa, para os fins a que se destina.
o Se a coisa se deteriorar devido a uma imprudente utilização, a lei presume a
responsabilidade do locatário (art. 1044º).
o Estabelece presunção a quem se imputa a perda ou deterioração
da coisa- presunção de culpa do locatário.
Arrendamento urbano- art. 1073º
o Obrigação de não fazer utilização imprudente não é violada se o locatário fizer
algumas pequenas alterações/ deteriorações.
É obrigação que existe ao longo de todo o contrato- se violada pode dar origem a resolução
do contrato.
Lei não diz que o locatário deve utilizar a coisa de forma prudente.
• MLP: isso seria errado, pois o locatário não está obrigado a utilizar a coisa. Ele usa se
quiser. Mas se utilizar, então tem de a utilizar de forma prudente.
VI. Obrigação de não proporcionar a outrem o gozo total ou parcial da coisa por meio
de cessão onerosa ou gratuita da sua posição jurídica, sublocação ou comodato,
exceto se a lei o permitir o operador autorizar- art. 1038º/f
O contrato de locação é intuitu personae
Locatário não pode transmitir o seu direito, sublocar a coisa ou fazer comodato.
o Se locador não autorizar, locatário viola dever e sujeita-se a que haja resolução do
contrato.
Exemplo de caso em que a lei permite sem autorização: trespasse (art. 1112º)
• Significa que o locatário tem dever de comunicar a cedência, quando autorizada, mas
se não o fizer, aquele que recebe o direito pode comunicar e então o locador já não
pode pedir resolução ao locatário.
VIII. Obrigação de avisar imediatamente o locador, sempre que tenha conhecimento de vícios
na coisa, ou saiba que a ameaça algum perigo, ou que terceiros se arrogam direitos em relação
a ela, desde que o facto seja ignorado pelo locador – art. 1038º/h
Esta obrigação é imposta ao locatário em virtude de lhe ser atribuída a posse da coisa locada,
que lhe implica um dever de custodia mínima da mesma, concretizando-se na imposição de
um aviso ao senhorio.
Lei estabelece uma obrigação que permite ao locador ter conhecimento dos perigos a
que a sua coisa está sujeita, não estando em seu poder.
o Esse conhecimento serve para ele decidir o que melhor lhe aprouver em relação à
coisa.
o É para o locador poder tomar as medidas que entender adequadas face a um perigo.
Não há sanção, mas estabelece que o senhorio deixa de responder pelos vícios da coisa locada
(art. 1033º/d derroga 1032º).
• CC não é muito claro quanto ao dever de repara a coisa caso haja anomalia na mesma.
• Arrendamento urbano é mais claro: obras ordinárias e extraordinárias competem ao
senhorio (art. 1074º)
Problema é que o senhorio não pode fazer certas intervenções a que está por lei obrigado.
Para o cumprimento dessas obrigações, no âmbito do contrato de locação, seria muito moroso
a propositura de uma ação de cumprimento.
• Lei introduz esquema no art. 1036º e permite intervenção do locatário sem ele ter de
esperar pela intervenção do senhorio- arrendatário pode substituir-se ao senhorio no
cumprimento de uma obrigação deste (intervindo até fisicamente numa coisa que é de
propriedade alheia).
▪ Locador não sabe o que está a acontecer pois não houve tempo de o notificar
para ele intervir.
▪ É importante que ele avise o senhorio ao meso tempo- para ser lícita a ação do
locatário, isto porque é o locador que decide qual é a solução que dá à coisa.
O locatário que agir ao abrigo do art. 1036º tem o direito ao reembolso das despesas- e é o
reembolso imediato (não tem de esperar pelo fim, como benfeitorias).
Arrendamento urbano: art. 1074/3, in fine- o que tiver gastado na reparação pode ser
compensado na obrigação de pagar renda.
• PL/AV: há casos em que decurso do tempo e exposição do bem aos fatores naturais
leva a um desgaste e deterioração- nesses casos também não tem de devolver no
estado em que resolveu.
Locatário pode restituir a coisa sem ser igual ao início se a deterioração da coisa for devida a
uma deterioração prudente.
Arrendamento urbano- art. 1081º
Proibições de locação
Só existe uma única proibição específica de locação, que respeita ao arrendamento de bens
do incapaz a favor dos seus pais, tutor, curador e etc.
Art. 1892º - sem autorização do tribunal (atualmente do Ministério Publico, por força
do DL 272/2001) não podem os pais tomar de arrendamento, ainda que por
intermédio de hasta pública, os bens do filho sujeito ao poder paternal.
Art. 1937º/b em relação ao tutor, que é extensiva ao curador por força do art. 156º, ao
administrar os bens, por força do art. 1971º/1.
Também parece ser extensível ao produtor, sempre que este substitua o tutor (art.
1956º/b).
Art. 1939º
Pressuposto do art. 1057º é apenas a aquisição do direito com base no qual foi celebrado o
contrato, independentemente da forma como essa transmissão se opere (por ato entre vivos
ou mortis causa).
• RM: Não se pode transmitir a posição de locador sem o direito que lhe é subjacente,
porém, nem sempre é necessário que haja a transferência do direito em cuja base o
contrato de locação foi celebrado, porque a transmissão da posição contratual pode
ocorrer em caso de constituição ex novo de um direito real.
Venda executiva do bem (art. 824º/2 não inclui a locação) ou alienação em processo de
insolvência (art. 109º CIRE) também não afetam o direito do locatário.
Novo locador não pode reclamar o pagamento de rendas respeitantes a períodos anteriores à
transmissão, nem requerer a resolução do contrato com este fundamento.
• Caso tenha por objeto a casa de morada de família, a cessão da posição contratual do
arrendatário depende ainda do consentimento do seu cônjuge (art. 1682º-B/c)
Há́ casos em que essa transmissão da posição contratual do arrendatário não depende do
consentimento do senhorio.
1. Art. 1105º- casos em que existe arrendamento sobre uma casa que é casa de morada
de família
2. Art. 1112º- caso de trespasse
MESMO QUE PERMITIDA, deve ser comunicada ao senhorio no prazo de 15 dias (art.
1038º/g e 1112º/3, in fine cc), sem a qual essa transmissão será ineficaz em relação ao
senhorio, podendo este resolver o contrato (art. 1083º/2/e), a menos que tenha
reconhecimento o beneficiário da cedência como tal ou que a comunicação lhe tenha sido
efetuada por este (art. 1049º).
Locação é contrato intuito personae quanto ao locatário, pelo que caduca com a morte deste.
Esse cariz intuitu personae é atenuado no âmbito do Arrendamento Urbano em que ocorre
uma comunicação do direito em relação ao respetivo cônjuge, nos termos gerais e de acordo
com o regime de bens vigentes (art. 1068º).
Há́ algumas situações previstas em que o direito do arrendatário se transmite por morte
deste: art. 1106º + 1107º
Não impede a oposição à renovação pelo senhorio nos termos do prazo do contrato (art.
1097º).
Engloba tanto o subarrendamento como o subaluguer, embora este último não tenha
relevância prática – conforme o bem (art. 1023º).
Sublocação pode ser total ou parcial – consoante sublocador conceda ao sublocatário todo o
gozo do bem locado ou apenas parte dele.
o Sublocaçãoproduzefeitosemrelaçãoaolocadorporviadoreconhecimentoou da
comunicação.
o Não sendo eficaz, locador pode resolver o contrato com o locatário (art. 1083º/2/e).
Originárias
Art. 1033º- casos em que o locador deixa de responder pelos defeitos da coisa
(Irresponsabilidade)
b) Pois cabe ao locatário o ónus de verificar o estado da coisa, salvo se locador assegurar
a inexistência de defeitos ousar de dolo para os ocultar (uma vez que nesse caso o
locador tem responsabilidade específica por o locatário ter aceitado o contrato nessas
condições).
Mas não há obstáculos a que o locatário proceda à anulação do contrato por erro ou
dolo, caso estejam verificados os respetivos pressupostos.
a) Art. 1034º
Ilegitimidade do locador – remete art. 1024º
b) c) Deficiência do direito
• Exb: locador faz-se passar por proprietário, não o sendo; sobre bem incide ónus que
poderá́ determinar extinção dos direitos do locatário (TRC, 26/2/13)
• Exc: locatário com direito a sublocação garante ao sublocatário que o contrato de
locação celebrado por um prazo de 10 anos
A locação de bens alheios é válida – solução compreensível pois não estamos perante contrato
translativo de direitos, mas antes constitutivo de obrigações.
Apenas quando locatário é privado do gozo da coisa é que pode reagir perante o
locador, mas a situação já não é de invalidade, mas antes de incumprimento do
contrato.
Nestes casos, o art. 1035º admite que o locatário pode também proceder à anulação
do contrato por erro ou dolo, nos termos gerais.
Sendo uma locação de bens de consumo aplica-se, com as devidas adaptações, o regime do DL
67/2003
Supervenientes
Art. 1037º – locador não tem de assegurar o gozo da coisa contra atos de terceiro
Há privação de gozo, o que é perturbação do contrato de locação, mas tal não corresponde a
nenhum incumprimento do locador – daí que este seja o exemplo que revele que este
contrato providencia o gozo da coisa (opinião MLP)
Ex: se locador é hospitalizado e não aproveita o gozo da coisa isso é problema dele, não há́
nenhum problema com a coisa locada
Ele tem na mesma que pagar renda ou aluguer durante período em que foi privado da coisa?
Se pensarmos sinalagmaticamente, então não.
o Se ele é privado do gozo por razões que não lhe dizem respeito, não tem a obrigação
de pagar a renda ou aluguer.
o Art. 1040º
Direito à Resolução
Pode haver algumas dificuldades em articular este artigo geral com o regime do
Locador tem obrigação de eliminar defeitos ou perda de qualidades que ocorra na coisa
durante a vigência do contrato? E se esses defeitos decorrem de um desgaste normal?
MLP: CC não é muito claro, mas deve concluir-se pela existência desta obrigação
Mas no Arrendamento Urbano há consagração legal de conservação – não há́ dúvidas que é
um dever do senhorio – art. 1074º
MLP: este artigo refere-se apenas à indemnização e não à reparação do defeito (como
PL / AV)
Locatário não tem de pagar a renda ou aluguer, ou tal tem de ser diminuído, pois vê̂ o gozo da
coisa prejudicado – art. 1040º
Direito à Resolução
Caso em que é o locador que está a sofrer perturbações no contrato por não estar a receber a
renda ou aluguer.
Art. 1041º
• Locador a quem não seja paga a renda no tempo devido ele tem direito a
indemnização
o Mas esta indemnização é opção do locador, ele pode exigir somente os juros de
mora.
Se o não pagamento for devido a uma razão que o legitima então não há mora.
Dentro dessas razões podem estar as perturbações no gozo da coisa que o locatário sofre.
Art. 1041º/3
• Locatário para fazer cessar a mora tem de pagar a renda em atraso e a indemnização
• Ideia de que locatário só́ purga a mora se pagar renda/aluguer + indemnização está
também consagrada no art. 1042º/1
Art. 1078º/4, 5, 6, 7
Estes casos não estão sujeitos ao art. 1041º
Quanto à resolução do contrato de locação, no geral, esta é uma matéria difícil em que CC não
é claro
MLP: A dogmática civilista não está ainda muito desenvolvida quanto a estas relações
contratuais duradouras.
• Das regras resulta claramente que pelo menos há́ dois fundamentos inequívocos para
a resolução do contrato pelo locador:
Mas a lei não conferiu nenhuma taxatividade e não estabeleceu nenhum critério orientador
• Compreende-se esta solução porque até 2006 havia regime vinculístico, sendo
importante estabelecer claramente quais as situações em que o senhorio podia por
termo ao contrato.
• Ultrapassado esse período e com a liberalização do regime de arrendamento, a lei
continua a ser cuidadosa.
Art. 1083º estabelece os termos em que cada uma das partes pode resolver o contrato de
arrendamento.
Pode ser noutros termos (oposição à renovação, denúncia e etc.), aqui é somente a
resolução.
Por este artigo perpassa a ideia de que cada uma das partes só pode por termo ao contrato
por via da resolução com fundamento no incumprimento da contraparte quando esse
incumprimento torne inexigível a manutenção da relação contratual.
• Isto obriga a fazer juízo de prognose, que entra em conta com as consequências desse
incumprimento para o futuro
• Exige-se que incumprimento seja de tal ordem que torne inexigível a manutenção da
relação contratual
Extinção do Contrato
O contrato de locação está sujeito às causas gerais de extinção dos contratos – art. 1079º
O regime da cessação do contrato de Arrendamento Urbano tem natureza injuntiva pelo art.
1080º
Revogação
Romano Martinez: Ato bilateral que carece do consentimento do locador e do locatário – por
vontade das partes pode extinguir-se o vínculo entre elas.
(Revogação Real – ex: aqui estão as chaves, adeus) ou contenha cláusulas compensatórias ou
outras.
Resolução
Como é contrato de execução continuada, a resolução não opera retroativamente, pelo que
não obriga a restituir as prestações já realizadas (art. 434º/2).
• Pois o contrato de arrendamento, como vem a ser admitido no art. 1083º/2, gera uma
relação contratual duradoura – que tem um fundamento diferente dos contratos de
execução instantânea, que são aqueles que estão nas regras gerais (art. 801º e ss.)
Nº2 é uma das regras que vem adaptar um fundamento geral de extinção do contrato, tendo
em conta uma relação duradoura.
• Não é todo o tipo de incumprimento que gera um direito à resolução do contrato – só
aquele que torne inexigível à parte fiel o continuar o contrato.
• MLP: O raciocínio que a lei obriga a fazer é pensar em que medida o acontecimento
pretérito se projeta na execução futura do contrato – isto é o que a lei reclama
quando fala em inexigibilidade do contrato.
MLP: casos do art. 1083º/2 são situações de incumprimento e são suscetíveis de gerar um
direito à resolução pelo senhorio, mas têm de passar pelo crivo de gravidade e tornar inexigível
a manutenção do contrato.
Nalguns casos e difícil imaginar um incumprimento que só́ por si não gera direito à
resolução.
Art. 1050º CC
fundada por falta de pagamento do preço, ele tem de por uma ação judicial (art. 1084º)
incumprimento.
• Lei impede que as partes estejam numa situação de incerteza.
Caducidade
Art. 1051ºº
a) Pressupõe que não se tenha verificado uma renovação do contrato, que é a regra no
âmbito do arrendamento (art. 1054º)
A permanência pelo arrendatário do gozo da coisa, pelo prazo de um ano e sem oposição do
senhorio, funciona como uma causa de renovação do contrato, mesmo após a verificação da
sua extinção – é uma sanação da caducidade – art. 1056º
➢ Restrito às hipóteses do art. 1051º/1/a, b, g
Cessação do direito com base no qual se estabeleceu a locação, o contrato de locação caduca
Caducidade leva a que haja um dever de restituição imediata – mas lei estabelece que tem de
ser 6 meses, art. 1053º
MLP: o contrato continua a vigorar por mais 6 meses desde o facto que gera a
caducidade
o Pode haver dificuldade com o art.1081º (que diz que no Arrendamento Urbano a restituição
deve ser imediata).
o Art.1054º e 1055º CC
▪ Regime regra não é que findo o prazo o contrato caduca. Findo o prazo
o contrato renova-se.
art. 1026º tem prazo supletivo para a locação, pelo que o processo de extinção da
relação locatícia para o futuro constitui normalmente um caso de oposição à
renovação.
Arrendamento Urbano
Através da:
• Comunicação de uma das partes à outra – que diz que não quer que o contrato se renove.
o Tem de ter uma antecedência determinada, devido ao investimento de confiança na relação
duradoura.
Este regime é aplicável, por remissão, ao contrato de arrendamento para fins não
habitacionais – portanto aplica-se a todo o regime do arrendamento urbano
MLP: No entanto, para os fins habitacionais as normas são imperativas.
➢ Para fins não habitacionais: art. 1110º - desvio/fuga à imperatividade pelo menos quanto à
oposição à renovação e à denúncia.
• MLP esta alteração vai tornar menos atraente a celebração de contratos de duração
indeterminada.
• Senhorio não vai querer celebrar contratos de duração indeterminada pois o prazo é
muito longo.
Contrato de mútuo
coisas fungíveis
Quais as coisas que não têm cariz fungível (e consequentemente não podem ser objeto de
mútuo)?
• Imóveis
• Universalidades de facto (art.206º/1 CC), ainda que compostas de coisas fungíveis;
apenas é admitido o mútuo sobre as coisas fungíveis singulares que compõem a
universalidade de facto (art.206º/2 CC)
• Animais
• Prestações de facto
o CASTRO MENDES: a entrega das coisas mutuadas não teria uma função
constitutiva do negócio, sendo sim um ato executivo do contrato, que
corresponde ao cumprimento de uma obrigação já existente, não
necessariamente contemporâneo da sua celebração, visto que, para a posição
seguida por este professor, a traditio é prejudicial ao contrato aqui em causa.
o MENEZES CORDEIRO, MOTA PINTO e VAZ SERRA: a entrega não é condição de
validade do contrato, o que leva a que o acordo das partes no sentido de não
se proceder à entrega, torna o contrato atípico. Ou seja, fica na disponibilidade
das partes a celebração do mútuo como real ou consensual
o MENEZES LEITÃO: contrato real quod constitutionem, o que significa que a
entrega da coisa mutuada é necessária para que o contrato se constitua, não
tendo de corresponder a tradição da coisa a uma entrega material das coisas
mutuadas
Para além destas teses defendidas pela doutrina portuguesa, temos ainda:
o Tese que sustenta que o contrato é celebrado no momento do acordo das partes, e
não faz nascer a obrigação restitutória nem produz a transferência da propriedade, já
que esta pressupõe a entrega das coisas mutuadas
o Tese que relaciona a natureza real e consensual consoante se esteja perante um
mútuo gratuito ou um mútuo oneroso, respetivamente, ao defenderem que a traditio
apenas faz sentido nos contratos gratuitos
Formação do contrato
Tal como já́ foi supra indicado, o contrato de mútuo só́ se torna eficaz com a tradição da coisa
mutuada, visto que se trata de um contrato real quod constitutionem.
A tradição da coisa tem uma função instrumental, na medida em que se destina a assegurar a
aquisição dos bens pelo mutuário (art.1144º CCiv), e é um ato jurídico bilateral, na medida em
que exige a intervenção de ambas as partes na relação contratual.
Quanto aos cônjuges, cada um deles pode ser mutuante das coisas fungíveis que lhe
pertençam, bem como das coisas comuns de que tenha a administração, sem necessidade de
intervenção do outro cônjuge (art.1682º CCiv). Caso um dos cônjuges seja mutuário, a divida
só responsabilizará ambos nas situações referidas no art.1691º CCiv.
Partes:
➔Capacidade: as partes não podem carecer de capacidade de exercício para poderem
celebrar este contrato. Ou seja, o contrato não pode ser celebrado por menores ou maiores
acompanhados
➔Legitimidade: apenas tem legitimidade para celebrar contratos de mútuo o proprietário das
coisas mutuadas, ou quem tenha faculdade de disposição sobre elas, sob pena de nulidade
(art.892º ex vi 939º CCiv). Caso o mutuante não tenha legitimidade para celebrar o contrato de
mútuo, pode o titular das coisas mutuadas, segundo o professor MENEZES LEITÃO, solicitar ao
mutuante ilegítimo o direito de indemnização pelos danos sofridos, com fundamento na
responsabilidade civil, ou o direito à restituição por enriquecimento, com fundamento no
enriquecimento por intervenção
o A sentença não produziria os efeitos da declaração negocial do faltoso, uma vez que
essa declaração não produz quaisquer efeitos acompanhada da tradição da coisa
o A execução para entrega de certa coisa é um caso idóneo para efetuar a transferência
forçada da posse ou detenção da coisa, mas não para realizar a transferência de
propriedade que ocorre no contrato de mútuo
Excluído o recurso à execução especifica em caso de incumprimento do contrato-promessa de
mútuo, diz-nos o professor que tal incumprimento apenas pode dar lugar à obrigação de
indemnização pelos danos causados ao credor, sendo que não há qualquer limite para a
indemnização, e nada impede ao beneficiário de reclamar outros danos sofridos em virtude do
incumprimento da obrigação de contratar.
É excluída, ainda, em sede de promessa de mútuo, a extinção da mesma por compensação, já
que não estamos perante uma obrigação pecuniária e que não tem como objeto coisas
fungíveis (art.847º, al. a) CCiv)
➢ Condição
Condições resolutivas→apenas são admitidas as condições resolutivas cuja verificação faz com
que a obrigação de restituição surja antes do prazo, condições estas que não têm eficácia
retroativa. As condições resolutivas cuja verificação fazem surgir a obrigação de restituição
não são admitidas, visto que tal equivaleria a excluir um elemento essencial do mútuo
Exemplo: A (mutuante) celebra com B (mutuário) um contrato de mútuo, cujo objeto são 5€.
Caso estipulem que B terá de restituir os 5€ dali a 1 mês, e ainda que, caso B ganhe o
Euromilhões, terá de entregar de imediato os 5€, esta condição resolutiva é válida, visto que
faz com que a obrigação de restituição surja antes do prazo estipulado entre elas.
Não seria válida a condição resolutiva caso A e B estipulassem que B apenas restituiria os 5€
se ganhasse o Euromilhões.
o Condições suspensivas:
Exemplo: A (mutuante) celebra com B (mutuário) um contrato de mútuo, cujo objeto são 5€,
no dia 1. A e B estipulam que aquele apenas teria de entregar os 5€ se chovesse no dia 3
• Caso se estipule que a condição suspensiva ocorre após a sua verificação, entende-se
que ocorre a estipulação de dois contratos em união alternativa: contrato de depósito
irregular, com efeitos imediatos, e que vigora em definitivo em caso de não verificação
da condição contrato mútuo, que apenas produz efeitos em caso de verificação da
condição.
Termo
o Termo inicial→a solução apresentada pela doutrina é a mesma que foi supra
indicada relativamente à condição suspensiva;
o Termo final→tendo em conta que se apresenta como um elemento essencial
para que o contrato possa desempenhar a sua função típica, a doutrina tem
vindo a entender que não constitui uma cláusula acessória típica do contrato
de mútuo.
Efeitos do mútuo
Efeitos obrigacionais:
• Restituição de coisa do mesmo género e qualidade da coisa mutuada (art.1142º,
parte final CCiv) – obrigação pecuniária (quando o objeto do contrato é dinheiro) ou
genérica (quando o objeto do contrato é uma coisa fungível diferente do dinheiro),
essencial ao mútuo, que se destina a reequilibrar a situação patrimonial das partes,
colocando-as na situação em que se encontravam no momento da conclusão do
negócio.
o Art.1149o CCiv
Relativamente ao prazo para o cumprimento da obrigação de restituição:
• Obrigação de juros (art.1145º/1 CCiv) – obrigação periódica que deve ser realizada
por parte do mutuário, e que tem carácter acessório em relação à obrigação principal
de restituição do capital, apenas no momento da celebração do contrato. Depois de
celebrado o contrato, segundo o art.561º CCiv, o crédito de juros ganha autonomia,
podendo ser cedido ou extinguir-se sem o crédito principal.
Mútuo usuário (art. 1146º CCiv)- não é • De acordo com o nº3, que derroga
considerado usuário o mútuo celebrado o regime do art. 292º CCiv, ocorre a
pelo simples facto de as prestações redução da taxa de juro
estipuladas estarem acima do rendimento remuneratório ou moratório aos
normal do mutuário. montantes máximos referidos nos
art. 1146º/1 e 2 CCiv,
respetivamente.
• Anulabilidade do mútuo por força
do art. 282º CCiv, caso estejam
verificados os seus pressupostos de
aplicação (esta norma não é
prejudicada pelo facto de terem
sido respeitados os limites relativos
à estipulação de juros, segundo o
art. 1146º/4 CCiv)
Modalidades
• Empréstimo mercantil (art. 394º Ccom) - tem como objeto coisas destinadas a
qualquer ato de comércio
• Mútuo bancário (DL 58/2013, de 8 de maio) - celebrado por instituições bancárias
• Mútuo garantido por penhor- apenas é admitida a prestamistas sediados ou com
estabelecimento estável em Portugal e devidamente licenciados (estão dispensados do
licenciamento as instituições de crédito e as associações de socorro mútuos quando
esse fim conste dos seus estatutos)
• Mútuo de escopo- o mutuário compromete-se a restituir o capital e os juros
mutuados, e ainda a aplicar as quantias mutuados no âmbito de um fim especifico,
acordando com o mutuante.
Mútuo de escopo:
Ao contrário do que se entende no Direito italiano, o professor MENEZES LEITÃO defende que
a obrigação do mutuário de aplicação das quantias recebidas ao fim convencionado e o
aditamento dessa obrigação não implica alterações na estrutura do contrato.
Extinção do contrato
Contrato de comodato
Introdução
Características qualificativas:
Contrato de comodato:
Isto significa que têm capacidade para celebrar contratos de comodato todos
aqueles que não estão abrangidos por alguma incapacidade (menoridade ou
acompanhamento), sem prejuízo de alguns comodatos poderem ser abrangidos
no âmbito das exceções referidas no art.127º CCiv.
coisas imóveis
Obrigações do comodante
➢ Uso da coisa
• Caso seja estipulado pelas partes, o prazo não é prorrogado pelo facto de o
comodatário continuar a necessitar de utilizar a coisa, a menos que o comodante dê o
seu assentimento. Apesar disto, não é o comodatário a restituir a coisa antes do fim do
prazo, mesmo que já tenho terminado o uso
• Caso o prazo resulte da determinação do uso, é a sua conclusão que determina o
vencimento da obrigação do comodatário (art.1137º/1 CCiv)
• Na falta de prazo convencionado ou resultante de determinação do uso, o
comodatário estará́ obrigado a entregar a coisa logo que lhe seja exigida (art.1137º/2
CCiv)
o Este direito não pode ser oposto ao titular de um direito real maior sobre o
bem, prevalecendo contra outros direitos pessoais de gozo se tiver sido
constituído em primeiro lugar (art.407º CCiv). Porem, confere ao comodatário
a posse da coisa, o que lhe permite a tutela possessória dessa situação
(art.1133º/2 CCiv)
o O direito de uso da coisa pelo comodatário é determinado pelo fim do
contrato, e caso não o seja, é permitido ao comodatário aplicar a coisa a
quaisquer fins lícitos, dentro da função normal das coisas de idêntica natureza
(art.1131º CCiv)
o Relativamente ao fim da coisa emprestada, diz-nos o professor MENZES
LEITÃO que é possível que haja um empréstimo da coisa para constituição de
garantia a favor de terceiro, visto que nada impede que esse tipo de
empréstimo seja celebrado, ainda que naturalmente a garantia fique mis
precária, uma vez que não apenas se extingue com a morte do comodatário,
como também o comodante poderá́ revogar o comodato se para isso tiver
justa causa
o Quanto ao empréstimo de títulos de crédito ou de ações para permitir o
exercício dos respetivos direitos, a posição maioritária defende a sua
admissibilidade
Por força do art.1134º CCiv, a responsabilidade do comodante está limitada ao dolo, exceto
quando este tenha expressamente assumido outro tipo de responsabilidade.
Extinção do comodato
caducidade