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Direito das obrigações

Locação desempenha importante função económica, na medida em que permite ao titular de


direitos de gozo sobre determinada coisa obter rendimento, concedendo temporariamente o
gozo dessa coisa a outrem, o que faz sem abdicar do direito que lhe corresponde.
 Facilita ao aproveitamento económicos dos bens.

ART. 1022º: locação é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o
gozo temporário de uma coisa, mediante retribuição.
• Contrato com prestação especifica: proporcionar a outrem o gozo de uma coisa
corpórea;
• Caracter transitório de celebração por período transitório;
• Contrapartida pecuniária pelo gozo da coisa.

Visa proporcionar o gozo de uma coisa determinada e infungível.


 Há necessariamente uma contraprestação.
o Distingue-se, assim, do contrato de comodato, pelo facto de este último ser
um contrato gratuito;
o A responsabilidade do comodatário é menor, porque ele está a emprestar sem
receber nada por isso.

A lei, atualmente, regula o contrato de locação em geral do CC, sendo também aí que
encontramos o essencial do regime do Arrendamento Urbano, mas, fora do CC estão outros
regimes, como diplomas relativos a aspetos do arrendamento urbano e todo o regime do
Arrendamento Rural.

A posição do locador: verdadeira obrigação

Romano Martinez: Concede-se ao locatário um direito de gozo sobre a coisa. É negócio


jurídico sinalagmático em que implica proporcionar o gozo de uma coisa como contrapartida
do dever de pagar a retribuição.
 Há reciprocidade e interdependência entre estas duas prestações.
Lei fala em obrigação de proporcionar o gozo e generalidade da doutrina considera isto como
um direito a crédito do locatário ao gozo.

Doutrina discute: se existe uma prestação de facere e uma prestação de non facere.
• Prestação devida pelo locador é apenas omissiva, no sentido que ele apenas tem de
tolerar e não perturbar o gozo do locatário.
• ML, RM: prestação positiva, que se concretiza em várias ações. Por exemplo: o locador
é obrigado, no arrendamento urbano, a fazer obras de conservação- artigo 1074º.
MLP: vai ganhando algum corpo a ideia de que os contratos, de que a locação é exemplo,
podem não criar obrigações, mas sim outras atribuições patrimoniais que não revistam a
forma de obrigações.
• Ex. compra e venda de direito não reveste forma obrigacional.
• Não negue que o locador esteja obrigado a algumas ações que sejam configuráveis
como prestações, mas contesta que a qualificação daquilo que o locador dá a título
principal é uma obrigação.
• Ex: coisa móvel furtada, no caso do aluguer. A lei diz que o locador não tem de
assegurar o gozo contra atos de terceiro, pelo que podem-se fazer diligencias para se
se encontra o carro, mas não há responsabilidade do locador. Assim, não há prestação
do locador que é incumprida, mas o locatário tem direito a deixar de pagar o aluguer
(1040º CC). Como conseguimos explicar isto se nos mantivermos fiéis à ideia de que eu
o contrato institui em consideração que o locador não dá uma prestação, mas o gozo
da coisa.
• Aquilo que o locador dá não é uma prestação, mas sim o gozo da coisa, que não é
configurável como uma prestação ou como um comportamento do locador.
o Se o gozo for perturbado, então a outra parte pode não fazer a
contraprestação, porque não obteve o gozo.
o Existem sempre algumas prestações que estão incumbidas sobre o locador,
contudo estas não são a sua atribuição principal, mas sim prestações
instrumentais.
Posição do Locador, no contrato de locação, é que ele faculta o gozo da coisa, em si, pelo qual
recebe dinheiro.
Posição do locatário, no contrato de locação, não é qualificada como um direito de crédito.
• Mas tal não obriga a qualificar o direito do locatário como direito real;
• A única consequência necessária desta tese é desqualificar o direito do locatário
como direito de crédito- o direito do locatário não é uma prestação.
o O que recebe a título principal não é uma prestação, é o gozo;
o Há de facto prestações, mas o que se recebe é o gozo e não um crédito ao gozo.

Art. 1023º
• Arrendamento- locação que recai sobre coisa imóvel.
o Pode ser Urbano (para fins habitacionais ou fins não habitacionais) ou Rústico
(pode ser rural, se tiver fins agrícolas, florestais ou outras atividades desse estilo).
o Aluguer- locação que recai sobre coisa móvel.

Menezes Leitão- locação é contrato:


• Nominado e típico;
• Consensual;
• Formal (arrendamento urbano- art. 1069º) e não formal (aluguer);
• Obrigacional;
o Discussão na doutrina:
▪ PL/AV, Romano Martinez, Januário Costa Gomes, ML_ direito de gozo.
 Proporcionar o gozo da coisa é uma obrigação por parte do locador, o que
naturalmente corresponde a um direito de crédito do locatário.
 AO, MC- direito real. Suportada pelo art. 1037º/2.
• Oneroso;
• Sinalagmático;
• Comutativo;
• Execução duradoura.

Elementos Constitutivos do contrato de locação- art. 1022º:


1. Obrigação de proporcionar a outrem o gozo de uma coisa- essa obrigação é a
prestação característica do contrato de locação (referida no art. 1031º/b) e é uma
obrigação de conteúdo positivo.
• Alguns autores, entendem o direito do locatário como um direito real pois há um
direito de gozo inerente à coisa e dotado de sequela.
• ML: é uma obrigação de conteúdo positivo (art. 1031º/b) que visa assegurar o
gozo da coisa ao locatário.
o No entanto, isto não implica que se assegure continuamente o gozo da coisa ao
locatário, uma vez que tendo a coisa lhe sido entregue, e estando ele na sua posse,
torna-se desnecessária qualquer intervenção do locador para assegurar esse gozo,
bastando normalmente a sua abstenção em praticar atos que o impeçam ou
diminuam (art. 1037º/1).

Caráter Temporário- o art. 1025º expressamente determinada a proibição da locação se


celebrar por mais de 30 anos, sendo reduzida a esse limite quando celebrada por tempo
superior.
• Este é o limite máximo do prazo inicial do contrato e não o limite de duração do
contrato, pelo que nos casos de arrendamento sujeitos a renovação forçada (art.
1054º) não há nenhum impedimento em que o contrato de arrendamento tenha
duração superior a 30 anos.
Arrendamento Urbano: lei admite contratos de arrendamento com duração indeterminada.
 Art. 1099º não poem em causa o art. 1025º pois esta previsão legal não constitui uma
contradição preocupação essencial que subjaz ao art. 1025º- pois qualquer uma das
partes, no caso de duração indeterminada, pode unilateralmente e
discricionariamente por termo ao contrato (denúncia).
o Esse direito depende da observância de determinado prazo de antecedência
- Aviso prévio para o exercício do direito, sendo importante para a outra parte
organizar a sua vida.
3. Retribuição- é um contrato oneroso pois das prestações do locador surge uma
contraprestação do locatário (de pagar a renda ou aluguer, art. 1038º/a).
 É uma obrigação pecuniária de quantidade, que se caracteriza pelo seu caráter
periódico.

Forma e formação do Contrato de Locação


Aluguer- forma consensual (artº 219º)
 Mas há casos em que se exige que seja celebrado por escrito (aluguer de veículos sem
condutor, artº. 17º DL 354/86).
Arrendamento Urbano- forma escrita cujo documento tem de obedecer a determinadas
formalidades (art. 1069º, 1070º).

Capacidade para celebração do contrato


Art. 1024º
• Locação por menos de 6 anos- ato de administração ordinária, pelo que podem
celebrar este contrato todos aqueles que podem administrar os (seus) bens.
• Locação por mais de 6 anos- ato de administração extraordinária, pelo que se exigem
poderes de disposição sobre a coisa, somente podendo o proprietário, usufruário e o
fiduciário (ou procuradores destes com poderes especiais para o ato) celebrar este
arrendamento.
Locação na perspetiva do locatário: é ato de disposição?
Quanto ao locatário, a lei não toma posição expressa sobre a sua qualificação como ato de
administração ou disposição.
• ML- se não for celebra por um prazo excessivo ou desproporcionado, pode ser
considerado como mero ato de administração.
• Cunha Gonçalves- quanto ao locatário é ato de mera administração, pois seja qual for
o prazo este só tem a lucrar com a locação
• Galvão Telles- não é administração pois não se destina à mera frutificação de bens e
implica assunção de obrigação pelo locatário.
• Januário Gomes- ato de disposição se > 6 anos e ato de administração ordinária se < 6
anos.
• MLP- questão prévia que não é tanto de saber se é ato de administração ou
disposição, é sim se a pessoa para dispor o bem precisa de ser locatário.
Problema de saber quem tem direito a locar
• Não só o proprietário, mas outras pessoas como os outros titulares de direitos
pessoais de gozo- usufrutuário, superficiário e etc.
• O próprio locatário pode locar: sublocação.

Legitimidade para celebrar contratos de locação não se cinge ao proprietário e são válidos e
eficazes.
 o problema é que o contrato caduca no termo do direito que está na sua base. Ex:
usufruto foi celebrado por 10 anos e co contrato de locação de tempo indeterminado,
caduca no fim desse usufruto.
E se alguém sem legitimidade celebra um contrato de locação?
 Seria nulo.
o Mas a lei vem dizer que o contrato é válido, mas poderá considerar-se não
cumprido (art. 1034º). Considera-se não cumprido quando numa locação de bens
alheios o proprietário vem reivindicar.
o Não se aplica a lógica da nulidade de compra e venda de bens alheios;
o Contrato não se considera incumprido se locatário conseguir aproveitar o gozo do
bem sem ser perturbado- não pode invocar que locador não tem legitimidade,
para evitar pagar a renda, se conseguir gozar do apartamento;
 Contrato é válido e eficaz inter partes, mas isso não afeta o direito real do proprietário
(terceiro contrato).

Efeitos da locação
Obrigações do locador
I. Obrigação de entrega- art. 1031º/a
Lei não concretiza o regime da obrigação da entrega no âmbito da locação pois não se justifica
instituir uma obrigação de custódia do locador em relação à coisa após a celebração do
contrato, uma vez que o locador responde sempre por vícios da coisa locada que datem do
momento da entrega, se não provar que os desconhecia sem culpa (art. 1032º/b) ou que os
defeitos eram conhecidos ou cognoscíveis pelo locatário (art. 1033º/a, b).
 Pode ser material ou simbólica;
 Existe se o bem não estiver em poder do locatário.

II. Obrigação de assegurar ao locatário o gozo da coisa os fins a que se destina- art.
1031º/b
Sendo o principal direito do locatário o gozo da coisa locada- como direito pessoal de gozo que
se estrutura com base numa obrigação do senhorio.
• Mas o locatário tem posse sobre a coisa locada e pode utilizar as ações possessórias
dos art. 1276º e ss. CC, ainda que contra o próprio dono.
• Esta obrigação pode implicar a necessidade de locador fazer reparações e outras
despesas necessárias à conservação da coisa locada (art. 1036º)
o MLP: na obrigação de facultar o gozo tem de estar implícita a manutenção da
coisa.
Locador não é obrigado a assegurar o gozo contra atos de terceiro- limite para o locador.
 Se terceiro se instalar e etc., senhorio não é responsável por isso.
 Este exemplo mostra que não há nenhum incumprimento das obrigações do senhorio.

Romano Martinez:
Obrigação da entrega da coisa locada está associada com o dever de assegurar o gozo da
coisa- destas obrigações que impendem sobre o locador advêm, em especial, 3 deveres
principais:
1. Entregar o bem sem vícios de direito nem defeitos que obstem à realização cabal do
fim a que a coisa se destina (art. 1032º e 1034º),
2. Locador deve abster-se de atos que impeçam ou diminuam o gozo da coisa;
3. Locador está adstrito a realizar as reparações necessárias e pagar as despesas
imprescindíveis à boa conservação da coisa.

III. Pagamento dos encargos da coisa locada- art. 1030º


ML: não parece ser possível admitir a derrogação desta disposição por convenção em
contrário das partes- “sem embargo” exprime claramente o cariz injuntivo da norma.
Diferente
MPL: nada impede que as partes possam convencionar entre elas que é o locador que tem
de pagar os encargos
 Romano Martinez: Concorda.
Para efeitos desta disposição:
 Encargos= impostos prediais, taxas, prémios de seguro e encargos de condomínio.

Arrendamento Urbano: art. 1078º/1


• As partes estipulam por escrito o regime dos encargos da coisa locada.
o Onde aqui se podem incluir o pagamento de bens ou serviços relativos ao local
arrendado (que são contratados pelo responsável pelo seu pagamento- art.
1078º/4).
IV. Obrigação de Reembolso de Benfeitorias- art. 1046º/1
Locatário tem direito a ser indemnizado das benfeitorias necessárias que haja efetuado, bem
como a levantar as benfeitorias úteis, se tal puder ser efetuado sem detrimento da coisa.
 Se não tem direito à restituição do enriquecimento por despesas (art. 1273º).
o Locador paga porque recebe coisa valorizada em função de despesas
realizadas pelo locatário.
Não tem direito ao levantamento de benfeitoria voluptuária (art. 1275º/2) - remete para o
regime da posse de má-fé.

Arrendamento Urbano: art. 1073º, 1704º


Realização de obras pelo arrendatário depende de cláusula do contrato ou autorização por
escrito do senhorio, exceto em situações de urgência ou moro do senhorio em que pode
proceder a realização de obras e tem direito a reembolso.
• Efetuando licitamente as obras terá direito no final do contrato a uma compensação
por essas obras- aplica-se o mesmo das benfeitorias realizadas por possuidor de boa-fé
(art 1074º/5).
o Art. 1074/5- regime mais favorável pois arrendatário pode pedir compensação
nos mesmos termos que um possuidor de boa-fé o pode fazer. Isto porque a
lei pressupõe que as obras são autorizadas pelo senhorio.
• Este regime pode ser derrogado por convenção das partes, em que se pode
estabelecer que o arrendatário não terá direito a qualquer indemnização pelas obras
que venha a fazer no prédio.
o As partes estabelecem o regime das benfeitorias (e normalmente estabelecem
que o senhorio não tem de pagar nada e depois o arrendatário devolve a coisa
como está) ou então vigora o regime das benfeitorias (o art. 1074º/5 remete
para o regime do possuidor de boa-fé).
Em princípio o arrendatário pode fazer algumas alterações.
 Tem é de se apurar até onde vai o seu direito de fazer alterações no locado- art.
1073º
o São lícitas= não carecem de autorização do senhorio.
▪ Direito do arrendatário pode ser configurado de forma mais restrita ou ampla-
pode haver contrato que diga que não pode haver alteração nenhuma.
o Mas o regime supletivo permite ao locatário fazer algumas coisas pequenas.
Art. 1078º- torna-se inequívoco que as partes podem estipular o que lhes aprouver nesta
matéria.
 As regras são supletivas e as partes podem estipular algo diferente.

V. Obrigação de preferência
Na venda ou dação em cumprimento do prédio arrendado deve dar-se preferência ao
arrendatário- obrigação estabelecida em todas as modalidades de arrendamento.
 Arrendamento Urbano: art. 1091º
o Direito que beneficia de um modo de defesa especial- art. 1410º- ação de
preferência (pode afastar o comprador do imóvel e tornar-se ele o
proprietário).

Obrigações do Locatário
I. Obrigação de Pagamento da Renda ou Aluguer- art. 1038º/a
Obrigação principal e cujo regime geral se encontra nos art. 1039º e ss. e em relação ao
Arrendamento urbano se encontra nos art. 1075º e ss.

Fixação e alteração da renda e Aluguer: são as partes que convencionam o montante, com
algumas restrições legais no âmbito dos regimes especiais de arrendamento.

Arrendamento Urbano
 Questiona-se até se o arrendamento se pode considerar validamente celebrado se as
partes nada estipularem sobre o montante da renda.
 ML: renda não tem de estar determinada, no momento da celebração do contrato,
bastando que seja determinável.
Objeto da renda- art. 1075º/1 exige que seja prestação pecuniária periódica (art. 550º e ss.)
 Montante pode ser objeto de alteração- art. 1077º - permite-se a convenção de
rendas escalonadas em que as partes determinam previamente um incremento do
valor da renda, ao longo da vigência do contrato.
 Na ausência de estipulação a lei determina a atualização anual da renda (art. 1077º/2)

Tempo de cumprimento: como a renda nunca constitui uma obrigação pura (art. 777º/1) e sim
uma obrigação periódica, haverá sempre que estipular o momento do seu vencimento,
podendo este resultar das disposições supletivas da lei.
• Geral- art. 1039º/1
• Arrendamento Urbano- art. 1075º/2- estipula-se supletivamente, contrariamente ao
regime geral da locação, uma antecipação de renda.
o Ex: em fevereiro paga-se a renda de março.
o Renda destina-se a remunerar certo período no tempo. Mas partes podem
convencionar que essa renda somente é paga, relativamente a esse período,
muito mais tarde.
Art. 1076º- antecipando em que sentido? Em relação ao momento de vencimento ou de
remuneração?
 Partes podem convencionar num contrato que a renda de maio de 2018 é
paga em janeiro de 2018? Convenção relativa ao vencimento da renda e
antecipa-se muito o momento desse vencimento.
 Lei intenta que as partes não possam convencionar uma grande dilação entre
o momento do pagamento e o momento que se visa remunerar.
▪ Se superior pode arguir-se a nulidade
 MLP: este artigo visa proteger o arrendatário de cláusulas que possam
prejudicar.
Lugar do cumprimento
 Art. 1039º/1- domicílio do locatário à data do vencimento (obrigação de
colocação, que derroga o disposto no art. 774º)
o Esta regra não costuma ser observada quanto ao arrendamento
onde, por força de estipulação ou dos usos, é comum estabelecer
que o lugar do pagamento seja no domicílio do senhorio.
Mora do locatário: art. 1041º prevê regime específico
 Nada impede as partes de estabelecerem uma cláusula penal moratória
para cobrir o atraso no pagamento das rendas, mesmo em caso de
resolução do contrato.

Garantias de pagamento: obrigação de pagamento da renda pode ser objeto de qualquer


garantia que as partes venham a estipular para a hipótese de incumprimento pelo locatário.
 Forma mais comum é prestação de fiança, que se for prestada manter-se-á
em princípio durante todo o período de vigência do arrendasmento,
incluindo as suas renovações.
o Mas nada obsta a que o fiador apenas se obrigue pelo periodo
inicial de duração do contrato excluindo as renovações.
o Também pode ser garantia bancária e autónomo à primeira
solicitação, mas não é comum.

Está expresso para o Arrendamento Urbano- Art. 1076º/2


 É caução de fonte negocial pelo que o art. 624º/1 admite que ela seja
prestada por qualquer garantia, real ou pessoal.
MLP: a obrigação principal é o pagamentop, que visa remunerar o gozo. Mad depois há uma
série de obrigações acessórias.

II. Obrigação de facultar ao locador o exame da coisa locada- art. 1038º/b


Situação visa permitir ao locador controlar o bom estado da coisa e, eventualmente, suprir
deficiências ou exigir responsabilidade pelos danos a esta causados- também serve para o
locador se proteger contra eventual mau uso da coisa.
 Direito que tem de ser exercido em termos moderados, pois pode
corresponder a uma perturbação do gozo pelo locatário.
o Articula-se com a Obrigação do locador não perturbar o gozo da
coisa, art. 1037º/1;
o Locador não pode fazer uso desse direito/dever de examinar de
forma a pôr em causa o direito do locatário;
o Está sujeito aos limites do abuso do direito;
o MLP: direito do locador tem de ser delimitado de forma a
interpretar-se que desse direito resulta a perturbação mínima do
direito do locatário e é apenas um exame e não uma ingerência
maior- é o mínimo necessário para defender os interesses do
locador e que perturbe minimamente o locatário no seu uso/gozo
da coisa.
III. Obrigação de não aplicar a coisa a fim diverso daquele a que se destina- art.
1038/c
É frequente no contrato se determinar o fim a que se destina a coisa locada, com base na
qual se delimitam as possibilidades da sua utilização pelo locatário.
 O fim da coisa resulta de convenção das partes
 Se não for feito, vigora o art. 1027º que permite aplicar a coisa quaisquer
fins lícitos, dentro da função normal das coisas de igual natureza.
o Art. 1027º, 1067º/2, 1092º- quanto ao tipo de utilização que pode
ser dado ao locado.

Arrendamento urbano- art. 1067º/1 distingue apenas o arrendamento para fim habitacional
(art. 1092º e ss.) e o arrendamento para fim não habitacional (art. 1108º e ss.- onde também
se distinguem especificidades quanto ao comércio e às profissões liberais).

IV. Obrigação de não fazer da coisa locada uma utilização imprudente- art. 1038º/ d
É um dever de manutenção da coisa no meso estado em que foi recebida, ressalvando-se a
normal deterioração- art1043º/1
o Utilização prudente da coisa importa necessariamente a deterioração da mesma- é
normal algum desgaste da coisa ligada ao uso da coisa.
o É inerente ao próprio uso da coisa, para os fins a que se destina.
o Se a coisa se deteriorar devido a uma imprudente utilização, a lei presume a
responsabilidade do locatário (art. 1044º).
o Estabelece presunção a quem se imputa a perda ou deterioração
da coisa- presunção de culpa do locatário.
Arrendamento urbano- art. 1073º
o Obrigação de não fazer utilização imprudente não é violada se o locatário fizer
algumas pequenas alterações/ deteriorações.
É obrigação que existe ao longo de todo o contrato- se violada pode dar origem a resolução
do contrato.

Lei não diz que o locatário deve utilizar a coisa de forma prudente.
• MLP: isso seria errado, pois o locatário não está obrigado a utilizar a coisa. Ele usa se
quiser. Mas se utilizar, então tem de a utilizar de forma prudente.

V. Obrigação de tolerar as reparações urgentes, bem como quaisquer outras que


sejam ordenadas por autoridade pública- art. 1038º/e
Casos em que tal se impõe para evitar a deterioração da coisa locada.
o o locatário suporta essa perturbação no gozo da coisa em ordem a evitar maiores
riscos para o prédio.

Obrigação que se traduz numa ligeira compreensão do direito do locatário

o a lei aqui é descritiva, comparando com as disposições homólogas no comodato. O


direito do comandante é muito mais amplo que este aqui (pode perturbar mais o
gozo).

VI. Obrigação de não proporcionar a outrem o gozo total ou parcial da coisa por meio
de cessão onerosa ou gratuita da sua posição jurídica, sublocação ou comodato,
exceto se a lei o permitir o operador autorizar- art. 1038º/f
O contrato de locação é intuitu personae
 Locatário não pode transmitir o seu direito, sublocar a coisa ou fazer comodato.
o Se locador não autorizar, locatário viola dever e sujeita-se a que haja resolução do
contrato.

Se autorizado (no contrato), tem de transmitir ao locador que o fez.


 Há uma outra obrigação que é a da comunicação: art. 1038º/g
o Se não o fizer sujeita-se à resolução do contrato.

Exemplo de caso em que a lei permite sem autorização: trespasse (art. 1112º)

Arrendamento Urbano – o subarrendamento deve ter consentimento escrito (art. 1088º/1)

VII. Obrigação de comunicar ao locador, dentro de 15 dias, a cedência do gozo da coisa,


sempre esta seja permita ou autorizada – art. 1038º/g.
Sem esta comunicação a cedência é ineficaz em relação ao locador e permite-lhe resolver o
contrato (art. 1083º/2/e para Arrendamento Urbano).

Mas há especialidades em relação a esta matéria: art. 1049º

• Significa que o locatário tem dever de comunicar a cedência, quando autorizada, mas
se não o fizer, aquele que recebe o direito pode comunicar e então o locador já não
pode pedir resolução ao locatário.

VIII. Obrigação de avisar imediatamente o locador, sempre que tenha conhecimento de vícios
na coisa, ou saiba que a ameaça algum perigo, ou que terceiros se arrogam direitos em relação
a ela, desde que o facto seja ignorado pelo locador – art. 1038º/h
Esta obrigação é imposta ao locatário em virtude de lhe ser atribuída a posse da coisa locada,
que lhe implica um dever de custodia mínima da mesma, concretizando-se na imposição de
um aviso ao senhorio.

 Lei estabelece uma obrigação que permite ao locador ter conhecimento dos perigos a
que a sua coisa está sujeita, não estando em seu poder.

o Esse conhecimento serve para ele decidir o que melhor lhe aprouver em relação à
coisa.
o É para o locador poder tomar as medidas que entender adequadas face a um perigo.

 MLP: parecido à gestão de negócios quando gestor dá conhecimento ao dominus de


que assumiu a gestão.

Não há sanção, mas estabelece que o senhorio deixa de responder pelos vícios da coisa locada
(art. 1033º/d derroga 1032º).

Relaciona-se com a OBRIGAÇÃO DO LOCADOR DE CONSERVAR A COISA

• CC não é muito claro quanto ao dever de repara a coisa caso haja anomalia na mesma.
• Arrendamento urbano é mais claro: obras ordinárias e extraordinárias competem ao
senhorio (art. 1074º)
Problema é que o senhorio não pode fazer certas intervenções a que está por lei obrigado.

 MLP: problema prévio se há obrigação é resolvido, porque há essa obrigação no


Arrendamento urbano. Problema posterior é quanto ao que se pode fazer para dar
corpo a essa obrigação.

Para o cumprimento dessas obrigações, no âmbito do contrato de locação, seria muito moroso
a propositura de uma ação de cumprimento.

Tem de haver outra solução mais expedita:

• Lei introduz esquema no art. 1036º e permite intervenção do locatário sem ele ter de
esperar pela intervenção do senhorio- arrendatário pode substituir-se ao senhorio no
cumprimento de uma obrigação deste (intervindo até fisicamente numa coisa que é de
propriedade alheia).

o Art. 1036º/1- caso de mora do locador;

▪ Locatário pode realizar reparações urgentes.

o Art. 1036º/2- não chega a haver mora;

▪ Locador não sabe o que está a acontecer pois não houve tempo de o notificar
para ele intervir.
▪ É importante que ele avise o senhorio ao meso tempo- para ser lícita a ação do
locatário, isto porque é o locador que decide qual é a solução que dá à coisa.

O locatário que agir ao abrigo do art. 1036º tem o direito ao reembolso das despesas- e é o
reembolso imediato (não tem de esperar pelo fim, como benfeitorias).

Arrendamento urbano: art. 1074/3, in fine- o que tiver gastado na reparação pode ser
compensado na obrigação de pagar renda.

IX. Obrigação de restituir a coisa locada, findo o contrato- art. 1038º/i

Surge como consequência da natureza temporária do contrato de locação.

 Obrigação de Restituir a Coisa nas condições em que a recebeu e no termo do


contrato.

o No domínio da locação em geral, o locatário não tem de restituir a coisa nos


exatos termos em que recebeu se a utilização da coisa faz com que ela se
deteriore ao longo do tempo.

• PL/AV: há casos em que decurso do tempo e exposição do bem aos fatores naturais
leva a um desgaste e deterioração- nesses casos também não tem de devolver no
estado em que resolveu.

Locatário pode restituir a coisa sem ser igual ao início se a deterioração da coisa for devida a
uma deterioração prudente.
Arrendamento urbano- art. 1081º

 Articulando com o art. 1073º/2 temos que o locatário tem de reparar as


alterações/modificações/deteriorações lícitas que fez no locado.

Proibições de locação

Só existe uma única proibição específica de locação, que respeita ao arrendamento de bens
do incapaz a favor dos seus pais, tutor, curador e etc.

 Art. 1892º - sem autorização do tribunal (atualmente do Ministério Publico, por força
do DL 272/2001) não podem os pais tomar de arrendamento, ainda que por
intermédio de hasta pública, os bens do filho sujeito ao poder paternal.

o Sem esta autorização, o arrendamento é anulável a requerimento do menor,


até um ano depois de atingir a maioridade ou ser emancipado ou, se,
entretanto, falecer, pelos seus herdeiros excluindo-se os pais – art. 1893º

Extingue-se o direito de anulação se tribunal confirmar o arrendamento – art. 1894º

Art. 1937º/b em relação ao tutor, que é extensiva ao curador por força do art. 156º, ao
administrar os bens, por força do art. 1971º/1.

 Também parece ser extensível ao produtor, sempre que este substitua o tutor (art.
1956º/b).
 Art. 1939º

Vicissitudes do Contrato de Locação

Transmissão da Posição Contratual do LOCADOR

art. 1057o a 1059o CC

A necessidade de tutelar a posição do locatário, em caso de transmissão da coisa locada a


terceiro, levou à consideração que esta transmissão não deveria afetar o direito do locatário,
estabelecendo-se assim uma transmissão contratual forçada da posição do locador para o
adquirente da coisa locada (= sucessão forçada na posição de locador)

 Princípio emptio non tollit locatum – art. 1057ºCC

o Romano Martinez: transmissão da posição contratual do locador verifica-se


ipso ure sempre que se transmita o direito com base no qual foi celebrado o
contrato de locação.

▪ Situação do locatário subsiste, havendo tão-só uma alteração subjetiva


quanto à pessoa do locador.

o Locatário pode sempre opor o seu direito em relação a qualquer adquirente


do direito com base no qual foi celebrado o contrato, sujeitando-o a continuar
com ele o contrato de locação, mesmo que o adquirente desconhecesse
totalmente a existência desse contrato quando adquiriu o bem.

Pressuposto do art. 1057º é apenas a aquisição do direito com base no qual foi celebrado o
contrato, independentemente da forma como essa transmissão se opere (por ato entre vivos
ou mortis causa).

 Se locador transmitir seu direito de propriedade sobre a coisa, transmite também o


seu direito no contrato de locação.

o O adquirente do direito de propriedade passa a ser parte no contrato de


locação e tem de respeitar o direito do locatário, pois esse adquirente passa a
ser o locador.
o MLP: Regra não é muito característica de direitos de crédito e sim dos direitos
reais (que acompanham a coisa). Aqui o direito do locatário mantém-se e
segue a coisa (que é transmitida).

Também no caso de constituição de um novo direito deve transmitir-se a posição de locador


para o novo titular no caso desse novo direito implicar a exclusividade do gozo da coisa
locada. Ex: constituição de usufruto.

• RM: Não se pode transmitir a posição de locador sem o direito que lhe é subjacente,
porém, nem sempre é necessário que haja a transferência do direito em cuja base o
contrato de locação foi celebrado, porque a transmissão da posição contratual pode
ocorrer em caso de constituição ex novo de um direito real.

Venda executiva do bem (art. 824º/2 não inclui a locação) ou alienação em processo de
insolvência (art. 109º CIRE) também não afetam o direito do locatário.

Objeto de transmissão: transmitem-se para o adquirente os direitos e obrigações do locador


respeitantes à execução futura do contrato

• Permanecendo na esfera do anterior locador os direitos e obrigações respeitantes ao


período locativo anterior à transmissão – as posições constituídas anteriormente
mantém-se na esfera jurídica daquele que transmitiu o direito, e não aquele que se
tornou o novo locador.

Novo locador não pode reclamar o pagamento de rendas respeitantes a períodos anteriores à
transmissão, nem requerer a resolução do contrato com este fundamento.

o Lei resolve o problema do direito a Rendas ou Alugueres que se vencessem


posteriormente e se referem a períodos posteriores à data da transmissão – art. 1058º
estabelece a inoponibilidade da liberação ou cessão de rendas ou de alugueres não
vencidos ao sucessor entre vivos do locador, na medida em que tais rendas ou
alugueres respeitem períodos não decorridos à data da sucessão.

▪ Quando rendas/alugueres referentes a períodos posteriores são pagas


anteriormente, esse pagamento não é oponível – novo senhorio tem
direito a essas rendas e pode exigir ao locatário.
▪ Não vale apenas para o pagamento de rendas, mas também na
modalidade de Cessão de Créditos Futuros. Essa cessão de créditos
não é oponível ao sucessor.
▪ Art. 1058º apenas aplicável à sucessão entre vivos.

o Se não estiver regulado no contrato, supletivamente, a transmissão da posição só́ se


refere a situações jurídicas que digam respeito a períodos posteriores à transmissão.

Sucessão na Posição de Locador

Nos casos de morte do locador, os herdeiros do de cujos sucedem a este na relação de


arrendamento, que não é um contrato intuitu personae (art. 2024º).

Transmissão da Posição Contratual do LOCATÁRIO


Art. 1059o/2 remete para o regime geral dos art. 424º e ss., o que significa que esta
transmissão só pode ser realizada com o consentimento do senhorio, podendo este resolver o
contrato se a cessão for efetuada sem o seu consentimento (art. 1083º/2/e) – isto porque
uma das obrigações do locatário é não ceder o gozo da coisa.

• Caso tenha por objeto a casa de morada de família, a cessão da posição contratual do
arrendatário depende ainda do consentimento do seu cônjuge (art. 1682º-B/c)

Há́ casos em que essa transmissão da posição contratual do arrendatário não depende do
consentimento do senhorio.

1. Art. 1105º- casos em que existe arrendamento sobre uma casa que é casa de morada
de família
2. Art. 1112º- caso de trespasse

 Garante que titular do estabelecimento comercial conserve e possa negociar o valor


desse estabelecimento comercial.

MESMO QUE PERMITIDA, deve ser comunicada ao senhorio no prazo de 15 dias (art.
1038º/g e 1112º/3, in fine cc), sem a qual essa transmissão será ineficaz em relação ao
senhorio, podendo este resolver o contrato (art. 1083º/2/e), a menos que tenha
reconhecimento o beneficiário da cedência como tal ou que a comunicação lhe tenha sido
efetuada por este (art. 1049º).

Sucessão na Posição de Locatário

Locação é contrato intuito personae quanto ao locatário, pelo que caduca com a morte deste.

 Admite-se, no entanto, convenção em contrário pelo que as partes poderão afastar


esse cariz intuitu personae, estabelecendo a transmissão por morte do direito do
locatário.

Esse cariz intuitu personae é atenuado no âmbito do Arrendamento Urbano em que ocorre
uma comunicação do direito em relação ao respetivo cônjuge, nos termos gerais e de acordo
com o regime de bens vigentes (art. 1068º).
Há́ algumas situações previstas em que o direito do arrendatário se transmite por morte
deste: art. 1106º + 1107º

Não impede a oposição à renovação pelo senhorio nos termos do prazo do contrato (art.
1097º).

• Se for de duração indeterminada, a morte do arrendatário não afeta o direito do


senhorio a denunciar com a antecedência mínima de dois anos (art. 1101º/c).
• Para o comercio e indústria: art. 1113º

Sublocação – art. 1060º

O contrato de sublocação encontra o seu fundamento num precedente negócio jurídico


locativo, pois o sublocador celebra o contrato de sublocação com base no seu direito de
locatário, que lhe advém do contrato primitivo.

• Sublocação é contrato subordinado, mediante o qual o sublocador, ao abrigo da sua


qualidade de locatário, proporciona a terceiro (sublocatário) o gozo de uma coisa,
mediante retribuição.
• Passam a coexistir dois contratos de locação sobrepostos, ficando o segundo negócio
jurídico dependente do primeiro.

Engloba tanto o subarrendamento como o subaluguer, embora este último não tenha
relevância prática – conforme o bem (art. 1023º).
Sublocação pode ser total ou parcial – consoante sublocador conceda ao sublocatário todo o
gozo do bem locado ou apenas parte dele.

Em princípio é proibida: art. 1038º/f

 Consequências da violação da proibição: art. 1049º e 1088º.


 A não ser que haja cláusula no contrato de locação a permitir.

A sublocação exige o consentimento por escrito do senhorio e é proibida sem esse


consentimento (art. 1038º/f + 1088º).

• Apenas após a comunicação ou reconhecimento do sublocatário pelo locador ou o


reconhecimento (art. 1038º/g, 1049º, 1061º, 1088º/2) é que a sublocação se
considera eficaz em relação ao locador.

o Sublocaçãoproduzefeitosemrelaçãoaolocadorporviadoreconhecimentoou da
comunicação.
o Não sendo eficaz, locador pode resolver o contrato com o locatário (art. 1083º/2/e).

Aplica-se o regime da locação, mas com algumas especificidades:

• limite na renda (art. 1062º);


• locador pode exigir do sublocatário a renda se tanto ele como o locatário estiverem
em mora (art. 1063º).
• Arrendamento Urbano: art. 1089º
Direitos do sublocatário: perante o locador, os direitos do sublocatário não podem exceder os
do locatário/sublocador (art. 1089º). Perante o locatário; os que resultem do contrato e da lei
como direitos do locatário perante o locador.

Direitos do locador: exigir rendas ao sublocatário (art. 1063º); substituir-se ao arrendatário na


relação com o subarrendatário (art. 1090º).

Perturbações da Prestação no Contrato de Locação

Originárias

VÍCIOS DA COISA LOCADA

Existência de vício na coisa locada corresponde a uma perturbação da prestação no contrato


de locação, dado que o locador é obrigado a assegurar ao locatário o gozo da coisa para os
fins a que esta se destina (art. 1031º/b) – não assegurando isto, o contrato considera-se não
cumprido (art. 1032º)

Para desencadear responsabilidade do locador, o vício ou a falta de qualidade têm de


resultar de culpa sua (art. 798º), a qual se presume nos termos gerais (art. 799º).

• Art. 1032º/a – locador tem de provar que os desconhecia sem culpa


• Art. 1032º/b – locador tem de provar que o defeito posterior não foi culpa sua?

▪ Não, como é algo raro e difícil de conceber, compreende-se que seja o


locatário a demonstrar que o locador teve culpa na sua verificação.

Art. 1033º- casos em que o locador deixa de responder pelos defeitos da coisa
(Irresponsabilidade)

a) Conhecimento dos defeitos pelo locatário leva ao afastamento da responsabilidade do


locador, pois locatário aceita conscientemente celebrar o contrato de locação nessas
condições.

 O desconhecimento como fundamento da tutela do locatário; conhecimento, logo


desnecessidade de culpa.

b) Pois cabe ao locatário o ónus de verificar o estado da coisa, salvo se locador assegurar
a inexistência de defeitos ousar de dolo para os ocultar (uma vez que nesse caso o
locador tem responsabilidade específica por o locatário ter aceitado o contrato nessas
condições).

 O desconhecimento como fundamento da tutela do locatário; conhecimento, logo


desnecessidade de culpa.

c) É o locatário que coloca a coisa com vícios ou sem as qualidades necessárias à


realização do fim do contrato.

 Desconhecimento culposo, logo, sem tutela; salvo garantia ou dolo do locador.

d) Locatário está obrigado a avisar (art. 1038º/h)


Esses defeitos enquadram-se no regime geral do incumprimento – art. 1035º

 Mas não há obstáculos a que o locatário proceda à anulação do contrato por erro ou
dolo, caso estejam verificados os respetivos pressupostos.

ILEGITIMIDADE DO LOCADOR OU DEFICIÊNCIA DO SEU DIREITO

a) Art. 1034º
Ilegitimidade do locador – remete art. 1024º

• Exa: locação de bens alheios, falta de capacidade de gozo, falta de poderes de


representação voluntária ou orgânica, locação pelo locatário

b) c) Deficiência do direito

• Exb: locador faz-se passar por proprietário, não o sendo; sobre bem incide ónus que
poderá́ determinar extinção dos direitos do locatário (TRC, 26/2/13)
• Exc: locatário com direito a sublocação garante ao sublocatário que o contrato de
locação celebrado por um prazo de 10 anos

Em qualquer destas situações considera-se o contrato como incumprido quando determinar a


privação definitiva ou temporária, do gozo da coisa por parte do locatário (art. 1034º/2).

A locação de bens alheios é válida – solução compreensível pois não estamos perante contrato
translativo de direitos, mas antes constitutivo de obrigações.

 Apenas quando locatário é privado do gozo da coisa é que pode reagir perante o
locador, mas a situação já não é de invalidade, mas antes de incumprimento do
contrato.
 Nestes casos, o art. 1035º admite que o locatário pode também proceder à anulação
do contrato por erro ou dolo, nos termos gerais.

REGIME ESPECÍFICO DA LOCAÇÃO DE BENS DE CONSUMO


O art. 1o-A/2 DL 67/2003 vem determinar que se aplica o regime das garantias nas vendas de
bens de consumo à locação de bens de consumo.

Sendo uma locação de bens de consumo aplica-se, com as devidas adaptações, o regime do DL
67/2003

Supervenientes

PRIVAÇÃO TEMPORÁRIA DA COISA LOCADA


Relaciona-se com circunstância que diz respeito à própria coisa locada e não devido a
situações do locatário.
Ex: automóvel é furtado, em circunstâncias que não era possível evitar ou prevenir

Art. 1037º – locador não tem de assegurar o gozo da coisa contra atos de terceiro

Há privação de gozo, o que é perturbação do contrato de locação, mas tal não corresponde a
nenhum incumprimento do locador – daí que este seja o exemplo que revele que este
contrato providencia o gozo da coisa (opinião MLP)
Ex: se locador é hospitalizado e não aproveita o gozo da coisa isso é problema dele, não há́
nenhum problema com a coisa locada

Próprio locatário pode reagir contra essa perturbação do gozo da coisa

 Ações Possessórias – art. 1037º

Reflexos na renda ou aluguer

Ele tem na mesma que pagar renda ou aluguer durante período em que foi privado da coisa?
Se pensarmos sinalagmaticamente, então não.

o Se ele é privado do gozo por razões que não lhe dizem respeito, não tem a obrigação
de pagar a renda ou aluguer.
o Art. 1040º

▪ Aplicável quer à privação quer à diminuição do gozo


Consagra uma regra que é decorrente da noção de sinalagma.
▪ Art. 1040º/2 tem uma restrição
MLP: levanta problemas quanto aos contratos de duração indeterminada

Direito à Resolução

Lei também estabelece a possibilidade de resolução, em certos termos – art. 1050º/a

 Pode haver algumas dificuldades em articular este artigo geral com o regime do

Arrendamento Urbano (art. 1083º)

VÍCIOS SUPERVENIENTES DA COISA LOCADA

Locador tem obrigação de eliminar defeitos ou perda de qualidades que ocorra na coisa
durante a vigência do contrato? E se esses defeitos decorrem de um desgaste normal?

Decorre da obrigação do art. 1031º/b

• Implicar a necessidade de o locador fazer reparações e outras despesas necessárias à


conservação da coisa locada (art. 1036º)

o MLP: na obrigação de facultar o gozo tem de estar implícita a manutenção da


coisa

MLP: CC não é muito claro, mas deve concluir-se pela existência desta obrigação
Mas no Arrendamento Urbano há consagração legal de conservação – não há́ dúvidas que é
um dever do senhorio – art. 1074º

o Perante um defeito superveniente, no Arrendamento Urbano não há́ dúvidas


(art. 1074º), e para a locação em geral também há́ a obrigação (do locador) de
reparação devido a que só́ assim se garante o gozo da coisa ao locatário
Este art. 1032º/b diz que locador só́ é responsável por este efeito se ele ocorrer por culpa do
locador.

 MLP: este artigo refere-se apenas à indemnização e não à reparação do defeito (como
PL / AV)

Reflexos na renda ou aluguer

Locatário não tem de pagar a renda ou aluguer, ou tal tem de ser diminuído, pois vê̂ o gozo da
coisa prejudicado – art. 1040º

Direito à Resolução

Locatário tem direito à resolução do contrato – art. 1050º/b

• Exige-se que seja um defeito grave para justificar a resolução.


• No Arrendamento Urbano há́ norma paralela (art. 1085º/5)

REGIME DA MORA NO PAGAMENTO DA RENDA OU ALUGUER – mora do locatário

Caso em que é o locador que está a sofrer perturbações no contrato por não estar a receber a
renda ou aluguer.

Art. 1041º

• Locador a quem não seja paga a renda no tempo devido ele tem direito a
indemnização

o Mas esta indemnização é opção do locador, ele pode exigir somente os juros de
mora.

Se o não pagamento for devido a uma razão que o legitima então não há mora.
Dentro dessas razões podem estar as perturbações no gozo da coisa que o locatário sofre.

Este direito à indemnização cessa nos casos do art. 1041º/2

 Moratória = tolerância legal, sem consequências

Art. 1041º/3

• Locatário para fazer cessar a mora tem de pagar a renda em atraso e a indemnização
• Ideia de que locatário só́ purga a mora se pagar renda/aluguer + indemnização está
também consagrada no art. 1042º/1

MORA DO LOCATÁRIO NO PAGAMENTO DE OUTROS ENCARGOS

Designadamente no Arrendamento Urbano.


➢ Ex: conta da eletricidade pode ser paga pelo locatário.

Art. 1078º/4, 5, 6, 7
Estes casos não estão sujeitos ao art. 1041º

Se locatário não pagar, com a transformação da mora em incumprimento definitivo pode


resolver-se o contrato.

Resolução do Contrato de ARRENDAMENTO URBANO

Quanto à resolução do contrato de locação, no geral, esta é uma matéria difícil em que CC não
é claro

 MLP: A dogmática civilista não está ainda muito desenvolvida quanto a estas relações
contratuais duradouras.

o Lidar com problemas específicos de resolução de contratos de execução


duradoura tem as suas particularidades.

Regime geral da resolução do contrato de locação: art. 1047º e ss.

• Das regras resulta claramente que pelo menos há́ dois fundamentos inequívocos para
a resolução do contrato pelo locador:

o Locatário não paga renda ou aluguer (art. 1048º)


o Locatário cede a outrem o gozo da coisa sem autorização do
locador(art.1049º)

Mas a lei não conferiu nenhuma taxatividade e não estabeleceu nenhum critério orientador

No Arrendamento Urbano o legislador foi cuidadoso e estabeleceu um regime completo de


resolução

• Compreende-se esta solução porque até 2006 havia regime vinculístico, sendo
importante estabelecer claramente quais as situações em que o senhorio podia por
termo ao contrato.
• Ultrapassado esse período e com a liberalização do regime de arrendamento, a lei
continua a ser cuidadosa.

No regime atual, art. 1083º tem o fundamento da resolução do contrato de Arrendamento


Urbano

 Cláusula geral e sem enumeração taxativa.

o A enumeração é meramente exemplificativa e não taxativa.

Art. 1083º estabelece os termos em que cada uma das partes pode resolver o contrato de
arrendamento.

 Pode ser noutros termos (oposição à renovação, denúncia e etc.), aqui é somente a
resolução.
Por este artigo perpassa a ideia de que cada uma das partes só pode por termo ao contrato
por via da resolução com fundamento no incumprimento da contraparte quando esse
incumprimento torne inexigível a manutenção da relação contratual.

• Isto obriga a fazer juízo de prognose, que entra em conta com as consequências desse
incumprimento para o futuro

o Perguntasse a parte fiel deve ou não ter de suportar essas futuras


consequências.
o Ex: locatário viola reiteradamente regras de sossego e de boa vizinhança.
Locador avisa. É exigível ao locador esperar que locatário mude? Não é. É este
juízo do que é esperável para o futuro que tem de se fazer para saber se é
suportável esse risco e o incumprimento dos deveres do locatário.

• Exige-se que incumprimento seja de tal ordem que torne inexigível a manutenção da
relação contratual

Extinção do Contrato

O contrato de locação está sujeito às causas gerais de extinção dos contratos – art. 1079º

O regime da cessação do contrato de Arrendamento Urbano tem natureza injuntiva pelo art.
1080º

➢ ML: Compreensível face à importância dos interesses em jogo.

Revogação

Romano Martinez: Ato bilateral que carece do consentimento do locador e do locatário – por
vontade das partes pode extinguir-se o vínculo entre elas.

• Acordo que leva à extinção de um vínculo obrigacional = Distrate (Galvão Telles)


• Aqueles que constituíram um vínculo contratual podem a todo o tempo, com base
num princípio de autonomia privada, extinguir esse mesmo vínculo.
• Partes põem termo ao contrato celebrando um contrato extintivo, perfeitamente
admissível ao abrigo da autonomia privada (art. 406º/1)

Arrendamento Urbano: art. 1082º


➢ Sujeita a forma escrita (art. 1082º/2) quando não é imediatamente executado

(Revogação Real – ex: aqui estão as chaves, adeus) ou contenha cláusulas compensatórias ou
outras.

Resolução

RESOLUÇÃO PELO LOCADOR


Locador pode resolver o contrato com fundamento no incumprimento das obrigações do
locatário (art. 801º), mas essa resolução é sujeita a certos condicionamentos.
➢ Não é todo e qualquer incumprimento do locatário que fundamenta a resolução – exige- se
um incumprimento grave.

Pode ser feita judicial ou extrajudicialmente – art. 1047º


Arrendamento Urbano: pode requerer-se uma Acão de Despejo, utilizando-se a via judicial
(art. 1084º/2 + art. 14ºNRAU)

Como é contrato de execução continuada, a resolução não opera retroativamente, pelo que
não obriga a restituir as prestações já realizadas (art. 434º/2).

Arrendamento Urbano: art. 1083º


➢ MLP: forte preocupação do legislador regular a Resolução no Arrendamento Urbano.

Nº1 é enigmático (MLP)

• Pois o contrato de arrendamento, como vem a ser admitido no art. 1083º/2, gera uma
relação contratual duradoura – que tem um fundamento diferente dos contratos de
execução instantânea, que são aqueles que estão nas regras gerais (art. 801º e ss.)

Nº2 é uma das regras que vem adaptar um fundamento geral de extinção do contrato, tendo
em conta uma relação duradoura.

• Não é todo o tipo de incumprimento que gera um direito à resolução do contrato – só
aquele que torne inexigível à parte fiel o continuar o contrato.

o Tem de se testar se a violação/incumprimento leva efetivamente a esta


situação de inexigibilidade da manutenção do contrato.
o Ex: Arrendatário dá festa até tarde e viola o art. 1083º/2/a – mas se acontece
só uma vez não dá fundamento para resolver o contrato

• MLP: O raciocínio que a lei obriga a fazer é pensar em que medida o acontecimento
pretérito se projeta na execução futura do contrato – isto é o que a lei reclama
quando fala em inexigibilidade do contrato.

o Pode ser reiteração ou gravidade.

Caráter exemplificativo (enumeração não taxativa e meramente enunciativa), pelo que se


poderão igualmente enquadrar outros casos de incumprimento pelo arrendatário como a
realização de deteriorações e obras no imóvel, a violação dos limites legais ou contratuais
relativos a hóspedes e a cobrança ao subarrendatário de renda superior à permitida e etc.

MLP: casos do art. 1083º/2 são situações de incumprimento e são suscetíveis de gerar um
direito à resolução pelo senhorio, mas têm de passar pelo crivo de gravidade e tornar inexigível
a manutenção do contrato.

 Nalguns casos e difícil imaginar um incumprimento que só́ por si não gera direito à
resolução.

Intéprete-aplicador é exonerado de fazer essa ponderação (de verificar se o incumprimento


gera inexigibilidade) nos casos do art. 1083º/3 e 4
Terminologia legal não é a mesma (MLP: infelizmente), no caso do art. 1083o/5 – parece que a
sua verificação não tem de ter dos dois requisitos da inexigibilidade.

RESOLUÇÃO PELO LOCATÁRIO


É genericamente admissível nos casos de incumprimento da obrigação ou cumprimento
defeituoso – art. 801º/2.

 Art. 1050º CC

Arrendamento Urbano: art. 1083º/2 – sem os exemplos referidos pelas alíneas


➢ Esta resolução pode ser declarada pelo senhorio ou pelo arrendatário – artigo regula a

resolução por qualquer uma das partes.

COMO OPERA A RESOLUÇÃO?


Opera por declaração à outra parte – art. 436º/1 e 1084º/1

➢ Esta comunicação tem de obedecer a formalismos (art. 9ºe ss. NRAU)


Esta regra geral tem um desvio – quando se trata de resolução de um senhorio que não seja

fundada por falta de pagamento do preço, ele tem de por uma ação judicial (art. 1084º)

Prazo de resolução no Arrendamento Urbano: art. 1085º


• Prazo para a resolução caduca a partir de um determinado prazo desde o

incumprimento.
• Lei impede que as partes estejam numa situação de incerteza.

Caducidade

ML: Extinção do contrato em virtude da verificação de um facto jurídico stricto sensu

Art. 1051ºº

a) Pressupõe que não se tenha verificado uma renovação do contrato, que é a regra no
âmbito do arrendamento (art. 1054º)

b) Aposição de condição resolutiva aos contratos de arrendamento sofre alguma limitação,


dado que a mesma não poderá́ ser usada para defraudar os fundamentos da resolução do
contrato, atenta a natureza imperativa dos mesmos (art. 1080º).

c) Sujeita a restrição pelo art. 1052º

d) Excetuando os casos em que a lei admite

e) Contrato de locação fica sem objeto, manifestamente extinguindo-o

A permanência pelo arrendatário do gozo da coisa, pelo prazo de um ano e sem oposição do
senhorio, funciona como uma causa de renovação do contrato, mesmo após a verificação da
sua extinção – é uma sanação da caducidade – art. 1056º
➢ Restrito às hipóteses do art. 1051º/1/a, b, g

Arrendamento Urbano: art. 1091º/b estabelece um direito de preferência do arrendatário na


celebração de novo contrato de arrendamento em caso de caducidade do seu contrato por ter
cessado o direito ou terem findado os poderes legais de administração com base nos quais o
contrato fora celebrado, estabelecendo-se que esse direito apenas existe enquanto não for
exigível a restituição do prédio nos termos do art. 1053º (art. 1091º/2).

Cessação do direito com base no qual se estabeleceu a locação, o contrato de locação caduca

Por exemplo, art. 1089º

Se o contrato cessou, a partir de quando é que é devida a restituição da coisa?

Caducidade leva a que haja um dever de restituição imediata – mas lei estabelece que tem de
ser 6 meses, art. 1053º

 MLP: o contrato continua a vigorar por mais 6 meses desde o facto que gera a
caducidade

o Pode haver dificuldade com o art.1081º (que diz que no Arrendamento Urbano a restituição
deve ser imediata).

o Nocasodeconflitosaleiespecial(doArrendamentoUrbano)afastaaleigeral (de caducidade).

Denúncia e Oposição à Renovação

• Denúncia – aplicável aos contratos de duração indeterminada onde a declaração do


senhorio a pôr termo ao contrato pode ocorrer em qualquer altura
• Oposição à Renovação – aplicável aos contratos em relação aos quais tenha sido
estipulado um prazo renovável, apenas podendo ocorrer no fim desse prazo e
impedindo que o contrato se renove por períodos subsequentes.

o Art.1054º e 1055º CC

▪ Regime regra não é que findo o prazo o contrato caduca. Findo o prazo
o contrato renova-se.

Se partes nada disserem

 art. 1026º tem prazo supletivo para a locação, pelo que o processo de extinção da
relação locatícia para o futuro constitui normalmente um caso de oposição à
renovação.

Arrendamento Urbano

PRAZO CERTO – art. 1095º e ss.

Se partes nada disserem


➢ art. 1094º/3 tem prazo supletivo para o arrendamento urbano
o Prazo igual para os contratos de arrendamento urbano com fins não habitacionais – art.
1110º/2, desde a alteração de 2017

Renovação automática: art. 1096º


➢ A essa renúncia pode opor-se o senhorio (art. 1097º) ou o arrendatário (art. 1098º)

Qualquer das partes pode opor-se à renovação

Através da:
• Comunicação de uma das partes à outra – que diz que não quer que o contrato se renove.
o Tem de ter uma antecedência determinada, devido ao investimento de confiança na relação
duradoura.

Este regime é aplicável, por remissão, ao contrato de arrendamento para fins não
habitacionais – portanto aplica-se a todo o regime do arrendamento urbano
MLP: No entanto, para os fins habitacionais as normas são imperativas.

➢ Para fins não habitacionais: art. 1110º - desvio/fuga à imperatividade pelo menos quanto à
oposição à renovação e à denúncia.

DURAÇÃO INDETERMINADA – art. 1099º e ss.

➢Ainda se aproxima bastante do regime tradicional dos arrendamentos vinculísticos, tendo


em conta os fundamentos de denúncia do arrendatário/inquilino – art. 1100º

➢Também há́ possibilidade de denúncia pelo senhorio – art. 1101º e ss.

o Denúncia discricionária (art. 1101o/c) e denúncia justificada (art. 1101o/a, b) Governo


está a pensar alterar o art. 1101o/c para 5 anos

• MLP esta alteração vai tornar menos atraente a celebração de contratos de duração
indeterminada.
• Senhorio não vai querer celebrar contratos de duração indeterminada pois o prazo é
muito longo.

Contrato de mútuo

2.1. Noção e características

Art.1142º CC→nocão de contrato de mútuo

Forma do contrato de mútuo:

• Escritura pública ou documento particular autenticado → valor superior a 25 mil €


• Documento assinado pelo mutuário→valor entre 2500€ e 25 000€ (exclusive)
• Verbalmente→abaixo de 2500€
Se as partes estipularem uma taxa de juros diferente da legal, deverão efetuá-lo por
escrito, caso contrário serão devidos apenas os juros legais (art.559º/2 CC)

objeto mútuo dinheiro

coisas fungíveis

A fungibilidade aqui em causa é uma fungibilidade em sentido objetivo, ou seja, corresponde a


uma característica natural das coisas, e não abrange a fungibilidade em sentido subjetivo (as
partes atribuem a característica de fungibilidade no caso concreto, ainda que em sociedade
normalmente, a coisa não revista dessa característica).

Quais as coisas que não têm cariz fungível (e consequentemente não podem ser objeto de
mútuo)?

• Imóveis
• Universalidades de facto (art.206º/1 CC), ainda que compostas de coisas fungíveis;
apenas é admitido o mútuo sobre as coisas fungíveis singulares que compõem a
universalidade de facto (art.206º/2 CC)
• Animais
• Prestações de facto

Contrato de mútuo: contrato real quod constitutionem ou consensual?

o CASTRO MENDES: a entrega das coisas mutuadas não teria uma função
constitutiva do negócio, sendo sim um ato executivo do contrato, que
corresponde ao cumprimento de uma obrigação já existente, não
necessariamente contemporâneo da sua celebração, visto que, para a posição
seguida por este professor, a traditio é prejudicial ao contrato aqui em causa.
o MENEZES CORDEIRO, MOTA PINTO e VAZ SERRA: a entrega não é condição de
validade do contrato, o que leva a que o acordo das partes no sentido de não
se proceder à entrega, torna o contrato atípico. Ou seja, fica na disponibilidade
das partes a celebração do mútuo como real ou consensual
o MENEZES LEITÃO: contrato real quod constitutionem, o que significa que a
entrega da coisa mutuada é necessária para que o contrato se constitua, não
tendo de corresponder a tradição da coisa a uma entrega material das coisas
mutuadas

Para além destas teses defendidas pela doutrina portuguesa, temos ainda:

o Tese que sustenta que o contrato é celebrado no momento do acordo das partes, e
não faz nascer a obrigação restitutória nem produz a transferência da propriedade, já
que esta pressupõe a entrega das coisas mutuadas
o Tese que relaciona a natureza real e consensual consoante se esteja perante um
mútuo gratuito ou um mútuo oneroso, respetivamente, ao defenderem que a traditio
apenas faz sentido nos contratos gratuitos

Características do contrato de mútuo:

• Contrato obrigacional (o mutuário fica obrigado a restituir ao mutuante a coisa


mutuada)
• (em regra) Oneroso – o art.1145º CCiv estipula uma presunção de onerosidade, o que
nos permite concluir que a onerosidade é uma característica natural do mútuo.
Todavia, esta presunção pode ser derrogada pelas partes, que são livres de
estipularem a gratuitidade do contrato.
Se as partes quiserem estipular uma taxa diferente da taxa legal, terão de o fazer por
escrito, por força do art.559º/2 CCiv. Neste sentido, a doutrina italiana tem vindo a
defender, relativamente à estipulação da gratuitidade do contrato de mútuo, que esta
não está sujeita a forma especial; no entanto, caso o mútuo tenha por objeto dinheiro,
o acordo de exoneração dos juros apenas se aplica àqueles que seriam devidos até à
data do vencimento da obrigação de restituição do capital, visto que, após essa data,
com a entrada do mutuário em mora, passam, automaticamente, a ser devidos juros
legais (art.805º/2, al.a) e 806º CCiv) . Segundo PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, esta
presunção de onerosidade afasta-se nos casos em que o mútuo tem por objeto coisas
fungíveis que não sejam dinheiro; contrariamente MENEZES LEITÃO.
• Contrato não sinalagmático/unilateral – segundo ANTUNES VARELA, PIRES DE LIMA,
PESSOA JORGE e MENEZES LEITÃO, tendo em conta que o mútuo é um contrato real
quod constitutionem, a obrigação do mutuante (entrega da coisa fungível) não é
objeto de uma obrigação, mas sim um pressuposto necessário para a constituição do
contrato
• Comutativo, visto que as atribuições patrimoniais são certas e não dependem de
qualquer risco
• Contrato sem cariz mortis causa

Regime do contrato de mútuo

Formação do contrato

Tal como já́ foi supra indicado, o contrato de mútuo só́ se torna eficaz com a tradição da coisa
mutuada, visto que se trata de um contrato real quod constitutionem.
A tradição da coisa tem uma função instrumental, na medida em que se destina a assegurar a
aquisição dos bens pelo mutuário (art.1144º CCiv), e é um ato jurídico bilateral, na medida em
que exige a intervenção de ambas as partes na relação contratual.

Mútuo→ato de administração extraordinária, devido aos riscos do contrato: o mutuante perde


a propriedade das coisas mutuadas, recebendo em troca apenas um crédito; o mutuário pode
ver o seu património a ser prejudicado devido a qualquer cálculo incorreto sobre as suas
possibilidades de restituir a coisa mutuada ou eventualmente os juros.

Tratando-se de um ato de administração extraordinária, o contrato de mútuo pode ser


celebrado por mandato ou representante legal, desde que o mandatário ou o Ministério
Público, respetivamente, os autorize a tal (art.1159º/1, 1889º, al. a) e g) CCiv).

Quanto aos cônjuges, cada um deles pode ser mutuante das coisas fungíveis que lhe
pertençam, bem como das coisas comuns de que tenha a administração, sem necessidade de
intervenção do outro cônjuge (art.1682º CCiv). Caso um dos cônjuges seja mutuário, a divida
só responsabilizará ambos nas situações referidas no art.1691º CCiv.

Partes:
➔Capacidade: as partes não podem carecer de capacidade de exercício para poderem
celebrar este contrato. Ou seja, o contrato não pode ser celebrado por menores ou maiores
acompanhados
➔Legitimidade: apenas tem legitimidade para celebrar contratos de mútuo o proprietário das
coisas mutuadas, ou quem tenha faculdade de disposição sobre elas, sob pena de nulidade
(art.892º ex vi 939º CCiv). Caso o mutuante não tenha legitimidade para celebrar o contrato de
mútuo, pode o titular das coisas mutuadas, segundo o professor MENEZES LEITÃO, solicitar ao
mutuante ilegítimo o direito de indemnização pelos danos sofridos, com fundamento na
responsabilidade civil, ou o direito à restituição por enriquecimento, com fundamento no
enriquecimento por intervenção

Admissibilidade do contrato-promessa de mútuo


➢ Posição tradicional: inadmissibilidade do contrato-promessa de mútuo, visto que: Não faria
sentido o legislador impor às partes o ónus de efetuar a tradição da coisa para efeitos de
tradição do mútuo, para depois dispensar esse ónus, em relação à celebração do respetivo
contrato-promessa

Tendo em conta que o mútuo é um contrato que se destina, tradicionalmente, a suprir


necessidades temporárias de bens de consumo, que alguém fornece a outrem, a promessa de
mútuo repugnaria à consciência social, na medida em que o mutuante se obrigaria a algo que
deveria corresponder a uma sua decisão espontânea

➢ MENEZES LEITÃO: tendo em conta que o direito reconhece o contrato-promessa como


figura geral (art.410º CCiv), o professor não vê qualquer razão para excluir a sua aplicabilidade
no caso do mútuo, sustentando, assim, que a promessa de mútuo levaria a que o promitente
ficasse obrigado a realizar, não só uma prestação de facere, mas também uma prestação de
dar. Esta promessa de mútuo é, segundo MENEZES LEITÃO, suscetível de ser cedida, a não ser
que as partes lhe atribuam cariz intuitu personae.

Apesar de admitir a promessa de mútuo, o professor exclui a possibilidade de recurso à


execução especifica (art.830º CCiv), já que:

o A sentença não produziria os efeitos da declaração negocial do faltoso, uma vez que
essa declaração não produz quaisquer efeitos acompanhada da tradição da coisa
o A execução para entrega de certa coisa é um caso idóneo para efetuar a transferência
forçada da posse ou detenção da coisa, mas não para realizar a transferência de
propriedade que ocorre no contrato de mútuo
Excluído o recurso à execução especifica em caso de incumprimento do contrato-promessa de
mútuo, diz-nos o professor que tal incumprimento apenas pode dar lugar à obrigação de
indemnização pelos danos causados ao credor, sendo que não há qualquer limite para a
indemnização, e nada impede ao beneficiário de reclamar outros danos sofridos em virtude do
incumprimento da obrigação de contratar.

É excluída, ainda, em sede de promessa de mútuo, a extinção da mesma por compensação, já
que não estamos perante uma obrigação pecuniária e que não tem como objeto coisas
fungíveis (art.847º, al. a) CCiv)

Cláusulas assessórias típicas

➢ Condição

Condições resolutivas→apenas são admitidas as condições resolutivas cuja verificação faz com
que a obrigação de restituição surja antes do prazo, condições estas que não têm eficácia
retroativa. As condições resolutivas cuja verificação fazem surgir a obrigação de restituição
não são admitidas, visto que tal equivaleria a excluir um elemento essencial do mútuo

Exemplo: A (mutuante) celebra com B (mutuário) um contrato de mútuo, cujo objeto são 5€.
Caso estipulem que B terá de restituir os 5€ dali a 1 mês, e ainda que, caso B ganhe o
Euromilhões, terá de entregar de imediato os 5€, esta condição resolutiva é válida, visto que
faz com que a obrigação de restituição surja antes do prazo estipulado entre elas.

Não seria válida a condição resolutiva caso A e B estipulassem que B apenas restituiria os 5€
se ganhasse o Euromilhões.

o Condições suspensivas:

• Para os autores que consideram o contrato de mútuo um contrato consensual, não


há qualquer problema à admissibilidade de estipulação de condição suspensiva
• Para os autores que defendem a natureza real quod constitutionem do contrato de
mútuo (MENEZES LEITÃO):
• Caso se estipule que a condição suspensiva ocorra antes da tradição da coisa, tal
estipulação não produz efeitos, visto que o contrato apenas se constitui com a
entrega, e o facto de ser verificar a condição não obriga o mutuante a entregar as
coisas mutuadas, uma vez que a tradição é livre

Exemplo: A (mutuante) celebra com B (mutuário) um contrato de mútuo, cujo objeto são 5€,
no dia 1. A e B estipulam que aquele apenas teria de entregar os 5€ se chovesse no dia 3

• Caso se estipule que a condição suspensiva ocorre após a sua verificação, entende-se
que ocorre a estipulação de dois contratos em união alternativa: contrato de depósito
irregular, com efeitos imediatos, e que vigora em definitivo em caso de não verificação
da condição contrato mútuo, que apenas produz efeitos em caso de verificação da
condição.

 Termo

o Termo inicial→a solução apresentada pela doutrina é a mesma que foi supra
indicada relativamente à condição suspensiva;
o Termo final→tendo em conta que se apresenta como um elemento essencial
para que o contrato possa desempenhar a sua função típica, a doutrina tem
vindo a entender que não constitui uma cláusula acessória típica do contrato
de mútuo.

➢ Modo (ou encargo)

o Tendo em conta que o modo é possível em qualquer contrato gratuito, e o


mútuo pode revestir essa natureza gratuita, a doutrina tem vindo a admitir a
estipulação do modo dentro dos limites que o caracterizam (art.963º CCiv)
o O modo tem de consistir apenas numa restrição à gratuitidade do mútuo, não
podendo constituir um correspetivo da atribuição patrimonial realizada pelo
mutuante
o Deve ter carácter acessório na economia do contrato, o que significa que a
cláusula de escopo, que constitui um limite funcional da atribuição realizada
pelo mutuante, não pode ser considerada como um modo
o O seu incumprimento apenas constitui fundamento para resolução do mútuose
assim tiver sido estipulado no contrato (art.966º por analogia)

Efeitos do mútuo

Efeitos reais→transferência da propriedade através da entrega da coisa (art.1144º


CCiv). A transmissão da propriedade tem uma natureza meramente instrumental, visto
que permite o exercício da função creditícia do mútuo.
A transferência da propriedade implica, consequentemente, a transferência do risco
(art.796º/1 CCiv), o que significa que se as coisas mutuadas perecerem, o mutuário
continua obrigado à restituição de coisa do mesmo género e qualidade, não podendo
invocar a impossibilidade objetiva do cumprimento (art.1149º CCiv)

Efeitos obrigacionais:
• Restituição de coisa do mesmo género e qualidade da coisa mutuada (art.1142º,
parte final CCiv) – obrigação pecuniária (quando o objeto do contrato é dinheiro) ou
genérica (quando o objeto do contrato é uma coisa fungível diferente do dinheiro),
essencial ao mútuo, que se destina a reequilibrar a situação patrimonial das partes,
colocando-as na situação em que se encontravam no momento da conclusão do
negócio.

Por força do princípio da homogeneidade qualitativa e quantitativa da prestação do


mutuário em relação à prestação do mutuante, no caso do mútuo que tenha como
objeto coisas fungíveis que não sejam dinheiro, a restituição pelo mutuário deve fazer-
se in natura independentemente das alterações de valor que as coisas mutuadas
tenham, entretanto, sofrido.

Constituem exceções a este principio:


o Estipulação das partes de cláusulas de salvaguarda ou de garantia, que determinam
o quantum da obrigação de restituição por referência a certos índices (ex.: custo de
vida; preço de certos bens; cambio de certa moeda estrangeira) →desvio ao princípio
do nominalismo monetário e atenuação do princípio da identidade quantitativa da
obrigação de restituição

o Art.1149o CCiv
Relativamente ao prazo para o cumprimento da obrigação de restituição:

o Nunca pode a obrigação do mutuário ser considerada pura, nos termos do


art.777o/1 CCiv

o Não é necessário recorrer ao tribunal para se fixar o prazo para a restituição,


aplicando-se, na falta de fixação de prazo, o disposto no art.1148o CCiv:

• Mútuo gratuito→ o mutuário tem um prazo de 30 dias após a exigência do


cumprimento da obrigação por parte do mutuante, para cumpri-la (nº1)
• Mútuo oneroso→ qualquer uma das partes pode pôr termo ao contrato, desde
que o denuncie com 30 dias de antecedência (nº2), exceto nos casos previstos
no art.1148o/3 e 4 CCiv.

Tempo do cumprimento da obrigação→ as partes podem convencionar que a


restituição se fará integralmente, ou por partes (derrogando, nesta situação, a regra
do art.763º CCiv). No caso de mútuo oneroso, a obrigação fracionada pode ser
realizada simultaneamente com a obrigação de pagamento de juros por parte do
mutuário, mantendo-se, no entanto, as duas obrigações sujeitas a regimes diferentes
(ex.: obrigação de restituição não está sujeita ao prazo de prescrição do art.310º CCiv;
a obrigação de pagamento de juros não está sujeita ao regime do art.781º CCiv)

Lugar de cumprimento→deve ocorrer no que for convencionado no contrato, e caso


falte essa convenção, ter-se-á de distinguir consoante se trate de dinheiro ou de outra
coisa fungível: no caso de dinheiro, tratando-se de obrigação pecuniária, deve ser
cumprida no domicílio que o credor tiver ao tempo do cumprimento art.774º CCiv); no
caso de outra coisa fungível, deve ser cumprida no lugar do domicílio do devedor
(art.772º CCiv).

• Obrigação de juros (art.1145º/1 CCiv) – obrigação periódica que deve ser realizada
por parte do mutuário, e que tem carácter acessório em relação à obrigação principal
de restituição do capital, apenas no momento da celebração do contrato. Depois de
celebrado o contrato, segundo o art.561º CCiv, o crédito de juros ganha autonomia,
podendo ser cedido ou extinguir-se sem o crédito principal.

Estabelece a Portaria 291/2003, de 8 de abril que a taxa de juros legais atualmente é


de 4%. Isto não obsta a que as partes estipulem entre si outra taxa aplicável ao
contrato, desde que o façam por escrito, sob pena de serem devidos apenas os juros
legais (art.559º/2 CCiv), e que respeitem o disposto no art.1146o, sob pena de
nulidade parcial do contrato, sujeita a redução automática determinada pela lei.
Invalidade do contrato de mútuo

Invalidade do contrato de mútuo

Causas de invalidade Efeitos


Falta de forma ( art. 1143º e 220º CCiv) Nulidade com efeitos retroativos (art. 289º
CCiv):

• Mutuário tem de restituir o capital;


• Mutuante tem de restituir os juros
eventualmente cobrados, a não ser
que haja abuso de direito, no
sentido em que é criado no
mutuante uma justificada confiança
de que essa invalidade não viria a
ser invocada.

Mútuo usuário (art. 1146º CCiv)- não é • De acordo com o nº3, que derroga
considerado usuário o mútuo celebrado o regime do art. 292º CCiv, ocorre a
pelo simples facto de as prestações redução da taxa de juro
estipuladas estarem acima do rendimento remuneratório ou moratório aos
normal do mutuário. montantes máximos referidos nos
art. 1146º/1 e 2 CCiv,
respetivamente.
• Anulabilidade do mútuo por força
do art. 282º CCiv, caso estejam
verificados os seus pressupostos de
aplicação (esta norma não é
prejudicada pelo facto de terem
sido respeitados os limites relativos
à estipulação de juros, segundo o
art. 1146º/4 CCiv)

Modalidades especiais de mútuo

Modalidades

• Empréstimo mercantil (art. 394º Ccom) - tem como objeto coisas destinadas a
qualquer ato de comércio
• Mútuo bancário (DL 58/2013, de 8 de maio) - celebrado por instituições bancárias
• Mútuo garantido por penhor- apenas é admitida a prestamistas sediados ou com
estabelecimento estável em Portugal e devidamente licenciados (estão dispensados do
licenciamento as instituições de crédito e as associações de socorro mútuos quando
esse fim conste dos seus estatutos)
• Mútuo de escopo- o mutuário compromete-se a restituir o capital e os juros
mutuados, e ainda a aplicar as quantias mutuados no âmbito de um fim especifico,
acordando com o mutuante.
Mútuo de escopo:

• Mútuo de escopo legal – financiamentos legalmente estabelecidos para fins específicos, em


que o mutuante é uma instituição financeira e o mutuário uma entidade com requisitos
legalmente estabelecidos (ex.: empréstimo bancário);

• Mútuo de escopo legal facilitado – empréstimos concedidos graças à intervenção do Estado,


ou concedido mesmo pelo Estado a taxas mais baixas do que as do mercado, a particulares
que se comprometem à aplicação do financiamento a um fim determinado. Estes empréstimos
também podem ser concedidos graças à intervenção de entes públicos através de subvenções
(contributo em conta de juros ou em conta de capital ou garantias);
• mútuo de escopo voluntário – não há imposição legal de aplicação das quantias mutuadas a
um fim convencionada, mas antes se estabelecem limites à utilização das quantias mutuadas,
em resultado da estipulação das partes

Ao contrário do que se entende no Direito italiano, o professor MENEZES LEITÃO defende que
a obrigação do mutuário de aplicação das quantias recebidas ao fim convencionado e o
aditamento dessa obrigação não implica alterações na estrutura do contrato.

Extinção do contrato

Pode o mutuante extinguir o contrato de mútuo nos casos de:

• Decurso do prazo concedido ao mutuário


• Insolvência do mutuário
• Mutuário deixa de prestar as garantias prometidas (art.780º CCiv)
• Falta de pagamento de uma prestação, no caso de se ter convencionado a restituição
em prestações (art.781º CCiv)
• Incumprimento da obrigação de pagamento dos juros no mútuo oneroso
(art.1150º CCiv)
• Afetação das quantias entregues a fins diferentes daqueles para que foram
emprestadas no mútuo de escopo

Caso o mutuário antecipe o cumprimento da obrigação relativamente ao prazo


estipulado, extingue-se o contrato, nos termos do art.1147º CCiv

Contrato de comodato

Introdução

Contrato regulado nos art.1129º e ss. CCiv, e que corresponde ao empréstimo de


coisas determinadas, tal como podemos aferir do art.1129º CCiv

Características qualificativas:

• Contrato real quod constitutionem, visto que só se considera celebrado com o


ato de entrega da coisa-objeto do contrato. Diz-nos o professor MENEZES
LEITÃO que tal não impede que seja celebrado um contrato-promessa de
comodato que, todavia, não está sujeito à execução especifica (art.830º CCiv)

• Contrato não formal (art.219º CCiv) – a garantia de ponderação e seriedade da


declaração negocial do comodante é assegurada pela tradição da coisa,
necessária à conclusão do contrato, podendo ainda o comodante, mesmo
tendo sido estabelecido prazo, resolver sempre o contrato se tiver justa causa
(art.1140ºCCiv)
• Contrato gratuito – apesar de fazer surgir obrigações para o comodatário,
nenhuma delas se apresenta como contrapartida da utilização da coisa por
parte do comodante. Trata-se de uma característica essencial do contrato de
comodato, pelo que qualquer contraprestação tida como contrapartida do uso
da coisa, leva a que o contrato se qualifique como de locação (caso a prestação
tenha natureza pecuniária) ou como atípico. A gratuitidade não é afetada se for
estabelecido qualquer encargo
• Contrato não sinalagmático – apesar de fazer surgir obrigações para ambas as
partes, não existe qualquer nexo de correspetividade entre essas obrigações,
pelo que o comodato é considerado como um contrato bilateral imperfeito,
não sinalagmático

3.2. Formação do contrato

Sendo um contrato real quod constitutionem, para além do acordo de vontades


(art.232º CCiv), é necessário, para a formação do contrato, que seja efetuada a entrega
da coisa.
Caso não ocorra entrega, e apenas o acordo, este não deixa de ser juridicamente
relevante como elemento da facti species negocial, o que significa que pode originar
uma responsabilidade pré-contratual pelo interesse contratual negativo.

Art.407º CCiv – sendo que o contrato só se perfecciona com a entrega, em caso de


celebração do contrato com mais de uma pessoa, prevalece o direito do comodatário a
quem vier primeiro a ser entregue a coisa.

Contrato de comodato:

• Comodatário→ato de administração ordinária


• Comodante→ato de administração extraordinária

Isto significa que têm capacidade para celebrar contratos de comodato todos
aqueles que não estão abrangidos por alguma incapacidade (menoridade ou
acompanhamento), sem prejuízo de alguns comodatos poderem ser abrangidos
no âmbito das exceções referidas no art.127º CCiv.

Quanto à legitimidade, têm legitimidade para celebrar contratos de comodato


todos aqueles que sejam titulares de qualquer direito de gozo sobre a coisa
(proprietário e usufrutuário). Não têm legitimidade o locatário (art.1038º, al.f)
CCiv); o depositário (art.1189º CCiv); ou o próprio comodatário (art.1135º
CCiv,) salvo autorização do proprietário. Relativamente aos cônjuges, exige o
art.1682º-A CCiv o consentimento de ambos, exceto quando vigore entre eles o
regime da separação de bens, sob pena de anulabilidade; relativamente aos
pais/tutores ou acompanhantes, não se proíbe, nem está sujeito a autorização
por parte do Ministério Público a celebração de contratos de mútuo que têm
como objeto coisas do menor ou do maior acompanhado.

coisas fungiveis não


consumíveis (caso se
estabeleça a obrigação da
restituição da própria coisa)
coias móveis

coisas consumíveis, desde


objeto do contrato que se pretenda fazer uma
utilização atípica da coisa.

coisas imóveis

Obrigações do comodante

Obrigação de não perturbar o uso da coisa Não se trata de uma obrigação de o


pelo comodatário comodante assegurar o uso da coisa, nem de
mantê-la em estado de servir aos fins para
que foi emprestada, mas sim de comportar-
se de modo que por ação sua não venha o
como datário a sofrer privação do uso da
coisa

Ex: não pode o comodante reivindicar do


comodatário a coisa emprestada ou dispor
dela a favor de outrem
Obrigação do comodante
Obrigação de reembolso de benfeitorias Resulta, dos art. 1273º e 1275º ex vi 1138º/1
CCiv, que o comodatário tem direito a ser
indemnizado das benfeitorias necessários
que haja realizado, bem como levantar as
benfeitotias úteis, se tal puder ser efetuado
sem detrimento da coisa, havendo lugar à
restituição do enriquecimento por despesas
no caso contrário, mas não ao levantamento
de benfeitorias voluptárias.

Obrigações e direitos do comodatário

Celebrado o contrato de comodato, tem o comodatário o direito de:

➢ Uso da coisa

o Apesar de o comodatário adquirir um direito pessoal de gozo sobre os bens objeto do


comodato, este direito é limitado ao uso da coisa, já que o art.1132º CCiv dispõe que
só por força de convenção em contrário o comodatário pode fazer seus os frutos
colhidos;
o Este direito não é absoluto, visto que é objeto de uma limitação pelas partes, que pode
ser tácita
o Art.1135º, al.c) e 1136º/2 CCiv – a afetação da coisa a uso diverso do estipulado é
expressamente proibida, sendo o comodatário responsabilizado objetivamente por
todos os danos que a coisa venha a sofrer, caso tenha desrespeitado essa proibição.
Caso o comodatário extravase o seu direito de uso, tem o comodante uma justa causa
para resolver o contrato (art.1140º CCiv)

Normalmente, o uso da coisa, tem um termo final:

• Caso seja estipulado pelas partes, o prazo não é prorrogado pelo facto de o
comodatário continuar a necessitar de utilizar a coisa, a menos que o comodante dê o
seu assentimento. Apesar disto, não é o comodatário a restituir a coisa antes do fim do
prazo, mesmo que já tenho terminado o uso
• Caso o prazo resulte da determinação do uso, é a sua conclusão que determina o
vencimento da obrigação do comodatário (art.1137º/1 CCiv)
• Na falta de prazo convencionado ou resultante de determinação do uso, o
comodatário estará́ obrigado a entregar a coisa logo que lhe seja exigida (art.1137º/2
CCiv)

o Este direito não pode ser oposto ao titular de um direito real maior sobre o
bem, prevalecendo contra outros direitos pessoais de gozo se tiver sido
constituído em primeiro lugar (art.407º CCiv). Porem, confere ao comodatário
a posse da coisa, o que lhe permite a tutela possessória dessa situação
(art.1133º/2 CCiv)
o O direito de uso da coisa pelo comodatário é determinado pelo fim do
contrato, e caso não o seja, é permitido ao comodatário aplicar a coisa a
quaisquer fins lícitos, dentro da função normal das coisas de idêntica natureza
(art.1131º CCiv)
o Relativamente ao fim da coisa emprestada, diz-nos o professor MENZES
LEITÃO que é possível que haja um empréstimo da coisa para constituição de
garantia a favor de terceiro, visto que nada impede que esse tipo de
empréstimo seja celebrado, ainda que naturalmente a garantia fique mis
precária, uma vez que não apenas se extingue com a morte do comodatário,
como também o comodante poderá́ revogar o comodato se para isso tiver
justa causa
o Quanto ao empréstimo de títulos de crédito ou de ações para permitir o
exercício dos respetivos direitos, a posição maioritária defende a sua
admissibilidade

➢ Retenção→art.755º, al.e) CCiv

Obrigações do comodatário→art.1135º CCiv

Perturbações da prestação no comodato

O elemento da gratuitidade do contrato de comodato conduz a uma moderação no regime da


responsabilidade do comodante em caso de perturbações da prestação, derivada da existência
de vícios ou limitações do seu direito em relação a essa coisa ou vícios da própria coisa.

Por força do art.1134º CCiv, a responsabilidade do comodante está limitada ao dolo, exceto
quando este tenha expressamente assumido outro tipo de responsabilidade.

Extinção do comodato

caducidade

termos gerais denuncía


modos de
extinção morte do
resolução (art.
comodatário (art.
1140º CCiv)
1141º CCiv)

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