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Introdução

O objectivo das páginas que se seguem é estabelecer as diferenças entre a locação e a locação
financeira.
Tal distinção tem interesse prático, além do mais, para determinar quais os contratos (…de
locação financeira) reservados a bancos e a sociedades de locação financeira. E os contratos
(de locação) que podem ser celebrados por entidades não financeiras.

II

A distinção entre locação e locação financeira

1. A distinção jurídica: a lei como ponto de partida

O decreto-lei n.° 149/95 de 24 de Junho, que estatui o regime jurídico da locação financeira
(instituído pela primeira vez
pelo decreto-lei n.° 171/79), dá a definição do contrato em causa (artigo 1.°):

“Locação Financeira é o contrato pelo qual uma das partes se obriga, mediante retribuição, a
ceder à outra o gozo temporário de uma coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída por
indicação desta, e que o locatário poderá comprar, decorrido o período acordado, por um
preço nele determinado ou determinável mediante simples aplicação dos critérios nele
fixados.”

A locação simples também tem a sua noção expressa legalmente. Vejamos, assim, o art. 1022.°
do Código Civil português o qual define:

“Locação é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o gozo
temporário de uma coisa mediante retribuição”.

2. Plano

As normas legais referidas dão a noção de contrato de locação e de contrato de locação


financeira.
Trata-se de dois contratos nominados, previstos e regulados no Direito privado. A lei, ao dar a
sua definição, indica, desde logo, as suas características fundamentais.
Vamos começar por as distinguir. Para, depois, as aprofundar numa análise tipológica mais
aprofundada dos dois contratos de locação e de locação financeira, um em confronto com o
outro e com as figuras próximas.

3. As características (essenciais) do contrato de locação


O contrato de locação, visto à luz do artigo 1022.° do Có-
digo Civil, apresenta as seguintes características, definidoras do
seu tipo:

a) Uma das partes obriga-se a proporcionar à outra o gozo de uma coisa;


b) A outra parte tem o direito de exigir esse gozo;
c) O gozo é temporário;
d) À cedência do gozo corresponde uma prestação da outra parte.

4. As características (essenciais) do contrato de locação financeira

O contrato de locação financeira é um “mais” perante o


contrato de locação. Ou seja: a lei (artigo 1.° do Decreto-Lei
n.° 149/95) acrescenta algumas características distintivas à “base” constituída pelo contrato de
locação.
Assim:
Tal como na locação:

a) Existe a obrigação de ceder o gozo de uma coisa;


b) O locador é e continua a ser proprietário da coisa;
c) A outra parte tem o direito de exigir aquela cedência;
d) O gozo é temporário;
e) O gozo é retribuído.

A mais, quanto à locação:

f) O objecto do contrato é adquirido ou construído por indicação do locatário;


g) O locatário pode adquirir a coisa decorrido o prazo acordado;
h) Esse preço deve ser determinado no contrato ou determinável mediante simples aplicação
dos critérios nele fixados.

É esta a distinção que a lei fixa. Por ela, portanto, nos devemos guiar(1).
Para melhor compreender esta distinção, vamos aprofundá-la em termos de desenvolver as
características dos contratos decorrentes das referidas normas e descrever os interesses que a
elas presidem.

III

Aprofundamento da distinção: os dois tipos contratuais

A) O contrato de locação financeira

5. A classificação tipológica do contrato de locação financeira


O contrato de locação financeira (“leasing”) surgiu nos países anglo-saxónicos, sobretudo nos
Estados Unidos, como um mero instrumento financeiro, de origem e construção
acentuadamente pragmáticas, para solucionar algumas necessidades das sociedades e das
pessoas singulares na sua actividade económica. Teve tão grande sucesso que se alargou
rapidamente à satisfação de um número muito variado e pouco classificável de necessidades
das sociedades e das pessoas singulares.

Daqui resultam duas dificuldades quanto às suas exactas compreensão e situação no campo
contratual: o misturar-se, muitas vezes, a sua função financeira com as suas características
jurídicas (estruturais), pretendendo classificá-lo financeiramente e não juridicamente; depois,
a sua sobreposição constante a outros campos contratuais, o que faz confundi-lo com variados
contratos como a locação, a locação venda, a compra e venda a prestações, etc.

Surge, consequentemente, uma frequente confusão entre o objectivo económico do contrato


e os instrumentos legais da prossecução daquele, a sua estrutura jurídica. Subordinando-se,
incorrectamente, estes instrumentos legais à finalidade económica ou mesmo à disciplina
contabilística.

Existe um utilitarismo que vem perturbar mais ainda uma estrutura jurídica muito compósita,
com evidentes dificuldades de redução unívoca a um esquema contratual bem definido.
Esta dificuldade reflecte-se nos escritos jurídicos até hoje produzidos, por vezes contraditórios
na análise feita do contrato e nas conclusões a que chegam.
Não quero deixar de salientar, de uma vez por todas, que a caracterização do contrato de
locação financeira, como de qualquer outro contrato, tem de assentar na sua estrutura
jurídica, na sua regulamentação legal e em não quaisquer outros aspectos, sejam financeiros,
económicos ou contabilisticos. Embora estes possam ter importantes consequências práticas e
servir para compreender melhor a figura em análise.

6. As características típicas do contrato de locação financeira — Desenvolvimento

O contrato de locação financeira, já o referimos, deve ser caracterizado através do seu tipo
jurídico. Através dos seus elementos essenciais, característicos, previstos na lei do contrato de
locação financeira.
Não se trata de uma tarefa fácil dada a proximidade do contrato de locação financeira com
outras figuras como a locação, a locação compra, a compra e venda a prestações, etc. Mas é
uma tarefa que tem de ser levada a cabo, dada a importância de distinguir a figura da locação
financeira de outras, não só para aplicação dos regimes jurídicos supletivos, como para
determinar quais as entidades autorizadas a levar a cabo essas operações. Como se sabe, a
locação financeira está reservada a determinadas pessoas jurídicas do sistema financeiro.
A locação financeira, como dissemos, tem origem no contrato de locação e é aproximada pelos
autores e pela jurisprudência a outros contratos como a compra e venda, o mútuo, etc..
Trata-se, porém, de um contrato definido e regulado na lei. Foi a partir desta que definimos os
elementos essenciais que caracterizam o contrato.
Desenvolvamos um pouco as características essenciais enunciadas nos números 1 e seguintes.

7. O núcleo do contrato

No núcleo do contrato encontram-se correlativos direitos e deveres das partes (artigos 9.° e
10.° do DL n.° 149/95).
Já vimos que é integrado pela obrigação do locador de ceder o uso da coisa durante um certo
período; com o correlativo direito de exigir a entrega da contraprestação; e pelo direito do
locatário de exigir a entrega da coisa, usando-a de acordo com o fim a que se destina durante
o período do contrato; e o correlativo dever de entregar as rendas. Bem como pela promessa
unilateral de venda no fim do contrato. Terminámos com a escolha do bem pelo utente.
Decorrem destas características a transferência do risco para o utente e a amortização da
coisa, pelo menos acima de 50%, durante o período do contrato (artigo 4.°).

8. Período do contrato

São incluíveis no contrato de locação financeira duas modalidades: o contrato de amortização


integral e o contrato de amortização parcial.
O primeiro vigorará durante toda a vida útil do bem. O segundo preverá a duração do contrato
durante a maior parte deste período.
A exigência do contrato ter necessariamente uma duração mínima, superior a metade da vida
útil (valor…) do bem (económica ou fiscal) (artigo 4.°) permitirá aqui distingui-lo da locação de
curta duração.
O não se transferir a propriedade com o pagamento da última renda, diferenciá-lo-á, desde
logo, da compra e venda a prestações e da locação compra.
Recorta-se, desta maneira, o contrato da locação financeira: entre a locação e a compra e
venda.

9. Transferência da propriedade

O contrato da locação financeira tem como objecto a cedência do uso da coisa: não a
transferência da sua propriedade; nem a cedência do uso mais a cedência contratual da
propriedade.
A cedência do uso do bem, culminada com a transferência da propriedade, é só operada
através da compra e venda a prestações com reserva de propriedade ou da locação-compra.
Se houver uma cláusula de transmissão automática da propriedade no fim do contrato
estaremos, ou perante um contrato inominado ou misto, ou perante um contrato de locação-
compra.

10. Valor residual do bem

Deve prever-se a obrigatoriedade de uma opção de compra (promessa unilateral de venda) no


fim do contrato, a favor do locatário, mediante declaração de vontade deste, por um preço
fixado ou a fixar nos termos do contrato. Pagável ou não em prestações. Mas já não mediante
o pagamento do valor de mercado do bem nesse momento. Com efeito, remeter para o valor
de mercado sujeito necessariamente a acordo do vendedor, retiraria sentido prático à opção
de compra.
O valor residual do bem poderá alcançar o montante que as partes acordarem no contrato.
Nada obstará a que as partes acordem que, findo o contrato e em vez de ser exercida uma
opção de compra, o contrato se prolongue através de uma locação financeira, locação a curto
ou a longo prazo ou com ou sem opção de compra no fim (artigos 1.° e 7.°).

11. Escolha do bem

A escolha do bem pertence naturalmente ao locatário, em função das suas necessidades


(artigo 1.°). É ele que determina o bem que lhe interessa e é ele que sofre o risco económico
da sua utilização com o risco também de não ser adequado às finalidades para o que pretende
ou ter vícios.
No caso de o bem ser fornecido pelo locador, então neste
caso o locador responderá perante o locatário pelo próprio bem. No caso de o bem ser
fornecido por terceiro estabelecer-se-á uma relação unicamente entre o terceiro e o locatário,
não podendo ser o locador responsabilizado pelos vícios ou pela inadequação da coisa.
A responsabilidade do vendedor ou construtor do bem pelo vício da coisa ou pela sua
inadequação aos fins a que é destinada pelo contrato de locação deve ser submetida às regras
gerais do direito das obrigações.
Normalmente, repito, o locador terá um papel meramente financeiro. De qualquer modo tudo
dependerá das circunstâncias. Se o locador se comportar como um “normal” locador, então
será responsável perante o locatário.

B) Distinção de contratos próximos

12. Algumas caracterizações do contrato de locação financeira

Os Autores manifestam muito variadas opiniões sobre a natureza jurídica do contrato de


locação financeira(2).

13. Contrato de compra e venda com fiel depositário


Alguns autores consideram o contrato de locação financeira como um contrato de compra e
venda em que o utente é fiel depositário do bem.
A critica a este ponto de vista decorrerá da caracterização do contrato de locação financeira
feita nas páginas subsequentes.

14. Contrato de crédito

Tem sido defendida a integração do contrato de locação financeira nos contratos de crédito.
Isto parece desvalorizar a regulamentação jurídica do contrato de locação financeira diversa da
regulamentação jurídica dos contratos de crédito. Salientando a função financeira do contrato
de locação financeira em prejuízo da sua estrutura jurídica.

15. Locação financeira e compra e venda

Economicamente, a compra e venda é um negócio de troca, pelo qual se trocam bens (coisas
ou direitos) por dinheiro.
Esta base económica é estruturada juridicamente no ar-
tigo 879.° do Código Civil: a obrigação principal do vendedor é a entrega do objecto comprado;
enquanto que o comprador tem de entregar o preço de venda; a transmissão da propriedade
da coisa opera-se para efeito do contrato.
No tocante à repartição dos riscos, o artigo 796.°, 1 do Código Civil determina que o risco pelo
perecimento ou deterioração da coisa corre por conta do adquirente.
Parece evidente que existem também muitas coincidências entre o contrato de locação
financeira e o contrato de compra e venda, pelo menos o contrato da compra e venda a
prestações.
O locatário, na locação financeira, procura obter, não o uso de um bem durante um período
mais ou menos longo, mas obter o próprio bem durante a maior parte da sua vida útil ou
durante a totalidade da sua vida útil. O utente vai obter todas as utilidades do bem
correspondentes à sua vida útil; nesta medida está a adquirir o próprio bem. E, de qualquer
modo, o contrato oferece a faculdade ao utente de aceder à propriedade do bem — faculdade
que este exerce, normalmente.

O utente faz um investimento através do bem. Investimento de que suporta integralmente os


riscos, como se de uma compra se tratasse.
É o utente que toma a iniciativa, escolhe a coisa de acordo com as suas necessidades e a
negoceia com o vendedor.
O risco económico corre por conta do utente. Se a utilização da coisa não é rentável não se
pode desfazer dela como o faria, por exemplo, o locatário. Suporta o risco da perda ou da
deteriorização da coisa, da sua obsolescência económica, do seu desgaste físico. Encontra-se
na posição de proprietário comprador (a prazo…), não podendo desinteressar-se da coisa
antes do reembolso integral do “locador”.
À prestação única do locador — entrega da coisa (do uso da coisa)—corresponde uma dívida
única do locatário correspondente ao valor da coisa, pelo menos durante o período da sua
utilização, acrescida de juros, lucros e outros encargos. Esta dívida existe desde a celebração
do contrato, embora o seu reembolso seja fraccionado.

A perda da coisa não extingue a obrigação do devedor. Trata--se, pois, de uma obrigação de
prestação “fraccionada” quanto ao cumprimento, mas unitária em si mesma, na medida em
que o objecto da prestação se encontra pré-fixado sem dependência da duração da relação
contratual — o que explica que a falta de cumprimento de uma das “fracções” implique o
vencimento imediato das restantes (artigos 781.° e 984.° do Código Civil).

A cessão do bem é contratada por um período próximo do da sua vida útil.


No fim do contrato o “locador” receberá o equivalente do custo da coisa, enquanto que o
“locatário” terá gozado o valor
económico da coisa. Nestes termos, e quer haja ou não opção de compra, a locação financeira
tem por objecto fins económicos muito próximos dos da compra e venda a prestações. O
locador só “reserva” a propriedade da coisa a título de garantia, como reserva da propriedade.
Contudo, também a equiparação da locação financeira à compra e venda a prestações não
parece possível. Pelo menos sob o ponto de vista jurídico.

Se abandonarmos a consideração dos interesses económicos das partes, muito variáveis e de


qualquer modo externos à estru-tura contratual, e analisarmos a estrutura contratual, ou seja,
o
quadro jurídico através do qual aqueles interesses são actuados, encontramos divergências
entre a locação financeira e a compra e venda.
As partes não tiveram em vista a transferência da propriedade sobre a coisa que seria
elemento essencial da compra e venda. Nenhuma transferência de propriedade se opera aqui
“ipso iure”.
O “locatário” tem o direito contratual de exigir do “locador” que este celebre com ele, no fim
do contrato, um contrato de compra e venda tendo como objecto o bem locado. Ou seja: a
compra do bem realiza-se por contrato posterior ao contrato de locação financeira, não sendo,
pois, um efeito deste operado pelo pagamento da última prestação.
De entre as objecções que se podem apontar à qualificação do contrato locação financeira
como contrato de compra e venda, ainda podemos indicar outra.
Na compra e venda o vendedor fornece uma coisa conforme ao pedido do comprador e
garante que não tem defeitos.
Na locação financeira não há qualquer prestação positiva do locador ou locatário em relação
directa com o próprio bem. Em tudo o que se refere ao bem é o utente que trata com o
fornecedor--produtor do bem e que se responsabiliza perante o locador e não o contrário. O
locador limita-se a pagar o bem ao fornecedor.
16. Locação financeira e mútuo

Tem sido acentuado pela doutrina, na esteira de uma visão “pragmática” do contrato de
locação financeira, a função financeira da locação financeira.
Estamos de acordo em que a locação financeira é um dos instrumentos de que os empresários
ou as famílias dispõem para financiar a “aquisição” de bens — ao lado do mútuo bancário, da
compra e venda a prestações, da locação compra, etc, ou em concorrência com estas figuras.
Figuras contratuais todas estas que não se podem reduzir a uma função financeira ou à
designação genérica de mútuo.
Não há que confundir o fim financeiro com os instrumentos jurídicos utilizados para
prosseguir. Recusamos um amalgamar simplista de técnicas jurídicas muito diversas sob a
denominação genérica e vaga de contrato de crédito, devendo separar e distinguir
juridicamente.
A caracterização da locação financeira como mútuo de dinheiro suscita graves objecções, pois
implica desconhecimento do significado das obrigações específicas do locador na relação
contratual, bem como das estruturas jurídicas dos dois contratos.
É certo que o financiamento é o “encargo” principal do locador. Contudo, a finalidade típica do
contrato de locação financeira é à cedência do uso da coisa. Cedência que só se torna possível
com a aquisição prévia da coisa pelo locador. O financiamento inicial ligado a esta operação
tem lugar na esfera do locador que só obtém resultados externos através da cedência do uso
do bem adquirido com esse financiamento.
As estruturas da locação financeira e de mútuo não se confundem.
Não recusamos que a locação financeira, vista na perspectiva estritamente económica, esteja
ligada a uma certa ideia, bastante vaga e grosseira embora sugestiva, de crédito da coisa.
Contudo, no contrato de locação financeira a entrega da propriedade do bem é substituída
pela concessão do seu uso, o que descaracteriza ainda mais aquele contrato em relação ao
tipo mútuo, mesmo perante a sugestiva ideia de mútuo da coisa.
Daqui resulta, nomeadamente, que o contrato de locação financeira se demarca nitidamente
do mútuo no que se refere à reivindicação da coisa: a reivindicação das coisas mutuadas
dirige-se à entrega de coisas da mesma espécie, quantidade e qualidade das cedidas pelo
mutuante; na locação financeira, a pretensão dirige-se à coisa entregue.
Na caracterização da locação financeira como mútuo fica sempre de fora a coisa objecto do
contrato. Fica de fora a verdadeira prestação do locador que é a cedência do uso da coisa.

C) Locação financeira e locação

17. Contrato de locação e locação financeira

A inclusão do contrato de locação financeira na locação propriamente dita compreende-se


dado que nos países anglo-saxónicos não há uma distinção clara entre as duas figuras, tendo
nascido a locação financeira da locação. “Leasing” reflecte bem esta origem, na medida em
que “lease” significa locação.
Há que perguntar se a locação financeira não é, efectivamente, redutível ao contrato de
locação.
Contrariamente aos contratos da alienação (compra e venda e análogos) que estão orientados
para a transferência remunerada da propriedade das coisas ou outros direitos, a locação, aqui
compreendida a locação financeira, permanece como a forma básica de cedência remunerada
das coisas para uso do adquirente/utente.
O locador continua proprietário do bem; dado que o contrato de locação se caracteriza pela
obrigação do locador de ceder temporariamente o gozo da coisa, tendo como contrapartida
uma certa remuneração (artigo 1012.° do Código Civil).
Daqui decorre que, o locador-proprietário é responsável pelos vícios da coisa (artigo 1032.° do
Código Civil); deve mantê-la e repará-la (artigos 1031.° e 1036.°); correndo, nos termos gerais,
por sua conta, o risco do perecimento da coisa.
Tanto numa figura como na outra a obrigação principal do locador está em ceder o gozo da
coisa; enquanto que o locatário, também em ambas as figuras, está obrigado a usar a coisa de
acordo com o fim a que se destina e a pagar uma certa retribuição (renda). Em termos de se
afirmar que a locação permanece durante toda a relação de locação financeira o tipo básico
normativo. O contrato, mesmo que tenha a causa remota do interesse do locatário em ser
financiado pelo locador, só adquire significado jurídico através da concessão do uso. É esta que
o caracteriza fundamentalmente.
A estrutura de locação mantém-se na locação financeira em tudo o que se refere à cedência do
uso. As modificações (a este nível) são só introduzidas acessoriamente para ponderar o
significado especial do financiamento da operação locativa.
Contudo existem algumas diferenças entre ambas as figuras.
Diferenças que são postas em evidência pelos textos do Código Civil que se referem à locação
e pelas normas que se referem à locação financeira.
Assim, na locação, o risco de perecimento da coisa corre por conta do locador; enquanto que
na locação financeira é o locatário que o suporta (artigo 15.° do DL n.° 149/95).
Também o dever de conservar e reparar a coisa incumbe, na locação financeira, ao locatário
(artigo 10.°). Enquanto que na locação assiste ao locador.
Normalmente na locação financeira o locador-proprietário não tem a intenção de usar o bem,
de correr os riscos próprios do proprietário, nomeadamente o risco económico de não
rentabilidade de coisa e do seu perecimento. O locador-proprietário quer que o bem seja
usado, com a assunção integral do risco, pelo utente.
O locatário/utente, não pretende obter o (simples) uso de um bem disponível no mercado de
locação. Realiza verdadeiramente um investimento, traduzido em parte ou na totalidade do
valor do bem, correndo o risco equivalente do seu perecimento ou da sua não rentabilidade.
Sendo assim, o locador desinteressa-se da coisa, sob o ponto de vista económico-financeiro
que não sob o ponto de vista jurídico. Enquanto que, sob o ponto de vista económico-
financeiro, o locatário tem uma “verdadeira” “propriedade útil” do bem.
O locador (financeiro) não escolhe o bem, não determina as suas características, não se
preocupa com a sua rentabilidade. São tudo assuntos que dizem respeito ao utente.
Estamos nos antípodas da posição (do mero) do locador que escolhe o bem de acordo com o
seu interesse económico, o oferece, o entrega e o mantém em estado de funcionamento;
assumindo os riscos inerentes. Explora-o, em suma.
Pelo contrário, o utente escolhe o bem de acordo com as suas necessidades e assume o risco
económico da sua utilização. Se esta não for rentável ou o bem não se adequar às suas
necessidade, não pode cedê-lo ao fim de um período mais ou menos curto, como acontece na
locação (vd. artigos 1.°, 10.°, 12.°, 13.°, 14.° e 15.° do referido DL).
Depois, na locação as rendas são prestações periódicas, correspondentes a períodos
sucessivos, dependentes da duração do contrato, em termos de, desaparecido o bem,
desaparecer a obrigação. Pelo contrário, na locação financeira há (“economicamente”) uma
obrigação única do devedor, correspondente, “grosso modo”, ao custo do bem, com
prestações “fraccionadas” no tempo.
O locatário aparece, pois, como “proprietário económico” do bem que paga integralmente, ou
na sua maior parte, durante o período do contrato, e cujos riscos assume.
Continuamos, apesar disso, com alguma incerteza entre os limites de locação financeira e o
contrato de locação. O que se compreende dada a génese do contrato de locação financeira, a
grande proximidade dos fins de um e de outro.
Neste sentido, não basta fazer uma interpretação das normas da lei, com vista a criar conceitos
e subdistinções. Há que aplicar estes conceitos e subdistinções aos casos concretos, no sentido
de os subsumir nos quadros da locação ou da locação financeira. O que só se consegue através
de um diálogo constante entre a norma e o caso.

18. Locação financeira e locação-compra

Na locação-compra as rendas pagas durante o período de duração do contrato amortizam


totalmente o desembolso do locador, adquirindo o locatário a propriedade com o pagamento
da última prestação da renda. Também se pode estabelecer um preço final, se o desembolso
do locador acrescido à sua margem de lucro não tiver sido suficientemente coberto pelas
rendas pagas.
Assim haverá, normalmente um contrato misto de locação com compra e venda.
Tem sido uma modalidade contratual bastante usada em diversos países no âmbito
imobiliário, mas também quanto aos bens móveis, sobretudo automóveis.
Os seus contornos económicos são dificilmente separáveis dos da compra e venda a
prestações. Embora sob o ponto de vista jurídico, do regime dos contratos, seja possível
distingui-los em virtude do ingrediente “locatício” que existe na locação-compra.
A principal distinção entre a locação-compra e o contrato de locação financeira é a de que, no
contrato de locação financeira, não existe uma aquisição automática ou sequer um contrato de
promessa de compra e venda, entre o locador e o locatário. Enquanto que na locação-compra
existe essa aquisição automática ou, pelo menos, um contrato de promessa de compra e
venda.

D) Contabilização

19. Referência a contabilização da locação e da locação financeira

Separando contabilisticamente a locação da locação financeira, surgiu a Directriz Contabilística


N.° 25.
No seu art. 3.° aparecem definidos os institutos para efeitos contabilísticos:

Locação: é um acordo pelo qual o locador transfere para o locatário, por contrapartida de um
pagamento ou série de pagamentos, o direito à utilização de um determinado bem, por um
período de tempo acordado.

Locação Financeira: é uma locação em que, em substância, o locador transfere para o locatário
todos os riscos e vantagens inerentes à detenção de um dado activo, independentemente de o
título de propriedade poder ou não vir a ser transferido.
Locação Operacional: é uma locação que não seja de considerar como financeira.
O artigo seguinte apresenta critérios substanciais de distinção, alegando que a substância deve
prevalecer sobre a forma. Diz o
art. 4.° que a locação será considerada como financeira se for verificada alguma das seguintes
situações:

a) acordo de transferência da propriedade no final do prazo de locação;


b) opção de compra por preço suficientemente abaixo ao seu justo valor à data do seu
exercício, fazendo com que, à data do início da locação seja quase certo que a opção venha a
ser exercida;
c) prazo da locação a abranger a maior parte da vida útil do bem;
d) valor dos pagamentos igual ou superior ao justo valor do bem;
e) activos locados tão específicos que só o locatário os pode usar sem que sejam feitas
modificações importantes;

Seguidamente, apresenta ainda indicadores de situações que podem levar à classificação de


uma locação como financeira:

a) possibilidade de cancelar a locação e as perdas do locador derivadas de tal serem


suportadas pelo locatário;
b) ganhos ou perdas derivados da flutuação no justo valor do bem residual a cargo do
locatário;
c) possibilidade de o locatário continuar o contrato por um 2.° período com uma renda
substancialmente inferior à de mercado.

O Direito da contabilidade (em sentido lato) não apresenta concepções da locação e da


locação financeira opostas às do Direito Privado. Mas também não são totalmente
coincidentes.
Trata-se, porém, de um problema que não nos interessa nesta sede.
O Direito da contabilidade tem de se subordinar ao Direito dos contratos, tendo este força
legal. E não o contrário.
Ou, pelo menos, o Direito de contabilidade não pode conformar tipos contratuais previstos e
regulados na lei. Pode dispôr “secundum legen” mas não contra a lei.
Notas:
(*) Professor Catedrático da Faculdade de Direito de Coimbra.

(1) É ela que tem, essencialmente, orientado a jurisprudência. Vd. Acs. da Relação de Coimbra
de 30/09/97 — “O chamado «contrato de aluguer de longa duração», constituindo um
contrato de adesão, por as suas cláusulas se encontrarem pré-estruturadas pelo outorgante
locador, com a respectiva redução a escrito em impressos disponíveis para potenciais
aderentes, não se confunde com o contrato de locação financeira, vulgo leasing, já que
naquele não se encontra consagrado o direito potestativo de aquisição futura, típica do
leasing”, e da Relação de Lisboa de 24/06/99 — “IV – Na locação financeira o locador obriga-se
a adquirir ou a mandar construir o bem a locar; no aluguer de longa duração o locador só se
obriga a proporcionar o gozo da coisa.—V – Na locação financeira o locatário, no fim do
contrato, tem o direito potestativo de adquirir o bem locado pelo preço previamente
estipulado; no aluguer tal não se verifica.”

(2) Sobre esta matéria, e para maiores desenvolvimentos, vd. Diogo Leite de Campos, A
Locação Financeira (Estudo preparatório de uma reforma legislativa), Lisboa, 1994. Este estudo
contém os trabalhos preparatórios que levaram à publicação do Decreto--Lei n.° 149/95.

Bibliografia:
Lucas Abreu Barroso, Leasing agrário e arrendamento rural com opção de compra, Belo
Horizonte, Del Rey, 2001.
Diogo Leite de Campos, A locação financeira: estudo preparatório de uma reforma legislativa,
Lisboa, Lex, 1994 (estudo preparatório do DL
n.° 149/95).
Id., A alienação em garantia, Estudos em Homenagem ao Banco de Portugal, Banco de
Portugal, Lisboa, s.d..
Fran Martins, Contratos e obrigações comerciais, Rio de Janeiro, Forense, 2001.
Arnaldo Rizzardo, Leasing: arrendamento mercantil no Direito brasileiro,
S. Paulo, Revista dos Tribunais,2000.
Arnoldo Wald, Obrigações e contratos, S. Paulo, Revista dos Tribunais, 2000.
Friedrich Graf von Westphalen, Der Leasingvertrag, 5.ª ed., Köln, Verlag Otto Schimdt, 1998.

A LEI DA CONTRATAÇÃO PÚBLICA (LCP) É UM DOCUMENTO


SISTEMÁTICO, EMANADO PELO PODER LEGISLATIVO
ANGOLANO (ASSEMBLEIA NACIONAL) CUJO OBJECTO
MATERIAL DEFINE, DISCIPLINA E REGULA AS FORMAS DE
ACTUAÇÃO E PROCEDIMENTO DOS AGENTES DO ESTADO
ANGOLANO COM PODER DE CONTRATAR, E QUANDO
CONTRATAM BENS OU SERVIÇOS, EM NOME E INTERESSE
DESTE (ESTADO), NÃO DEVEM DEFRAUDAR A PROSSECUÇÃO
DO INTERESSE PÚBLICO. A LEI DA CONTRATAÇÃO PÚBLICA
(LCP) COMPLEMENTA-SE E REFORÇA AS PREMISSAS DA LEI
DE PROBIDADE PÚBLICA (LPP), PORQUE, AMBAS OBRIGAM
QUE TODOS OS ÓRGÃOS DE SOBERANIA E DE
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E SEUS AGENTES ADOPTEM UMA
CONDUTA DE RETIDÃO, LISURA, TRANSPARÊNCIA,
RESPONSABILIDADE, LEALDADE, RESPEITO NA GESTÃO E
ADMINISTRAÇÃO DE TODAS ACTIVIDADES PÚBLICAS.
 
O Poder Legislativo Angolano (Assembleia Nacional) aprovou a Lei nº
20/10, de 7 de Setembro, Lei da Contratação Pública (LCP), que
entrou em vigor no dia 6 de Dezembro de 2010, por força do artigo
364º da LCP, com propósito e objectivo de regular materialmente o
regime jurídico dos contratos públicos que, a par Lei de Probidade
Pública, visa influenciar positivamente a gestão da coisa pública,
especialmente no que concerne a aquisições de bens e serviços e do
relacionamento do Estado com os seus parceiros do mercado de
fornecimento de bens e serviços.
 
Como prometido e frisado na anterior edição, tendo em conta o
interesse público da lei, por razões de economia de espaço, não foi
possível comentar a LCP em tal edição, assim, cumprindo a
promessa, fazemo-lo nesta edição e na próxima, abordando os
aspectos técnicos jurídicos e o impacto da LCP nas políticas e
finanças públicas.
 
O Título I define os princípios gerais da Lei 20/10, de 7 de Setembro,
que objectivamente é o regime jurídico aplicável à contratação pública
de empreitadas de obras públicas, locação e aquisição de bens
móveis e imóveis, aquisição de serviços e, é ainda aplicável, à
formação das concessões de obras públicas e de serviços públicos.
 
O regime jurídico o artigo 3º da LCP define:
- Empreitada de obras públicas, o contrato que tenha por objecto
quaisquer obras de construção ou de concepção e de construção, de
reconstrução, de ampliação, de alteração, de reparação, de
conservação, de limpeza, de restauração, de adaptação, de melhoria
e de demolição de bens imóveis, a realizar por conta de uma entidade
pública contratante, mediante o pagamento de um preço (neste
contrato o dono da obra é a entidade adjudicante do Estado, que
assume a responsabilidade financeira e técnica da empreitada e o
executor da empreitada ou obra fica obrigado a cumprir as
especificações técnicas e o tempo de entrega, como descritos no
caderno de encargos, que em regra é um anexo do contrato);
 
- Locação de bens móveis e imóveis, o contrato pelo qual um
locador se obriga a proporcionar a uma entidade pública contratante o
gozo temporário de bens móveis ou imóveis, mediante retribuição,
podendo tomar a forma de aluguer, de arrendamento, de locação
financeira ou de locação que não envolva a opção de compra dos
bens locados (neste contrato a entidade contratante, pelo gozo
temporário de um bem móvel ou imóvel, paga uma prestação
financeira por lapso temporais, em razão de um arrendamento
(imóveis) locação (móveis) locação financeira, mas sem estar
obrigado a adquirir os bens locados (leasing[1])).
 
- Aquisição de bens móveis e imóveis, o contrato pelo qual uma
entidade pública contratante compra bens móveis ou imóveis a um
fornecedor (neste contrato, a entidade compra os bens móveis ou
imóveis pagando um determinado preço);
 
- Aquisição de serviços, o contrato pelo qual uma entidade pública
contratante adquire a prestação de um ou vários tipos de serviços
mediante pagamento de um preço (neste contrato a entidade
adjudicante do Estado, define o serviço ou serviços que pretende
contratar e o prestador ou fornecedor de serviços fica obrigado a
cumprir as condições acordadas e descritos no caderno de
encargos, que em regra é um anexo do contrato, devendo a
entidade contratante assumir e garantir a responsabilidade
financeira e pagamentos pelos serviços contratados).
 
- Acordo-quadro, o contrato entre uma ou várias entidades
adjudicantes e um ou mais empreiteiros, fornecedores de bens ou
prestadores de serviços, com vista a fixar os termos e as condições
dos contratos a celebrar, durante um determinado período,
nomeadamente em matéria de preços e, se necessário, de
quantidades (trata-se de um contrato cimeiro ou contrato
regulador, cujas as regras são aplicáveis a futuros contratos, por
outras palavras, define que os contratos a celebrar no futuro,
serão feitos nos termos pré-definidos nas regras do acordo-
quadro).
 
- Contrato público de aprovisionamento, contrato de empreitada ou
de aquisição de bens e serviços, celebrado na base de um acordo-
quadro (é um contrato específico e de continuidade, clausulado
com base nas regras pré-definidas do acordo-quadro);
 
 - Concessão de obra pública, o contrato pelo qual o co-contratante,
concessionário, se obriga, perante uma entidade pública contratante,
concedente, à execução ou à concepção e execução, de uma obra
pública, mediante a contrapartida da exploração dessa obra, por um
determinado período de tempo (neste contrato o dono da obra é a
entidade adjudicante do Estado, que define a responsabilidade
financeira e técnica da empreitada e o executor da empreitada ou
obra fica obrigado a efectuar a obra, por sua conta e risco
assumindo toda responsabilidade financeira inerente a
empreitada mas sem exonera-se do cumprimento escrupulosos
das especificações técnicas e tempo de construção e entrega da
mesma, como descritos no caderno de encargos, que em regra é
um anexo do contrato, exemplo: O Estado pretende construir
uma auto-estrada e não tem capacidade para o fazer, mas como
se trata de um bem público, após construído é sempre o dono do
equipamento social, assim o executor não recebe nenhuma
compensação financeira junto da entidade adjudicante na fase da
sua execução, tem como contrapartida a exploração do
equipamento social durante um determinado lapso de tempo, isto
é, constrói o equipamento e o explora durante um tempo definido
e é dessa exploração que obtém o retorno do capital investido
acrescidos de mais valias (lucros)). Este tipo de contratos é uma
forma de o Estado financiar-se e obter equipamentos públicos através
de capitais privados, isto é, são as chamadas PPP (parcerias público
privadas), que em regra são reguladas por um regime jurídico próprio.
 
 - Concessão de serviço público, o contrato pelo qual o co-
contratante, concessionário, se obriga, perante uma entidade pública
contratante, concedente a gerir, em nome próprio e sob sua
responsabilidade em respeito pelo interesse público, por um
determinado período de tempo, uma actividade de serviço público,
sendo remunerado ou directamente pela entidade pública contratante
concedente ou através da totalidade ou parte das receitas geradas
pela actividade concedida (neste contrato os serviços são da
responsabilidade do Estado e o executor gere o serviço público,
por sua conta e risco assumindo toda responsabilidade
financeira inerente ao serviço sem exonera-se do cumprimento
escrupuloso do objectivo e interesse público, por um lapso de
tempo definido, como descritos no caderno de encargos, que em
regra é um anexo do contrato, sendo remunerado regularmente
pela entidade concedente ou através da totalidade ou parte das
receitas geradas pela actividade concedida, exemplo: O Estado
pretende gerir com maior eficiência os serviços de água e
saneamento, que é sua responsabilidade junto dos interessados,
o concessionário fica responsável junto do Estado e recebe uma
compensação financeira junto deste durante o período da
exploração, que pode ser a totalidade ou parte dos valores
monetários provenientes da actividade concedida). Este tipo de
contratos é uma forma do Estado promover eficiência e eficácia ao
funcionamento e prestação de muitos serviços públicos através da
capacidade de gestão privada e enquadra-se no âmbito das PPP
(parcerias público privadas), que em regra, como já frisado, são
reguladas por um regime jurídico próprio.
 
A LCP é aplicável ao Titular do Poder Executivo e demais Órgãos da
Administração Central e Local do Estado (Chefe do Governo,
Ministros, Directores Centrais ou Nacionais, Governos Provinciais[2] e
Direcções Provinciais e Municipais); Assembleia Nacional; Tribunais e
Procuradoria-Geral da República; Autarquias Locais (Administração
Municipal e Comunal); Institutos Públicos; Associações Públicas e
Empresas Públicas (quando financiadas integralmente pelo OGE[3])).
 
(*) Mestre em Direito das Empresas
Licenciado em Direito
Pós Graduado em Empreendedorismo Social
Membro da Ordem dos Advogados Portugueses
Investigador de Finanças e Políticas Públicas
[1] No contrato de leasing o locatário pode adquirir os bens pagando
um valor residual dobem.
[2] Os Governos Provinciais são órgãos locais de representação do
Governo Central, não entram na categoria de autarquias locais
(errado, na nossa opinião, deveria ser um órgão intermédio com poder
próprio (poder provincial/regional) e derivado estritamente da lei, sem
prejuízo da tutela da legalidade do Governo Central, porque o
dinamismo da governação moderna assim o exige).
[3] Orçamento Geral do Estado

Locação financeira:
características, tipos e
exemplo
O leasing é um método usado por uma empresa para adquirir ativos
com pagamentos estruturados ao longo do tempo. Pode ser expresso
como um contrato no qual o arrendador recebe pagamentos de
arrendamento para cobrir os custos do imóvel.
Um arrendamento financeiro é semelhante a uma transação total de
compra, que é financiada por um empréstimo a prazo, no sentido de
que os pagamentos são feitos mensalmente. O arrendatário não
apenas detém o controle operacional sobre o ativo, mas também
possui uma parte substancial dos riscos e benefícios econômicos da
mudança na avaliação do ativo.
Fonte: pixabay.com
No entanto, diferentemente de uma transação total de compra, o
arrendatário apresenta o saldo a ser pago como dívida, mostra os
pagamentos como despesas e não possui o equipamento.

Durante o período do arrendamento, a companhia financeira é


considerada o proprietário legal do ativo.

Importância para as empresas


Leasing é um conceito importante nos negócios. Novas empresas ou
pequenas empresas geralmente procuram opções de leasing
financeiro.

Isso ocorre porque seus recursos são limitados e os proprietários


dessas empresas não querem investir tanto dinheiro na aquisição de
ativos para apoiar os negócios desde o início. É por isso que eles
alugam os ativos quando necessário.

Um pagamento mensal, mesmo com os juros associados, geralmente


é a melhor opção, em vez de usar dinheiro para comprar itens de
capital.
Como o financiamento bancário permanece indescritível para muitas
pequenas empresas, o leasing financeiro é uma alternativa viável, mas
pouco compreendida.

Existem muitas empresas que estão falhando devido a problemas de


fluxo de caixa. Algumas dessas empresas podem até ser lucrativas,
mas seu dinheiro está atrelado ao estoque ou contas a receber. O
arrendamento financeiro é uma linha de crédito alternativa que permite
maior liquidez.

Ele permite que o arrendatário compre um item caro ou capitalize o


negócio por um período, aliviando assim a necessidade de encontrar
uma quantia significativa de dinheiro antecipadamente.

Características da locação financeira


O arrendamento financeiro é um contrato comercial cujas principais
características são:

– O locatário, que será o cliente ou o mutuário, selecionará um ativo,


como equipamento, veículo, software, etc.

– O locador, que é a empresa financeira, comprará esse ativo.

– O locatário terá direito a usar esse ativo durante o contrato de


arrendamento.

– O locatário pagará uma série de aluguéis ou taxas pelo uso desse


ativo.

– O aluguel cobrado pelo arrendador durante o período primário do


arrendamento será suficiente para recuperar uma grande parte ou
todo o custo do ativo, mais os juros sobre o aluguel pago pelo
arrendatário.

– O aluguel por um período secundário é muito menor. Isso é


conhecido como aluguel de pimenta.

– O locatário tem a opção de adquirir a propriedade do ativo. Por


exemplo, ao pagar o último aluguel pelo preço de compra da opção de
negociação.

– O arrendador não assume os riscos nem os benefícios derivados do


uso dos ativos arrendados.
– Este tipo de arrendamento não é cancelável. O investimento do
arrendador é garantido.

Impacto contábil
Uma locação financeira possui características financeiras semelhantes
às dos contratos de compra, uma vez que o resultado usual é que o
arrendatário se torna o proprietário do ativo no final da locação,

Relacionado:  Programa de produção: como é feito e exemplo

No entanto, possui diferentes tratamentos contábeis e implicações


fiscais. Pode haver benefícios fiscais para o arrendatário, locando um
ativo em vez de comprá-lo. Isso pode ser uma grande motivação para
obter um arrendamento financeiro.

Quando capitalizado, um arrendamento financeiro leva a um aumento


de ativos, bem como de passivos presentes no balanço patrimonial. O
capital de giro diminui como conseqüência, mas uma alavancagem
adicional é criada pelo aumento da relação dívida / capital.

Em uma demonstração do fluxo de caixa, parte dos pagamentos da


locação é relatada no fluxo de caixa operacional e parte no fluxo de
caixa financeiro, porque as despesas da locação financeira são
alocadas entre as despesas de capital e juros, semelhante a um
empréstimo ou título.

Tipos
Locação de capital ou financeira
É um contrato de longo prazo que não pode ser cancelado. A
obrigação do arrendatário é pagar o aluguel do arrendamento até o
vencimento do período acordado. O período do contrato de
arrendamento geralmente corresponde à vida operacional do ativo na
empresa.

É um arrendamento de longo prazo, no qual o arrendatário deve


registrar o item arrendado como um ativo em seu balanço e registrar o
valor presente dos pagamentos do arrendamento como dívida.

Além disso, o proprietário deve registrar o arrendamento como uma


venda em seu próprio saldo. Um arrendamento de capital pode durar
vários anos e não é cancelável. É tratado como uma venda para fins
fiscais.
Arrendamento operacional
O período de arrendamento operacional é curto e pode ser cancelado
como opção de arrendatário, com aviso prévio.

Portanto, o arrendamento operacional também é chamado de


“contrato de arrendamento aberto”. O prazo do arrendamento é mais
curto que a vida econômica do ativo. Portanto, o arrendador não
recupera seu investimento durante o período do arrendamento
primário.

Alguns exemplos de leasing operacional são o leasing de máquinas


copiadoras, hardware de computador, automóveis etc.

Uma empresa que conhece a possível obsolescência de


equipamentos de alta tecnologia pode não querer comprar nenhum
equipamento. Em vez disso, você prefere optar por um arrendamento
operacional para evitar o possível risco de obsolescência.

Venda e arrendamento
É um subconjunto do arrendamento financeiro. Nesse tipo de
arrendamento, uma empresa vende um ativo para outra parte, que,
por sua vez, o aluga à empresa.

O ativo é geralmente vendido pelo valor de mercado. Portanto, a


empresa recebe o preço de venda em dinheiro, por um lado, e por
outro, recebe o uso econômico do ativo vendido.

A empresa é obrigada a efetuar pagamentos periódicos de aluguel ao


arrendador. O contrato de venda e arrendamento é benéfico para o
arrendador e o arrendatário.

Enquanto o primeiro obtém benefícios fiscais devido à depreciação, o


segundo tem um fluxo de caixa imediato que melhora sua posição de
liquidez.

De fato, esse acordo é popular entre empresas que enfrentam uma


crise de liquidez de curto prazo. No entanto, sob este contrato, os
ativos não são trocados fisicamente, mas tudo acontece apenas nos
registros. Não passa de uma transação em papel.

Arrendamento alavancado
É uma forma especial de leasing que se tornou muito popular nos
últimos anos. É popular no financiamento de ativos de alto valor, como
aviões, plataformas de petróleo e equipamentos ferroviários.

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Em contraste com os três tipos de arrendamento mencionados acima,


neste caso, há três partes envolvidas: o arrendatário, o arrendador e o
credor.

O arrendamento mercantil alavancado pode ser definido como um


contrato de arrendamento mercantil em que o arrendador fornece uma
parte do patrimônio líquido (por exemplo, 25%) do custo do ativo
arrendado e o credor externo fornece o restante do financiamento.

O arrendador, proprietário do ativo, tem direito à provisão para


depreciação associada ao ativo.

Contrato de locação financeira


É um acordo contratual no qual o arrendador, que é o proprietário de
um ativo, permite que o arrendatário use o ativo por um período
específico, em troca de pagamentos periódicos.

O objeto do arrendamento pode ser veículos, máquinas ou qualquer


outro ativo. Quando o arrendador e o inquilino concordam com os
termos do arrendamento, o arrendatário obtém o direito de usar o
equipamento. Em troca, você fará pagamentos periódicos pela
duração do arrendamento.

No entanto, o arrendador mantém a propriedade do ativo e tem o


direito de cancelar a locação do equipamento se o locatário violar os
termos do contrato ou se envolver em uma atividade ilegal com o uso
do equipamento.

Benefícios
– Estabeleça o valor e a periodicidade dos pagamentos.

– Custo mínimo adiantado.

– O aluguel geralmente é dedutível dos impostos corporativos.


– Potencial para continuar usando o ativo no final do período do
arrendamento.

– Linha de financiamento adicional que pode não afetar os principais


acordos bancários.

Responsabilidade pela Manutenção de Ativos


Enquanto o ativo estiver na posse de uma locação financeira, o
arrendatário será responsável por mantê-lo e por qualquer serviço que
possa ser necessário. Pode ser possível fazer um contrato de
manutenção separado.

É importante garantir que você tenha uma apólice de seguro para o


ativo em questão, cobrindo todos os possíveis danos que possam
surgir durante o arrendamento.

Fim do contrato
No final do contrato de arrendamento financeiro, pode ser dada a
oportunidade de estender o arrendamento ou devolver o ativo à
empresa financeira. Isso dependerá dos termos do contrato.

Na maioria dos casos, será constatado que, no final do período


principal do contrato, você terá a opção de estender o contrato para
um período secundário.

Isso pode continuar indefinidamente, terminando quando o arrendador


e o inquilino concordam ou quando o ativo é vendido.

O arrendamento secundário pode ser muito menor que o


arrendamento primário ou pode continuar mês a mês com o mesmo
arrendamento.

Se uma extensão não for necessária, o ativo será devolvido à


empresa financeira, que normalmente o venderá.

Diferenças com arrendamento operacional


Significado
O arrendamento financeiro é um contrato comercial no qual o
arrendador permite que o arrendatário use um ativo em troca de
pagamentos periódicos por um período geralmente longo. Portanto, é
um conceito de longo prazo.
O arrendamento operacional é um contrato comercial em que o
arrendador permite que o arrendatário use um ativo em troca de
pagamentos periódicos por um curto período de tempo. Portanto, é um
conceito de curto prazo.

Transferibilidade
No arrendamento financeiro, todos os riscos e benefícios da
propriedade do ativo são transferidos para o arrendatário.

Isso significa que o arrendatário está em uma posição bastante


semelhante a ter comprado o ativo.

O arrendador mantém a propriedade do ativo, mas o arrendatário


obtém uso exclusivo do ativo.

Relacionado:  Capacidade de produção: tipos, como é calculado,


exemplos

Em contraste com o arrendamento financeiro, o arrendamento


operacional não transfere os riscos e benefícios da propriedade para o
arrendatário.

Natureza do contrato
O contrato de uma locação financeira é chamado de contrato /
contrato de empréstimo. O contrato para uma locação operacional é
chamado de contrato / contrato de locação.

Depois que o contrato é assinado por ambas as partes, geralmente o


arrendamento financeiro não pode ser cancelado. Com o
arrendamento operacional, mesmo após a assinatura do contrato
entre as duas partes, ele pode ser cancelado durante o período
primário.

Manutenção
No caso da locação financeira, o arrendatário é responsável por cuidar
e manter o ativo. Com o arrendamento operacional, o arrendador é
quem cuida e mantém o ativo.

Risco de obsolescência
Para o arrendamento financeiro, esse risco recai sobre o arrendatário.
Para o arrendamento operacional, esse risco recai sobre o arrendador.
Gerenciamento contábil
O arrendamento financeiro é um arrendamento que deve ser
registrado no sistema contábil.

Por outro lado, arrendamento operacional é um conceito que não


precisa ser registrado em nenhum sistema contábil. É por isso que o
arrendamento operacional também é chamado de “fora do balanço”.

Vantagem fiscal
O arrendamento financeiro oferece ao arrendatário uma dedução de
impostos para as despesas do ativo, como depreciação e encargos
financeiros.

O arrendamento operacional oferece uma dedução de imposto apenas


para pagamentos de aluguel.

Opção de compra
No arrendamento financeiro, o arrendatário tem a opção de comprar o
ativo no final do período contratual. No arrendamento operacional, o
inquilino não recebe tal oferta.

Exemplo de locação financeira


A empresa C dedica-se à fabricação de bicicletas. Ele alugou alguns
equipamentos de produção especializados para a empresa L.

A vida útil do equipamento é de 6 anos e o prazo da locação é de


cinco anos. O valor justo do equipamento é de US $ 20 milhões e o
valor presente dos pagamentos mínimos da locação feitos pela
Empresa C é de US $ 15 milhões.

O equipamento foi projetado especificamente para as operações da


Empresa C e o contrato de arrendamento contém uma provisão que
permite à Empresa C estender o arrendamento a taxas muito mais
baixas ou adquirir o equipamento no final dos cinco anos por US $ 1
milhão.

O valor justo do equipamento no final do prazo do arrendamento deve


ser de US $ 4 milhões. Definitivamente, este é um arrendamento
financeiro, conforme indicado a seguir:

– O prazo da locação é superior a 70% da vida útil do equipamento;


– O contrato de arrendamento contém uma opção de compra de
oferta.

– O equipamento é personalizado e não pode ser usado por terceiros


sem modificações significativas.

Referências
1. Wikipedia, a enciclopédia livre (2018). Locação financeira.
Retirado de: en.wikipedia.org.
2. Maxxia (2018). Como saber a diferença entre um arrendamento
financeiro e um operacional. Retirado de: maxxia.co.uk.
3. Wall Street Mojo (2018). Locação Financeira vs Locação
Operacional. Retirado de: wallstreetmojo.com.
4. International Financial Reporting Tool (2018). Locação
Financeira Retirado de: readyratios.com.
5. DK Sinha (2018). Arrendamento financeiro: 4 tipos de
financiamento de leasing – explicados! Sua biblioteca de artigos
Retirado de: yourarticlelibrary.com.
6. Contabilidade Explicada (2018). Arrendamento financeiro
Retirado de: accountingexplained.com.
7. Maxxia (2018). Arrendamento financeiro explicado. Retirado de:
maxxia.co.uk.
8. IFC (2018). O que é um Contrato de Locação de Equipamento?
Retirado de: corporatefinanceinstitute.com.

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