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INTRODUÇÃO

Antes de iniciarmos este trabalho acerca dos contratos de comodato e mútuo


é importante destacarmos a definição de empréstimo. Segundo Maria Helena Diniz,
“Empréstimo é contrato pelo qual uma pessoa entrega a outra, uma coisa fungível ou
infungível, para que dela se sirva, com a obrigação de restituir”. O empréstimo
caracteriza-se por ser um negócio jurídico unilateral, informal, comutativo, real e
personalíssimo (intuitu personae).

GONÇALVES (2012) nos esclarece: “O empréstimo, em qualquer de suas


modalidades, pertence à categoria dos contratos que têm por objeto a entrega de uma
coisa. Quem a recebe fica obrigado a restituí-la, tal como acontece na locação.”

As modalidades de empréstimos dividem-se em: COMODATO, que se


destina somente ao uso da coisa, para quem recebe, e o MÚTUO, que se destina ao
consumo de coisa. Em ambos os casos, perfaz-se com a entrega do objeto (tradição).

O Código Civil designa, com o vocábulo empréstimo, dois contratos


de reconhecida importância: o comodato e o mútuo. Têm eles em
comum a entrega da coisa. Diferenciam-se, todavia, profundamente. O
primeiro é empréstimo para o uso apenas, e o segundo, para consumo.
(GONÇALVES, 2012, p.335).

COMODATO

Na definição fornecida pelo Aurélio da Língua Portuguesa, encontramos:


“Comodato é o empréstimo gratuito de coisa não fungível, a qual deve ser restituída no
tempo convencionado”. Portanto é um contrato baseado na boa-fé, pelo qual uma parte
entrega à outra alguma coisa infungível, para que esta use de maneira gratuita e,
posteriormente, restitua-a.

O Código Civil Brasileiro, em seus artigos 579 a 585 reza que comodato é
o contrato unilateral, gratuito, pelo qual alguém (comodante) entrega a outrem
(comodatário) coisa infungível, para ser usada temporariamente e depois restituída.
Uma vez que a coisa é infungível, gera para o comodatário a obrigação de restituir um
corpo certo e perfaz-se com a tradição do objeto.

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Pela análise dos textos acima, é possível extrair três elementos desse
contrato: a gratuidade, a infungibilidade do objeto e a necessidade de sua tradição para o
aperfeiçoamento do negócio.

NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO DE COMODATO

a) Gratuito – caso fosse oneroso, poderia ser confundido com a locação;

b) Real – é necessário que o bem seja transferido ao comodatário para que o


contrato exista. Não basta a mera troca de consentimentos;

c) Unilateral – após a entrega do bem, incumbem obrigações apenas ao


comodatário;

d) Não solene – a lei não prescreve qualquer forma. Vale notar que no
comodato, embora haja transferência do bem, o domínio não é transferido
ao comodatário;

PARTES DO CONTRATO DE COMODATO

Diferentes terminologias são usadas para distinguir as partes de um contrato


de comodato. Vejamos alguns exemplos de definições adotadas:

1- França: Préteur (quem empresta) e Emprunteur (quem recebe);

2- Espanha: Prestamista e Prestatários;

3- Os doutrinadores pátrios usam os termos Comodante e Comodatário:


a) Comodante – É aquele que cede a posse da coisa, para uso de outrem,
contudo, permanecendo com a propriedade dessa mesma coisa; e

b) Comodatário – É aquele que recebe a coisa cedida, tomando posse sobre


o bem para seu proveito pelo período acordado.

O Comodatário, quando na posse do objeto do contrato, torna-se


responsável pelo bem, devendo zelar como se dele fosse, respondendo pelo seu
descumprimento, na forma da lei. O comodato, por se tratar de um negócio gratuito,
presume-se que para o Comodatário não restaria contraprestação alguma em troca do

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bem, contudo, as despesas ordinárias como os tributos pagos em razão do objeto, bem
como despesas provindas da natureza do objeto (taxa de condomínio, por exemplo), são
de obrigação do comodatário, conforme a doutrina majoritária. Todavia, ao
Comodatário é garantida a restituição das despesas que não sejam da natureza do objeto
do contrato, como o exemplo a seguir:

As multas por construção irregular e outros gastos que sejam de


responsabilidade exclusiva do Comodante. Caso haja dispêndio, por parte do
Comodatário, para quitar estas despesas, é garantido a restituição dos gastos, podendo
reter o objeto do contrato até que esta seja satisfeita. Ao Comodante é garantido,
entretanto, o direito de ajuizar ação de reintegração de posse em face do comodatário,
caso em que o juiz averiguará as peculiaridades de cada caso, observando os princípios
da função social do contrato e da boa-fé objetiva.

Nos contratos de comodato não se aplicam a Teoria da Imprevisão (Cláusula


rebus sic standibus), observado que o Comodatário não pode alegar caso fortuito ou
força maior para se eximir da responsabilidade contraída quando celebrado o contrato
(importante observar que o comodato é informal e, portanto, não necessita de forma
escrita, podendo ser celebrado verbalmente e conclui-se com a tradição da coisa). Esta
disposição encontra-se fundamentada no princípio da boa-fé objetiva.
Tratando-se de bens alheios, os administradores destes, necessitarão de autorização
especial para dar em comodato o objeto que está sob sua responsabilidade. Nos casos
em que houver mais de um comodatário, estes responderão solidariamente, no polo
passivo da relação, pelas obrigações que lhe foram imputadas.

OBJETO DO CONTRATO DE COMODATO

Observando a redação do artigo 579 do Código Civil de 2002, conclui-se


que o objeto do comodato é infungível e, portanto, não pode ser substituído por outro de
menor, igual ou maior valor. Essa é a regra geral, contudo, a doutrina aponta a
possibilidade de o contrato ter como objeto coisa fungível, sendo, nestes casos,
denominado Comodatum ad pompan vel ostentationem. Exemplo: Quando ocorre o
comodato de peças fungíveis, tais como vinhos, com o mero intuito de enfeitar.

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Na seara trabalhista, o assunto é bastante discutido, visto que, atualmente,
alguns empregadores estão usando do contrato de comodato para mascarar a relação de
emprego. Destarte, são de suma importância os ensinamentos que podem ser extraídos
do julgado, abaixo transcrito:

“TRT 2ª Região. Relação de emprego. Contrato de trabalho. Comodato. Obrigações de prestar serviços
de zeladoria e limpeza. Vínculo de emprego caracterizado. CLT, art. 3º. «Sendo o empréstimo de uso um
contrato unilateral, gratuito e real, não se pode considerá-lo válido se a própria testemunha trazida pela
demandada contraditoriamente afirma que a reclamante não recebia ordens, mas deveria cumprir com as
obrigações pactuadas no contrato de comodato. A subordinação empregatícia surge com clareza, já que a
obrigação de contraprestar serviços de zeladoria e limpeza é incompatível com a característica essencial
da gratuidade inerente ao comodato.”

Observa-se, no caso, além daquilo que já foi explicitado anteriormente


acerca da intenção do empregador, as características básicas da relação de trabalho, a
saber: Subordinação, Não eventualidade, Onerosidade e Pessoalidade. Portanto, ferindo,
dentre outros quesitos, a gratuidade de um comodato.

PRAZO DO CONTRATO DE COMODATO

Em conformidade com a redação do art. 581, do CC/2002, “Se o comodato


não tiver prazo convencional, presumir-se-lhe-á, o necessário para o uso concedido, não
podendo o comodante, salvo necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz,
suspender o uso e gozo da coisa emprestada, antes de findo o prazo convencional, ou o
que se determine pelo uso outorgado.” Posto isso, observa-se que se as partes não
convencionarem prazo, este será considerado como o tempo necessário para o uso da
coisa emprestada, somente sendo possível suspender a fruição do bem dado em
empréstimo caso haja necessidade imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz.

DIREITO, OBRIGAÇÕES E DESPESAS DAS PARTES

O comodatário tem que conservar a coisa como se sua fosse, devendo


utilizá-la conforme o convencionado ou de acordo com a natureza do objeto, sob pena
de responder por perdas e danos. Institui-se a necessidade de velar pela coisa como se

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fosse de sua propriedade, até pela necessidade de restituição do objeto em comodato, da
mesma forma como fora emprestada (princípio da infungibilidade). O comodatário em
mora, além de responsabilizar-se pela coisa, deverá pagar o aluguel ajustado pelo
comodante, até a restituição da coisa.

Exemplo quanto à mora: Eustáquio empresta um jumento de raça a Aroldo, que não o
restituiu no prazo contratado (ultrapassando-o em 05 dias), continuando com o animal
em sua fazenda. Certo dia, a barragem ao lado de sua fazenda estoura, alagando toda a
propriedade e matando o pobre burro. Uma vez que Aroldo estava em mora, ele
responderá pela perca do animal e ainda pelos juros, fixado por Eustáquio, em razão do
prazo atrasado até então verificado de 05 dias.

Se correndo risco o objeto do comodante juntamente com outros do


comodatário, e este antepuser a salvação dos seus objetos em detrimento daqueles de
que é proprietário o comodante, o comodatário responderá pelo dano ocorrido, ainda
que atribuível a caso fortuito ou força maior.

Exemplo quanto a caso fortuito ou força maior: Belizário empresta livros a Catatau, que
os guarda em sua prateleira juntamente com outros de sua propriedade. Numa tarde de
verão, por circunstâncias de um curto circuito, a casa de Catatau pega fogo. Catatau,
achando-se esperto, mas desconhecedor da legislação prioriza a retirada de seus livros,
em detrimento dos livros de Belizário. Desta forma, Catatau responderá pelas perdas
sofridas por Belizário, ainda que o fato tenha ocorrido sem sua culpa, por caso fortuito
ou força maior.

O comodatário não poderá recobrar do comodante as despesas feitas em


decorrência do uso e gozo da coisa emprestada. Quando aludimos, referimo-nos a gastos
ordinários, que são comuns para a utilização desta.

Exemplo quanto a despesas feitas em decorrência do uso: Arquimedes empresta seu


carro a Soraide, que usou-o por 04 meses. Durante esse período foram feitas as
seguintes despesas: gastos com combustível, troca de pneus, troca de filtros e
alinhamento de direção. Os gastos feitos por ela com combustível e com pneus,
dependendo da situação, são considerados ordinários, normais para o comum uso da
coisa. Mas os gastos com troca de filtros e alinhamento podem ser cobrados de
Arquimedes, pois se tratam de itens de manutenção.

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Se duas pessoas forem ao mesmo tempo comodatárias de uma coisa, ficarão
solidariamente responsáveis para com o comodante. Preceitua o art. 265, CC: A
solidariedade não se presume, resulta da lei, ou da vontade das partes. Aqui, a
responsabilidade solidária está expressa pela norma.

EXTINÇÃO DO CONTRATO DE COMODATO

O contrato de comodato extingue-se pela restituição da coisa, ao fim do


prazo combinado; extingue-se, ainda, com eventual perecimento do objeto, se tal
perecimento tiver culpa o comodatário, neste caso incorrerá o dever de indenizar, ainda
que considerado caso fortuito ou força maior; extingue-se, também, em situações de
mútuo consenso, isto é, se as partes em comum acordo decidirem terminar o contrato
que, livremente e naturalmente celebraram, podem livremente fazê-lo. Há outras
possibilidades de extinção dos contratos, quais sejam:

I- Morte do comodatário, se o contrato foi celebrado intuitu personae, pois


nesse caso as vantagens dele decorrentes não se transmite aos herdeiros.

Exemplo: quando morre um cadeirante a quem foi emprestada uma cadeira de rodas,
esta deverá ser devolvida brevemente. Entretanto, se o empréstimo do trator ao vizinho
foi feito para uso na colheita, a sua morte prematura não obriga os herdeiros a efetuarem
a devolução antes do termino da referida tarefa.

II- Pela resilição unilateral, nos contratos de duração indeterminada sem


destinação ou finalidade específica. Contudo, deve o comodante notificar o
comodatário, para que efetue a devolução no prazo que lhe for assinado. Se a iniciativa
for do comodatário, deverá efetuar a restituição da coisa ou consigná-la judicialmente,
se houver recusa do comodante, sem justa causa, em recebê-la (art. 335, II, CC).

III- Por sentença, a pedido do comodante, provada a necessidade imprevista


e urgente. A benesse só será deferida ao comodante se ele provar o surgimento de
urgente necessidade, que não podia ser prevista por ocasião do empréstimo. (CC, art.
581).

IV- Pela resolução, por iniciativa do comodante, em caso de


descumprimento pelo comodatário, de suas obrigações e especialmente por usá-la de
forma diversa da convencionada ou determinada por sua natureza.
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V- Pelo advento do termo convencional, ou seja, decorrido prazo do
contrato e pela utilização da coisa de acordo com a finalidade para que foi emprestada,
extingue-se o contrato, devendo a coisa ser restituída ao comodatário.

MODELO DE CONTRATO DE COMODATO

CONTRATO DE COMODATO

Pelo presente instrumento particular de contrato de comodato, de um lado ………..


(nome completo), nacionalidade ……….., estado civil ……….., profissão ………..,
CPF n.º …………., Cédula de Identidade RG n.º. ……….., residente e domiciliado à
Rua ……….., n.º. …………, na cidade de ……….., Estado de ……….., de ora em
diante chamado simplesmente de COMODANTE e de outro lado, ……….. (nome
completo), nacionalidade ……….., estado civil ……….., profissão ……….., CPF
n.º……, Cédula de Identidade RG n.º ……….., domiciliado e residente à Rua ………..,
n.º. ……….., na cidade de ……….., Estado de ……….., de ora em diante chamada
simplesmente de COMODATÁRIO, têm, entre si, como justo e contratado o que se
segue:

1.º – O COMODANTE é proprietário do imóvel de ………....., localizado na ………..,


neste município. O imóvel possui a área total de …………. hectares de terras (por
extenso) e apresenta, em sua integralidade, as seguintes confrontações: ao norte com
……………., ao sul com ………….. ao leste com ……… e a oeste com ………..,
estando devidamente cadastrado no INCRA, sob n° ……….. o que consta do certificado
de cadastro de contribuinte do ITR, conforme recibo exibido referente ao exercício de
…………….. ;

2.º – Pelo presente instrumento, o COMODANTE cede em comodato ao


COMODATÁRIO o referido imóvel, por prazo indeterminado (Se houver prazo
determinado, utilize-se da seguinte redação:)

2.º – Pelo presente instrumento, o COMODANTE cede em comodato ao


COMODATÁRIO o referido imóvel, pelo período que se inicia em ……….. de
……….. de ……….. e encerra-se em ……….. de ……….. de ……….., data em que
será restituída na posse do COMODANTE o objeto deste contrato.

3.º – O COMODATÁRIO somente poderá utilizar a área acima para exploração


agrícola e/ou pecuária, não podendo ceder a quem quer que seja e sob qualquer título,
parcial ou totalmente, a aludida área.

4.º – O COMODATÁRIO obriga-se a conservar o imóvel emprestado, promovendo as


reparações que se fizerem necessárias, e a atender todas as exigências dos poderes

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públicos afim de que no término do contrato seja devolvido nas mesmas condições que
ora recebe, sob pena de responder por perdas e danos.

5.º – O COMODATÁRIO não poderá alterar, no todo ou em parte, a área que ora lhe é
cedida.

6.º – Serão de responsabilidade do COMODATÁRIO todas as despesas decorrentes da


utilização de luz e força e de água, na área ora cedida.

7.º – O COMODATÁRIO não terá direito à retenção por quaisquer benfeitorias que vier
a realizar no imóvel emprestado.

8.º – O COMODATÁRIO constituído em mora, além de por ela responder, pagará o


aluguel do imóvel durante o tempo de atraso em restituí-lo.

9.º – Verificando-se a venda do imóvel emprestado, durante a vigência deste contrato,


se obriga o COMODATÁRIO a restituí-lo imediatamente ao COMODANTE,
recebendo deste, a título de indenização, a quantia de R$ ……….., que lhe será paga no
ato da desocupação.

10.º – Fica eleito o Foro desta cidade, com exclusão de qualquer outro, por mais
privilegiado que seja, para dirimir quaisquer dúvidas que possam surgir na execução do
presente contrato.

E por estarem as partes em pleno acordo em tudo que se encontra disposto neste
instrumento particular, assinam-no na presença das duas testemunhas abaixo,
em…………..vias de igual teor e forma.

………………………..,…….de……………….de …….........

Comodante

………………………………………………………………….

Comodatário

...........................................................................................

Testemunhas:

1ª – ………………......................................

2ª – ………………......................................

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MÚTUO

É aquele em que trata de bens fungíveis, móveis, que podem ser substituídos
por outros de mesma espécie, qualidade e quantidade. Ocorre no mútuo à transferência
do domínio (propriedade) da coisa emprestada, o que não acontece no comodato. No
mútuo é permitido ao mutuário alienar a coisa emprestada, sendo no comodato proibido
ao comodatário transferir o bem para terceiros. O Contrato de Mútuo tem algumas
características, a saber:

- É real, pois se conclui com a efetiva entrega da coisa, não bastando o


acordo de vontades.

- Sendo o mútuo um empréstimo em dinheiro para fins econômicos, o


contrato será oneroso. É o lecionar de Washington de Barros Monteiro: “mutui datio
consistit in his rebus, quase pondere, numero, mensura consistunt”.

- Características do Contrato de Mútuo. O mútuo é contrato:

- Real – Só se aperfeiçoa com a entrega da coisa, não bastando o acordo


entre as partes.

- Unilateral – Como o contrato somente se concretiza com a entrega do bem


pelo mutuante ao mutuário, é possível dizer que a partir desse momento apenas o
mutuário tem obrigações para com o mutuante, uma vez que a única obrigação do
mutuante seria a entrega da coisa, mas essa é necessária para que o contrato exista.

- Gratuito ou oneroso – O contrato de mútuo tanto pode ser gratuito, no caso


de ajuda a um amigo, como também oneroso, com a previsão de juros sobre o valor
emprestado, por exemplo. Atualmente, tem sido cada vez mais comum a pactuação de
mútuos onerosos.

- Não solene – A lei não determina uma forma obrigatória para a celebração
do mútuo. Para provar a existência do mútuo, contudo, aplica-se a regra geral de que, no
caso de negócios jurídicos de valor superior a dez salários mínimos, não é admitida
apenas a prova testemunhal, sendo conveniente, portanto, celebrar esse tipo de contrato
por escrito.

- Risco da coisa emprestada – Exatamente porque a coisa emprestada é


transferida ao mutuário, como condição para a celebração do contrato, forçoso convir

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que o risco de destruição corra, única e exclusivamente, por parte do tomador do
empréstimo, desde o momento da tradição. Exemplo:

Assim, imaginemos que Eustáquio, ao sair da agência bancaria, onde obteve


empréstimo de R$ 5.000,00, houvesse sido assaltado, enquanto atravessava a rua. Pois
bem, nada poderá reclamar do banco, já que, por força de lei, assumiu os riscos de perda
da coisa desde a sua entrega efetiva.

PARTES DO CONTRATO DE MÚTUO

São o mutuante e o mutuário. O mutuante é aquele que empresta o bem,


quem transfere a propriedade do bem fungível. Já o mutuário é aquele que recebe o
bem, quem tem a obrigação de devolver outro bem de mesma espécie, qualidade e
quantidade. É aquele que trata de bens fungíveis, móveis, que podem ser substituídos
por outros de mesma espécie, qualidade e quantidade.

OBRIGAÇÕES DAS PARTES

1. Obrigações do Mutuante:

Em princípio, não tem obrigação o Mutuante. Mas, em contrapartida, deve indenizar o


mutuário por prejuízos causados por defeito na coisa, quando pretendia o mutuante
ocultá-la.

2. Obrigações do Mutuário:

* Restituir o bem na mesma espécie, qualidade e quantidade.

* Indenizar o mutuante por perdas e danos, além da substituição da coisa devida,


quando o mutuário tenha tido culpa pela impossibilidade da restituição.

* Restituir o bem no prazo ajustado ou quando lhe for requisitado.

Art. 590: O mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do vencimento o


mutuário sofrer notória mudança em sua situação econômica.

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OBJETO DO CONTRATO DE MÚTUO

Em função da fungibilidade do objeto dado em empréstimo no mútuo, pode-


se afirmar que o mutuário recebe o domínio da coisa emprestada pelo mutuante. Assim
sendo, via de regra o mutuário, ao final do período acordado, não devolve exatamente as
mesmas coisas que recebeu em empréstimo, mas outras coisas, do mesmo gênero,
qualidade e quantidade. É essa característica do mútuo que acaba por induzir alguns a
afirmar que o mútuo é empréstimo de coisas consumíveis. De fato, em regra, a coisa
dada em empréstimo pode ser consumida (v.g. mútuo versando sobre sacas de café),
porém nem sempre, tal como se aventa na hipótese de empréstimo feito por um livreiro
a outro, de vinte exemplares de certa obra, com obrigação de restituir oportunamente
igual número. Hipótese de lavra do doutrinador Lamonaco, citado por Barro Monteiro.
Entretanto, mesmo em face dessa distinção entre o atributo de ser consumível e o de ser
fungível o bem dado em mútuo, a doutrina cognomina o mútuo de empréstimo de
consumo (para os franceses, prêt à consommation) e o comodato de empréstimo de uso
(prêt à usage). Como supramencionado, o mutuário recebe a propriedade da coisa. A
propriedade é um direito real que pressupõe, intrinsecamente, os direitos de utilizar a
coisa, conforme a vontade de quem a possui (ius utendi, ou direito de uso), o direito de
fruir e gozar da coisa, tirando delas os respectivos proveitos, frutos (ius fruendi, direito
de fruir) e o direito de dela dispor (ius abutendi). Daí a definição proveniente do Direito
Romano, que tomava a propriedade no sentido de domínio: “Dominium est jus utendi,
fruendi et abutendi re sua quatenus júris ratio patitur”. E em decorrência do direito de
poder usar a coisa como bem que, podendo inclusive dela dispor, o mutuário assume os
riscos da coisa. Daí ser a transferência da propriedade não o escopo, mas corolário
lógico do mútuo. Inteligência do art. 587 do CC/2002.

Como possíveis objetos de avença, enumeramos Venosa: cereais, produtos


químicos, gêneros alimentícios e dinheiro. Contudo, ressalva o insigne doutrinador que
“(...) bens fungíveis em certas situações poderão ser infungíveis em outras. (...) moedas
de ouro e prata poderão assumir o caráter de infungibilidade, se não estiverem em
circulação e servirem para coleção”.

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PRAZO DO MÚTUO

Consoante redação do art. 592, do Código Civil Brasileiro, não se tendo


convencionado expressamente, o prazo do mútuo será:

a) até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o


consumo como para semeadura;

b) de 30 dias pelo menos, se for de dinheiro;

c) do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra


coisa fungível.

Portanto, é recomendável que, no contrato de mútuo, sempre seja


convencionado o prazo entre as partes. Se não for fixado prazo para o mútuo, incumbe
ao mutuante que efetive a denúncia vazia ou imotivada do contrato, a fim de exigir a
restituição.

DIREITOS E GARANTIAS DO CONTRATO DE MÚTUO

Segundo o artigo 590 do código civil pátrio, “o mutuante poderá exigir


garantia da restituição, se antes do vencimento o mutuário sofrer notória mudança em
sua situação econômica". Por exemplo: - Durante a vigência do contrato, o mutuante
recebe a notícia de que o mutuário está falido. Diante disso, o Mutuante poderá exigir
que o Mutuário lhe dê garantia de restituição do objeto.

Em regra, o prazo para que seja realizada a restituição é aquele que foi
convencionado entre as partes. Entretanto, se não houver prazo estipulado, valem as
regras dispostas no art. 592, do Código Civil.

Art. 592. Não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo


será:

I - até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o


consumo, como para semeadura;

II - de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro;

III - do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra


coisa fungível. A empresa que empresta o dinheiro (mutuante) irá registrar o direito de

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recebê-lo em conta do realizável a longo prazo, independentemente de o contrato
especificar data de vencimento anterior ao término do exercício seguinte. Esta
classificação contábil é estabelecida pelo art. 179, inciso II da Lei nº 6.404/76 (Lei das
S/A). Os direitos do mutuante são de exigir garantia de restituição, reclamar a
restituição e demandar a resolução do contrato se o mutuário, no Mútuo Feneratício,
deixar de pagar os juros.

MÚTUO FENERATÍCIO

Em regra, o contrato de mútuo é gratuito, como já mencionado em nosso


trabalho. Entretanto, existe a figura do Mútuo Feneratício, ou Mútuo Frutífero, na qual o
contrato torna-se oneroso. Exemplo: mútuo de dinheiro em geral, hipótese em que o
mutuário deve pagar juros ao mutuante.

“TJRS. APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO


ORDINÁRIA DE REVISÃO CONTRATUAL. CONTRATO DE MÚTUO FENERATÍCIO.
ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. OCORRÊNCIA. EXTINÇÃO DO PROCESSO
SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. DECISÃO MANTIDA.
Aquele que não integra a relação jurídica substancial litigiosa (contrato de mútuo feneratício)
carece de legitimidade para sua revisão. Qualquer negócio entre o mutuário e terceiro,
embora hábil à transferência da posse do bem, caracteriza res inter alios acta, allis nec
prodest nec nocet (os atos dos contratantes não aproveitam nem prejudicam a terceiros),
enquanto não formalizada a habilitação do novo titular da obrigação junto à instituição
mutuante. No caso concreto, é ineficaz, em relação ao banco (réu/apelado), o negócio
realizado entre o autor/apelante e o mutuário, não estando aquele (autor), legitimado a propor
ação revisional de contrato de mútuo feneratício em nome do devedor primário, nem a impor
ao credor da obrigação, que aceite a mudança de titularidade ou o recebimento das obrigações
periódicas.”

EXTINÇÃO DO CONTRATO DE MÚTUO

O procedimento adequado para a extinção dos contratos de qualquer espécie


é o seu cumprimento. O próprio contrato de mútuo pode estipular outras formas de
extinção, como regra geral, o contrato de mútuo estabelece prazo para o seu
cumprimento e extinção. Uma vez estabelecido e não correndo exceções, somente pode
ser exigida a restituição, uma vez findo o prazo. As partes podem de comum acordo
resilir o pacto operando o distrato.

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Silenciando o contrato, aplica-se a regra do Art. 133 da parte geral, segundo
o qual, os prazos presumem-se estabelecidos em proveito do devedor. Desse modo,
pode o devedor restituir a coisa antes do termino do prazo. Para que tal direito possa ser
afastado, há necessidade de regra expressa no contrato instituindo um prazo em favor do
credor, exigindo, por exemplo, o pagamento de juros de todo o período contratual,
(Lopes; 1993 V4: 730). Não havendo previsão contratual, o Art. 592 especifica situação
de extinção do mútuo. O descumprimento de clausula contratual também pode dar azo à
extinção, como por exemplo, o não pagamento de juros ou apresentação oportuna de
garantias.

O mútuo ao contrário do contrato de comodato, não possui regra que


permite ao mutuário pedir a restituição antes do prazo na hipótese de necessidade
imprevista e urgente (Art. 581), tendo em vista a natureza fungível da coisa emprestada.
Se não foi fixado o prazo para o mútuo, incumbe ao mutuante que efetive denúncia
vazia ou motivada do contrato, a fim de que exija a restituição. Havendo prazo, e não
exigindo o mutuante a devolução ao seu final, o contrato passa a ter vigência com a
recondução ou revogação do contrato, que pode decorrer dos próprios termos do
negócio.

MODELO DE CONTRATO DE MÚTUO

Partes

Nome do Mutuante, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da cédula de


identidade RG nº e inscrito no CPF sob o nº, residente e domiciliado à Endereço
completo, nesta Cidade e comarca, neste ato denominado MUTUANTE.

De outro lado, denominado MUTUÁRIO, Nome do Mutuário, nacionalidade, estado


civil, profissão, portador da cédula de identidade RG nº e inscrito no CPF sob o nº,
residente e domiciliado nesta Cidade e comarca à Endereço completo.

Têm entre os mesmos, de maneira justa e acordada, o presente CONTRATO DE


MÚTUO, ficando desde já aceito, pelas cláusulas abaixo descritas.

Cláusula 1ª - Do Objeto do Contrato

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O presente contrato tem como OBJETO o suprimento de numerário ao MUTUÁRIO, para
efeito de gastos de constituição, inscrição nos órgãos competentes, material de expediente,
pagamento de tributos, aluguéis, condomínio e outros gastos de atividade.

Cláusula 2ª - Da Forma do Empréstimo

O referido empréstimo far-se-á segundo as necessidades de Caixa do MUTUÁRIO, mediante


cheque ou moeda corrente, cujo valor deverá ser devidamente comprovado por recibo.

Cláusula 3ª - Do Prazo

O empréstimo terá validade durante o prazo de meses de duração do empréstimo meses, ao


término do qual será obrigado o MUTUÁRIO a restituir o valor obtido com os devidos juros e
correção monetária, caso não haja renovação do presente instrumento.

Cláusula 4ª - Dos Juros

Sobre a quantia emprestada, vencerão juros no valor de nº % valor dos juros em porcentagem ao
ano, pagáveis semestralmente.

Cláusula 5ª - Das Restituições do Pagamento

Resta assegurado ao MUTUÁRIO o direito de pagar ou amortizar a dívida na medida das


possibilidades de seu Caixa. Neste caso ele fará a restituição do capital mutuado antes do
vencimento do prazo do presente instrumento, com os respectivos juros.

Cláusula 6ª - Das Disposições Finais

O presente contrato passa a vigorar entre as partes a partir de sua assinatura.

Os Contratantes elegem o foro da Comarca de especificar, com exclusão de qualquer


outro, para dirimirem quaisquer dúvidas provenientes da execução e cumprimento do
presente contrato.

Os herdeiros e sucessores dos contratantes se obrigam, desde já, ao inteiro teor deste.

E, por estarem de pleno acordo, as partes assinam o presente CONTRATO DE


MÚTUO, em duas vias de igual teor, juntamente com 2 (duas) testemunhas que a tudo
presenciaram.

Local, dia de mês de ano.

Assinatura do Mutuante

Assinatura do Mutuário

Testemunhas:

1 - Especificar

17
2 - Especificar

Obs.: Reconhecer firma de todas assinaturas.

CONCLUSÃO

Com informações apuradas no presente trabalho, pudemos observar e


compreender as principais diferenças entre os Contratos de Comodato e Mútuo, e suas
características individuais descritas na lei. Tais como sua aplicação nos contratos de
empréstimo.

Pudemos observar que, o COMODATO é empréstimo gratuito de coisas


infungíveis utilizadas para uso (no qual a restituição deve ser da coisa emprestada, sem
substituição). Transmite-se apenas a posse do bem. O comodatário é mero detentor da
coisa. Enquanto que no MÚTUO, o empréstimo é gratuito ou oneroso, de coisas
fungíveis usadas para consumo (no qual a restituição da coisa deve ser equivalente em
gênero, quantidade e qualidade). Transfere-se o domínio do bem. O mutuário passa a ser
o seu dono.

Enfim o contrato de comodato e mútuo, apesar de terem a mesma origem e


natureza, se diferenciam profundamente, cada um com suas particularidades, mas,
ambas tem uma característica em comum, estão à disposição da sociedade que, muitas
vezes, possuem necessidades de vida que se multiplicam e nem todos têm condições
que lhes permitam satisfazê-las, e acabam buscando, com frequência, a resolução de
seus problemas em um desses dois tipos de empréstimo.

BIBLIOGRAFIA

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais.


Volume 3. 9ed. São Paulo. Saraiva. 2012.

HOLANDA, Aurélio Buarque. Aurélio da Língua Portuguesa. 8ª ed. 2010.

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TARTUCE, Flávio. Direito Civil III. Teoria Geral dos Contratos e Contratos em
Espécie. 7ª ed. São Paulo. 2012.

NADER, Paulo. Curso de Direito Civil. Contratos. Volume 3. 6ª ed. Rio de Janeiro.
2012.

DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico Universitário. 1ª ed. Saraiva. São Paulo.
2010.

Empréstimo na Modalidade de Mutuo. Escrito por José Carlos Fortes. Publicado em


20/01/2005. Disponível em:
<http://www.fastjob.com.br/consultoria/artigos_visualizar_ok_todos.asp?cd_artigo=305
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Contrato de Empréstimo – Comodato e Mutuo. Direito Civil – Teoria Geral das


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