Você está na página 1de 8

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

FACULDADE DE DIREITO

BIANCA SCAVASSA PEREIRA


05A
TIA: 3201882-7

TRABALHO SOBRE DIREITOS REAIS DE GARANTIA


PARA A DISCIPLINA DIREITO DAS COISAS

SÃO PAULO
Maio/2022
1. INTRODUÇÃO
Os direitos reais de garantia proporcionam ao credor o recebimento do seu crédito,
preferencialmente, com o valor de um bem, que fica sujeito ao cumprimento da obrigação. O
credor de uma obrigação em dinheiro poderá, caso não haja o pagamento espontâneo do débito
pelo devedor, promover uma ação de cobrança ou execução, recaindo a penhora em bens
pertencentes ao devedor, que serão vendidos judicialmente, e do valor apurado será retirada a
quantia que bastar para o pagamento da dívida.
São direitos reais de garantia: o penhor, a hipoteca e a anticrese.
Esses direito possuem as seguintes características: são acessórios, porque dependem da
existência de uma obrigação principal; conferem ao credor o direito de preferência; São
munidos de sequela – o credor pode perseguir o bem independentemente de quem o possua;
são indivisíveis; Não admitem o pacto comissório – o credor não pode ficar com o bem dado
em garantia (deve leiloá-lo e devolver a diferença do valor ao devedor; Requerem
especialização e publicidade – o contrato deve constar o valor do empréstimo, data de
pagamento, taxa de juros e o bem dado em garantia, e ele deve ser registrado no Cartório de
Registro de Imóveis ou de Títulos e Documentos (conforme exigir a lei);
Além disso vale destacar que bem condominial somente pode ser dado em garantia real,
na sua totalidade se todos os condôminos concordarem, caso esse bem for divisível, cada
comunheiro pode gravar sua parte indivisa e se for indivisível, proíbe-se instituição de ônus real
sobre a parte indivisa, isto porque os coproprietários possuem uma quota ideal e não parte real
da coisa, a Lei n. 4.591/64, sobre condomínio em edifícios de apartamentos, em seu 4º artigo,
autoriza a alienação, a transferência de direitos pertinentes à sua aquisição, como a constituição
de direitos reais, sem a necessidade do consenso dos demais consortes, já que na propriedade
horizontal, cada unidade é considerada como se fosse um prédio autônomo Ademais, os bens
inalienáveis por lei ou por vontade não podem ser dados em garantia.
Outras especificidades são: as pessoas casadas só podem dar bem em garantia se houver
autorização do outro cônjuge, mas para dar em garantia um bem móvel dispensa-se a outorga
conjugal, exceto no regime de separação total de bens isso de acordo com a redação do artigo
1.647, inciso I do Código Civil; E que terceiros podem prestar garantia real por dívida alheia,
respondendo no limite da garantia dada. (como não são devedores, estão livres da obrigação de
substituir ou reforçar a garantia, quando, sem culpa, a coisa se perder, deteriorar ou
desvalorizar), como disciplina o artigo 1.427 do CC.
Ainda sobre os direitos reais de garantia em sentido lato, o vencimento ocorre
juntamente com o vencimento da obrigação principal, desde que se vença o prazo marcado para
pagamento do débito garantido, hipótese em que se terá vencimento normal do ônus real. Porém
existem algumas situações que provocam o vencimento antecipado do débito, facultando ao
credor exigir do devedor o pagamento integral da dívida: se houver diminuição da garantia, em
razão da deterioração ou depreciação do bem e o devedor, se o intimado não reforçar ou
substituir (independe de culpa) essa garantia, se o devedor cair em insolvência ou falir, se as
prestações não forem pontualmente pagas, se o bem perecer e não for substituído (independe
de culpa), ou se houver desapropriação da coisa dada em garantia, situação em que será
depositada a parte do preço que for necessária ao pagamento integral do credor.

2. PENHOR
O Penhor está previsto nos artigos 1.431 até 1.472 do Código Civil, e é caracterizado como
o direito real acessório de garantia que vincula uma coisa móvel ou mobilizável, corpórea ou
incorpórea ao pagamento de uma dívida (como joias, veículos, etc.), inclui também os bens que
o legislador considera imóveis, mas que podem ser mobilizados, como por exemplo os frutos
de uma árvore. Já uma coisa incorpórea que pode se sujeitar ao penhor é o penhor de crédito. É
vinculado à uma dívida considerada como principal e se perfaz por instrumento público ou
particular, configurando contrato solene. Esse bem dado em garantia pode ser do devedor ou de
terceiros.
A posse do bem dado em garantia é conferida ao credor ou ao devedor, dependendo da
modalidade de penhor. Caso for penhor rural, industrial, mercantil ou de veículos, a posse é do
devedor, mas caso for penhor comum ou de títulos a posse é do credor.
2.1. ESPÉCIES
Quanto à fonte, o penhor pode ser convencional ou legal.
O penhor por convenção resulta de um acordo por manifestação de vontades, pode ser
instrumento público ou particular que deve conter a identificação das partes, o valor da dívida
ou estimação do valor máximo, além de especificação do bem para individualizá-lo, se o bem
for fungível é necessário declarar sua qualidade e quantidade, nesse caso a taxa de juros deve
ser de no máximo 12%.
Já o penhor legal emana da própria legislação, ou seja, independe de acordo de vontades,
mas acaba sendo sujeito a homologação judicial e tem como propósito proteger aqueles
credores que se encontrarem em determinadas situações, consideradas peculiares. Sendo que
essa espécie de penhor incide sobre bens de hospedes em hotéis, pensões e pousadas, e sobre
os bens do locatário no imóvel por ele locado, entre outros.
E quanto às características pode ser comum ou especial.
Também conhecido como penhor tradicional, o penhor comum decorre da simples
vontade das partes e se constitui pela entrega da coisa móvel corpórea, pela simples
transferência efetiva dessa posse pelo devedor ao credor, sendo previsto no artigo 1.431 do
Código Civil.
O penhor especial, portanto, é aquele que não segue o padrão do tradicional e inclui os
penhores rurais, industriais, mercantis, de direitos, de títulos de crédito, de veículos e o penhor
legal.
2.2. DIREITOS E DEVERES
Tem o credor o direito de manter a posse da coisa empenhada e de retê-la, até que seja
indenizado das despesas justificadas que tiver feito, não sendo ocasionadas por sua culpa. Cabe
ressarcimento do prejuízo que tenha sofrido se a coisa empenhada tiver vício, desde que não
tivesse conhecimento dele. É seu direito, ademais, se apropriar dos eventuais frutos da coisa
empenhada.
É também, direito do credor promover a execução pignoratícia, isso significa que ele
pode realizar a venda amigável. A venda antecipada depende de autorização judicial e se
justifica quando houver receio de que a coisa empenhada se perca ou se deteriore. O devedor
pode evitar a venda antecipada, nesse caso, substituindo a garantia ou oferecendo outra garantia
real.
Por fim, o credor tem o dever de guardar a coisa, na qualidade de depositário, podendo
vir a sofrer as sanções de depositário infiel. Deve o credor restituir a coisa, paga a dívida, com
os frutos e acessões. Vendida a coisa amigável ou judicialmente, a diferença deve ser entregue
ao devedor. Além disso, tem o credor o dever de ressarcir o dono caso haja perda ou
deterioração da coisa por sua culpa, é sua obrigação, também, defender a posse da coisa.
Já o devedor poderá impedir o uso do bem pelo credor. E quando pagar o débito, ele
terá o direito de receber de volta a coisa dada em garantia. Tem o direito, também, de ser
ressarcido, por meio de indenização, caso tenha havido deterioração ou perecimento da coisa
empenhada por culpa do credor. O devedor pignoratício tem o direito, por fim, de conservar a
titularidade do domínio e a posse indireta da coisa durante a vigência do penhor.
Em relação às suas obrigações o devedor deve obter licença prévia do credor caso
precise vender a coisa, deve ressarcir as despesas do credor em relação à guarda, conservação
e defesa da coisa, deve substituir a garantia caso o bem seja deteriorado por outro que não o
credor, e deve indenizar o credor por vícios ocultos da coisa.
2.3.EXTINÇÃO
Os efeitos da extinção do penhor são alcançados depois de averbado o cancelamento do
registro. A garantia se extingue nos seguintes casos: quando houver a extinção da obrigação ou
perecimento da coisa, em caso de renúncia do credor, por conta de eventual confusão, ou seja,
quando o credor e o dono da coisa são a mesma pessoa, e por fim, pela venda da coisa
empenhada, ou remição (quitar a dívida) e pela adjudicação (quando, findo o leilão, sem
lançador, o credor oferece preço não inferior àquele que consta no edital requer que lhe sejam
adjudicados os bens penhorados).
2.4.PENHORA
Penhor e penhora não devem ser confundidos, já que o primeiro é um instituto de direito
material, pelo qual alguém oferece em garantia de pagamento de uma dívida um ou vários bens.
A penhora, por sua vez, é a constrição de um ou vários bens para a garantia da execução e futura
alienação em juízo, ou seja, requer um processo em curso.

3. HIPOTECA
É direito real de garantia temporário, previsto entre os artigos 1.473 e 1505 do Código Civil,
que recai, ordinariamente, sobre bem imóvel, do devedor ou de terceiros. Garante e assegura ao
credor o pagamento do débito com o produto da venda do bem, na hipótese de não ocorrer o
pagamento espontâneo.
A hipoteca é um direito acessório, que exige especialização e publicidade. Não admite pacto
comissório, confere preferência e direito de sequela ao credor. É indivisível, salvo na hipótese
de condomínio ou loteamento e é contrato solene.
São objetos da hipoteca: bens imóveis e seus acessórios; A propriedade superficiária; O
direito real de uso; O domínio direto e o domínio útil; As estradas de ferro; Os recursos naturais,
independente do solo onde se acharem. Os únicos bens móveis que podem ser dados em garantia
são: navio e avião. A posse continua com o devedor ou com terceiro dono do bem.
3.1.ESPÉCIES
A hipoteca pode ser convencional, legal ou judiciária.
A convencional, também conhecida como voluntária, decorre do acordo de vontades,
externado em um contrato sobre bem imóvel.
A hipoteca legal, por sua vez visa proteger determinadas pessoas, e depende de
especialização e publicidade.
“Art. 1.489. A lei confere hipoteca:
I - às pessoas de direito público interno (art. 41) sobre os imóveis pertencentes
aos encarregados da cobrança, guarda ou administração dos respectivos fundos
e rendas;
II - aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras núpcias,
antes de fazer o inventário do casal anterior;
III - ao ofendido, ou aos seus herdeiros, sobre os imóveis do delinqüente, para
satisfação do dano causado pelo delito e pagamento das despesas judiciais;
IV - ao co-herdeiro, para garantia do seu quinhão ou torna da partilha, sobre o
imóvel adjudicado ao herdeiro reponente;
V - ao credor sobre o imóvel arrematado, para garantia do pagamento do
restante do preço da arrematação.” (BRASIL, 2002)
A judiciária, por fim, decorre de sentença condenatória e requer especialização e registro
no Cartório de Registro de Imóveis.
3.2. EFEITOS
O imóvel, uma vez hipotecado, se torna garantia do pagamento de uma dívida e a
mudança de proprietário pela venda ou doação não altera essa situação. A alienação desse bem
pode ocasionar o vencimento antecipado de seu débito, desde que assim esteja convencionado.
Podem recair várias hipotecas sobre o mesmo bem e exerce preferência o primeiro
credor hipotecário, e assim sucessivamente.
Estão legitimados a promover a liberação (remição) do imóvel hipotecado o credor da
segunda hipoteca, que paga o débito do primeiro credor, e então sub-roga nos seus direitos,
passando a ser o único credor hipotecário, o adquirente do imóvel hipotecado e o devedor que
liquida o débito e libera o imóvel
3.3. EXTINÇÃO
A extinção da hipoteca depende de averbação no Registro de Imóveis. Ela é extinta caso
haja a extinção da obrigação principal, pelo perecimento da coisa, pela resolução da
propriedade, pela renúncia do credor, pela remição ou pela arrematação, que é feita por terceiro
ou pela adjudicação do bem hipotecado, que é feita pelo próprio credor, por meio de processo
de execução.

4. ANTICRESE
Trata-se de direito real de garantia, previsto entre os artigos 1.506 a 1.510 do Código Civil,
que recai sobre coisa alheia, por meio da qual o credor recebe a posse imóvel do devedor ou de
terceiro, podendo explorá-lo economicamente e desses recursos retira os valores que lhe são
devidos. Aqui, o credor não pode vender o bem, ele deve fazer uma administração boa, e tem a
obrigação de prestar contas todo ano ao devedor. O devedor pode recorrer em juízo se o credor
não estiver fazendo um bom trabalho, pedindo que ele seja afastado do bem que está
administrando e pedir para alguém o substituir.
Nos casos de anticrese, não há preferência em favor do credor anticrético.
4.1.EXTINÇÃO
Extingue-se a anticrese pelo pagamento da dívida, pelo término do prazo legal, pela
caducidade, pelo perecimento do bem anticrético, pela desapropriação, pela renúncia do
anticresista, pela excussão de outros credores quando o anticrético não opuser seu direito de
retenção e por fim a extinção pode se dar pelo resgate feito pelo adquirente do imóvel.

5. PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA
A propriedade fiduciária, apesar de não estar arrolada na redação do artigo 1.225 do Código
Civil junto com o penhor, a hipoteca e a anticrese, ainda se configura como direito real de
garantia, estando previsto de maneira específica, portanto, pelos artigos 1.361 até 1.368-A do
mesmo Código.
É direito real referente a um bem móvel infungível, e mais recentemente referente à bem
imóvel, que é transferido do devedor (fiduciante) para o credor (fiduciário) com o objetivo de
garantir o pagamento de uma dívida, sendo que a própria propriedade é transferida nesse caso,
porém o fiduciante permanece com a posse direta da coisa
O contrato deve ser redigido por escrito, podendo ser um instrumento público ou particular,
nele deve conter o valor total da dívida, o prazo para o pagamento, a taxa de juros e a descrição
do bem objeto da transferência.
5.1.DIREITOS E DEVERES
O fiduciante tem como direitos a permanência da posse direta do bem e eventual direito
de reaver a propriedade da coisa com o pagamento da dívida. Tem também o direito de receber
o valor excedente caso o fiduciário realiza a venda do bem para satisfazer seu crédito. Ele tem
como obrigação responder pelo remanescente da dívida se a garantia não se mostrar suficiente
para cobrir o valor total, de se abster de dispor do bem alienado, já que pertence ao fiduciário,
e deve, também, entregar o bem nos casos de inadimplemento da sua obrigação. está sujeito à
eventual ação de busca e apreensão, se ele não for encontrado, o fiduciário pode converter a
ação em ação de depósito para que o fiduciante seja intimado a apresentar o bem dentro de 24
horas.
O credor deve, portanto, vender o bem nos casos de inadimplemento de do devedor,
devendo aplicar esse valor adquirido no pagamento do seu crédito e dos acréscimos, tendo a
obrigação de entregar o valor excedente para o devedor. A sua obrigação principal, no entanto,
é de proporcionar ao alienante o financiamento pelo qual se obrigou, devendo respeitar o direito
ao uso da coisa por parte dele.
5.2.PROCEDIMENTO
Nos casos de devedor inadimplente, ele está sujeito à eventual ação de busca e
apreensão, se o bem não for encontrado, o fiduciário pode converter a ação em ação de depósito
para que o fiduciante seja intimado a apresentar o bem dentro de 24 horas.

A venda do bem pode se extrajudicial ou judicial aplicando-se os termos dispostos pelo


artigo 730 do Código de Processo Civil.

Por fim, não é mais permitida a prisão civil por falta de pagamento por parte do devedor,
por conta do previsto no Pacto de São José, que é uma norma supralegal e está hierarquicamente
acima de lei ordinária e complementar (mas abaixo da Constituição Federal).

6. BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 DE JANEIRO DE 2002

GONÇALVES, Carlos Alberto. Direito Civil Brasileiro. Volume 2 – Contratos em Espécie e


Direito das Coisas. Editora Saraiva. 10ª Edição - 2022

Você também pode gostar