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Faculdade Pio Décimo

Curso de Direito
Direito Civil V
Prof.: Vinícius Dória Almeida
Ayanne Iris, Felipe França, Ingrid Gabriela, Iracildes Rodrigues, Juan
Ferreira, Tawany Elise

PENHOR

1 - CONCEITO

Para Clovis Beliváqua, penhor é o direito real que submete coisa móvel ou
mobilizável ao pagamento de uma dívida. Já Eduardo Espinola, define penhor como
o direito real, conferido ao credor de exercer preferência, para seu pagamento,
sobre o preço de uma coisa móvel de outrem, que é entregue como garantia.
Lafayette conceitua como “a convenção, pela qual o devedor ou um terceiro entrega
ao credor uma coisa móvel com o fim de sujeitá-la por um vínculo real ao
pagamento da dívida”. Lacerda Almeida também o considera o negócio jurídico
“pelo qual é garantido o pagamento de uma dívida com a entrega ao credor de uma
coisa móvel para guardá-la e retê-la enquanto não é paga a dívida ou pagar-se pelo
seu produto se não for satisfeita”
Prescreve o art. 1431 do Código Civil:
“Constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse que, em garantia
do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele,
de uma coisa móvel, suscetível de alienação.”
Com base no artigo pode definir o penhor como o direito real que consiste
na tradição de uma coisa móvel, suscetível de alienação, realizada pelo
devedor ou por terceiro ao credor, em garantia do débito

2 - AMPARO LEGISLATIVO DO PENHOR

A legislação referente a matéria de penhor está elencada do art.1.431 ao 1.472


do código civil (CC) de 2002 conforme apresenta-se a seguir na sua integralidade,
considerando suas diversas modalidades:
Da constituição do penhor
Art. 1.431. Constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse que, em
garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por
ele, de uma coisa móvel, suscetível de alienação.
Parágrafo único. No penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, as coisas
empenhadas continuam em poder do devedor, que as deve guardar e conservar.
Art. 1.432. O instrumento do penhor deverá ser levado a registro, por qualquer dos
contratantes; o do penhor comum será registrado no Cartório de Títulos e
Documentos.

Dos Direitos do Credor Pignoratício


Art. 1.433. O credor pignoratício tem direito:
I - à posse da coisa empenhada;
II - à retenção dela, até que o indenizem das despesas devidamente justificadas,
que tiver feito, não sendo ocasionadas por culpa sua;
III - ao ressarcimento do prejuízo que houver sofrido por vício da coisa empenhada;
IV - a promover a execução judicial, ou a venda amigável, se lhe permitir
expressamente o contrato, ou lhe autorizar o devedor mediante procuração;
V - a apropriar-se dos frutos da coisa empenhada que se encontra em seu poder;
VI - a promover a venda antecipada, mediante prévia autorização judicial, sempre
que haja receio fundado de que a coisa empenhada se perca ou deteriore, devendo
o preço ser depositado. O dono da coisa empenhada pode impedir a venda
antecipada, substituindo-a, ou oferecendo outra garantia real idônea.
Art. 1.434. O credor não pode ser constrangido a devolver a coisa empenhada, ou
uma parte dela, antes de ser integralmente pago, podendo o juiz, a requerimento do
proprietário, determinar que seja vendida apenas uma das coisas, ou parte da coisa
empenhada, suficiente para o pagamento do credor.

Das Obrigações do Credor Pignoratício


Art. 1.435. O credor pignoratício é obrigado:
I - à custódia da coisa, como depositário, e a ressarcir ao dono a perda ou
deterioração de que for culpado, podendo ser compensada na dívida, até a
concorrente quantia, a importância da responsabilidade;
II - à defesa da posse da coisa empenhada e a dar ciência, ao dono dela, das
circunstâncias que tornarem necessário o exercício de ação possessória;
III - a imputar o valor dos frutos, de que se apropriar (art. 1.433, inciso V) nas
despesas de guarda e conservação, nos juros e no capital da obrigação garantida,
sucessivamente;
IV - a restituí-la, com os respectivos frutos e acessões, uma vez paga a dívida;
V - a entregar o que sobeje do preço, quando a dívida for paga, no caso do inciso IV
do art. 1.433.

Da Extinção do Penhor
Art. 1.436. Extingue-se o penhor:
I - extinguindo-se a obrigação;
II - perecendo a coisa;
III - renunciando o credor;
IV - confundindo-se na mesma pessoa as qualidades de credor e de dono da coisa;
V - dando-se a adjudicação judicial, a remissão ou a venda da coisa empenhada,
feita pelo credor ou por ele autorizada.
§ 1 o Presume-se a renúncia do credor quando consentir na venda particular do
penhor sem reserva de preço, quando restituir a sua posse ao devedor, ou quando
anuir à sua substituição por outra garantia.
§ 2 o Operando-se a confusão tão-somente quanto a parte da dívida pignoratícia,
subsistirá inteiro o penhor quanto ao resto.
Art. 1.437. Produz efeitos a extinção do penhor depois de averbado o cancelamento
do registro, à vista da respectiva prova.

Do Penhor Rural
Art. 1.438. Constitui-se o penhor rural mediante instrumento público ou particular,
registrado no Cartório de Registro de Imóveis da circunscrição em que estiverem
situadas as coisas empenhadas.
Parágrafo único. Prometendo pagar em dinheiro a dívida, que garante com penhor
rural, o devedor poderá emitir, em favor do credor, cédula rural pignoratícia, na
forma determinada em lei especial.
Art. 1.439.  O penhor agrícola e o penhor pecuário não podem ser convencionados
por prazos superiores aos das obrigações garantidas. 
§ 1 o Embora vencidos os prazos, permanece a garantia, enquanto subsistirem os
bens que a constituem.
§ 2 o A prorrogação deve ser averbada à margem do registro respectivo, mediante
requerimento do credor e do devedor.
Art. 1.440. Se o prédio estiver hipotecado, o penhor rural poderá constituir-se
independentemente da anuência do credor hipotecário, mas não lhe prejudica o
direito de preferência, nem restringe a extensão da hipoteca, ao ser executada.
Art. 1.441. Tem o credor direito a verificar o estado das coisas empenhadas,
inspecionando-as onde se acharem, por si ou por pessoa que credenciar.

Do Penhor Agrícola
Art. 1.442. Podem ser objeto de penhor:
I - máquinas e instrumentos de agricultura;
II - colheitas pendentes, ou em via de formação;
III - frutos acondicionados ou armazenados;
IV - lenha cortada e carvão vegetal;
V - animais do serviço ordinário de estabelecimento agrícola.
Art. 1.443. O penhor agrícola que recai sobre colheita pendente, ou em via de
formação, abrange a imediatamente seguinte, no caso de frustrar-se ou ser
insuficiente a que se deu em garantia.
Parágrafo único. Se o credor não financiar a nova safra, poderá o devedor constituir
com outrem novo penhor, em quantia máxima equivalente à do primeiro; o segundo
penhor terá preferência sobre o primeiro, abrangendo este apenas o excesso
apurado na colheita seguinte.

Do Penhor Pecuário
Art. 1.444. Podem ser objeto de penhor os animais que integram a atividade pastoril,
agrícola ou de lacticínios.
Art. 1.445. O devedor não poderá alienar os animais empenhados sem prévio
consentimento, por escrito, do credor.
Parágrafo único. Quando o devedor pretende alienar o gado empenhado ou, por
negligência, ameace prejudicar o credor, poderá este requerer se depositem os
animais sob a guarda de terceiro, ou exigir que se lhe pague a dívida de imediato.
Art. 1.446. Os animais da mesma espécie, comprados para substituir os mortos,
ficam sub-rogados no penhor.
Parágrafo único. Presume-se a substituição prevista neste artigo, mas não terá
eficácia contra terceiros, se não constar de menção adicional ao respectivo contrato,
a qual deverá ser averbada.

Do Penhor Industrial e Mercantil


Art. 1.447. Podem ser objeto de penhor máquinas, aparelhos, materiais,
instrumentos, instalados e em funcionamento, com os acessórios ou sem eles;
animais, utilizados na indústria; sal e bens destinados à exploração das salinas;
produtos de suinocultura, animais destinados à industrialização de carnes e
derivados; matérias-primas e produtos industrializados.
Parágrafo único. Regula-se pelas disposições relativas aos armazéns gerais o
penhor das mercadorias neles depositadas.
Art. 1.448. Constitui-se o penhor industrial, ou o mercantil, mediante instrumento
público ou particular, registrado no Cartório de Registro de Imóveis da circunscrição
onde estiverem situadas as coisas empenhadas.
Parágrafo único. Prometendo pagar em dinheiro a dívida, que garante com penhor
industrial ou mercantil, o devedor poderá emitir, em favor do credor, cédula do
respectivo crédito, na forma e para os fins que a lei especial determinar.
Art. 1.449. O devedor não pode, sem o consentimento por escrito do credor, alterar
as coisas empenhadas ou mudar-lhes a situação, nem delas dispor. O devedor que,
anuindo o credor, alienar as coisas empenhadas, deverá repor outros bens da
mesma natureza, que ficarão sub-rogados no penhor.
Art. 1.450. Tem o credor direito a verificar o estado das coisas empenhadas,
inspecionando-as onde se acharem, por si ou por pessoa que credenciar.

Do Penhor de Direitos e Títulos de Crédito


Art. 1.451. Podem ser objeto de penhor direitos, suscetíveis de cessão, sobre coisas
móveis.
Art. 1.452. Constitui-se o penhor de direito mediante instrumento público ou
particular, registrado no Registro de Títulos e Documentos.
Parágrafo único. O titular de direito empenhado deverá entregar ao credor
pignoratício os documentos comprobatórios desse direito, salvo se tiver interesse
legítimo em conservá-los.
Art. 1.453. O penhor de crédito não tem eficácia senão quando notificado ao
devedor; por notificado tem-se o devedor que, em instrumento público ou particular,
declarar-se ciente da existência do penhor.
Art. 1.454. O credor pignoratício deve praticar os atos necessários à conservação e
defesa do direito empenhado e cobrar os juros e mais prestações acessórias
compreendidas na garantia.
Art. 1.455. Deverá o credor pignoratício cobrar o crédito empenhado, assim que se
torne exigível. Se este consistir numa prestação pecuniária, depositará a
importância recebida, de acordo com o devedor pignoratício, ou onde o juiz
determinar; se consistir na entrega da coisa, nesta se sub-rogará o penhor.
Parágrafo único. Estando vencido o crédito pignoratício, tem o credor direito a reter,
da quantia recebida, o que lhe é devido, restituindo o restante ao devedor; ou a
excutir a coisa a ele entregue.
Art. 1.456. Se o mesmo crédito for objeto de vários penhores, só ao credor
pignoratício, cujo direito prefira aos demais, o devedor deve pagar; responde por
perdas e danos aos demais credores o credor preferente que, notificado por
qualquer um deles, não promover oportunamente a cobrança.
Art. 1.457. O titular do crédito empenhado só pode receber o pagamento com a
anuência, por escrito, do credor pignoratício, caso em que o penhor se extinguirá.
Art. 1.458. O penhor, que recai sobre título de crédito, constitui-se mediante
instrumento público ou particular ou endosso pignoratício, com a tradição do título
ao credor, regendo-se pelas Disposições Gerais deste Título e, no que couber, pela
presente Seção.
Art. 1.459. Ao credor, em penhor de título de crédito, compete o direito de:
I - conservar a posse do título e recuperá-la de quem quer que o detenha;
II - usar dos meios judiciais convenientes para assegurar os seus direitos, e os do
credor do título empenhado;
III - fazer intimar ao devedor do título que não pague ao seu credor, enquanto durar
o penhor;
IV - receber a importância consubstanciada no título e os respectivos juros, se
exigíveis, restituindo o título ao devedor, quando este solver a obrigação.
Art. 1.460. O devedor do título empenhado que receber a intimação prevista no
inciso III do artigo antecedente, ou se der por ciente do penhor, não poderá pagar
ao seu credor. Se o fizer, responderá solidariamente por este, por perdas e danos,
perante o credor pignoratício.
Parágrafo único. Se o credor der quitação ao devedor do título empenhado, deverá
saldar imediatamente a dívida, em cuja garantia se constituiu o penhor.

Do Penhor de Veículos
Art. 1.461. Podem ser objeto de penhor os veículos empregados em qualquer
espécie de transporte ou condução.
Art. 1.462. Constitui-se o penhor, a que se refere o artigo antecedente, mediante
instrumento público ou particular, registrado no Cartório de Títulos e Documentos do
domicílio do devedor, e anotado no certificado de propriedade.
Parágrafo único. Prometendo pagar em dinheiro a dívida garantida com o penhor,
poderá o devedor emitir cédula de crédito, na forma e para os fins que a lei especial
determinar.
Art. 1.463. (Revogado pela Lei nº 14.179, de 2021)
Art. 1.464. Tem o credor direito a verificar o estado do veículo empenhado,
inspecionando-o onde se achar, por si ou por pessoa que credenciar.
Art. 1.465. A alienação, ou a mudança, do veículo empenhado sem prévia
comunicação ao credor importa no vencimento antecipado do crédito pignoratício.
Art. 1.466. O penhor de veículos só se pode convencionar pelo prazo máximo de
dois anos, prorrogável até o limite de igual tempo, averbada a prorrogação à
margem do registro respectivo.

Do Penhor Legal
Art. 1.467. São credores pignoratícios, independentemente de convenção:
I - os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as bagagens,
móveis, jóias ou dinheiro que os seus consumidores ou fregueses tiverem consigo
nas respectivas casas ou estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí
tiverem feito;
II - o dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens móveis que o rendeiro ou
inquilino tiver guarnecendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas.
Art. 1.468. A conta das dívidas enumeradas no inciso I do artigo antecedente será
extraída conforme a tabela impressa, prévia e ostensivamente exposta na casa, dos
preços de hospedagem, da pensão ou dos gêneros fornecidos, sob pena de
nulidade do penhor.
Art. 1.469. Em cada um dos casos do art. 1.467, o credor poderá tomar em garantia
um ou mais objetos até o valor da dívida.
Art. 1.470. Os credores, compreendidos no art. 1.467, podem fazer efetivo o penhor,
antes de recorrerem à autoridade judiciária, sempre que haja perigo na demora,
dando aos devedores comprovante dos bens de que se apossarem.
Art. 1.471. Tomado o penhor, requererá o credor, ato contínuo, a sua homologação
judicial.
Art. 1.472. Pode o locatário impedir a constituição do penhor mediante caução
idônea.

3 - EXEMPLOS DE PENHOR CONFORME OS TIPOS

Penhor de caráter rural:


Ofertar como garantia de pagamento de uma referida divida maquinário, colheitas,
madeiras de corte, frutos armazenados, instrumentos de produção entre outros
objetos típicos da modalidade.
Exemplo: Pedro tinha uma dívida com Paulo, e como instrumento de garantia foi
convencionado entre ambos um trator utilizado na fazenda de Pedro para preparar a
terra onde o mesmo cultivava mandioca.

Penhor mercantil ou industrial:


Disponibilizar como garantia de pagamento máquinas, bens de exploração da
referida área de atuação mercantil ou industrial, aparelhos instalados ou não, entre
outros.
Exemplo: José solicitou a Luís um software de operação de maquinário industrial
para produção automatizada de calçados em sua empresa, a ser pago no mês
posterior e como meio garantia do pagamento foi escolhido por ambos cerca de 500
calçados já fabricados.

Penhor de veículos:
Empenhar como garantia para sanar divida automóvel ou motocicleta.
Exemplo: Laura em convenção com uma concessionária de veículos, afim de dar
garantia ao pagamento das devidas parcelas referentes a seu mais novo automóvel,
disponibiliza sua motocicleta avaliada em valor similar ao veículo.

Penhor de direitos e títulos de crédito:


Qualquer coisa móvel poderá ser alvo, desde que seja notificado o devedor acerca
da ação. (é necessário o registro no cartório de títulos e documentos).

4 – SUJEITOS E CARACTERÍSTICAS

Partiremos do Código Civil brasileiro, com os aprofundamentos necessários


mais adiante, para dizermos que o penhor simples tem, portanto, as seguintes
partes e características:

1. devedor pignoratício: é o devedor da obrigação principal, que dá a


coisa em penhor, embora seja possível, ainda, que o penhor (coisa com ônus real,
por isso “onerada”) seja dado por terceiro garantidor;
2. tradição: o penhor é um contrato real, ou seja, não se finaliza pela
mera manifestação de vontade das partes, de modo que é necessária a entrega, ao
credor, da coisa empenhada, porque seu perfazimento dá-se com a posse direta
(em regra) do objeto da garantia, pelo credor;
3. existência de débito: o instituto do penhor presta-se à garantia de um
crédito, garantia esta prestada ao credor, em seu favor, de modo que só pode haver
penhor em havendo débito a ser garantido (“Jus et obligatio sunt correlata”) ou, em
outras palavras, o penhor é direito real de garantia que necessariamente dirige-se
ao direito de crédito de outrem;
4. natureza de direito acessório: o penhor, como direito real de
garantia, é meramente acessório da obrigação principal (onde encontra-se o débito
garantido);
5. credor pignoratício: é o credor do débito garantido pelo penhor;
6. bem empenhado: coisa dada em garantia, sem a qual não há
penhor.           

1- Devedor Pignoratício:

Quanto ao devedor pignoratício (reus debendi), evidentemente, deve ser


pessoa capaz para celebrar atos jurídicos, ser o proprietário do bem dado em
garantia e ter ainda a livre disposição da coisa, de modo que esta seja alienável
(CC, art. 1.420).
Ainda que a legislação exija que o devedor pignoratício ofereça em garantia
bem de sua propriedade, admite-se que a propriedade superveniente torne eficaz,
desde o registro, as garantias reais estabelecidas por quem não era dono (CC, art.
1.420, § 1º).

2- Tradição empenhado

A tradição, em tese, dá-se para transmissão da propriedade (domínio).


Entretanto, também é possível, como fazia o CC/1916 (ver abaixo), referir-se à
tradição sem transmissão de propriedade. Virgilio de Sá Pereira, um grande civilista
na história brasileira, já deixara isso claro:

“A tradição é um modo de transferir o dominio; se eu não o


tenho, como o transfiro? Mas, ao mesmo tempo, ella é um
facto, cuja exteriorisação material póde ser effectuada por todo
aquelle que tenha a cousa em seu poder. Para que este facto
se revista da configuração juridica da tradição e opére a
transmissão do dominio, não basta que o realise o proprietario,
mas que o realise no desempenho duma obrigação contrahida
visando essa transmissão. A tradição da cousa nos contractos
de penhor, de commodato, de locação, nada tem que ver com
a transferencia do dominio. A causa da tradição intervém
portanto como elemento subjectivo para configural-a, como o
ensina Paulo, na lei 31º do Digesto de adq. rer. dominio:
Numquam nuda traditio transfert dominium, sed ita, si vendido
aut aliqua justa causa paecesserit, propter quam traditio
sequeretur.”

 
A tradição, aqui entendida como transferência da posse direta da coisa
empenhada, sem transmissão de domínio, pelo devedor ao credor, é regra geral, no
direito brasileiro, requisito integrante do próprio conceito do penhor (referimo-nos ao
penhor tradicional). O Código Civil de 1916 aludia a “tradição efetiva” (art. 768), mas
no Código Civil de 2002 preferiu-se a expressão “transferência efetiva da posse”
(art. 1.431, caput). No anterior, lia-se:

“Art. 768. Constitui-se o penhor pela tradição efetiva, que, em


garantia do débito, ao credor, ou a quem o represente, faz o
devedor, ou alguém por ele, de um objeto móvel, suscetível de
alienação." 

Portanto, não se admitiria, em regra, a tradição simbólica do bem


empenhado, ou o constituto possessório.

Em primeiro lugar, note-se que, apesar de tantas discussões sobre a


natureza jurídica da posse e sua suposta distinção em relação à “detenção”, não há
consenso jurídico nem mesmo na legislação positivada a respeito desses institutos
jurídicos, o que é constatável quando realizamos estudos comparados. A título de
exemplo, veja-se que, enquanto o caput do art. 1.431 do Código Civil brasileiro de
2002 refere-se claramente a “transferência efetiva da posse”, o Código Civil chileno
considera haver, para o credor pignoratício, a mera detenção.

Em segundo lugar, essa regra geral comporta exceções. Os próprios autores


que afirmam que não caberia admitir-se tradição simbólica ou constituto possessório
em relação ao bem empenhado, fazem as ressalvas necessárias, no sentido dessa
regra geral não ser absoluta, de modo que o credor nem sempre precisaria ter a
posse direta do bem empenhado. 
3- Existência de débito garantido pelo penhor

O penhor, como direito real de garantia, é meramente acessório da obrigação


principal, isto é, da obrigação de onde exsurge a dívida garantida, de modo que o
penhor segue o destino da obrigação principal (“Accessorium non ducit, sed sequitur
principalem”). Ou seja, extinguindo-se esta, extingue-se também o penhor (exceto
pela expressa disposição em sentido contrário, como na hipótese do inciso II do art.
1.433 do Código Civil). 

Ainda por ser obrigação acessória (na verdade, não por ser obrigação
acessória, mas para fortalecer-se esta sua qualidade), o penhor não admite a
cláusula comissória. Assim, é nula a cláusula que autorize o credor pignoratício a
ficar com o objeto da garantia, se a dívida não for paga no vencimento (art. 1.428,
caput). Veja-se que a lei está a impedir a validade de cláusula negociada entre as
partes, antes do vencimento da dívida e que desde logo autorize o credor a ficar
com o objeto da garantia como meio de pagamento em caso de inadimplemento da
obrigação principal pelo devedor. É claro que, não estando quitada a dívida, o
credor continuará legalmente na posse da coisa apenhada (CC, art. 1.433, inciso I),
inclusive para buscar o pagamento do seu crédito pelos meios legais (execução
forçada contra o devedor, etc.). O que se está a dizer é que é nula a cláusula
contratual que preveja, antes do vencimento da dívida, que o credor poderá tomar
para si a coisa apenhada para fins de quitação da dívida.

4- Credor Pignoratício

O penhor gera para o credor diversos direitos. Os que lhe interessam mais de
perto, sem dúvidas, estão previstos no art. 1.422 do Código Civil: o direito de excutir
a coisa empenhada (também previsto no inciso IV do art. 1.433) e o direito de
preferir, no pagamento, a outros credores.

5- Bem empenhado

Bens inalienáveis não podem ser dados em penhor; nem as coisas


impenhoráveis, já que não permitiriam a excussão e, portanto, a garantia em si seria
imprestável à sua finalidade, de garantir o débito. Entretanto, há quem se posicione
pela admissibilidade do penhor sobre coisas impenhoráveis. Nesse sentido,
exemplificativamente, como o penhor é decorrente de negócio bilateral.

5 – MODOS DE CONSTITUIÇÃO DO PENHOR

 Por Convenção – Este modelo tem como critério primordial a VONTADE do


Devedor pignoratício, ou alguém por ele, que será responsável pela
transferência da posse em troca do débito o qual devidamente garantido pelo
credor pignoratício, que nada mais é do uma coisa móvel, suscetível de
Alienação. Ademais, ressalta-se uma subdivisão desse modelo, a qual
dividirá a convenção em:

1. Comum : Quando a coisa móvel sofre a alienação e o credor começa a


possuir o objeto de penhor.
2. Especial : Quando a coisa móvel mesmo sendo penhorada e tendo como o
credor o novo possuidor indireto, ele concede o poder de posse direta ao
devedor , desde que esse cumpra com os Deveres Irrenunciáveis que são
nada mais do que o “Dever de Guarda” e a “Conservação do Bem
Empenhado” , casos clássicos em penhores rurais e industriais.

 Por Lei – Este modelo por sua vez difere do Convencional pelo simples fato
de não importar a VONTADE do devedor pignoratício, já que o intuito é a
proteção de algumas espécies de credores, ocasião em que a própria norma
jurídica estabelecerá direito ao credor da relação jurídica de tomar para si a
posse de certos bens a título de garantia até que satisfaça todos os créditos
que havia concedido na relação precitada. A exemplo de tal modo temos o
caso do ART.1467 do Código Civil o qual trás o direito aos Hospedeiros ou
Fornecedores de pousadas ou alimento de “ reter bagagens, moveis, joias
ou dinheiro dos consumidores, em virtude de despesas que efetuarem,
sem o devido pagamento, como modalidade de garantia”.

6 – DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO CREDOR E DO DEVEDOR


PIGNORATÍCIO

De um lado do Penhor temos o credor pignoratício, e do outro o devedor


pignoratício. O credor e o devedor pignoratício são partes e também características
do Penhor.
O credor pignoratício será o credor do débito garantido pelo penhor, aquele
que é o beneficiário da obrigação.
O devedor pignoratício é o devedor da obrigação principal, que dá a coisa em
penhor, embora seja possível, que o penhor seja dado por terceiro garantidor. É o
sujeito passivo.

Sendo assim, são direitos do credor pignoratício:

- A posse do bem empenhado enquanto a dívida não for paga;


- A retenção do bem empenhado, até ser ressarcido com as despesas;
- Restituição quanto a prejuízos decorrentes de vício da coisa empenhada;
- Execução da dívida, ante o inadimplemento;
- Receber os frutos da coisa que está em seu poder;
- Venda antecipada, em caso de:
- Risco de perecimento da coisa empenhada
- Autorização judicial

Em compensação, os deveres do credor pignoratício são:

- Custodiar a coisa, quando estiver na qualidade de depositário;


- Proteger a posse do bem;
- Imputar o valor dos frutos percebidos na:
- Despesa de conservação
- Juros
- Capital
- Restituir o bem após o pagamento do débito e das despesas de conservação;
- Devolver o valor que exceder a dívida, no caso de expropriação.

Os direitos e as obrigações do devedor pignoratício se opõem aos direitos e


deveres do credor. O devedor conserva a propriedade e posse indireta da coisa
empenhada até que seja paga a dívida.

São direitos do devedor pignoratício:

- O de reaver a coisa dada em garantia, quando paga a dívida;


- Se houver recusa do credor, poderá o devedor lançar mão do processo
adequado para reaver a posse da coisa;
- O devedor continua dono da coisa empenhada;
- Se a coisa perecer por culpa do credor, tem ele o direito à indenização do
respectivo valor.

O devedor deverá ser o proprietário do objeto onerado, de modo a poder


exercer a livre disposição do bem oferecido como garantia ao cumprimento da
obrigação, pois ao contrair o débito tem o dever de transferir a posse do bem
empenhado como garantia ao credor pignoratício.

7 – CAUSAS DE EXTINÇÃO DO PENHOR

Extingue-se o penhor (CC, art. 1.436):


I - extinguindo-se a obrigação;
II - perecendo a coisa;
III - renunciando o credor;
IV - confundindo-se na mesma pessoa as qualidades de credor e de dono da coisa;
V - dando-se a adjudicação judicial, a remissão ou a venda da coisa empenhada,
feita pelo credor ou por ele autorizada.
Na hipótese do inciso I do art. 1.436 do Código Civil, como o penhor é acessório da
obrigação principal, extinta esta, extingue-se aquele, seja qual for a causa da
extinção da obrigação principal, se por pagamento direto, pagamento indireto, como
na consignação em pagamento, ou sucedâneo de pagamento, como na
compensação, transação ou novação. Mas, como já vimos, admitem-se exceções,
como a ressalva expressa, na novação (CC, art. 364), transmitindo a garantia para a
nova obrigação.
Resolve-se o penhor também pelo perecimento da coisa apenhada (CC, art. 1.436,
II), isto é, se todo o objeto perece. É que a própria existência do penhor, enquanto
contrato, depende da existência do penhor, enquanto coisa dada em garantia, por
tratar-se o penhor, ademais, de direito real de garantia, i.e., que incide sobre coisa
(res). Em havendo o perecimento da coisa garantidora do débito, resolve-se a
garantia, mas a obrigação principal continua a existir. O perecimento da coisa, sem
substituição da garantia, ocasiona o vencimento antecipado da dívida (CC, art.
1.425, IV).
O inciso III do art. 1.436 do Código Civil trata da extinção do penhor pela renúncia
do credor, enquanto ato unilateral, que pode ser expressa, por ato inter vivos ou
causa mortis, ou tácita. O dispositivo trata exclusivamente da extinção do penhor
por renúncia do credor a esta garantia, passando o crédito à condição de
quirografário. No entanto, se o credor renunciar ao crédito da obrigação principal,
evidentemente o penhor também estará extinto, em razão de seu caráter acessório.
O penhor também se extingue pela confusão (CC, art. 1.436, IV), ou seja, se o
credor vier a tornar-se o proprietário da coisa empenhada, por ato inter vivos ou
causa mortis. De outro modo, dá-se a confusão também se o proprietário da coisa
empenhada, devedor pignoratício ou terceiro, vier a tornar-se o titular do direito de
crédito ao qual dirige-se a garantia. Operando-se a confusão apenas quanto a parte
da dívida pignoratícia, subsistirá inteiro o penhor quanto ao resto, em razão do
princípio da indivisibilidade da garantia (CC, art. 1.436, § 2º).
Nos termos do inciso V do art. 1.436 do Código Civil, extingue-se o penhor pela
adjudicação judicial, remissão ou venda da coisa empenhada, feita pelo credor ou
por ele autorizada. A remissão do penhor seria a renúncia à garantia, que, todavia,
já veio prevista no inciso III do art. 1.436 do CC/2002.
A renúncia do credor, ao penhor, será tácita, nas hipóteses do § 1º do art. 1.436 do
Código Civil, isto é, quando o credor consentir na venda particular do penhor sem
reserva de preço, anuir à substituição do penhor por outra garantia, ou, ainda,
restituir a posse da coisa apenhada ao devedor (neste caso, obviamente, se tinha a
posse do bem, por transmissão efetiva quando da avença de garantia real). Neste
último caso, é relevante recordar também que a restituição voluntária do objeto
empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida
(CC, art. 387). Por isso, mais uma vez frisamos que no inciso III do art. 1.436 do
Código Civil trata-se exclusivamente da extinção do penhor, não da extinção da
obrigação principal.

BIBLIOGRAFIA

Silva Pereira, Caio Mário. Instituições de Direito Civil, v. IV, p. 338.


https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8078/Penhor

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