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DIREITO DAS SUCESSÕES 1

DR. ÂNGELO DOS SANTOS

CAPÍTULO III- A VOCAÇÃO SUCESSÓRIA


3.1 – CONCEITO E PRESSUPOSTO
3.1.1 – TITULARIDADE DA DESIGNAÇÃO SUCESSÓRIA PREVALENTE
3.1.2 – A EXISTÊNCIA DO CHAMADO
3.1.3 – CAPACIDADE SUCESSÓRIA: INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO
3.2 – MODOS DE VOCAÇÃO
3.2.1 – VOCAÇÃO UNA E VOCAÇÃO MULTIPLA
3.2.2 – VOCAÇÃO DIRECTA E VOCAÇÃO INDIRECTA
3.2.3 – VOCAÇÕES ANÓMALAS
3.3 – O DIREITO DE REPRESENTAÇÃO
3.4 - O DIREITO A ACRESCER
3.5 - SUBSTITUIÇÃO FIDEICOMISSÁRIA
3.6 – A HERANÇA JACENTE
3.7 A ACEITAÇÃO E O REPÚDIO

3.1 - CONCEITO E PRESSUPOSTO

Por Vocação Sucessória, entende-se como sendo o chamamento, no


momento da morte, de um sucessível, para suceder desde que reúna os
necessários requisitos ou pressupostos para o efeito.

Os pressupostos da vocação sucessória, são:

 Prevalência da designação sucessória;


 Existência jurídica do chamado;
 Capacidade sucessória.

3.1.1 – TITULARIDADE DA DESIGNAÇÃO SUCESSÓRIA PREVALENTE

Não é qualquer chamado que desde logo fica apto para suceder. A lei é
muito exigente na verificação dos pressupostos da vocação (art.º 2032.º
C.C).

A preferência da posição do sucessível tem de estar em consonância com a


hierarquia dos títulos de vocação sucessória, de harmonia com a “fila

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indiana”, estabelecida supletivamente pelo art.º 2133.º C.C, ex vi 2157.º .C.C,


na mesma medida.

3.1.2 – A EXISTÊNCIA DO CHAMADO

A existência do chamado, faz-se com base no plasmado no art.º 2032.º e


2033.º, ambos do C.C.

Assim sendo, são chamados no momento da abertura da sucessão aqueles


que nesse momento já tenham uma certa existência jurídica e que a
continuem a tê-la após aquela abertura.

Sabido que a personalidade jurídica só se adquire no momento do


nascimento completo e com vida, a vocação sucessória tem lugar não
apenas quanto a seres dotados de personalidade jurídica, mas também
relativamente a nascituros já concebidos e por vezes a nascituros não
concebidos.

A exigência da capacidade sucessória como pressuposto da vocação


sucessória, arrasta o difícil problema de se ter depois de encontrar uma
justificação teórica para as excepções, como é o caso do chamamento dos
nascituros.

A existência do chamado pode ser:

 Existência anterior do chamado;


 Existência posterior do chamado, ou direitos eventuais do ausente.

3.1.3 – CAPACIDADE SUCESSÓRIA: INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO

Consiste na idoneidade para se ser destinatário de uma determinada


vocação sucessória ou ainda da aptidão para se ser chamado a suceder,
como herdeiro ou legatário. A regra geral, plasma-se no art.º 2033.º C.C.

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As incapacidades podem ser:


 Incapacidade por indignidade (art.º 2034.º C.C);
 Incapacidade por deserdação (art.º 2166.º e 2167.º ambos do C.C).

A Indignidade, é a sanção de um acto ilícito praticado por um sucessível


contra o autor da sucessão, de modo que por tal ilicitude seja afastado da
sucessão ou de modo a evitar que o acto ilícito se torne lucrativo para
aquele que praticou.

A Deserdação, é o acto através da qual o autor da sucessão priva da


legítima um seu herdeiro legitimário.

Como regra podemos afirmar que é no momento da abertura da sucessão


que se deve avaliar a existência da capacidade sucessória.

3.2 - MODOS DE VOCAÇÃO

A vocação sucessória pode ser originária ou subsequente (art.º 2032.º C.C),


pura ou condicional (a termo) (art.º 2229.º, 2236.º, 2239.º e 2243.º todos do
C.C), simples ou modal (art.º 262.º C.F 2146.º, 2276.º e 2320.º C.C) , una ou
múltipla (art.º 2050.º, 2055.º, 2051.º e 2032.º todos do C.C) e directa ou
indirecta.

3.2.2 – VOCAÇÃO DIRECTA E INDIRECTA

A Vocação Directa é a vocação do sucessível munido de expectativa


própria que ocupa a primeira posição na hierarquia, face ao leque concreto
de relações jurídicas pertencentes ao de cujus. Ao passo que a Vocação
Indirecta opera em favor de uma terceira pessoa que surge
substitutivamente a outrem, o primitivo chamado por este não o querer ou
não poder aceitar a herança ou legado. A Vocação indirecta aparece
assim como uma das mais relevantes modalidade de vocação sucessória.

A quando se fala em Vocação Indirecta, a ideia subjacente é a de que a


posição jurídica da pessoa que não pode ou não quis suceder é o ponto de

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referência a partir do qual se vai definir igualmente a posição jurídica do


chamado indirectamente.

Aponta-se como modalidades de vocação indirecta as que se seguem:


 A substituição directa ou vulgar (art.º 2281.º e segts C.C);
 O direito de acrescer (art.º 2301.º C.C);
 Direito de representação (art.º 2039.º C.C).

3.3 – O DIREITO DE REPRESENTAÇÃO OU REPRESENTAÇÃO SUCESSÓRIA

O fundamento do direito de representação ou representação sucessória


reside na necessidade de evitar que circunstâncias anómalas ou fortuitas tais
como a pré-morte do filho ao do pai ou a incapacidade dele ou ainda o
repúdio da herança interrompam o curso normal da transmissão dos bens de
acordo a normalidade das coisas. Ficam, assim, através do direito de
representação, assegurados os direitos dos descendentes daquele que
faltou a sucessão.

NATUREZA JURÍDICA DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO.

Efectivamente, com o direito de representação, a lei substitui ao


representado os seus descendentes. Estaremos pois face a uma verdadeira
substituição legal. Rejeitando a concepção que vê no direito de
representação uma ficção legal “fictio iuris”.

PRESSUSPOSTOS DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

 SUCESSÃO LEGITIMÁRIA
O primeiro pressuposto é a falta de um parente da 1ª ou 3ª classes sucessíveis
do art.º 2133.º, abrangendo o termo “falta” as cinco (5) situações como: pré-
morte, indignidade, deserdação, ausência e repúdio.

O segundo pressuposto é a existência de descendentes do parente excluído


da sucessão.

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 SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
Os pressupostos do direito de representação na sucessão testamentária são
em regra os mesmos que os da sucessão legitimária.

3.4 - O DIREITO A ACRESCER

Para que haja direito de acrescer na sucessão mortis causa devem verificar-
se os seguintes pressupostos:
 Designação múltipla de dois ou mais sucessíveis ainda que a títulos
diferentes, pois eles devem ocupar uma posição paralela na
hierarquia dos sucessíveis;
 Um dos sucessíveis não poder ou não querer aceitar;
 O outro dos sucessíveis beneficiar do direito de suceder por reunir os
pressupostos da vocação.

3.5 - SUBSTITUIÇÃO FIDEICOMISSÁRIA

Entende-se como sendo a disposição pela qual o testador impõe ao


herdeiro ou legatário o encargo de conservar a herança ou legado, para
que reverta, por sua morte a outrem. O herdeiro ou legatário gravado com o
encargo chama-se fiduciário, e fideicomissário o beneficiário da substituição.
(art.º 2286.º e 2296.º ambos do C.C)

Segundo Leib Soibelman, numa abordagem mas ampla, fideicomisso


consiste em o testador instituir herdeiro ou legatário impondo-lhe (o gravado
ou fiduciário), a obrigação de, por sua morte, a certo tempo, ou sob certa
condição, transmitir a terceiro (o fideicomissário) a herança ou legado.

Na substituição fideicomissária não estamos perante um caso vocação


indirecta. O fideicomissário não ocupar o lugar deixado pelo fiduciário. Ele
está em relação directa com o de cujus e deve ter capacidade em relação
a ele e não ao fiduciário.

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Fiduciário é aquele que temporariamente disfruta dos bens, mas está sujeito
ao ónus da sua conservação para a reversão por sua morte, salvo se o
fideicomissário falecer primeiro, ou melhor, se este não poder ou não quiser
aceitar (art.º 2293.º C.C). Ao passo que o Fideicomissário é o beneficiário
definitivo desta reversão.

SITUAÇÃO DO FIDUCIÁRIO (PROPRIETÁRIO AD TEMPUS)

O fiduciário não é um usufrutuário, mas sim um proprietário temporário.


Levando consigo todos os direitos e poderes de um proprietário sobre os
bens, excepto os de alienar os mesmos. Está vedado o fiduciário praticar
actos de administração extraordinários, actos de disposição dos bens sujeitos
ao fideicomisso, pois somente tem o “ius utendi, et fruendi”, não tendo o “ius
abutendi”.

SITUAÇÃO DO FIDEICOMISSÁRIO (PROPRIETÁRIO DEFINITIVO)

O fideicomissário nada pode fazer enquanto não falecer o fiduciário, melhor


dizendo enquanto este não quiser ou não poder aceitar a herança ou o
legado. Apenas pode vigiar os actos do fiduciário de moldes estar atento
para que tais actos não extravasem os marcos do fideicomisso e em
consequência disso ser prejudicado nas suas expectativas e direitos futuros.
Com a reversão o fideicomissário entra definitivamente na titularidade dos
bens sujeitos ao fideicomisso.

3.7- A ACEITAÇÃO E O REPÚDIO

O conceito de aceitação da herança é relacionado à vontade do sucessor,


sendo o acto jurídico pelo qual a pessoa chamada a suceder declara seu
desejo de ser herdeiro e ter a herança (art.º 2050.º C.C).

Assim, desde que aberta a sucessão, com a morte, a vontade de receber a


herança, retroage a essa data. Portanto, se no momento da abertura da
sucessão, o herdeiro anuiu com a transmissão de bens do de cujus, este acto

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produzirá efeitos desde logo, pois é um ato receptício, independendo do


conhecimento de terceiros.

Trata-se de uma confirmação, uma vez que a aquisição dos direitos


sucessórios não depende de aceitação. Pois, traduz a anuência do
beneficiário em recebê-la, já que ninguém será herdeiro contra sua vontade,
concedendo a lei a faculdade de deliberar a aceitação ou não da herança
transmitida.

Desse modo, é acto jurídico unilateral, pelo qual o herdeiro legítimo ou


testamentário, confirmará a aceitação e tornando definitiva a transmissão
da herança, desde o momento da abertura da sucessão.

As espéciess de aceitação da herança são: a) Pura e Simplesmente, b) a


benefício de inventário (art.º 2052.º, 2053.º C.C). Ao passo que as formas são:
expressa e tácita (art.º 2056.º e 2057.º C.C)

O repúdio da herança é utilizado quando alguém quer afastar-se da


sucessão a uma herança da qual não está interessado.

Um herdeiro pode querer repudiar a herança por razões de ordem pessoal


(evitar conflitos com outros interessados na partilha dessa herança) ou por
razões de ordem material e económica (para evitar o cumprimento de
encargos ou obrigações decorrentes dessa mesma herança).

O herdeiro que repudia a herança ou o legado é substituído pelos seus


descendentes por direito de representação, no caso de o herdeiro
repudiante ser filho ou irmão do autor da sucessão, no âmbito da sucessão
legal.

Já no âmbito da sucessão testamentária, o herdeiro repudiante é sempre


representado pelos seus descendentes, salvo se o testador tiver disposto de
maneira diferente. (art.º 2062.º e sgtes C.C).

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