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A VOCAÇÃO SUCESSÓRIA
A vocação sucessória é o chamamento, no momento da morte, de
um sucessível, para suceder, desde que reúna os requisitos necessários
ou pressupostos para o efeito.
São três os pressupostos da vocação sucessória:
 A prevalência da respectiva designação sucessória;
 A existência jurídica do chamado e;
 A capacidade sucessória.

A prevalência da respectiva designação sucessória


Não é qualquer chamado que desde logo fica apto para suceder. A
lei é muito exigente na verificação do pressuposto da vocação. A
preferência da posição do sucessível tem de estar em consonância com a
hierarquia dos títulos da vocação sucessória, estabelecida
supletivamente pelo art.º 2133.°, art.º 2157.º, na medida em que a "A
sucessão legal é legítima ou legitimária, conforme possa ou não ser
afastada pela vontade do seu autor”, na disposição injuntiva do art.º
2027.°, todos do Código Civil (CC).
A existência jurídica do chamado
Explicita o art.º 2032.º n.º 1, "Aberta a sucessão, serão chamados
à titularidade das relações jurídicas do falecido aqueles que gozam de
prioridade na hierarquia dos sucessíveis, desde que tenham a necessária
capacidade", acrescentando o art.º 2033.° que:
 "Têm capacidade sucessória, além do Estado, todas as pessoas
nascidas ou concebidas ao tempo da abertura da sucessão, não
exceptuadas por lei".
 - "Na sucessão testamentária têm ainda capacidade":
a) Os nascituros não concebidos, que sejam filhos de pessoa
determinada, viva ao tempo da abertura da sucessão.
b) As pessoas colectivas e as sociedades.
Significa isto dizer, que o chamado deve ter existência jurídica
antes ou no momento da abertura da sucessão, para que seja possível
ver concretizada, em seu favor, uma determinada devolução de relações
jurídicas sucessórias. É este caso, desde logo, de pessoas singulares que
já tenham nascido completamente e com vida art.º 66.º/1 e também o
caso das pessoas colectivas, cujo substrato tenha sido reconhecido pela
entidade competente art.º 158.º CC.
A lei equipara, entretanto, as pessoas nascidas às concebidas ao
tempo da abertura da sucessão art.º 2033.º/l, chamando
concomitantemente a todas as espécies de sucessão. Tal vocação fica,

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porém, dependente da condição legal suspensiva do seu nascimento


completo e com vida art.º 66.º/2, solução esta que se coaduna com o
tratamento geral da figura dos nascituros já concebidos, para as quais,
se admite dominantemente a ideia de que gozam (ainda antes do seu
nascimento) de uma personalidade jurídica limitada ou fraccionária ou
reduzida.
No que respeita à administração da herança, havendo nascituros
concebidos, é uniforme o entendimento de que se aplicam
analogicamente a todas as espécies de sucessão as regras da
administração que, para a sucessão testamentária, se encontrem
estabelecidas art.º 2240.º/2 e art.º 2237.º à art.º 2239.º CC e que
vigoram para generalidade das vocações sob condição suspensiva.
A herança é de acordo com aquelas regras, posta em administração
até que se verifique ou não a condição e a administração dos bens
deixados compete aos pais ou outros representantes legais do concebido.
A partilha da herança, em caso de existência dos nascituros já
concebidos, só se afigura possível após o nascimento ou pelo contrário,
logo que haja a certeza de que não nascerão mais filhos art.º 2237°/1 CC.
Quanto aos nascituros não concebidos no momento da abertura
da sucessão não são chamados a sucessão legal, quer legítima quer
legitimária, apenas permitindo a lei o seu chamamento na sucessão
testamentária (e na sucessão contratual nos ordenamentos onde esta é
admitida) mas ainda só verificados certos pressupostos específicos.
Na verdade, de acordo com a disposição do art.º 2033.º/2, há de se
tratar de "nascituros não concebidos que sejam filhos de pessoa
determinada viva ao tempo da abertura da sucessão". Assim, a vocação
só se afigura possível em favor dos descendentes em primeiro grau (e não
a favor de netos ou outros descendentes) filhos de pessoas determinadas.

A CAPACIDADE SUCESSÓRIA
O último pressuposto da vocação sucessória. Esta consiste na
idoneidade para ser destinatário de uma determinada vocação
sucessória ou ainda a aptidão para ser chamado a suceder, como
herdeiro ou como legatário. A capacidade é a regra. A incapacidade a
excepção.
A regra está definida no art.º 2033.º. As incapacidades estão
previstas nos art.º 2034.º e ss, que estabelece a regra geral da
incapacidade por indignidade e, nos art.º 2166.º e art.º 2167.º CC, a
incapacidade por deserdação.

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Como regra, podemos afirmar que é no momento da abertura da


sucessão que se deve avaliar a existência da capacidade sucessória.
Não havendo regra sem excepção e, sabendo-se que é esta que confirma
a regra, deve ter-se em conta, no entanto, que há causas de indignidade
cujo conhecimento pode surgir só depois da abertura da sucessão art.º
2034.º alínea d) do CC.
Quando assim acontece, haverá uma resolução retroactiva da
vocação: o capaz torna-se incapaz. Quando há uma instituição sujeita
a condição suspensiva, a capacidade deve subsistir também no momento
da condição suspensiva. É o que resulta da disposição do art.º 2035°/2
CC. Admitindo a lei a possibilidade de instituição de herdeiro ou
nomeação de legatário através de disposições condicionais, a termo ou
modais nos arts. 2229.° e ss, art.º 2237.° e estando dependente de
condição suspensiva a instituição de herdeiro ou a nomeação de legatário
será relevante como causa de indignidade do crime cometido até a
verificação de condição.

AS INCAPACIDADES SUCESSÓRIAS
Casos há em que a lei, excepcionalmente, considera certas pessoas,
perante outras, como inidónias para lhes sucederem como herdeiras ou
legatárias, pelo que não lhes atribui legitimidade para serem
destinatários da vocação sucessória relativamente ao património
hereditário dessas outras pessoas.
Isso pode acontecer por legalmente se entender que, pelo seu
comportamento face ao de cuius, determinadas pessoas se tornaram
indignas, socialmente ou de acordo com a vontade presumida do de
cuius, de lhe suceder; ou porque, dadas as particulares relações
existentes entre certas pessoas e o de cuius, a liberdade da disposição
testamentária deste está em si mesma prejudicada.

a) AS INDIGNIDADES SUCESSÓRIAS
As indignidades são situações em que, há um ilícito de um
sucessível praticado contra o autor da sucessão, contra seu cônjuge,
descentente ou ascendente, a lei reage estabelecendo como sanção, a
indignidade de modo que por ilicitude seja afastado da sucessão ou de
modo a evitar o acto ilícito lucrativo para aquele que o praticou.
O art.º 2034.° CC, estabelece os que carecem de capacidade por
motivo de indignidade. Nas diversas alíneas deste artigo, cuja formulação
parece inculcar que é taxativa, encontram-se fixadas as causas de
indignidade sucessória. Em princípio não devem considerar-se
taxativas as tipificações legais.

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Hoje a posição doutrinária dominante, fundamenta


objectivamente a indignidade na repugnância que suscita à consciência
social, o facto de que quem praticou actos graves contra a vida ou honra
do autor da sucessão ou seus familiares ou ainda contra o testamento ou
a liberdade de testar, venha a ser chamado à sucessão ou no caso de já
ter sido anteriormente chamado, a adquirir bens patrimoniais daquele
que de uma maneira ou de outra ofendeu.
EFEITOS DA INDIGNIDADE
Quanto aos efeitos da indignidade há que distinguir entre o que
acontece na sucessão legítima e o que acontece na sucessão
testamentária. E na hipótese da indignidade poder operar no campo da
sucessão legitimária.
No que concerne à sucessão legal e desde que exista direito de
representação, no lugar do indigno serão chamados os seus
representantes, regime previsto expressamente no art.º 2037.º/2, do CC.
Quanto à sucessão testamentária em que na hipótese de
indignidade não existe direito de representação, por força do preceituado
no art.º 2041.° e ainda no citado art.º 2037.°/2 CC "a contrário sensu",
serão chamados em vez do indigno os substitutos ou outros co-herdeiros
testamentários se os houver e gozarem do direito de acrescer ou ainda,
na falta de uns e outros, os herdeiros legítimos do testador.

REABILITAÇÃO DO INDIGNO
O instituto da reabilitação do indigno, está previsto no art.º
2038.°CC. Nos termos deste preceito legal "o que tiver incorrido em
indignidade, mesmo que esta já tenha sido judicialmente declarada,
readquire capacidade sucessória, se o autor da sucessão expressamente
o reabilitar em testamento ou escritura pública", dispõe o art.º 2038.°/l.
Está-se aqui perante a figura da reabilitação expressa.
Não havendo reabilitação expressa, mas sendo o indigno
contemplado em testamento quando o testador já conhecia a causa da
incapacidade, pode ele suceder, dentro os limites de disposição
testamentária, conforme o art.º 2038°/2 CC. Trata-se de uma
reabilitação tácita.
b) A DESERDAÇÃO
A deserdação é outra forma de incapacidade sucessória regulada
nos arts. 2166.º e 2167.º. A diferença essencial entre a deserdação e a
indignidade está, desde logo, no facto de esta operar em todas as formas
de sucessão e aquela apenas operar na sucessão testamentária.

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A deserdação é pois, no texto da lei, um acto através do qual o


autor da sucessão priva da legítima um seu herdeiro legitimário.
Sendo embora da essência da vocação legitimária impor-se à vontade do
"de cuius", verificado que seja algum dos fundamentos específicos na
deserdação, a vontade do autor da sucessão como que "retorna ao seu
império, podendo afastar um sucessível do seu direito à legítima" .
De acordo com o art.º 2166.° CC, "o autor da sucessão pode em
testamento, com expressa declaração da causa, deserdar o herdeiro
legitimário, privando-o da legítima, quando se verifiquem algumas das
ocorrências previstas nas alíneas do referido artigo.
O art.º 2167.° CC admite a acção de impugnação com o
fundamento na inexistência da causa invocada, acção essa que caduca
ao fim de dois anos a contar da data da abertura do testamento. Significa
isto que o legitimário pode, nos limites do prazo estabelecido, impugnar
judicialmente a deserdação, fundamentando-se na inexistência da causa
invocada.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

 DA SILVA, Manuel António Dias, “Direito das Sucessões – Sumários


Desenvolvidos”, Colecção Faculdade de Direito, Universidade
Agostinho Neto;
 DE SOUSA, Rabindranath Capelo, Lições de Direito das Sucessões,
Volume I (4 Edição) e II (3 Edição), Coimbra Editora.
 RODRIGUES, Eduarda, Partilha de Bens no Ordenamento Jurídico
Angolano - Aspectos práticos, Sociedade Poligráfica, SA.
 Constituição da República De Angola;
 Código Civil da República De Angola.

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