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Da hipoteca
Segundo Carlos Roberto Gonçalves, “hipoteca é o direito real de
garantia que tem por objeto bem imóveis e os acessórios dos imóveis
conjuntamente com eles, navios ou aviões pertencentes ao devedor ou
a terceiro e que, embora não entregues ao credor, asseguram-lhe,
preferencialmente, o recebimento de seu crédito”.
A hipoteca tem natureza civil, ainda que garanta dívida comercial.
Terá incidência sempre sobre bens imóveis, sendo possível a
incidência sobre navios e aviões. O objeto hipotecado pode pertencer
ao devedor ou a terceiro, sendo que o credor somente poderá resgatar
o bem em caso de inadimplemento da obrigação, utilizando as vias
judiciais para tanto. Pode ser constituída para a garantia de dívida
futura ou condicionada, desde que determinado o valor máximo do
crédito a ser constituído.
Frisa-se ainda importante ensinamento do artigo 1.421 do Código
Civil, que dispõe que a hipoteca grava o bem em sua totalidade,
portanto, o pagamento parcial da dívida não exonera a garantia. Dessa
forma, enquanto não liquidada, a hipoteca subsiste por inteiro sobre
a totalidade dos bens gravados, salvo disposição em contrário.
Pode-se dizer ainda que a hipoteca tem caráter acessório, pois é
criada para assegurar o adimplemento de uma obrigação principal, e,
adimplida a obrigação, a garantia perde seus efeitos. É também
solene, quando feita na modalidade convencional, devendo ser
validada através de escritura pública.
A hipoteca confere ao seu titular os direitos de preferência e de
sequela. Se o bem for alienado, será transferido ao adquirente com
o ônus da hipoteca que o grava, desde que haja prévio registro. É
direito real oponível erga omnes, o credor pode excutir o bem em
hasta pública para que seja adimplida sua obrigação,
preferencialmente.
Espécies de hipoteca
A hipoteca pode ser classificada em convencional, legal ou judicial.
A espécie convencional se constitui por meio de um acordo de vontades
celebrados entre o credor e o devedor da obrigação principal, podendo
incidir sobre qualquer modalidade de prestação. Abrange todas as
obrigações de caráter econômico, podendo assegurar a entrega do
objeto da prestação ou o pagamento de indenização por perdas e danos.
Vale ressaltar que a hipoteca só será constituída validamente se
preenchidos os requisitos objetivo, subjetivo e formal.
A hipoteca legal, por sua vez, é aquela imposta por força de lei,
dessa forma, não deriva de contrato. É conferida às pessoas elencadas
no artigo 1.489 do Código Civil. A eficácia erga omnes da hipoteca
legal se dará com a especialização, que ocorrerá em juízo, e o
respectivo registro. O procedimento de especialização está regulado
nos artigos 1.205 e seguintes do Código de Processo Civil, e poderá
ocorrer sem a intervenção judicial, quando o interessado for capaz
de contratar, e convenciona-la por meio de escritura pública com o
interessado.
Com relação a hipoteca judicial, como o nome sugere, será constituída
em juízo. Tem origem francesa, e foi idealizada com o fim de conferir
efetividade às decisões judiciais, garantindo que o vencido cumpra
a condenação. Insta salientar que a hipoteca judicial não foi
contemplada no Código Civil de 2002, embora esteja expressamente
prevista no artigo 495 do Código de Processo Civil.
Da pluralidade de hipotecas
É possível que um mesmo imóvel seja gravado por várias hipotecas,
desde que com novo título constitutivo, em favor do mesmo ou de outro
credor, a menos que o título executivo anterior vede isso
expressamente. O valor do prédio deve ser suficiente para garantir
a satisfação dos créditos que a hipoteca busca assegurar. No caso
de pluralidade de hipotecas, o credor primitivo gozará do direito
de preferência.
Cédula hipotecária
A hipoteca cedular, segundo Carlos Roberto Gonçalves, é modalidade
de hipoteca convencional, criada com o intuito de facilitar a
circulação do crédito. O artigo 1.486 do Código Civil permite que
credor e devedor autorizem, no título constitutivo da hipoteca, a
emissão da cédula hipotecária na forma e para os fins previstos em
lei especial. Em outras palavras, a emissão da cédula hipotecária
depende de prévia regulamentação em lei especial, como é o caso do
Decreto-Lei nº167, de 14 de fevereiro de 1967, que instituiu a cédula
hipotecária rural, ou o Decreto-Lei nº 413, de 9 de janeiro de 1969,
que instituiu a cédula hipotecária industrial.
Da extinção da hipoteca
O artigo 1.499 do Código Civil traz em seu texto um rol
exemplificativo de causas que acarretam a extinção da hipoteca, quais
são: a extinção da obrigação principal; o perecimento da coisa; a
resolução da propriedade; a renúncia do credor; a remição e a
arrematação ou adjudicação.
No que tange a extinção da obrigação principal, há extinção da
hipoteca porque esta é acessória, e, seguindo o princípio da
gravitação, o acessório sempre acompanha o principal. Desaparecida
a dívida que estava a garantir, o ônus real se extingue.
Quanto ao perecimento da coisa, trata de causa de extinção inerente
à natureza da hipoteca. Salienta-se que o perecimento precisa ser
total, pois quando for parcial, a garantia permanecerá sobre a parte
remanescente.
Sobre a resolução da propriedade, admite-se que seja dado em garantia
imóvel cuja propriedade seja resolutiva ou sujeita a termo, desde
que o credor aceite. O credor que aceita assume o risco. Nesses casos
a hipoteca será extinta por via direta, persistindo ainda a obrigação
principal, mas sem a garantia real.
No que tange a renúncia do credor, esta deve ser sempre expressa. O
credor renuncia o ônus real, não a obrigação principal. Dessa forma,
o credor torna-se quirografário. A hipoteca legal é irrenunciável,
em regra.
Quanto a remição, pode ser efetuada pelo credor da segunda hipoteca,
pelo adquirente do imóvel hipotecado, pelo executado, seu cônjuge,
descendente ou ascendente. Resgatado o imóvel por essas pessoas,
deixa de existir o ônus real.
O ônus real se extinguirá também quando houver arrematação ou
adjudicação do imóvel, desde que o credor hipotecário seja notificado
da venda e não compareça para defender o seu direito. É ineficaz a
venda sem a intimação do credor. Realizada a praça de forma válida,
o arrematante ou adjudicante irá receber o imóvel livre de qualquer
ônus.
A extinção pode se dar também pela averbação do cancelamento no
Registro de Imóveis, conforme preleciona o artigo 1.500 do Código
Civil.
Pode ocorrer a extinção ainda por consolidação da propriedade, quando
credor se torna dono do imóvel; pela perempção legal, quando a
hipoteca completa trinta anos e então se extingue, fazendo surgir
uma nova em seu lugar; ou pela a anulação em virtude de fraude contra
credores.
Conclusão
A crise nos Estados Unidos se deu quando os bancos passaram a
oferecer empréstimos a juros baixos para a população financiar a
compra de imóveis, mesmo para aquelas que não teriam condições
financeiras de quitá-los. O aumento da procura por imóveis acarretou
em a alta dos preços, e a consequência disso foi o surgimento de uma
bolha imobiliária, já que as pessoas financiavam imóveis a preço
muito acima do que eles valiam. Quando os bancos passaram a aumentar
a taxa de juros dos empréstimos, muitas pessoas não conseguiram mais
pagar as parcelas e, com isso, os bancos não tinham mais dinheiro
para realizar operações.
O home equity, operação de crédito realizada pela personagem e
hipoteca propriamente dita, segue linha de raciocínio parecida. A
diferença é que nele a pessoa dá o imóvel em garantia e o banco
concede empréstimos de altos valores, entretanto, o imóvel dado em
garantia permanece na propriedade do devedor, só podendo ser
requisitado pelo credor quando houver inadimplemento, devendo
realizar então hasta pública, pois não tem direito de uso e gozo
sobre o imóvel.
Com efeito, ao observar o desfecho da história, percebe-se que a
hipoteca no direito norte americano e no direito brasileiro guardam
muitas semelhanças, pois são direitos reais de garantia, onde a
pessoa vincula um bem imóvel de sua propriedade para a satisfação
de um crédito e, vencida e não paga a dívida, esse bem será penhorado
e levado a leilão.
Apesar de muito comum nos EUA, no Brasil, a hipoteca vem perdendo
espaço para a alienação fiduciária de bem imóvel, pois neste, o
imóvel dado em garantia fica na propriedade do credor e na posse do
devedor. Há diferença também no procedimento de execução, pois o
credor, possuidor indireto do bem, pode reivindicar o imóvel por
vias extrajudiciais, o que a torna muito mais célere do que na
execução da hipoteca. Ressalta-se ainda que, na alienação fiduciária
de bem imóvel, não há concorrência com demais credores, justamente
porque o bem dado em garantia deixou de fazer parte do patrimônio
do credor.
Referências Bibliográficas
- Direito Civil Brasileiro, Carlos Roberto Gonçalves, Vol. 5 -
Direito das coisas, 15º edição, Editora Saraiva.
- Manual de Direito Civil, Flávio Tartuce, Vol. Único, 9º edição,
Editora Gen Jurídico.
- Link do episódio: https://goyabu.com/videos/47472/