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Ponto 3: As fontes das obrigações. Ponto 4: Distinção entre Direitos Reais e Direitos
Obrigacionais. Ponto 7: Das Obrigações, segundo a natureza do objeto - Obrigação de
dar, coisa certa e coisa incerta - Obrigação de restituir. Cláusula de escala móvel

Antunes Varela, Direito das Obrigações. Forense, 1977, págs 113 a 118.

Orlando Gomes. Obrigações. Págs. 33 a 42.

=► Fontes das Obrigações

- Definição: diz-se fonte da obrigação o fato jurídico donde brota o vínculo obrigacional.

- Tipos de fontes: contratos, negócios unilaterais (ex.: testamento) e os atos ilícitos (danos
provocados, furto, injúria, etc.). São as chamadas fontes mediatas, ou seja, as condições
determinantes do nascimento das obrigações.

- Fonte geral: lei. É, na verdade, a fonte imediata, isto é, a causa eficiente das obrigações.

- Antiga doutrina: contratos, quase-contratos, delitos e quase-delitos. Atribui-se a origem


ao Direito Romano, tendo sido retomada por Pothier, no Code Napóleon, que a elas
acrescentou a lei.

- Quase-Contratos: são os fatos voluntários lícitos, dos quais resulta uma obrigação de uma
pessoa perante outra, apesar de não haver entre as partes um acordo de vontades como nos
contratos. (art. 1371 do Código Civil francês). Crítica: figuras residuais, situações
heterogêneas entre as quais a gestão de negócios e o pagamento indevido, que não conduzem
a um conceito comum.

- Delitos: são os fatos ilícitos extracontratuais, praticados com dolo.


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- Quase-delitos: são os fatos ilícitos extracontratuais, praticados com mera culpa.

- Classificação Analítica: vinculada à solução dada pelo Código Civil Italiano. Refere-se ao
contrato, ao ato ilícito e a um terceiro grupo residual, uma categoria em branco (ex.:
pagamento indevido, declaração unilateral de vontade, enriquecimento sem causa, abuso de
direito e certas situações de fato).

- Outras definições analíticas:

- contrato, vontade unilateral, ato ilícito, enriquecimento sem causa e lei (Colin
e Capitant);

- ato jurídico, ato ilícito, enriquecimento sem causa e lei (Josserand);

- Contrato e ato ilícito (Von Thur);


- Contrato e lei (Marcel Planiol);
- Vontade e lei (Caio Mário).

- Classificação Sintética: divisão quanto aos fatos voluntários, dividindo-os em negócios


jurídicos (contratos, negócios unilaterais, promessas unilaterais e atos coletivos); e atos
jurídicos não-negociais (atos jurídicos “stricto sensu”, atos ilícitos, abuso de direito,
acontecimentos naturais, fatos materiais [ex.: proximidade de duas coisas, como na
vizinhança]; situações especiais [parentesco próximo]).

- Negócios Jurídicos: constitui a fonte mais abundante de obrigações. São contraídos


intencionalmente, agindo na esfera da autonomia privada.

- Fatos constitutivos de obrigações negociais: a) contratos; b) atos coletivos; c)


negócios unilaterais (ex.: testamento); d) promessa unilateral (situação em que o
ordenamento jurídico admite que alguém se obrigue declaração unilateral).
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- Atos ilícitos e abuso de direito: questões vinculadas à responsabilidade civil e ao abuso de


direito (exercício anormal de um direito geradora de pretensão àquele prejudicado – art. 187
do Código Civil).

=► Distinção entre os direitos de crédito e os direitos reais


Antunes Varela, Direito das Obrigações, págs. 32 a 52.

- Para DEMOGUE, não haveria diferenciação, distinguindo-se tais direitos pela intensidade
(direitos fracos e direitos fortes).

- Obrigações:

a) têm eficácia relativa: apenas se dirige contra a pessoa adstrita à realização


desta, não vinculando terceiras pessoas.

b) têm por objeto uma prestação de outrem: são direitos que necessitam da
colaboração ou participação de alguém entre o credor e o objeto da prestação, que é
justamente o devedor ou o obrigado.

c) podem ser livremente constituídas pelas partes: vigora o princípio da


autonomia da vontade. As partes gozam de liberdade negocial. Vigora o princípio da
atipicidade, no que respeita à fonte das obrigações.

- Direitos reais:

a) Quer se trate de direitos reais de gozo, ou de direitos reais de garantia, têm


eficácia absoluta, valendo erga omnes.

- Daí decorrem duas conseqüências importantes:


I) o direito de seqüela ou de seguimento (droit de suíte),
consistindo no poder que o titular tem de exercer o seu direito, seguindo
ou perseguindo a coisa, onde quer que ela se encontre, ou seja, mesmo
na posse de terceiros;
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II) o direito de preferência, que consiste no poder atribuído ao


titular de afastar todos os direitos incompatíveis com o seu, que
posteriormente se tenham constituído sobre a mesma coisa. Assim,
quando sobre a mesma coisa se constituírem dois ou mais direitos reais
incompatíveis entre si, o primeiro em data prevalece sobre todos os
outros.

- Duas derrogações da regra: eficácia do registro e créditos


privilegiados.

b) O titular exerce imediatamente seus poderes sobre a coisa, sem a


necessidade da colaboração de outrem. Incide sobre os terceiros um dever geral de
abstenção, reflexo da obrigação passiva universal.

c) No regime jurídico das coisas vigora, pelo contrário, o princípio da tipicidade


ou do numerus clausus.

- As pessoas só podem constituir os direitos reais previstos em lei.

- Figuras Híbridas:

Obrigações reais: há uma obrigação real sempre que o dever de prestar


vincule quem for titular de um direito sobre determinada coisa, sendo a prestação
imposta precisamente por causa dessa titularidade da coisa. Ex.: a obrigação imposta
ao condômino de concorrer para as despesas de conservação da coisa comum; o
encargo que recai sobre os donos de frações ideais dos condomínios; a obrigação de os
proprietários de imóveis confinantes de concorrem para as despesas de construção e
conservação dos tapumes divisórios.

- Na obrigação real, a substituição do titular passivo opera-se por via indireta,


com a aquisição do direito sobre a coisa a que o dever de prestar se encontra ligado.

- O titular da coisa só responde, em princípio, pelos vínculos constituídos na


vigência do deu direito.

Ônus reais: são verdadeiras obrigações, no geral de prestação periódica ou


reiterada, que recaem sobre o titular de determinada coisa, e que, uma vez
constituídas, ficam ligadas à coisa.
- Raízes no direito feudal.
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- Tal como nas obrigações reais, também nos ônus reais a obrigação recai sobre
quem for o titular de determinada coisa (imóvel ou móvel).

- No ônus real, o titular da coisa responde mesmo pelo cumprimento de


obrigações constituídas antes da aquisição de seu direito.

- Ex.: constituição de renda.

- Para que haja um ônus real, e não um simples direito real de garantia (como a
hipoteca ou o privilégio creditório especial), é essencial que o titular da coisa seja
realmente devedor, sujeito passivo de uma obrigação, e não apenas dono ou possuidor
de certa coisa cujo valor assegura o cumprimento da dívida alheia.

- Obrigações com eficácia real: as obrigações gozam de eficácia real quando,


sem perderem o seu caráter essencial de direitos a uma prestação, se transmitem, ou
são oponíveis a terceiros, que adquiram direito sobre determinada coisa.

Ex.: locação, quando oponível ao terceiro adquirente da coisa locada; e do


direito do compromissário comprador, no caso do compromisso de venda levado ao
registro.

Distinções com outras figuras:

Dever jurídico: é a necessidade que corre a todo indivíduo de observar ordens ou comandos
do ordenamento jurídico, sob pena de incorrer numa sanção, como o dever universal de não
perturbar o exercício do direito do proprietário.

Sujeição: é a necessidade de suportar as conseqüências jurídicas do exercício regular de um


direito potestativo, tal como é o caso do empregado ao ser dispensado pelo empregador.

Ônus jurídico: é a necessidade de agir de certo modo para tutela de interesse.


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Ponto 7: Das Obrigações, segundo a natureza do objeto - Obrigação de


dar, coisa certa e coisa incerta - Obrigação de restituir. Cláusula de
escala móvel.

Antunes Varela, Direito das Obrigações, págs. 70 e seguintes.


Orlando Gomes, Obrigações, págs. 43 a 53.
Maria Helena Diniz. Curso de Direito Civil. Vol. 2, págs. 69 a 95.

- Objeto da prestação: é a prestação debitória. É a ação ou omissão a que o devedor fica


adstrito e que o credor tem o direito de exigir.

- No mais das vezes, a prestação consiste numa ação, numa atividade do devedor. Mas pode
também se referir a uma abstenção ou omissão (ex.: não-concorrência, obrigações de
vizinhança).

São três os modos da conduta humana que podem ser objeto de prestação: dar, fazer ou não-
fazer.

- Distinguem-se as obrigações de dar – que consiste na obrigação da transferência do


domínio ou de algum de seus direitos reais. Não constituir a transferência da propriedade,
mas sim constituir direito pessoal – daquelas de entregar ou restituir, que não significa a
transferência do domínio, mas apenas proporcionar o uso, a fruição ou a posse direta da
coisa.
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- Requisitos exigidos em lei para sua existência e validade: deve ser


- possível: se o objeto for impossível, faltará objeto à obrigação.

- A impossibilidade pode ser originária, que é aquela existente ao


tempo em que se constituiu a obrigação. Priva a obrigação de objeto. Não impede que
a relação se constitua validamente, uma vez que uma obrigação originalmente
impossível pode se tornar possível.

- Pode ser superveniente, que ocorre após ter sido formado o


vínculo. Nesse caso, o vínculo é modificado ou extinto.

- Pode ser a impossibilidade objetiva, que é aquela que existe para


todos. Constitui obstáculo para a validade da obrigação.

- Subjetiva, existe apenas em relação àquele que se quis obrigar.

- O requisito da possibilidade da prestação só não se atente quando a


impossibilidade for originária, objetiva e total.

- Pode haver a prestação de coisa futura, que é a que tem por objeto coisa
ainda não existente ao tempo da constituição da obrigação, mas que as partes contam
venha que venha a existir ou que possa a vir a existir depois desse momento.
- lícita: nelas, devem ser consideradas as prestações em si mesmas. Há
obrigações ilícitas em sua causa, que contém prestações lícitas (ex.: pacto sucessório).

- A prestação é ilícita quando contraria a ordem pública, os bons costumes ou


as normas imperativas. Não é preciso que constitua delito, podendo se referir a
proibições particulares.

- determinável. A obrigação deve ser determinada (as chamadas obrigações


de dar coisa certa) ou, ao menos, determinável (as obrigações de dar coisa incerta).
Em regra, as obrigações determináveis compreendem bens que podem ser substituídos
por outro da mesma espécie, qualidade e quantidade (ex.: o testador deixa a B um de
seus cinco cavalos, à escolha do legatário ou de terceiros).
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- Espécies:

- Consideradas quanto ao seu objeto, as obrigações podem ser:

- positivas, que são aquelas que consistem em um ou em vários atos do


devedor.
- Constituem objeto das obrigações de dar e de fazer.

- Subdividem-se nas obrigações de coisas, que consistem


na entrega de um bem, que é o seu objeto imediato, sendo a coisa propriamente dita o
seu objeto mediato (ex.: compra e venda, locação, comodato); e nas obrigações de
fatos, que consistem na atividade pessoal do devedor. São as obrigações de fazer.

- negativas. Constituem objeto das obrigações de não-fazer.

- Consideradas quanto ao seu modo de execução, classificam-se em obrigações


instantâneas, que são aquelas que se realizam de uma só vez, em determinado momento,
como a entrega de uma coisa; e contínuas, que são as prestações cuja execução compreende
uma série de atos e de abstenções. Quando a obrigação se desdobra em prestações repetidas,
o contrato de que se origina denomina-se contrato de execução continuada ou de trato
sucessivo.

- Consideradas sob a sua composição, dividem-se em prestações únicas e múltiplas. Essas


últimas são objeto das obrigações cumulativas e alternativas.

- Analisadas sob o aspecto da atividade do devedor, são simples, que são aquelas destinadas
à produção de efeito único, tais como o pagamento de uma dívida contraída por empréstimo;
ou complexas, que ocorrem quando a atividade do devedor se desenvolve mediante diversas
ações.

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