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A MORALIDADE SUBJETIVA EM HEGEL

Nelson Ferreira dos Santos1

RESUMO
Este trabalho apresenta as condições que se apresenta a moralidade
subjetiva de Hegel bem como apresenta as condições em que se deve
imputar uma responsabilidade a um sujeito.
Palavras-chaves: Moralidade subjetiva. Vontade. Responsabilidade moral.

1. INTRODUÇÃO
As deficiências do contrato, porque regidas por duas vontades
contingentes, tornam-se arbitrárias. Essa passagem do direito abstrato para
a moralidade subjetiva, representa uma garantia do contrato.
Este trabalho abrange a passagem do direito abstrato para a
moralidade subjetiva, e procura mostrar as condições em que se pode
imputar uma responsabilidade ao sujeito, mesmo onde suas intenções e
propósitos não visem àquele objetivo.

2. A MORALIDADE
Em Hegel, a moralidade está diretamente associada a vontade,
sendo essa moralidade uma vontade que reflete a si mesma.
“A moralidade representa a internalização do princípio da liberdade a
ser respeitado em relação a todo agir social” (Weber, 79).
A ideia da moralidade implica reconhecimento do outro como sujeito.
O reconhecimento da liberdade do outro é um princípio que cada um deve
reconhecer para si, para que a liberdade se torne universal. O
reconhecimento desta liberdade universal, segundo Hegel, é a forma de
todos atingirem seus objetivos, uma vez que haverá respeito às
subjetividades alheias, e consequente garantia da igualdade de todos
perante o contrato, que não podia ser garantido no direito abstrato.
Nesse sentido, uma ação moral caracterizar-se-á por ser reconhecida
1 Graduando de filosofia da Faculdade Católica de Fortaleza.
Trabalho em exigência da disciplina de Filosofia Social e Política, profa Marly Carvalho
Soares.
E-mail: nelson_santos@hotmail.com
como do agente e ao mesmo tempo em consonância com vontade de todos
os outros.
Se no direito abstrato não entra em consideração os princípios e fins
que guiam o sujeito agente, na moralidade é imprescindível os propósitos e
intenções que movem o indivíduo, de onde passamos da noção de “pessoa
de direito”, para a noção de “sujeito da moralidade” ou “direito da vontade
subjetiva”.
Para Hegel, o ponto de vista moral é o direito da vontade subjetiva,
ou seja, “a vontade só reconhece o que é seu e só existe naquilo em que se
encontra como subjetiva” (PFD, §107). Com isto, a vontade só reconhece o
que é seu.
Logicamente, cabe nos perguntar: onde e quando devemos imputar
uma responsabilidade moral a um sujeito?
Se a livre vontade requer o querer e o saber como condições
fundamentais para o exercício da livre vontade pessoal, somente existirá
responsabilidade quando essas condições estiverem presentes.
Nessa perspectiva, a ação passível de responsabilidade é o que eu
faço de propósito, sabendo dos efeitos possíveis. Como a moralidade é a
vontade que reflete a si mesma, para que ela se reconheça na ação, é
necessário uma exteriorização de uma intenção; a intenção antecipa as
possibilidades dessa ação. Como diz Hegel no §113 “Ação é exteriorização
da vontade como subjetiva ou moral”.
Dessa forma só há responsabilidade quando houver identificação
entre a ação e a intenção, i.e., entre o resultado e o que estava sendo
projetado na intenção.
Essa é uma restrição que Hegel impõe à moralidade, que para Tadeu
Weber, somente será preenchido ligando as normas morais às estruturas
estabelecidas pelo direito. Podemos então, estabelecer uma relação de
identificação entre as condições de responsabilidade moral com as
condições de responsabilidade legal. Onde teremos a situação de que
cumprir o que o direito exige, equivale a agir moralmente.
Nesse contexto, o direito da moralidade restringe as condições da
responsabilidade na sociedade moderna no momento em que faz essa
equivalência das normas morais às normas da legalidade do agir; muito
embora essa equivalência não nos isente de uma profunda dissonância
cognitiva entre essa concepção de moral com as normas jurídicas.
A decisão da vontade livre não pode se restringir as normas jurídicas.
A própria definição de vontade livre requer o novo e o imprevisível, onde o
limite desta vontade livre é a liberdade do outro.
Em resumo, a ação moral para Hegel, inclui os seguintes aspectos:
Deve ser sabida como minha, estar relacionada com o conceito, e estar
referida à vontade dos demais.
A restrição da moralidade é reforçada com a noção de propósito: Um
sujeito só pode ser responsabilizado pelo conteúdo do seu próprio
propósito.
“O direito abstrato ou formal da ação, o seu conteúdo em geral, tal
como é realizado na existência imediata, deve ser meu, deve ter sido
projetado pela minha vontade subjetiva” – PFD §117.
Diante desta conceituação, como culpar alguém por algo que não
podia ser previsto?
Tomando como ponto de partida o sujeito, o direito liberal registra
uma oposição entre a vontade subjetiva (na forma de projeto) e as
decorrências objetivas no que diz respeito à responsabilidade.
“Os fins do particular poderão ser diferentes do fim universal em si e
para si”.
Para vencer esse antagonismo, na intenção, o sujeito percebe
contradições do contexto objetivo, que não se identificam com o “bem-
estar”.
Como o propósito se situa no plano da individualidade, a intenção
quer indicar a necessidade da universalização. A intenção é o propósito
universalizado, diz Hegel.
A ação singular passa a adquirir um conteúdo de proporção
universal. É mediante a intenção que se indica haver uma universalidade
nas ações particulares.
Como não é possível prever certas consequências das minhas
ações, devo pelo menos, “conhecer a natureza universal do ato particular”
(WEBER, 90), ou seja, devo conhecer ou prevê as consequências que o meu
ato pode provocar, nisso consiste a intenção.
E onde devo situar o contingente das ações motivadas pela
intenção?
A ação motivada pela intenção, quase nunca, concorda com a
intenção, sempre é diferente. Assim, a intenção supera e guarda o propósito
e vai além do puro e simplesmente imediato. Nessas condições, podemos
imputar uma responsabilidade ao sujeito, mesmo que ele não quisesse
provocar o resultado, é o que se chama de crime culposo.
Como a vontade natural aparece como refletida e, por isso, elevada
a um fim universal, se reconhece o bem-estar dos outros. O bem-estar dos
outros em particular é também “um fim essencial e um direito da
subjetividade”. PFD - §125.
“Como regra geral prevalece o princípio de que a intenção de
procurar o bem-estar individual e o dos outros, não poderá ser tomado
como motivo para o agir contra o direito” (Weber, 91).
A exceção a essa regra é feita pelo direito de emergência. O direito a
vida é o primeiro direito que possuímos, e diante de circunstâncias onde
esse direito esteja ameaçado, é justo romper as normas jurídicas para
assegurar um direito maior, ou seja, a vida.
“A necessidade do presente imediato pode justificar uma ação
contra o direito (ação injusta)”. PFD §127. Não fazê-lo seria uma injustiça
maior.

3. CONCLUSÃO
Vimos então, que a moralidade como a internalização do princípio da
liberdade, deve respeitar todo o agir social. Devemos respeitar as
subjetividades alheias, reconhecendo o bem-estar dos outros. E nesse
reconhecimento, nosso propósito deve possuir uma intenção universal, a
fim de que o sujeito seja o agente do seu agir e com isso se possa imputar
toda as responsabilidades por seus atos.

4. BIBLIOGRAFIA
HEGEL, G.W.F. Princípios da Filosofia do Direito. São Paulo: Martins
Fontes, 1997.
WEBER, Tadeu. Hegel: liberdade, estado e história. Petropólis: Vozes,
1993.

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