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. Conhecimento é poder:
- Francis Bacon (1561-1626) foi um parlamentar inglês que se destacou como um grande cientista. Ele
acreditava que ciência deveria servir para o progresso e bem-estar das pessoas. Por isso, para ele,
conhecimento é poder.
- Como era típico de sua época, era crítico de Aristóteles e contrário ao silogismo dedutivo, fruto da mera
argumentação abstrata. Para ele, o conhecimento deveria se fundar nas bases sólidas do experimento, do
método indutivo de investigação.
- No Novum Organum, que é sua obra mais conhecida, escreve Francis Bacon: “é preciso considerar ainda a
força, a virtude e os efeitos das coisas descobertas, que não se apresentam tão claramente em outras coisas
como nestas três invenções, que eram desconhecidas para os antigos e cuja origem, embora recente, é obscura
e inglória: a arte da impressão, a pólvora e a bússola. Com efeito, essas três coisas mudaram a situação do
mundo todo, a primeira nas letras, a segunda na arte militar, a terceira na navegação; provocaram mudanças
tão extraordinárias que nenhum império, nem seita, nem estrela parece ter exercido maior influência e
eficácia sobre a humanidade do que essas três invenções.”
- Se Galileu, entre outras coisas, teorizou a natureza do método científico, se Descartes, entre outras coisas,
proporá uma metafísica que influenciou extremamente a ciência, Bacon, por seu turno, foi o filósofo da era
industrial, pois expressou de modo muito eficaz e penetrante a influência das descobertas científicas sobre o
delineamento da vida do homem, com as consequências que delas derivam.
- Junto com Descartes, é um dos fundadores da filosofia moderna graças a sua defesa do método
experimental. BACON TAMBÉM É CONSIDERADO UM DOS FUNDADORES DA CIÊNCIA
MODERNA E DO EMPIRISMO. No Novo Organon, ele tenta substituir o organon aristotélico e em Nova
Atlântida, ele apresenta uma comunidade de doutos e de cientistas. Ciência e poder coincidem.
. Exposição e justificação das regras do novo método: segunda fase do Novum Organum
- Uma vez purificada a mente dos ídolos e fixado o verdadeiro escopo do saber no conhecimento das formas
da natureza, o método para alcançar tal escopo se compõe de dois procedimentos:
-- 1) extrair os axiomas da experiência;
-- 2) derivar experimentos novos dos axiomas.
- Os axiomas são tirados da experiência mediante a “indução por eliminação da hipótese falsa”, que suplanta
a “indução tradicional de tipo aristotélico”, conduzida por simples enumeração de casos particulares. A
“indução por eliminação” é precedida de uma importante classificação que registra:
-- a) nas “tábuas de presença”, todos os casos em que o fenômeno indagado se apresenta;
-- b) nas “tábuas da ausência”, os casos afins aos precedentes em que, porém, o fenômeno não se apresenta;
-- c) nas “tábuas dos graus”, todos os casos em que o fenômeno se apresenta segundo maior ou menor
intensidade.
--- Exemplo: se pesquisamos a natureza do calor, devemos inicialmente compilar:
---- 1) tábua de presença, onde registramos todos os casos ou instâncias em que se apresenta o calor: “1) os
raios do sol, sobretudo no verão e ao meio-dia; 2) os raios do sol refletidos e reunidos em pequeno espaço,
como entre montes, entre muros ou, mais ainda, nos espelhos ustórios (que queima, que facilita a combustão);
3) os meteoros incandescentes; 4) os relâmpagos ardentes; 5) erupções de chamas das crateras dos montes etc.;
6) toda chama; 7) sólidos em fogo; 8) as águas quentes naturais; (...); 18) a cal viva, borrifada de água (...);
20) os animais, sobretudo e sempre nas entranhas etc.”
---- 2) compilada a tábua da presença , procede-se à compilação da tábua das ausência, na qual são registrados
os casos próximos, isto é, afins, aos anteriores, nos quais, porém, o fenômeno, em nosso caso o calor, não se
apresenta: é o caso dos raios da lua (que são luminosos como os do sol, mas não são quentes), dos fogos-
fátuos, do fogo-de-santelmo (que é fenômeno de fosforescência marinha) e assim por diante;
---- 3) concluída a tábua da ausência, passa-se à compilação da tábua dos graus, na qual são registrados todos
os casos ou instâncias em que o fenômeno se apresenta segundo uma intensidade maior ou menor. Em nosso
caso, deve-se atentar para a variação do calor no mesmo corpo, colocado em ambientes diversos ou em
condições particulares.
- Depois da compilação das três tábuas, começa a operação de verdadeira e própria exclusão ou eliminação
das hipóteses falsas de explicação do fenômeno, até que se chegue a uma primeira vindima / colheita (das três
tábuas se extrai a primeira vindima), isto é, a uma primeira hipótese coerente com os dados expostos nas três
tábuas e avaliados por meio do processo seletivo de exclusão.
- A primeira vindima é assumida depois como hipótese guia para a pesquisa posterior. Chegando à primeira
colheita, Bacon toma essa primeira hipótese como guia para a pesquisa posterior, que consiste na dedução e
no experimento, no sentido de que, da hipótese obtida, devem-se deduzir os fatos por ela implicados e
previstos, experimentando em condições diversas se tais fatos implicados e previstos pela hipótese se
verificam. Desse modo se constrói uma espécie de rede de investigação, da qual parte toda uma série de
“interrogações” a que a natureza é forçada a responder.
- Com tal objetivo, Bacon cogita um conjunto rico de técnicas experimentais (ou de instâncias prerrogativas),
por ele indicadas com nomes muito fantasiosos (instâncias solitárias; instâncias migrantes; instâncias
ostensivas; instâncias clandestinas; instâncias constitutivas; instâncias conformes ou proporcionais; instâncias
monádicas; instâncias desviadoras etc.), entre as quais destacam-se particularmente as “instâncias da cruz”
assim chamadas “por metáfora extraída das cruzes colocadas nos caminhos para indicar uma bifurcação”.
- A estratégia do experimentum crucis se dá “quando, durante a pesquisa de uma natureza, o intelecto está
incerto e como que em equilíbrio no decidir sobre a qual de duas naturezas, ou mais de duas, deve ser atribuída
a causa da natureza examinada; pelo concurso frequente e ordinário de várias naturezas, as instâncias cruciais
mostram que o vínculo de uma dessas naturezas com a natureza dada é constante e indissolúvel, ao passo que
o das outras é variável e separável. Assim, a questão resolve-se, e é acolhida como causa a primeira natureza,
enquanto a outra é rejeitada e repudiada”. E Bacon comenta: “Tais instâncias trazem portanto muita luz e
apresentam uma como que forte autoridade, de modo que, algumas vezes, chegando a elas, nelas se detém o
processo de interpretação”.
- Enfim, da “primeira colheita”, Bacon toma-a como guia para a pesquisa posterior, deduzindo os fatos que
ela implica e experimentando se tais fatos se verificam também em condições técnicas experimentais (ou
instâncias prerrogativas), entre as quais assumem particular releva as instâncias da cruz. Bacon buscava unir
a faculdade experimental e a faculdade racional.
. O nominalismo de Berkeley:
- Esta é, portanto, uma forma de nominalismo bastante acentuada. Em suma: nós conhecemos somente ideias;
estas coincidem com as impressões dos sentidos; as impressões dos sentidos são sempre singulares, ou
seja, concretas e individuais.
- Consequentemente, a teoria lockiana da abstração está equivocada; e trata-se de um erro grave, pois gera
a ilusão de que existem substâncias, essências ou, de todo modo, coisas para além das nossas percepções,
como substratos delas.
- Na realidade, as ideias abstratas são ilusões; toda ideia é particular. E só quando tomamos uma ideia
particular e a usamos para representar todas aquelas ideias que a ela se assemelham é que, então, chamamos
tal ideia particular de geral.
- Mas uma ideia geral não é de modo algum uma ideia abstrata, isto é, uma ideia que deveria prescindir
de cada uma e de todas as características perceptíveis por nossos sentidos. Nós não conhecemos o
“homem” mas apenas este ou aquele homem; não conhecemos a “extensão”, mas sempre esta ou aquela coisa
extensa; não conhecemos a “casa”, mas sempre esta ou aquela casa e assim por diante.
- A realidade é que, de quando em vez, nós temos sensações distintas, concretas e individuais, que,
apresentando-se constantemente juntas, fazem emergir a ideia de casa, de homem, de rio ou de extensão.
- As ideias abstratas, portanto, devem ser rejeitadas porque alimentam a crença em substâncias existentes
independentemente de nossas sensações e que constituiriam suas causas.
- Aí está a razão daquela “estranhamente difundida opinião” de que “as casas, as montanhas, os rios, em suma,
todos os objetos sensíveis têm uma existência, real ou natural, distinta do fato de serem percebidos pelo
intelecto”, enquanto, na realidade, cada uma destas coisas existe apenas enquanto é percebida.
- Admitindo que todo o nosso conhecimento consiste de sensações, torna-se evidente que o critério para
dizer se uma coisa existe é que ela seja percebida. Não há percepção a partir do nada. Nós só percebemos
nossas ideias ou sensações.
- Portanto, é vão falar de cópias materiais que estão além de nossas percepções. Como também é vão falar de
substâncias não perceptíveis expressas por ideias abstratas, substâncias que constituiriam o substratum das
nossas sensações. Nosso conhecimento é feito de sensações; a mente percebe sensações e as combina. Não vai
além delas, nem pode ir.
. A crítica do materialismo:
- Igualmente errônea e perigosa é a distinção entre qualidades primárias e qualidades secundárias,
porque a ela está ligada a ideia de uma matéria distinta e existente independentemente do espírito que a
percebe.
- Diz Berkeley: “Com as primeiras, (alguns) indicam a extensão, forma, o movimento, a quietude, a solidez ou
impenetrabilidade e o número; com as segundas, denotam todas as outras qualidades sensíveis, como as cores,
os sons, os sabores etc.”
- Esta ideia deve ser combatida também porque está na base do materialismo e do ateísmo, dado que,
uma vez admitida a existência da matéria, a consequência é reconhecê-la como infinita, imutável e eterna.
- Assim, caindo a distinção entre qualidades primárias e secundárias, desmorona e se revela inteiramente
privada de sentido também a ideia de substância material, isto é, a ideia da matéria como substratum, que
sustentaria seu “acidente” da extensão.
. Conhecimento humano:
- O conhecimento resulta de duas “coisas” totalmente distintas e heterogêneas: OS ESPÍRITOS, que são
substancias ativas, indivisíveis, incorruptíveis e AS IDEIAS, que são paixões inertes, transitórias, perecíveis,
isto é, entidades dependentes das substancias espirituais.
- O espírito é propriamente o sujeito que percebe as ideias, as quais não podem existir a não ser em uma mente
que as percebe; ora, todas as ideias nada mais são que sensações e nossos sentidos nos informam apenas das
sensações, mas de modo nenhum da existência de coisas fora da mente: portanto, não existe nada fora daquilo
que é percebido pelo espírito.
. Impressões e ideias:
- Todos os conteúdos da mente humana são PERCEPÇÕES que se dividem em duas classes: impressões
e ideias.
- IMPRESSÕES: a primeira classe diz respeito à força ou vivacidade com que as percepções se apresentam à
nossa mente; se apresentam com maior força e violência (sensações, paixões e emoções quando aparecem na
mente pela primeira vez): “ter impressões” significa sentir;
- IDEIAS: a segunda diz respeito à ordem e a sucessão temporal com que elas se apresentam; as imagens
enfraquecidas que a memória produz a partir das impressões: “ter ideias” significa pensar.
- Uma consequência dessa distinção é a drástica contração da diferença entre sentir e pensar, que é reduzida
simplesmente ao grau de intensidade: sentir consiste em ter percepções mais vivas (sensações), ao passo que
pensar consiste em ter percepções mais fracas (ideias). Toda percepção, portanto, é dupla: é sentida (de modo
mais vivo) como impressão e é pensada (de modo mais fraco) como ideia. Nós só temos ideias depois de
ter impressões.
- Sobre a questão da “prioridade” de um dos dois tipos de percepção, Hume diz que a impressão é originária
e a ideia é dependente. Daí, portanto, deriva o “primeiro princípio” da ciência da natureza “humana”, que,
formulado sinteticamente, assim se expressa: “Todas as ideias simples provem, mediata ou imediatamente, de
suas correspondentes impressões.” Esse princípio, diz Hume, acaba com a questão das ideias inatas, que
tanto barulho havia ocasionado anteriormente. Nós só temos ideias depois de ter impressões, e somente estas,
são originárias.
. Ideias simples e ideias complexas:
- Existem impressões simples (por exemplo, vermelho, quente etc.) e impressões complexas (por exemplo, a
impressão de uma maçã). Há também as ideias simples e as ideias complexas.
- As impressões complexas nos são dadas imediatamente como tais. Já as ideias complexas podem ser cópias
das impressões complexas, mas também podem ser fruto de combinações múltiplas, que ocorrem de vários
modos em nosso intelecto.
- Com efeito, além da faculdade da memória, que reproduz as ideias, nós também temos a faculdade da
imaginação, capaz de transpor e compor as ideias entre si de vários modos. Ela é uma consequência evidente
da divisão das ideias em simples e complexas. Onde quer que a imaginação perceba uma diferença entre as
ideias, pode realizar uma separação entre elas, e depois operar uma série de outras combinações.
- Mas as ideias simples tendem a se agregar entre si em nossa mente não somente segundo o livre jogo da
fantasia, mas também segundo um jogo bem mais complexo, baseado em alguns princípios que se mostram
conformes em todos os tempos e em todos os lugares.
. Sobre o ceticismo:
- Hume considerava-se um cético moderado (ou mitigado): se é teoricamente útil mostrar que nossos
conhecimentos não têm fundamento racional, não se trata de abandonar as crenças que são úteis à conduta de
nossa vida. Com efeito, em sua opinião, o ceticismo moderado pode beneficiar o gênero humano, visto que
consiste na limitação de nossas investigações aos temas que melhor se adaptam às limitadas capacidades
do intelecto humano.
- No que se refere às ciências abstratas, essas capacidades se restringem ao conhecimento das relações entre
ideias e, portanto, no caso das razões que examinamos, se restringem somente à matemática.
- Todas as outras investigações se referem a dados de fato, suscetíveis de constatação, mas não de
demonstração. Em suma, o que domina todos esses âmbitos é a experiência e não o raciocínio. Assim, as
ciências empíricas baseiam-se na experiência, a moral no sentimento, a estética no gosto e a religião na
fé e na revelação.
- Sendo assim, Hume indaga que quando persuadidos desses princípios, percorrermos os livros de uma
biblioteca, do que devemos nos desfazer? Se pegarmos algum volume, digamos de teologia ou de metafísica
escolástica, por exemplo, devemos nos perguntar: “Será que contém raciocínios abstratos em torno da
quantidade ou do número?” A resposta é não. “Contém raciocínios baseados na experiência e relativos aos
dados de fato ou à existência das coisas?” Também não. Então, devemos jogar todas essas obras às chamas,
já que não pode conter nada mais que tergiversação e engano. Há aqui a crítica de Hume à metafísica: ele
delimita a fronteira do conhecimento humano (geografia humana).
- Essas conclusões céticas podem ser reduzidas a um fundamento único que é a negação da valência
ontológica do princípio de causa e efeito (crítica às causas últimas e às conexões necessárias).
- Apesar de sua refutação ao princípio de causalidade, seria muito fácil mostrar que, na realidade, no mesmo
momento em que o exclui, Hume o está reintroduzindo repetidamente, sem se dar conta disso, para poder
proceder ao seu discurso. Ora, pensemos bem. As impressões são “causadas” pelos objetos, as ideias são
“causadas” pelas impressões, a associação das ideias tem uma “causa”, o hábito é por sua vez “causado” e,
assim, os exemplos, poderiam se multiplicar. Se tivéssemos verdadeiramente de eliminar o princípio de causa,
não só a metafísica ruiria por terra, mas também toda a filosofia teórica e moral de Hume.
INDICAÇÕES DE LIVROS
Sobre Bacon
Novum Organum, de Bacon
Nova Atlântida, de Bacon
Sobre Berkeley
Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano, de Berkeley
Três diálogos entre Hylas e Philonous, de Berkeley
Sobre Hume
Investigação Sobre o Entendimento Humano, de Hume
Tratado da natureza humana, de Hume
Uma Investigação Sobre os Princípios da Moral, de Hume
História natural da religião, de Hume
Ensaios Morais Políticos e Literários, de Hume