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HISTÓRIA E FILOSOFIA DAS CIÊNCIAS NATURAIS

UNIDADE 1
AULA 03 – O nascimento da Física moderna a
partir de Isaac Newton

Prof. DAVI ALMEIDA


ROTEIRO DA AULA 03
3.1 As filosofias de René Descartes e Francis Bacon
3.2 O método científico e a concepção do empirismo
3.3 A ciência moderna de Isaac Newton
FRANCIS BACON (1561-1626)
 A partir da defesa que faz da utilidade do
conhecimento, Bacon preocupa-se com as
noções falsas que, segundo ele, impendem os
sábios de alcançar a verdade e,
consequentemente, de produzir um
conhecimento que servisse verdadeiramente ao
homem, e afirmou a necessidade de um
instrumento (método) para corrigir essas falsas
noções.
 Para Bacon, são de quatro tipos os erros, que o
homem pode cometer ao produzir
conhecimento, se seguir seu impulso natural.
 Ídolos da Tribo: são falhas inerentes à própria natureza
humana, falhas, tanto dos sentidos quanto do
intelecto, comuns a todos os homens. Segundo Bacon,
as percepções são parciais, portanto, não se pode
confiar nas informações fornecidas pelos sentidos,
senão quando corrigidas pela experimentação.
 Ídolos da Caverna: são distorções que se podem
interpor no caminho da verdade em função de
características individuais do estudioso. Estas
distorções são decorrentes de sua história de vida, de
seu ambiente, de sua formação, de seus hábitos, das
leituras que faz, de seu estado de espírito no momento
em que se põe a buscar um determinado
conhecimento, e o farão abordar seu objeto de estudo
a partir de um prisma determinado.
 Ídolos da Foro: são falhas provenientes do uso da
linguagem e da comunicação entre os homens. As
palavras que usamos limitam nossa concepção das
coisas, porque pensamos sobre as coisas a partir das
palavras que temos para exprimi-las. As palavras
assumem o significado que o uso corrente da
linguagem acaba por lhes imprimir e que é,
geralmente, muito vago, impreciso ou parcial.
 Ídolos da Teatro: são distorções introduzidas no
pensamento, advindas da aceitação de falsas teorias,
de falsos sistemas filosóficos.
 Segundo Bacon, a razão da estagnação das ciências
está na utilização de métodos que barram o seu
progresso: não partem dos sentidos ou da experiência,
mas da tradição, de ideias pré-concebidas e se
abandonam os argumentos. O caminho correto para o
avanço das ciências estaria na realização de grande
número de experiências ordenadas, das quais seriam
retiradas os axiomas e, a partir destes, propor-se-iam
novos experimentos.
A DEFINIÇÃO DO MÉTODO INDUTIVO, SEGUNDO FRANCIS
BACON:
 A indução é, pois, um processo de eliminação que nos
permite separar o fenômeno que buscamos conhecer –
e que se apresenta misturado com outros fenômenos
na natureza – de tudo o que não faz parte dele. Esse
processo de eliminação envolve não só a observação,
a contemplação do fluxo natural dos fenômenos, como
também a execução de experiências em larga escala,
isto é, a interferência intencional na natureza e a
avaliação dos resultados dessa interferência.
 Caberia ainda ao processo indutivo multiplicar e
diversificar as experiências, alterando as condições de
sua realização, repeti-las, ampliá-las, aplicar os
resultados; verificar as circunstâncias em que o
fenômeno está presente, circunstâncias em que está
ausente e as possíveis variações do fenômeno.
Método Dedutivo (Racionalismo) – o método dedutivo parte de
leis gerais para explicar casos particulares. Ex: “Todos os
homens são mortais, logo, João que é homem, ele é mortal”.
Método Indutivo (Empirismo) – o método indutivo parte de
observações de casos particulares para depois elaborar uma lei
geral. Ex: após observar que muitas aves possuem penas,
podemos chegar a conclusão geral de que todas as aves
possuem penas.
RENÉ DESCARTES
(1596–1650)
OS PRÍNCIPIOS
MATEMÁTICOS DO MÉTODO
RENÉ DESCARTES (1596–1650)
Descartes enuncia quatro preceitos metodológicos no
“Discurso do Método”, publicado em 1637:
 “O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como
verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal;
isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção,
e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão
clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse
nenhuma ocasião de pô-la em dúvida.
 O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu
examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas
necessárias fossem para melhor resolvê-las.
 O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos,
começando pelos objetos mais simples, e mais fáceis de
conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o
conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma
ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos
outros”.
OS PRÍNCIPIOS MATEMÁTICOS DO MÉTODO
“E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão
completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de
nada omitir”.
 PARA A CONCEPÇÃO CARTESIANA SOBRE O MÉTODO –
deveríamos, ao invés de observar a natureza e partir em
busca das causas dos fenômenos com os dados de
observação, assumir que a elaboração de relações
causais dar-se-á por deduções racionais em que,
partindo-se de princípios gerais, chegar-se-ia às suas
decorrências ou efeitos. À experiência (observação e
experimentação) caberia, portanto, o papel de confirmar
as possíveis “suposições” deduzidas dos princípios
gerais.
HISTÓRIA E FILOSOFIA DAS CIÊNCIAS NATURAIS

UNIDADE 1
AULA 03 (continuação) – O nascimento da Física
moderna a partir de Isaac Newton

Prof. DAVI ALMEIDA


JOHN LOCKE
(1632–1704)

A EXPERIÊNCIA COMO
CRITÉRIO E BASE DO
CONHECIMENTO.
A EXPERIÊNCIA COMO CRITÉRIO E BASE DO CONHECIMENTO.
A experiência é erigida em critério e base do conhecimento. Ao
enfatizar dessa forma a experiência, Locke a um só tempo se
afasta do cartesianismo e prepara a chamada filosofia crítica de
David Hume. Afasta-se do racionalismo cartesiano e o nega por
destronar a pura reflexão como critério de verdade, e por
introduzir em seu lugar como critério e fonte do conhecimento, não
princípios dogmáticos, mas a experiência do mundo sensível e as
ideias que daí decorrem e que não mais poderão ser ideias inatas.
Prepara uma filosofia crítica e centrada no problema do
conhecimento, ao erigir o homem no objeto privilegiado de suas
preocupações, ao discutir os processos de que esse homem se
utiliza para produzir ideias sobre o mundo, ao anunciar a
impossibilidade do conhecimento de verdades essenciais, ao
reduzir o conhecimento científico ao conhecimento dos fenômenos
pela via da percepção, e ao erigir a experiência em critério de
verdade do conhecimento humano.
Os historiadores passaram a ver Newton como um ponto-
limite: a “culminação” e o “apogeu” de um episódio nos
acontecimentos humanos convencionalmente chamado de
Revolução Científica. Então esse termo começou a exigir
explicações ou aspas. Ambivalência é um termo adequado,
para se falar de momento decisivo no desenvolvimento da
cultura humana, o momento em que o racional triunfou
sobre o irracional. A Revolução Científica é uma história,
uma estrutura narrativa estabelecida tardiamente. No
entanto, ela existe e existiu, não só na visão retrospectiva
dos historiadores, mas na consciência de um pequeno
número de pessoas na Inglaterra e na Europa do século XVII.
Eram, como pensavam, sábios. Viam algo novo no domínio
do conhecimento; tentavam expressar a novidade;
inventaram as academias e sociedades e abriram os canais
de comunicação para promover a ruptura com o passado,
sua nova ciência.
Nós consideramos a Revolução Científica uma
epidemia, espalhando-se pelo continente europeu
durante dois séculos: “Ela viria a pousar na
Inglaterra, na pessoa de Isaac Newton”, disse o
físico David Goodstein. “No entanto, a caminho do
norte, ela faria uma breve parada na França”. Ou
uma corrida de revezamento, disputada por uma
equipe de heróis que sempre passavam o bastão
para o que estava na frente: COPÉRNICO para
KEPLER, KEPLER para GALILEU, GALILEU para
NEWTON. Ou a derrubada e destruição da
cosmologia aristotélica: uma visão de mundo que
cambaleava diante das investidas de Galileu e
Descartes e que finalmente expirou em 1687, quando
Newton publicou um livro.
“No início do ano de 1665, descobri o método de aproximação a uma
série desse tipo e a regra para reduzir qualquer potência de
qualquer binômio a tal série. No mesmo ano, em maio, descobri o
método das tangentes de Gregory e Slusius e, em novembro, obtive
o método direto das fluxões, e no ano seguinte, em janeiro, a teoria
das cores, e em maio seguinte desvendei o método inverso das
fluxões. E, no mesmo ano, comecei a pensar na gravidade como se
estendendo até a órbita da Lua e (depois de descobrir como
calcular a força com que [um] globo girando dentro de uma esfera
pressiona a superfície da esfera), a partir da regra de Kepler de que
os períodos dos planetas estão numa proporção sesquiáltera com
suas distâncias do centro de suas órbitas, deduzi que as forças que
mantêm os planetas em suas órbitas devem [varia],
reciprocamente, como o quadrado de sua distância do centro em
torno do qual eles giram: e a partir disso, comparei a força
necessária para manter a Lua em sua órbita com a força da
gravidade na superfície da Terra, e descobri que elas se
correspondem bem de perto. Tudo isso foi nos dois anos da peste,
1665-1666. Pois, nessa época, eu estava no auge de minha fase de
invenção e me interessava mais pela matemática e pela filosofia do
que qualquer ocasião posterior”.
LEIS DO MOVIMENTO DE NEWTON
Lei da Inércia (1ª lei): “Todo corpo permanece em seu
estado de repouso ou de movimento uniforme em linha
reta, a menos que seja obrigado a mudar seu estado por
forças impressas nele”.
Lei Fundamental (2ª lei – F = m.a): “A mudança do
movimento é proporcional à força motriz impressa, e se
faz segundo a linha reta pela qual se imprime essa força”.
Lei da Ação e Reação (3ª lei): “A uma ação sempre se
opõe uma reação igual ou seja, as ações de dois corpos
um sobre o outro sempre são iguais e se dirigem a partes
contrárias”.
O MÉTODO NEWTONIANO
A maneira de Newton proceder para chegar às suas
proposições poderia ser assim resumida: partir de
fenômenos observáveis sem interpor hipóteses a não ser as
que podem ser derivadas diretamente dos dados.
“Como na matemática, assim também na filosofia natural, a
investigação de coisas difíceis pelo método de análise deve
sempre preceder o método de composição. Esta análise
consiste em fazer experimentos e observações, e em traçar
conclusões gerais deles por indução, não se admitindo
nenhuma objeção às conclusões, senão aquelas que são
tomadas dos experimentos, ou certas outras verdades”.
O MÉTODO NEWTONIANO
“Pois, as hipóteses não devem ser levadas em conta em
filosofia experimental. E apesar de que a argumentação de
experimentos e observações por indução não seja nenhuma
demonstração de conclusões gerais, ainda assim é a melhor
maneira de argumentação que a natureza das coisas
admite, e pode ser considerada mais forte dependendo da
maior generalidade da indução. E se nenhuma exceção
decorre dos fenômenos, geralmente a conclusão pode ser
formulada. Mas se em qualquer tempo posterior, qualquer
exceção decorrer dos experimentos, a conclusão pode
então ser formulada com tais exceções que decorrem deles.
Por essa maneira de análise podemos proceder de
compostos a ingredientes, de movimentos às forças que os
produzem; e, em geral, dos efeitos a suas causas, e de
causas particulares a causas mais gerais, até que o
argumento termine no mais geral”.
O MÉTODO NEWTONIANO
“Este é o método de análise; e a síntese consiste em assumir
as causas descobertas e estabelecidas como princípios, e
por elas explicar os fenômenos que procedem delas, e
provar as explicações”.

Esse foi um modelo e um critério de ciência que perdurou


por séculos: hipóteses deduzidas dos fenômenos; a
observação como critério para a produção e aceitação do
conhecimento; a possibilidade da quantificação dos
fenômenos; a utilização da análise e síntese, por meio da
indução, para explicar os eventos naturais.

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