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INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO SISTÊMICO

26/02/2012

Juares Soares Costa

Vamos começar nossas reflexões sobre o Pensamento Sistêmico, com a discussão da noção de
paradigma. Esta é uma palavra muito usada atualmente, com significados variados. Com certeza
você já escutou alguém dizendo:

– Nossa empresa estabeleceu um novo paradigma na relação com os clientes.

– Este é nosso paradigma no campo da administração.

– Temos que nos adaptar aos novos paradigmas de comportamento para o século XXI.

Será que todos estão usando a palavra com o mesmo significado? Provavelmente não. Vamos ver
por que.

Em seu livro, “Pensamento Sistêmico, o Novo Paradigma da Ciência”, Maria José Esteves de
Vasconcellos nos propõe um exercício curioso. Sugere que em tarjetas de papel, escrevamos
partes de ditados populares. Por Exemplo: “Quem semeia vento…, Em casa de ferreiro…, Quem
com ferro fere…., e assim por diante. Em igual número de tarjetas, vamos escrever a
complementação dos ditados, mas fazendo alterações. Em vez de “ Colhe tempestade, ou “O
espeto é de pau”, vamos escrever frases diferentes. “Quem semeia vento… Fica resfriado”, “Em
casa de ferreiro… o churrasco é na grelha”. E assim por diante até completarmos todos os ditados.

Em seguida distribuímos aleatoriamente as tarjetas com as metades dos ditados para um grupo de
pessoas, que deverão circular pelo espaço em que estão, lendo as frases das outras pessoas, até
formarem pares. Nas várias ocasiões em que fizemos este jogo, confirmamos o que diz a autora:

“Você provavelmente verá que aqueles que receberam a primeira parte do provérbio resistirão a
aceitar a Segunda parte modificada. Tendo uma expectativa já formada sobre a segunda parte da
frase, insistirão em procurar a frase “ “correta”, ou seja, o provérbio conhecido. Os que receberem
a Segunda metade da frase não terão expectativas e poderão aceitar prontamente uma articulação
com alguma outra frase.

…Poderíamos dizer que as pessoas foram influenciadas por seu “paradigma de provérbios” ou seja,
por sua crença sobre a forma “correta daqueles provérbios”. (Vasconcellos, 2002, pg 29)

A palavra paradigma vem do grego parádeigma, e significa padrão, modelo. Em todos os níveis de
nossas vidas somos guiados por nossos paradigmas, por nossos padrões a respeito de como deve
ser o mundo, de como ele funciona, quais são suas regras. Em cada família, em cada pessoa, há
sempre um conjunto de paradigmas, que norteia, e ao mesmo tempo limita nossa forma de viver e
pensar.

Em seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas (1962), Thomas Khum nos propõe a idéia de
um paradigma científico, definido como “uma constelação de realizações – concepções, técnicas,
etc…- compartilhada por uma comunidade científica e utilizada por esta comunidade para definir
problemas e soluções legítimos” (Khun, 1962). A partir da definição de Khun, Fritjoj Capra
introduziu a noção de paradigma social, como sendo “uma constelação de concepções, de valores,
de percepções e de práticas compartilhados por uma comunidade, que dá forma a uma visão
particular da realidade, a qual constitui a base da maneira como a comunidade se organiza”.
(Capra, 1996, pg 24).

Ao longo da história da humanidade, em cada comunidade, em cada povo, houve um paradigma,


uma forma de ver o mundo, que predominou, e através do qual as pessoas organizavam seu
cotidiano, criavam explicações para os fenômenos da vida e da morte. Outras visões de mundo
sempre estiveram, e estão presentes, mas é importante ressaltarmos aqueles paradigmas que
ficaram como identificação de cada período da história da humanidade.

Neste trabalho, vamos nos focalizar nos três períodos mais recentes e delimitados da história do
mundo ocidental: A Idade Média, a Idade Moderna e o período contemporâneo, muitas vezes
chamado de período Pós-Moderno.

Da Antiguidade até o final da idade Média (por volta do final do século XV), predominou o chamado
paradigma Religioso. Nesta visão de Mundo, a Verdade existe em um plano superior, divino.

A divindade está no centro de tudo, e o conhecimento é acessível a poucos que seguirem uma vida
norteada pela religiosidade, pela busca de uma espiritualidade. O conhecimento possível era
sempre limitado e o método era o aperfeiçoamento pessoal, a ascese, a meditação, a dedicação
religiosa.

Conhecer era aproximar-se do plano divino.

O paradigma religioso da idade Média trazia princípios norteadores interessantes, como a vida em
comunidades pequenas e coesas, uma interdependência dos fenômenos espirituais e materiais. As
necessidades dos indivíduos ficavam abaixo dos interesses da comunidade, buscava-se mais uma
compreensão do que um controle do mundo.

Com a mudança de paradigma que ocorre quando passamos para a chamada Idade Moderna,
podemos dizer que “junto com a água do banho, jogou-se a criança fora. “Foram aos poucos sendo
abandonados muitos destes princípios que eram úteis, especialmente no sentido de ajudar o ser
humano a perceber-se como “parte de”, conectado com as pessoas e o mundo. Este é, aliás, o
significado inicial da palavra religião, do latim religare, religar-se, reconectar-se. Penso que pode
ser a isto que Bateson se referia quando falava “do melhor da religião”.

“Antes mundo era pequeno, Por que Terra era grande. Hoje mundo é muito grande, Por que Terra
é pequena. Do tamanho da antena parabolicamará…” (G.Gil, 1991). Os versos da canção nos falam
do mundo que mudou, que se expandiu. Começou a era das grandes navegações, das grandes
descobertas, novos continentes, novos instrumentos científicos em busca de novas verdades. Do
final do século XV até o século XX, surgem novos mundos e uma nova visão de mundo. Quando
Copérnico, e depois dele Galileu começam a explorar os céus com o recém criado telescópio, dão
início a uma revolução, tão grande que até hoje vivemos seus benefícios e suas conseqüências. A
terra não é mais o centro do Universo, Deus não está no centro do mundo. Novas explicações e
novas leis são criadas, O mundo passa a ser visto como uma máquina perfeita e previsível. O
método para conhecer e controlar o mundo passou a ser o método Científico, da observação e
dedução de leis, supostamente universal. È como se o mundo fosse uma máquina com um jogos de
engrenagens e mecanismos perfeitos

A verdade estava no mundo, regido por leis exatas, matemáticas. Era possível um conhecimento
total, acessível a quem estudasse e compreendesse as leis. O método era científico, analítico, que
implicava em dividir o todo em suas partes mínimas. Do conhecimento das partes viria a Verdade.

Descartes, um nome que se confunde com o da ciência, em seu Discurso sobre o Método, dividiu o
ser humano em duas partes, a mente, res cogitans, a coisa pensante, que não seria objeto da
ciência. A mente ficaria com o campo da filosofia, das ciências não exatas, mais tarde da
psicologia. O corpo era a res estensa, a coisa extensa, ampla, que podia ser palpada, tocada,
estudada, dissecada. Este era o campo da ciência. E esta foi também à base da divisão mente-
corpo que tanto limitou e limita nossa compreensão e tratamento do ser humano. O pensamento
ou paradigma científico olhava, e ainda olha o mundo através de três conceitos básicos:
Simplicidade, Estabilidade e Objetividade.

O conhecimento, a verdade, estariam na coisa simples, isolada, reduzida ás suas menores partes.
Pessoas, partes do corpo, células, moléculas, átomos. E seria um conhecimento estável, válido
para todas as pessoas em todos os tempos e lugares. O conhecimento seria também objetivo,
independe do sujeito, da pessoa que conhece. O observador colocava-se fora do fenômeno
observado, supostamente não interferindo com este.

À medida que foi se organizando, o pensamento científico trouxe para a humanidade um progresso
sem igual em outras eras da humanidade, ao mesmo tempo em que suas descobertas ajudavam a
colocá-lo em xeque. O final do século XIX e a primeira metade do século XX foram ao mesmo
tempo o apogeu e o início do questionamento dos paradigmas científicos. A teoria da evolução de
Darwin, a Psicanálise de Freud, são exemplos de desenvolvimentos da ciência, que ajudaram a
questionar alguns de seus pressupostos. Mas foi no campo da Física, que se confunde com a
própria noção de ciência, que os pressupostos da simplicidade, da objetividade e estabilidade
começaram a ser questionados e derrubados.

À medida que partículas cada vez menores foram sendo estudadas, não se chegou à verdade
absoluta, mas a um nível de complexidade, instabilidade e subjetividade.

“Muitos destes paradoxos estavam ligados à natureza dual da matéria subatômica, que surge às
vezes como partículas, às vezes como ondas: Os elétrons, costumavam dizer os físicos naqueles
dias, são partículas ás segundas e quartasfeiras, e ondas às terças e quintas….. O princípio de
indeterminação mede o grau em que o cientista influencia as propriedades dos objetos observados
pelo próprio processo de mensuração. Os cientistas já não podem exercer o papel de observadores
objetivos e imparciais; eles estão envolvidos no mundo que observam, e o princípio de
Heinsenberg mede este envolvimento. …é uma medida de quanto o universo é uno e inter-
relacionado. Nos anos 20, os físicos, liderados por Heisenberg e Bohr, constataram que o mundo
não é uma coleção de objetos distintos; pelo contrário, ele parece uma teia de relações entre as
diversas partes de um todo unificado.” (Capra,1988,pg14).
Não é só na física que os conceitos foram mudando. A biologia começou a estudar as relações e
inter-conexões entre os seres vivos, e noções como meio ambiente, habitat, passaram a fazer
parte do arcabouço de uma visão mais tarde conhecida como ecológica. ”A percepção ecológica
profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que,
enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da
natureza.”(Capra, 1996, pg 25). A antropologia já não se satisfazia com uma observação científica
de relatos de viajantes, ou com o estudo de pessoas extraídas de seu contexto. As pesquisas de
campo trazem novas luzes e questionamentos. O que deve ser observado? Assim como na Física
quântica, perceberam que o antropólogo interferia com o fenômeno observado, e que a relação
interpessoal, e não o indivíduo isolado deveria ser a unidade de estudo. Em vários campos cresceu
o interesse por temas como comunicação, retroalimentação. Começam a se organizar
conhecimentos, novos conceitos, que mais tarde se agruparão em torno da Cibernética (Ciência do
controle e da comunicação nos seres vivos e nas máquinas) e da Teoria Geral dos Sistemas, de
Von Bertallanfy.

O fim da Segunda Guerra Mundial é hoje visto como o marco do fim da Modernidade e o começo de
um novo período, que ainda estamos vivendo, que na falta de um nome melhor, tem sido chamado
de Pós-Modernidade. A explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki representaram ao
mesmo temo o apogeu e o início do declínio da crença na Ciência como sendo o caminho pra a
redenção e o bem-estar da humanidade. Os cientistas que criaram a bomba atômica ignoravam
(ou ignoraram?) as consequências sistêmicas, ecológicas da radiação. Mas desde então, não foi
mais possível ignorar, ou negar, que há uma ligação em tudo, como escreveu, quase um século
antes, o chefe indígena de Seattle em sua carta ao presidente americano de então. Da
Simplicidade entramos na era da Complexidade; da Estabilidade para e Instabilidade, e da
Objetividade para a Intersubjetividade.

“O Modernismo está relacionado a uma tradição filosófica ocidental que entende o conhecimento
como objetivo e fixo. Conhecedor e conhecimento são independentes, e a linguagem é a
representação da verdade objetiva e da realidade. Pós-modernismo é um termo amplo que se
refere não somente a uma época, mas também a uma perspectiva filosófica, que inclui uma crítica
ideológica dos fundamentos do pensamento literário, político e social…ele questiona aquilo que é
tido como certo e universal, incluindo os discursos dominantes e as práticas culturais – crenças,
verdades, leis, instituições sociais….O Pós-modernismo apóia a idéia de que aquele que conhece
participa da criação do mundo em que vive, observa e conhece: de que aquilo que é criado e
conhecido é somente uma das várias perspectivas e possibilidades; de que aquilo que é conhecido
ou que se crê que seja conhecido muda através de interações comunicativas (Anderson, H.1966).

Apesar de não serem sinônimos, o Pensamento Sistêmico situa-se no marco da Pós-Modernidade.

A ciência objetiva ainda costuma dizer que as coisas são. … É interessante lembrarmos que para a
Teologia, o verbo Ser é um atributo da Divindade. Só o Deus É, independentemente de tempo,
espaço, lugar. A discussão sobre este campo teológico não é nosso objetivo, mas chamamos
atenção para o fato de que quando usamos o verbo ser, muitas vezes, sem perceber, estamos
atribuindo ao objeto, qualidades e características que remetem a algo essencial, que seria
intrínseco ao objeto, em qualquer contexto e sem relação com o sujeito que as refere.
Quando passamos para o referencial do Pensamento Sistêmico, é como se nos dispuséssemos a
abandonar o uso do verbo Ser, e começarmos a usar ao verbo ESTAR. Passamos a pensar em
termos de contextos, relações, significados que tem validade apenas local. Dizer que uma pessoa é
violenta é muito diferente de dizer que uma pessoa está violenta, que se comporta de um modo
que alguém chamou de violento. Deixa de ser uma característica da pessoa, para algo que passa a
ser descrito em termos de comportamentos, de relações, de um contexto cultural que define tal
comportamento como violento. Abrimos espaço para questionarmos como foi que aquela pessoa
aprendeu a se comportar daquele modo. Será que ele sempre age do mesmo modo em todos os
contextos? Com todas as pessoas? Enfim, ao sairmos da tirania do Ser, da idéia de essência, temos
a possibilidade de encontrar novos caminhos para a compreensão e busca de solução para os
problemas humanos.

Faça você também o exercício proposto por Gianfranco Cecchin em seu artigo “Exercícios Para
Manter Sua Mente Sistêmica” (1991). Escolha uma história de uma situação profissional, e ao
relatá-la, não faça uso do verbo Ser. Você verá que ocorrem mudanças. Compare-as com o que
descrevemos no quadro abaixo:

A passagem do Paradigma Científico para o Pensamento Sistêmico trás para todos nós uma
ampliação, nem sempre fácil de ser entendida e ser vivida. De verdades absolutas e certezas,
passamos para um mundo de múltiplos significados e incertezas. De um universo, de uma única
versão da história, passamos para os multi-versos. De afirmações, passamos para as perguntas.
Os critérios de validação para um conhecimento não estão mais embasados apenas nas leis da
ciência, mas se apóiam no diálogo, no consenso, e principalmente na Ética.

Ética vem do grego, ethos, que significa comportamento, atitude, e de óikos, que se refere à
morada, o local habitado pelo homem. Pode ser nossa casa, nossa comunidade, nosso país, nosso
planeta. A Ética situa-se acima da moral. Moral vem do latim mores, que fala dos costumes. Os
costumes são mais locais, temporários, variáveis. A Ética é mais duradoura, permanente, mais
abrangente. Por exemplo, mudam os costumes, a moral sexual, mas permanecem valores éticos
que falam do respeito á vida humana, ao direito à integridade física de cada pessoa.

“A ética nos possibilita a ousadia de assumir, com responsabilidade, novas posturas, de projetar
novos valores, não por modismo, mas como serviço a moradia humana.”(Boff, L. 1997)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSON, Harlene “ Uma Reflexão sobre a colaboração Cliente-Profissional” . Family Systems


¨&Health, 14:193-206, 1996 (original em inglês)

BOFF, Leonardo. “A Águia e a Galinha – Uma Metáfora da Condição Humana” Petrópolis RJ- Vozes-
1997

CAPRA, Fritjof (1996) “A Teia da Vida. Uma compreensão científica dos sistemas vivos”.São Paulo:
Cultrix (1988), “Sabedoria Incomum. Conversas com pessoas notáveis”.São Paulo: Cultrix, 1987

VASCONCELOS, Maria José Esteves de. “ Pensamento Sistêmico – O Novo Paradigma da Ciência”,
Campinas, SP: Papirus, 2002
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Escrito por conhecimentoerelacao

ENFOQUE SISTÊMICO 1
28/02/2010

Maria Lúcia M. Coelho e Sérgio Rodrigues

Introdução

Desde o início de sua existência o ser humano busca compreender a vida que o cerca. Este
percurso de conhecimento se desenvolveu através da somatória de ciclos ascendentes onde cada
forma de percepção da vida e de ação decorrente se desenvolvia, depois passava a um período de
maturação e finalmente, esgotado seu potencial, se transformava em campo fértil para novos ciclos
de aprendizagem.

Mas estes ciclos mais ou menos evoluídos, com potencialidades maiores ou menores, se distribuem
através das ciências, das culturas, e das nossas maturidades individuais.

Em várias áreas da ciência, nas várias culturas assim como nas nossas infinitas individualidades,
estruturam-se formas de perceber a vida, de estabelecer conceitos e de definir como se deve agir.

Isto em si não é um problema, é uma coisa natural, e assim criamos os chamados paradigmas que
são as formas como percebemos e atuamos no mundo. São as nossas regras de ver o mundo.

Isto pode se tornar um problema e uma grande limitação quando estas formas de percepção e de
conceituação vão se tornando muito rígidas. Quando estas regras se enrijecem e se transformam
no único modo de ver e de fazer, “isto é chamado de paralisia do paradigma ou doença fatal da
certeza…, e esta doença é mais fácil de se contrair do que se possa imaginar….” [1]

Costumo dizer que têm pessoas tão bem “formadas” que se tornam “indeformáveis”…

A evolução do conhecimento humano através da seqüência de ciclos evolutivos vai, na prática,


sendo representada por uma seqüência de “pacotes” de paradigmas.

A formulação de novos paradigmas é feita por pessoas e ciências incomodadas pela limitação dos
velhos paradigmas. É de se esperar que encontrem resistências das comunidades de pratica que
adotam os velhos paradigmas.

As comunidades de prática são comunidades constituídas por um grupo de participantes


interdependentes que fornecem o contexto de trabalho no interno do qual os membros constroem,
seja uma identidade compartilhada, como também desenvolvem coletivamente uma visão sobre o
trabalho e sobre o mundo. Daí costuma derivar a resistência aos novos paradigmas.

A experiência em diferentes organizações, paises e culturas aconselharam buscar sempre uma


visão paradigmática sistêmica por inúmeras razões. Mas ao mesmo tempo reconhecendo que uma
visão mais abrangente não elimina todas as outras em todas as situações. Se um paradigma foi
desenvolvido para uma situação, às vezes bastante específica, é de bom senso que seja
considerado.

****************

O pensamento sistêmico, de uma forma geral, pode ser definido como uma nova forma de
percepção da realidade. Segundo Capra (1996) quanto mais são estudados os problemas de nossa
época, mais se percebe que eles não podem ser entendidos isoladamente. São problemas
sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependentes. Deve-se sempre partir do
princípio de que o todo e mais que a soma das partes, tendo desta forma o sistema como um todo
integrado cujas propriedades essenciais surgem das inter-relações entre suas partes. Entender a
realidade sinteticamente significa, literalmente, colocá-la dentro de um contexto e estabelecer a
natureza de suas relações.

A. Einstein já assinalava esta interligação dos problemas:

Um erro comum é imaginar que podemos resolver “todos” os problemas dividindo-os em partes e
observando o que está falhando. Isto pode nos distanciar das relações entre as partes onde pode
residir a real causa ou fatores que contribuem para o problema. Um raciocínio convencional
(reducionista) é reduzir o problema a “isto” ou “aquilo”, enquanto o pensamento sistêmico define
“isto e aquilo”.

A visão sistêmica apresenta a idéia de inter-relação entre os objetos e seres vivos, as coisas não
são separadas, apenas ficam separadas momentaneamente ou mesmo aparentam estar separadas.
Temos que ter cuidado com esta ilusão de separação, pois ela pode não ser bem assim. Os objetos
e os seres vivos estão em constante relação, há uma troca tanto subjetiva como objetiva nessas
relações, não podendo ser estudadas, vistas, analisadas, entendidas separadamente.

A essência do pensamento sistêmico é visualizar o mundo de uma forma ampliada entendendo


suas relações. Isso aumenta os ganhos uma vez que, o modo como você aborda os problemas
afeta diretamente a forma como as soluções são encaminhadas.

Vou agora restringir e direcionar o foco desta reflexão para a sua aplicação no campo das relações
humanas e da psicoterapia

Nós vivemos em um universo relacional e é neste universo que vamos continuamente construindo
a nossa percepção do mundo, a nossa visão da vida e o nosso desempenho pessoal e profissional.

Facilidades ou dificuldades, prazeres ou tristezas da nossa vida pessoal e profissional estão


intimamente relacionadas à extensão e ao tipo de relacionamentos que vamos construindo no
nosso dia-a-dia.
A saúde das nossas relações e os recursos que podemos encontrar nestes relacionamentos
estabelece a base de sustentação de nossa saúde global e de nossas perspectivas na vida

Do ponto de vista sistêmico, vemos o indivíduo sempre inserido e partícipe de sistemas ou


subsistemas como o sistema familiar, o sistema profissional e o sistema social entre tantos outros
possíveis e existentes. Acho importante então resumir o que se entende por sistema.

Podemos conceituar sistema como um conjunto de objetos e de relações entre os objetos e entre
os seus atributos.

Os objetos são os componentes ou partes do sistema, os atributos são as propriedades dos


objetos, e as relações mantêm o sistema coeso. Cada objeto, em última análise, é especificado
pelos seus atributos.

Portanto, enquanto os “objetos” podem ser os indivíduos, os atributos que servem para identificá-
los são os seus comportamentos de comunicação (em vez de, digamos, atributos
intrapsíquicos). Descrevemos melhor os objetos de um sistema interativo quando não falamos de
indivíduos, mas de pessoas que se comunicam com outras pessoas.

Finalmente é indispensável compreender bem o conceito de relação, que é o que mantém o


sistema coeso.

Quando uma pessoa comunica algo a outra(s) pessoa(s) ele transmite não somente um conteúdo,
mas também um aspecto de “comando”, ou seja como a comunicação deve ser entendida. Isto
também pode ser classificado como “metacomunicação” (comunicação sobre a comunicação).
Entende-se então por relação em um sistema relacional “o modo como devemos compreender a
comunicação e, portanto as ligações hierárquicas”.

Por isto Einstein acentuou tanto o aspecto das relações entre as partes no estudo dos problemas de
um sistema.

Um casal ou uma família quando chega a setting terapêutico deve ser vista como um sistema com
toda esta dinâmica de comunicações, de comportamentos e de relações.

O marido e a mulher construíram este sistema, mas com superposições e interações de outros
sistemas familiares de onde provêm e que servem de modelos a serem seguidos ou a serem
evitados. São valores, modos de ver a vida, de como agir diante desta ou daquela situação
(quantos paradigmas!!!…) Em função disto criam vínculos na relação de casal [2], criam regras de
comportamento, do que é aceitável, de atitudes que motivam, de como interpretar o
comportamento do outro, e assim sucessivamente.

Mas como os componentes deste sistema participam de outros sistemas (profissional, por
exemplo), eles podem sofrer influências de outras formas de ver e agir na vida (paradigmas). Se
estas influências se estabelecem de maneira mais efetiva isto acaba tendo reflexos nas
comunicações e relações do seu sistema familiar. Na maioria dos casos isto é construtivo e seus
sistemas evoluem, mas em alguns casos isto pode fragilizar vínculos do casal, alterar valores e
estabelecer novos paradigmas. São estas situações de desconforto ou mesmo de profundo
desentendimento que os casais e as famílias chegam ao setting terapêutico.
São, portanto, sistemas com dinâmicas estabelecidas que estejam sofrendo com a intromissão de
outros valores que são percebidos como:

 Mudança de comportamento

 Mudança de valores

 Mudança de comportamento em resposta a estímulos que antes produziam outro efeito.

 Mudança de objetivos de um dos parceiros ou dos dois.

 Dificuldade de comunicação entrando num processo conhecido como “pontuação” [3] que
são os erros na “tradução” do material analógico em numérico e que muitas vezes os fazem
desembocar na impenetrabilidade.

 …….

 …

Através da aplicação de técnicas ou elaboração de perguntas o terapeuta deve manter, por todo o
tempo, esta visão sistêmica e a lógica que orienta quem trabalha:

 Com um sistema que interage com outros sistemas,

 Com indivíduos que se comunicam verbal e analogicamente, entrando em


“pontuações” e situações mais extremas, em um “Jogo Sem Fim” 3

 Com relações estabelecidas e que podem estar sendo questionadas.

Esta visão sistêmica ajuda e dá uma bússola ao terapeuta quando percebe dinâmicas individuais e
busca vê-las inseridas na dinâmica do sistema do casal ou da família.

A compreensão do funcionamento dos sistemas e de suas constantes retroalimentações como


dinâmica que busca reforçar as relações – entendidas como metacomunicação sobre a
comunicação – e as possibilidades de estabelecimento de um Jogo Sem Fim, me faz lembrar um
outro pensamento de Einstein sobre o desafio que um membro de um sistema destes passa a ter
para encontrar sozinho uma solução adequada para determinados problemas que surgem com
rompimento de vínculos e de valores do sistema:

Muitos dos problemas significantes que enfrentamos não podem ser resolvidos usando o mesmo
tipo de pensamento que nós usamos quando criamos estes problemas.

Este tema estimula longas considerações, mas deixarei isto para quem quiser se aprofundar neste
tema e, para isto, sugiro 3 livros (entre tantos bons) ao fim deste comentário.

Para concluir vou fazer um breve comentário sobre o filme “Invictus”[4] que sugiro seja visto por
quem ainda não viu.
Acho que ele é um excelente exemplo de uma visão sistêmica e de como ocorrem mudanças com
esta visão. O protagonista principal é quem reforça, com a sua postura, esta visão e nos possibilita
refletir sobre este enfoque.

É importante lembrar também que é uma história real. Isto significa que uma Visão Sistêmica, se
aplicada pragmaticamente e com o “exemplo pessoal de comportamento”, traz resultados onde
outras visões “cartesianas” não conseguiram.

Mandela se comportou o tempo todo como um agente de mudança sistêmico.

 Ele estudou e efetivamente compreendeu que na África do Sul não existia um sistema
cultural, político, social, étnico, econômico, etc. A África do Sul era um aglomerado de tudo isto.

 Ele estudou, nos 27 anos de prisão, a dinâmica de todos estes subsistemas, seus valores,
suas dinâmicas e viu que existia uma possibilidade para formar um grande sistema.

 O filme destaca uma das ações fundamentais, mas ele trabalhou anos em tantas outras
ações para formar o sistema que ele sonhou. Nas ações do filme ele se colocou sempre de forma
construtiva, nunca de maneira crítica ou discriminatória (não integradora).

 Ele soube do desejo racista e vingativo da federação que queria banir e humilhar o time
dos “brancos” proibindo até o uso da sua camisa, mas não impôs nada. Seduziu o grupo, motivou
e conseguiu, por um voto apenas, “salvar” o time dos brancos. Os brancos
eram elementos do sistema que ele estava construindo. As relações não deveriam
ser relações discriminatórias ou se perpetuaria o ódio e as retroalimentações destruidoras do
sistema em formação.

 Ele estudou o time de Rúgbi e percebeu a liderança do seu “capitão”. Não o convocou…, ele
o convidou para um chá. Conversou e, para as pessoas atentas, procurou motivar o potencial de
liderança dele para que tirasse “leite de pedra” do time.

 Lenta e pragmaticamente ele foi motivando integrações entre grupos de brancos e de


negros quando levou o time de Rúgbi para uma favela. As resistências do começo se dissolveram
e se materializaram em abraços e orgulho recíproco. Os subsistemas começavam a se integrar.

 Depois de uma corrida do time pela manhã, no dia seguinte a uma partida vencida, eles
receberam um convite para um passeio de barco que levou o time e seus familiares até a prisão
onde viveu Mandela e tantos outros. A emoção foi muito forte para todos. No dia seguinte o
capitão da equipe fala para a sua mulher que não estava pensando no jogo, mas “como Mandela
poderia perdoar aqueles que o condenaram a passar 27 anos naquela cela de 3m x 3m”. Era o
exemplo concreto, verdadeiro, de quem sabia que seus objetivos estavam focados no futuro e
que só deveria olhar para o futuro.

O capitão do time se motivava a lutar, a “tirar leite das pedras” pela África do Sul e passava a
mesma motivação.

 Antes do jogo e no meio de inúmeras reuniões de estado ele decorou o nome de todos do
time de Rúgbi e foi até o treino cumprimentá-los e desejar boa sorte. Lá deu ao capitão não um
premio em dinheiro, mas uma poesia que o ajudou a buscar forças na prisão quando as suas
fraquejavam.

Com isto ele mostrava que em um sistema todos são importantes e fundamentais. Todos!

 Mandela usou a poesia como metáfora, que é um instrumento frequentemente usado nos
atendimentos sistêmicos com casais e famílias.

 Ele suspendeu seus compromissos de governo e assistiu a classificação do time adversário


para a final. Ele também fazia parte do sistema e, portanto, tinha que participar mesmo não
sendo um técnico de Rúgbi. Ele não se colocava fora do sistema.

Não alardeou nada. Pensou e agiu.

 Foi à partida. Entrou em campo com a camisa e o boné com as cores do time que antes era
odiada pelos negros da África do sul. O estádio estava lotado. Brancos e negros só viam o time
que os representava não importando mais as cores dos jogadores ou de suas camisas. Todos
cantaram o hino nacional, inclusive os brancos que não o aceitavam. Pronto! O sistema começa a
andar pelas suas próprias pernas.

 Mandela não cumprimentou burocraticamente os jogadores do time adversário. Ao mais


terrível jogador adversário confessou, ali no aperto de mãos, que ele (Mandela) tinha um pouco
de medo dele, assinalando que o presidente da república estava bem inserido no sistema que ia
enfrentá-lo. Tanto que o jogador adversário ficou com uma expressão de certa
“perplexidade”. De certa forma esta foi mais uma contribuição que ele podia dar ao sistema sem
alardear nada.

 Foi para a arquibancada e se comportou apenas como um membro que observava o


sistema, porque agora ele se reconstruiu e começava a caminhar sozinho.

 Do lado de fora, sua filha, tão resistente às idéias sistêmicas do pai e com paradigmas
discriminatórios e vingativos, vibrou e chorou com a vitória do subsistema brando que lutava (e
sangrava mesmo) pela construção do grande sistema da África do Sul.

 Um carro de polícia isolado na rua deserta da porta do estádio, que no início da partida se
incomodou com um garotinho negro que ficava por perto para ouvir a narração no rádio do carro,
acabou numa comemoração com abraços emotivos após a vitória. Era o sistema se reorganizando
e se integrando de uma forma mais saudável.

 Em bares negros e brancos comemoravam a vitória do time da África do Sul, mas para o
observador atento, provavelmente para Mandela, o que se viu foi o início da formação de um
sistema saudável representando um país.

Em síntese:

 Mandela funcionou como um agente reflexivo, observando o sistema (time de rúgbi) e


devolveu a eles estas reflexões através de suas observações, perguntas, posturas, metáforas e
comentários geradores de mudança.
 Ele resgatou histórias carregadas (contaminadas) de problemas de forma que pudessem
ser “recontadas” de uma maneira mais saudável. Foi uma reconstrução do sistema (time de
pretos e brancos, de uma nação) resgatando forças, possibilidades e formas de ver o mundo que
foram paralisadas e adormecidas com o tempo.

Sugestão de livros:

 Vasconcelos Maria José Esteves, Pensamento Sistêmico – O Novo Paradigma da


Ciência, Papirus Editora, 3ª Edição.

 Andersen, Tom, Processos Reflexivos, Editora Noos, 2ª edição ampliada.

 Watzlawick Paul, H. Weakland John, Fish Richard, Mudança – Princípios de Formação e


resolução de Problemas, Editora Cultrix

 Watzlawick Paul, Janet Beavin, Don D. Jackson, Pragmática da Comunicação Humana,


Editora Cultrix

[1]Maria José E. de Vasconcellos, Pensamento Sistêmico – o novo paradigma da ciência, Editora


Papirus, 3ª edição, pg. 33

[2] Vínculo pode ser definido como uma estrutura dinâmica que liga uma pessoa à outra e que
engloba a pessoa na sua totalidade. O vínculo pode ser sadio, ajudando na estruturação do
Conceito de Identidade, ou neurótico comprometendo o indivíduo. O vínculo está presente onde
quer que haja sistema e estrutura.

[3] A cada pontuação restringem-se cada vez mais as possibilidades de existir uma outra
hipótese para o comportamento recíproco. Numa seqüência de comunicação, cada troca de
mensagens, restringe o número de possíveis movimentos sucessivos. Corre-se o risco de se chegar
a um “Jogo Sem Fim”.

[4] Invictus acompanha o período em que Nelson Mandela sai da prisão em 1990 e torna-se
presidente em 1994. Na tentativa de diminuir a segregação racial na África do Sul, o rugby é
utilizado para tentar amenizar o fosso entre negros e brancos, fomentado por quase 40 anos. O
jogador Francois Pienaar é o principal nome. Filme de Clint Eastwood. Atores principais: Morgan
Freeman e Matt Damon

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FAMÍLIA, TEXTOS | Marcado: agente reflexivo, jogo sem fim, paradigma moderno pós-
sistêmico, paradigmas, pontuação, processos reflexivos, relação, setting terapêrutico, sistemas, universo
relacional, vínculo de casal, visão sistêmica | Link permanente

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ENFOQUE SISTÊMICO 2
27/02/2010

….de uma família empresária

Maria Lúcia M. Coelho e Sérgio Rodrigues

Introdução

Introdução

Onde adquirimos nossas primeiras experiências do que seja uma vida em uma organização? Acho
intuitivo que estas experiências se desenvolvem na nossa vida familiar. É neste convívio que
aprendemos as lições e as habilidades de comunicação, de planejamento de tomada de decisão, de
administração de conflitos, entre tantas habilidades. Desde nossas primeiras percepções vamos
construindo nosso Conceito de Identidade, nossa visão do mundo e nossos mais enraizados
paradigmas.

O Conceito de Identidade é o produto das vivências de uma pessoa com as vinculações entre os
seus climas afetivos internos com as pessoas e conceitos (religiosos, filosóficos, políticos sociais,
etc) e que estabelece uma noção de entendimento em relação a si mesma, aos outros e ao próprio
mundo. O Conceito de Identidade é como a pessoa acha que é, e como ela acha que os outros são,
e vai evoluindo de acordo com a idade e com as vivências que vão ocorrendo na vida desta
pessoa. [1]

Este sistema familiar onde iniciamos a nos expor ao relacionamento interpessoal e de grupo
influenciará o modo como mais tarde regiremos nos cenários organizacionais.

***************

A interação entre membros da família que comandam as suas empresas apresenta, muitas vezes,
aspectos de influência recíproca. Não somente quem comanda uma empresa familiar transfere seus
valores e experiências, através de metas, de interações na organização e de atitudes, mas acaba
se vendo submetido ao fluxo reverso.

As relações organizacionais entre pais e filhos produzem intensas interações familiares.


Os papéis familiares e profissionais de “pais e filhos” são papéis que pertencem a sistemas
diferentes – familiar e empresarial – com objetivos que em alguns momentos podem ser
conflitantes. Mas eles se misturam, eles se influenciam.

São dois sistemas – o familiar e o empresarial – que interagem através de retroalimentações


positivas ou negativas. Pais querem o sucesso da empresa que construíram, mas vêem como sua
maior responsabilidade o desenvolvimento de filhos que se sintam bem consigo mesmos. Isto faz
parte dos valores do Conceito de Identidade de um pai empresário além de muitas vezes verem
nos filhos o reflexo de si próprios e de suas realizações.

Por outro lado os filhos crescem e percebem a importância da empresa para seus pais e isto pode
ser interpretado como o campo ideal para disputar o reconhecimento e a afeição dos pais. Pode
servir também para reparar feridas e relações familiares problemáticas…

Aliás, talvez seja mais fácil competir com familiares mais poderosos na esfera organizacional, onde
o desempenho nos negócios passa a ser a medida do sucesso, do que nas atividades
domésticas[2].

Mas antes acho que devemos resumir alguns conceitos fundamentais sobre a teoria dos sistemas
para quem deseja compreender a interação entre estes dois sistemas e suas dinâmicas.

No texto Enfoque Sistêmico 1, já fizemos uma introdução à Visão Sistêmica e agora entraremos
maneira sintética em alguns conceitos ligados à teoria dos sistemas e que estão sempre presentes
quando trabalhamos com famílias e com todas estas dinâmicas envolvidas nas empresas
familiares.

A teoria dos sistemas tomou corpo nos anos ’50, através de Ludwig von Bertalanffy, Anatol
Rapoport, Kenneth Boulding, Margaret Mead, Gregory Bateson e outros. Esta teoria reúne
princípios e conceitos teóricos oriundos da filosofia da ciência, da física, da biologia e da
engenharia. Hoje encontramos a utilização desta abordagem em quase todas as ciências. É muito
usada em sociologia, em teoria organizacional, em economia, em saúde pública e na psicoterapia,
particularmente na terapia dos sistemas familiares.

Isto mostra a força deste novo enfoque científico de ver a vida, mas por outro lado a popularização
do termo “sistema” pode induzir à distorções no sentido de sua utilização.
Num linguajar menos técnico o sentido buscado é o da existência de interdependência nas
relações. Com isto reforça-se – consciente ou inconscientemente – que a visão do todo contem
propriedades que não podemos encontrar nos elementos que os constituem.

Uma importante característica dos sistemas é a chamada homeostase, que é um estado buscado
por todos os sistemas de maneira a assegurar um estado de estabilidade. É através de dinâmicas
de auto-correção e auto-regulação que os sistemas buscam este estado de estabilidade chamado
de homeostase.

Uma alteração em uma parte do sistema afetará as demais, que por sua vez afetarão as condições
iniciais do sistema. Tanto a alteração como a recuperação, são dinâmicas que buscam recuperar o
estado de equilíbrio do sistema através daquilo que se denomina retroalimentação (positiva ou
negativa respectivamente).

Se na sua fase inicial de experimentação a criança “aprendeu” que o desrespeito a um determinado


valor da família gerava uma reação muitas vezes autoritária e intolerante, isto fica registrado como
uma dinâmica que busca recuperar o “bom funcionamento do sistema” (retroalimentação).

Quando esta criança for adulta e se relacionar profissionalmente terá como paradigma o conceito
de recuperar a estabilidade do sistema, se um valor do seu Conceito de Identidade tiver sido
violado, usando a mesma dinâmica que aprendeu como adequada para obter este objetivo. Foi
uma dinâmica de um sistema familiar que se manifestou adequada ou inadequadamente no
sistema empresarial.

O terapeuta de casal, de família e de família empresária identifica muito bem estas dinâmicas em
suas aplicações.

No texto Enfoque Sistêmico 1 nós vimos o que caracteriza um sistema relacional humano. Vimos
também que os atributos são os seus comportamentos de comunicação. Se um sistema
relacional é formado pela interação de seus componentes ele é melhor compreendido quando não
falamos de indivíduos, mas de pessoas que se comunicam com outras pessoas.

Esta foi a grande contribuição de Bateson para o processo terapêutico de casais e famílias, tirando
o foco restritivo da pessoa e privilegiando os padrões gerais de comunicação sobre os desejos e
fantasias particulares dos indivíduos. Para ele a comunicação significava formas e regras de
interação entre emissor e receptor. Ele considerava a comunicação não apenas em seu conteúdo
semântico, mas especificamente em seu aspecto pragmático da relação interpessoal.
Posteriormente Paul Watzlacwik e seus colaboradores formalizaram esta teoria no trabalho
“Pragmática da Comunicação Humana”.

Neste segundo texto destacamos alguns aspectos pragmáticos do processo de comunicação, tanto
na sua conceituação como através de pequenos exemplos de sua aplicação, seja no sistema
familiar como no empresarial.

Acho interessante diferenciar o que estamos destacando como conseqüências comportamentais do


processo de comunicação em um sistema relacional.

O estudo da comunicação humana pode ser agrupado em 3 áreas: a da sintaxe, a da semântica e a


da pragmática.

Os aspectos da sintaxe e da semântica são responsáveis pela transmissão da informação. A


comunicação vista pela sua capacidade de provocar ou influenciar comportamentos é o objeto de
estudo do que foi denominado como aspecto pragmático da comunicação.

Finalmente, nunca é demais reforçar que isto é uma síntese e que aos que se interessarem em
aplicar estes conceitos é interessante buscar uma formação especializada além do aprofundamento
através da leitura de livros que vamos sugerindo.

[1] Dias, Victor R.C.S., ANÁLISE PSICODRAMÁTICA – Teoria da Progressão Cenestésica, Editora
Agora, 1994, pg 42

[2] Kay K., When a family business is a sickness, Family Business Review, 1996, pgs 347 – 368

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