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ALVES, Rubem. Filosofia da Ciência: capítulo 1, O senso comum e a ciência.

Loyola, São Paulo, Brasil, 2000.

Segundo Loyola, as imagens da ciência e do cientista remetem a estruturas de


autoridade que se pretendem eficientes para tomada de decisões e
comportamentos. Enquanto autoridade há um ideário de obediência, uma vez
que seria ideal para as pessoas adequarem seus comportamentos conforme as
recomendações científicas.

Nesse sentido, o autor aponta que a ciência seria uma especialização, um


refinamento das ideias e experimentos de um dado período de tempo. Não é
possível experimentar a realidade por meio de instrumentos como telescópio,
um microscópio, ou um banco de dados, de outro modo seria impossível
alcançar esse conhecimento. No entanto, esse conhecimento ainda assim é
permeado pelos sentidos humanos e, portanto, relativos. Isto é, não se
consegue a apreensão exata da realidade, de modo que a ciência está sujeita
a erros e renovações de paradigmas.

A expressão “senso comum”, normalmente, está associada a pensamentos,


ideias e conhecimento comuns compartilhados por um grupo social. Às vezes,
utiliza-se “senso comum” como algo em oposição à ciência, uma vez que esta
exige um método específico para a consecução de conhecimento. Quando um
pesquisador se refere ao senso comum, ele está falando sobre o conhecimento
da população que não passou por um treinamento científico.

A ciência não lida com a ideia de que a magia possa alterar a realidade, isto é,
a ciência não abarca fenômenos que seriam influenciados por poções mágicas,
telecinese - como mudar a trajetória de uma bola por meio da força do
pensamento. Assim ela não estuda os fenômenos que poderiam ser alterados
por elementos sobrenaturais que mudam o curso dos eventos e das emoções
a partir do desejo como a magia ou o milagre. Esse não é o objeto de estudos
da ciência. A ciência diz que isto não é verdade. O senso comum continua,
teimosamente, a crer no poder do desejo. Freud disse mesmo que esta é a
crença fundamental por detrás do comportamento neurótico. Isto parece nos
levar à conclusão de que o pensamento mágico e o pensamento científico
moram em mundos muito distantes.

O senso comum e a ciência advêm da mesma necessidade de compreender o


mundo, de modo a viver melhor e sobreviver. O senso comum não pode ser
considerado inferior à ciência, já que foi assim que a humanidade sobreviveu
por milhares de anos.

Assim a ciência seria permeada por paradigmas, isto é, um conjunto de valores,


crenças e técnicas passam a ser aceitos e disseminados por um número
significativo de pesquisadores. As mudanças de paradigmas são revoluções
científicas e essa transição indica o amadurecida daquela área de pesquisa. No
entanto, este não é o padrão usual do período anterior aos trabalhos de Newton.
Os antecedentes da pesquisa elétrica no século XVIII são exemplo sobre como
uma ciência se desenvolve antes de adquirir seu primeiro paradigma
universalmente aceito Segundo Loyola, desde a antiguidade aos fins do século
XVII não havia apenas uma concepção sobre a natureza da luz que fosse
aceita. Ao contrário, várias escolas competiam tentando explicar os fenômenos
seja com base em Aristóteles, seja com base em Platão.

Normalmente, há um conjunto implícito de crenças metodológicas e teóricas


interligadas que permita a seleção, avaliação e a crítica sobre área de estudos.
Tais crenças passam a ser exploradas explicitamente quando um evento seja
histórico, transformação ambiental, seja promovido por um indivíduo, torna
necessária a discussão direta sobre tal tema. De acordo com o presente autor,
nesse primeiro momento, há formas divergentes de interpretação sobre a
temática. Os pesquisadores são confrontados pela mesma gama de
fenômenos. Na medida que as divergências vão diminuindo, contribuindo para
a ascensão de um paradigma, isto é, quando há uma síntese capaz de atrair a
maioria dos praticantes de ciência da geração seguinte, as interpretações mais
antigas paulatinamente vão desaparecendo. Mas sempre existem alguns que
se aferram a uma ou outra das concepções mais antigas. O novo paradigma
implica uma definição nova e mais rígida do campo de estudos.

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